87: Redes de re-existência de educação para a diversidade cultural
Debatedor: A definir
Data: 31/05/2018    Local: FCA 02 Sala 07 - Jiquitaia    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
3557 Estratégia AIDPI como impacto na saúde da criança indígena do DSEI Médio Rio Solimões e Afluentes
Layana de Souza Rebolças, Maria do Livramento Coelho Prata, Daniela Maia Neves Coelho, George Bosco Barros de Araújo, José Rondinelli da Silva Prata, Jamis Souza dos Santos, Diene Luiza gomes dos santos, Marcelle Collyer da Silveira, Ellen Mississipe da Costa

Estratégia AIDPI como impacto na saúde da criança indígena do DSEI Médio Rio Solimões e Afluentes

Autores: Layana de Souza Rebolças, Maria do Livramento Coelho Prata, Daniela Maia Neves Coelho, George Bosco Barros de Araújo, José Rondinelli da Silva Prata, Jamis Souza dos Santos, Diene Luiza gomes dos santos, Marcelle Collyer da Silveira, Ellen Mississipe da Costa

APRESENTAÇÃO: A estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) é uma abordagem que responde pela condição da criança doente em toda a sua complexidade. Para isso, usa-se uma estratégia padronizada, baseado em normas internacionais com grande impacto na redução da morbimortalidade infantil. Este trabalho discorre sobre o impacto desta estratégia no Distrito Sanitário Especial Indígena do Médio Rio Solimões e Afluentes (DSEI – MRSA), o mesmo apresenta uma área de extensão territorial de 361.478,3 Km², situados na abrangência de 14 municípios, 15 polos bases, e 192 Aldeias. Tem uma população aproximada de 20.500 indígenas aldeados, os quais moram as margens dos rios Solimões e seus afluentes situados no estado do Amazonas. DESENVOLVIMENTO: O estudo consiste em um relato de experiência da implantação e implementação da estratégia AIDPI para o enfrentamento da morbimortalidade infantil, através de capacitações semestrais no período de 2013 a 2016.  As ações foram desenvolvidas sob a gerencia da responsável técnica do programa saúde da criança com participação integral das Equipes Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI). As atividades foram realizadas de forma dialógica e participativa com profissionais enfermeiros e médicos das 34 equipes de saúde indígena, lideranças indígenas locais, conselho distrital indígena e a gestão do DSEI utilizou-se recursos de Datashow e realização de pré e pós-teste. RESULTADOS: O AIDPI trouxe um impacto positivo na reorganização dos serviços de saúde. Facilitou o acesso ao diagnóstico precoce e tratamento oportuno aos indígenas em aldeias de difícil acesso, além de facilitar o mapeamento e diagnóstico situacional da mortalidade do DSEI em geral, e contribuiu significativamente na diminuição da mortalidade infantil que reduziu de 55,17 para 43,15 taxa de mortalidade infantil em percentual demonstrando a eficácia da estratégia. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Considerando a aplicabilidade da estratégia AIDPI nas EMSI quando comparados aos óbitos dos anos de 2014 e 2015, evidenciou-se a estagnação dos indicadores de óbitos infantis, que estavam em curva ascendente na maioria dos polos investigados, fomentando um avanço nos resultados de intervenções na atenção básica através de estratégias multidisciplinares adotadas de forma abrangente, de modo que tal intervenção reduziu os encaminhamentos para média e alta complexidade. 

4055 Seminário O Bem Viver dos Povos Indígenas - Relato de Experiência
Camila Rodrigues e Rodrigues, Maycon Correia Pinto, Álvaro Palha Junior, Eluana Carvalho, Bianca Tsubaki, Marcela Acioli, Aline Lima, Isabela Ramos

Seminário O Bem Viver dos Povos Indígenas - Relato de Experiência

Autores: Camila Rodrigues e Rodrigues, Maycon Correia Pinto, Álvaro Palha Junior, Eluana Carvalho, Bianca Tsubaki, Marcela Acioli, Aline Lima, Isabela Ramos

