473: Saúde mental e participação: encontros, ações e parcerias.
Debatedor: Barbara Eleonora Bezerra Cabral
Data: 30/10/2020    Local: Sala 08 - Rodas de Conversa    Horário: 08:00 - 10:00
ID Título do Trabalho/Autores
6615 O LUGAR DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA LUTA ANTIMANICOMIAL
Raiane Silva Sousa, Karen Garcia de Godoy

O LUGAR DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA LUTA ANTIMANICOMIAL

Autores: Raiane Silva Sousa, Karen Garcia de Godoy

Apresentação: O presente trabalho trata de reflexões geradas a partir das experiências vividas na Luta Antimanicomial, pensando no lugar da criança e o adolescente nesse contexto. Seu o objetivo é compartilhar uma perspectiva de abrangência das diferenças dentro desse movimento, e neste caso, as diferenças etárias. O movimento da Luta Antimanicomial se constitui como elementar para uma nova concepção de loucura e nas proposições de novas práticas de cuidado em saúde mental. O fazer político se dá diversas formas, dentre elas, está também nos aparatos estatais, na busca por criação, implementação e acompanhamento de leis, quanto pela revisão das práticas cotidianas, entendendo que os manicômios estão além do espaço físico, podendo habitar no dia a dia dos serviços. Não há forma de pautar a Luta Antimanicomial, sem tratar do protagonismo dos sujeitos à quem ela mais serve: os usuários do serviço de saúde mental. A participação de usuários adultos em espaços organizados de luta, ainda que de modo incipiente, tem se dado. Deve-se apontar, aqui, que a presença de um adulto não requer espaço, físico e social, direcionado especialmente a ele, pois todos os espaços coletivos são tidos como adequados aos mesmos pois pensados por eles e para eles. Das demandas necessárias, consta um espaço que acolha os diversos tipos de loucura adulta. A respeito das crianças, o lugar em que podem estar geralmente vem denominado de “espaço para crianças”, demarcando que nem todos os espaços às pertencem, e os que podem pertencer, não são compartilhados com outros. Quanto aos adolescentes, encontram-se sem lugar, de modo a consonar com o que os sintomas da clínica contemporânea dessa população tem nos mostrado. Constantemente, não se veem como criança, e também não cabem em espaços destinado a adultos. Suas falas, nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) evidenciam isso. Desse modo, vemos que a presença de crianças e adolescentes em espaços organizados de luta (e sendo reconhecidos como participantes) ainda não pode, sequer, ser definida como incipiente. As práticas manicomiais excedem à territorialidade do prédio que possa ser manicômio. Elas se manifestam através de outros meios, para além dos físicos: via contenções sociais. A partir destas considerações, faz-se o apontamento de que a Luta Antimanicomial precisa de uma revisão de práticas. Se o espaço, físico e social, não comporta crianças, e quando há crianças, precisam “ser comportadas”, manifesta-se o manicômio por meio do cerceamento do corpo e silenciamento das vozes. Se, para que hajam crianças, elas precisam ser “distraídas”, o espaço não as pertence. Se os adolescentes têm suas vozes silenciadas ou tidas como menos importantes, sabemos que o manicômio ainda consta nessa prática silenciadora, e quiçá, censora. E se, efetivamente, crianças e adolescentes não estão, é porque em alguma medida foram impedidos, e não porque a pauta não possa interessar: eles estão nos CAPS todos os dias.

8095 A ASSOCIAÇÃO DE USUÁRIOS, FAMILIARES E AMIGOS DO SERVIÇO DE SAÚDE MENTAL (AUFASSAM) COMO FERRAMENTA POTENCIALIZADORA DOS DISPOSITIVOS DE ASSEMBLEIA NOS CAPS DO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA
Paula Klier, Roberto Preu

A ASSOCIAÇÃO DE USUÁRIOS, FAMILIARES E AMIGOS DO SERVIÇO DE SAÚDE MENTAL (AUFASSAM) COMO FERRAMENTA POTENCIALIZADORA DOS DISPOSITIVOS DE ASSEMBLEIA NOS CAPS DO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA

Autores: Paula Klier, Roberto Preu

Apresentação: O objetivo deste trabalho é elaborar o processo no qual se deu o acompanhamento da AUFASSAM dentro dos serviços de saúde mental do município de Volta Redonda - Rio de Janeiro para apreendê-la como dispositivo de democratização do funcionamento dos serviços através da reativação dos espaços de debates em assembleias e discutir, brevemente, alguns efeitos correlatos desse processo. Em 1986 a luta do Movimento de Reforma Sanitária organizou a oitava conferência de saúde onde houve um marco da participação popular. Nessa conferência a conquista que se materializou foi a inserção na Constituição Federal de 1988, da saúde como direito de todos e dever do estado. Dessa forma, cria-se um embasamento legal para a consolidação dos pressupostos teóricos do SUS. Universalidade, equidade e integralidade como princípios estruturantes, sendo possibilitados a partir da descentralização e da participação social. Posteriormente a lei 8.142 de 1990 regulamenta espaços de gestão compartilhada, conselhos e as conferências de saúde dispositivos primordiais para o exercício do controle social e fiscalização. Assim que conquistados esses espaços de decisão democrática a tarefa passa a ser garanti-los na prática. O projeto em questão se interroga sobre como defender esses espaços no âmbito da prática e do cotidiano do serviço. O dispositivo de gestão compartilhada dentro dos serviços de saúde mental são as assembleias onde se discutem questões relativas a rotina dos serviços, problemas municipais com relação a medicação, ao repasse de verbas e outras implicações que isso possa vir a ter. No decorrer de nosso trabalho, a questão de construir esses espaços foi delineada a partir da demanda dos usuários que apresentaram um problema específico: fazer uma eleição para reativar Associação de Usuários, Familiares e Amigos do Serviço de Saúde Mental do município de Volta Redonda (AUFASSAM). Junto aos usuários, familiares, trabalhadores e acadêmicos traçamos enquanto caminho metodológico a utilização da AUFASSAM como potencializador dos espaços de organização e deliberação coletivos nos cinco CAPS do município de Volta Redonda. A associação funcionava, portanto, com reuniões itinerantes. A ativação da associação gerou alguns incômodos num primeiro momento. Ao acessarmos o regimento da AUFASSAM popularizamos alguns direitos que os usuários antes não tinham tido contato. Como por exemplo, o acesso ao prontuário. Discussão que coloca questão as relações dentro do serviço e provoca a descentralização das decisões. A proposta era, portanto, da associação aparecer, para os usuários, como um dispositivo de articulação entre direitos humanos, saúde mental, produzindo cuidado e construindo propostas de intervenção no âmbito da saúde mental. Para se pensar a questão dos direitos e o exercício da cidadania, há de se pensar a implicação e, portanto, a posição que o sujeito ocupa. A construção de espaços e metodologias possíveis onde se almeja a implementação das deliberações resultadas de organizações coletivas é uma disputa permanente em defesa da promoção de saúde como direito de todos e somente assim é possível pensar a política pública em saúde a partir daqueles que utilizam da política e então garantir os princípios básicos que estruturam o sistema complexo que é o SUS.

8459 JORNAL CAPS ATIVO: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE
Cristina Camões Sampaio Neves, Fabricio Rodrigo de Almeida Souza, Lirys Figueiredo Cedro, Regina Ruiz Del Pino, Maria Aparecida Pires

JORNAL CAPS ATIVO: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE

Autores: Cristina Camões Sampaio Neves, Fabricio Rodrigo de Almeida Souza, Lirys Figueiredo Cedro, Regina Ruiz Del Pino, Maria Aparecida Pires

Apresentação: O município de Resende conta com uma ampla Rede de Atenção Psicossocial e dentre as ações que vem se fortalecendo destaca-se a oficina de jornal – CAPS Ativo. O presente estudo é um relato de experiência sobre a oficina de jornal desenvolvida em conjunto por profissionais e usuários da Saúde Mental, com objetivo de refletir sobre este dispositivo como estratégia de Educação Popular em Saúde (EPS). O período descrito compreende junho de 2015 a dezembro de 2019. A atividade foi oferecida para usuários dos serviços de saúde mental do município, encaminhados pelas respectivas unidades nas quais realizam acompanhamento, visando fortalecer a inserção social, ampliar a autonomia, o exercício da cidadania e promoção de saúde dos participantes. Tendo como proposta inicial divulgar ações e temas da Saúde Mental, ao longo de seu desenvolvimento seus objetivos e propostas foram revisados, de acordo com o desejo e decisões dos participantes, ampliando-se para temáticas variadas, tais como: tema geral; esporte; culinária; pensamento do mês; vida saudável; humor; arte; curiosidade e saúde mental nas ruas. A experiência contou com 25 usuários e 03 profissionais que atuaram como facilitadores, tendo havido rotatividade entre os participantes. Os locais dos encontros foram espaços inseridos na comunidade, alterados em alguns momentos, de acordo com parcerias estabelecidas. As reuniões aconteceram semanalmente com duração de 2 horas. Nestas eram discutidos assuntos gerais, organização do processo de trabalho, temas a serem pesquisados e a forma de elaboração de cada matéria. Após a coleta de informações, o grupo se reunia para apresentar e discutir as propostas. A estratégia contou com parceiros, desde apoiadores financeiros como na confecção do produto. A distribuição do jornal ocorreu trimestralmente pelos próprios usuários, com tiragem de 500 unidades, em dispositivos públicos e comércio. Dentre as etapas do processo, observou-se a relevância das reuniões semanais pelo funcionamento como espaço de potência para o estabelecimento da dialogicidade, troca de informações e problematização, além da constituição de ação comum entre profissionais e população. Apesar de ter como foco a elaboração do Jornal, a oficina confirmou sua função terapêutica, possibilitando o acolhimento de demandas relacionadas ao quadro de saúde e questões da vida cotidiana.  O processo de escolha dos temas, representando uma conexão entre as vivências dos usuários e a atualidade, assim como entre seus saberes prévios e os que ainda não conheciam (populares e científicos), possibilitaram a aquisição e construção coletiva de novos conhecimentos. Além disso, confirmou-se como espaço de EPS, onde a circulação de saberes possibilitou o apoio mútuo e a superação de condições, funcionando como ferramenta para compreensão do processo de adoecimento e de reorganização individual e coletiva, a partir do estabelecimento de uma rede de apoio social diante do estabelecimento de interações e inter-relações entre os integrantes e com outros dispositivos sociais. Observou-se que a oficina de jornal – CAPS Ativo vem se afirmando como importante espaço terapêutico e de educação em saúde, contribuindo para o aumento da autonomia dos participantes no seu cuidado e na busca de uma atenção à saúde de acordo com suas reais necessidades.

11506 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: IMPACTOS EMOCIONAIS NA FAMÍLIA.
Bianca Mycaela dos Santos Tsubaki, Bianca Mycaella dos Santos Tsubaki

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: IMPACTOS EMOCIONAIS NA FAMÍLIA.

Autores: Bianca Mycaela dos Santos Tsubaki, Bianca Mycaella dos Santos Tsubaki

Apresentação: O presente resumo traz uma pesquisa que tem como objetivo contribuir para novas reflexões acerca dos impactos emocionais nas famílias que possui um integrante com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A família se esbarra nas necessidades de se adaptar aos cuidados específicos da(o) filha(o), pois as características clínicas aumentam as demandas por cuidados. Desenvolvimento: O trabalho proposto é pautado na experiência profissional na Convida Clínica de Especialidades, somado às pesquisas acadêmicas e intervenções clínicas na atuação da psicóloga nesse âmbito. Resultado: As famílias dos sujeitos que possuem TEA experimentam sentimentos e situações que podem desenvolver inquietações psíquicas como estresse, fadiga, impaciência, tristeza, autoestima baixa, culpa, constrangimento social do comportamento da criança em ambiente público, dificuldades na inclusão escolar da(o) filha(o), frustração e isolamento social. Estas variáveis podem contribuir para o desenvolvimento de psicopatologias como por exemplo, ansiedade e/ou depressão. A forma como as famílias lidam com a descoberta e a aceitação de uma criança com TEA depende das crenças, preconceitos e valores da história de cada família, ou seja, os impactos emocionais positivos ou negativos dependerá da forma como a família maneja as contingências estressoras. Considerações finais: Ao levantar reflexões sobre os impactos emocionais nas famílias que possui um membro com TEA, é necessário considerar as singularidades que as atravessam e os impactos psíquicos em suas vidas. A falta de suporte social mostra a relevância no desenvolvimento de práticas interventivas que as assistam na sua integralidade. Para tanto, pontuo alguns caminhos para reduzir os impactos emocionais negativos por meio de: Psicoterapia, aconselhamento familiar ou grupo de apoio por meio de contatos com outras famílias.

