481: Direitos e diversidade: trilhas da participação e (re)existência
Debatedor: Waldenilson Teixeira Ramos
Data: 30/10/2020    Local: Sala 09 - Rodas de Conversa    Horário: 16:00 - 18:00
ID Título do Trabalho/Autores
7583 VIOLÊNCIA POLICIAL OBSERVADA POR MULHERES TRANS NO RIO DE JANEIRO E SEUS FATORES ASSOCIADOS: O ESTUDO EVAS
Eduardo Mesquita Peixoto, Jesilaine Resende Teixeira Soares, Luciane de Souza Velasque, Ricardo de Mattos Russo Rafael, Flávia de Jesus Neiva Sampaio, Virginia Maria de Azevedo Oliveira Knupp, Damiana de Figueiredo Bezerra, Maria Eduarda Dantas Messina

VIOLÊNCIA POLICIAL OBSERVADA POR MULHERES TRANS NO RIO DE JANEIRO E SEUS FATORES ASSOCIADOS: O ESTUDO EVAS

Autores: Eduardo Mesquita Peixoto, Jesilaine Resende Teixeira Soares, Luciane de Souza Velasque, Ricardo de Mattos Russo Rafael, Flávia de Jesus Neiva Sampaio, Virginia Maria de Azevedo Oliveira Knupp, Damiana de Figueiredo Bezerra, Maria Eduarda Dantas Messina

Apresentação: A violência é uma das maiores violações contra os direitos humanos, e é considerada um grave problema de saúde pública, visto que, além de provocar forte impacto sobre as taxas de morbimortalidade, vem prejudicando a saúde biopsicossocial dos vitimizados, com importantes repercussões econômicas e sociais. A violência policial, especificamente, é considerada um tipo de violência comunitária à qual normalmente as minorias são mais atingidas, se tornando um público alvo mais vulnerável. Sabe-se inclusive, que alguns grupos sociais estigmatizados pelas suas características sofrem cotidianamente atos violentos, como exemplos: as populações de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queer, Interssexuais, Assexuais e Plus(LGBTTQIA+). De acordo com dados recentes, o Brasil nos últimos anos vem registrando violência policial  relacionado a mulheres trans, principalmente no Estado do Rio de Janeiro, que atualmente é responsável por um quarto dos casos no país. A violência policial  ocorre principalmente em áreas de baixa renda e está associada muito fortemente ao racismo. Infelizmente o Brasil é o país líder em taxas de mortalidade entre mulheres trans em todo o mundo. Com isso, o objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de violência policial observada por mulheres trans residentes no Estado do Rio de Janeiro e identificar os fatores associados. Com isso pretendemos evidenciar tendências, padrões e comportamentos que podem ser explorados a fim de melhorar as políticas de segurança e saúde vigentes nas comunidades. Método: Estudo transversal realizado em 2019, que incluiu 108 mulheres com mais de 18 anos no Rio de Janeiro, Brasil. Entrevistadores treinados aplicaram um instrumento adaptado baseado no projeto Juvipol e também em um questionário sócio-demográfica. A análise dos dados utilizou ao modelo logístico, assumindo um nível de significância de 5%. A variável desfecho utilizada foi ter visto violência policial  nos últimos 12 meses pelo menos uma vez. Resultado: A prevalência de violência policial  observada foi de 24,07% (IC95% 16,99-32,93%). A violência policial observada  teve uma associação positiva de ter sido vítima de racismo mais de uma vez na vida (AOR = 6,85, IC 95% 2,22–21,10, p = 0,001), com transfobia mais de uma vez na vida (AOR = 3,41, 95% IC 1,03-11,28, p = 0,044) e com escolaridade maior que o ensino médio (AOR = 4,76, IC 95% 1,03–21,87, p = 0,045). Os participantes que relataram uma alta passabilidade apresentaram menor probabilidade de ter visto violência policial  (AOR = 0,21, IC 95% 0,05-0,86, p = 0,034). Considerações finais: O contexto social e a discriminação estão significativamente associados à observação da violência policial. Uma alta passibilidade parece ter uma associação protetora para observar violência policial  na comunidade. Confrontos nas favelas afetam o cotidiano de milhões de trabalhadores. Como a polícia está pouco preparada e considera as mulheres trans como perigosas, trabalhadoras do sexo ou envolvidas com drogas, esses fatores combinados podem contribuir para aumentar a violência contra a população trans.

8560 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS AVANÇOS NA SAÚDE DA POPULAÇÃO TRANS
Victor Hugo Oliveira Brito, Camila Rodrigues Barbosa Nemer, Darci Francisco dos Santos Junior, Grayce Daynara Castro de Andrade, Izabele Grazielle da Silva Pojo, Marlucilena Pinheiro da Silva, Viviane de Souza Bezerra

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS AVANÇOS NA SAÚDE DA POPULAÇÃO TRANS

Autores: Victor Hugo Oliveira Brito, Camila Rodrigues Barbosa Nemer, Darci Francisco dos Santos Junior, Grayce Daynara Castro de Andrade, Izabele Grazielle da Silva Pojo, Marlucilena Pinheiro da Silva, Viviane de Souza Bezerra

Apresentação: A pessoa transgênero é caracterizada por possuir uma identidade de gênero que difere do típico do sexo que foi atribuído a ela ao nascer. Pessoas trans, assim como quaisquer outras pessoas, necessitam de serviços básicos como educação e segurança; além disso possuem necessidades únicas de saúde e podem requerer serviços que ofereçam abordagem multiprofissional e terapias hormonais, por exemplo. Entretanto, a transgeneridade já foi rotulada como uma patologia e a participação popular em diversos movimentos sociais foi crucial para alguns avanços na atualidade. Assim, o objetivo desta pesquisa é identificar os avanços na saúde da população trans. Desenvolvimento: trata-se de uma pesquisa bibliográfica, realizada para embasar posterior dissertação de mestrado com foco no tema em questão. Foi realizada, no mês de novembro de 2019, busca nas bases de dados BVS e PubMed para seleção de estudos disponíveis on-line e na íntegra, não havendo recorte temporal específico. Como critérios de inclusão: pesquisas com objetivo que tivesse afinidade com a proposta e publicações em português. Resultado: após seleção e leitura dos estudos, verificou-se que no Brasil, em 2011, a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais foi instituída, garantindo atendimentos específicos como terapias hormonais e cirurgias de reafirmação de sexo. Adicionalmente, um dos avanços explicitados é o Nome Social, instituído pelo Decreto Presidencial Nº 8.727/2016 e se refere à denominação pela qual a pessoa transgênero se identifica e é socialmente reconhecida, consequentemente objetivando atendimentos de saúde com dignidade e respeito. Outro avanço em 2018, considerado um marco na saúde trans brasileira, foi a publicação da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 11), no qual as categorias relacionadas a pessoas trans foram removidas do Capítulo sobre Transtornos Mentais e Comportamentais, des-psicopatologizando as identidades de gênero relacionadas a elas. Considerações finais: As evidências encontradas mostram o contínuo ganho de direitos da população trans, porém o preconceito enraizado na sociedade ainda persiste e mostra-se como influenciador negativo na saúde. Após conquista de direitos dentro da sociedade, percebe-se a crescente importância da visibilidade da população trans, seja através de estudos em instituições científicas, no debate e rodas de conversa em espaços de interação ou através de atitudes cotidianas simples, mas com grande valor simbólico. Porém, esse deve ser um trabalho contínuo para que o exercício da cidadania lhe seja atribuído, cada vez mais plenamente, nos anos que se seguem, seja no âmbito social, de saúde, educação ou quaisquer outros onde esteja inserida.

10606 ASSISTÊNCIA PRESTADA ÀS MULHERES TRANSEXUAIS :UMA REFLEXÃO SOBRE OS SERVIÇOS DE SAÚDE
Erick da Silva Freire, Carolina de Souza Silva, Stefanie Schuambach do Nascimento, Carla de Oliveira Shubert

ASSISTÊNCIA PRESTADA ÀS MULHERES TRANSEXUAIS :UMA REFLEXÃO SOBRE OS SERVIÇOS DE SAÚDE

Autores: Erick da Silva Freire, Carolina de Souza Silva, Stefanie Schuambach do Nascimento, Carla de Oliveira Shubert

Apresentação: As mulheres transexuais são constantemente alvo da violência, discriminação, rotulação indevida e constrangimentos. Ao passar dos anos, mostrou-se que existe variedade de assuntos e áreas de conhecimento que discutem essa temática, não só pelo âmbito da saúde, como também em aspectos socioeconômico, cultural, direitos civis e políticos. Apesar do artigo 196 da Constituição da República Brasileira, garantir que saúde é direito de todos os cidadãos brasileiros, as mulheres trans tem dificuldade de acesso aos serviços de saúde e ainda, de ter atendimento igualitário. Mulher transexual é uma pessoa de identidade de gênero feminina que foi designada como sexo masculino ao nascer, em seus processos de construção de um novo corpo são conduzidas a um significativo investimento identitário, um novo nome, corpo modificado, que dão sentido como a pessoa se vê. Diante das barreiras discriminatórias e pela falta de acolhimento nos serviços de saúde, as mulheres transexuais optam por buscar um atendimento precário nos serviços clandestinos, o que pode trazer riscos para a saúde em geral e aumentar suas vulnerabilidades. Este trabalho objetivou analisar as dificuldades encontradas pelas mulheres transexuais no atendimento em saúde. Desenvolvimento:   Uma revisão integrativa da literatura, de caráter descritivo, qualitativo e exploratório. A busca realizada em janeiro de 2020 nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde, utilizando seguintes descritores: Mulheres, Pessoas Transgênero, Sistema Único de Saúde. Foram incluídos textos completos, disponíveis na íntegra, em português que se encaixavam na temática abordada. Excluíram-se os artigos duplicados e fora do recorte temporal (2015-2019). Resultado: Foram encontradas 26 publicações que após aplicação de filtros e análise de títulos descartou-se 15, não se tratarem do assunto em questão. Os 11 artigos restantes apontam para a discriminação nos serviços de saúde, a patologização da transexualidade, o acolhimento inadequado, falta de qualificação dos profissionais, ausência de política de atenção básica, apesar das portarias do Ministério da Saúde, a escassez de recursos, a falta de conhecimento das políticas públicas por parte dos profissionais de saúde, falta de acesso a hormonização, a exigência de cirurgia para troca de nome e sexo em documentos. As políticas de saúde voltadas à população trans vem sendo desenvolvidas no Brasil, com o intuito de possibilitar o acesso, antes negado. O Sistema Único de Saúde possui políticas públicas direcionadas ao público, estas como: a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) e o Processo Transexualixador do SUS, criado em 2008 e ampliando em 2013. Mesmo instituídos programas, ainda é o grupo que mais enfrenta dificuldades para o acesso à saúde. As dificuldades são diversas desde a discriminação nos serviços de saúde à falta do acesso e escassez de recursos. Considerações finais: Apesar de políticas e portarias existentes, encontra-se muita resistência pelos profissionais e/ou pela sociedade por preconceito, falta de entendimento sobre as políticas e princípios que norteiam o SUS. Necessária a capacitação desses profissionais, respeitando identidade e particularidade acima de qualquer opinião, um atendimento preciso com escuta ativa permitindo ao indivíduo acesso ao direito previsto em lei.

