470: (Re)existência e saúde: lutas dos povos indígenas, comunidades tradicionais e das florestas.
Debatedor: Mirella Giongo Galvão da Silva
Data: 28/10/2020    Local: Sala 08 - Rodas de Conversa    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
8067 DIÁLOGOS: MULHERES INDÍGENAS E DIREITOS HUMANOS – CONSTRUINDO ARTICULAÇÕES
Maria eUNICE Figueiredo Guedes, Eliene Rodrigues Putira Sacuena, Virginia Braga Fonseca

DIÁLOGOS: MULHERES INDÍGENAS E DIREITOS HUMANOS – CONSTRUINDO ARTICULAÇÕES

Autores: Maria eUNICE Figueiredo Guedes, Eliene Rodrigues Putira Sacuena, Virginia Braga Fonseca

Apresentação: Desde a década de 1970 os movimentos sociais vêm sendo formas organizativas dos diferentes sujeitos sociais expressarem suas reivindicações e projetos coletivos, em contraposição ao modo de sociabilidade patriarcal e capitalista. Tais organizações atuam tanto na busca de uma ampliação da democracia e da garantia de direitos, quanto pelo propósito de transformar as bases de repressão e exploração que dão sustentação as diversas formas de desigualdade e opressão vivenciada pelos diferentes sujeitos, entre estes, nós mulheres. O movimento de mulheres, assim como os outros movimentos sociais, possuem um projeto coletivo, identidade e uma estrutura organizativa. Como movimento social congrega muitas experiências de auto-organização das mulheres: grupos de bairros, grupos setoriais de mulheres de partidos, secretarias de mulheres de centrais sindicais e sindicatos, centros de estudos e pesquisas, núcleos de educação e formação feminista, ongs, fóruns, redes, articulações e movimentos. Ou seja, são parte da movimentação das mulheres todas as formas organizativas criadas pelas mulheres para serem instrumentos de luta contra a dominação, exploração e opressão das mulheres. É um movimento plural, dentro do qual convivem em conflito, e muitas vezes em aliança, diferentes 'expressões': mulheres negras; lésbicas; do movimento sindical; indígenas; integrantes de movimentos populares e acadêmicas, entre outras. Algumas destas expressões se constituem como um modo de pensar a atuação das mulheres e outras configura apenas um espaço de atuação. Essa roda com a denominação de DIÁLOGOS: MULHERES INDÍGENAS E DIREITOS HUMANOS – Construindo articulações... Vêm contribuir nesse chamado com a reflexão com as mulheres indígenas da Amazônia no sentido de: Fortalecer a Agenda Amazônica com a participação plena e efetiva das Mulheres Indígenas, gerando espaços para a tomada de decisões e, contribuir através desse debate com as ações propostas pelas mulheres indígenas na agenda  de lutas e assim fortalecer a participação na perspectiva do feminismo, direitos humanos e de gênero.  É dentro dessa moção e na reflexão sobre o papel da psicologia na diversidade na Amazônia de Psicólogos/as e profissionais de saúde na sua formação e práxis que estamos propondo essa roda de conversa DIÁLOGOS: MULHERES INDÍGENAS E DIREITOS HUMANOS – Construindo articulações. Para que possamos refletir sobre a prática da psicologia e da UFPA na relação com os movimentos de mulheres indígenas da região

10008 VIVÊNCIA EM UM ASSENTAMENTO DA REFORMA AGRÁRIA, RECONHECENDO A POTÊNCIA DAS INVENÇÕES DE CUIDADO COM O MEIO AMBIENTE E COM A VIDA
Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Stela Mari dos santos, Luiz Gustavo Duarte, Flavia Maria Araújo, Alberto Durán González

VIVÊNCIA EM UM ASSENTAMENTO DA REFORMA AGRÁRIA, RECONHECENDO A POTÊNCIA DAS INVENÇÕES DE CUIDADO COM O MEIO AMBIENTE E COM A VIDA

Autores: Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Stela Mari dos santos, Luiz Gustavo Duarte, Flavia Maria Araújo, Alberto Durán González

Apresentação: Esse relato faz parte de uma incursão do grupo de pesquisa tem hoje em andamento uma pesquisa: “Análise dos novos movimentos sociais e a produção da saúde na periferia da região metropolitana de Londrina (PR)” que faz parte de um grupo de pesquisa do CNPQ o Observatório Microvetorial de Políticas Públicas em Saúde e Educação em Saúde da Universidade Estadual de Londrina (UEL) conjuntamente com a participação do projeto de extensão: “Ações em saúde em movimentos sociais periféricos: cartografias de espaços cuidadores” que entre seus campos tinha o desejo de realizar a pesquisa em um assentamento. Desenvolvimento; Relataremos o fruto de uma visita de articulação para realização da pesquisa em um assentamento. Primeiramente foi realizada o contato com uma docente de outro departamento da universidade que já tinha entrada no campo do assentamento da reforma agrária denominado “Herdeiros da Luta” na cidade de Porecatu-PR. A mesma conseguiu o transporte e fomos conjuntamente os alunos da saúde e da pedagogia realizar uma visita ao assentamento. Fomos em um grupo de 2 docentes e cerca de 15 alunos. Nesse encontro imaginávamos que iríamos  apresentar o projeto e conhecer os diferente atores daquele espaço. Resultado: No entanto tivemos uma aula. Eles ofertaram a todos uma incursão naquele espaço, fomos fazer territorialização conhecemos o espaço, os cheiros, as pessoas. E nesse conhecer pudemos ver a potência que cada morador representa para a funcionalidade daquele espaço. Cada um tem sua função, lá existe regras e normas. Entre as tantas coisas que chamaram a atenção de todos foi o desejo dos moradores em cuidar do espaço e de cuidar de um do outro. Considerações finais: Fomos com a ganha de articular a realização da pesquisa naquele território, no entanto tivemos uma aula de como viver em coletivo de uma forma totalmente diferente, saudável e solidaria. Infelizmente a realização de mais ações de pesquisa e extensionistas, nesse cenário não foram possíveis dado a dificuldade de acessar transporte. No entanto a busca e o desejo de voltar continua e a marca dessa vivência estará com todos que ali estiveram.

10290 ESTÁGIO DE VIVÊNCIA EM UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA: ROMPENDO GRILHÕES NA LUTA POR DIREITOS SOCIAIS
Thiago Santos de Souza, ANGÉLICA VITÓRIA RODRIGUES FELIZ, BRUNA COSTA DA SILVA, PAULO GUSTAVO BISPO PEREIRA, BEATRIZ CORREIA MATOS REIS, TIAGO SANTANA DE BRITTO, ELVIRA RODRIGUES DE SANTANA, Aditi Dória Vaz Almeida

ESTÁGIO DE VIVÊNCIA EM UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA: ROMPENDO GRILHÕES NA LUTA POR DIREITOS SOCIAIS

Autores: Thiago Santos de Souza, ANGÉLICA VITÓRIA RODRIGUES FELIZ, BRUNA COSTA DA SILVA, PAULO GUSTAVO BISPO PEREIRA, BEATRIZ CORREIA MATOS REIS, TIAGO SANTANA DE BRITTO, ELVIRA RODRIGUES DE SANTANA, Aditi Dória Vaz Almeida