6911 MAPEAMENTO DOS GRUPOS DE RISCO DE MORTALIDADE POR SUICÍDIO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
Alexandre Lopes de Paula Tamburro

MAPEAMENTO DOS GRUPOS DE RISCO DE MORTALIDADE POR SUICÍDIO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Autores: Alexandre Lopes de Paula Tamburro

Apresentação: O Estudo tem como intuito mapear e detectar os grupos de maior acometimento de lesões autoprovocadas voluntariamente no Estado do Rio de Janeiro, com base no sexo, raça, idade, escolaridade e município de ocorrência, com fins de direcionar programas de assistência médica voltada à saúde mental para determinados locais e grupos de pessoas. Para isso foi utilizado os dados do DATASUS sobre mortalidade no período de 2007 até 2017 (ano mais atualizado no sistema) no Estado do Rio de Janeiro, na categoria de lesões autoprovocadas voluntariamente (CID-10 (X60 até X84)). Dessa forma foram levadas em conta as variáveis antes descritas para avaliar os grupos de risco, verificando a incidência através de planilhas e gráficos, comparando com a porcentagem populacional total dos grupos e regiões para estabelecer as taxas de incidência. Atualmente as como o setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, têm um enfoque na população jovem, assim como os mais recentes artigos sobre o tema. Portanto, foi realizado o levantamento de dados para o Estado do Rio de Janeiro a fim de estabelecer a população de risco a cometer suicídio. De forma ampla, em números totais, se mostra o maior número de casos em pessoas do sexo masculino, da cor branca, de 30 a 39 anos (seguido de pessoas de 40 a 49 anos), e com escolaridade de 4 a 7 anos. Com relação à localidade a capital apresenta a incidência e também quando relacionada à população total na taxa de incidência. Além disso, foi observado que o grupo de 10 a 19 anos apresenta a segunda menor incidência de suicídio, apenas atrás da população de 80 anos ou mais e quando comparada de acordo com a quantidade de pessoas desta faixa etária ela obtém a menor taxa de incidência de suicídio. Tendo também o Rio de Janeiro dados que destoam quando comparados com o Brasil em relação à faixa etária de acometimento, sendo no Brasil mais incidente dos 20 aos 29 anos. Com o passar dos anos o número de casos sofreu aumento, o que coloca em pauta a eficácia das políticas contra o suicídio em vigor. Sendo assim, fica claro a prevalência dos grupos de risco para lesões autoprovocadas voluntariamente, e também as regiões de maior prevalência desses acometimentos. Portanto, o estudo pode servir como base para o direcionamento de recursos para a atenção primária na área da saúde mental, reduzindo os índices no estado do rio de janeiro. Também vale-se destacar que as campanhas de prevenção ao suicídio devem ser realizadas de forma diferente de acordo com o Estado, como foi notado a diferença na faixa etária do Rio de Janeiro quando comparada com o Brasil. Além disso, o estudo acaba servindo como exemplo, para o direcionamento de recursos com base nas taxas de mortalidade e incidência específicas e não apenas no caráter populacional. Também sendo útil para os centros de atenção primária detectar os grupos de maior risco para promoverem ações de conscientização sobre o tema de forma direcionada.

7083 RODA DE CONVERSA SOBRE SAÚDE MENTAL DE ADOLESCENTES ESCOLARES: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Francisca Elaine de Souza França, Isabelle Barros Sousa, Natasha Bruna Soares Barros, Diego Sousa Teixeira, Fabian Elery Teixeira da Rocha, Fabiane do Amaral Gubert

RODA DE CONVERSA SOBRE SAÚDE MENTAL DE ADOLESCENTES ESCOLARES: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Francisca Elaine de Souza França, Isabelle Barros Sousa, Natasha Bruna Soares Barros, Diego Sousa Teixeira, Fabian Elery Teixeira da Rocha, Fabiane do Amaral Gubert

Apresentação: Claramente, as experiências com quais o ser humano se depara durante o ciclo da vida moldam a sua infraestrutura, sobretudo, o alicerce mental. De modo lamentável, é sugestivo que o modo de viver da sociedade atual tenha provocado nos meninos e meninas sentimentos intensos de impotência, ansiedade, tristeza e frustração, em razão da porcentagem de jovens que são acometidos por adversidades psicológicas. Dentro deste cenário, o Ministério da Saúde estima que cerca de 4.900 casos de suicídios por jovens ocorreram entre 2011 e 2016 e que a assistência do SUS a púberes com depressão cresceu 115% entre 2015 e 2018. Portanto, urge-se por ferramentas que visem promover a superação deste perfil indesejável de realidade, entre as quais, destaca-se a roda de conversa, leve, flexível, potencialmente ampliadora e ressignificadora da carga de fundamentos. Objetiva-se relatar a experiência como acadêmicos de Enfermagem acerca do desenvolvimento de uma roda de conversa como estratégia de promoção de saúde mental do adolescente. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência, realizado durante o estágio curricular da disciplina de processo de cuidar do adolescente, em uma escola pública de ensino fundamental em Fortaleza. Uma turma de 9° ano com 28 alunos, com faixa etária entre 13 e 17 anos, foi questionada sobre qual tema de saúde gostariam de abordar durante um grupo de 50 minutos. Isto posto, 11 dos alunos votaram em suicídio, 8 em ansiedade e depressão e 5 em depressão e suicídio. Foram distribuídos balões contendo questões sem resolução, como “quantos grãos de areia existe na praia?”, caso não conseguissem encontrar o desfecho, deveriam estourá-los, como analogia às pessoas que enfrentam o sofrimento psíquico, o qual, geralmente, atinge tamanho desproporcional à capacidade de enfrentamento da pessoa acometida, exaurindo as mais ínfimas formas de encará-lo. Em seguida, foi estimulada a expressão de opiniões e experiências referentes à temática. Resultado: Os adolescentes compreenderam a mensagem e expuseram na roda de conversa que apesar de jovens já passaram por problemas nos quais a opção de resolução seria o suicídio. Os acadêmicos atuaram como facilitadores do processo, na medida em que promoveram a reflexão e a autocrítica no grupo, que as efetivou de maneira satisfatória. A partir daquele momento, expressaram o desejo de procurar uma rede de apoio diante de problemas que pareçam sem solução: amigos, família ou profissionais. Considerações finais: Torna-se evidente a necessidade do cuidado em saúde mental do adolescente e o fortalecimento da rede de apoio. Além da parceria do profissional da saúde com a escola, cuidando das queixas de ordem não somente físicas, mas também, psíquicas, garantindo a saúde integral do adolescente. Aos acadêmicos, a oportunidade de atuar com público nesta fase da vida, favoreceu o desenvolvimento de um olhar sensível a este perfil, que é pouco assistido, além de proporcionar conhecimento para atuar de maneira resoluta quando enfermeiros.

9976 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE APOIO AOS CUIDADORES DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL
ROSALICE ARAÚJO DE SOUSA ALBUQUERQUE, Ilvana Lima Verde Gomes, Antonio Rodrigues Ferreira Júnior, Dandara Santos Damasceno, Francisco Meykel Amâncio Gomes, Juliana Araújo Mesquita, Hermínia Maria Sousa da Ponte, Maria Eunice Nogueira Galeno Rodrigues

REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE APOIO AOS CUIDADORES DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL

Autores: ROSALICE ARAÚJO DE SOUSA ALBUQUERQUE, Ilvana Lima Verde Gomes, Antonio Rodrigues Ferreira Júnior, Dandara Santos Damasceno, Francisco Meykel Amâncio Gomes, Juliana Araújo Mesquita, Hermínia Maria Sousa da Ponte, Maria Eunice Nogueira Galeno Rodrigues

Apresentação: A Paralisia Cerebral (PC), melhor denominada Encefalopatia Crônica não Progressiva da Infância (ECNPI), constitui um grupo de distúrbios permanentes do desenvolvimento da postura e do movimento funcional. As desordens motoras são frequentemente acompanhadas por alterações na percepção, na comunicação, na cognição, alteração sensorial e no comportamento, além de epilepsia e problemas musculoesqueléticos secundários. Estima-se que a cada 1.000 crianças que nascem no Brasil, 7 sejam diagnosticadas com PC. O objetivo deste estudo foi investigar a representação social na vertente do senso comum qual a rede de apoio dos cuidadores de crianças com paralisia cerebral. Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva com abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada no município de Sobral e desenvolvida no domicilio dos cuidadores das crianças com paralisia cerebral, onde se teve acesso a lista com os nomes das crianças com PC que estavam matriculadas nas escolas do municípios, e assim se entrou em contato para realização da coleta de dados que ocorreu no mês de novembro de 2019, sendo realizada uma entrevista semiestruturada.  A pesquisa respeitou as diretrizes da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde sendo aprovada pelo comitê de ética sob o nº 3.634.409. Constata-se que quase todos os cuidadores das crianças tem o parentesco de mãe, sendo que do total de 20 cuidadores percebemos que 2 são avós e 18 são mães. O que ressalta que a mãe é a que está mais próxima da criança e assim, é a que efetua o cuidado em tempo integral. Pois Reichert ressalta a importância da valorização das mães como principais cuidadoras das crianças, considerando que as mãe desenvolvem cuidado centrado na saúde e no bem-estar da crianças e que consideram todas as dimensões da criança, sendo elas biológicas, sociais, emocionais ou psicológicas. A maioria delas ficam com as crianças em tempo integral, como cita Freitag, pesquisas mostram que as mãe referem alterações muito significativas em suas vidas, em todos os sentidos. Tais mudanças se refletem no mundo do trabalho, que muitas são obrigadas a deixar juntamente com os anseios e sonhos individuais em função da concentração de as energias e esforços em direção a um objetivo único que é cuidar do filho. Percebemos que boa parte destes cuidadores recebem ajuda de outro familiar, dentre eles a maioria sendo os maridos e as avós. Ribeiro (2013) considera que o apoio do cônjuge e o sentimento de participação ativamente da vida social contribuem para reduzir os níveis de estresse e auxiliam nos cuidados a criança com paralisia cerebral. Em relação à ajuda ofertada pelas avós, segundo Deus (2016) as avós são fonte de apoio, carinho e afeto para filhos e netos, o que os torna, em muitos casos, amados, admirados e respeitados. Conclui-se através da pesquisa que a ajuda ofertada por outros familiares, não é suficiente para a grande maioria das mães e que desta forma é necessário à implantação de politicas públicas efetivas, que visem promover a qualidade de vida desses cuidadores.

11507 UM ESTUDO ANALÍTICO COMPORTAMENTAL SOBRE O TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA.
BIANCA Mycaela dos Santos TSUBAKI, Priscila Nunes Cantuária, Fernanda Monteiro Lima

UM ESTUDO ANALÍTICO COMPORTAMENTAL SOBRE O TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA.