Este trabalho é um relato de experiência sobre o “Seminário O Bem Viver dos Povos Indígenas: diálogos, desafios e perspectivas”, ocorrido em Belém do Pará, nos dias 14 e 15 de Setembro de 2017, no interior do espaço físico da Universidade da Amazônia (UNAMA), com o objetivo de provocar momentos de diálogo entre os povos indígenas, trabalhadores de políticas públicas, pesquisadores e demais interessados no tema. O evento foi realizado através da cooperação entre o Grupo de Trabalho de Psicologia e Povos Indígenas do Conselho Regional de Psicologia da 10ª Região Pará/Amapá (CRP 10 PA/AP), a Faculdade de Psicologia da Universidade da Amazônia (UNAMA) e o Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá - Tocantins da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (DSEI GUATOC/SESAI/MS). Cada uma destas instituições parceiras envolvidas na realização do evento teve interesses específicos ao organizar este Seminário. O CRP é um conselho de classe, uma autarquia que tem as funções de orientar, fiscalizar e disciplinar o exercício de profissionais psicólogos, e dentro deste, os Grupos de Trabalho, como é o GT de Psicologia e Povos Indígenas, funcionam como ferramenta estratégica para orientar o exercício profissional em determinado tema específico, ou seja, neste caso, o CRP, através deste GT, teve como objetivo principal promover o encontro de profissionais psicólogos com a temática “povos indígenas”, através deste evento. Além deste objetivo, porém em menor escala, ampliar o debate, socializando tais informações com o público interessado em geral, uma vez que o GT é um espaço aberto. A UNAMA, como instituição universitária, teve como principal objetivo fomentar o debate sobre o diálogo da Psicologia com Povos Indígenas para fins de pesquisa, complementação de ensino e possibilidade de extensão universitária. Além da UNAMA, pesquisadores de outras instituições universitárias, como da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e o Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES), também participaram conduzindo atividades do evento, ou como ouvintes. E os DSEIs, que são unidades gestoras descentralizadas do Subsistema de Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde (SASI-SUS), responsáveis pela execução de ações de atenção à saúde nas aldeias, de saneamento ambiental e edificações de saúde, mais especificamente o DSEI GUATOC, que, promovendo o III Encontro de Formação Técnica Continuada do Programa Bem Viver sobre Vigilância Epidemiológica, Saúde Mental e seus instrumentos, entre os dias 11 e 15 de Setembro de 2017, teve como objetivo central aproveitar o Seminário como atividade culminante de sua formação, qualificando e ampliando o debate profissional. Destas três instituições, foi o GT que protagonizou a organização do evento e provocou a parceria com a UNAMA e o DSEI. Entre Mesas Redondas, Cine-debates e Minicursos, os temas abordados no Seminário foram: a indissociabilidade entre saúde e educação intercultural; sobre as formações em Psicologia no Norte do Brasil; os caminhos para o cuidado integral dos povos indígenas; povos indígenas e questões de gênero; os efeitos sociais das intervenções do Estado sobre territórios indígenas: Belo Monte, Marco Temporal, CPI da FUNAI no atual contexto de violação dos direitos indígenas; a dimensão ético-política da clínica psicológica com populações indígenas; a atuação do psicólogo do SASI-SUS; PNAS – Proteção Social Básica e Famílias Indígenas; a Enfermagem aplicada à Saúde Indígena; a epidemiologia das populações indígenas brasileiras; contação de histórias: Caminhos de narrativas e a arte milenar dos povos indígenas; a apresentação dos documentários: “Eu + 1” e “Tupinambá – O retorno da Terra”. Esta diversidade de temas abordados na programação reflete bem a escolha do nome do Seminário, “O Bem Viver dos Povos Indígenas”, fazendo alusão à base do pensamento do Bem Viver, apoiado na cosmovisão indígena, em que todos os humanos, assim como os demais seres, são parte da Mãe Natureza, irmãos das plantas e dos rios, e não há separação. O Bem Viver significa recuperar a vivência dos povos da terra, a Cultura da Vida em completa harmonia e respeito mútuo com a natureza, e é diferente do conceito de “bem-estar” ocidental. Logo, falar sobre saúde indígena perpassa por todas estas e várias outras questões. Daí a importância de formar profissionais de saúde com uma perspectiva multidisciplinar, que atuarão em contextos interculturais, dialogando com saberes de bases epistemológicas distintas, que transitam entre ciência e ancestralidade. E assim como o Programa Bem Viver na Aldeia da SESAI, que é o programa de saúde mental indígena e atenção psicossocial renomeado pelos indígenas, o Seminário também teve a intenção de fomentar o protagonismo indígena tanto na escolha dos temas quanto na execução do evento. É imprescindível destacar que a organização do evento preocupou-se com o diálogo constante com diversos indígenas de alguns povos do Estado do Pará, Amazonas, Tocantins e Santa Catarina, como Tembé, Kumaruara, Aikewará, Kayapó, Kambeba, Baniwa, Baré, Xerente e Kaingang, os quais sugeriram seus temas para compor cada atividade que conduziram. Vale ainda ressaltar que todas as Mesas Redondas contaram com a participação de pelo menos um representante indígena. O público presente no evento consistiu em acadêmicos e profissionais das Ciências Humanas, Ciências Sociais, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências da Educação e Ciências da Saúde, membros de comunidades tradicionais e povos indígenas, profissionais do DSEI Guamá-Tocantins e do DSEI Kayapó do Pará, representantes do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06) e público em geral, contabilizando aproximadamente 300 inscritos. Em síntese, o Seminário alcançou os seus objetivos de promover o encontro de profissionais da Psicologia com a temática indígena, socializou tais conhecimentos com o público em geral, intensificou o debate deste tema entre os acadêmicos, que participaram em massa do evento, fortaleceu um coletivo de psicólogos e estudantes de Psicologia de Santarém do Pará, que passaram a compor o GT e ampliar as ações para a região do oeste paraense, e encerrou as atividades do III Encontro de Formação Técnica Continuada do Programa Bem Viver sobre Vigilância Epidemiológica, Saúde Mental e seus instrumentos, promovido pelo DSEI GUATOC. Além disso, demarcou o Grupo de Trabalho de Psicologia e Povos Indígenas como um coletivo de referência quanto ao fomento deste tema na região, desdobrando-se também no reconhecimento por parte de outros Conselhos Regionais de Psicologia do país e do Conselho Federal de Psicologia.

4305 Promoção de saúde em uma associação de mulheres indígenas no município de Manaus-Am
Marineide Santos de Melo, Luana Sanches da Costa, Lázara Gabriela Oliveira Silva, Flávio Renan Paula da Costa, Ana Paula de Souza Lima, Elyson Enrique Campos de Moraes, Mariana Borges Dantas, Antônio Pádua Quirino Ramalho

Promoção de saúde em uma associação de mulheres indígenas no município de Manaus-Am

Autores: Marineide Santos de Melo, Luana Sanches da Costa, Lázara Gabriela Oliveira Silva, Flávio Renan Paula da Costa, Ana Paula de Souza Lima, Elyson Enrique Campos de Moraes, Mariana Borges Dantas, Antônio Pádua Quirino Ramalho

Apresentação e objetivo: O acadêmico de medicina deve ter a capacidade de aliar o conhecimento teórico à prática. Porém, isso se torna difícil, já que as grades curriculares dos cursos de medicina ainda são deficientes em relação a associação da prática com a teoria principalmente no ciclo básico do curso de medicina. É importante que o profissional médico conheça o meio em que os seus pacientes estão inseridos para assim entender os determinantes sociais do processo saúde doença. Para isso, é necessário que os Projetos Políticos Pedagógicos dos cursos de medicina, além das suas políticas de gestão, atendam à necessidade de treinar os futuros médicos na compreensão das singularidades sociais dos seus pacientes. Mas essa tarefa não é fácil já que os acadêmicos estão acostumados a observar apenas o lado biológico da doença. O presente trabalho tem por objetivo relatar a experiência da realização da prática da disciplina de saúde coletiva IV, em uma associação de mulheres indígenas da cidade de Manaus. Descrição da experiência: Realizaram-se atendimentos as mulheres indígenas da Associação de Mulheres indígenas do Alto Rio Negro na cidade de Manaus com uma turma de 56 graduandos do curso de medicina na Disciplina de Saúde Coletiva. Foram realizadas consultas com anamnese e exame físico, solicitação de exames de acordo com a necessidade da paciente, prescrição de medicações, aferição de pressão arterial e medida de glicemia capilar, além de orientações de promoção da saúde e prevenção de doenças. Todas as condutas ocorreram com supervisão do professor médico responsável pela disciplina. Resultados e/ou impactos: Ao submeter os alunos a realidade das mulheres indígenas da associação, houve evidente saída da monotonia da sala de aula. Acredita-se, que as práticas de vivência na graduação médica são necessárias ao submeterem o aluno a outras realidades, atendendo às Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Medicina em que se prevê a importância de inserir o aluno em atividades práticas relevantes para a sua formação, além de fazer uso de diferentes metodologias de ensino-aprendizagem na finalidade de vivenciar cenários e situações variadas. Considerações finais: Ressalta-se a importância e a necessidade de colaboração e disseminação de novas formas de ensino médico pela Universidade, já que as ações foram uma iniciativa isolada da disciplina em parceria com os estudantes.

