Anais

Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida
Revista Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020) – Editora Rede Unida
ISSN 2446-4813 DOI 10.18310/2446-48132020
http://revista.redeunida.org.br/ojs/index.php/rede-unida/issue/view/65
 

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Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida. Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020). ISSN 2446-4813.
Trabalho nº 5816
Título do Trabalho: SUJEITO E IMAGEM DE SI: UM ESTUDO COM COORDENADORES DE UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DO BAIRRO PEDRA NOVENTA, CUIABÁ – MT
Autores: Lucas Rodrigo Batista Leite, Cássia Maria Carraco Palos, Patricia Aparecida da Silva

Apresentação: trata-se de uma reflexão que iniciamos em nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Graduação em Saúde Coletiva, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), intitulado “Saúde e violência: sujeito e Memória nos dizeres de profissionais de saúde do bairro Pedra Noventa, Cuiabá, Mato Grosso”, cujo objetivo era compreender como a violência aparecia no discurso desses profissionais. Desenvolvimento: o TCC faz parte de projeto de pesquisa denominado “Saúde e Violência: discurso de profissionais de saúde do bairro Pedra 90, Cuiabá – MT”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos – Área de Ciências Humanas e Sociais (CEP – Humanidades), da UFMT e conduzido junto ao Instituto de Saúde Coletiva desta universidade. Trata-se de um estudo qualitativo – interpretativista, que realizou entrevista semiestruturada com 5 coordenadores de Unidades Básicas de Saúde, todas com Estratégia de Saúde da Família (ESF), localizadas no bairro Pedra Noventa, na periferia de Cuiabá, que fica distante aproximadamente vinte quilômetros do centro da cidade. Os entrevistados receberam nomes fictícios de pedras: Ônix, Quartzo Rosa, Ametista, Esmeralda e Calcita. As entrevistas foram interpretadas a luz da Análise de Discurso, iniciada por Michel Pêcheux, na França, nos anos 1960, e ampliada, no Brasil, por Eni de Lourdes Puccinelli Orlandi. Resultado: Perguntamos: quem é X (nome do entrevistado)? Quartzo Rosa se apresentou como uma pessoa indecisa e sensível – o que é verificado pelo seu choro durante a entrevista – e, diríamos perdida, em tudo aquilo que precisa dar conta de fazer, mas que não diz o que é, silencia. Diz sobre algo (coisas) mas não o/s especifica. Temos um sujeito dividido em várias coisas, coisas essas que não se sabe o nome. Silêncio. Quartzo parece denunciar essa divisão, mas ao mesmo tempo parece conformada (“eu sou um misto”). Ônix ao iniciar sua fala, o começa pela ilusão de que poderia controlar os sentidos a serem ditos (“em que sentido?”), como se esses estivessem postos, determinados; e que, o entrevistador ao especificar sobre quais sentidos deveria falar (“no sentido que você quiser responder”), acessaria