Autores: BIANCA Mycaela dos Santos TSUBAKI, Priscila Nunes Cantuária, Fernanda Monteiro Lima

Apresentação: A sociedade está cada vez mais atarefada com excesso de atividades semanais, demandas diárias, pressões no trabalho e em casa, por vezes, esse estilo de vidapode provocar sintomas ansiosos cada vez mais intensos dadas as presentesdemandas. Os transtornos de ansiedade são condições psicopatológicas quecausam desconfortos físicos e emocionais, podendo acarretar uma baixa qualidadede vida. Embora estejam disponíveis diversos tratamentos terapêuticos com eficáciademonstrável, o presente artigo objetivou revisar estudos sobre o transtorno deansiedade generalizada apenas sob a ótica behaviorista com os objetivosespecíficos de descrever conceitos básicos da análise do comportamento relevantespara a compreensão do tema e apresentar possíveis intervenções sob a perspectivaanalítico comportamental. Para isto foram selecionados materiais como livros, artigos científicos e periódicos publicados nas revistas Pepsic, Scielo, Banco deTeses Brasileiras da CAPS e no Sistema de Publicações da PUC - Campinas.Obteve-se como resultados com a realização deste artigo que as intervençõeseficazes e atuais para a diminuição gradual dos sintomas aversivos do transtorno deansiedade generalizada foram: a Terapia de Aceitação e Compromisso, a qual tem oobjetivo de diminuir a esquiva experiencial; o Controle de Estímulos que investiga ainfluência dos estímulos antecedentes que desencadeiam os processos ansiosos e aTerapia de Exposição e Prevenção de Resposta, que reduz a probabilidade doindivíduo emitir respostas de fuga/esquiva através da dessensibilização até ahabituação. Em suma, com a configuração de uma sociedade cada vez mais líquidae efêmera, a ansiedade tem emergido como um subproduto de questões daatualidade, assim como os avanços tecnológicos, pressões sociais e econômicas. Portanto, mostraram-se necessários estudos a respeito de possíveis intervençõespara os analistas do comportamento, a fim de reconhecer as relaçõesdesencadeantes que estão no cotidiano influenciando os comportamentos operantesde cada indivíduo.

11879 CIDADÃOS DE DIREITO: OFICINAS DE FORMAÇÃO POLÍTICA PARA USUÁRIOS DO CAPS II AD COMO FERRAMENTA DE ESTÍMULO PARA PARTICIPAÇÃO POPULAR NO SUS
Isabela Bortolato Matiola, FABIANE FERRAZ, Dipaula Minotto da Silva, João André Rodrigues, Mirian Daros Ducioni, Allana Dupont Gonçalves, Rafaela Maciel Vicente

CIDADÃOS DE DIREITO: OFICINAS DE FORMAÇÃO POLÍTICA PARA USUÁRIOS DO CAPS II AD COMO FERRAMENTA DE ESTÍMULO PARA PARTICIPAÇÃO POPULAR NO SUS

Autores: Isabela Bortolato Matiola, FABIANE FERRAZ, Dipaula Minotto da Silva, João André Rodrigues, Mirian Daros Ducioni, Allana Dupont Gonçalves, Rafaela Maciel Vicente

Apresentação: O protagonismo de usuários do campo da saúde mental é fator relevante para as mudanças na configuração da atenção psicossocial no Brasil, principalmente nos últimos 30 anos. A Reforma Psiquiátrica se fortalece no final dos anos de 1970 a partir da entrada das associações de usuários e familiares ao Movimentos dos Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM). O cuidado fornecido as pessoas com transtornos mentais e problemas relacionado ao uso de álcool e outras drogas na rede pública, é resultado desse movimento, que objetiva não reproduzir as tradicionais formas de isolamento social. No Brasil, o movimento foi atuante na construção do SUS e de importantes políticas públicas, pautadas na preocupação com a melhora da saúde dos usuários levando em consideração a subjetividade e os aspectos da cidadania. Objetivo: o projeto teve como objetivo estimular os usuários para que se reconheçam como sujeitos de direito, entendendo a lógica do serviço em que estão inseridos e percebendo a importância das lutas populares no cenário da Reforma Psiquiátrica, como as da política de álcool e outras drogas no país. Desenvolvimento: Tendo em vista os princípios da Reforma Psiquiátrica e do SUS, somados ao olhar da psicologia comunitária, foram desenvolvidas oficinas de formação política com os usuários do CAPS II ad de Criciúma, no estágio supervisionado em Psicologia Social, na graduação em Psicologia na Unesc. A proposta surge a partir da percepção da ausência de um espaço de voz para usuários e familiares, para além do que diz respeito aos aspectos clínicos do tratamento. Tal espaço deve existir a partir do envolvimento dos diversos atores, a partir do princípio de participação popular do SUS. A oficina seguiu um cronograma de sete encontros, com tema como: surgimento e funcionamento do SUS, Reforma Psiquiátrica, direitos e deveres dos usuários de saúde mental, participação popular no SUS e a importância dos movimentos de usuários no campo da saúde mental. Resultado: As ações serviram como uma forma de sensibilização e estímulo para os usuários, sendo o principal resultado, além da troca de conhecimento e experiências, a configuração do início de uma mobilização do grupo para reestruturar a Associação de Usuários e Familiares doe Saúde Mental do Município. Considera-se este, um movimento importante, que proporciona aos usuários ocupar outros espaços e papéis sociais, se reconhecendo como ator importante no processo de luta de luta pelo SUS e pelos dispositivos da saúde mental. Ao mesmo tempo, ressignificam a forma do tratamento nos dispositivos em que estão inseridos pelo viés do exercício da cidadania. Considerações finais: Avalia-se como necessário a continuação das atividades, deste modo, um grupo de voluntários em parceria com trabalhadores darão continuidade em 2020 ao projeto. Considera-se de extrema importância, principalmente no cenário político atual do Brasil, discutir tais questões visto a necessidade de manutenção dos processos democráticos na gestão do SUS e da política de saúde mental antimanicomial.

11344 ÉTICA, MORAL E PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA
Fabio Araujo Dias

ÉTICA, MORAL E PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA

Autores: Fabio Araujo Dias

Apresentação: A ética aponta para a reflexão sobre valores e princípios norteadores da vida humana e das práticas profissionais, e assume importância vital nos debates acadêmicos e sociais. O objetivo do presente trabalho foi compreender o processo de formação ética de estudantes de psicologia da Universidade Federal Fluminense, na cidade de Niterói - RJ. Para tanto, deu voz aos estudantes para que expressassem suas vivências e compreensões acerca desta formação por meio de entrevistas individuais de 30 alunos concluintes do curso de Psicologia (oitavo ao décimo primeiro período), tendo como base um roteiro semiestruturado. Para a análise dos dados, o método adotado foi a análise de conteúdo de Bardin. A maioria dos participantes da pesquisa (16 de 30, 53%) informou que tem experiência de estágio no Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade, seguida da Saúde Mental (37%) e Hospital Universitário (20%), o que indica que a maior parte dos entrevistados referencia as práticas do estagiário de psicologia ao atendimento clínico. A resposta predominante sobre o que é ser ético no exercício profissional do psicólogo foi “respeitar o outro”, seguida de “sigilo” e “pensar no bem-estar do paciente / tratar bem o paciente”. Quanto aos valores que os entrevistados consideram importantes para a atividade profissional ou de estágio, a resposta mais recorrente foi “atitude de escuta / acolher sem julgamentos prévios”, seguida de “atenção/disponibilidade para o outro (aprender com o outro, estar com o outro, cuidar do outro)” e “respeito ao outro”. Diversas situações testemunhadas pelos entrevistados em que uma questão ética tenha sido colocada durante o curso de psicologia foram relatadas apontando para diversos contextos: estágio, disciplinas do curso, saúde mental, eventos universitários de Psicologia, violência doméstica, assédio moral, cotas, ocupação da universidade. Em termos de recurso ou apoio oferecido pela faculdade ou curso para possíveis soluções quando surge um conflito moral nas atividades acadêmicas ou de estágio, a maioria dos entrevistados (26 de 30 participantes, 87%) associou a supervisão de estágio ao apoio para possíveis soluções de conflitos morais, seguido de professores (53%), coordenação do curso (27%) e colegas do curso ou do estágio (23%). Por fim, defende-se que a formação ética deve permear a formação acadêmica e profissional do estudante de psicologia, e é promovida no debate entre professores, alunos e sociedade.

12011 A RELAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA COM A SAÚDE MENTAL
Cristina Machado Gomes, Rafael Wolski de Oliveira, Emylin Karoline de Souza Pedroso

A RELAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA COM A SAÚDE MENTAL

Autores: Cristina Machado Gomes, Rafael Wolski de Oliveira, Emylin Karoline de Souza Pedroso