9204 NOVAS MODALIDADES DE FAMÍLIAS: A FAMÍLIA HOMOPARENTAL
Mariana de Oliveira Santos, Mariane da Silva Gomes

NOVAS MODALIDADES DE FAMÍLIAS: A FAMÍLIA HOMOPARENTAL

Autores: Mariana de Oliveira Santos, Mariane da Silva Gomes

Apresentação: Homofobia tem sido uma palavra-chave, utilizada para descrever vários fenômenos relacionados ao preconceito em geral, consiste em um grande problema social e político, que varia de intensidade, frequência e de sociedade para sociedade. No Brasil, vivemos em uma sociedade em que o preconceito a homossexualidade é abertamente pronunciado. A luta dos homossexuais deve-se fazer entendida pela cidadania plena (direito ao reconhecimento pelo Estado e pela lei de suas uniões conjugais, direito à adoção por casais gays, entre outros), não um desejo de normalização ou uma queda na ideologia, mas um nível de luta política em que se questionam as ideias de normalidade e de democracia. A temática da filiação de homossexuais tem sido fruto de inúmeras pesquisas em países do primeiro mundo e tornou-se tema de trabalhos acadêmicos no Brasil devido a constante luta LGBT pelos direitos igualitários. Desta forma, o presente estudo busca trabalhar a constituição da família homoparental e os desafios da interação social que se trata duma temática atual e com escassez de literatura. Objetivando compreender as configurações de famílias homossexuais e seus desafios na inserção social a partir de uma revisão de literatura. No ocidente a família é o núcleo organizador. Sob ela irá se fundamentar os valores primordiais da nossa cultura. Não existe uma forma de estrutura familiar que seja “natural” ou “certa”, pois a sua constituição estará sempre sujeita à cultura da sociedade e ao momento histórico vivenciado. O termo homoparentalidade refere-se à situação familiar na qual, no mínimo, o pai ou a mãe se assume como homossexual. Trata-se de uma modalidade familiar que apresenta mudanças significativas nas relações parentais e conjugais, uma vez que destitui um princípio fundamental na constituição do grupo familiar, a saber, a diferenciação sexual - pai/homem/masculino e mãe/mulher/feminino, sendo uma das indagações mais utilizadas contra as famílias homoparentais, a possibilidade de prejuízos vindos da falta desses referenciais. Contudo, estudos evidenciam que ser ou não bons pais/mães não tem relação com homens e mulheres heterossexuais e nem tão pouco com homossexualidade de homens e mulheres. A boa parentalidade está associada à capacidade do cuidar e a qualidade do relacionamento com os filhos, e de forma alguma ligada à orientação sexual dos pais, outra manifestação em relação a essa modalidade familiar, que diz respeito a possibilidade de a orientação sexual dos pais/mães interferir no desenvolvimento da afetividade dos filhos, e assim os tornarem homossexuais também. Esse discurso parte do pressuposto que homossexuais negam a diferença dos sexos, e que não permitem aos filhos um contato com o sexo oposto, sendo está uma afirmação sem fundamento. O laço familiar que une adulto a uma criança apresenta-se em quatro elementos nem sempre congruentes: 1) vinculo biológico (concepção e origem genética); 2) o parentesco, que liga dois seres sob uma genealogia; 3) a filiação, reconhecimento jurídico 4) a parentalidade. Não existe indício de que crianças deixadas aos cuidados de casais homossexuais tenham problemas psíquicos diferentes daqueles enfrentados por meninos e meninas de famílias heterossexuais, a não ser aqueles eventualmente decorrentes do enfrentamento de preconceito em função da naturalização do conceito de família e do modelo heteronormativo (termo usado para descrever situações nas quais orientações sexuais diferentes da heterossexual são marginalizadas, ignoradas ou perseguidas por práticas sociais, crenças ou políticas) enraizado nos ambientes sociais. Importante é mencionar que uma criança deve ser criada em um ambiente estruturado, com amor e carinho. Qualquer pessoa inserida dentro do Estado Democrático de Direito tem que ter seu direito à liberdade respeitado, não podendo ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei. Neste sentido, podemos concluir que não há razão para não se tratar com dignidade os homossexuais e reconhecer a sua entidade familiar e seus direitos inerentes. Do ponto de vista do número de pessoas envolvidas, a família homossexual não cria nada de novo: é monoparental, biparental ou pluriparental, como ocorre com todas as outras famílias. Da perspectiva da cidadania, dos direitos e dos deveres, é um cidadão protegido pela lei, como todos. Em relação aos cuidados com as crianças, as poucas pesquisas feitas não identificam diferenças. As formas de acesso à homoparentalidade são: família recomposta com filhos de relacionamento heterossexual anterior, adoção (legal ou não) ou o uso de tecnologias reprodutivas, como inseminação artificial ou fertilização assistida. Apesar de haver pesquisas que comprovem que homossexuais sejam capazes de constituir uma família, ainda há muito preconceito das pessoas a respeito do assunto. Esse preconceito e falta de informação acaba afetando o processo para que uma família homoparental realmente possa se constituir, ou seja, a homofobia fere os direitos de igualdade para pessoas homossexuais que desejam construir uma família e tem dificuldades elevadas devido ao fato da falta de políticas públicas. Se tratando de direitos de famílias homoparentais a Suécia é um dos países mais igualitários do mundo, possuindo uma legislação estruturada e políticas que permitiram o progresso de seu princípio igualitário. Em Portugal, a orientação sexual é adicionada a constituição como princípio de igualdade, acrescentando a homossexualidade como tema de educação sexual contribuindo para a mudança de pontos de vista nas instituições escolares, resultando futuramente em uma sociedade menos preconceituosa. Possui união homoafetiva e direitos como constituição familiar. O Brasil em comparação com Portugal e Suécia tramita entre uma discussão acalentadora trazendo à tona projetos de leis reforçando o modelo heteronormativo e as discussões de igualdade, onde deixam várias modelos de famílias, entre elas as homoparentais descobertas pela lei. Apesar de ser um estado laico e já ter instituído políticas públicas voltadas a comunidade LGBT, o Brasil ainda tem culturalmente e na convicção de alguns dos legisladores o preconceito com a diversidade e um conceito igualitário distorcido. Acredita-se que a homoparentalidade segue o curso da homossexualidade, de tal modo, essa modalidade de família parece ocupar uma posição de subalternidade, a partir de uma lógica de hierarquização entre a heteroparentalidade em relação aos outros arranjos familiares, o que se fundamenta nos valores hegemônicos da heteronormatividade e naturalização do conceito de família. Enfrentar toda a discriminação e exclusão social implica em promover a democracia social, a laicidade do Estado e, ao mesmo tempo, exige ampliar a consciência sanitária com mobilização em torno da defesa, do direito à saúde e dos direitos sexuais. Como podemos evidenciar as relações homoafetivas são continuas, duradouras e públicas não tendo assim argumento plausível para não ser dado os direitos inerentes a qualquer casal, como por exemplo, o direito à constituição da família, adoção, reprodução e a sucessão. Quanto ao desenvolvimento psíquico das crianças e ao processo educacional, não há nada que “contraindique” a maternidade ou a paternidade em função da orientação homossexual. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei, e ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado ou privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de sua orientação sexual.

8190 NA LINHA DO ARCO-ÍRIS: PRÁTICAS DISCURSIVAS RELATIVAS À REJEIÇÃO DE DOAÇÃO DE SANGUE DE HOMENS GAYS E BISSEXUAIS
DANIEL CASTRO SILVA, MATHEUS DOS SANTOS DA SILVEIRA

NA LINHA DO ARCO-ÍRIS: PRÁTICAS DISCURSIVAS RELATIVAS À REJEIÇÃO DE DOAÇÃO DE SANGUE DE HOMENS GAYS E BISSEXUAIS

Autores: DANIEL CASTRO SILVA, MATHEUS DOS SANTOS DA SILVEIRA

Apresentação: A doação de sangue é um ato de valorização a vida, altruísmo e anônimo, não devendo o doador receber qualquer quantia de remuneração, prezando, dessa forma, o caráter voluntário da ação. Com isso, a própria doação de sangue vem ser motivada pela contribuição aos bancos de sangue e pela ajuda ao próximo, como é destacado nas campanhas nacionais dos hemocentros, e concomitantemente, a saúde pública. Para tal prática foi construída uma política de restrição que envolve uma triagem prévia dos candidatos a doadores no dia de doação por um(a) profissional da saúde de nível superior, qualificado(a) e capacitado(a) nos procedimentos hemoterápicos. Por meio de uma entrevista individual, no qual responderá questões referentes à saúde, como, por exemplo, possibilidade de o candidato à doação ser soropositivo, como objetivo de assegurar a coleta de sangue, tanto para o doador, isto é, para que não cause risco a saúde, quanto para o potencial receptor. A Portaria 158/2016, no § 4 e 5 do Art. 1, atestam que a triagem não perpassa por questões de identidade de gênero e orientação sexual. Entretanto, na própria portaria existe a restrição, adotada mundialmente, contra a doação de homens que fazem sexo com homens (HSH), como uma resposta à crise de HIV/AIDS, que atingiu a comunidade LGBTI, em especial, homens homossexuais, bissexuais e travestis. Embora, pudesse a proibição ter sido baseada em concepções científicas ultrapassadas e padrões de valores culturais discriminatórios e estigmatizantes, as mesmas medidas estão sendo problematizadas por parte da comunidade científica, que alega a sua inconsistência diante do desenvolvimento científico atual. Assim, este trabalho analisa as relações de saber-poder entre os discursos presentes nas Portarias nº 1353/11 e nº 158/2016, do Ministério da Saúde e como tais diretrizes violam o princípio da igualdade, um princípio basilar do Estado Democrático de Direito. Nos anos 80, o surgimento do HIV/AIDS foi marcado por grande confusão e medo, pois muitos homens, que eram saudáveis, deram entrada em grande massa nos hospitais nova-iorquinos e demais cidades nos Estados Unidos com doenças graves, vindo a óbito antes dos médicos entenderem o que estava acontecendo. A misteriosa doença, que antes parecia ser restrita a homens homossexuais e bissexuais, chegando a ser chamada de GRID (imunodeficiência relacionada à homossexualidade, na sigla em inglês), vindo a receber o nome AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida, na sigla em inglês) somente em 1982 . A epidemia do HIV/AIDS produziu efeitos tão complexos sobre a formação da identidade e visibilidade homossexuais. A doença atingiu mais fortemente, além deste grupo, usuários de drogas injetáveis e prostitutas, sujeitos socialmente estigmatizados, o que produziu um discurso moralizante de culpabilização da própria vítima , que ora assumia cores pretensamente científicas (“câncer gay”), ora atualizava um discurso religioso ancestral (“castigo divino”). Tais discursos foram propagados pela mídia sensacionalista estadunidense, prejudicando os debates no âmbito nacional brasileiro, dando oportunidades de contra-ataque de conservadores, com discursos medicalizantes e higienistas, logo após a “revolução sexual” e a despatologização da homossexualidade pela Associação Psiquiátrica Americana em 1974 e, no Brasil, pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) em 1985, em prol das formas tradicionais e monogâmicas de família . Após o primeiro caso de contaminação do HIV por meio de transfusão de sangue, os Estados Unidos, em 1982, o pânico foi maior sobre os bancos nacionais de sangue. Assim, sem saber ainda sobre a origem e os métodos de transmissão da doença, instaurou-se as restrições em doações de homens que houvessem feito sexo com outros homens, a partir de 1983. No Brasil, a mesma exclusão foi implementada a partir de 1985 e perdurou até 2002, quando foi revista pela política atual . Os movimentos LGBTI vêm se consolidando pelo Brasil desde a década de 80, com o HIV/AIDS proliferando em grande escala, o vírus deu maior visibilidade a esse movimento e abriu maiores debates sobre a doença em diversos âmbitos sociais. Apesar dos direitos existentes conquistados por uma luta árdua dos movimentos LGBTI, ainda se tem muito a conquistar. A doação de sangue, por exemplo, ainda não é possível a esta população. No Art. 64 da Portaria 158/2016, torna-se inapto por um ano à doação de sangue por HSH e/ou parceiras sexuais destes nos últimos 12 meses. Os hemocentros não aceitam candidatos à doação declaradamente homossexuais, bissexuais e travestis, por estarem enquadrados enquanto “grupo de risco”. Com isso, a atual política, impede a doação de sangue por sujeitos não por seu comportamento de risco, mas sim em razão de um “traço inerente que existe independente de risco” . A descrição da “conduta” de sendo homem que se relaciona sexualmente com homens, descreve não um “comportamento de risco”, mas sim um sujeito específico que seria mais propenso a contrair o vírus. Desta forma, é usado um mascaramento de uma definição de conduta, pois há uma fixação de um grupo de pessoas com sua sexualidade historicamente marcada por ser desviante e vítimas de preconceito . A vedação dessa doação por considerar homossexuais e bissexuais como ameaça, efetiva a perpetuação dos estigmas negativos relacionados a esses homens ao basear as normas de doação em estereótipos e não em ciência, como também, cria a ideia de “aura protetiva” entre heterossexuais . O que caracteriza também as dificuldades em falar sobre prevenção e promoção de cuidados sexuais com esse grupo. O conhecimento científico já avançou desde 1980, sendo consenso que a orientação sexual não tem nenhum ligamento com a transmissão do HIV/AIDS . Isso significa, que a pessoa não contrai HIV/AIDS por ser gay, bissexual ou ter participado de um ato homossexual, e sim, porque se envolveu em alguma situação de risco de contágio, como, por exemplo, sexo desprotegido. O impedimento da doação por HSHs torna a situação dramática se pensarmos a partir de que homens gays ou bissexuais, cuja a possibilidade de salvar vidas está sendo negada, possuem tipos sanguíneos mais raros para a doação. A demanda pelo fim da vedação de doação por HSHs busca, assim, novos padrões sociais de reconhecimento das capacidades de homens homossexuais e bissexuais contribuírem na coletividade em detrimento de padrões estigmatizados que os desvalorizam como “perigosos” e “promíscuos”. Além disso, a proibição fere a dignidade humana desses sujeitos, violando assim o princípio de igualdade e da proporcionalidade . Pelo princípio da igualdade, a restrição se baseia na orientação sexual do sujeito, e não em um comportamento individualizado, sendo assim, discriminatório por impor tratamento diferentes entre homossexuais e heterossexuais, de forma injusta. Já na proporcionalidade, há medida igualmente benéfica que garante a qualidade do sangue, pelo qual, estabelece uma política baseada na ideia de comportamento de risco, que é menos prejudicial ao direito de homens homossexuais e bissexuais, além de ampliar o número de doadores. Isso é importante, pois já está sendo questionado no Supremo Tribunal Federal (STF), desde 2019, o reconhecimento dessa LGBTfobia institucionalizada nas redes de saúde, e caso declararem a inconstitucionalidade, será uma conquista para os movimentos LGBTI, e para os hemocentros nacionais.