exatamente aquilo que ele procurava ou aquilo que ela pensava que ele procurava. Efeito de evidência. Tão logo o entrevistador dá um sinal, ela assume “antes de tudo e acima de tudo”, a posição-sujeito mãe acompanhada de uma posição-sujeito esposa. Ao dizer o tempo (ano) que está casada – especificando o casamento na igreja – parece querer afirmar que não é qualquer mulher, mas uma mulher com credenciais – casada na igreja. Mobiliza aí sentidos próprios de uma FD patriarcal. Traz ainda à cena uma posição-sujeito profissional que se diz não frustrada com sua escolha (pela enfermagem), uma vez que existe um imaginário de que quem faz enfermagem é uma espécie de médico frustrado, ou seja, quem não conseguiu cursar medicina. Por outro lado, ao se referir a sua vida, se coloca na posição de sujeito mulher casada e enfermeira. Temos então uma divisão: falar de si e falar de/sobre sua vida. Sobre si (Eu) assume as posições de sujeito mãe e sujeito mulher casada; sobre sua vida, sujeito mulher casada e sujeito enfermeira. Na “sua vida” (passível de controle numa sociedade patriarcal) mulher casada vem antes de mãe. Ao usar o diminutivo Ônix mobiliza um discurso próprio da infância (“Brincar de casinha”) e nesse contexto, poderíamos refletir: teria ela sido “criada” desde a infância para a maternidade, casamento? Ametista, de imediato, pareceu querer se defender de algo, ao dizer “tenho meus defeitos” antes de dizer sobre suas qualidades. Ela se antecipa, justificando contra uma possível acusação (?). Parece não ficar bem definido em seu dizer o limite entre o sujeito profissional e o sujeito eu; o que é delimitado é a forma de ser: quando profissional é flexível, pé no freio; quando Eu, é ansiosa, agitada. Ambos se confundem, se atravessam. Esmeralda assume uma posição-sujeito menina, que se diz otimista com/em tudo. Assume uma posição-sujeito holístico, que acredita no sobrenatural, no astral, que não tem status científico, como nas previsões do horóscopo, ao se dizer “canceriana legítima”. Calcita parece considerar aquilo que as pessoas dizem que ela é (desequilibrada, doida) e isso o parece ser, pois, ela argumenta que não dá conta de falar de si. Precisa de um tempo para mobilizar aquilo que ela pensa ser ela: uma menina alegre, feliz, família etc. embora diga que “reduziu um pouquinho”, parece ser o oposto, parece ela ter sido reduzida a. Considerações finais: Percebe-se as diferentes posições ocupadas pelos entrevistados, em/no seu discurso: sujeito-mãe, sujeito-menina, sujeito-esposa, sujeito-holístico, sujeito-profissional, sujeito-coisificado etc. Se por um lado as posições eram distintas, por outro a forma-sujeito era a mesma: forma-sujeito capitalista. Própria da sociedade no qual os discursos foram formulados. A pesquisa abre espaço para futuras intervenções com esses profissionais, principalmente no que se refere a apoio psicossocial, resgate de autoestima etc.


Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida. Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020). ISSN 2446-4813.
Trabalho nº 5817
Título do Trabalho: MEMÓRIAS SOBRE UM BAIRRO VIOLENTO? UM ESTUDO COM COORDENADORES DE UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DO BAIRRO PEDRA NOVENTA, CUIABÁ – MT
Autores: Lucas Rodrigo Batista Leite, Cassia Maria Carraco Palos, Patricia Aparecida da Silva

Apresentação: trata-se de uma incursão que iniciamos em nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Graduação em Saúde Coletiva, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), intitulado “Saúde e violência: sujeito e Memória nos dizeres de profissionais de saúde do bairro Pedra Noventa, Cuiabá, Mato Grosso”, cujo objetivo era compreender como a violência aparecia no discurso desses profissionais. Desenvolvimento: o TCC faz parte de projeto de pesquisa denominado “Saúde e Violência: discurso de profissionais de saúde do bairro Pedra 90, Cuiabá – MT”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos – Área de Ciências Humanas e Sociais (CEP – Humanidades), da UFMT e conduzido junto ao Instituto de Saúde Coletiva desta universidade. Trata-se de um estudo qualitativo – interpretativista, que realizou entrevista semiestruturada com 5 coordenadores de Unidades Básicas de Saúde, todas com Estratégia de Saúde da Família (ESF), localizadas no bairro Pedra Noventa, na periferia de Cuiabá, que fica distante aproximadamente vinte quilômetros do centro da cidade. Os entrevistados receberam nomes fictícios de pedras: Ônix, Quartzo Rosa, Ametista, Esmeralda e Calcita. As entrevistas foram interpretadas a luz da Análise de Discurso, iniciada por Michel Pêcheux, na França, nos anos 1960, e ampliada, no Brasil, por Eni de Lourdes Puccinelli Orlandi. Resultado: Desde nosso contato inicial com o Pedra Noventa, uma questão se colocou: (um imaginário de) bairro violento. Perguntamos aos entrevistados como eles imaginavam o Pedra Noventa antes de trabalharem lá e como chegaram ao bairro. Dizer do/sobre o Pedra Noventa, necessariamente, impõe acessar tudo aquilo que já foi dito (e esquecido) sobre o bairro. Mesmo que dito de formas distintas, em todas as narrativas, algo se mantêm: o perigo/a violência. Ônix diz de uma “imagem que todo cuiabano tem” sobre Pedra Noventa, como se esta fosse evidente, obvia, estivesse sempre lá; uma imagem que assusta. E reforça: “já foi, como é contada na lenda”. Que lenda (violenta) de/sobre o Pedra Noventa seria essa? Quais seriam os personagens? Ainda no dizer de Ônix chama à atenção a contradição: ao ser indagada sobre a imagem que fazia do bairro, diz que não é “de imagem pré-concebida”, mas antes, ao ser questionada de como chegou ao bairro, antecipa dizeres: “meio assustador”; “também aquela imagem que todo cuiabano tem”. Traz vestígios de uma cristalização (“ouvia falar”). Quartzo Rosa, alude para o bairro como “famoso”, ou seja, conhecido por muitos (ou quase todos). Fama essa estabilizada pela memória, que joga com a realidade (“não encontrado”). Quartzo não nega (o perigo), mas coloca-o (“que era mesmo”), não como algo estanque, definitivo, mas como (algo) passado. Esmeralda marca um tempo, uma memória cronológica (“Há dez anos atrás eu achava perigoso”), de algo que foi e não o é mais, pois, “as pessoas nossa”, como diz ela, não o faz mais no bairro (só fora dele?). O “nossa” parece funcionar de duas formas: incluindo-a a todas as pessoas do bairro; colocando-a na mesma posição das pessoas que roubam (“as pessoas nossa não assaltam aqui”). Sentidos de familiaridade. Efeitos de compreensão. “Gentileza gera gentileza” (“Atendo família de traficante, pessoal do comando vermelho, e me tratam hiper mega bem”). Ametista também faz referência a algo que já foi (perigoso) e que não é mais, o que segundo ela tem a ver com o controle, com o fato do bairro ser “hoje uma cidade”. Faz ainda uma denúncia sobre um passado de trabalho precarizado, “controlado” pela política. Denúncia também compartilhada por Calcita, que diz também “saber de toda violência do bairro” e ter medo ao nele adentrar. Medo de que? De quem? A utilização de perigoso (e não violência/violento), pelos entrevistados, significa. Não se trata de uma palavra por outra, mas de movência, deslocamento de sentidos. Correr risco, estar sob ameaças, poder ocorrer, possuir inclinação. Possibilidades, mas não concretude (violência). Perigo de (violência) e não (violência) perigosa. Considerações finais: Todos os entrevistados se reportaram a distância, medo da distância. Distância essa que está na gênese do bairro. Gênese gestada na/pela Violência que afasta para (o) quase fora da cidade. Exclusão. Todos os entrevistados tentam mobilizar novos sentidos sobre o/para o bairro, mas estão fadados a memória. O sentido-novo será sempre atravessado pelo interdiscurso. Falar de Pedra Noventa agora, faz falar do Pedra de outrora. Pela memória percebemos o embate entre a estabilização (o bairro violento) e a tentativa de mobilizar novos sentidos ao bairro (já não é mais ou é como qualquer outro bairro). Perigo sim, mas não violência. A possibilidade existe, mas nada concreto. Entre o já-dito, o a dizer.


Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida. Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020). ISSN 2446-4813.
Trabalho nº 9259
Título do Trabalho: O OLHAR DE ESTUDANTES DE OUTRAS ÁREAS PARA A SAÚDE: UMA REFLEXÃO DO PROJETO VERSUS/BRASIL - MATO GROSSO
Autores: Lucas Rodrigo Batista Leite, Romero dos Santos Caló, Aparecida Fátima Camila Reis