4392 O fenômeno migratório indígena no amazonas: Os impactos na saúde indígena frente o fluxo rumo aos centros
José Lucas Quadros de sá, Beatriz Mella Soares Pessôa, Dayana Raquel Marques Pinto, Leonardo Maquiné Hermont, Ana Paula de Siqueira Moreira Gil, Adson Martins Pinto Junior, Júlio Bandeira de Melo Arce Filho

O fenômeno migratório indígena no amazonas: Os impactos na saúde indígena frente o fluxo rumo aos centros

Autores: José Lucas Quadros de sá, Beatriz Mella Soares Pessôa, Dayana Raquel Marques Pinto, Leonardo Maquiné Hermont, Ana Paula de Siqueira Moreira Gil, Adson Martins Pinto Junior, Júlio Bandeira de Melo Arce Filho

Apresentação Estudo realizado com o objetivo de identificar a situação de saúde da população indígena que reside em centros urbanos no estado do Amazonas, condições de acesso à saúde e os impactos da mudança de hábitos de vida na saúde indígena.   Desenvolvimento do Trabalho Estudo realizado através de consultas a dados oficiais governamentais e entrevistas a representantes de órgãos públicos responsáveis por auxílios e medidas que abragem a saúde indígena.   Resultados A população indígena no Brasil é de cerca de 896,9 mil habitantes, dentre os quais 183.514 se localizam no estado do Amazonas, garantindo-lhe o título de estado com mais habitantes indígenas do país. Uma parcela de 53.985 dos habitantes indígenas do estado residem fora de suas terras de origem nativa, também o maior número dentre todos os outros estados brasileiros. A mortalidade infantil da população indígena no estado supera a média nacional. A cada mil nascidos no país, a taxa de mortalidade é de 13,82. Na população indígena, a cada mil nascidos, 31,28 crianças morrem. As principais causas se devem às condições de saúde e nutrição da criança, que recebe influência direta dos hábitos de vida e do padrão de alimentação. Na vida urbana, o acesso à alimentos industrializados por um baixo custo, com baixo valor nutricional e altos teores de sódio e gordura contribuem para o déficit nutritivo que compromete a saúde de seus consumidores. A mudança radical da dieta tradicional a que muitos indivíduos indígenas estão sujeitos ao se mudarem para centros urbanos é um fator agravante das taxas de mortalidade infantil e também da expectativa de vida. Na população adulta, as principais causas dos óbitos são as externas (Violência e acidentes), seguidas das doenças cardiovasculares, respiratórias e as doenças infecciosas. O consumo de álcool, principalmente pelo fácil acesso à bebidas destiladas nos centros urbanos, apresenta-se como coadjuvante nas taxas de mortalidade que envolvem fatores externos, bem como cirrose, diabetes e depressão. Políticas públicas assistenciais de saúde ao indígena são marjoritariamente direcionadas para os habitantes em aldeias, os indígenas residentes nas cidades enfrentam as mesmas dificuldades para o acesso à saúde que o restante da população. Ao serem identificados como indígenas, muitos são direcionados à Casai (Casa de Saúde Indígena) de seus municípios, que não apresenta a infraestrutura necessária para o atendimento ou cuidados necessários. A dificuldade de acesso à informação e empregos facilita o aumento dos casos de problemas de saúde e comorbidades do grupo em questão.   Considerações Finais: A alta taxa de mortalidade infantil nesse grupo mostra que o atendimento a índias gestantes e recém-nascidos ainda é muito deficiente. O aumento do número de casos de doenças cardiovasculares e de casos como diabetes e depressão demonstra o impacto negativo que pode surgir devido à mudança de hábitos de vida com a vida urbana. O acesso à saúde é precário e necessita de fortalecimento quanto a assistência integral, vigilância em saúde e inserção social. 

4416 A CONFORMAÇÃO HISTÓRICA DAS CONDIÇÕES DE VIDA E SAÚDE DAS COMUNIDADES INDÍGENAS EXPRESSAS NO SEU TERRITÓRIO
Alisson Maurício Monteiro, Junir Antonio Lutinski, Vanessa da Silva Corralo, Carla Rosane Paz Arruda Téo

A CONFORMAÇÃO HISTÓRICA DAS CONDIÇÕES DE VIDA E SAÚDE DAS COMUNIDADES INDÍGENAS EXPRESSAS NO SEU TERRITÓRIO

Autores: Alisson Maurício Monteiro, Junir Antonio Lutinski, Vanessa da Silva Corralo, Carla Rosane Paz Arruda Téo