9337 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA ABORDAGEM À SAÚDE DO HOMEM
Karolayne Souza Martins, Ana Paula Azevedo Hemmi, Claudiane Fátima Vieira, Keyla Olinda Figueiredo Oliveira, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Mônica Rezende

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA ABORDAGEM À SAÚDE DO HOMEM

Autores: Karolayne Souza Martins, Ana Paula Azevedo Hemmi, Claudiane Fátima Vieira, Keyla Olinda Figueiredo Oliveira, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Mônica Rezende

Apresentação: A Saúde do Homem tornou-se um tema de debate no campo da saúde desde o início dos anos 2000. Em 2009, o documento intitulado Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) foi lançado pelo Ministério da Saúde (MS). Ao analisarmos o processo de construção da Política, é possível afirmar que se tratou de um processo permeado por conflitos e disputas entre diferentes agentes sociais envolvidos, tais como pertencentes às Sociedades Brasileiras de Urologia (SBU), Cardiologia (SBC), Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), Academia, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e MS. Tais conflitos e disputas foram advindos pelas diferentes formas de participação para defenderem suas respectivas posições sobre como deveria ser pensada uma política de saúde do homem. A partir da análise sobre a construção da PNAISH, foi possível repensar o conceito de participação em construção de políticas de saúde. Participação é um conceito que tem sido trabalhado amplamente no campo da saúde com vistas a discutir, refletir e analisar a sua institucionalização em conselhos locais, municipais, estaduais e nas conferências de saúde. Conhecemos participação como social, comunitária e popular. Mas o que significa participar quando nos referimos a construção de políticas públicas? Essa é uma questão que precisa ser melhor explorada no campo da saúde. Diante disso, temos como objetivo central analisar como a saúde do homem tem sido abordada após a publicação da Política. A intenção é reconhecer que aspectos da Política são valorizados e como dialogam com questões atinentes à saúde do homem, trazendo aportes para refletirmos sobre os mecanismos de participação social. Método: Trata-se de um estudo documental de abordagem qualitativa. Foram realizadas consultas a websites da Câmara dos Deputados, Senado Federal, Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Minas Gerais (SES/MG) considerando suas notícias. Além desses, as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO ), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google Acadêmico foram consultadas como forma de identificação de artigos científicos sobre o tema saúde do homem. Em todos eles considerou-se o período de publicação no período de 2009 a 2018. No caso da consulta aos websites da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, da SBU, MS e SES-MG, buscou-se pelas notícias a partir da expressão “saúde do homem” no item “notícias” de cada um deles. No caso das bases de dados, foram utilizados como descritores para busca dos artigos os termos “saúde do homem” e “política”. As notícias e artigos foram lidos na íntegra e analisados em seus conteúdos. Resultado: 3.1 A Saúde do Homem na Câmara dos Debutados e no Senado Federal Em relação às notícias advindas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, foi possível categorizá-las em 5 temas: PNAISH; Novembro Azul; Atuação dos Fóruns de Saúde do Homem e Frente Parlamentar de Saúde; Semana e Campanhas para Saúde do Homem; e Projetos de Lei. A atuação dos Fóruns e da Frente Parlamentar são os temas de maior destaque e apresentam, em seu conteúdo, a prevenção ao câncer de próstata, o Novembro Azul e a atuação da SBU. A única menção ao MS se refere à necessidade de se ampliar o acesso dos homens a exames em geral. Quando a PNAISH é mencionada, há uma intenção em destacá-la como ligada à um olhar integral ao homem, e ao combate ao câncer de próstata. Em alguns momentos, a política aparece também relacionada ao Novembro Azul. Quando mencionam sobre a necessidade de campanhas e semanas para comemorar a saúde do homem, é possível perceber que se trata de uma relação à prevenção ao câncer de próstata e de pênis. Além disso, há uma intenção em apontar o apoio da SBU ao MS para que os homens sejam estimulados a realizar exames de rotina. Quanto aos Projetos de Lei, a menção à saúde do homem acontece de forma geral, sem especificar doenças, mas a ideia de prevenção e da PNAISH estão também presentes. Quanto às notícias sobre o Novembro Azul, essas se relacionam à iluminação de prédios públicos e monumentos em Brasília e também sobre a necessidade dos homens deixarem de ter preconceito sobre a realização de exames. 3.2 A Saúde do Homem no Ministério da Saúde As reportagens relacionadas ao MS, se dividem em três grandes grupos: Pré-natal do parceiro; Atendimento à população Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT); Capacitação dos profissionais nos serviços de saúde. Em relação ao tema Pré-natal do parceiro, as notícias abordam a importância do homem ser inserido no sistema de saúde através do pré-natal. Quanto ao atendimento à população LGBT, as reportagens se relacionam a inserção dessa população nos serviços de saúde e também a realização de capacitações para profissionais de saúde visando um melhor atendimento. E por fim, as publicações relacionadas às capacitações dos profissionais de saúde, abordam aspectos gerais, como capacitações para Agentes Comunitários de Saúde, para que os mesmos consigam desenvolver métodos capazes de estimular os homens a frequentarem os serviços de saúde, além de campanhas de conscientização, prevenção e esclarecimento de dúvidas para a população masculina. Há associação ao Novembro Azul pelo MS destacando a importância para a inserção do homem nos serviços APS. 3.3 A Saúde do Homem na SES (MG) As notícias advindas da SES-MG se referem a diversos municípios do estado. Desde 2014, o tema Novembro Azul aparece nas notícias da SES-MG. A maior parte das reportagens ocorrem, geralmente, no mês de novembro, abordando temas voltados para promoção e prevenção de câncer de próstata, através de campanhas. Um número limitado apontava aspectos relacionados ao acesso dos homens aos serviços de saúde, sobre a necessidade dos homens se cuidarem, terem uma boa alimentação e praticarem exercícios físicos. 3.4 A saúde do homem nas bases de dados acadêmicas Em relação aos artigos científicos, é possível perceber três temas: 1) o processo saúde-doença dos homens e o acesso aos serviços de saúde; 2) o papel dos profissionais de saúde no atendimento aos homens; e 3) a PNAISH. Geralmente, no que diz respeito ao tema 1, a discussão dos artigos abordam as questões de subjetividade, masculinidade e gênero. Quanto ao tema 2, os artigos buscam conhecer a atuação, percepção e dificuldades dos profissionais de saúde no atendimento a população masculina. Há também estudos que visam investigar o conhecimento dos profissionais sobre a PNAISH. Nos artigos sobre o documento da política, tema 3, ela é analisada também sob a perspectiva de gênero e masculinidades, além da medicalização do corpo masculino e vulnerabilidade masculina. 4 Considerações É possível perceber que há diferentes concepções em como abordar a saúde do homem pelos diferentes agentes sociais. O MS e a academia parecem caminhar por uma perspectiva de pensar o homem de forma mais relacionada às questões sociais que impactam na saúde e no acesso aos serviços. O Legislativo e a SES (MG) parecem estar mais alinhados a uma perspectiva da especialidade médica da urologia. É evidente a associação da saúde do homem à prevenção do câncer de próstata, o que pode sinalizar um peso importante da especialidade médica de urologia em âmbitos que tendem a influenciar as práticas de saúde. Outros temas importantes para a saúde do homem, a começar pela discussão de masculinidade, não estão tão presentes, mostrando também que a participação social no âmbito dessa política tem se mantido restrita.

7189 GÊNERO E RUA: O VIVENCIAR DA VIOLÊNCIA NÃO TRAVESTIDA
Jonathas Justino, Suzy Santos, Danny Braskys

GÊNERO E RUA: O VIVENCIAR DA VIOLÊNCIA NÃO TRAVESTIDA

Autores: Jonathas Justino, Suzy Santos, Danny Braskys

Apresentação: Somos todas autoras nesta produção: vivências que permeiam a academia, o trabalho em equipamentos de saúde e enquanto usuárias do S.U. S. A rua se fez elemento convergente para o encontro das autoras, confluindo os diferentes papéis (de pesquisadora, trabalhadora e usuária) como um dispositivo que traçados pela escrita tencionam e modificam as separações institucionais. Esta escrita que embora confeccionada a três, detém a pretensão de atingir (assim esperamos) uma infinita base de representação de experiência, sentida, vivida e sofrida pela anormalidade do desejo, que transborda nossos contornos, atravessando fronteiras. A “caça às bruxas” não cessou, modificou-se, dentro do patamar das ideias, na ordem do discurso, na captura vulgar de termos que dizem respeito aos direitos humanos de uma maneira perversa e limitada: quão perigoso é para o patriarcado, machista, racista, heteronormativo dividir voz com quem por séculos fora oprimido, trancafiado, silenciado e eliminado? Desenvolvimento: O encontrar literal dos corpos tem o campo do Consultório na Rua do município de Campinas como território. Encontro este que, também, nos remete a falas e situações de mulheres transexuais que não colocam como sendo aceitável que o conhecimento produzido sobre a transexualidade seja produzido sem levar em conta aspectos de representatividade e participação deste segmento neste processo. Éramos pesquisadoras e objetos - estranhávamos, misturávamos, inundávamos em nossos encontros e a transversalidade rígida institucional se despia em uma conexão distinta da relação poder-saber. Nossos encontros foram realizados em uma pequena pensão, moradia de uma das autoras, em uma pequena sala, ora em um pequeno quarto, contendo ritmos de trocas de experiências por vezes denso, por vezes fácil, permeados por desconfortáveis silêncios e pela vívida circulação de pessoas outras que circunscreviam aquele ambiente repleto de vidas consideradas anormais. De vida, sobretudo. As mulheres aqui ouvidas, dentre elas uma das autoras, trazem relatos sobre suas vivências dos prazeres e dissabores da vida transexual, a partir da experiência autobiográfica e do relato vivencial que se aproxima do processo de práticas de si: Referenciado na teoria queer, nas interlocuções com dispositivos de poder, tão intensamente descritos por Michel Foucault e na representação do gênero enquanto performance, tal como descreve Butler, iremos tratar da vida transexual não enquanto categoria social simplesmente, mas enquanto um atravessamento político de subversão e resistência. A metodologia cartográfica, o corpo cartógrafo que se inunda da subjetividade do campo acompanhou a posição de pesquisa in-mundo. Metodologicamente, esta escrita foi realizada a fim de que os envolvidos se contaminassem uns com os outros, com interferência  e influência de um objeto não isolado, mas escancarado, operando na constituição do sujeito pesquisador in mundo. Os encontros, ocorridos em diversos locais: pensões, espaço público da rua, acompanharam a construção coletiva, gravada das conversas e a decisão mútua dos caminhos a serem tomados, levando em conta os direcionamentos investigativos da pesquisa em ato, do inesperado e do movimento insurgente. Resultado: O “regime sexual normativo” atual carrega velhos paradigmas, mas se atualiza, dentro de um viés capitalístico, produzindo a diversidade monetariamente abastada literalmente em um nicho de mercado. Em discursos marcados pela categoria de divisão de classes abre espaço para discussões polêmicas: “transexual rica, branca, como detentora de menor dificuldade”, talvez crie abertura para uma leitura equivocada e reducionista da vida com base no capital e na etnia, todavia, o regime de controle dos corpos, inclusive no que se refere a gênero se situa em um contexto de clara divisão de classes e desigualdades sociais extremas. Como separar o gênero desta analítica de poder? Quão distinto e melhor aceito pelo capital, pelo viés econômico é a dicotomia entre: “gays ricos e bichas pobres”, “travestis e transexuais”? Aspectos importantes reproduzidos e consolidados pelas instituições que nos cercam entrelaçam estas vidas e as marcam, especialmente por dois aspectos fundamentais: a seletividade penal e a prostituição compulsória, frutos da materialidade da abjeção dos corpos. Atividades da vida cotidiana, comuns a todos, que culminam em certo trânsito pelo espaço público são representadas pelo “olhar do outro” que traçam previamente seu destino: a prostituição. Não escrevemos sobre este fato tentando relacionar a prostituição como algo destrutivo ao corpo, afinal, as putas não precisam ser salvas. Contudo, representar a vida trans essencialmente análoga ao corpo sexualizado, esse sim, o “nó da questão”. Percebe-se que as mulheres transexuais encontram-se em uma zona inabitada – não pertencem à família, não pertencem a serviços de acolhimento que atendam mulheres ou homens – fazem emergir uma demarcação não inteligível, disfuncional, inumano - rompem com a heteronormatividade e são abraçadas pelo estigma, visto que ao se pensar em travestis e na transexualidade se constrói uma ideia de desordem, em que o duplo desvio sexual, moralmente inaceitável (transexualidade e prostituição), aparece conectado à pobreza e à criminalidade. Considerações finais: As considerações elaboradas não são finais e nem poderiam ser. A vida literal, vívida e vivida, inscreve nos peitos de silicone industrial destas mulheres a letra “T”, tingida pelo vermelho escarlate, com significância de anormalidade e não inteligibilidade do gênero trans, operadas pelo discurso e difusamente capilarizada nos entremeios do poder. Já não nos encontramos no século XVII, mas Hester Prynn (em a Letra Escarlate) se multiplica em meados de 2020 nos corpos abjetos, fornecendo abertura a uma sorte de violações. O puritanismo alcança aliados em cadeia global e a letra escarlate é pintada não somente nas vestes de quem se “aponta”. O tingimento rubro-estigma se amplia por cenários construídos em tecnologias virtuais, de governo, judiciais, religiosas e midiáticas. O corpo transexual, se ouvido, diria que a zona inumana estabelecida a ele como habitat natural não é uma zona segura. Diria que neste corpo existe resiliência, plenitude, dificuldades, práticas coletivas de cuidado e que ele não nasceu para fins sexuais, de chacota ou para preenchimento de vagas em sistemas prisionais. Este corpo esperaria que estas linhas escritas tivessem o formato de multidão, que este corpo, tão interditado se tornasse indomável frente à soberania que o reprime, o esconde e o elimina. Esperaria que o amplo social não o deixasse viver, fazendo-o morrer. Esperaria, por fim, que as Rayanes, as Negalus, as Suzys, as Samaras, as Mels, as Linaês, as Dannys, as Dudas, as Sabrinas, as Michellys, as Luanas, as Janas, as Letícias, as Rubis, as Raphaellas e todos os outros nomes sociais eleitos se referissem a vidas incondicionalmente respeitadas e consideradas dignas de serem vividas. Que as letras escarlates que os marcassem não fossem definidas pelo dedo de quem apontasse, mas pela subversão do próprio corpo apontado. Que fossem análogas à resistência.