Apresentação: O Programa de Extensão Bahiana em Defesa da Vida da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), criado em 2019, atua junto ao Quilombo Rio dos Macacos, cuja comunidade vem a décadas sofrendo violação dos direitos humanos que vão além da negação de direitos sociais básicos, como também ações violentas por parte da Marinha que buscaram a expulsão dessa população do território que ocupam há mais de 200 anos. O Programa pretende promover o empoderamento de comunidades e o engajamento de discentes e docentes na luta em defesa do direito humano à saúde e a vida. Visando valorizar a cultura popular local, favorecer vínculo e o protagonismo da comunidade, dos docentes e discentes, foi realizado o primeiro Estágio de Vivência no Quilombo Rio dos Macacos, com a parceria da RNMMP, MST, NEGREX, UNE e Médicos pela Democracia. Desenvolvimento: A metodologia adotada no estágio de vivência se nutre das contribuições tanto da Metodologia de Mobilização Coletiva e Individual (Met-MOCI), criada pelo Programa Interdisciplinar de Ação Comunitária, da UFPB, quanto do Método Josué de Castro, utilizado pelo Instituto de Educação Josué de Castro. A vivência foi realizada entre 07 a 15/12/19 e englobou três etapas: pré-vivência, vivência e pós-vivência. Na pré-vivência os participantes foram instrumentalizados teórica e metodologicamente. Na oportunidade, contamos com o apoio de Emmanuel Falcão, professor da UFPB. Diante do assassinato de uma liderança comunitária semanas antes, a vivência sofreu ajustes e os participantes não tiveram a oportunidade de dormir no quilombo e interagir em plenitude com os moradores. Com a reorganização da proposta houve divisão em brigadas e rodízios para atuação. Dentre as atividades realizadas destacam-se: imersão cultural na comunidade, produção das refeições, cuidados à saúde, segurança, apoio e mutirão para construção de uma fossa verde. O pós-vivência caracterizou-se por uma avaliação do estágio, foram construídas possibilidades de desdobramentos em novas ações do programa e engajamento dos participantes. Resultado: A vivência possibilitou reafirmar o anseio do programa de extensão e seu compromisso de colaboração longitudinal, foram estreitados os laços com a comunidade, sobretudo com as lideranças e moradores que estiveram colaborando com a construção da primeira fossa verde. Os viventes puderam conhecer as características da comunidade, reconhecer seus desafios e potencialidades e serem sensibilizados para o aguçamento da capacidade crítica reflexiva sobre o contexto social. Considerações finais: A pluralidade de características dos participantes e facilitadores entre distintas formações, cursos, períodos, instituições, gênero e raça possibilitaram agregar novos conhecimentos, diferentes interpretações e leituras de mundo enriquecendo os debates, como estratégia de reafirmação do princípio da integralidade e compreensão do conceito ampliado de saúde. A construção da fossa verde permitiu que duas famílias, escolhidas pela comunidade, tivessem uma melhor condição de dignidade para tratamento do esgoto, maior consciência e preservação ambiental e a mobilização de dezenas de pessoas contribuiu para oxigenar a luta política em defesa da saúde e da vida dos moradores do Quilombo.

10827 PROGRAMA BAHIANA EM DEFESA DA VIDA: SOMOS TODOS QUILOMBO RIO DOS MACACOS
SILVIO ROBERTO MEDINA LOPES, LUCIANA OLIVEIRA RANGEL PINHEIRO, LAVÍNIA BOAVENTURA SILVA, CAROLINA PEDROZA, GABRIEL ANDRADE NONATO QUEIROZ, RENATA REQUIÃO HOLANDA, LÍVIA PRATES SANTOS PADRE, JOHANA CLARA SILVA MASCARENHAS

PROGRAMA BAHIANA EM DEFESA DA VIDA: SOMOS TODOS QUILOMBO RIO DOS MACACOS

Autores: SILVIO ROBERTO MEDINA LOPES, LUCIANA OLIVEIRA RANGEL PINHEIRO, LAVÍNIA BOAVENTURA SILVA, CAROLINA PEDROZA, GABRIEL ANDRADE NONATO QUEIROZ, RENATA REQUIÃO HOLANDA, LÍVIA PRATES SANTOS PADRE, JOHANA CLARA SILVA MASCARENHAS

Apresentação: O Programa de Extensão Bahiana em Defesa da Vida da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), foi criado em 2019 em parceria com a comunidade do Quilombo Rio dos Macacos outros profissionais voluntários sensibilizados pela violação dos direitos humanos dessa população tanto pela negação a diversas políticas públicas quanto iniciativas violentas da Marinha visando sua expulsão do território quilombola. O Programa tem o propósito de promover o empoderamento de comunidades em situações de vulnerabilidade social e o engajamento de discentes e docentes na luta em defesa do direito humano à saúde e a vida. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho é descrever a trajetória do Programa e seus desdobramentos. Desenvolvimento: No primeiro semestre de 2019, a partir de reuniões com a comunidade e seus apoiadores, foram alinhadas expectativas e interesses, pactuados princípios e métodos de trabalho e realizado um levantamento de necessidades sociais de saúde. Foram desenvolvidas ações de educação em saúde em parceria com o componente Saúde Coletiva I do curso de Medicina e realizado o parasitológico de fezes de 40 pessoas da comunidade, em parceria entre a EBMSP e FIOCRUZ que revelou 25% da amostra com parasitoses, sendo 5% com esquistossomose. No segundo semestre, foi apoiada a organização política da comunidade em um setorial de saúde para cogestão do programa e da luta pelo direito à saúde; iniciado um curso de extensão sobre primeiros socorros; e elaborado um projeto, captado recursos e organizado o 1º Estágio de Vivência no Quilombo Rio dos Macacos, quando foi finalizada a construção da primeira fosse séptica através de uma bacia de evaporotranspiração (BET). Resultado: O programa proporcionou o empoderamento da comunidade, pois ampliou a visibilidade da sua luta por direitos dentre os quais à saúde, estimulou maior ativismo e organização política dos quilombolas, em especial da juventude, formou e fortaleceu laços afetivos, políticos e institucionais entre docentes e discentes da EBMSP e a comunidade, ampliou a capacidade de seus moradores em lidar com os problemas de saúde mais comuns e situações que exijam primeiros socorros não profissionalizado, o aprendizado na construção de fossas verdes, elevou a autoestima da comunidade que viu sua cultura e sua voz reconhecidas, desejadas e valorizadas pelo programa. Cerca de 140 estudantes de medicina tiveram contato e contribuíram pela primeira vez com uma comunidade quilombola ou mesmo com outras em situação de similar vulnerabilidade social; 8 estudantes de medicina, psicologia e enfermagem foram extensionistas e construíram ativamente esse programa no 2º semestre de 2019; além desses, 15 estudantes participaram do estágio de vivência; 8 monitores de primeiros socorros facilitaram o curso para a comunidade; e 10 docentes se envolveram diretamente com alguma das ações do programa. Considerações finais: Iniciativas como essas demonstraram potencial de promover transformações na comunidade, na universidade, nos docentes e nos discentes colaborando não só na luta pelos direitos humanos à saúde e à vida, como também por uma sociedade melhor.  

10958 AS APROXIMAÇÕES PARA UM CUIDADO INTERCULTURAL NO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA DO ALTO RIO SOLIMÕES, AMAZONAS
Cristiane Ferreira Silva, Julio Cesar Schweickardt

AS APROXIMAÇÕES PARA UM CUIDADO INTERCULTURAL NO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA DO ALTO RIO SOLIMÕES, AMAZONAS

Autores: Cristiane Ferreira Silva, Julio Cesar Schweickardt

Apresentação: A saúde indígena tem a responsabilidade de desenvolver o cuidado integral aos povos indígenas no país, buscando dialogar com as práticas tradicionais de cada etnia. As Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) tem a responsabilidade de desenvolver as ações de saúde e ao mesmo tempo promover estratégias que possam envolver e integrar outros cuidadores como os pajés, curandeiros, rezadores, parteiras, para além dos saberes biomédicos. No entanto, esse tem sido um dos maiores desafios para a política de saúde indígena nos diferentes territórios do Brasil. Assim, a coordenação da Saúde da mulher, do Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Solimões (DSEI ARS) iniciou atividades de oficinas, em parceria com o Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (LAHPSA/Fiocruz Amazônia) com as parteiras no sentido de valorizar e realizar trocas de saberes no cuidado da saúde das mulheres indígenas. Desenvolvimento: O resultado tem sido a integração das parteiras com as EMSI nas cenas do cuidado das gestantes nas aldeias. Do mesmo modo, foi realizado uma a oficina de cartografia social com pajés e rezadores, em parceria com o grupo de pesquisa da Nova Cartografia Social da Amazônia, núcleo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), no município de Tabatinga, AM. Nessa oficina houve a participação de 06 rezadores e foi aplicado um instrumento para conhecer melhor as práticas dos pajés e rezadores. Depois disso, o formulário com os ajustes foi enviado para cada Polo Base, onde a equipe de saúde se reuniu com as lideranças, pajés e rezadores para aproximação. Na tradição indígena, quando uma pessoa se encontra doente procurar primeiramente os pajés e rezadores. Assim, entendemos que é importante uma aproximação com o grupo e sendo relevante o desenvolvimento de estratégias de apoio às suas práticas. O instrumento buscou mapear o perfil dos pajés para conhecer melhor a sua situação social para depois buscarmos outras metodologias de conhecimento dos seus saberes. Ao todo 97 responderam ao instrumento: Polo Base de Betânia- 10, Campo Alegre-09, Feijoal-02, Filadelfia-10, Nova Itália-17, São Paulo de Olivenca-15, Tonantins-01, Umariaçu I- 11, UmariaçuII- 11 e Vendaval-02. Verificamos que 80% dos pajés e rezadores são da etnia Ticuna. Em relação ao estado civil e idade, 46% são casados e 55% se encontram com 60 anos ou mais. Em relação aos documentos, 94% tem carteira identidade e CPF. Quanto à escolaridade, 43% tem o ensino fundamental incompleto. Quanto ao trabalho e renda, 71% são agricultores, 48% recebem aposentadoria, 32% recebem entre 1⁄2 a 01 salário mínimo.  Em relação à sua prática, 94% continuam exercendo a função de rezador/pajé, 67% realizam suas rezas na própria residência, 65% referem que não são convidados pelo Polo Base para participarem das reuniões e não tem parcerias com a EMSI e 23% referem que já terem participado de outros encontros. Uns 72% já rezou para não indígenas. Quanto à sua identidade, 53% se autodenominam rezador e apenas 25% se veem com pajé. CONSIDERAÇÃO FINAIS: O instrumento nos trouxe uma ideia melhor sobre os rezadores, pajés e curandeiros, permitindo uma aproximação desses cuidadores tradicionais. Desse modo, podemos desenvolver estratégias de colaboração que promovam o cuidado intercultural, respeitando os diferentes saberes que estão presentes nas cenas do cuidado. A proposta do trabalho com as parteiras e pajés é pela promoção de relações mais dialógicas entre as diferentes formas de realizar a atenção à saúde para nos aproximarmos de um cuidado integral e intercultural.