ApresentaçãoO enfoque ecossistêmico de saúde contribui significativamente no processo de compreensão das relações entre saúde e ambiente, congregando teoria e prática em uma abordagem crítica e reflexiva de ambos os componentes. O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre a saúde e o ambiente em um território indígena situado no município de Chapecó, Santa Catarina, na perspectiva da Abordagem Ecossistêmica em Saúde (AES).  MétodoA partir de uma proposta pedagógica da disciplina “Saúde, território e ambiente”, do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ciências da Saúde da Universidade Comunitária da Região de Chapecó-UNOCHAPECÓ, foi realizada visita à uma aldeia indígena, com o intuito de conhecer o território, a história, os recursos, carências, políticas e demandas da população indígena local. Foram utilizados como recursos para coleta de dados entrevistas, observações e fotografias. Na análise das informações, definiu-se a situação/problema a ser narrada a seguir: a conformação histórica das condições de vida e saúde dos indígenas expressas no seu território. A atividade contou com a autorização prévia das lideranças da comunidade e todos os preceitos éticos foram respeitados. Resultados A população indígena e suas condições de vida e saúde estão intimamente ligadas com os sistemas ambientais, sociais, culturais e, também, econômicos. Claro que isso também condiz com a realidade das outras populações, contudo, no contexto histórico de desenvolvimento do Brasil, os indígenas foram inteiramente impactados pelas transformações socioambientais vinculadas aos modelos culturais e econômicos introduzidos pelos colonizadores. O deslocamento de princípios que embasavam a vida do indígena – a exemplo da sinergia com o ambiente e o vínculo com a terra e a subsistência – para um modelo societário “estrangeiro”, produziram rupturas que ressoam nas condições de vida e saúde dessa população ainda hoje. Embora que o Estado brasileiro tem sido responsabilizado pela formulação e implementação de políticas indigenistas, ainda se percebe a incipiência e fragilidade do processo de atenção às populações indígenas. Na etapa de análise das questões socioecológicas, atores sociais e governança, se destacam os relatos de marginalização do índio, seja na expressão do preconceito com o seu modo de vida (que passa por um processo de aculturação, cabe salientar), ou na privação do acesso às condições básicas de saúde, a exemplo de água potável e saneamento básico, como expressam os registros fotográficos do território. Relatos apontam para interesses conflitivos entre os diferentes atores sociais envolvidos na gestão do território indígena, que acabam por desvaler os interesses e necessidades da população. Ambos os aspectos se refletem nas vulnerabilidades em saúde percebidas no território: degradação do ambiente, restrição ao acesso aos bens e serviços essenciais, além da questão de precariedade no saneamento básico.  Considerações finaisPor ser uma abordagem orientada para a ação, a AES propõe que, conhecido o problema por meio da descrição e narrativa dos sistemas, este conhecimento precisa ser implicado na transformação da realidade. Nesse sentido, é importante considerar o papel da universidade em desenvolver ações com a comunidade, prospectando o conhecimento para além das fronteiras do saber, situando-o como instrumento compartilhado de transformação social e, também, ambiental.

4462 EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA COMUNIDADES INDÍGENAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DO CURSO GESTÃO EM SAÚDE COLETIVA INDÍGENA.
SIMONE LOPES DE ALMEIDA, Hosana Carolina dos Santos Barreto,

EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA COMUNIDADES INDÍGENAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DO CURSO GESTÃO EM SAÚDE COLETIVA INDÍGENA.

Autores: SIMONE LOPES DE ALMEIDA, Hosana Carolina dos Santos Barreto,

Trata-se de um relato de experiência de docentes e discentes do curso Gestão em saúde Coletiva indígena, Instituto Insikiran/ UFRR, no tema contextual Educação em saúde, disciplina eletiva do sétimo período cuja proposta pedagógica pautada na construção coletiva de conceitos e estratégias metodológicas, culminaram nos produtos apresentados. O tema contextual Educação em saúde tem o propósito de debater acerca dos fundamentos da educação, suas bases teóricas e a interface entre a educação e a saúde, cuja metodologia adotada buscou a abordagem dos principais Recursos, Materiais e propostas Pedagógicas para Educação em Saúde, a partir da utilização de estratégias educativas que envolvam vários tipos de recursos, impressos e midiáticos, tradicionais e/ou inovadores, e propostas lúdicas. Também foi estimulada a importância de se pensar em materiais escritos em língua indígena, possibilitando assim o seu fortalecimento cultural e patrimônio histórico. Como estratégias de ensino foram utilizadas metodologias ativas, com problematizações, aulas expositivas dialogadas, leituras de capítulo de livros, artigos, resumos, resenhas e fichamentos. Trabalhou-se um Roteiro para elaboração de propostas educativas, contendo: Tema, Introdução, Objetivos, Percurso metodológico, Recursos Materiais, Resultados esperados, Conclusão e Referências. Ao final, os alunos em grupos produziram materiais educativos em diversas modalidades de forma a demonstrar a apreensão dos conceitos trabalhados na disciplina com ênfase nas ações de educação em saúde objetivando aplicar estratégias de promoção de   saúde às populações indígenas de suas comunidades. Como produto foram apresentados teatro de fantoches com temática de saúde bucal, trilha de preservação da Natureza, álbum seriado saúde da Mulher, Jogo de Memória da Higiene pessoal, Dinâmica da autoestima, Bingo da saúde corporal, Cartilha do alcoolismo. Conclui-se que a construção do conhecimento se deu a partir de diálogos e dos conhecimentos prévios e singulares dos discentes, sendo as estratégias de ensino adotados de suma importância para o interesse e a motivação dos alunos pelo assunto proposto, considerando ainda que este recurso contribuiu para a efetivação do processo de ensino-aprendizagem de forma dinâmica.    

4535 Intercâmbio cultural na formação médica: contato entre a medicina indígena e os conhecimentos teóricos
ALLADIN ANDERSON RAMOS BARBOSA, ARIELE DOS ANJOS DE OLIVEIRA, DOUGLAS DE SOUZA PEREIRA, MARIANA BORGES DANTAS, REBECCA NOBRE Marques, LÁZARA GABRIELA OLIVEIRA SILVA, JOSÉ VICTOR SANTOS NEIVA

Intercâmbio cultural na formação médica: contato entre a medicina indígena e os conhecimentos teóricos

Autores: ALLADIN ANDERSON RAMOS BARBOSA, ARIELE DOS ANJOS DE OLIVEIRA, DOUGLAS DE SOUZA PEREIRA, MARIANA BORGES DANTAS, REBECCA NOBRE Marques, LÁZARA GABRIELA OLIVEIRA SILVA, JOSÉ VICTOR SANTOS NEIVA

Apresentação: A constituição e consolidação de uma política de atenção diferenciada à saúde dos povos indígenas baseia-se no respeito e na integralidade, visando um tratamento equitativo e que aproxime cultura e medicina. Para tanto, é necessário, ainda na formação médica, a promoção desse contato e construção de conhecimento. Descrição da experiência: Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas, supervisionados por docentes da disciplina Saúde Coletiva, visitaram a comunidade indígena Sahu-Apé, de etnia Sateré-Mawé e foram apresentados ao Pajé, o qual é responsável por uma espécie de farmácia natural, que contém plantas medicamentosas, objetos e receitas, utilizados em tratamentos e cura de enfermidades. Resultados: Os alunos tiveram contato com a riqueza cultural indígena: foram apresentados a medicamentos naturais eficazes e inseridos em uma rica discussão sobre conhecimento empírico e teórico, uma vez que, os conhecimentos indígenas não possuem registros, são repassados oralmente e refinados com o passar do tempo. Com isso, foram instigados a refletirem sobre o encontro entre as particularidades da cultura e as especificidades da ciência. Considerações finais: Para um atendimento eficiente e um intercâmbio cultural saudável, é de suma importância uma boa formação médica, com capacitação continuada e valorização dos conhecimentos históricos da medicina indígena. A partir daí, pode-se acrescentar novos conhecimentos para ambas as partes, proporcionando à população indígena que realizem, junto a equipe de saúde, ações concretas de prevenção, educação e promoção da saúde em suas comunidades.       