Apresentação: Vivemos atualmente um momento delicado no âmbito político e econômico no Brasil, com a acentuação de um cenário neoliberal, que impacta no rumo das políticas sociais e relações de trabalho. Conforme Morosini (2018), este cenário de fortalecimento da ideologia neoliberal, reforça a subtração de direitos e o processo de desconstrução do Sistema Único de Saúde (SUS) em curso no País. Tais mudanças, tiveram grande influência dos acontecimentos dos últimos anos, mas principalmente a partir do processo de impeachment sofrido pela presidente Dilma Rousseff em 2016, deu-se início à diversos cortes de verbas na política de saúde e o risco eminente de diversos retrocessos nas legislações. Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a relações da Atenção Básica em Saúde com a saúde mental, no atual momento brasileiro, com base nas experiências obtidas ao longo do semestre da disciplina de Intervenções em Saúde Coletiva, visitas às unidades básicas de saúde (UBS) e trocas de experiências com profissionais da saúde realizadas em um município da região metropolitana de Porto Alegre - RS. Adentrando nesse universo que é Atenção Básica, temos como norte a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) que a define como o conjunto de ações, individuais e coletivas, para a promoção, proteção, manutenção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e redução de danos da saúde integral dos sujeitos. atuando também sobre os determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. Esta mesma política qualifica a estratégia de Saúde da Família (ESF) como a estratégia prioritária para a reorganização, expansão, qualificação e a consolidação da Atenção Básica do SUS, ampliando a resolutividade e impacto da saúde das pessoas e coletividades. Define ainda como princípios para a Atenção Básica a universalidade, acessibilidade, vínculo, continuidade do cuidado, integralidade da atenção, responsabilização, humanização, equidade e participação social. Assim, encontramos um terreno fértil para discussão e construção de um cuidado potente focado no território e suas potencialidades, entendendo que as ações e cuidado em Saúde Mental não competem somente aos equipamentos de saúde – da mesma forma que não pertence somente aos serviços especializados como os Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Ampliando as discussões, faz-se importante acionar e convocar os outros dispositivos do território para contribuir e construir a respeito desse cuidado, compondo ações de prevenção em saúde mental na comunidade. Deste modo, seguindo o que pressupõe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) estabelecida pela Portaria no 3.088, de 23 de dezembro de 2011, direcionada especificamente para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e/ou com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do SUS e determina os principais pontos de atenção para a realização do atendimento a esses usuários. A RAPS visa possibilitar um trabalho em rede integrada, articulada e efetiva em todos os pontos de atenção, tendo sempre o cuidado de se considerarem as especificidades de cada loco regional. Assim, cada ação realizada segundo a perspectiva territorial requisitada, com foco nos serviços de base comunitária, que colocam em primeiro lugar às necessidades dos usuários e seus familiares e não que eles se adequem aos serviços. Além disso, se tem como preceito o princípio da proteção integral e a necessidade de que todos os serviços e pontos de atenção disponíveis na rede façam o acolhimento das necessidades e as devidas intervenções para a promoção, a proteção e a recuperação da saúde dos usuários. Conforme o Plano Municipal, a RAPS em São Leopoldo no nível de atenção psicossocial especializada dispõe de 1 CAPS Adulto (CAPS Capilé), 1 CAPS Infantojuvenil (CAPSi Aquarela) e 1 CAPS Álcool e Drogas (CAPSad). O paciente acessa o serviço por meio de referência e contra-referência da rede intersetorial ou por demanda espontânea, onde os familiares ou o próprio usuário buscam o atendimento. Quando tem alta do serviço, o usuário retorna para continuidade do tratamento na atenção básica, tendo como desafio o prosseguimento do tratamento, dada a necessidade de que seja acompanhado pela UBS/ESF para reconstruir vínculos e retomar sua vida familiar, escolar e social, tendo como uma das estratégias o apoio matricial. Hoje a porta de entrada na saúde é realizada pelas UBS, as quais são dívidas por territórios. No município de São Leopoldo, conforme o Plano Municipal de Saúde 2018-2021, existem 20 UBS, contudo apenas 11 contam com Equipes de Saúde da Família. No município de São Leopoldo, o apoio matricial é realizado atualmente por um trio de trabalhadores e/ou residentes em saúde mental dos CAPS, sendo composto idealmente por um representante de cada serviço. Esse apoio ocorre nas ESF's Cohab Duque, Cohab Feitoria, Paim e Brás. Os encontros acontecem uma vez por mês, nos horários de reunião de equipe, a fim de que os casos discutidos, quando necessário, sejam encaminhados para a reunião de rede de saúde mental. É previsto que todos os profissionais das equipes participem desse momento. Com o intuito de uma aproximação da realidade local, foi realizada visitas técnicas sistemáticas, em quatro semestres consecutivos, à uma Unidade Básica de Saúde, localizada na região leste da cidade de São Leopoldo. Há oito anos conta com ESF, inicialmente somente com duas equipes, sendo ampliada posteriormente para três. Em termos de estrutura física, a UBS conta com três salas de consultórios dentários – das quais somente uma funciona em plenas condições e outra é utilizada como sala para grupos. Conta ainda com um escovódromo para a orientação sobre a escovação. Três salas são destinadas a consultas médicas, duas para consultas ginecológicas, uma sala de vacina e uma sala de procedimentos – onde se realizam aferições de pressão, aplicação de medicações, curativos, triagem para consulta, retirada de pontos, coleta de exames, entre outros. Sala de espera e secretaria concluem a área de atendimento, havendo também o almoxarifado, expurgo, sala de esterilização, sala de reuniões – que possui a particularidade de ter o teto aberto, dificultando discussões de casos por falta de privacidade, dois banheiros para usuários, dois para funcionários e a cozinha. Possui também uma área externa bastante grande, com uma estrutura anexa para depósito e área para estacionamento. Cada equipe é referência para uma área de aproximadamente 4.000 pessoas, número acima do recomendado pela PNAB, sendo cada Agente Comunitário de Saúde (ACS) responsável por cerca de 550 pessoas, mas em decorrência da precarização encontramos um reduzido número de profissionais atuando nesta unidade e muitas áreas descobertas de profissionais. O Plano Municipal de Saúde do município, não prevê alteração desse quadro. A unidade de saúde em questão é campo de atuação de residentes de programas multidisciplinares de Atenção Básica e residentes de Saúde Mental. Encontra-se instaurado hoje o constante desafio, aos profissionais de saúde, de produzir saúde mental com o mínimo do mínimo. A estrutura política posta não compreende o paradigma da saúde mental pelo viés do cuidado em liberdade, tendo como centro do cuidado o território e o usuário como principal ator desse processo. Atua sim pela lógica segregativa e de retorno dos manicômios. Apesar de ao longo da história da Luta Antimanicomial nos depararmos com muitos posicionamentos de oposição favoráveis ao cuidado em reclusão, era possível dialogar sobre a importância do cuidado na rede ampliada de saúde. Hoje até isso é um desafio constante. É necessário potencializar as ações construídas em rede, acionar e responsabilizar todos pela manutenção e preservação da política de saúde mental, não podemos deixar que apenas os profissionais da saúde lutem contra todos esses retrocessos diários que vem ocorrendo, precisamos nos rearticular e retomar o princípio que originou a guinada legislativa nas décadas de 80 e 90. Precisamos retomar a potencialidade dos movimentos sociais, articulados com a sociedade civil, para assim tencionar essa gestão e o seu modo de cuidado e investimento na saúde, pois acabamos deixando de lado um dos principais instrumentos que impulsionou a luta pela reforma, a educação popular, é a resgatando que com o diálogo e conscientização vamos conseguir seguir e avançar no e com o cuidado em saúde mental.

11448 ESTUDO SOBRE OS ANORMAIS EM UM SEMINÁRIO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO
GABRIEL TREVIZAN CORREA, SUELEN BEAL MIGLIORANSA

ESTUDO SOBRE OS ANORMAIS EM UM SEMINÁRIO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO

Autores: GABRIEL TREVIZAN CORREA, SUELEN BEAL MIGLIORANSA

Apresentação: durante o segundo semestre de 2019, o seminário “Educação na Saúde e Educação Especial: cartografias de resistência e criação”, ministrado pelo professor doutor Ricardo Burg Ceccim, compôs a matriz do curricular programa de pós-graduação (PPG) stricto sensu em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sendo também disponibilizado para matrícula de alunos especiais do Programa de Educação Continuada (PEC). As metodologias utilizadas no seminário foram sessões coletivas de estudos de textos e discussões sobre o tema, uso de documentários e vídeos, leitura de poesia e clipes musicais. Um dos textos elencados foi “Os Anormais”, livro de Michel Foucault referente a um curso proferido pelo autor no Collège de France, entre 1974 e 1975. Posteriormente ao debate sobre este texto, foi solicitado que os estudantes elaborassem uma produção de escrita livre, dissertando através de um debate teórico sobre “quem são os anormais de hoje?”, sendo posteriormente apresentada e discutida com o grupo do seminário. O objetivo deste trabalho é apresentar a experiência de composição e o resultado do desenvolvimento da atividade na aprendizagem de dois estudantes, assim como o impacto no grupo que cursou o seminário. Desenvolvimento: A partir do proposto sobre “quem são os anormais de hoje?”, os autores abordaram sobre as pessoas privadas de liberdade (presidiários). A escolha deu-se devido aos interesses confluentes dos autores: um cirurgião-dentista, mestre em Odontologia/Saúde Coletiva, aluno PEC do PPG em Educação, trabalhador da atenção à saúde no sistema prisional; uma psicóloga, especialista em Saúde da Mulher, da Gestante e Puérpera, interessada em saúde da mulher presidiária, mestranda em Educação, com pesquisa relacionada à Formação em Saúde, e atuação em uma clínica-escola interprofissional. Da composição realizada, apreendeu-se que a história dos sistemas e métodos de punição foi profundamente estudada e descrita por Michel Foucault em Vigiar e Punir, importante obra para compreender a genealogia das prisões e o desenvolvimento da vigilância ininterrupta dos indivíduos a fim de remover da sociedade, entre os anormais, aqueles intoleráveis. Da era medieval até meados do século XIII, aqueles que infringiam a norma social eram vistos como súditos desrespeitosos ao soberano e, para reconstituir a soberania lesada por um instante, eram submetidos a suplícios em cerimoniais públicos. No século XVIII e, principalmente, no XIX, por sua vez, ocorre uma elevação geral do nível de vida, crescimento demográfico, difusão da alfabetização, formalização das leis, multiplicação das riquezas e das propriedades, urbanização, industrialização e consequentes conflitos sociais. Foram movimentos globais decorrentes de ideias iluministas centradas na razão, que influenciaram diretamente tanto o sistema penal quanto a forma de trabalhar com a saúde mental. A “necessidade de segurança” surge como uma consequência dessas mudanças. A lei agora trata “humanamente”, não em razão da humanidade profunda que o criminoso encontra em si, mas no controle necessário dos efeitos de poder. Passa-se a utilizar o critério razão/desrazão para diagnosticar a loucura e acentuar a divisão entre “normais” e “estranhos”. Surge a polícia, que passa a andar ao lado da justiça, assim como multiplicam-se as prisões, manicômios, casas de correção e escolas. Os psiquiatras passam a ser solicitados aos tribunais para desvelar a associação entre crime loucura. A segregação dos criminosos e dos loucos era melhor para a sociedade, uma oportunidade de reabilitação para aqueles e de tratamento para estes. Os presídios em geral são desenhados com a arquitetura do panóptico (“o olho que tudo vê”), que corresponde a uma torre de vigilância ao redor da qual todas as celas e galerias do presídio ficam dispostas. Hoje, este modelo ultrapassa os muros das prisões e se estende para a sociedade em geral. Através do arsenal de tecnologias modernas de câmeras de vigilância, satélites e até mesmo nossos aparelhos celulares, o processo de individualização dos sujeitos é acentuado; quanto mais facilmente identificados, mais facilmente podem ser controlados e punidos por eventuais desvios da normalidade instituída, ampliando a sensação de segurança advinda da subjetivação do medo. A partir deste percurso histórico de constituição dos sistemas prisionais e manicomiais como dispositivo de exclusão de anormais, a nós enquanto profissionais de saúde tomados pela instituição judiciária e médica (como os aldeões do caso Jouy), pareceria lógico pensar dados de controle acerca dessa população carcerária: quais crimes, quais os dados epidemiológicos de sua saúde, como são as condições de encarceramento. Mas propomos pensar aquilo que vem antes, o que os coloca nesse lugar de negadores da norma ([a]normais)? Esses indivíduos, "sem senso moral", foram criteriosamente avaliados pelos seus atos por experts que dos sujeitos pouco sabiam, mas a partir de fatos isolados concluíram a necessidade de isolamento destes da sociedade. Que aqui fique registrado, não queremos ir contra a investigação criminal e o devido cumprimento de penas supostamente restauradoras, mas abrir possibilidades de questionamentos especialmente ao pré-determinismo sobre o normal, escapando do processo patológico e recaindo numa lógica de estados permanentes e estigmatizados sobre os indivíduos. Quem entra no mundo do crime? Quem é preso no mundo do crime? De onde vem esses sujeitos? Quais suas histórias? Quais foram suas escolhas? Quais são suas perspectivas? O que vem antes do crime? Hoje em dia as prisões são a estratégia central no sistema capitalista, excludente e produtor de anormais, afirmador de um modo de existência hegemônico, calcado no homem, branco, heterossexual, eurocêntrico, racional, trabalhador, consumista, proprietário, nacionalista etc. Também propomos a seguinte questão, quem são os psiquiatras de hoje? Não mais com as medições nosológicas, mas com base em estigmas sociais, que tem início nas redes sociais e término nas intervenções militares (policiais e forças armadas) que se autorizam à execução sumária dos matáveis. “Vagabundo”; “Esquerdista”; “Bandido bom é bandido morto”; “O rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto”. Tudo isso com respaldo de políticos e lideranças conservadoras e neofascistas: “Hoje, São Paulo tem uma polícia preparada, equipada e bem informada”, discurso proferido por João Dória, duas horas após lamentar a morte dos jovens de Paraisópolis. Resultado: considera-se que foram pontos altos da elaboração textual, relevantes para o aprendizado dos autores: a relação entre o surgimento dos presídios e dos manicômios e, consequentemente, da justiça com a saúde mental; a discussão em torno dos conceitos de normatização, disciplinarização e subjetivação; individualização dos sujeitos enquanto dispositivo de vigilância e controle; o exercício de abrir mão de uma visão diagnóstica e epidemiológica, predominante na formação das profissões biomédicas, para uma filosófica, humana e social; elaboração de questionamentos que remetem à singularidade dos sujeitos e à “prescrição” de resoluções excludentes e de extermínio para (supostos) problemas sociais. Considerações finais: As produções textuais apresentadas pela turma do seminário foram bastante complementares, proporcionando um rico debate sobre uma série de temas que se relacionam, qualificando a discussão sobre normal e patológico nos dias atuais e ratificando a associação do fazer em saúde e educação e a responsabilidade ética-política no cuidado dos indivíduos. A luta antifascista também apresentou-se como tema transversal aos debates. O conteúdo e a metodologia utilizados contribuem para uma compreensão ampliada de saúde e educação, para além da medicalização e biopedagogia dos corpos.