7798 DIALOGANDO SOBRE MÉTODOS CONTRACEPTIVOS JUNTO ÀS QUILOMBOLAS NO CÍRCULO DE CULTURA DE PAULO FREIRE
Zuleyce Lessa Pacheco, Roseni Pinheiro

DIALOGANDO SOBRE MÉTODOS CONTRACEPTIVOS JUNTO ÀS QUILOMBOLAS NO CÍRCULO DE CULTURA DE PAULO FREIRE

Autores: Zuleyce Lessa Pacheco, Roseni Pinheiro

Apresentação: O direito à saúde quilombola traz consigo, a necessidade de se incorporar as práticas, os conhecimentos e as experiências apreendidas por cada sujeito em seu território, a fim de que tanto se supere a dicotomia entre academia e o conhecimento tradicional como também se promova o contato destes saberes a fim de contribuir para uma efetiva promoção do cuidado e da saúde, respeitando-se as especificidades e singularidades que os caracterizam. A mulher quilombola, dentre os diversos atores sociais que constituem a população quilombola, cotidianamente encontra situações de enfrentamento na luta por seus direitos, sofre discriminação, preconceito, além de ter pouca visibilidade no escopo das políticas públicas de promoção e prevenção da saúde. Ao desenvolvermos uma pesquisa sobre o cuidar de si da mulher quilombola em seus relatos foi possível perceber que o cuidado com o outro, por vezes, se sobressai ao cuidado de si e um dos temas que elas escolheram para o Círculo de Cultura foi concepção e anticoncepção. Objetivo: Descrever o desenvolvimento do Círculo de Cultura realizado com mulheres quilombolas. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência, de uma das etapas de pesquisa aprovada Parecer nº 2.692.129. O cenário do estudo foi o Diretório de Mulheres Quilombolas de uma comunidade quilombola do interior de Minas Gerais. As participantes foram 15 mulheres integrantes do Diretório de Mulheres Quilombolas. O Itinerário de Pesquisa Freiriano se desenvolveu no transcorrer do Círculo de Cultura, em outubro de 2019, tendo como principal característica a liberdade de caminhos traçados pelo pesquisador durante todo processo. As participantes organizadas em círculo tinham no centro uma mandala constituída por dois bonecos de papelão, seus órgãos sexuais, métodos contraceptivos e, assim, foram se desenhando as possibilidades de interação e dialogo entre elas e o pesquisador, no intuito de promover a participação, autonomia e a autoridade das mulheres quilombolas, diante do que era exposto, valorizando a educação popular. Resultado: O Itinerário de Pesquisa Freiriano apresentou-se como a possibilidade de transformar as mulheres quilombolas que vivenciam o cuidar de si, do seu corpo, através de uma prática dialógica e democrática que valorizou o conhecimento trazido por elas sobre o que sabiam e necessitavam saber com relação ao funcionamentos dos seus órgãos sexuais, concepção, anticoncepção e sobre como evitar infecções sexualmente transmissíveis. Ao final do encontro optaram pela utilização do preservativo e do diafragma como métodos contraceptivos e solicitaram que a atividade também fosse desenvolvida com os jovens da comunidade. Considerações finais: Trabalhar com o Itinerário de Pesquisa de Paulo Freire é um desafio que nos forma e reforma, onde o ensinar inexiste sem o aprender, e a recíproca verdadeira nos mostra que devemos respeitar e valorizar os saberes populares, aqui não existe ruptura de saberes e sim superação, fomos ao encontro das mulheres quilombolas aguçados pela curiosidade e nos permitimos reencontrar a realidade vivenciada por elas e juntos acrescentamos algo ao que fazemos no cotidiano do cuidado, na esperança de que diante deste aprendizado elas possam empoderadas lutar por seus Direitos Sexuais e Reprodutivos.

7252 A EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE DA POPULAÇÃO DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRANSEXUAIS E TRAVESTIS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Samuel Gonçalves Pinto, Adriane das Neves Silva das Neves Silva

A EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE DA POPULAÇÃO DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRANSEXUAIS E TRAVESTIS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Samuel Gonçalves Pinto, Adriane das Neves Silva das Neves Silva

Apresentação: Diversos movimentos marcaram as lutas de lésbicas, gays. Bissexuais, transexuais e travestis (LGBT), que foram e que são efetivos e marcam a história da luta no mundo e no Brasil. Trata-se de um relato de experiência das rodas de conversa na comissão de saúde LGBT em um municípios na Baixada Fluminense no Rio de Janeiro. Essa reflexão é determinada pelo referencial teórico-político ao qual nos vinculamos dada a nossa formação profissional, que transita pela saúde e a educação nas discussões realizadas na Comissão de Saúde LGBT. Objetivo: relatar a experiência das reflexões das rodas realizadas envolvendo as ações pautadas na Política Nacional de Atenção à Saúde da População de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis e que são efetivadas dentro das Unidades de Saúde. Discussão: O que de fato ocorre, é que a política LGBT não foi institucionalizada, neste sentido ela não existe, isso denota ausência orçamentária, quando não temos orçamento e não temos autonomia institucional ficamos relegados a política de “boa vizinhança”, ou seja, a política que só funciona quando eu conheço o secretário ou quando ele é próximo a mim, ou quando existe alguém que pode falar com ele por mim, ou de quando este é sensível a estas questões nas secretarias. Só assim, temos a garantia de que vai ter algum “resto de recurso” para fazer alguma capacitação ou alguns cartazes, ou algum evento com as/os militantes. Outra questão importante é pensar no âmbito da saúde o sentido de “diversidade”, pontuar de qual diversidade estamos falando, falamos de LGBT e, aqui está implicado em diversidade sexual, ver como a transversalização é necessária no âmbito de todos os setores, porque sem essa possibilidade passaremos anos discutindo a relação entre políticas universais versus políticas específicas e intersetorialidade Resultado: Os resultados evidenciaram a necessidade de uma interlocução “positiva” entre serviço x comunidade x ensino é emergente. Intervir nessa realidade social, onde a execução da política LGBT, não ocorre, à medida que as ações se demonstram descontínuas e fragmentadas. E mesmo que tenhamos ações essas podem deixar de existir a qualquer momento. É importante que a política LGBT seja vista como política de Estado. Falamos em formular políticas, mas precisamos pensar é que isso vai além de uma simples formulação, envolve também implementação, execução e avaliação de como anda sendo executada no âmbito das unidades de saúde. Pois por mais que essa política seja de inclusão, o trato de quem está na “ponta” desta política, ele não se dá na mesma maneira da formulação. Considerações finais: A importância de refletir este momento que estamos vivendo e, que um momento de união entre os representantes da militância LGBT e não um campo de disputas e batalhas dentro do próprio movimento, mas um campo de “luta”, pelos ideais “comuns”. É necessário existir uma parceria entre as escolas de formação em saúde e os movimentos sociais para que se possa de fato construir práticas crítico-reflexivas, transformadoras dessa realidade quando nos deparamos com as necessidades LGBTs na unidade de saúde.

7567 MORALIDADE E ESTIGMAS EM DISCURSOS SOBRE POPULAÇÃO LGBTT+ NO MANUAL DE ISTS
Daniel Carvalho Nunes da Silva, Conrado Neves Sathler

MORALIDADE E ESTIGMAS EM DISCURSOS SOBRE POPULAÇÃO LGBTT+ NO MANUAL DE ISTS

Autores: Daniel Carvalho Nunes da Silva, Conrado Neves Sathler

Apresentação: O objetivo desta análise é contribuir com a Saúde Coletiva por meio da crítica dos Manuais do Ministério da Saúde referentes às Infecções Sexualmente Transmissíveis quando trazem subjetividades LGBTT+ para o foco de suas orientações. Este texto traz resultados parciais de uma pesquisa de Iniciação Científica realizada em uma universidade federal da região centro-oeste do país. Desenvolvimento: Esta pesquisa responde à necessidade de uma análise discursiva do material publicado pelo Ministério da Saúde com informações sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) a partir de corpos LGBTI+. Essas publicações possuem protocolos que abrangem desde a triagem até o tratamento e o acompanhamento desses quadros clínicos. Essas informações são direcionadas a toda população. Realizando uma análise do material publicado, é possível verificar que há pouco material disponível que aborde justamente sobre prevenção e discriminação em relação a Saúde da Comunidade LGBTIQ+ Entende-se que o discurso tem efeito entre locutores e, mais precisamente neste caso, os manuais contendo diretrizes sobre diagnóstico, sintomas e tratamentos publicados pelo Ministério da Saúde é um dos enunciadores de discursos próprios da área da Saúde, com objetivo de produzir efeitos a partir da sua publicação. A partir do momento em que cartilhas e manuais elucidam formas contaminantes atribuídas apenas à comunidade que já passou por inúmeros processos históricos de marginalização, seja em regimes teocráticos, ditatoriais ou democráticos, observa-se que recentemente vem se recuperando do último grande mecanismo de marginalização ligado ao surgimento das infecções causadas pelo vírus da AIDS. É importante que haja uma análise desse material a fim de ajudar a melhorar a relação dos indivíduos sejam profissionais sejam usuários no sistema único de saúde (SUS). A análise proposta se filia à teoria dos discursos desenvolvida por Michel Foucault e tomará como corpus a escrita do “Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis”, do Ministério da Saúde. As abordagens arqueológicas e genealógicas dos discursos e das instituições serão as abordagens metodológicas utilizadas para essa análise. Resultado: Parciais Dentre inúmeros achados na leitura do manual, é possível inferir um não conhecimento acerca da população LGBTT+ que se traduz em discursos moralizantes, propagadores de estigma e, em alguns casos, até negligentes. Esses discursos são extremamente danosos na relação Médico-paciente e atenta até contra o próprio código de ética Médica, mais especificamente no artigo 23 do capitulo IV, que versa sobre o desrespeito na ação médica. Considerações finais: Por fim, entre os fundamentos do Sistema Único de Saúde estão a equidade e a Universalidade. E para que possam se estabelecer esses fundamentos é necessário a participação popular e comunitária a fim de construir políticas publicas integrativas e pautadas na realidade territorial. Para isso se faz necessário, a partir do material produzido, a discussão dos efeitos e impactos na sociedade para que seja possível a elaboração de novos materiais que dialoguem de forma mais próxima com a realidade da população.