9379 ENTRE-ESPAÇOS: DISCUSSÕES SOBRE SAÚDE INDÍGENA E INSERÇÕES POLITICAS DAS PARTEIRAS POTIGUARA
Nathália Jorge Novais, Juliana Sampaio, Waglânia de Mendonça Faustino e Freitas

ENTRE-ESPAÇOS: DISCUSSÕES SOBRE SAÚDE INDÍGENA E INSERÇÕES POLITICAS DAS PARTEIRAS POTIGUARA

Autores: Nathália Jorge Novais, Juliana Sampaio, Waglânia de Mendonça Faustino e Freitas

Apresentação: Em meio ao atual contexto político do país, no qual presenciamos o desmonte das políticas públicas de saúde e educação, além do agravamento dos ataques aos povos tradicionais, se torna ainda mais premente fortalecer debates que considerem os processos coloniais instaurados, que pautam determinados saberes e modos de produzir cuidados em saúde. O avanço da medicina ocidental causou uma inversão nos modos de cuidados perinatais, transformando a cena do parto, anteriormente da alçada feminina e doméstica, num fenômeno capturado pela lógica do risco, e, portanto, medicalizado, em ambiente hospitalar sob intervenções médicas, majoritariamente coordenadas por homens, retirando o protagonismo da mulher e de sua rede de apoio feminino. No enfrentamento a este processo, os movimentos de humanização do parto defendem, dentre várias estratégias de naturalização do parto, com redução das intervenções desnecessárias e fortalecimento do protagonismo das mulheres no cuidado perinatal e em específico na cena do parto, o reconhecimento e valorização das parteiras tradicionais, dentre elas, as parteiras indígenas. Neste contexto, reconhecem que a presença das parteiras influencia as dimensões fisiológicas, culturais, sociais, espirituais e simbólicas do parto, como um fenômeno individual e coletivo das mulheres. O projeto de extensão Partejar: um olhar sobre os saberes remanescentes das parteiras Potiguara, desenvolvido por docentes e discentes dos cursos de medicina, enfermagem, antropologia e audiovisual, dos campi I e IV da Universidade Federal da Paraíba, UFPB, tem como objetivo produzir discussões, visibilidades e valorizar os saberes, técnicas e práticas de cuidados perinatais de parteiras indígenas Potiguara da Paraíba, a partir de abordagens interdisciplinares. Junto a esse projeto há a colaboração do Partejar: rodas de conversas sobre sentidos, experiências e práticas da parteria indígena Potiguara; e Partejar: formação, difusão e produção audiovisual no (re)conhecimento das tradições indígenas e na resistência dos saberes das mulheres Potiguaras, a fim de abranger as discussões sobre saúde, educação, religião e política para as diferentes áreas presentes no projeto. Para tanto, vem sendo desenvolvidas atividades desde dezembro de 2018, a partir de vivências nas aldeias Potiguara. Os Potiguara se organizam em 32 aldeias localizadas nos municípios de Rio Tinto, Marcação e Baía da Traição. Nelas tem sido realizada visitas às parteiras indígenas, participação em atividades comunitárias, rodas de conversas e entrevistas semiestruturadas. As vivências se realizam quinzenalmente, aos sábados, em dois turnos (manhã e tarde). Nestes encontros com as mulheres Potiguara, parteiras ou não, tem sido possível trabalhar memória e oralidade, o que dentro da metodologia antropológica é imprescindível. As narrativas produzidas com elas, em nossos encontros, têm sido transcritas e analisadas à luz de referenciais teóricos do feminismo indígena e da humanização do parto, valorizando as narrativas de vidas das mulheres e suas lutas cotidianas. Neste caminhar, identificamos processos coloniais de impressão dos saberes ocidentais sobre cuidados perinatais tradicionais. Grande parte desses saberes ocidentais medicalizantes, foram “ofertados” através de cursos do Ministério da Saúde nas décadas de 1990 e 2000. Assim, as parteiras indígenas vão negociando seus saberes ancestrais com as novas demandas do sistema nacional de saúde, construindo novas práticas culturais. Além disso, muitas mulheres Potiguara, parteiras ou não, estão inseridas no sistema de saúde do Vale do Mamanguape, seja na rede municipal ou na rede específica de atenção aos povos indígenas, coordenada pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), como agentes de saúde indígena, técnicas de enfermagem ou enfermeiras. Em suas disputas cotidianas, identificamos estratégias dessas mulheres para conseguir investimentos para suas aldeias e, ao mesmo tempo, resistir com suas práticas, em processos de transformações e dinamismo. No cenário político, conhecemos mulheres ocupando papel de cacique, pajé e vereadoras em suas comunidades, lugares tradicionalmente ocupados por homens. Elas assim, resistem também a processos patriarcais e centrados na figura masculina. Na realidade Potiguara, conhecemos a primeira mulher indígena que conquistou o cargo de prefeita no Brasil, eleita pelo município de Baia da Traição. Na educação, encontramos mulheres que se tornaram ao longo dos anos, referências em suas aldeias, no campo da educação, na garantia de escolas indígenas locais, inclusive com a garantia do ensino de etnohistória e da língua Tupi. No campo da cultura do povo, além da luta contínua por suas terras, essas mulheres protagonizam a resistência na construção de espaços culturais, centros de artesanatos e memorial Potiguara. No campo da religiosidade, identificamos uma cotidiana disputa pela manutenção de seus ritos e crenças, como pela manutenção de rituais como o toré e o cultivo de plantas medicinais, na negociação constante com as crenças cristãs, representadas localmente, especialmente, pelas igrejas católicas e evangélicas. Todas essas disputas e movimentos de resistência tem sido muito difíceis para as mulheres Potiguara, principalmente no que diz respeito ao engajamento das mais jovens no ofício da parteria. Nos seus relatos, as mulheres Potiguara denunciam a forma como as jovens indígenas estão afastadas de sua cultura, desconhecendo os saberes e práticas de cuidados de saúde e rituais religiosos. Nas aldeias mais afastadas esse contexto parece se agravar. No que diz respeito à parteria e ao parto natural e domiciliar, são cada vez mais raras as jovens indígenas que compreendem que o parto em casa (fora do ambiente hospitalar), apoiado por uma parteira tradicional indígena, pode ser seguro e saudável, apesar de serem frequentes os relatos de violência obstétrica sofrida por mulheres indígenas nas maternidades próximas às aldeias. Nos encontros, foi possível observar a organização das mulheres através de suas associações. Por meio da Associação de Mulheres Guerreiras Indígenas Potiguara (AMGIP), tem sido possível articular os saberes acadêmicos e os saberes indígenas, em processos de trocas e produção coletiva de novos sentidos para o bem viver, considerando as construções sobre parto indígena, humanização do parto e assistência a gestação e puerpério. Assim, o projeto Partejar tem sido relevante na produção de eco para as vozes dessas mulheres, seja nas aldeias e fora dela, em especial no âmbito acadêmico, sem tomar ou ofuscar o protagonismo e lugar de fala das mesmas. Compreendemos que as práticas tradicionais de cuidado perinatais estão atreladas ao fortalecimento da cultura Potiguara, em seus processos de transformação e manutenção. E neste contexto, o protagonismo feminino e suas organizações políticas são imprescindíveis para a preservação da cultura e dinamizando sua resistência em meio às transformações sociais.