5213 ALDEIA INDÍGENA URBANA: DOENÇAS EMERGENTES, REEMERGENTES E NEGLIGENCIADAS
Kenia Caceres Souza, Maria Betina Leite Lima, Plyscilla Seeymour Barbier Naide, Bruna de Moraes Quintana, Marjana Augusta Pinto da Silva, Marlize da Rosa Oliveira, Michele Ribeiro de Oliveira

ALDEIA INDÍGENA URBANA: DOENÇAS EMERGENTES, REEMERGENTES E NEGLIGENCIADAS

Autores: Kenia Caceres Souza, Maria Betina Leite Lima, Plyscilla Seeymour Barbier Naide, Bruna de Moraes Quintana, Marjana Augusta Pinto da Silva, Marlize da Rosa Oliveira, Michele Ribeiro de Oliveira

Apresentação: A dengue, chikungunya e zika são doenças infecto parasitárias transmitidas pelo mesmo vetor que se reproduz com maior facilidade em regiões de clima tropical, além disso, a condição de saneamento básico favorece a proliferação deste. A população da região centro-oeste, inclusive os indígenas, devido fatores climáticos são vulneráveis as doenças emergentes, reemergentes e negligenciadas. A cidade de Campo Grande – MS apresenta os requisitos necessários para sobrevivência e proliferação do mosquito, devido a isso é preciso desenvolver estratégias para controlar o ciclo do vetor e assim evitar a possível infecção das doenças transmitidas pelo mesmo, dessa forma é imprescindível orientar a comunidade sobre a importância de realizar as medidas de prevenção, uma vez que suas repercussões podem afetar o indivíduo drasticamente.  O trabalho visa descrever a ação realizada na aldeia indígena urbana. Método: Trata - se de um trabalho descrito, do tipo relato de experiência a respeito de uma visita na aldeia urbana indígena assistida pela Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF), da cidade de Campo Grande – MS, com intuito de promover a prevenção e orientar por meio de conversa a população. A ação contou com a participação dos profissionais de saúde, estagiários e residentes da unidade.  No dia da atividade a equipe se subdividiu para que pudesse abranger toda a aldeia, durante as visitas foram vistoriados os quintais juntamente com os moradores e os mesmos contaram com as orientações dos profissionais. Resultados: A comunidade indígena devido à condição de infraestrutura do local requer maior cuidado no que se refere à eliminação dos resíduos, a mesma se mostrou participativa e interessada na ação, essa esclareceu as suas dúvidas em relação à diferença dos sinais e sintomas da dengue, zika e chikungunya, além disso, questionou os cuidados necessários no caso da infecção. Considerações finais: Foi possível perceber que a população indígena apesar de urbana apresenta deficiência no que se refere a saneamento, o que aumenta a propensão da reprodução do mosquito e torna- os vulneráveis as doenças. A ação favoreceu a troca de conhecimento e efetividade sobre a temática abordada.

4369 APLICAÇÃO DO SISTEMA DE APOIO-EDUCAÇÃO AO INDÍGENA YANOMAMI COM PÊNFIGO
Aldina Iacy Paulain Holanda, Agda Tainah Moura Santos, Gisele Reis Dias