8129 O PROTAGONISMO DE JOVENS LGBT NO CONTEXTO DA PROMOÇÃO DA SAÚDE EM ÂMBITO ESCOLAR: PRODUÇÃO DE EVIDÊNCIAS MEDIANTE APLICAÇÃO DAS HISTÓRIAS DE VIDA E STORYTELLING
Sandra Carvalho Cavalcante Freitas, Ximena Pamela Díaz Bermúdez, Edgar Merchán- Hamann, Daís Gonçalves Rocha

O PROTAGONISMO DE JOVENS LGBT NO CONTEXTO DA PROMOÇÃO DA SAÚDE EM ÂMBITO ESCOLAR: PRODUÇÃO DE EVIDÊNCIAS MEDIANTE APLICAÇÃO DAS HISTÓRIAS DE VIDA E STORYTELLING

Autores: Sandra Carvalho Cavalcante Freitas, Ximena Pamela Díaz Bermúdez, Edgar Merchán- Hamann, Daís Gonçalves Rocha

Apresentação: Este trabalho divulga algumas contribuições evidenciadas na dissertação de mestrado: Histórias de vida de jovens LGBT inseridos em projetos de educação em sexualidade no âmbito escolar e que tem como fundamento a abordagem no campo da educação em sexualidade, na perspectiva da promoção da saúde e dos direitos humanos para jovens LGBT em escolas. Sendo assim, os principais objetivos foram compreender as histórias de vida e das experiências afetivossexuais de jovens LGBT que participam de projetos de protagonismo juvenil na área de educação em saúde em escolas; registrar as experiências e vivências afetivossexuais e os fatores que favorecem e dificultam a promoção da saúde; caracterizar os cenários, atores e ações de educação em saúde desenvolvidas na escola em que os jovens LGBT estão atualmente inseridos e identificar interfaces entre o projeto cenário de pesquisa e a promoção da saúde em contexto escolar. Desenvolvimento: O trabalho de campo foi desenvolvido em uma escola da rede pública de ensino do Distrito Federal que, ao longo de mais de uma década, vem desenvolvendo ações na área de educação em saúde e direitos humanos como parte de seu projeto pedagógico. Os participantes de pesquisa foram três jovens LGBT que integram como protagonistas juvenis o projeto da escola, sendo uma mulher trans, um homem cis gay e uma mulher cis lésbica. O processo metodológico abrangeu cinco momentos, desde a coleta de dados, resultados, análise de dados e aspectos éticos da pesquisa. Primeiro o projeto foi aprovado pelo CEP/FS/UnB, sob número 2.270.313, em 27 de junho de 2018. Na etapa de registro e análise documental sobre dados do projeto de 2001 a 2019, mapeou-se as diversas abordagens pedagógicas desenvolvidas na escola. Foram selecionados 19 documentos, como o projeto pedagógico atual, atas e/ou ajudas memória das intervenções na escola, relatórios de trabalho. O registro dos documentos visitados e analisados foi apresentado em quadro construído pela pesquisadora no capítulo de análise e discussões. A linha do tempo construída a partir de tal análise apontou a caracterização temporal da realidade do projeto e do cenário escolar diante de temáticas pertinentes para a formação integral dos jovens, as conquistas, mas também as barreiras para a sustentabilidade do espaço de escuta e diálogos em saúde em contexto escolar. Com o auxílio do software Atlas TI 8, foram destacados códigos e trechos significativos, apresentados em estrutura de network. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com atores-chave, sendo três professores, dois gestores e a mãe de um entrevistado, no caso a mãe da jovem mulher trans, para complementar a percepção das narrativas dos jovens LGBT e auxiliar na leitura mais aprofundada dos trechos elencados pela análise documental do projeto da escola. Foi registrado por meio de encontros direcionados por entrevistas semiestruturadas em profundidade, narrativas de histórias de vida, relacionadas principalmente à trajetória escolar e às experiências afetivossexuais dos três jovens LGBT e que se assumiram como pertencentes ao grupo LGBT. Após a escrita da primeira versão das histórias de vida de cada participante, a pesquisadora enviou esses textos para leitura pelos jovens personagens das narrativas, individualmente. Ainda foram reenviadas para uma segunda avaliação, depois de realizadas as alterações solicitadas. Todos os pseudônimos foram escolhidos em conjunto, destacando a vontade dos participantes de pesquisa. A escrita das narrativas em 1ª pessoa foi escolha da pesquisadora com o intuito de potencializar as vozes dos jovens LGBT e valorizar aspectos emocionais em profundidade. Resultado: Foram produzidas três histórias de vida a partir da narrativa dos participantes da pesquisa: O menino que conversava com as árvores (homem cis gay); Sou Voz e Falo o que Nunca Tive Oportunidade de Falar! (mulher cis lésbica) e Corri para Fugir do Frio, Andei para Fugir da Vida, Fui Embora para Fugir de Mim! (jovem mulher trans). Foram criados 76 códigos nomeados e 12 códigos livres, correspondendo a segmentos singulares do relato dos jovens, dos atores-chave e dos documentos que posteriormente se organizaram em 13 subcategorias e, finalmente, cinco grandes categorias centrais: Panorama escolar dos jovens LGBT, Identidades e diversidade LGBT, Vozes LGBT em trajetórias de vida, Vivências afetivossexuais na trajetória dos jovens LGBT e a Promoção da Saúde de jovens LGBT em cenário escolar que responderam aos objetivos da pesquisa e o diálogo com a literatura. Finalmente foram produzidas três storytellings para comunicar os resultados segundo a linguagem dxs participantes (tradução do conhecimento). Após análise dos resultados foi sinalizada eventos de violência, preconceito e discriminação engendrada de dores, sofrimentos, mas também processos de superação narrado pelos três atores principais das narrativas; outro aspecto identificado foi a importância do processo de educação permanente de professores nas temáticas de sexualidade, promoção da saúde e direitos humanos. Refletiu também propostas de ações programáticas e/ou políticas a partir da perspectiva da promoção da saúde, tendo como desafio atual manter as ações do projeto devido ao surgimento de barreiras para abordar institucionalmente esses temas no contexto educacional. Considerações finais: As narrativas dos jovens LGBT participantes do estudo possibilitaram compreender que tais vozes são emblema de dores advindas das diversas formas de violência, preconceito e discriminação vivenciadas em ambientes familiar, escolar e social. Emergiu que professores e outros atores institucionais que coordenam e oferecem espaços de diálogos sobre tais temáticas em âmbito escolar também são alvo de preconceito e vivenciam dores. Dessa maneira, observa-se que ambientes mais saudáveis em escola acolhem os discentes, contribuem para evitar a evasão escolar e previnem eventos de violência e exclusão, oferecendo subsídios para avançar na agenda da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Nesse sentido, a possibilidade de sistematizar, compreender e apontar interfaces entre o projeto e o que propõem espaços protetivos em escola é uma contribuição ao tema de promoção da saúde, educação em sexualidade e direitos humanos. Jovens conscientes de seus direitos, fortalecidos pelas suas convergências e valorizados em suas singularidades podem inspirar outras vidas na construção participativa de novos horizontes contra o preconceito e a discriminação por meio da educação. E finalmente, o trabalho contribuiu para analisar experiências que se ancoram na promoção da saúde no âmbito escolar e, também, vai ao encontro de diretrizes estabelecidas pela nova Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, sendo que o propósito dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) visa garantir uma vida sustentável, pacífica, próspera e equitativa em nosso planeta. Ao mesmo tempo, apresenta um repertório de reflexão sobre intervenções bem-sucedidas que podem colaborar para desvendar e superar estigmas, além de fortalecer os processos de empoderamento de jovens e de cidadania nas escolas e na vida.  

9413 PROJETO ACOLHER: OFICINAS DE SENSIBILIZAÇÃO PARA MELHORIA DA RELAÇÃO INTERPESSOAL E MELHOR ATENDIMENTO AOS USUÁRIOS
Maria da Conceição Farias Stern, Márcia de Assis Cardoso, Cláudia Márcia Osório Xavier de Almeida, Katia Maria Torres da Silveira, Mariângela Távora Lannes, Wagner Valentim de Alão

PROJETO ACOLHER: OFICINAS DE SENSIBILIZAÇÃO PARA MELHORIA DA RELAÇÃO INTERPESSOAL E MELHOR ATENDIMENTO AOS USUÁRIOS

Autores: Maria da Conceição Farias Stern, Márcia de Assis Cardoso, Cláudia Márcia Osório Xavier de Almeida, Katia Maria Torres da Silveira, Mariângela Távora Lannes, Wagner Valentim de Alão

Apresentação: Esse é uma reedição das oficinas que ocorrem desde o ano de 2002, quando esta unidade ainda era a Unidade Básica de Saúde Dr. Carlos Tortelly, localizada no bairro do Fonseca no município de Niterói-RJ, na qual se fechava a unidade para trabalhar questões relativas a melhoria da qualidade do atendimento aos usuários, bem como melhorar a comunicação entre os pares, setores e serviços desta unidade de saúde, utilizando como estratégia o Acolhimento. A Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March(PRGTM), inaugurada no ano de 2005, também no bairro do Fonseca/Niterói agora abrangendo as área que comporta os bairros do Fonseca, do Cubango, do Viçoso Jardim e do Caramujo prestando serviços de Atenção Básica para aquela população que não é adstrita pela Estratégia Saúde da Família e Atenção Secundária em saúde e por oferecer serviços mais complexos como Ambulatório de Saúde Mental, Serviço de Atendimento Especializado do Programa de Atendimento aos Portadores de HIV/AIDS, Programa de Tuberculose, Programa de Hanseníase, HIPERDIA (Programa de Atenção a Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus). Atualmente temos uma média de 58000 pessoas cadastradas dos 79000 habitantes que constam no censo de 2010 realizado na região. De acordo com esse cenário a PRGTM, tem uma necessidade que os trabalhadores da saúde estejam afinados no que tange a comunicação com os demais colegas e também em como se comunicar com os usuários. Estas oficinas desenvolvem um trabalho de desconstrução de preconceitos e estigmas para que se possa criar um ambiente acolhedor, digno e seguro para os usuários que buscam os nossos serviços. Objetivo Geral: Fortalecer o acolhimento e a prática de um atendimento mais empático por intermédio de uma escuta qualificada como um fio condutor de ações de saúde para todos os envolvidos (trabalhador e usuário), além de melhorar a comunicação entre os funcionários que consequentemente otimizaria o trabalho e melhora a qualidade do serviço prestado. Objetivo: Específicos: Sensibilizar 100% do corpo funcional da unidade, sendo ele prestador de serviços ou efetivo, na questão do acolhimento de usuários e seus pares; Desenvolver o conhecimento acerca de todas as ações desenvolvidas pela unidade e assim evitar ruídos na comunicação e divulgação; Trabalhar em consonância com o sigilo ético que os programas exigem, e respeito ao usuário do serviço; Qualificar todos os funcionários do corpo funcional com o desenvolvimento da empatia em todos os seus aspectos para exercer o acolhimento da melhor maneira; Metodologia/Estratégias: Por meio do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) formalizamos uma matriz de intervenção para diagnóstico de situação-problema que envolva os funcionários. As chefias por meio de reuniões identificaram as dificuldades de estabelecer uma comunicação efetiva e positiva entre os funcionários, setores e serviços, com isso desenvolveram as oficinas ampliando ao máximo a capacidade de interação dos envolvidos. Essas chefias ao formalizar saídas proporcionaram canais de comunicação mais abrangentes e efetivos como: grupos de WhatsApp com os funcionários da unidade, caixa de sugestões, desenvolvimento de network (Parcerias) e divulgação das ações e atividades realizadas pela unidade visando a resolutividade na sua área de atuação. Ao organizar oficinas convidando os próprios funcionários para debater e desenvolver novas abordagens para resolução dos problemas sendo coautores desta solução, desse modo trazendo um senso de equipe e responsabilidade para todo o staff da policlínica, assim aprimorando e desenvolvendo a potencialidade de cada indivíduo e uma visão mais crítica e participativa. Resultado: esperados: Capacitar 100% dos funcionários de todos os níveis escolaridade, contabilizando 115 trabalhadores, provocando assim uma interação desses profissionais da saúde. Já alcançamos 74,78% da meta até o presente momento, em três oficinas realizadas, e ainda temos a pretensão de realizar mais uma em 2019 e dar continuidade no ano de 2020.  Salienta-se que o trabalho em saúde tem como pressuposto a melhoria da qualidade e manutenção da vida, a preservação da espécie, com isso a construção de saberes e a inter-relação com os pares. Nas oficinas ressaltamos a importância do trabalho com ética no que tange ao atendimento dos usuários do serviço de saúde por nós oferecidos. Bem como a questão do respeito ao sigilo às informações do usuário em qualquer espaço e ressaltando o espaço do atendimento dos ambulatórios de Saúde Mental e do Serviço de Atendimento Especializado HIV/AIDS. As oficinas intentam preparar o quadro funcional da unidade a lidar melhor com as diferenças, compreender as mudanças no público que frequenta os nossos serviços e reforçar o atendimento com respeito e livre de preconceitos ou estigmas. Forma de avaliação do processo e dos resultados alcançados: Para isso utilizou-se o PMAQ, que é um instrumento de gestão que por intermédio da matriz de intervenção, que é um plano que possibilita que as equipes e os gestores possam monitorar as situações-problema encontradas na autoavaliação do serviço, bem como analisar a evolução dos resultados alcançados através dessas intervenções. No nosso caso identificamos que os ruídos de comunicação eram uma situação-problema. Sendo assim, depois das oficinas percebemos a qualificação do quadro funcional com o aumento das atividades conjuntas, da diminuição de atritos e ruídos de informação que melhorou as relações interpessoais entre os trabalhadores/usuários e a diminuição das queixas na ouvidoria. Recursos: Datashow - Notebook - Caixa acústica - Microfone - Fechamento da unidade no horário previsto para as oficinas, para assim não haver interrupções durante o processo. - E convidados externos (ex: Professora de Zumba, Oficineira com o projeto Cultura da Paz; Oficineira de Ciranda – prevista e Oficineira poesia- prevista ) Considerações finais: Tendo em vista o desenvolvimento do trabalho através das oficinas e capacitações se percebeu que os trabalhadores da unidade tem sido mais acolhedores para com os usuários e também para com os colegas. Ao trabalhar esse aspecto do acolhimento também foi estimulado o senso de responsabilidade e de empenho com o trabalho e desenvolve-se um aperfeiçoamento do trabalho em equipe o que proporciona um trabalho mais eficiente e dentro de uma prática interprofissional, na qual, todos realizam as suas funções com relação ao fazer profissional de toda a equipe sem que o exercício seja uma prática individual.