12082 O USO DO APLICATIVO PLICKERS PARA AVALIÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO AO ESTRESSE DOS ESTUDANTES DE MEDICINA
Luiz Fernando Leite da Silva Neto, Leticia Lima Branco, Adriano Leitão de Almeida, Wesley dos Santos Ramos, Daniel Oliveira da Costa, Luanna Moreira da Silva, Brenda Melo Costa

O USO DO APLICATIVO PLICKERS PARA AVALIÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO AO ESTRESSE DOS ESTUDANTES DE MEDICINA

Autores: Luiz Fernando Leite da Silva Neto, Leticia Lima Branco, Adriano Leitão de Almeida, Wesley dos Santos Ramos, Daniel Oliveira da Costa, Luanna Moreira da Silva, Brenda Melo Costa

Apresentação: O Plickers é um aplicativo utilizado na aplicação de questionários e de testes, sendo uma ferramenta tecnológica importante na educação médica do curso de medicina da Universidade do Estado do Pará, a qual possui uma metodologia ativa, caracterizada pela colocação do aluno como agente principal do seu aprendizado. Somado a isso, sabe-se que a formação acadêmica médica é composta por diversos fatores de estresse os quais afetam a qualidade de vida dos estudantes, podendo ser evitada ao adotar estratégias de enfrentamento dessa problemática. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo confirmar o aplicativo Plickers como uma ferramenta eficiente para a educação médica quanto à avaliação do conhecimento de estudantes de medicina, bem como, identificar as estratégias de enfrentamento mais utilizadas e sua influência na qualidade de vida de estudantes de medicina. Desenvolvimento: O trabalho possui caráter transversal e descritivo, com traços comparativos e abordagem quantitativa, no qual aplicou-se um questionário para 19 estudantes do segundo semestre do curso de medicina na Universidade do Estado do Pará, utilizando o aplicativo Plickers e cartões-resposta entregues a todos alunos presentes. Quatro perguntas objetivaram identificar o conhecimento e a relação dos alunos quanto às estratégias de enfrentamento de focalização, suporte social, isolamento e recusa, relacionando-as ao estresse no curso de medicina e aos impactos na sua qualidade de vida. Três perguntas visaram verificar a opinião dos participantes acerca da aplicabilidade do Plickers para a realização de forma eficaz do presente estudo. Resultado: Todos os estudantes afirmaram sofrer estresse no curso e apenas a minoria (25,00%) sabia o que é estratégia de enfrentamento. Após a explicação do conceito e das classes de coping, os discentes acreditaram usar mais as estratégias de recusa (44,44%) e isolamento (38,89%). Ademais, a minoria dos alunos (38,89%) afirmou ter melhora na qualidade de vida utilizando a estratégia escolhida anteriormente, sendo esta parcela menor entre os discentes que escolheram recusa (25,00%) e isolamento (28,57%). Quanto à dinâmica, todos os estudantes relataram ter gostado da experiência e a maioria afirmou que o Plickers foi uma ferramenta eficiente para a realização do questionário (94,44%), como também não foi difícil de utilizar (88,89%). Considerações finais: Observa-se a importância da utilização do Plickers, majoritariamente nas universidades públicas, para a coleta de dados devido à possibilidade de averiguação do resultado de forma interativa e imediata, induzindo a reflexão acerca dos resultados e a incitação ao debate entre os estudantes sobre o enfrentamento ao estresse e suas consequências para o bem-estar dos mesmos. Ademais, as estratégias de enfrentamento são essenciais para diminuir os níveis de estresse e melhorar a qualidade de vida dos estudantes da área da saúde, objetivando melhoria na formação acadêmica e na preparação para o futuro profissional, sobretudo na saúde pública.

7879 RECOVERY E PARTICIPAÇÃO NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: UMA INICIATIVA DE PESQUISA COM USUÁRIOS E USUÁRIAS DA REDE DE SAÚDE MENTAL DO RIO DE JANEIRO
Angela Pereira Figueiredo

RECOVERY E PARTICIPAÇÃO NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: UMA INICIATIVA DE PESQUISA COM USUÁRIOS E USUÁRIAS DA REDE DE SAÚDE MENTAL DO RIO DE JANEIRO

Autores: Angela Pereira Figueiredo

Apresentações: O presente trabalho é referente ao processo de uma pesquisa de doutorado que se encontra em andamento e que propõe a realização de um estudo com usuários e usuárias de grupos de ajuda e suporte mútuos, feitos dentro de serviços de saúde mental no Rio de Janeiro. Este pretende dar continuidade à minha dissertação de mestrado, que teve como foco a análise dos processos de recovery e de empoderamento de usuários e usuárias de um grupo de ajuda e suporte mútuos, para, junto com esses atores, construir uma pesquisa que conte principalmente com suas participações desde a sua elaboração inicial. Por recovery, temos principalmente um amplo processo no qual o usuário e a usuária passam para enfrentar as limitações que o sofrimento psíquico trouxe às suas vidas, a fim de que possam desenvolver seus protagonismos e cidadanias na sociedade, a despeito das dificuldades associadas ao diagnóstico. Nos grupos de ajuda e suporte mútuos, liderados pelos próprios usuários e usuárias, é realizado o compartilhamento de experiências de cada participante, sendo, assim, importantes dispositivos para a lida com suas questões cotidianas. Por meio da prática com os grupos, e da convivência a longo prazo desenvolvida com os usuários e as usuárias durante a pesquisa de mestrado já realizada, propus este estudo no intuito de contar principalmente com suas experiências de vida de lida cotidiana com o sofrimento psíquico e com os dispositivos de cuidado da nossa rede pública de saúde mental. Para tanto, foi formado um coletivo de pesquisa com três usuários e três usuárias que fazem parte do grupo de ajuda e suporte mútuos, e/ou dos serviços de saúde mental do Rio de Janeiro, para que os objetivos da tese sejam construídos conjuntamente desde o início. São fundamentais, desse modo, os saberes locais que se baseiam principalmente em suas experiências pessoais com o manejo de seus tratamentos em meio aos vários dispositivos de cuidado da nossa rede de saúde mental. Princípios fundantes do SUS, como o de democratização da saúde e o de controle social, desse modo, também se relacionam à produção de conhecimento nas universidades, no sentido da elaboração de pesquisas participativas e que sejam próximas das realidades que buscam investigar. Para a Reforma Psiquiátrica, são fundamentais os pressupostos da cidadania e da autonomia quando visamos a inserção de pessoas com sofrimento psíquico na sociedade, lutando contra o estigma e a exclusão de que ainda sofrem. Para além da defesa do protagonismo no âmbito dos serviços, são igualmente importantes as suas participações na produção de conhecimento em torno das políticas públicas que sustentam as práticas na saúde. Com esta iniciativa, busco contribuir para a sustentabilidade da Reforma Psiquiátrica por meio do incentivo ao protagonismo de usuários e usuárias da saúde mental também na produção do conhecimento implicado com os avanços na área e, sobretudo, com a manutenção dos fazeres democráticos, considerando os retrocessos e as graves ameaças que circundam o SUS e as políticas sociais.

10061 A METOLODOGIA DO USÁRIO GUIA COMO TRAÇADOR NA PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
Glenda Patricia da Silva Vieira, Gabriela Duan Farias Costa, Júlio César Schweickardt

A METOLODOGIA DO USÁRIO GUIA COMO TRAÇADOR NA PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL

Autores: Glenda Patricia da Silva Vieira, Gabriela Duan Farias Costa, Júlio César Schweickardt

Apresentação: Este trabalho problematiza as práticas de saúde a partir da metodologia com usuários-guia que busca dar visibilidade a questões que tensionam as estratégias utilizadas pelos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) e a produção de redes que orientam as práticas de cuidado. O vínculo é um dos componentes operacionais que compõem as necessidades de saúde de usuários.  Na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) o termo consiste na construção de relações de afetividade e confiança entre o usuário e o trabalhador da saúde, permitindo o aprofundamento do processo de corresponsabilização pela saúde, construído ao longo do tempo, além de carregar, em si, um potencial terapêutico.” Traz, ainda, o vínculo como dispositivo requerido para a coordenação do cuidado. Chamando a compreensão expressa na PNAB para o debate, sem, no entanto, tomá -la como portadora de uma verdade sobre o tema, o vínculo implicaria no conhecimento das histórias de vida dos usuários e constituiria algo que precisa ser permanentemente construído entre trabalhadores e usuários, algo que implicaria uma confiança mútua e que, propomos, constituiria a expressão do acontecimento do cuidado, tomado aqui como produção no encontro intercessor. O conceito ferramenta usuário-guia parte de uma aposta ético-metodológica na qual a centralidade da experiência vivida pelo usuário desloca o olhar do investigador no sentido de assumir a perspectiva do usuário, no governo de si, como referência para os sentidos que devem ser dados às práticas de saúde. A aposta em uma adesão dos profissionais à vida do outro como ética, deslocando o outro da posição de objeto para a de coprodutor do conhecimento e do cuidado. Ao apresentar o sistema de redes é importante conhecer seus conceitos e ao aplica-la na área da saúde mental torna-se importante compreender como funciona a rede de serviços segundo a Política de saúde Mental. A construção de uma rede é um processo coletivo, individual, estável, sensível, ativo e confiável. É um sistema dinâmico que gera progressivamente um novo mapa dos cuidados em saúde mental e que inclui serviços de natureza clínica – tais como Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ambulatórios, hospitais, Equipes de Saúde da Família (ESFs), entre outros dispositivos –, além de outras formas que atravessam a vida de adultos, crianças e adolescentes: escola, família, amigos, igreja, órgãos da Justiça, instituições esportivas, de lazer e de cultura, associações de moradores, cooperativas, praças, clubes e a própria cidade – ou seja, tudo é possível no intuito de gerar encontros e direito à participação e à inclusão na sua comunidade. Desenvolvimento: Assim sendo, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e exploratória, fruto de projeto de dissertação em andamento o qual está inserido em um projeto maior intitulado Acesso da população ribeirinha a rede de urgência emergência no Amazonas”, sob coordenação do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (LAHPSA), pela Fiocruz Amazônia, que tem o financiamento da pesquisa pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Para alcançar a finalidade da presente discussão foi realizada uma busca sobre usuário guia na base de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online), em seguida as publicações foram analisadas conforme o critério a saber: artigos referentes ao uso de usuário guia nas pesquisas em saúde e a criação do vínculo como importante critério para o cuidado em saúde. Resultado: Os achados desta pesquisa sugerem que o vínculo é algo passível de ser construído, mas que também pode ser desconstruído – ou nunca ser alcançado – e que, portanto, precisa ser cuidado. Nesse sentido, vínculo é algo que só se constrói se o outro também quiser, se ambos se considerarem “interlocutores válidos”, ou seja, se assumirem uma postura ética de enxergar o outro da relação como alguém com quem há de se estabelecer pactuações, que tem necessidades, desejos, expectativas e um saber que, na maioria das vezes, é diferente do seu, sendo que isso enriquece a prática. A partir desse reconhecimento, torna-se possível o compartilhamento de projetos terapêuticos no espaço do entre desejos de usuários e trabalhadores. Quanto a participação do usuário, ela não é aqui entendida apenas como "sujeito de pesquisa", conforme definido nas normas brasileiras de ética em pesquisa com seres humanos, mas como integrante da equipe de investigação, o que traz desafios importantes a serem ainda enfrentados, como a própria avaliação cuidadosa e sistemática desta contribuição. O que importa ressaltar é que, embora vista como "paternalista" por muitos especialistas, a incorporação efetiva de usuários na pesquisa em saúde é parte integrante da agenda do sistema de saúde inglês. Entre outros atores que defendem esta participação é relevante citar o Fórum de Usuários de Saúde da Austrália, cujos objetivos incluem a participação sistemática do público na construção das pesquisas em saúde. Esta é, portanto, uma questão para a agenda internacional da pesquisa em saúde pública, não apenas para a saúde mental. Em outro pesquisa os autores relatam que aos poucos nesse encontro com a vida e o fazer do outro, foram experimentando em seus corpos as sensações que as equipes viviam naquelas relações que conseguiam construir com o usuário, sentindo a mesma impotência, o mesmo desconforto. E foi a partir do reconhecimento de que o seu saber não daria conta de produzir cuidado, naquela situação, abriu-se a escuta para as propostas que o usuário trazia, buscando, a partir das possibilidades de simetria que eram construídas a cada encontro, outras matrizes lógicas capazes de fornecer pistas. No encontro com o outro é que se pode perceber que é importante ouvi-lo para construir boas saídas e buscar novas soluções para o seu cuidado terapêutico. Os trabalhadores da saúde mental devem estar atentos aos seus encaminhamentos no cuidado com o usuário, pois hoje se usa muito o dispositivo de acolhimento, capaz de contribuir para questões que envolvem o cuidar na saúde. Sabemos do seu poderoso processo no início das relações do cuidado, priorizando as tecnologias relacionais; mas, em muitos serviços, o acolhimento vira uma repetição de práticas como a de triagem, burocrática e excludente. O acolhimento e o vínculo com responsabilização dependem sempre do profissional de saúde, assim como o rompimento com práticas manicomiais envolve muito além de um saber. Considerações finais: A participação de usuários na produção de conhecimento é ainda incipiente nas pesquisas em nosso país. Não se estabeleceu até o momento uma agenda sistemática na política pública, que inclua o compartilhamento dos saberes e o protagonismo de usuários como autores do conhecimento produzido na atenção psicossocial. Entretanto, algumas experiências, tanto de pesquisas avaliativas como de intervenção, têm demonstrado as potencialidades da participação efetiva de usuários e familiares como pesquisadores. Este é um desafio relevante, não apenas para o estágio atual da reforma psiquiátrica brasileira, mas também para a ampliação das perspectivas analíticas e para o alcance social da pesquisa em psiquiatria e saúde mental no país. Por fim, o vinculo entre profissionais, usuários e toda a sua rede para o cuidado em saúde mostrou-se de relevante discussão, visto que essa relação pode demandar potencialidade ou enfraquecimento do usuário no acesso a produção do cuidado em saúde mental.  