10056 TERREIRO DE CANDOMBLÉ UM ESPAÇO DE (RE)EXISTÊNCIA E IDENTIDADE ALIMENTAR: UMA REVISÃO NARRATIVA
Jeancarlos Rodrigues Oliveira, Ariandeny Souza Furtado, Diogo Souza Pinto, Andréa Sugai Mortoza

TERREIRO DE CANDOMBLÉ UM ESPAÇO DE (RE)EXISTÊNCIA E IDENTIDADE ALIMENTAR: UMA REVISÃO NARRATIVA

Autores: Jeancarlos Rodrigues Oliveira, Ariandeny Souza Furtado, Diogo Souza Pinto, Andréa Sugai Mortoza

Apresentação: Os terreiros de Candomblé são parte do processo histórico de formação do espaço geográfico e da cultura afrobrasileira com organicidade própria. Os terreiros são os novos quilombos urbanos e, os integrantes deste grupo, possuem uma identidade definida, com formas próprias de organização social, além de ocuparem e utilizarem territórios e recursos naturais como condição para a sua manutenção religiosa, ancestral e econômica. Utiliza-se de conhecimento popular, inovações e práticas geradas e transmitidas pela tradição. Logo, é nos terreiros que a população negra se encontra acolhida e pertencente, sendo esse espaço referência para avançar na implantação e implementação dos atos normativos públicos antirracistas, com destaque para a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra e a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde – PNPIC/SUS. Estas Políticas valorizam a medicina complementar/alternativa, contempla as abordagens terapêuticas tradicionais, como a fitoterapia e as terapias manuais/espirituais e preventivas, que impulsionam o acesso à saúde em sua integralidade, além de compreender o racismo enquanto Determinante Social de Saúde – DSS, potencializar a luta prol Equidade Racial e combater as iniquidades raciais. As iniquidades raciais, são refletidas nos dados de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) os quais são identificados pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), sendo uma escala psicométrica, capaz de avaliar uma das dimensões da SAN em uma população, por meio da percepção e experiência com a fome. Vale ressaltar que os dados do monitoramento dos distúrbios nutricionais que levam em consideração o recorte racial foram sendo melhor compreendidos só após a inclusão de políticas, como a Lei n.º 11.346/2006, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada e institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - PNSAN, estabelecendo os parâmetros para a elaboração do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. No Brasil, 11,5% da população negra vive em situação de insegurança alimentar grave, enquanto entre os brancos o percentual é de 4,2%. Quanto à alimentação, é na população de baixa renda que se verifica o menor consumo de alimentos considerados saudáveis para a prevenção de Doenças Crônicas não Transmissíveis – DCNT. A construção de materiais como o Guia Alimentar Para a População Brasileira representam avanços significativos às políticas públicas. Estes materiais versam pela alimentação compreendida como a relação de incorporar, por meio de determinados alimentos, os compostos essenciais para a manutenção da vida, perpassando as relações socioculturais, econômicas e, sobretudo, coloca a alimentação enquanto ato fundante das relações humanas e sociais. Desenvolvimento: Neste contexto optou-se por uma revisão narrativa de literatura com o objetivo de compreender os diferentes signos e significados do consumo alimentar nos terreiros de Candomblé. Resultado: A história da alimentação nos terreiros de candomblé remonta o fazer e resgata preparações transmitidas por gerações, nesse local onde a alimentação encontra-se com a memória deste povo, faz-se possível a manutenção de uma organização contrária a mercantilização dos alimentos. Mantidos pela metodologia dessas comunidades em cada etapa da aquisição ou cultivo dos insumos necessários para as preparações que perpassam a ritualística dos candomblés. É possível observar nesses espaços a criação de animais que estruturam todo um movimento da chegada, do bom estado, da acomodação até o momento da sacralização, rítmica e cantada. Atenta a cada detalhe que zela pela vida do animal que também servirá para alimentar todos do terreiro, promovendo a SAN através da relação de respeito e cuidado com os bichos que formará o alimento a ser socializado com a ancestralidade e todos da comunidade. Percebe-se no complexo em que se organizam os terreiros de religiões de matriz africana não bem consolidado de forma clara o conceito de SAN, apesar de reconhecerem as manifestações promotoras desta. Observou nestes espaços religiosos a produção de alimentos não convencionais da região centro-oeste, como o Caruru, Amalá, Acarajé, Vatapá, Abará, Acaçá, Axoxô, Ebô, Ebôya, Ekuru, Ipeté, Omolocum, Deburu e entre outras preparações culinárias. Sendo necessária a ampliação da pesquisa que correlacione os contextos da relação cultural e ancestral com a alimentação. Os terreiros localizam-se em setores de classe popular, sendo a maioria da comunidade pessoas de baixa renda, envolvendo uma variada faixa etária desde crianças a idosos/as. Os alimentos preparados e consumidos nesse espaço são insumos externos, porém grande parte das ervas utilizadas para os rituais se encontram plantadas nos locais. A alimentação é servida nos terreiros como um ritual onde existem preceitos específicos para se preparar e comer as refeições. Tais preparações representam desafios para serem preparados, seja pela dificuldade de se encontrar e adquirir os ingredientes essenciais à receita, como o camarão e a farinha branca, seja pelo custo. Compreendendo que nas economias monetarizadas, como a brasileira, dispor de renda é fator preponderante para acessar os alimentos, e que esses conjuntos atravessam os critérios de raça/etnia, religiosidade e interações com sua memória ancestral e próprio racismo. Somente então, possibilitando nova compreensão da realidade podemos mensurar de forma mais aproximada e resolutiva, e desenvolver intervenções conforme as especificidades bem como identificar a (não) implementação das políticas públicas e monitorar/acompanhar seu impacto. Nas pesquisas em desigualdades sociais em saúde, as desigualdades raciais ou étnicas são geralmente atribuídas a diferentes condições socioeconômicas ou valores culturais resultantes da pior inserção social desses grupos na sociedade, que são consequências do racismo. Às diferenças permanecem demonstrando o efeito que o racismo pode ter sobre o estado de saúde da população negra pertencentes às comunidades tradicionais. Os terreiros são espaços de SAN, (re)existências, pertencimento cultural afro-brasileira e de promoção da saúde e da Equidade Racial. Nessa perspectiva, faz-se necessário o poder público transcender ao racismo institucional e atuar de forma mais efetiva na implementação de políticas públicas e prover a efetivação dos Direitos Humanos nas comunidades tradicionais dos terreiros e seu entorno. A sustentabilidade dessas culturas e a SAN está relacionada à promoção da autonomia dos terreiros tanto quanto ao Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA) e a luta antirracista. Considerações finais: Partindo destas considerações, esperasse que o essa revisão narrativa de literatura impulsione espaços e auxilie no desenvolvimento de ações afirmativas prol equidade racial e traçar um perfil da SAN que considere as (re)existências das comunidades tradicionais de terreiros de compreender os diferentes signos e significados do consumo alimentar, e componha banco de dados que ressalte o recorte racial e seja capaz de identificar a (In)SAN de modo a evidenciar os desafios e as possibilidades para implementação de políticas públicas antirracistas e a efetivação de Direitos Humanos conforme as singularidades dos Terreiros de Candomblé.

6305 ESTRATÉGIAS PARA ENFRENTAMENTO DO RACISMO INSTITUCIONAL CONTRA QUILOMBOLAS NO SUS
Douglas Rafael da Cruz Carneiro, Edilene Silva dos Santos, Lorena Nayara Alves Neves, Juliane Lima Alencar, Luelma Pereira Silva dos Santos, Diego Moraes Barral, Bruno Jáy Mercês de Lima

ESTRATÉGIAS PARA ENFRENTAMENTO DO RACISMO INSTITUCIONAL CONTRA QUILOMBOLAS NO SUS

Autores: Douglas Rafael da Cruz Carneiro, Edilene Silva dos Santos, Lorena Nayara Alves Neves, Juliane Lima Alencar, Luelma Pereira Silva dos Santos, Diego Moraes Barral, Bruno Jáy Mercês de Lima

Apresentação: O preconceito racial contra a população quilombola é uma condição cultural decorrente de um processo histórico de segregação social. O racismo compromete o acesso aos serviços de saúde por essas populações. O reconhecimento do racismo institucional como determinante social em saúde é uma estratégia adotada para enfrentamento do racismo. O objetivo desse estudo foi evidenciar na literatura as formas de combate ao racismo institucional contra a população quilombola no SUS. Desenvolvimento: Estudo analítico, de abordagem qualitativa, do tipo Revisão Integrativa da Literatura. Levantamento realizado nas bases LILACS, SciELO, Portal Regional da BSV e PEPSIC, utilizando as palavras chave: população negra, violência, racismo e determinantes sociais em saúde. Resultado: Uma das formas de combate ao racismo institucional no âmbito do SUS foi investir na criação de cursos de capacitação para profissionais de saúde, com a proposta para que reconheçam o que é o racismo institucional e a assistência equânime a população negra, trazendo qualificação e aperfeiçoamento. Além destas, foram identificadas como estratégias as políticas públicas de seguridade, como o Programa de Combate ao Racismo Institucional no Brasil, que trouxe marcos importantes, tais como: elaboração de oficinas e publicações oficiais, objetivando ampliar o conhecimento de profissionais e civis sobre a temática. Considerações finais: A efetividade das políticas ainda é incipiente, entretanto o profissional da saúde tem papel indispensável no exercício do controle social, efetivação de políticas, e garantia de saúde para a população quilombola. A implantação e efetivação de políticas públicas de saúde são fundamentais e indispensáveis para garantia de acesso à saúde para quilombolas, sem discriminação baseada em raça. São necessárias mais pesquisas nessa temática para reunir dados que subsidiem estratégias.