Apresentação: Este trabalho se abre na intenção de evidenciar e iniciar reflexão sobre a participação de estudantes de outras áreas do conhecimento, no Projeto Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde – VER-SUS/Brasil, que tem os acadêmicos das Ciências da Saúde como atores principais. Nosso interesse se alinha a nossa compreensão de saúde, em seu sentido lato, como bem estar bio-psíquico-social-espiritual, passível de compreensão/intervenção por qualquer saber/conhecimento. Para tanto, utilizamos como recorte três vivências VER-SUS, realizadas nos anos de 2016 e 2018, respectivamente, nas cidades de Cuiabá, Barra do Garças e Salto do Céu, ambas em Mato Grosso. Em Cuiabá, houve participação de estudante da graduação em Música, na organização da vivência; em Barra, de estudantes dos cursos de Letras e Física, como viventes; e em Salto, de aluno do bacharelado em geologia, na condição de convidado/palestrante. Entramos em contato, entre dezembro/2019 e janeiro/2020 com os participantes, via redes sociais, para responderem as seguintes perguntas: 1 - Quando você participou do VER-SUS, qual era a sua relação com a saúde? 2 – Como você conheceu ou ficou sabendo do projeto VER – SUS? 3 – Quais as repercussões do projeto na sua vida e na sua formação? 4 – Você percebia alguma associação do curso que fazia, com a saúde? 5 – Se estiver trabalhando, qual a repercussão do VER-SUS na sua atuação 6 – Quer falar mais alguma coisa? Não obtivemos retorno do estudante de música. De agora em diante, os participantes serão nomearemos como FIS, GEO e LET.  Nenhum dos respondentes relataram possuir relação com a saúde. GEO e LET disseram defendê-la apenas enquanto uma, entre outras tantas pautas de sua/em sua militância (estudantil e social). FIS conheceu o projeto através do Facebook. Já GEO foi convidado a participar do VER-SUS, pela organização, na condição de palestrante/facilitar, dada a sua militância local; Tal como GEO, LET disse que conheceu o projeto através de amiga, membro da organização, no no Curso de Realidade Brasileira (CRB). O CRB é um curso organizado pelos movimentos sociais, cujo foco é compreender o Brasil (sua história, economia etc.), através de escritores/intelectuais brasileiros. Ambos os estudantes afirmam que o projeto modificou suas visões sobre o SUS. Para FIS, o VER-SUS mudou completamente sua opinião sobre o SUS, sobre o sistema público, descobrindo que o SUS é muito maior que policlínica e upa. GEO argumenta que além de repercussões em sua formação pessoal, o projeto permitiu-lhe conhecer o lado mais funcional do sistema, como a ESF, conhecer outros serviços que são pouco divulgados etc. De modo semelhante, LET aponta essa possibilidade de compreensão do funcionamento do sistema e enfatiza que o projeto ajudou a solidificar sua militância em defesa da saúde pública. FIS e LET disseram que seus respectivos cursos não possuíam nenhuma relação com a saúde, no entanto LET enfatizou que caso seu curso trabalhasse com temas transversais, seria possível abordar o assunto do SUS e questões relacionadas ao acesso à saúde no País. Por outro lado, GEO disse que a geologia tem um papel importantíssimo na saúde, já que um de seus papeis é suprir elementos importantes para a sociedade, como os minérios, minerais etc., que inclusive o próprio hospital se beneficia, desde a sua estrutura arquitetônica até em procedimentos clínicos (como em odontologia). Os estudantes ainda não estão no mercado de trabalho, não vislumbrando desta forma, repercussões no seu fazer profissional; importante dizer que FIS migrou para o curso de Educação Física e LET para o de direito. Nos comentários finais, os respondentes sinalizaram o desejo de continuidade do projeto. O VER-SUS/Brasil tem contribuído para que os estudantes em processo de formação/preparação para o mercado de trabalho (especificamente o da saúde pública) tenham a oportunidade de conhecer o funcionamento do SUS, bem como seus principais entraves. Tem contribuído também como um espaço de reflexão autopessoal, para aqueles que, por algum motivo, ainda possuíam uma crise identitária com seus respectivos cursos. E acima de tudo, tem potencializado/fortalecido lutas pelo/defesa do SUS que, como indicam os sanitaristas, encontra-se em processo de solidificação. Nesse sentido, apontamos para a necessidade de fortalecer o projeto, principalmente em tempos onde o privado se sobrepõe ao público.


Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida. Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020). ISSN 2446-4813.
Trabalho nº 9318
Título do Trabalho: SAÚDE COLETIVA E PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Autores: Nayla Mony Viana de Macena, Lucas Rodrigo Batista Leite