10388 A PERCEPÇÃO DE DISCENTES DA AREA DA SAÚDE SOBRE O CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) AMAZÔNIA EM BELÉM (PA): UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
jessica de souza pereira, Adrielly Cristiny Mendonça Fonseca, luciana Emanuelle de aviz, Daniel Lucas Costa Monteiro, Érika Patrícia oliveira de Oliveira, nanni moy reis, José Carlos da Luz Gonçalves, Bruno Jáy Mercês de Lima

A PERCEPÇÃO DE DISCENTES DA AREA DA SAÚDE SOBRE O CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) AMAZÔNIA EM BELÉM (PA): UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: jessica de souza pereira, Adrielly Cristiny Mendonça Fonseca, luciana Emanuelle de aviz, Daniel Lucas Costa Monteiro, Érika Patrícia oliveira de Oliveira, nanni moy reis, José Carlos da Luz Gonçalves, Bruno Jáy Mercês de Lima

Apresentação: A Reforma Psiquiátrica teve início no Brasil na década de 1970, um movimento dos trabalhadores de saúde mental que lutavam por uma sociedade sem manicômios, em que o objetivo principal era a desospitalização e inserção do doente mental na sociedade, portanto, a reforma trouxe a substituição do modelo manicomial por uma rede de serviços voltada para  Atenção Psicossocial (AP). Dessa maneira, a AP proporciona às pessoas com transtorno mental novo espaço social uma inclusão na sociedade, que podem ser tratadas com respeito, próximas do seu meio social, de modo a promover sua condição de cidadãs. Uma das modalidades dos serviços que forma essa rede, são os Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que se consolidam como ferramenta eficaz na substituição dos internamentos psiquiátricos. O CAPS é um serviço de saúde pública aberto que oferece atendimento à população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, é composto por uma equipe que trabalha interdisciplinarmente, a fim de promover diferentes formas de sociabilidade, e também pode contar com outros profissionais, além dos que constituem a equipe. O CAPS se diferencia pelo porte, capacidade de atendimento, clientela atendida e organizam-se no país de acordo com o perfil populacional dos municípios brasileiros. Dessa maneira, estes serviços diferenciam-se em modalidades como CAPS I, CAPS II, CAPS i, CAPS ad Álcool e Drogas, CAPS III, CAPS ad III Álcool e Drogas. Portanto, o trabalho teve como objetivo descrever a percepção dos discentes da área da saúde sobre o CAPS Amazônia em Belém (PA). Desenvolvimento: Trata-se de uma ação educativa tipo relato de experiência, sobre a percepção dos discente da área de saúde no CAPS Amazônia. A ação educativa foi desenvolvida no CAPS Amazônia localizado no município de Belém –Pará. Onde foi realizado três visitas, nos dias 19, 29 e 03 de dezembro de 2019, no horário de 08:00 às 12:30. O público alvo foram os usuários que possuíam transtornos mentais da unidade. A equipe do CAPS Amazônia é formada por duas enfermeiras, um médico, dois técnicos de enfermagem, um educador físico, um pedagogo, um assistente social e um professor de música. No primeiro dia de visita, foram feitas observações da rotina dos usuários do CAPS, observamos que eles recebem um acolhimento humanizado desde a sua entrada, além de, atendimentos individualizado, atendimentos em grupos, atividades sócio-recreativas, oficinas terapêuticas, atividades extra muro, assistência farmacêutica, prestação de serviços de apoio da residência terapêutica e apoio as Unidades Municipais de Saúde (UMS) de abrangência. Em seguida, realizou-se uma roda de conversa para conhecer e saber da rotina dos usuários, e alguns relataram que tinham livre arbítrio que não se sentiam presos e que o CAPS era o lugar que oferecia a eles autonomia, inclusão e principalmente não tratavam eles como doentes incapacitados. Após isso, observou-se que os mesmos gostavam de oficinas que lhe traziam renda financeira. Então, na segunda visita proporcionamos a eles uma oficina que lhe trouxessem renda financeira, levamos pra eles materiais e lhe ensinamos como fazer embalagem para presente, o  passo a passo para fazer laços de cabelo, mas sempre deixando eles fazerem só, para assim terem autonomia sobre seu trabalho e também com o intuito não só de trazer uma renda  extra aos usuários, mas de passar para eles uma linha de pensamento que eles podem contribuir na sociedade. Na terceira visita foi feita uma avaliação e uma evolução dos usuários e observamos que o CAPS proporciona um acolhimento que traz uma linha de pensamento aos pacientes de que eles não são “loucos” e que possuem um lugar na sociedade. Resultado: Observamos que o transtorno mental não é uma doença em que a pessoa é incapaz de suas habilidades, o indivíduo com transtorno mental pode ser incluído na sociedade. Um dos aspectos observado é o fato de que as portas do CAPS permanecem abertas e o usuário tem liberdade, com objetivo de estimular o usuário a exercer sua autonomia quando refere que ele se torne “dependente dele mesmo”. Alguns usuários relataram que o projeto terapêutico, o acolhimento e as oficinas são algo que eles gostam bastante, é isso que fazem eles voltarem.  Porém, algo que chamou bastante atenção foi o fato de perguntamos sobre a experiência no  hospitais psiquiátrico, os sujeitos fizeram críticas aos modos coercitivos, o pouco dialógico na prestação da assistência nos hospitais psiquiátricos como um todo pelos profissionais de saúde, a forma que eram tratados pelos profissionais, principalmente em relação ao controle da medicação e que não haviam oficinas. Dessa maneira, a assistência do CAPS, apoia o pensamento de inclusão da pessoa com transtorno mental, reinserção social, o desenvolvimento da autonomia do sujeito, a convivência e a comunicação com o outro. Entretanto, ainda existem algumas dificuldades na realização do trabalho da equipe multiprofissional nos CAPS, como a falta de capacitação em saúde mental, a infraestrutura deficitária e muitas das vezes o olhar do profissional que visa só a patologia, dificultando sua atuação e o desenvolvimento de uma prática psicossocial. Portanto, para melhorária da atuação dos profissionais no CAPS e futuros profissionais, deve haver buscas de aprimoramento dos estudos e conhecimentos. As instituições formadoras, devem implementar conhecimento preparar os discentes para as práticas psicossociais em seus estágios os quais devem ser realizados nos CAPS e o governo fazer investimento em capacitação dos profissionais que já encontram inseridos nos serviços, para que assim o rompimento do modelo biomédico seja continuo, pois mesmo com todas as mudanças ele ainda é presente nos dias atuais. Considerações finais: Assim, concluímos que a Reforma Psiquiátrica trouxe benefícios na criação do CAPS, como o respeito  ao modo de tratar indivíduos com transtorno mental, onde esses indivíduos podem ser tratados em ambientes abertos, humanizados, próximos de seus familiares e principalmente em ambiente não coercitivos e prejudiciais como tradicionalmente ocorria em hospitais psiquiátricos, um tratamento que contribuía para sua exclusão social do indivíduo. Portanto, é essencial que os profissionais estejam preparados para essa realidade, no qual, além de acolher o usuário devem desenvolver um trabalho com características coletivas e em equipe interdisciplinar na busca da reabilitação dos usuários.

11043 TRABAJO DE INVESTIGACIÓN: UNA CLINICA SIN INTERSECCIONES, LA PARTICIPACIÓN SOCIAL EN SALUD MENTAL EN UNA CIUDAD AL SUR DEL PERÚ
JAVIER TEJADA MERELLO, FREDERICO VIANA MACHADO

TRABAJO DE INVESTIGACIÓN: UNA CLINICA SIN INTERSECCIONES, LA PARTICIPACIÓN SOCIAL EN SALUD MENTAL EN UNA CIUDAD AL SUR DEL PERÚ