6415 O ASSEGURAMENTO DO DIREITO À SAÚDE PARA AS POPULAÇÕES DO CAMPO, DA FLORESTA E DAS ÁGUAS NO BRASIL
Sâmara da Silva Amaral, Thiago Gomes de Oliveira, Flor Ernestina Martinez- Espinosa, Maria Francisca da Silva Amaral, Natasha Batilieri Ferreira, Adriana dos Santos Ferreira, Paulo Roberto Bonates da Silva, André de Souza Santos

O ASSEGURAMENTO DO DIREITO À SAÚDE PARA AS POPULAÇÕES DO CAMPO, DA FLORESTA E DAS ÁGUAS NO BRASIL

Autores: Sâmara da Silva Amaral, Thiago Gomes de Oliveira, Flor Ernestina Martinez- Espinosa, Maria Francisca da Silva Amaral, Natasha Batilieri Ferreira, Adriana dos Santos Ferreira, Paulo Roberto Bonates da Silva, André de Souza Santos

Apresentação: Abordar os direitos à saúde das populações do campo, da floresta e das águas: enfoque nos desafios e estratégias para a garantir esse direito. Desenvolvimento: Relato de experiência da disciplina Saúde Coletiva do Programa de Mestrado Acadêmico em Saúde Pública do Instituto Leônidas & Maria Deane ILMD da Fundação Oswaldo Cruz Fiocruz Amazônia Resultado: Garantir o Acesso ao Sistema Único de Saúde SUS as populações em situação de saúde do campo, da floresta e das águas. É além de compreender as especificidades e complexidades coletivas e/ou individuais e do território, e também no que se refere a isolamento geográfico, desigualdade social, falta de recursos humanos, tecnológicos, entre outros determinantes de saúde, que desafiam os princípios do SUS de integralidade e equidade em saúde, principalmente. Se faz necessário, entender e diferenciar o que é fator de risco e grupo em vulnerabilidade, para assim poder pensar em planejamento e ações que visam o acesso dessas populações. Outro ponto fundamental na permeabilização do acesso dessas populações na perspectiva do processo saúde-doença, dar-se-á pelo modelo econômico estabelecido como neoextrativista brasileiro, que tem o agronegócio com uma das principais atividades de ‘desenvolvimento’ fazendo uso exacerbado e indiscriminado de agrotóxicos. Causando impactos devastadores no meio ambiente contaminado o território dessas populações, na saúde direta dos trabalhadores que manejam o “veneno”, o que se entende por sequelas provocadas por esses agroquímicos. Tal atividade, é pregada pelo agronegócio como prática de ‘desenvolvimento’ que é pautado no crescimento econômico. E esse crescimento significa necessariamente esgotamento de recursos naturais, degradação e destruição de alguma coisa no meio ambiente, que implica sempre em menos meio ambiente e/ou vida. Portanto a dicotomia entre desenvolvimento e crescimento deve ser entendida. Só pode haver qualquer tipo de desenvolvimento ambiental, ser for sustentável que leva em consideração as regras e os limites da natureza tendo efeito direto na vida e saúde dessas populações. Considerações finais: É de grande relevância, a problematização que as publicações científicas na temática expressam, no que diz respeito a Cobertura de Atenção Primária à Saúde ATPS, que tem como porta de entrada a Estratégia em Saúde da Família ESF e todos seus avanços com potenciais da proporção do acesso. E a crítica pertinente, é que ESF ainda reproduz, em alguns casos, principalmente no manejo da saúde dessas populações, o modelo médicocêntrico. Portanto, é necessário que a ESF, em sua totalidade, lance por terra essa lógica curativista, e se reformule considerando os determinantes de saúde e territorialidade dessas populações, compreendendo os campos divergentes, porém complementativos da saúde coletiva e saúde pública, munindo-se de ferramentas importantes na construção desse modelo mediado pela nova política, a educação permanente dos trabalhadores de saúde e a educação popular.    

6833 A CONDUTA DO PROFISSIONAL DA SAÚDE, FRENTE AS DIVERSIDADES ÉTNICAS E CULTURAIS: REVISÃO INTEGRATIVA
Suellen Karoline de lima Pinheiro, Susany dos Santos Tenório, Daniely da Silva Sena, Elian Coimbra Fontinelli Tavares, Isadora do Nascimento Ribeiro, Catarina Cristina Fraga da Silva

A CONDUTA DO PROFISSIONAL DA SAÚDE, FRENTE AS DIVERSIDADES ÉTNICAS E CULTURAIS: REVISÃO INTEGRATIVA

Autores: Suellen Karoline de lima Pinheiro, Susany dos Santos Tenório, Daniely da Silva Sena, Elian Coimbra Fontinelli Tavares, Isadora do Nascimento Ribeiro, Catarina Cristina Fraga da Silva

Apresentação: A cultura pode ser descrita como um conjunto de valores, crenças, condutas e forma de vivência que são aprendidas, praticadas, compartilhadas e manifestadas por um povo. Diante da variação cultural presente no Brasil, na qual há a prevalência de distintos conhecimentos, destacando o conhecimento religioso e do senso comum, o profissional da saúde que é atribuído de saber científico que tem como objetivo contribuir para o bem-estar do paciente, sendo assim tem que estar atento, compreender e se adequar ao paciente e suas diversidades, com o intuito de preservar seus valores culturais. Desse modo, o presente trabalho traz à tona a conduta ética na relação profissional-paciente, sobretudo com enfoque no conjunto de princípios e valores culturais manifestados pelo cliente, refletindo assim sobre a importância da conduta do profissional de saúde frente a diversidade cultural do país. Dessa forma, o saber ético e bioético é essencial na formação desse profissional, em que é desenvolvido durante sua graduação. Desenvolvimento: Trata-se de uma revisão integrativa, dos bancos eletrônicos Scientific Electronic Library Online (SIELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), foi utilizado os seguintes descritores em ciências da saúde(DECS): “conduta”, ”cuidados de enfermagem”, ”teoria de enfermagem”, “ética”, “diversidade cultural” e “profissional da saúde”, e assim foram selecionados 3 artigos disponíveis em português para a seguinte revisão. Resultado: A Etnoenfermagem é um método construído por Madeleine M. Leininger que faz uso de estratégias e técnicas, auxiliando a interação espontânea entre o enfermeiro e paciente, ajudando a documentar, preservar e interpretar o significado do cuidado e experiência de grupos culturais diversos, além de capacitar o enfermeiro na maior compreensão sobre os significados das experiências do cotidiano das pessoas, em diferentes situações ambientais e culturais. As culturas orientam as definições e explicações de muitos aspectos do ambiente do homem – a magia, as forças sobrenaturais – são valorizadas pelas pessoas, mesmo que se situem no campo da subjetividade. Todas as culturas são cercadas por tabus e mitos, que são ações realizadas pelos indivíduos de certa cultura com o objetivo de entender o ambiente ao qual os rodeiam, e até para prevenção de perigos. De acordo com a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural (TDUCC), proposta por Madeleine M. Leininger. Os profissionais de saúde devem estar atentos a esses aspectos culturais, crenças, e as estruturas sociais, pois, influenciam seu estado de saúde, bem-estar ou doença, ou seja, até mesmo no processo de cura. A partir disso, utiliza essas ferramentas para determinar de forma mais adequada a assistência a ser empregada. Os cuidados de enfermagem satisfatórios, conforme a TDUCC, contribuem para o bem-estar dos indivíduos em diferentes ambientes, alguns clientes, quando não atendidos em suas necessidades religiosas, sentem-se desvalorizados e descriminados, como também não compreendem o motivo de tal tratamento, prejudicando seu autocuidado, e a adesão desses tratamentos. Os pacientes sentem-se mais satisfeitos quando os profissionais valorizam e respeitam o seu modo de viver. Para isso, considerar e compreender o senso comum, religioso desse paciente e todo seu sistema de crença pode acarretar em: uma maior qualidade do cuidado a ser prestado, a prevenção de doenças e entre outras coisas. É importante frisar a inegável intolerância que há no país que ameaçam o direito à liberdade de consciência, de crença, e outras formas de manifestações, aos quais se contrapõe a legislação brasileira. O mesmo ocorre durante as práticas do cuidado que devem considerar a diversidade cultural como forma central. Entretanto, se observa intolerância e preconceito quando práticas de cuidado não oficiais são postas diante do conhecimento considerado científico. A realidade da enfermagem brasileira é campo para implementação da teoria tendo em vista a pluralidade regional de contextos sociais e culturais que suscita diferentes necessidades, significados e expectativas de cuidado. Desde a década de 1960, a Wanda de Aguiar Horta, enfermeira e filósofa, reconheceu a espiritualidade como uma necessidade humana básica é essencial para alcançar qualidade de vida a ser assegurada pelo enfermeiro no plano assistencial ao paciente. Em 2002, para Organização Mundial de Saúde (OMS), além de aspectos como: bem-estar físico, psicossocial, tornou o aspecto espiritual uma diretriz conceitual. Logo, passou a nortear a produção técnico-científica das áreas do conhecimento que compõem as ciências e, sobretudo, da saúde. Assim, como forma de manter e preservar a pluralidade étnica-cultural, é a maneira mais adequada de garantir a identidade, autonomia e a superação de tensão. Considerando que é dever e Lei respeitar valores culturais, sobretudo os religiosos, tendo em vista a pluralidade de expressões de crenças no vasto território brasileiro. Por conseguinte, acredita-se que um dos caminhos para atingir cuidado de formal integral e de qualidade. A partir disso, o profissional da saúde deve adquirir, durante sua fase acadêmica, conhecimentos teóricos e técnicos que o ajudem a enfrentar a diversidade do brasileiro, atribuindo a importância das disciplinas de ética e bioética em sua grade curricular, pois através desse conhecimento social esse especialista estará pronto para situações, na qual o paciente pode recursa-se a utilizar métodos científicos e convencionais, pois agredi sua crença e modo de viver. Desse modo, a conduta desse profissional diante dessas situações é necessária, tendo em vista que além de conhecimentos técnicos, o conhecimento social e humano faz-se necessário diante dessa profissão, em que um vínculo humano deve ser criado para que haja uma resposta mais rápida e positiva do paciente, sendo assim o cuidado humanizado. Considerações finais: Portanto para que haja saúde adequada, deve-se levar em consideração os valores culturais de cada indivíduo, com o viés de preservar sua integridade além de melhorar seu estado emocional uma vez que tais valores influenciam seu estado de saúde, bem-estar e doença, em que a religião é um refúgio para muitos pacientes e isso corrobora para sua melhora fisiológica. Desse modo, o profissional de saúde deve aprender, a lhe dar com as culturas e religiões diversas do nosso país, frisando em cuidados de enfermagem culturalmente eficientes identificando as situações culturais e os seus influenciadores, para que suas atitudes diante do paciente possam ter um cuidado harmônico e de conduta acima de tudo humanizante, tendo em vista que o mais importante é a melhora e cura desse indivíduo doente.