7498 PROJETO SEMENTE E A PARTICIPAÇÃO DA MULHER SOROPOSITIVA NA CONSULTA DE ENFERMAGEM PARA O RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO DO ÚTERO
Zuleyce Lessa Pacheco, Érika Andrade Silva, Nathália Alvarenga Martins, Giovana Caetano de Araujo Laguardia, Larissa Rodrigues Esteves, Oswaldo Alves dos Santos Junior, Eugênia Maria Magalhães Silva

PROJETO SEMENTE E A PARTICIPAÇÃO DA MULHER SOROPOSITIVA NA CONSULTA DE ENFERMAGEM PARA O RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO DO ÚTERO

Autores: Zuleyce Lessa Pacheco, Érika Andrade Silva, Nathália Alvarenga Martins, Giovana Caetano de Araujo Laguardia, Larissa Rodrigues Esteves, Oswaldo Alves dos Santos Junior, Eugênia Maria Magalhães Silva

Apresentação: Os cânceres de Colo do Útero são os mais incidentes na população feminina, sendo esses passíveis de detecção e prevenção precoce. Estimou-se 16.370 casos novos de Câncer do Colo do Útero, no Brasil nos anos de 2018 e 2019. Nas mulheres soropositivas o risco das lesões por HPV evoluírem para lesões de alto grau é três vezes maior. Dados epidemiológicos indicam que no Brasil em 2019 foram diagnosticados 43.941 novos casos de HIV 2018, sendo 93.220 em mulheres. É evidenciado que mulheres que convivem com o HIV buscam menos o serviço de Atenção Primária a Saúde para realização do rastreamento do Câncer de Colo de Útero, sendo o medo da exposição em relação a sua soropositividade, do atendimento ser algo doloroso e o desrespeito a sua identidade de gênero ou orientação sexual os principais fatores relatados por elas que as impedem de buscar este atendimento. Objetivo: Descrever o emprego de um modelo de Consulta de Enfermagem que favorece a participação ativa da mulher soropositiva e apresentar seus resultados. Desenvolvimento: Desde 2016 iniciou-se no Serviço de Assistência Especializada, de um município de Minas Gerais, a Consulta de Enfermagem à mulher, baseada em um modelo que agrega conceitos da Teoria Humanística de Enfermagem e da Pedagogia de Paulo Freire, através de um atendimento livre de preconceitos e distinção de sexo ou orientação, que promove a interlocução do saber científico com o popular, visando a detecção precoce/rastreamento e controle do Câncer de Colo de Útero, buscando dialogicamente promover o empoderamento feminino de mulheres soropositivas, propiciando o autocuidado, o diagnóstico precoce das lesões identificadas e a prevenção de IST. As participantes foram 285 mulheres que convivem com o HIV cadastradas no serviço, que já iniciaram vida sexual, que desejaram participar da Consulta de Enfermagem à mulher, independentemente da idade. Resultado: Observou-se que o perfil social dessas mulheres, é constituído por mulheres negras e pardas (60%), com idade entre 30 e 50 anos (60%), ensino fundamental incompleto (60%), média de 1,5 filhos e renda de um salário-mínimo (46,66%). Dentre as infecções sexualmente transmissíveis as Vaginoses Bacterianas tiveram maior prevalência, seguidas da Tricomoníase e o HPV foi responsável pelo aparecimento de lesões precursoras do Câncer de Colo de Útero em mulheres adultas jovens. A maioria das mulheres não seguia uma rotina de coleta de material citopatológico cérvico-vaginal antes desta consulta, não utilizavam preservativo em todas as relações sexuais, em seus depoimentos reconhecem a importância da criação do vínculo profissional-cliente e deste estar permeado por uma relação de confiança, pautado no respeito a elas como pessoas autônomas e importantes, o que resultou na sensibilização para o seguimento nas consultas e para o autocuidado. Considerações finais: A implementação do Projeto Semente contribui para a qualidade da assistência prestada às mulheres com HIV assistidas no serviço, por estar baseado no modelo de assistência humanizada, universal, integral, com equidade que valoriza a mulher como sujeito do seu processo de autocuidado além de resolutividade no tratamento e encaminhamentos que se fizeram necessários.

10095 EDUCAÇÃO SEXUAL COM ADOLESCENTES DE UMA UNIDADE DE REINSERÇÃO SOCIAL (URS) DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Lidiane Barbosa Oliveira Souza, Julia da Silva Leal Tavares, Cassio Henrique da Silva Cardoso, Beatriz Pereira da Silva Lima, Carolinne Linhares Pinheiro, Susana Engelhard Nogueira

EDUCAÇÃO SEXUAL COM ADOLESCENTES DE UMA UNIDADE DE REINSERÇÃO SOCIAL (URS) DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Lidiane Barbosa Oliveira Souza, Julia da Silva Leal Tavares, Cassio Henrique da Silva Cardoso, Beatriz Pereira da Silva Lima, Carolinne Linhares Pinheiro, Susana Engelhard Nogueira

Apresentação: Este trabalho relata ações realizadas pelo PET com adolescentes, em situação de acolhimento, de uma Unidade de Reinserção Social (URS), acerca da sexualidade e educação sexual e temas transversais a estas. Tendo como objetivo descrever as ações realizadas junto aos adolescentes, para apontar demandas referentes à educação sexual e discutir a relevância de propostas desta natureza à promoção da saúde de adolescentes em situação de acolhimento. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência das ações realizadas com grupo de adolescentes acolhidos na URS, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Os encontros ocorreram quinzenalmente, com participação média de 5 adolescentes, do sexo masculino, com idade entre 12 e 18 anos incompletos. Destaca-se que, devido à rotatividade dos adolescentes na URS, era necessário retomar as discussões em diferentes encontros. Ocorreram 11 encontros com duração de três horas cada e desses, sete foram incluídos neste relato por serem apontados verbalmente pelos adolescentes como os que suscitaram maior interesse. Onde foram abordadas as seguintes temáticas: Dinâmica de apresentação, Mitos e Realidades sobre Sexualidade; Sexualidade: o corpo que pode sentir prazer; Drogas e sexualidade; Anatomia dos Aparelhos Sexuais, IST e Métodos Contraceptivos; Papéis, Identidade de gênero e Orientação sexual; Violência e sexualidade; Roda de conversa sobre sexualidade: o que construímos até hoje?. Os métodos aplicados nas ações foram elaborados pelos autores e integrantes do grupo PET, e contou com material de papelaria e recursos audiovisuais. Resultado: No primeiro encontro, por meio da dinâmica de apresentação, foi possível estabelecer vínculo entre adolescentes e integrantes do PET, sendo de extrema relevância para gerar conhecimento e apoios, sobretudo junto a um público cuja trajetória é marcada por situações de rompimento ou fragilidade nos laços sociais. A atividade seguinte pretendeu identificar as noções dos adolescentes sobre sexualidade, etapa importante para elaboração das ações posteriores. Observou-se, a partir da discussão da frase “A camisinha evita apenas gravidez”, que somente um adolescente tinha conhecimentos prévios adequados sobre a camisinha, relatando que esta servia para prevenção de IST. Foram observadas ainda dificuldades relativas à diversidade sexual, em que, por meio da imagem do rosto de uma pessoa com características ambíguas, um adolescente afirmou que ser travesti é doença. Assim, ao final deste encontro identificou-se demandas referentes à aquisição de conhecimentos sobre: conceito de sexualidade; anatomia e funções dos órgãos sexuais; transmissão de IST e uso de métodos contraceptivos; papéis, identidade de gênero e orientação sexual; relação da sexualidade com uso de drogas e violência. Além disso, no decorrer da dinâmica, foram esclarecidas dúvidas levantadas pelos adolescentes. Diante do questionamento “o que é sexualidade?” (2º encontro), apenas um adolescente respondeu que esta aborda aspectos que ultrapassam o ato sexual. A dinâmica possibilitou a elucidação de que a sexualidade envolve, para além do ato sexual, aspectos pessoais, sociais e subjetivos. Os trechos de música do gênero RAP estimularam debate sobre consequências do uso de drogas e sua relação com gravidez, IST, violência e prazer (3º encontro). Alguns adolescentes explicitaram que estar sob efeito dessas substâncias aumenta o prazer no ato sexual, outros reportaram desconhecimento sobre possibilidade de transmissão de IST pelo uso de drogas injetáveis. O grupo PET explicou que a transmissão pode ocorrer por troca de fluidos, principalmente por via sanguínea, no caso de injetáveis. A partir das discussões, foram criadas músicas de RAP por três adolescentes, que destacaram a relação entre drogas e violência. No quarto encontro, através de frases selecionadas, elucidou-se dúvidas sobre a mudança do termo “doenças sexualmente transmissíveis” para “infecções sexualmente transmissíveis”, abordando-se como estas são transmitidas. Os adolescentes demonstraram interesse pela anatomia e função dos aparelhos sexuais masculino/feminino e desconhecimento sobre o uso da camisinha feminina. A atividade sobre diversidade sexual (5º encontro) possibilitou identificar dificuldades na compreensão dos adolescentes acerca dos conceitos: orientação sexual, identidade de gênero, expressão de gênero e sexo biológico. Estes termos foram explicados, facilitando entendimento deste conteúdo. Durante a temática sexualidade e violência (6º encontro), foram levantadas dúvidas sobre diversidade sexual por um adolescente, que não vivenciou encontros anteriores e referiu-se aos conceitos como sinônimos. Esclarecimento verbal foi feito por outro adolescente do grupo, com auxílio dos PETianos. Mediante exibição de cenas de filmes, os jovens debateram sobre diferentes violências sofridas pela população, inclusive negra e LGBT+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais e mais). No decorrer da ação, os adolescentes levantaram questões relacionadas às suas vivências, correlacionando as violências vividas com o conteúdo abordado nas cenas exibidas. Na apresentação dos slides sobre ações anteriores (7º encontro), observou-se, nas falas dos adolescentes, aprofundamento sobre o que é sexualidade e conhecimentos sobre: o uso correto dos métodos contraceptivos, a relação entre drogas e sexualidade, a diversidade sexual e suas diferentes formas de expressão. Os resultados das atividades desenvolvidas ratificam que ações de educação sexual devem considerar diferentes percepções da sexualidade para promover orientação quanto ao autocuidado e respeito pela construção individual da sexualidade. Considerações finais: A adolescência envolve mudanças biopsicossociais que afetam a sexualidade do sujeito. Em situação de acolhimento, a sexualidade dos adolescentes é atravessada por vulnerabilidade e comportamentos de risco, sendo necessária a educação sexual deste grupo. Durante as ações, observaram-se fragilidades atreladas à sexualidade, como associação do uso de drogas e prazer no sexo e desconhecimento sobre uso de métodos contraceptivos e IST, relação da violência com vivência da sexualidade e estigmas relacionados à diversidade sexual. Os facilitadores deste processo envolveram: a criação de vínculo e escuta das demandas do grupo, sua motivação em adquirir conhecimento e a contribuição que traziam de suas vivências durante as ações. Os fatores agravantes incluíram: rotatividade dos adolescentes e estigmas sociais em suas falas. Sendo assim, a sexualidade perpassa aspectos presentes no cotidiano destes adolescentes, como preconceito, vulnerabilidade e violência. As ações de educação sexual mostraram-se potentes na elucidação de dúvidas sobre sexualidade, promovendo ampliação da visão dos adolescentes e favorecendo a construção de conhecimento. Parecem ter sido significativas para eles, conforme observado em suas falas durante as atividades, o que contribui para promoção de saúde e prevenção de infecções. Destaca-se, portanto, a relevância de ações para educação em saúde sexual apropriadas às características do público-alvo, buscando promover maior conhecimento sobre a vivência da sexualidade de forma segura.