Apresentação: A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde – PNPIC, promulgada em 2006, pelo Ministério da Saúde, contempla sistemas médicos complexos (com teorias próprias sobre o processo saúde-doença-cura) e recursos terapêuticos, também denominados Organização Mundial da Saúde (OMS) de Medicina Tradicional e Complementar/Alternativa (MT/MCA). Tais sistemas e recursos envolvem abordagens que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. É uma política transversal em suas ações e está presente em todos os níveis de atenção, prioritariamente na Atenção Básica, e com grande potencial de atuação em rede. Pressupõe a atuação multiprofissional. Em Mato Grosso, até o momento, ainda não existe uma política estadual de PICS, mas desde julho de 2019 foi constituído, sob a coordenação da área técnica de PICS, da Coordenadoria de Gestão da Atenção Primária, um grupo de trabalho para discutir/desenvolver uma proposta de política estadual. Este trabalho tem como objetivo descrever a realização de Estágio Supervisionado Obrigatório (ESO) da Graduação em Saúde Coletiva – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), na Coordenadoria de Promoção e Humanização da Saúde (COPHS), da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso, junto a Área Técnica de PICS, entre 2019 e 2020. Desenvolvimento: Trata-se de relato de experiência, que tece sobre as principais atividades desenvolvidas junho de 2019 a janeiro de 2020, no ESO, cuja duração era de 240 horas. Aos estagiários cabia executar um plano de trabalho elaborado pela professora e preceptora de estágio, a partir das principais necessidades da área: Resultado: A área técnica de PICS tem como um dos principais objetivos, a implementação da PNPIC em Mato Grosso, bem como a promulgação da Política Estadual de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PEPICS) – já discutida pelo Conselho Estadual de Saúde e em fase de estruturação pela área técnica em parceria com Escola de Saúde Pública e Associação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (ANEPS). Dessa forma, no primeiro ESO realizado de junho a agosto de 2019, houve a elaboração de um diagnóstico parcial sobre a situação da implantação da PNPIC nos municípios mato-grossenses, visando à construção de um banco de dados para subsidiar as ações da área, bem como a elaboração da referida política no âmbito estadual. Além do diagnóstico, foi desenvolvido um instrumento para avaliar o efeito das PICS entre os participantes de uma feira de economia solidária, desenvolvida pela COPHS, todas as quintas-feiras, na entrada da Secretaria. Ademais, houve a criação, juntamente com a Área de Saúde Mental, de um questionário específico para investigar a qualidade de vida dos servidores da secretaria. Houve também a realização de Sala de Cuidado, no Palácio da Instrução de Cuiabá, durante todo o mês de agosto, em celebração ao agosto dourado, evento esse que contou com a visita de pesquisadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal. E em parceria com a Escola de Saúde Pública de MT, realizou-se o I Seminário de PICS de MT; importa dizer que o estagiário, nesse momento, além das atividades próprias de Saúde Coletiva, também participava das atividades realizando PICS, como reiki e terapia comunitária (as quais possuía formação). No segundo momento do ESO, houve a continuação do referido diagnóstico, visto que até o momento havia sido obtido apenas 94 respostas. Destarte, houve a realização do I Fórum de Promoção e Humanização em Saúde, em novembro de 2019, pela COPHS, e cujo espaço Paulo Freire (sala de cuidados com PIC’S) ficou a cargo/responsabilidade das estagiárias de Saúde Coletiva, sendo colocados em prática, conhecimentos de gestão, planejamento, psicologia e relacionamento interpessoal. No cotidiano do estágio, as principais demandas envolviam a realização de relatórios, abordando conhecimentos epidemiológicos e de políticas, visto que também havia a necessidade de elaboração de instrumentos para avaliação e planejamento. Outra reivindicação constante era a presença da Sala do Cuidado (Sala de PICS) em eventos nas unidades setoriais, como Centro Especializado em Reabilitação, Centro Integrado de Assistência Psicossocial, visando cuidar de quem cuida, ou seja, os profissionais de saúde. Considerações finais: Percebe-se a potência da interação entre a área de Promoção da Saúde e de PICS e o estágio de Saúde Coletiva em Cuiabá, seja nos aspectos gerenciais, seja na execução prática. Tendo o egresso desse curso um caráter multiprofissional e interdisciplinar, apontamos as PICS e a promoção da saúde como campos de prática desse profissional.


Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida. Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020). ISSN 2446-4813.
Trabalho nº 9216
Título do Trabalho: TENDA PAULO FREIRE: DISCUTINDO PRÁTICAS POPULARES DE SAÚDE
Autores: Romero dos Santos Caló, Lucas Rodrigo Batista Leite, Aparecida Fátima Camila Reis