APLICAÇÃO DO SISTEMA DE APOIO-EDUCAÇÃO AO INDÍGENA YANOMAMI COM PÊNFIGO

Autores: Aldina Iacy Paulain Holanda, Agda Tainah Moura Santos, Gisele Reis Dias

Apresentação: A etnia Yanomami, encontra-se nos municípios brasileiros Amazonas e Roraima, sendo encontrada também na Venezuela. Os Yanomamis fazem parte de uma sociedade de caçadores-agricultores, e suas tarefas são definidas de acordo com o sexo, o homem pratica a caça e a mulher fica responsável pelo roçado, cultivo de plantações e atividades domésticas. O termo pênfigo designa-se como um conjunto de doenças com comprometimento cutâneo e algumas vezes mucoso, de etiologia auto-imune, geralmente caracterizada pela presença de vesículas ou bolhas intraepiteliais acantolíticas. O pênfigo foliáceo endêmico (PFE) é uma das formas clínicas que incide predominantemente em adultos jovens e adolescentes que residem em áreas rurais e em algumas tribos indígenas, próximo a córregos e rios. A etiopatogenia do PFE ainda não está totalmente esclarecida, todavia alguns autores afirmam ser complexo e multifatorial. Faz-se necessário que o doente contribua para a sua melhora e possibilite a inserção do autocuidado através do sistema de apoio a educação implementado pela equipe de enfermagem.  As Teorias de Enfermagem evidenciam-se pelo processo humano-universo-saúde, sendo a natureza da Enfermagem utilizada em benefício da humanidade. Dentre as principais teorias de enfermagem destaca-se a Teoria do Déficit do Autocuidado de Enfermagem (TDAE) desenvolvida por Dorothea E. Orem, que parte do conceito de que autocuidado é a capacidade do indivíduo em realizar ações individuais objetivando a preservação da saúde, bem como a prevenção de doenças e tem como premissa básica que o ser humano usufrui da capacidade de prover o cuidado de si mesmo, além de poder beneficiar-se com os cuidados de enfermagem quando este denotar limitações à saúde ou dos cuidados de saúde. Para satisfazer o pressuposto de autocuidado do indivíduo, Orem descreveu três sistemas de enfermagem caracterizados como um plano de intervenção com o objetivo de incentivar a habilidade do autocuidado entre os pacientes, descritos como: Sistema Totalmente Compensatório (caracterizado pelas ações de cuidados do enfermeiro ao indivíduo que se apresenta incapaz de empenhar-se nas ações de autocuidado); Sistema Parcialmente Compensatório (representado pela somatória de cuidados executados tanto pelo enfermeiro quanto pelo cliente) e o Sistema de Enfermagem Apoio-Educação (expressa-se nas ações de encorajamento por parte do enfermeiro ao indivíduo que pode e deve aprender a desempenhar medidas de autocuidado terapêutico, sendo uma forma de apoio, orientação e ensinamento). o relato tem como objetivo descrever um plano de cuidados ao indígena com pênfigo, com base no sistema de apoio-educação de Orem. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um relato de experiência, elaborado no contexto da disciplina Saúde das Populações Amazônicas, ministrada no oitavo período do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Amazonas - UFAM, que tem como objetivo principal relatar a intervenção na realidade dos serviços de enfermagem prestada a um paciente jovem indígena, de etnia Yanomami, do sexo masculino, diagnosticado por exame clínico e laboratorial como pênfigo foliáceo, atendido na Casa do Índio (CASAI) no município de Manaus-AM. A base metodológica utilizada na atividade foi a Teoria de Sistema de Apoio-Educação de Orem, em que empregou-se práticas de educação em saúde, visando o encorajamento do cliente para que assuma os cuidados com a saúde, como a higiene e os cuidados com a pele. O sistema de intervenção realizado compreendeu dois dias de estágio, onde no primeiro foi realizado uma anamnese e exame físico, sendo realizada uma educação em saúde sobre como o mesmo deveria realizar a higiene e a hidratação da pele. Posteriormente, foi realizado a segunda prática de estágio, onde foi utilizado um instrumento para verificação de mudanças nas respostas do processo saúde-doença. Resultados e/ou impactos: Durante a anamnese o paciente demonstrou-se receptivo e comunicativo, porém foi notório que, por vezes, o mesmo tinha dificuldades em assimilar as perguntas que lhes eram direcionadas por não compreender muito bem a língua portuguesa; diante disso tentou-se associar perguntas com gestos na tentativa de facilitar o seu entendimento e consequentemente suas respostas.  O pai do paciente que estava acompanhando-o, também foi entrevistado sobre o surgimento dos sintomas, se alguém mais do convívio social também tinha manifestado a doença e possíveis plantas medicinais que possam ter sido utilizadas como tratamento, embora também não tivesse domínio da língua portuguesa. Como resposta ao que lhe fora perguntado, o pai relatou que os sinais e sintomas começaram a aparecer após o mesmo ter pegado chuva, e que juntamente com ele duas outras pessoas também manifestaram a doença; relatou ainda, com tom agressivo após as indagações, que não foi utilizado nenhuma planta medicinal para conter/amenizar o avanço dos sinais e sintomas. No momento em que foi solicitado sua autorização para realização do exame físico o paciente não concedeu, permitindo apenas a inspeção de couro cabeludo, mãos e membros inferiores, onde foi possível observar uma descamação de pele generalizada, alopecia, odor característico das lesões e edema nos pés, e queixou prurido. Como estratégia de intervenção utilizamos o sistema de apoio a educação, pois possibilita uma mudança do estilo de atenção à saúde que foge da ideia centrada no modelo biomédico e permite a implementação da compreensão da promoção à saúde. Nesse contexto foram realizadas orientações de higiene e manejo com a pele lesionada, sendo estas: lavar bem a pele e o couro cabeludo com água e sabão durante o banho, com o devido cuidado para não abrir mais lesões; aplicar óleo mineral (presente na prescrição em prontuário) após o banho com o corpo ainda molhado para manter a hidratação da pele e usá-lo três vezes ao dia conforme a prescrição; ingerir bastante líquido para manter-se hidratado; manter membros inferiores elevados sobre travesseiros; realizar compressa fria nos locais onde havia intenso prurido. O registro de como o paciente se apresentava no momento da visita e as orientações realizadas foram descritas no prontuário do mesmo. No segundo dia de visita, duas semanas depois, pôde-se perceber que o paciente já apresentava uma significativa melhora, relatando que houve a diminuição do prurido, assim como foi possível perceber que houve redução de lesões no couro cabeludo, a pele que anteriormente se descamava de forma generalizada agora já apresentava uma menor extensão, seus pés já não se encontravam edemaciados, e uma considerável melhora nas condições de higiene e bem estar do paciente. Considerações finais: Ao conhecer um pouco da cultura indígena Yanomami é possível perceber como se faz importante a prestação de cuidados diferenciados à essa população, que possui peculiaridades no ouvir, no entender, no modo de se comunicar, tendo em vista que não são imediatistas na devolução de respostas quando questionados, além de que o fato de não compreenderem bem a língua portuguesa pode tornar esse processo mais dificultoso. Sendo assim compreende-se que seja de extrema importância a presença de um profissional que saiba se comunicar com estes pacientes em sua língua materna, facilitando o diálogo e troca de informações. A estratégia do sistema de apoio a educação implica num processo ativo, capaz de promover mudanças no estado de saúde do indivíduo promovendo um alto nível de bem-estar, tornando-o protagonista deste processo. E entende-se que para o sucesso desta estratégia a comunicação verbal e não-verbal e diálogo de forma humanizada são imprescindíveis. 

5279 Ações de educação em saúde em terras indígenas do Alto Rio Negro, na Amazônia Brasileira: relato de ações educativas interculturais.
Hernane Guimarães Santos Junior

Ações de educação em saúde em terras indígenas do Alto Rio Negro, na Amazônia Brasileira: relato de ações educativas interculturais.