8356 PERCEPÇÃO DE INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO FORMAL: UMA VISÃO DE TRABALHADORES INFORMAIS LGBTQIA+
Rodrigo Leão

PERCEPÇÃO DE INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO FORMAL: UMA VISÃO DE TRABALHADORES INFORMAIS LGBTQIA+

Autores: Rodrigo Leão

Apresentação: O conceito de saúde evoluiu muito durante a história da civilização e por conta disso é arriscado se pensar saúde apenas como antagonista à doença, porém, adotou-se neste trabalho o conceito de saúde ampliada que entende esse processo como um bem estar físico, social, mental e emocional. A população LGBTQIA+ vem desde muito tempo lutando por seus direitos e pelo pleno exercício daquilo que é assegurado a eles pela constituição. A luta por educação, saúde, pelo direito de ir e vir se soma as lutas enfrentadas por essa parcela da população dentro dos ambientes de trabalho, desde os processos de seleção até as p4omoções a cargos maiores. Todavia, se faz necessário pensar o ato de conseguir um emprego para mais do que apenas uma maneira de se conseguir independência financeira. O trabalho pode ser, segundo alguns autores, uma maneira de ocupação, do indivíduo se sentir útil e necessário dentro de uma sociedade e a ausência deste pode ocasionar adoecimento mental e emocional. Os casos de LGBTIfobia dentro das organizações vêm acontecendo a muito tempo e de diferentes formas para cada letra da sigla. Enquanto gays, lésbicas e bissexuais enfrentam situações de assédio, explícito e/ou velado dentro das empresas, transexuais e travestis são impedidas inclusive de frequentar lugares por não serem “adequados" ao que a organização pede. São pessoas que não conseguem seu pleno bem estar físico e mental dentro de uma organização pelo fato de serem quem são. Uma das saídas encontradas para essa situação é o trabalho informal. Essa população acaba escolhendo trabalhar por conta própria ao estar dentro de uma empresa., o que corrobora As pesquisas que dizem que esse tipo de trabalho vem aumentando com o passar dos anos. Por conta disso se faz necessário dar voz a essas pessoas para que se entenda como elas enxergam a inclusão no mercado de trabalho formal, e como as próprias experiências afetaram as subjetividades e a maneira de ver o mundo, a fim de instigar novas pesquisas e mudanças na sociedade. Desenvolvimento: O trabalho contou com 7 entrevistas fechadas com pessoas LGBTQIA+ de Belém. Os critérios para inclusão dos entrevistados foram (1) se reconhecerem enquanto pertencentes a população LGBTQIA+, (2) estarem, no momento da entrevista trabalhando de maneira autônoma (3) tendo está como seu único meio de renda. Foram excluídos da pesquisas pessoas que não se reconheciam enquanto pertencentes a população, pessoas que não puderam responder ao questionário por inúmeras questões e aqueles que não se sentiam bem em responder sobre o assunto. Foram encaminhados por e-mail, para cada entrevistado, um questionário contendo 13 questões sobre a história dessas pessoas e sua visão e experiências quanto ao mercado de trabalho. Além disso, foi anexado o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) que informava sobre a pesquisa e dava autorização para a utilização das respostas. Os pesquisadores obtiveram 6 respostas ao questionário, sendo dentre estas: 3gays, 1 lésbica, 1 homem trás Pansexual e 1 homem trans hétero. As idades variavam de 19 a 32 anos e as ocupações também eram diversas. As respostas foram analisadas de acordo com 3 categorias que são: (1) as histórias de vidas e as vivências no mercado formal, com o intuito de perceber como as experiências se somam à vida subjetiva e à história dessas pessoas na formação de um possível sofrimento; (2) a visão de inclusão no mercado de trabalho, tentando analisar como essas pessoas enxergam o espaço organizacional e se este está preparado para acolher essa população e; (3) a visão de empresa pró-LGBTQIA+, com a finalidade de dar voz a essas pessoa a respeito de como elas enxergam uma empresa que acolha, incentive e cuide do seu funcionário que faz parte dessa população. Resultado: na primeira categoria entendeu-se que  todos os participantes já tinham sofrido em algum momento das suas vidas algum caso de LGBTIfobia sendo estas apresentadas de diversas formas e em diversos contexto, desde bullying na escola até ser expulso de casa por ser quem se é, assim como alguns confirmaram já ter escondido sua orientação sexual e/ou gênero no ambiente de trabalho, sendo na maioria dos relatos, por razão de alguma religião que era professada na organização. Duas das pessoas já tinham sofrido violências no trabalho, porém os que não sofreram presenciaram com outras pessoas. Foi constatado o quanto que isso afetou a vida deles e somado as suas vivências fora das organizações contribuiu para a construções subjetivas dos sujeitos. No segundo tópico, foi unânime entre os entrevistados a ausência de preparo das organizações em relação a essa população, além disso duas das pessoas afirmaram estar no mercado informal por este as deixarem mais segura e a vontade de se ser quem se é. Quando perguntado o que se pode fazer pra mudar as respostas foram desde coisas externas como a cultura política do Brasil e as políticas públicas até internas a organização como treinamentos e o cuidado com o indivíduo. Por fim na última categoria surgiram inúmeras possibilidades de empresas pró-LGBTQIA+ que se condensação em empresas que enxergasse nessas pessoas algo para além de alguém para cumprir cota, mas alguém capaz, que pode ajudar a empresa inclusive a tornar a cultura organizacional mais acessível e inclusiva, alem de ser para alem de uma empresa pró-LGBTQIA+, mas uma empresa que lute contra a LGBTIfobia, cuidando dos seus funcionários e não aceitando situações de desrespeito quanto ao gênero ou à sexualidade de ninguém. Considerações finais: Conclui-se que a LGBTIfobia é resultado de uma cultura heteronormativa que é afirmada dentro das empresas pelas pessoas e muitas vezes pela própria organização e deve ser combatida com urgência a fim de promover saúde para essa população trabalhando de maneira paralela com o estabelecimento de políticas públicas e dos direitos dessa população que ainda sofre com a cultura brasileira e as violências que ela ocasiona. Além disso faz-se importante o prolongamento desse estudo trabalhando as letras da sigla separadamente, tendo em vista que gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, intersexuais etc. vivenciam violências diferentes por quem são, ou pesquisar este tema atravessando-o com questões de raça, credo, gênero, levando -se em considerações que estas pessoas acumulam características de diversas minorias.

8987 UNIVERSITÁRIOS LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS E TRANS: OS DESAFIOS PARA EQUIDADE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR.
Priscilla Mendes Cordeiro, Iolete Ribeiro da Silva, Sérgio de Almeida Matos, Ednei Pereira Parente, Maykon Layrison Lopes, Brenner Kassio Ferreira de Oliveira, Ananda Maria Pinto Gomes

UNIVERSITÁRIOS LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS E TRANS: OS DESAFIOS PARA EQUIDADE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR.

Autores: Priscilla Mendes Cordeiro, Iolete Ribeiro da Silva, Sérgio de Almeida Matos, Ednei Pereira Parente, Maykon Layrison Lopes, Brenner Kassio Ferreira de Oliveira, Ananda Maria Pinto Gomes

Apresentação: O estudo da experiência humana narrada possibilita relacionar processos históricos, individuais e coletivos na produção de sentidos subjetivos utilizando-se conceitos da psicologia histórico cultural de Vigotsky e seguidores. Enfatiza-se também a importância de dar voz a esses sujeitos, uma vez que os currículos, oficial e oculto, geralmente estão impregnados de omissões, silêncios, violências e preconceitos. O estudo das vivencias escolares pode produzir conhecimentos relevantes para os processos educativos ao explicitar como os estudantes significam seus percursos formativos bem como as atividades propostas no âmbito da universidade. Compreende-se que no ambiente escolar as diversidades manifestam-se e, portanto, precisam ser respeitadas. É da relação entre professores/as e seus pares, entre estes/as e seus alunos/as e entre os próprios alunos/as que nasce a aprendizagem da convivência e do respeito à diversidade. Daí a importância de pesquisas sobre as vivencias escolares, especificamente, no Amazonas, que compreendam as vivências de sujeitos LGBT, suas construções subjetivas sobre seus momentos escolares para que, professores e alunos sejam protagonistas de uma universidade que promova a diversidade e a democracia. Os ideais de homogeneização vividos histórico e socialmente em espaços educacionais no país, levaram a crer que os/as estudantes negros/as, indígenas, transexuais, lésbicas, meninos e meninas deveriam adaptar-se à normas e à normalidade socialmente construída, desta maneira o que é vivido nos espaços escolares, por sujeitos LGBT ocupa lugar de relevante importância e precisa de uma escuta sensível. A escola e também a universidade é um espaço que deve acolher a diversidade e os/as professores/as podem tornar-se agentes de transformação social e promoção da equidade de direitos de seus alunos. Este estudo se foca em narrativas de sujeitos LGBT relacionadas ao contexto acadêmico, como forma de apresentar discussões acerca da diversidade sexual em uma perspectiva de educação em direitos humanos. Entende-se que diante de uma cultura autoritária sustentada por forte presença do machismo, sexismo, preconceitos e violências que impactam a produção subjetiva é relevante o empreendimento de esforços na busca de igualdade de gênero. Objetivo Geral, Examinar as vivências escolares de estudantes universitários Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans (LGBT) da Universidade Federal do Amazonas/Campus Coari, Método: Trata-se de uma pesquisa de campo, descritiva e de cunho qualitativo, que utilizou entrevistas semiestruturadas, uma vez que, como esclarece Minayo, aprofunda-se no universo dos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, estudando um nível de realidade que não pode ser quantificado. O trabalho de campo constituiu-se em um processo permanente de estabelecimento de relações, na perspectiva de construir eixos relevantes do conhecimento, que possibilitaram a coleta de dados, por intermédio das narrativas de formação escolar dos estudantes LGBT. Por meio de uma amostragem não probabilística e de conveniência, selecionou-se 15 estudantes LGBT, no Campus UFAM de Coari. Foram incluídos/as os/as participantes com idade maior que 18 anos, com matrícula ativa no ano de 2018 e que aceitaram participar do estudo. Para a análise dos dados utilizou-se análise de conteúdo de González Reyz. A presente pesquisa obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, localizado no da Universidade Federal do Amazonas (CEP/UFAM), sob o protocolo de nº 2.494.238/18, CAAE: 80880017.3.0000.5020 e Termo de Consentimento Livre Esclarecido TCLE. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada sobre as vivencias escolares com questões sobre como significam o ambiente social da universidade, suas experiências acadêmicas e implicações destas para o seu processo de escolarização. Resultado: A análise dos dados apontou seis categorias que demonstraram que a universidade não promove debates sobre diversidades sexuais e não há promoção de acesso para este grupo, uma vez que a maioria dos ingressantes LGBT’s na universidade traz consigo experiências e vivencias escolares ruins como preconceitos e homofobias, e tais situações não contribuem para sua permanecia no ensino superior. Apesar destes entraves há uma minoria de professores que cooperam para o enfrentamento da LGBT fobia, incluindo uma professora na Enfermagem. Em relação aos debates sobre diversidade na Universidade, os estudantes participantes LGBTs afirmaram que não ocorre debates abertamente, só dialogam em roda de conversa de amigos e todavia não há nenhum movimento social ou organizado pela Instituição. Um dos momentos em que a Instituição dá visibilidade a comunidade LGBT é quando acontece os jogos universitários, onde ocorre o concurso do gayroto, no qual é uma oportunidade de manifestação do grupo LGBTs, mesmo que não ocorra nas dependências da universidade, mas não deixa de ser um meio de manifesto e inclusão no meio social da comunidade. Segundo os entrevistados a promoção de acesso à universidade para estudantes LGBTs, existe acesso no ensino superior e que é igual para todos, mas se houvesse uma espécie de cota para os mesmos, seria muito importante, sendo que atualmente a universidade disponibiliza o direito ao uso do nome social o que para a comunidade é uma conquista até porque as cotas são voltadas para a questão social como etnias, deficientes e cor da pele. De acordo com os entrevistados a permanência na universidade é complicada, pois envolve uma série de fatores, bem como: familiares, religião e sociais, sendo que, as famílias na maioria das vezes não possuem devida aceitação da orientação sexual de seus filhos e geram conflitos e desmotivação emocional e pessoal. A sociedade por sua vez ainda prática a discriminação, preconceitos e homofobia que contribuem para a desistência dos estudos. Nesta última categoria os participantes foram questionados se houve ou há professores que combatem a LGBT fobia no campus. Os resultados mostram que existe sim, professores dentro da universidade que contribui para o enfrentamento da LGBT fobia no ISB campus/Coari, auxiliando como lidar com as dificuldades e a lutar pelos seus direitos, como a psicóloga que recebe os discentes na sua sala reservada e professores que conversam abertamente durante suas aulas sobre o tema, mas que ainda são poucos os professores que lutam juntamente com os alunos pela causa LGBT, como a professora de Enfermagem citada na fala do participante, e outros preferem não se envolver ou se manifestar. Considerações finais: Diante disto percebe-se a urgência de se debater sobre diversidade sexual e a implementação de políticas públicas voltadas para estudantes LGBT na universidade e o importante papel dos que fazem parte da Universidade pública para contribuir com o cenário de inclusão a esses estudantes, promovendo a equidade no âmbito da Educação Superior.