8323 VIVÊNCIA NO ACAMPAMENTO E ASSENTAMENTO DO MST: EXPERIÊNCIAS E SABERES
Beatriz Rodrigues Folha, Arielly Cristina Martins dos Reis

VIVÊNCIA NO ACAMPAMENTO E ASSENTAMENTO DO MST: EXPERIÊNCIAS E SABERES

Autores: Beatriz Rodrigues Folha, Arielly Cristina Martins dos Reis

Apresentação: A Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA) surgiu em 2014 à partir da participação de 40 universidades brasileiras, incluindo institutos federais, com o intuito de levar a discussão da Reforma Agrária para dentro das universidade e outros temas relacionados, como a agroecologia, o uso de agrotóxicos e práticas integrativas e complementares. Em 2018 ocorreu a primeira JURA na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), organizada por estudantes da graduação, pós-graduação e docentes que exercem suas atividades na UFMT. Devido a boa adesão na primeira JURA, em 2019 nos dias 27, 28 e 29 de maio ocorreu a segunda edição do evento, contando com uma programação mais ampla, englobando aspectos que anteriormente não haviam sido abordados, com mais atividades, a exemplo, os cursos ministrados e a vivência em um assentamento e acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que é do qual se trata este relato. Desenvolvimento: Houve uma reunião antes de ir para o assentamento e acampamento, com o intuito de que as pessoas que fossem participar da vivência se conhecerem e dialogarem a respeito do movimento e se já tivesse algum contato com o MST. Foi passado também orientações para a vivência e foi pedido que cada um dos participantes trouxessem 1kg de alimento não perecível para ajudar no mantimento dos assentados, já que os mesmos estavam passando por necessidades com relação a alimentação e acesso a água. Puderam participar da vivência pessoas da comunidade acadêmica e externa, totalizando cerca de 27 pessoas. A vivência ocorreu no acampamento Padre José Ten Cat (Jaciara) e no assentamento Egídio Bruneto (Juscimeira) e foi realizado no dia 18 de maio de 2019 das 07:00 horas as 22:00 horas (contanto o tempo percurso até os municípios), com saída de Cuiabá-MT. Resultado: A mesma estreitou a relação entre a universidade a comunidade e desmistificou a marginalização dos movimentos sociais principalmente o MST que luta piamente contra os grandes fazendeiros e o modelo que esses defendem de produção, fazendo integração com camponeses sobre debate da Reforma Agrária, proporcionando relação direta com os assentados, acampados e a suas produções. Considerações finais: A vivência foi de suma importância para a construção do pensamento crítico dos acadêmicos e da comunidade que participou da vivencia em relação ao que vem sido feito dentro desses acampamentos, uma vez que o movimento tem sofrido grandes ataques e represálias da própria população e poder público. Houve relatos de violências psicológicas praticadas por crianças da região contra os filhos de pessoas que estão hoje acampadas entre outros acontecidos que foram relatados no diálogo entre os acampados e os visitantes.

8486 A INTERLOCUÇÃO ENTRE A GRUPALIDADE, A PROMOÇÃO DA SAÚDE E A MOBILIZAÇÃO SOCIAL NO CAMPO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Rafael Fernandes Tritany, Camila Prott Pessanha, Debora Silva do Nascimento Lima

A INTERLOCUÇÃO ENTRE A GRUPALIDADE, A PROMOÇÃO DA SAÚDE E A MOBILIZAÇÃO SOCIAL NO CAMPO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

Autores: Rafael Fernandes Tritany, Camila Prott Pessanha, Debora Silva do Nascimento Lima