Autores: Hernane Guimarães Santos Junior

Apresentação: Realizar atividades de saúde, requer uma série de ações com destreza e planejamento para obter qualidade no serviço. As normas e rotinas definidas para as atividades a serem realizadas pelas equipes de saúde nas aldeias indígenas não diferem das atividades preconizadas pelo ministério da saúde para qualquer estabelecimento de saúde na área urbana ou rural dos municípios do País. A Politica Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas – PNASPI, trás como propósito, garantir aos povos indígenas o acesso à atenção integral à saúde, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, contemplando a diversidade social, cultural, geográfica, histórica e política de modo a favorecer a superação dos fatores que tornam essa população mais vulnerável aos agravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre os brasileiros, reconhecendo a eficácia de sua medicina e o direito desses povos à sua cultura. O objetivo deste relato e contar a experiência vivida em realizar atividades educativas em contexto interculturais, nas aldeias indígenas da etnia Baniwa na Região do Alto Rio Negro. Desenvolvimento do trabalho: A experiência ocorreu no município de São Gabriel da Cachoeira, região do Alto Rio Negro, que é formado por um sistema complexo de pluralismo étnico. Os dados de Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN, mostram que este território é constituído de 23 povos indígenas organizados em suas áreas tradicionais. Destaca-se a diversidade linguística, a multivariada organização social e a diversificada ocupação de territórios, com seus ecossistemas próprios. Tais condições de existência se expressam nas manifestações materiais e simbólicas dessas etnias, com importantes repercussões em suas práticas alimentares. Este município possui a terceira maior extensão territorial entre os municípios do Brasil e em 2011, mais de 75% da população de seu território era indígena, distribuídos tanto na zona rural quanto na urbana. A população indígena da zona rural do município se distribui em cerca de 600 aldeias, em sua maioria localizada nas margens dos principais rios da região, em cinco Terras Indígenas (TI) demarcadas e homologadas: Terra Indígena Alto Rio Negro, Terra Indígena Médio Rio Negro I, Terra Indígena Médio Rio Negro II, Terra Indígena Apapóris, e Terra Indígena Rio Téa. Os Baniwa pertencem à família linguística Arawak, em 2008 apresentavam uma população de aproximadamente 5.800 indígenas residentes no Brasil, habitando toda bacia do rio Içana. Estão distribuídos em 93 aldeias na margem nos cinco Polos de saúde (Camarão, Canadá, São Joaquim, Tucumã e Tunuí Cachoeira). Resultados e/ou impactos: Em 1999, a partir da criação do DSEI Alto Rio Negro, que abrangeu três municípios (São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos), totalizando uma população de aproximadamente 27 mil indígenas, ocorreu o processo de organização do atendimento à saúde da população indígena. O DSEI Alto Rio Negro foi organizado em 25 unidades denominadas de Polos Base. Para contratar profissionais e executar as atividades de atenção primaria em saúde, a Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, firmou convênios com instituições da sociedade civil e Prefeituras. No município de São Gabriel da Cachoeira houve a implantação de 19 Polos base, distribuídos nas calhas dos rios Negro, Uaupés, Tiquié, Içana, Aiari, Papuri e Xié, os principais cursos d’água da região. O Rio Içana foi dividido em quatro Polos base enquanto o Rio Aiari (afluente do rio Içana) conta com um Polo base. No ano 2000, foram realizadas as primeiras atividades de saúde em terras indígenas, referente ao novo modelo de atenção à saúde indígena, com ações volantes bimestrais por inexistência de unidade física de saúde (Polo Base), para dar apoio as equipes, as atividades consistiam em realiza atendimento médico, de enfermagem e odontologia em cada aldeia, a depender da demanda reprimida, realizar atividades referente a atenção primaria à saúde (pré-natal, acompanhamento do crescimento de desenvolvimento, Hiperdia, vacinação e outras). Somente no ano de 2001 com a construção das unidades, as atividades passam a ser realizadas mensalmente nas aldeias. O relato aqui mencionado é referente as atividades realizadas na unidade de saúde (Polo Base) denominada Tucumã localizada no Rio Içana, cujos os moradores são indígenas da etnia Baniwa e falantes somente da língua Baniwa, a unidade tem em seu território 16 aldeias e aproximadamente 900 indígenas adscrito. Atuei por 5 anos nesta unidade e nos dois primeiros anos, não conseguia realizar atividades de educação em saúde, adequados para realidade local, por falta de metodologia adequada que pudessem respeitar a cultura e adequar os temas as necessidades da população. Após dois anos de atividades de saúde neste território, e amplas discussões nas comunidades com a população, conseguimos detectar quais as necessidades e qual a melhor metodologia para o momento e para realidade local. Porém para essa interculturalidade ocorrer contamos com a participação de alunos e professores da Escola Baniwa e Coripaco, criada no ano 2000, na região do polo base, a escola foi resultado de um grande movimento das comunidades da região do Içana e afluentes organizadas em grandes encontros de educação e assembleias coordenadas pela Organização Indígena da Bacia do Içana-OIBI. O projeto de educação da escola, desenvolve suas atividades tendo em vista a formação do cidadão Baniwa e Coripaco voltado para a responsabilidade do trabalho em suas comunidades, para a criatividade e para a liberdade, para o respeito aos seus próprios valores, no diálogo intercultural. A metodologia de ensino na escola é fundamentada em pesquisa, a partir do conhecimento tradicional: história de origem da humanidade do Povo Baniwa e Coripaco, conhecimentos da medicina, geografia, meio ambiente, manejo de recursos naturais para que o jovem se valorize e se identifique, relacionando-os com os conhecimentos científicos acadêmicos ocidentais. A escola por ser bilíngue, contribuiu para o desenvolvimento do projeto, pois primeira etapa consistiu em ministrar aulas para os alunos da escola sobre os temas identificados nas comunidades; a segunda etapa os alunos produziam peças teatrais, com roteiro pré-definidos, na língua Baniwa e estas peças teatrais eram filmadas em fitas VHF; e a terceira etapa consistiu em apresentar nas comunidades os filmes na língua baniwa com temas voltados para prevenção e promoção da saúde. Considerações finais: Na experiência relatada, foi possível perceber a grande repercussão e apropriação dos temas por parte da população, pois por um lado os indígenas podiam apreender sobre as problemáticas que estavam proporcionando processos mórbidos nas comunidades, por outro lado eles presenciavam membros de suas aldeias na televisão fazendo atividades para com seu povo, atividades estas pensadas e construídas pelas próprias comunidades para serem desenvolvidas pelos alunos. A politica de saúde indígena, em suas diretrizes estabelecidas, menciona a preparação de recursos humanos para atuação em contexto intercultural, a articulação dos sistemas tradicionais indígenas de saúde, a promoção de ambientes saudáveis e proteção da saúde indígena. Porém é necessário que a atenção à saúde se dê de forma diferenciada, levando-se em consideração as especificidades culturais, epidemiológicas e operacionais desses povos e a criação de vinculo com as comunidades são primordiais para o melhor desenvolvimento de atividades interculturais.

5307 As limitações no ensino da saúde indígena na formação do enfermeiro para atuação em contexto intercultural.
Rizioléia Marina Pinheiro Pina, Vilanice Alves de Araújo Püschel, Sineide Santos de Souza

As limitações no ensino da saúde indígena na formação do enfermeiro para atuação em contexto intercultural.