6533 PROCESSO TRANSEXUALIZADOR VIVENCIADO PELA POPULAÇÃO TTT´S NO BRASIL E NO MUNDO
Nubya Sete Anzolin

PROCESSO TRANSEXUALIZADOR VIVENCIADO PELA POPULAÇÃO TTT´S NO BRASIL E NO MUNDO

Autores: Nubya Sete Anzolin

Apresentação: O Processo Transexualizador (PrTr) é dado pela sequência de resignação cirúrgica, endócrina e psicológica que promovam modificações corporais e hormonais para adequação do corpo biológico à identidade de gênero e social. A transexualidade ainda sofre com as vulnerabilidades sociais e a medicalização desta população, que influencia o acesso aos serviços de saúde que encontram-se comprometidos. A presença do padrão heteronormativo vigente na sociedade provocou o estranhamento social, sendo assim o estopim para a transgressão da discriminação, violência, dificuldade de regeneração social e rejeição em função do rompimento de binarismo social que define apenas dois gêneros: feminino e masculino. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a transexualidade como um transtorno de identidade de gênero, enquanto a medicina e a ciência entram em controvérsias ao caracterizar ou não os transexuais como portadores de uma patologia psiquiátrica conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Todavia, a procura pela saúde pública por parte da população LGBTQ+ de modo geral, é dada a partir de 1980 devida a epidemia de AIDS e pela onda de controle da automedicação e compartilhamento de materiais perfurocortantes. Isto promoveu a criação de movimentos para a garantia da promoção e prevenção de saúde, relacionados aos processos saúde e doença, além dos determinantes sociais que os englobavam durante esse período. A necessidade de estudo e entendimento do PrTr é de extrema importância, pois essa população caracteriza-se como negligenciada e que buscam efetivamente serviços de Saúde para sua transição e mudança de gênero. Todavia há necessidade de maior visualização por conta da vulnerabilidade e marginalização, dado pela estigmatização social que dissemina a discriminação e exclusão a partir da heteronormatividade e pelo aspecto anatomofisiológico. A compreensão e conscientização perante esse tema deve permitir defesa de sua cidadania como cidadãos constituintes da sociedade, a quebra de paradigmas e preconceitos sociais ainda enraizados, geração de conhecimento, mas principalmente a integração e intervenções necessárias deste indivíduo e usuário. O objetivo deste estudo foi identificar o PrTr realizado a população TTT´s, caracterizando os tratamentos vivenciados, o acesso aos serviços de saúde por esses indivíduos, e as políticas públicas no Brasil e no mundo. Desenvolvimento e Método Trata-se de uma revisão integrativa, realizada nas bases de dados - BIREME e PubMed, com os seguintes critérios de inclusão: artigos publicados no período de 2013-2018; em português, espanhol e inglês; que contemplasse o objetivo do estudo. Utilizou-se os seguintes descritores: transexualidade, transexualismo, pessoas transgêneras e serviços de saúde para pessoas transexuais. Os artigos selecionados após leitura do título e resumo, foram lidos na íntegra. A análise destas publicações fora dada por meio de categorização em 3 categorias que abordam os temas abordados nas perguntas norteadoras que são: Processo Transexualizador, Acesso ao serviços de saúde e Políticas públicas efetivas no direito à saúde. Deve-se ressaltar que os artigos poderiam abranger uma ou todas as categorias. Resultado: e Impactos Foram selecionados 80 artigos após a realização das etapas da revisão integrativa. Os principais resultados encontrados em cada categoria foram: Processo Transexualizador (PrTr): O Processo Transexualizador (18-75 anos) caracterizou-se com a presença de uma equipe multidisciplinar de saúde formada por: psiquiatra, psicólogo, endocrinologista, ginecologista, urologista, cirurgião plástico, enfermeiros e nutricionista; que promovem a psicoterapia, avaliação psiquiátrica (diagnóstico de Disforia de Gênero, conforme DSM-5), tratamentos hormonais e cirurgias de resignação sexuais. Os países que promovem esse processo baseiam-se na 7ª Versão da World Professional Association for Transgender Health (WPATH - 2012). A assistência e tratamento também se estende para crianças e adolescentes diagnosticadas com disforia de gênero, por meio da supressão da puberdade (12-16 anos) e terapia hormonal cruzada (após os 16 anos) a partir dos critérios da 2ª fase do desenvolvimento puberal em Tanner. Essas ações são adotadas na maioria dos países, porém estão sujeitas a modificações conforme o sistema de saúde e políticas públicas existentes em cada localidade. Através deste diagnóstico os tratamentos hormonais para a promoção de Terapia Hormonal Cruzada apresentam-se com o uso de testosterona e estrogênio em vias: trandérmica, SC, IM e oral. E cirurgias de resignação sexuais, caso seja desejo do indivíduo. Acesso aos serviços de saúde: O acesso aos serviços de saúde para o atendimento e assistência dessa população é dado de maneiras diferentes de acordo com a realidade de cada país, abrangendo tanto os serviços públicos como privados. Observou-se que este encontra-se concentrado em centros urbanos e de cunho acadêmico, porém restritos em pequenos números como Centros de Referências e com baixa infraestrutura para acolhimento e assistência. A desqualificação profissional neste aspecto é dada como ainda problemática à essa população em função da acessibilidade que se encontra ainda estigmatizada pelos profissionais de saúde desde sua formação. Dentre as principais reclamações pontuadas estão: o uso não correto ou até inexiste do nome social ou pronome ao se dirigirem à estes usuários; como a visão social desta equipe sobre eles é ainda biomédica, patológica, estigmatizada e excludente, determinando assim o afastamento ou até mesmo o abandono da realização do PrTr de forma adequada e segura. Políticas públicas efetivas no direito à saúde: visam garantir o PrTr e outras necessidades de saúde desta população que vem sendo abordados atualmente através das novas demandas apresentadas por esses indivíduos como: fertilização (conservação de gametas, gestação). O uso incorreto ou inexistente do nome social também fora apontado como a principal causa de afastamento dos Centros de Referência e abandono do PrTr, e acarretando na vulnerabilidade deste grupo. O envelhecimento a assistência durante o mesmo, assim como a criação de centros ou comunidades que possam receber estes indivíduos com mais de 60 anos, e promovam o PrTr adequado para essa faixa etária e conforme as necessidades de saúde apresentadas pelos usuários. E as estratégias educacionais para a despatologização e desmedicalização nos ensinos técnicos e superiores em cursos da área da saúde, com representantes desta comunidade. Considerações finais Conclui-se que a transexualidade está sendo tema de publicações nacionais e internacionais. O PrTr é desenvolvido no decorrer da vida das pessoas, significando a readequação do corpo físico a imagem corporal adequada ao gênero. Entretanto a contradição no acesso aos serviços de saúde, está em locais com acesso a serviços especializados, como em lugares restritos/inexistentes. Assim, o acesso ao processo pode demonstrar iniquidades sociais. Outro aspecto evidenciado é a objetificação dos corpos trans e travestis, no qual se julga a necessidade de possuir um corpo dentro do binarismo, para que estes possam ser caracterizados como indivíduos existentes e integrantes da sociedade. Desta forma o atendimento e acessibilidade ficam acometidos por esses fatores associados à qualificação. As políticas públicas desta forma caracterizam-se como definidoras na garantia dos direitos da população trans e travesti, pois, gera o empoderamento desta população como maneiras de promover e assegurar a autonomia e a individualidade de cada ser, diante das suas necessidades e procedimentos relacionados à readequação para com o gênero que se identificam.

8458 A PSICOLOGIA ANTE A CRIMINALIZAÇÃO DA LBTIFOBIA: PROPOSTAS DE ATUAÇÃO EM COMBATE E PREVENÇÃO
Rodrigo Leão

A PSICOLOGIA ANTE A CRIMINALIZAÇÃO DA LBTIFOBIA: PROPOSTAS DE ATUAÇÃO EM COMBATE E PREVENÇÃO

Autores: Rodrigo Leão

Apresentação: A luta dos movimentos sociais pelos seus direitos não surgiu nas últimas décadas, mas vêm sendo travada durante anos. O movimento LGBTQIA+ vêm lutando pelo seu livre direito de ser quem são desde a revolta de Stonewall em 1969 nos estados unidos. Muito já se conseguiu de avanços no Brasil, principalmente em quanto a saúde, como a despatologização da homossexualidade e da transexualidade. Porém o Brasil ainda é o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. No ano de 2019 o supremo tribunal federal votou e aprovou a ação de inconstitucionalidade por omissão 26  e o mandado de injunção 4733, que falavam respectivamente que, houve uma omissão do legislativo Brasileiro no que diz respeito às leis que tratem das violências com teor LGBTfóbico e, portanto, enquanto as leis sobre isso não são editadas que se compare o crime de LGBTIfobia ao crime de racismo, já prescrito em lei. Diante desse acontecimento é importante que se pesquise formas de atuação da psicologia com o intuito de prevenir e combater esses crimes que afetam a saúde dessa parcela da população. Desenvolvimento: O presente trabalho consiste em uma revisão de literatura sobre possibilidades de atuação dos psicólogos diante do fenômeno da LGBTIfobia. A pesquisa bibliográfica foi realizada na base de dados Periódico CAPES, utilizando-se das palavras chaves: “homofobia”, “psicologia”, “LGBTIfobia”, “LGBTfobia” “transfobia” e “lesbofobia”. Para que os artigos fossem aceitos, deveriam cumprir os critérios de: (1)ter sido publicado nos últimos 5 anos, (2) ter como tema a população LGBTQIA+, (3) falar sobre o preconceito contra a comunidade e, por fim, (4) ter seu foco em atividades de combate e/ou prevenção à discriminação e preconceito. Resultado: após a leitura dos resumos e posteriormente a leitura dos artigos na integra, apenas 7 artigos cumpriam os requisitos de seleção. Dos selecionados 2 não eram brasileiros e dois foram escritos por brasileiros mas foram encontrados apenas em outros idiomas. As possibilidades de atuação variavam desde possibilidade de formação de grupos de conversação a fim de criar um ambiente acolhedor para  se conversar sobre o tema, a mudança de grades curriculares de profissionais que lidariam com essa população, a criação de politicas publicas de proteção a população até a inserção do psicólogo atuando em todos os âmbitos da vida desse indivíduo (família, escola e sociedade) a fim de promover cuidado e consequentemente saúde. Considerações finais: é importante que se destaque a falta de literatura que verse sobre possibilidades de se prevenir e combater esse tipo de violência através da psicologia, portanto chamando atenção a esse fenômeno que faz parte da nossa sociedade e deve ser combatido, pois a saúde deve ser compreendida como o bem estar social, emocional, físico e psicológico e isso inclui a liberdade de se ir e vir sem que se sofra violência.

9869 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E A DIVERSIDADE DE GÊNERO E SEXUAL: UMA EXPERIÊNCIA A PARTIR DO AMBULATÓRIO TRANS EM NITERÓI
Diana Luiz Pinto, Daniel costa, Luiz Felício

O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E A DIVERSIDADE DE GÊNERO E SEXUAL: UMA EXPERIÊNCIA A PARTIR DO AMBULATÓRIO TRANS EM NITERÓI

Autores: Diana Luiz Pinto, Daniel costa, Luiz Felício

Apresentação: O presente relato tem como obejetivo apresentar a existência do primeiro ambulatório a nível municipal do Estado do Rio de Janeiro na atenção especializada no trato e foco na assistência em saúde da população Travesti e Transexual. em 28 de Novembro de 2018 o serviço ambulatorial surge com a lógica baseado no sistema único de saúde a partir da portaria 2.803 de 2013 visando  atender e ampliar a atenção para a população Travesti e Trasenxual dentro de suas especificidades, reconhecidas enquanto demandas recorrentes do processo transexualizador e da transição de gênero.Hoje com pouco, mas de uma ano, o ambulatório segue seu funcionamento se dedicando e valorando os princípios do sistema único de saúde cujo o exercício diário é trabalhar a promoção do cuidado em saúde. O ambulatório é o único serviço especializado a nível municipal do Estado do Rio de Janeiro onde não deixa de atender as respectivas demandas reprimidas de outros municípios, entendendo que é um dado sintomático a existência de apenas um serviço que atenda a população alvo.sobre modalidade  ambulatorial o serviço se dedica ao processo de acolhimento da população Travesti e Transexual respeitando a auto declaração de acordo com a subjetividade e o interesse de transicionar o gênero ou não. O serviço funciona sobre o acompanhamento da hormoniterapia, atenção pré e pós-eperatória, atenção psicológa e Social. Na intenção de atender a necessidade do sujeito de direito, o serviço funciona de forma a desburocratizar o acesso de quem busca e necessita do mesmo. Situado na policlínica de especialidade silvyo picanço, no endereço: Amaral Peixoto n° 169 4 andar/ Centro/Niterói. A proposta dessa narrativa é apresentar a relevância do serviço para  fazendo valer o conceito  ampliado  de saúde para a população atendida com o anseio de, que, esse serviço seja reaplicado em outros Municípios.