Autores: JAVIER TEJADA MERELLO, FREDERICO VIANA MACHADO

Presentación: Este trabajo estudió la Participación Social en Salud Mental en una localidad del Sur de Perú, con las características de una región fronteriza, costera y con población migrante andina. Las políticas públicas en salud mental desde el año 2012 han estado cambiando y a partir del 2015 se vienen implementando los “Centros de Salud Mental Comunitarios”, para el 2021 se espera sean 280 y se cubran las 24 regiones del Perú siendo un cambio sustancioso en lo que respecta en Salud Mental nunca antes realizado. Con ello la participación social de los usuarios, trabajadores y gestores en acciones y deliberaciones en salud mental es fundamental estudiarse. La mudanza propone un fortalecimiento del Plan Nacional de Salud Mental Comunitaria y describe que la actual participación ciudadana en salud es muy limitada, poco institucionalizada, dispersa y fragmentada, y la participación de familiares de usuarios incipiente, donde las escasas asociaciones de familiares o usuarios de salud mental de los años 80 decayeron por el escaso reconocimiento institucional y apoyo técnico para la reflexión crítica y su renovación en estrategias de participación en los nuevos contextos políticos sociales. Estos nuevos Centros de Salud Mental Comunitarios – CSMC son especializados porque se cuenta con médico psiquiatra y pertenecen al primer nivel de atención brindando apoyo a la Atención Primaria, el trabajo multidisciplinar y horizontal, teniendo psicólogos, enfermeras, químico-farmacéutico y técnicos, siendo prioridad desarrollar servicios de salud mental comunitaria en el sistema de salud peruano que ya trae consigo dificultades por ser considerado fragmentado. Las condiciones laborales sólo han traído una polarización del trabajo y no alcanzan la anhelada horizontalidad e integralidad en el cuidado en salud mental. Por lo tanto una lectura de la investigación fue entender lo que se plantea con esta reforma psiquiátrica peruana para integrar una Red de Salud Mental Comunitaria a llamarse Reforma de la Atención en Salud Mental, en donde los Centros de Salud Mental Comunitaria - CSMC tienen un rol articulador para las referencias a otros establecimientos como los servicios especializados de psiquiatría y hospitalización de día en Hospitales, Hogares Protegidos y Residencias para usuarios en abandono, Centros de Atención Psicosocial y Centros de Inserción Laboral. Es una investigación de mestrado stritu senso realizada en el Programa de Post-graduación en Salud Colectiva de la Universidade Federal do Rio Grande do Sul, plantease como cualitativa, enriquecida por el trabajo de campo en una ciudad compleja de diversas costumbres, con influencia de la lengua nativas aimara y quechua herencia de los pueblos andinos, de historia de “cautivero” por ser ciudad fronteriza postguerra con Chile, y con un sistema de salud que, poco responde y poco sabe, de la identidad y prácticas culturales de la población descendiente aimara, así mismo con diferentes tipos de territorios, barrios y lógicas comunales que configuran  comunidades y vidas, muchas configuraciones subjetivas de su propia historia de migrantes de la zona andina, con la identidad y subjetividad centradas más en los procesos psicopatológicos de la salud mental, con altos índices de violencia contra la mujer y los nuevos planteamientos para nuevos abordajes en trastornos psicóticos, depresivos, ansiosos y de consumo de sustancia. Es una región emergente desde los últimos veinte años y de inequidades estructurales propias del racismo, género y producción de la riqueza del Sur del Perú, con una historia de centralismo, exclusión y colonialismo. El impacto social de un centro de salud especializado en la salud mental y de enfoque comunitario nos hace reflexionar sobre lo que representaría superar un sistema que se insiste como hospitalocéntrico, manicomial y no participativo, sin la inclusión de los derechos sociales de los ciudadanos con sufrimiento psíquico, inclusive en el propio desarrollo de las atenciones, prevaleciendo la centralidad del diagnóstico psiquiátrico. Para ellos desarrollamos una metodología cualitativa en un estudio etnográfico, realizamos entrevistas y la realización de un diario de campo. Nos enriqueció las posiciones de los actores y usuarios en salud mental, la compleja realidad para rescatar la subjetividad y las narrativas de salud que se constituyen colectivamente en la salud mental como política pública, clínica y ética. De ese modo buscamos entender la participación social en el Centro de Salud Mental Comunitario, para comprender las implicaciones institucionales que se han presentado en el “Servicio de Participación Social y Comunitaria” instalado orgánicamente dentro del mismo Centro de Salud Mental Comunitario y que organiza las actividades extramurales del centro bajo el trabajo de profesionales como puede ser de Trabajo Social, o Médico de Familia o en su caso Enfermería; y dar a conocer las precauciones del rol articulador ideológico del Centro de Salud de saber psiquiátrico sobre la enfermedad en diferentes espacios intersectoriales. De ese modo buscamos cómo se daba el envolvimiento de la comunidad en temas de salud mental para pensar sobre las diferencias entre las disputas de las necesidades sociales y necesidades individuales de los usuarios, las tensiones entre Salud Mental y Salud Pública, entender las posibilidades de protagonismo y autonomía de los usuarios, así como espacios participativos democráticos entre usuarios y familiares. Por lo tanto analizar el estigma en salud mental en la sociedad y escenarios participativos para evitar la institucionalización cronificada y no sea solamente tratado el malestar psíquico con medicación y terapia, en el marco de estar evaluando los procesos de subjetivación de los usuarios en contextos de pobreza, con un sistema de Atención Primaria poco útil en Salud Mental y, que se converse sobre las construcción de la ciudadanía como evaluación política de las causas directas e indirectas de la salud mental  y los servicios preventivos y recuperativos. Consecuentemente, se realizó un trabajo sobre cómo se implementaron las políticas en salud mental, se analizaron en base a 03 casos el rol de la salud mental y la violencia, así como SUS implicaciones y relaciones interinstitucionales con los actores trabajadores en salud mental, las legitimaciones que se realizaban sobre la enfermedad psiquiátrica. Seguimos los caminos relacionados considerando el género y etnicidad, la integralidad del sujeto y SUS derechos humanos. El trabajo de campo nos acercó al día a día laboral del centro de salud mental comunitario, a las visitas domiciliarias realizadas por trabajadores de salud, las actividades comunitarias del centro de salud y las metodologías para las reuniones entre gestores de la salud, así hilando constantemente la participación social en salud mental que se muestra inexistente y poco comprendida, considerándose poco trabajada profesionalmente pese a la reforma nacional en salud mental en andamiaje.

11127 SAÚDE NO BAIRRO: A IMPORTÂNCIA DE UMA RODA DE CONVERSA EM UMA AÇÃO SOBRE SAÚDE MENTAL EM UM BAIRRO NA CIDADE DE TEFÉ – AMAZONAS – RELATO DE EXPERIÊNCIA
Heloíse Terezinha Guimarães, Maria Adriana Moreira, Thaís Lorena Mouzinho de Brito, Raylla Kelly Santana Rodrigues, Gelza Maria da Silva, Robson de Souza Silva

SAÚDE NO BAIRRO: A IMPORTÂNCIA DE UMA RODA DE CONVERSA EM UMA AÇÃO SOBRE SAÚDE MENTAL EM UM BAIRRO NA CIDADE DE TEFÉ – AMAZONAS – RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Heloíse Terezinha Guimarães, Maria Adriana Moreira, Thaís Lorena Mouzinho de Brito, Raylla Kelly Santana Rodrigues, Gelza Maria da Silva, Robson de Souza Silva

Apresentação: Sabe-se que o índice de mortes por suicídios vem crescendo cada vez mais, principalmente em países de baixa e média renda. Trata-se de um grave problema de saúde pública. Vários suicídios acorrem de forma impulsiva em momento de crise, por um colapso com a capacidade de lidar com o estresse da vida, por problemas financeiros, dores crônicas ou doenças. Por diversas razões como, religiosas, culturais ou morais, ainda existe medo e vergonha de falar abertamente sobre esse importante problema. No entanto, os suicídios podem ser evitados, e por este motivo foi dado início à ação da Saúde no Bairro, que teve como parte a roda de conversa para debater juntamente com a população comunitária, sobre a prevenção e promoção à saúde e a partir da conversa direcionar sobre a importância da procura de um psicólogo, prática de atividade física, terapia complementar, como a auriculoterapia e os chás medicinais. Objetivo: Mostrar aos moradores do bairro através de uma roda de conversa que existe meios de ajuda através dos serviços ofertados pela Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Tefé – Amazonas. Método: A ação realizou-se no dia 31 de janeiro de 2020, na Escola Municipal Bertholettia Excelsa, no Bairro Vila Nova, na cidade de Tefé – Amazonas, em prol ao Janeiro Branco, trata-se de uma campanha para convidar as pessoas pensarem sobre o sentido e o propósito das suas vidas, quanto elas conhecem sobre si, suas emoções, pensamentos e sobre seus comportamentos. Este bairro foi escolhido devido ao grande índice de pessoas com depressão, que causa tristeza profunda e pessimismo, podem culminar em comportamentos suicidas, atingindo todas as faixas etárias, mas principalmente entre crianças e jovens. Para dar suporte, havia uma equipe multidisciplinar da Atenção Básica. Dando início à ação, os comunitários eram direcionados pelos mediadores a participar da roda de conversa abordando temas sobre saúde mental, plantas medicinais e importância da atividade física. Como estratégia metodológica das ações de promoção da saúde mental, as rodas surgem como um espaço de escuta cuidadosa, é nesse momento que se ouve vários relatos da vida ou história de algum amigo que não consegue ajuda ou que tipo de ajuda procurar. Resultado: Foi engrandecedor ao final da ação, observar a alegria e alivio por entenderem que não estão sozinhos, por saberem onde procurar ajudar e como se ajudar. Partindo da confiança conquistada, surgem vários relatos sobre suas vidas, situações financeiras, perdas de entes queridos, problemas familiares, entre outros. As rodas de conversa, foi entendida e traduzida pelos comunitários como um lugar de aprendizado, além do desenvolvimento de confiança e a capacidade de analisar situações. Quando ocorria este acolhimento ao final da conversa, eram direcionados a serviços que na ação eram ofertados, como aplicação de auriculoterapia, massoterapia, o psicólogo, conforme necessidade, com eles já sabendo para que serve cada atendimento Considerações finais: Contudo podemos observar estratégias de cuidado integrais em saúde, capazes de contribuir com a promoção da saúde, e representa um instrumento importante para o trabalho em saúde mental, principalmente no contexto da Atenção Básica.

11610 OS USUÁRIOS-GUIAS COMO UMA APOSTA METODOLÓGICA DE UMA PESQUISA CARTOGRÁFICA EM SAÚDE MENTAL
Márcia Roberta de Oliveira Cardoso, Károl Veiga Cabral, Alcindo Antônio Ferla, Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