Apresentação: O presente trabalho refere-se a experiência de uma equipe multiprofissional de residentes em saúde da família (RMSF-ENSP/ Fiocruz) em seu campo de prática, uma Unidade Básica de Saúde (conhecidas como Clínica da Família), na zona norte do município do Rio de Janeiro no ano de 2019. Mais especificamente, trata-se do envolvimento da equipe — composta por assistente social, dentista, educador físico, enfermeira, farmacêutico, nutricionista e psicóloga —  na construção e fortalecimento das atividades grupais, entendidas e vivenciadas como potentes espaços de mobilização social e promoção da saúde dos usuários e trabalhadores envolvidos. Os espaços grupais configuram-se como uma das atividades desempenhadas e desenvolvida no âmbito da Atenção Primária. Para além das ações de assistência e educação em saúde esses espaços se destacam pela potência em promover ações que instiguem a participação dos usuários e a promoção da saúde pelo fortalecimento da autonomia dos sujeitos que deles participam. A Clínica da Família (CF) em que atuamos, apesar de relativamente nova (inaugurada em 2016), possui uma característica forte de trabalho com grupos. No entanto, percebemos durante a construção do Diagnóstico Situacional Participativo— etapa de territorialização da equipe de residentes na Estratégia de Saúde da Família (ESF) — que os grupos que ocorriam eram, via de regra, nomeados e focados nas doenças e agravos específicos e mais prevalentes naquela população adscrita. Além disso, outra marca desses era a reprodução de um sistema de hierarquia entre trabalhadores da saúde, os cuidadores, e usuários, os cuidados. A ideologia medicalizadora da vida, entranhada na sociedade contemporânea, tem como princípio o deslocamento de atividades, condições de saúde e situações cotidianas para dentro do saber (poder) médico. Por consequência lógica e obrigatória, tal ideologia retira a autonomia das pessoas sobre suas próprias vidas e desacredita dos saberes populares. Dessa forma, no setor saúde, a práxis em saúde construída ao longo dos séculos retirou os usuários da arena do cuidado e, podemos dizer que, de um modo geral, da participação social nas decisões políticas. No entanto, sabemos hoje da importância (necessidade) da corresponsabilização do usuário no seu cuidado — o autocuidado apoiado —,  da valorização dos saberes populares e ancestrais e da participação popular na construção das políticas públicas de saúde. É nesse sentido que nossas experiências grupais, no coração da Atenção Primária à Saúde, vão ao encontro: da grupalidade ao fortalecimento da autonomia coletiva entre usuários e trabalhadores, o Sistema Único de Saúde (SUS) como uma potência nessa unidade. Tão logo iniciamos nossas atividades na clínica observamos que as atividades grupais, em seus distintos formatos, apresentavam grande potencial para o rompimento dessa lógica medicalizadora e em contrapartida apresentavam-se como espaços que poderiam ajudar a promover o fortalecimento dos usuários, seja pelos movimentos de autonomização e resgate dos saberes populares, seja pelo fortalecimento da participação social e cidadania. Ambos passíveis de serem desenvolvidos no âmbito das atividades grupais. Desta forma, gostaríamos de compartilhar, por meio desta interlocução, as experiências de nossa participação e intervenções profissionais em alguns desses espaços. Espaços estes compostos de múltiplos formatos. Desde grupos fixos a espaços e atividades grupais mais pontuais, como ações de PSE (Programa de Saúde na Escola), e outras ações coletivas de mobilização social e de promoção da saúde. As ações da equipe de residentes focaram-se na expansão e fortalecimento das atividades grupais promovidas pela CF. A partir da identificação de algumas necessidades de saúde levantadas durante a elaboração de um Diagnóstico Situacional Participativo, iniciamos a formação de alguns grupos de convivência para usuários e trabalhadores da clínica. Foram eles, os grupos de dança, de horta comunitária e de artesanato e atividades culturais, que acontecem semanalmente na CF. Nestes espaços procuramos desenvolver atividades que promovam o convívio social entre os atores envolvidos, com ênfase nas ações que incentivem a coparticipação e corresponsabilização na condução desses grupos por parte dos usuários, respeitando suas experiências e saberes nessa trajetória. Esses grupos têm se conformado ainda como potentes espaços de mobilização política e participação popular, onde temos experienciado  importantes momentos de discussão política e mobilização social frente ao cenário de precarização e crise na saúde pública do município. O grupo de horta comunitária, recentemente nomeado como “Plantando Saúde, Colhendo Felicidade”, assim como o de dança, nomeado pelos usuários e usuárias como “Dançando pela Saúde” têm como destaque o protagonismo dos usuários na condução. Nesse primeiro, discutimos temas relevantes acerca do uso racional de plantas medicinais, seu cultivo, agricultura urbana e alimentação saudável. Partimos apenas de uma ideia (desafio) e hoje temos uma horta, dentro dos espaços da CF, que conta com mais de 15 variedades de plantas alimentícias e medicinais, dentre elas o manjericão, a cúrcuma, erva cidreira, citronela, hortelã e muitas outras. Outra iniciativa da residência foi apostar e fortalecer os espaços de atividade física, para usuários e trabalhadores. As atividades físicas, tal como desenvolvidas pelo programa Academia Carioca de Saúde, têm se efetivado como um dos espaços mais dinâmicos e inovadores nas unidades de saúde. Movidos por um forte sentimento de grupalidade, identificamos nesses espaços potentes lugares para o fortalecimento da grupalidade e do sentimento de pertencimento e participação nas atividades da clínica. Atualmente contamos semanalmente com um grupo de caminhada, conduzido pelo educador físico residente em uma extensão das atividades da Academia Carioca. Também promovem-se atividades de pilates durante a semana para os trabalhadores, antes e depois do expediente, por entendermos que os espaços de cuidado desses são fundamentais para garantir o mínimo de suporte para o enfrentamento das dificuldades e desafios da rotina profissional. Ademais, outro eixo fundamental e potente que temos identificado e investido são nas atividades de PSE. Muito além do cumprimento de metas, expressas pelas 12 ações previstas nas atividades de PSE ao longo do ano nas escolas, temos procurado investir no fortalecimento da comunicação e vínculo com as escolas do território. Esse investimento se dá principalmente  através do diálogo promovido junto a direção, coordenação e professores, seja através de espaços de reuniões das redes, seja diretamente nas escolas. Ou seja, mais do que realizar ações de prevenção e educação em saúde junto às escolas, cujo alvo principal são os estudantes, temos procurado fortalecer a rede intersetorial, pelo acolhimento das demandas específicas dos territórios e pela aposta nos profissionais da educação como potentes parceiros no cuidado e articulação da  rede. Dessa forma, observamos através dessas experiências a multiplicidade dos frutos colhidos nos espaços de coletivização dos saberes e cuidados em saúde. Muito mais do que o somatório de atendimentos ou procedimentos individuais, as práticas grupais engendram a grupalidade, que por sua vez é geradora de laços e aprendizados. Além disso,  permitem a horizontalização dos múltiplos saberes e o fortalecimento da autonomia dos sujeitos — seja repensando os processos de trabalho e cuidado ou ampliando a participação social — apresentando-se para nós enquanto um eixo central na construção de um SUS socialmente referenciado.

8801 EXPERIÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO NA COORDENAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DA AMAZÔNIA BRASILEIRA – COIAB NO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE EM DEFESA DA DEMOCRACIA E SUBSISTEMA DE ATENÇÃO À SAÚDE INDÍGENA SASI/SUS
Sarlene Moreira da Silva

EXPERIÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO NA COORDENAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DA AMAZÔNIA BRASILEIRA – COIAB NO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE EM DEFESA DA DEMOCRACIA E SUBSISTEMA DE ATENÇÃO À SAÚDE INDÍGENA SASI/SUS