Apresentação: O conhecimento e os saberes sociais não podem ser compreendidos como um processo elaborado de forma isolada, fechada, nas universidades e sistemas oficiais de ensino. Deve ser visto como processo resultante de relações, estabelecidas entre o conhecimento popular e o conhecimento científico.É na/pela valorização desse intercâmbio, do saber popular e saber científico, que a Educação Popular em Saúde (EPS) se faz/atua. Suas ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, são norteadas “a partir do diálogo entre a diversidade de saberes, valorizando os saberes populares, a ancestralidade, o incentivo à produção individual e coletiva de conhecimentos e a inserção destes no SUS”. Em nível nacional, os coletivos de EPS têm se aglutinado na Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde (ANEPS), cujo objetivo é funcionar enquanto espaço de reflexão das práticas e ações de educação popular e de práticas integrativas e complementares (PIC) e um meio de diálogo dos movimentos com o governo (municipal, estadual e federal), no que se refere a essas temáticas. A ANEPS, em sua atuação, tem desenvolvido variadas estratégias de divulgação/promoção da EPS, bem como das PIC´s, em todo o país. Uma dessas estratégias é a construção/realização da Tenda Paulo Freire, em grandes eventos da área de saúde e afins. As Tendas de Educação Popular em Saúde (EPS) tem funcionado como espaços de construção compartilhada de saberes e de conhecimentos, permeados pela ideia dos círculos de cultura, desenvolvidos por Paulo Freire. Costumeiramente chamadas Tenda Paulo Freire - em homenagem ao teórico que sustenta as práticas desses agrupamentos - essas construções coletivas têm se apresentado como uma marca dos movimentos EPS e nelas são realizadas rodas de conversas, oficinas, intervenções, vivências artísticas e práticas integrativas, complementares e populares de cuidado à saúde, articuladas a partir de temas previamente definidos. Desenvolvimento: Este trabalho descreve a construção e realização da Tenda Paulo Freire, na Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA), realizada entre os dias 27 e 29 de maio, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, pelo Projeto de Extensão VER-SUS, vinculado a Faculdade de Enfermagem (FAEN/UFMT), em parceria com o PET Conexões de Saberes “Universidade, Saúde e Cidadania” (FAEN/UFMT) e ANEPS MT. A JURA é um evento que tem o propósito de colocar em discussão o projeto de Reforma Agrária [reorganização das terras no campo] e os temas que a circundam. No caso da Tenda Paulo Freire, os temas abordados versaram sobre a saúde, interseccionada pelas questões de raça, gênero, sexualidade; saberes tradicionais e populares, A Tenda, embora estivesse como atividade, dentro da programação geral da JURA, teve programação própria, que acompanhou as demais ações do evento. Resultado: No primeiro dia, com atividade apenas no período vespertino, a Tenda teve como tema central o racismo na sua intersecção com a saúde. A roda de conversa foi facilitada por especialistas e militantes na área. Entre as principais discussões desencadeadas estavam o conceito e percepção do racismo no cotidiano e as ineficiências de políticas públicas que não levam em consideração, efetivamente, a questão étino-racial. No segundo dia, pela manhã, ocorreu diálogo sobre saúde LGBT, que contou com a participação de representantes do Conselho Municipal de Políticas LGBT, de mães de LGBT´s e de pesquisador na área. Entre os principais assuntos levantados, estavam a criminalização da homofobia, o estigma da AIDS associado a pessoas LGBT´s, as principais dificuldades enfrentadas por esse público etc. No período vespertino, era para ocorrer uma roda de conversa com benzedeiras, todavia, como as mesmas não conseguiram participar da atividade, foi realizada uma roda sobre práticas integrativas, que contou com a participação de terapeutas: Reiki, Constelação Familiar, Terapia Comunitária, Meditação, Biomagnetismo etc.; os terapeutas explicaram brevemente o funcionamento de cada terapia. Fechando o dia, no período noturno, houve um diálogo sobre a educação popular em saúde, com militantes da ANEPS, que explanaram sobre o que era a EPS, a ANEPS, como esse coletivo atua, como é feita a discussão das PIC´s etc. No terceiro e último dia, houve, pela manhã, discussão sobre alimentação saudável e plantas medicinais, também mediadas por especialistas na temática, onde foi apresentado os pressupostos da alimentação saudável e a funcionalidade terapêutica das plantas. No período vespertino ocorreu roda de conversa sobre saúde da mulher, que teve como eixo central a discussão do parto humanizado; a roda foi moderada por enfermeira obstetra. Todos os espaços contaram com a Mística, atividade lúdica (poesia, teatro, jogral etc.), que traz um performance relacionada a temática a ser discutida. E com ações de cuidado coletivo, no sentido de mostrar que cada um pode cuidar de si e do outro; entre os cuidados praticados estavam o corredor do cuidado e a meditação ativa. Considerações finais: A Tenda Paula Freire da JURA 2019, desde sua organização até sua realização, pautou-se pelos princípios da EPS, utilizando de metodologias participativas - como as rodas de conversa - para a promoção de um espaço horizontal, onde todos os sujeitos e saberes fossem vistos e ouvidos. Em um espaço caracterizado pelo rigor científico - a universidade - regado à cuidados, comidas, e afetos, promovidos por todos os participantes, se desenvolveu a tenda que, sem dúvidas, foi um ato de resistência. Resistência do saber popular - base de todos os outros saberes - na reivindicação de um seu espaço. Resistência no centro de todas as ciências, com suas cores, flores, aromas.