OS USUÁRIOS-GUIAS COMO UMA APOSTA METODOLÓGICA DE UMA PESQUISA CARTOGRÁFICA EM SAÚDE MENTAL

Autores: Márcia Roberta de Oliveira Cardoso, Károl Veiga Cabral, Alcindo Antônio Ferla, Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Apresentação: Este resumo tem por objetivo apresentar a proposta metodológica de uma pesquisa ainda em andamento no campo da saúde mental, de doutorado que utiliza a cartografia, através dos usuários-guias como uma aposta ético-metodológica na qual a centralidade da experiência vivida pelo usuário desloca o olhar do investigador no sentido de assumir a perspectiva do usuário, no governo de si, como referência para os sentidos que devem ser dados às práticas de saúde. A referida pesquisa de doutorado, ligada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade Federal do Pará (UFPA), pretende identificar e analisar os itinerários terapêuticos percorridos pelos usuários que necessitam de cuidados em saúde mental que utilizam serviços de saúde públicos e privados em um município do estado do Pará. Por itinerários terapêuticos (IT) entendem-se as diferentes práticas em saúde e os caminhos percorridos pelos usuários em busca de cuidado, nos quais se desenham múltiplas trajetórias (assistenciais ou não, incluindo diferentes sistemas de cuidado), em função das necessidades de saúde, das disponibilidades de recursos sociais existentes – sob a forma de redes sociais formais e informais – e da resolutividade obtida. Destaca-se que as redes informais são constituídas por relações que não se estabelecem por instituições, mas por dispositivos sociais, como a posição e papel social na comunidade/sociedade. Já por redes formais, compreende-se que as relações são estabelecidas em função da posição e do papel social na instituição. Pensar em trazer o usuário dos serviços de saúde para o centro da pesquisa é respeitar o protagonismo dos mesmos no processo de cuidado. Nesse sentido, valorizar o discurso dos usuários no que se refere à avaliação dos serviços de saúde mental que compõem a Rede de Atenção Psicossocial – RAPS e os serviços ofertados pela Saúde Suplementar na área da saúde mental, contribui para a qualificação desses serviços na produção de cuidado e na produção de vida. Foram convidados para participar do estudo dois usuários que utilizaram serviços de saúde mental públicos e privados em um município do estado do Pará com o objetivo de identificar e analisar seus itinerários terapêuticos. Dentro desse contexto, o usuário-guia também pode ser entendido como o relato da produção do cuidado com um usuário que é acompanhado no serviço de saúde. Sendo assim, é necessário compreender o usuário-guia como “a narrativa de um encontro”. Um encontro entre o trabalhador de saúde e o usuário, incluindo todos os outros encontros que atravessam esta relação: com outros profissionais, com a família, com outros serviços de saúde, com o bairro etc. Encontro de encontros. Porém, trata-se de uma narrativa produzida que tem como referencial o usuário; é, portanto, uma descrição usuário-centrada. A escolha dos usuários-guias foi realizada utilizando-se como critério central casos marcadores do cuidado – marcados pelo mix público e privado – pela qual, esses usuários em seus itinerários terapêuticos, tenham procurado, durante seu processo de adoecimento, atendimento em saúde mental nas estações públicas e privadas de cuidado. Neste caso, os dois usuários que participaram da pesquisa, estavam vinculados a um plano de saúde e concomitantemente estavam utilizando serviços públicos da Rede de Atenção à Saúde Mental, como por exemplo, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Além dos usuários-guias, outros sujeitos que operavam na produção do cuidado junto a esses usuários, sejam nas unidades de saúde ou em outros espaços, também puderam participar como sujeitos da pesquisa, apresentando suas narrativas sobre o usuário-guia. Logo, também participaram do estudo, profissionais da equipe de saúde das estações de cuidado frequentadas pelo usuário-guia, bem como outros usuários que se relacionavam com esse usuário-guia, além de familiares, amigos e outros sujeitos apontados pelos participantes a partir dos acontecimentos e encontros que foram se constituindo ao longo de sua trajetória na produção do cuidado e história de vida. Os encontros com os usuários-guias ocorreram nos espaços indicados por eles, de acordo com seus itinerários terapêuticos. Cabe aqui ressaltar a dimensão de encontro utilizado no estudo citado, que no caso, se baseia no conceito de encontro em Spinoza a partir da leitura que Deleuze faz de sua obra. Neste caso, encontro é algo que faz os corpos colidirem mesmo sem contato visceral, direto, físico, mas que altera os corpos, afetando-os, efetuando não só a mistura dos mesmos, mas modificando-os, aumentando ou diminuindo a sua potência de ação no mundo, forjada em ato. Deste modo, o usuário também é produtor de saber, contudo, saber não dominado, não hierarquizado, mas transversalizado, indutor da desacomodação e distribuição das relações de saber-poder, criando redes de sustentabilidade e produção da vida. Saber imprescindível para os arranjos das tecnologias leves, conforme afirma Merhy. O número de encontros foi pactuado entre a pesquisadora e os participantes do estudo a partir da necessidade identificada por ambos, considerando os objetivos da pesquisa. Puderam ser utilizadas como fontes e recursos no estudo citado: diálogos informais (alguns gravados e outros não); entrevistas semiestruturadas (gravadas); observação participante e diário de campo. As entrevistas foram gravadas, todas autorizadas pelos participantes, para posterior transcrição. O que esta sendo chamado de “diálogos informais” ou “conversas informais” foram as formas de aproximação da pesquisadora com os profissionais de saúde e com os usuários das estações de cuidado que compõem o campo da referida pesquisa. A relação construída com os usuários-guias do presente estudo levou em conta o respeito à singularidade e subjetividade de cada sujeito, o estabelecimento de um vínculo de confiança permeado principalmente por um investimento de afeto, tempo e escuta sensível. Neste caso, cabe ressaltar que os participantes, que são os usuário-guias, são protagonistas e não meros informantes, uma vez que há uma produção de saber vivo em ato, constituída fundamentalmente nos encontros e acontecimentos. Os recursos acessados pelos dois usuários-guias por meio de seus itinerários terapêuticos, até o presente momento, perpassam por estratégias ligadas ao próprio acesso aos serviços de saúde da rede pública e privada, bem como aos recursos pertinentes à espiritualidade/religiosidade e aspectos relacionados ao apoio da família e dos amigos. Todos esses aspectos serão analisados durante o percurso da pesquisa. Em uma breve análise dos discursos dos usuários-guias, foi verificado que o uso combinado dos serviços públicos e da assistência suplementar aparece no cuidado à saúde mental, assim como o acesso a serviços e tecnologias de diferentes naturezas. Diversos arranjos se estabelecem no cotidiano assistencial dos usuários quando procuram superar lacunas do acesso e da integralidade da atenção através de suas próprias escolhas, caminhos ou estratégias. O que reforça estudos que apontam a não existência de linhas de cuidado, de fluxos estabelecidos pelos serviços de saúde, deixando muitas vezes a busca do cuidado na responsabilidade do próprio usuário ou de alguém que vivenciou situação semelhante. Observa-se também, que embora possuam plano privado de saúde, é no serviço público, como o CAPS, que encontram as ações diferenciadas na produção da saúde, as quais operam tecnologias voltadas para a produção do cuidado, apostando em novas relações entre trabalhadores e usuários, tentando construir embora ainda com certa fragilidade, um devir para os serviços de saúde, centrado nos usuários e suas necessidades e estabelecendo um contraponto à crise vivida pela saúde mental. Os diversos enfoques possíveis na observação e análise de itinerários terapêuticos em saúde mental podem subsidiar processos de organização de serviços de saúde públicos e privados, na construção de práticas de cuidado contextualmente integradas.

11773 NUANCES DA CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO NO BRASIL E CATALUNHA: PENSANDO AS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL
Marcia Fernanda de Mello Mendes, Alcindo Antonio Ferla

NUANCES DA CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO NO BRASIL E CATALUNHA: PENSANDO AS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL

Autores: Marcia Fernanda de Mello Mendes, Alcindo Antonio Ferla

Apresentação: Nuances da cidadania e participação. Nos últimos tempos, acompanhamos o crescente uso de palavras como democracia, cidadania e participação, que se popularizam tanto que seus sentidos acabaram esvaziados em alguns contextos. Definir o que é cada um deles pode até causar um desconforto e confusão, já que por mais que não sejam sinônimos estão interligados. Não se pode pensar em exercício da cidadania em países que não tenham um regime democrático, todavia, só se terá uma democracia forte com o exercício pleno da cidadania. Por cidadania se entende o acesso a direitos fundamentais, a liberdade de ir e vir, de expressão e de pensamento e credo, além do direito à propriedade e a justiça. Em Estados democráticos a base da cidadania é exercício do poder político através do voto, mas só ter um sistema eleitoral não é suficiente, porque tem-se que ver quem pode exercê-lo e em que termos. O Índice de Democracia (ID) do The Economist Intelligence Unit mostra que a Espanha ocupa a 19º posição no ranking internacional, considerada uma democracia plena e o Brasil está na 50ª posição, tendo uma democracia imperfeita. A análise baseia-se em cinco categorias: processo eleitoral e pluralismo; liberdades civis; o funcionamento do governo; participação política e cultura política. O relatório Democracy Index 2018: Me too? Political participation, protest and democracy, aponta que no Brasil houve uma desilusão com a democracia que se pode verificar na queda de índices em relação ao funcionamento do governo e confiança nos partidos políticos, no entanto, este sentimento tem se transformado em ação, que pode ser vista no aumento de participação política, interesse da população em seguir notícias sobre a política e participação em manifestações. Este trabalho tem por objetivo, apresentar parte dos resultados de uma pesquisa de doutorado que analisa a influência da participação de pessoas com diagnóstico psiquiátrico nas políticas de saúde mental da Catalunha e do Brasil, na qual realizo uma cartografia na Federação Catalã de Entidades de Saúde Mental em 1ª Pessoa (VEUS), que inclui diversas associações de pessoas com diagnóstico psiquiátrico. Como dispositivo disparador para a análise, proponho cenas vivenciadas durante a investigação. Cena 1- Assembleia da Radio Nikosia (associação pertencente a Federação Veus), o tema a ser tratado era sobre as oficinas que seriam oferecidas no próximo período. Entre comentários sobre as oficinas, um participante sugere que fosse feita uma oficina de leitura da obra Dom Quixote, os outro se animam com a ideia e o apoiam. Um requisito para iniciar uma nova oficina era ter um grupo de interessados que se disponibilizassem a participar, como um quórum mínimo. Os técnicos se comprometeram em buscar alternativas para a realização da oficina. Depois da assembleia falo com outros sobre a minha surpresa com a sugestão de oficina, comentando que no Brasil seria difícil ter um grupo em um Centro Atenção Psicossocial que demandasse uma oficina assim. Eles respondem que não era a primeira vez e que já havia sido oferecida a leitura dirigida de Nietzsche. Na época, minha elaboração sobre a cena ficou mais restrita aos diferentes níveis de escolaridade das pessoas com diagnóstico no Brasil e na Catalunha, assim como a garantia de acesso, permanência e qualidade de educação na Catalunha. Mas proponho ampliar a reflexão, analisando como exercício da cidadania através do acesso a bens sociais, culturais, educacionais, possibilitando uma outra maneira de estar na vida para além do seu diagnóstico. No caso do Brasil, o país se constrói, iniciando pelos sistema de direitos sociais, para depois consolidar os direitos políticos e, ainda hoje, nem toda a população tem acesso aos direitos civis, invertendo a ordem descrita por Marschall, onde primeiro os Estados deveriam adquirir os direitos civis, depois os direitos políticos, para só então os direitos sociais. Arendt traz o conceito de cidadania como o direito a ter direito, partindo de análise do totalitarismo, ela pontua que a privação fundamental dos direitos humanos manifesta-se, primeiro e acima de tudo, na privação de um lugar no mundo que torne a opinião significativa e a ação eficaz. Me faz pensar se mesmo em regimes não totalitários, há grupos que tem sua cidadania vulnerada, que sua voz não tem valor, como encontramos situações pessoas institucionalizadas na saúde mental. A alguns humanos, se nega a humanidade. Participação e Controle Social em Saúde: Nos anos 80, se potencializa a discussão sobre participação nos sistemas de saúde, que vem sendo reiterado pela Organização Mundial da Saúde enfatizando e promovendo a participação dos usuários nos documentos publicados nos últimos anos. No Brasil, houve um crescimento do movimento social participando das políticas públicas, especialmente a da saúde. O processo de construção do SUS se trama ao processo de democratização no país. No intuito de promover uma saúde universal que não estivesse à mercê da classe dominante assegurou a participação da comunidade através de lei. Com o passar dos anos e a necessidade de aprimorar o controle social através dos conselhos de saúde, foram promulgadas resoluções que definissem conceitos e diretrizes, a mais recente é a Resolução nº 453, de 10 de maio de 2012 do Conselho Nacional de Saúde. Com representatividade foi definida pelas porcentagens de 50% de representantes de usuários, 25% de prestadores de serviços (público e privados) e 25% trabalhadores da saúde. Já na Espanha, o movimento associativo acaba tendo um papel relevante como forma da participação da sociedade civil. Inúmeras associações são criadas com um papel político no sentido de tentar modificar aspectos da política social ou de saúde e de serem erigidos no caminho da participação de setores minoritários, mas também o têm em outro sentido quando são envolvidos pelas administrações do Estado na gestão de recursos públicos. Cena 2 – Em uma reunião com diferentes serviços do que equivaleria a rede de atenção em saúde mental voltados a promoção e prevenção, uma técnica do departamento apresentando os projetos comenta: “Na Catalunha, se dois ou três se juntam para tomar um café e identificam um problema já se cria uma associação”. Esta frase exemplifica muito bem a proliferação de associações que se vê na região. No entanto, pode-se questionar se não é uma forma do Estado limitar sua implicação direta, descentralizando suas ações e delegando a sociedade civil. Todavia, é uma forma de perpetuar um modelo de atenção, visto que as associações estão subjetivadas neste sistema. Percebe-se qu movimento associativo tem um papel político, mas também têm em outro sentido quando são envolvidas pelas administrações estaduais na gestão de recursos públicos. Por vezes, as associações entram em uma engrenagem administrativa de subvenção, um sistema cheio de ambiguidades e ambivalências. Ao delegar ações a entidades da sociedade civil como responsabilidades de cuidado, através das subvenções, de certa forma limita o escopo do componente de reivindicação das associações. Problematizando a participação, tanto como movimento associativo na Catalunha quanto o controle social no Brasil, me questiono o quanto o processo neoliberal captura o movimento associativo, que assumem uma postura produtivista, competitiva e que esquece do seu papel social de fazer incidência política. Na estrutura do controle social, não percebo o mesmo, mas no meu ver é influenciado pelo nível de cidadania da população brasileira. Por vezes, questionei se a participação na Catalunha é intelectualizada enquanto no Brasil é politizada, ideia a ser explorada na tese.