Autores: Rizioléia Marina Pinheiro Pina, Vilanice Alves de Araújo Püschel, Sineide Santos de Souza

APRESENTAÇÃO: A docência em enfermagem proporciona aulas práticas em ambiente hospitalar, porém corriqueiramente presenciamos o modo como os enfermeiros realizam o cuidado ao indígena, caracterizado por atitudes ora paternalistas, ora autoritárias, demonstrando dificuldades no cuidado de indivíduos etnicamente diferentes, os quais em sua maioria são tratados como iguais, em desacordo com à diretriz do Sistema Único de Saúde (SUS), no que tange à equidade. A população indígena necessita de cuidados congruentes às questões culturais, haja vista se tratar de uma população que necessita de um olhar atento às suas especificidades. Nesse sentido, este estudo objetivou caracterizar o perfil dos enfermeiros que atuam no cuidado à Saúde Indígena da etnia Mura no município de Autazes, interior do Amazonas, bem como compreender aspectos relacionados a formação profissional para atuação em contexto intercultural. DESENVOLVIMENTO: Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa. Participaram do estudo dez enfermeiras que atuavam no cuidado à população indígena Mura no Município de Autazes. Quatro enfermeiras atuavam na atenção secundária em área hospitalar, seis enfermeiras atuavam na atenção primária à saúde, destinadas ao atendimento a essa população nas aldeias de Pantaleão e Murutinga. Para a coleta foi realizado contato prévio com os profissionais, bem como com as lideranças indígenas, para esclarecimentos sobre o estudo e obtenção das autorizações e somente após as anuência das instituições envolvidas iniciou-se o trabalho de campo.  Os critérios de inclusão para o estudo foram, enfermeiras que trabalhavam com a população indígena Mura nos dois níveis de Atenção à Saúde. Foi considerado critério de exclusão, o profissional que estivesse de licença médica ou férias. Todos os enfermeiros foram convidados a participar da pesquisa, porém três enfermeiros não compareceram para a entrevista, após agendamentos. As participantes foram esclarecidas acerca da pesquisa, dos objetivos e dos métodos que seriam utilizados. Após os devidos esclarecimentos, as que concordaram em participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado, contendo aspectos relacionados ao perfil das enfermeiras, e duravam de 15 a 40 min, sendo gravadas e posteriormente transcritas na íntegra para posterior análise. RESULTADOS: As enfermeiras apresentavam faixa etária entre 31 e 43 anos. O tempo de formação das enfermeiras compreendeu entre seis meses a dezesseis anos, entretanto, o maior tempo de formação foi encontrado entre as enfermeiras que atuavam na unidade hospitalar da sede do município, evidenciando que nos PB encontravam-se as enfermeiras com menor tempo de formação. Ressaltamos que das seis enfermeiras que trabalhavam nas unidades de saúde que prestavam cuidados à população indígenas nas aldeias, cinco tiveram no campo da saúde indígena sua primeira oportunidade de emprego. Os discursos dessas enfermeiras revelavam que ao iniciarem suas atividades no âmbito da saúde indígena, suas ações eram permeadas por insegurança, falta de conhecimento que facilitasse suas ações nesse universo complexo e falta de preparo para lidar em contexto Interétnico. Em relação à realização de pós-graduação, oito enfermeiras possuíam pós-graduação Lato-Sensu, dos quais predominam os cursos nas áreas de Enfermagem em Urgência e Emergência, Obstetrícia, Saúde Pública. Nenhuma possuía pós-graduação em Saúde indígena. As atualizações, em sua maioria, contemplavam as seguintes temáticas: urgência e emergência, curativo, aleitamento materno. O tempo de atuação de cada enfermeira variou de 20 dias a 14 anos. Apenas três enfermeiras possuíam experiência prévia na saúde indígena, duas dessas na área técnica de enfermagem e apenas uma possuía experiência como enfermeira na saúde indígena. As demais enfermeiras tinham no atual trabalho a primeira experiência no campo da saúde indígena. A disciplina Saúde Indígena foi cursada durante a graduação por apenas quatro enfermeiras, especificamente aquelas que concluíram a graduação a partir de 2009. Sobre o ensino de saúde indígena na graduação, somente uma enfermeira mostrou-se satisfeita com o conteúdo abordado durante a disciplina na graduação, as demais apontaram os conteúdos da disciplina como superficiais e insuficientes no que diz respeito a assuntos relacionados às características socioculturais e geográficas dessa população. As enfermeiras que não cursaram a disciplina Saúde Indígena durante a graduação apontaram como necessário a obrigatoriedade dessa disciplina na matriz curricular dos cursos de graduação em enfermagem, e relataram que a ausência dessa disciplina deixou lacunas que são sentidas em suas atividades.  Em relação ao vínculo empregatício, das dez enfermeiras entrevistadas, oito trabalham em regime de contrato temporário e apenas duas enfermeiras são do quadro efetivo da Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas (SUSAM); e atuam no Hospital do município, as seis enfermeiras que atuavam especificamente nas unidades de atendimento à população indígena eram contratadas por ONG´s, em condições contratuais, os quais são renovados a cada dois anos, demonstrando fragilidade nas condições relacionadas à instabilidade empregatícia. Tal realidade se configura como um facilitador para as altas taxas de rotatividade de profissionais no campo da saúde indígena, trazendo como consequência a descontinuidade das ações de saúde nas aldeias. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As enfermeiras formaram em Instituições de Ensino Superior na Região Norte do país, mas especificamente nos estados do Amazonas e Pará, apenas uma formou em Instituição pública. Apenas quatro enfermeiras cursaram disciplina que abordasse a saúde indígena na graduação, e segundo seus relatos foi abordada de maneira superficial e com pouca contribuição para diminuir os estranhamentos encontrados na relação intercultural enfermeira/indígena. Entretanto, durante as observações de campo não foram identificadas diferenças nas ações de cuidados das enfermeiras que cursaram a disciplina saúde indígena na graduação e das que não cursaram a disciplina, o que sugere a necessidade das Instituições de ensino Superior repensarem como tal disciplina tem sido planejada e abordada. Apesar do convívio com indígenas, as enfermeiras não possuíam especialização na área da saúde indígena, o que pode ser explicado pela pouca oferta de especialização que contemple a saúde das populações indígenas em todo o Estado do Amazonas, embora seja o estado com o maior quantitativo de indígenas do Brasil. Nesse sentido recomenda-se fortemente que as Instituições de Ensino Superior em regiões geográficas com população indígena reorientem seus currículos para a formação do enfermeiro para atuar em contexto intercultural e com competências para prestar atenção diferenciada à população indígena.