Autores: Sarlene Moreira da Silva

Apresentação: Trata–se da  representação na  Organização Indígena da Coordenação das Organizações da Amazônia Brasileira – COIAB no Conselho Nacional de Saúde – CNS no ano de 2018, mulher, indígena macuxi na formação de Gestores em Saúde Coletiva Indígena no instituto INSIKIRAN de formação superior indígena da Universidade Federal de Roraima-UFRR, frente a temática da saúde pública e do Subsistema de Atenção a Saúde dos Povos Indígena  –SASI/Sus, propondo, deliberando e adquirindo conhecimentos nos diversos espaços de discussões vivenciados nas comissões do CNS e ministério da saúde em nível local, regional, estadual e nacional, contribuindo com proposições  que concerniram para melhor efetividade da gestão da saúde indígena. O CNS é o maior espaço de articulação e fortalecimento do controle social do país pela defesa de um Sistema Único de Saúde –SUS universal e de qualidade para a população, tendo por finalidade atuar na formulação e controle da execução da Política Nacional de Saúde, nos aspectos econômicos e financeiros, nas estratégias e na promoção do processo de controle social em toda a sua amplitude, no âmbito dos setores público e privado. É composto por 48 membros titulares, sendo, 50% por representantes de entidades e dos movimentos sociais de usuários do SUS, e 50% de membros representantes de entidades de profissionais de saúde, incluída a comunidade científica da área de saúde, entidades de prestadores de serviços de saúde, entidades empresariais com atividade na área de saúde, bem como de representantes do governo, Conselho Nacional de Secretários de Saúde –CONASS e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde –CONASEMS. As reuniões ocorrem mensalmente com diversas pautas não só da saúde como de outros assuntos relevantes (radar) para a sociedade.  Elaboram e aprovam, moções, recomendações de resoluções e deliberações. As participações se dão em diversos eventos do ministério da saúde e outros espaços, onde atuamos como membros de GTs, comissões, debatedores, palestrantes nos fóruns, congressos, seminários, conferências. Os principais foram a  1ª Conferência Nacional de Saúde de Vigilância em Saúde, 13º Congresso Internacional da Rede Unida, 21° Plenário Nacional dos Conselhos de Saúde e Movimentos populares; 12° Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, Seminário de Ética em Pesquisa com Povos Indígenas da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa- CONEP, Seminário: O impacto da Emenda 95 -EC95 na saúde indígena organizados pela CISI, participação em GT de revisão de Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, reuniões do Fórum dos Presidentes de Condisi-FPCONDISI, reuniões da Comissão Organizadora da 6ª Conferência Nacional de Saúde Indígena  e participação nas etapas locais da 6ª CNSI na  Terra Indígena São Marcos, Terra Indígena Serra da Lua e Terra Indígena Yanomami e etapas  distritais  do DSEI-LRR, Yanomami  e DSEI Colíder - Matrogrosso. O CNS conta com dezoito comissões intersetoriais, que acompanham e fiscalizam as ações e serviços do SUS. As comissões têm como objetivo assessorar o plenário do CNS na formulação de estratégias e no controle da execução de políticas públicas de saúde, reiterando os princípios do SUS e do controle social. Cada comissão é composta por até 36 membros, entre titulares e suplentes, indicados pelo CNS, com representações de gestores (as), trabalhadores (as) e usuários (as) do SUS. Entre elas está a Comissão Intersetorial de Saúde Indígena-CISI que assessora o CNS nas deliberações sobre as políticas públicas relacionadas a saúde dos povos indígenas, geralmente  coordenada por indígena eleito no fórum dos usuários, referendado e aprovado no plenário.  No mandato de 2016 a 2018, a COIAB fez parte de seis comissões, a saber: Comissão Intersetorial de Orçamento e Financiamento –COFIN, Comissão Intersetorial de Promoção, Proteção e Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, Comissão Intersetorial de Saúde Bucal-CISB, Comissão Intersetorial de Recursos Humanos e Relações de Trabalho e da Comissão Intersetorial de saúde da mulher –CISMU. O papel do conselheiro (a) indígena perpassa outros espaços como a Secretaria Especial de Saúde Indígena –SESAI-MS instituída pelo decreto 7.336/2010 para gerir via os Distritos Sanitários Especiais Indígenas - DSEI´s ao todo 34, com a participação em reuniões do Fórum dos Presidentes- FPCONDISI maior espaço de controle social de saúde indígena do país, extinguido pelo decreto nº 9.759/2019, uma perda para o controle social indígena.  Os conselheiros são membros organizadores no planejamento e construção da 6ª Conferência Nacional de Saúde Indígena convocada pela portaria n° 1.730 de 13 de junho de 2018, traz como tema: “Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena PNASPI, Vida e Saúde nas comunidades indígenas”, prorrogada por três vezes consecutiva e prevista para ocorrer de 01 a 04 de julho de 2020. Um dos principais objetivos da 6ª CNSI é a atualização da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), que subsidiará as novas políticas diretrizes e efetivar as particularidades étnicas e culturais no modelo de atenção à saúde dos povos indígenas. Nortearam as discussões sete eixos temáticos: I. Articulação dos sistemas tradicionais indígenas de saúde; II. Modelo de atenção e organização dos serviços de saúde; III. Recursos humanos e gestão de pessoal em contexto intercultural; IV. Infraestrutura e Saneamento; V. Financiamento; VI. Determinantes Sociais de Saúde; e VII. Controle Social e Gestão Participativa. Foram realizadas de agosto a dezembro de 2018 (302) etapas locais e (34) etapas distritais reunindo (7.88 delegados) do qual (2 mil delegados) participarão da etapa nacional que deveria ocorrer nos dias 27 e 31 de maio de 2019. Ao todo elaboradas (2.380) propostas consolidadas em (300) proposições que serão analisadas e discutidas em 20 grupos de trabalho, formados por representantes de usuários (50%), de trabalhadores (25%) e de gestores (25%) e servirão de diretrizes para a formulação da nossa nova PNASPI. No Brasil atualmente os povos indígenas somam mais de 817.963 pessoas, representando 305 etnias e falantes de 274 línguas indígenas, a importância de realizar uma conferência dessa magnitude se dá devido as riquezas e especificidades e multiculturalidade dos povos. A luta pela garantia da democracia e de uma saúde universal, equânime para a população pela atuação dos conselheiros (as) desde a reforma sanitária que criou o maior sistema de saúde do mundo, foi um dos principais pontos observado, os municípios os estados que são responsáveis pela gestão e os conselheiros pela fiscalização devem exercer de fato a sua função, acompanhando a execução dos recursos, promovendo a formação, e o diálogo, garantindo resolutividade e um atendimento digno a sociedade. Dessa forma, espera-se que a atuação dos conselheiros se dê forma contínua e efetiva na formulação, controle e execução da Política Nacional de Saúde, nos aspectos econômicos e financeiros, nas estratégias e na promoção do processo de controle social em toda a sua amplitude, no âmbito dos setores público e privado. O acompanhamento da atuação do setor privado da área da saúde, na aprovação de parâmetros nacionais quanto à política de recursos humanos para a saúde, no fortalecimento da participação e o controle social no SUS. No estabelecimento de diretrizes gerais e fiscalização, acompanhamento e monitoramento no âmbito da saúde pública brasileira, em especial a saúde dos povos indígena no país, lei 9.836.99 e 8.142.90 no que diz respeito a saúde indígena específica e diferenciada para os povos indígenas.

10759 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL DAS POPULAÇÕES DA FLORESTA CAMPO E ÁGUAS: RELATO DE EXPERIENCIA A PARTIR DAS VIVENCIAS DE ACADÊMICOS DE SAÚDE EM COMUNIDADE QUILOMBOLA MURUMURU (PA)
raissa vasconcelos Rego, Larissa Luana Silveira Pereira, Helen Amanda Pinto dos Santos

POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL DAS POPULAÇÕES DA FLORESTA CAMPO E ÁGUAS: RELATO DE EXPERIENCIA A PARTIR DAS VIVENCIAS DE ACADÊMICOS DE SAÚDE EM COMUNIDADE QUILOMBOLA MURUMURU (PA)

Autores: raissa vasconcelos Rego, Larissa Luana Silveira Pereira, Helen Amanda Pinto dos Santos

Apresentação: A Política Nacional de Saúde Integral das populações do Campo, Floresta e das Águas é o resultado de um imenso esforço de movimentos sociais em prol da universalidade no acesso aos serviços de saúde, bem como o estabelecimento de ações específicas que melhorem a situação de saúde dessa população em observância aos determinantes sociais que resultam no aceleramento do binômio saúde-doença. Para tanto nota-se que as populações ribeirinhas, quilombola, águas, floresta e campos não tomaram para si a existência da política, bem como os espaços de participação e controle social, para isto, os acadêmicos da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) orientador do componente curricular de “Saúde do Campo, Florestas e Águas” com os alunos dos cursos de Saúde coletiva, Bacharelado Interdisciplinar em Saúdes vinculadas ao Instituto de Saúde Coletiva(ISCO) elaboraram uma atividade de levar ao conhecimento da comunidade Murumuru comunidade quilombola localizada a oeste do Pará no Município de Santarém. O trabalho proposto tem por escopo relatar a experiencia de socializar os conhecimentos com a comunidade por meio das experiências ligados a realidade da comunidade facilitando a exposição da Política Nacional de Saúde Integral das populações do Campo, Floresta e Águas (PNSIPCFA), assim como mostrar caminhos e espaços de participação e controle social das demandas da comunidade. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência a partir de vivencias resultantes da socialização e discussões a repeito da Política de atenção aos povos da campo, floresta e águas componente curricular do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) que serviram de base para discussão e o reconhecimento da política para os moradores da comunidade de Murumuru a oeste do município de Santarém no estado do Pará. Para dar visibilidade aos pressupostos presentes na política foram feitos dinâmicas de perguntas e respostas envolvendo acadêmicos e comunidade. Resultado: O esclarecimento sobre o conteúdo da política trouxe algumas inquietações a comunidade, tais como: Participação da comunidade nas decisões em instituições de controle e participação social no que tange a saúde e outros serviços que o Estado se propõe a prestar, a responsabilização sobre papel das universidades nesses espaços como facilitadora no processo de transparência das politicas públicas, bem como a curiosidade na resinificação da concepção de saúde naquela comunidade. Considerações finais: Nessa perspectiva, observa-se a falta de acesso a informações existentes sobre política por parte da comunidade e como consequência há a omissão de direitos por parte das instituições de saúde, mas que poderiam ser reivindicados pela população quando estes munidos de informação possam ter autonomia dos direitos elencados na política, assim o papel da universidade fortalecer o protagonismo das populações tradicionais na região amazônica em contexto transversal dos determinantes sociais. Destaca-se também a importância do futuro profissional de saúde no reconhecimento da política em relação aos comunitários, pois com as peculiaridades de cada população iram exigir estratégias que minimizem os determinantes em saúde.

12279 PROTAGONISMO E RESISTÊNCIA DAS MULHERES INDÍGENAS GUARANI E KAIOWÁ: VOZES QUE CLAMAM POR UMA ATENÇÃO DIFERENCIADA NA SAÚDE
Adriana Fernandes Carajá, Alzira de Oliveira Jorge, Eni Carajá Filho

PROTAGONISMO E RESISTÊNCIA DAS MULHERES INDÍGENAS GUARANI E KAIOWÁ: VOZES QUE CLAMAM POR UMA ATENÇÃO DIFERENCIADA NA SAÚDE

Autores: Adriana Fernandes Carajá, Alzira de Oliveira Jorge, Eni Carajá Filho

Apresentação: A Grande Assembléia das Mulheres Kaiowá e Guarani – Kuñangue Aty Guasu é uma das formas de organização das mulheres indígenas Guarani e Kaiowá que iniciou suas atividades em 2006, no território sagrado Nãnderu Marangatu, município de Antônio João- Mato Grosso do Sul. Nos dias 16 a 20 de setembro de 2019, foi realizada a VII Grande Assembléia das mulheres Kaiowá e Guarani, a Kuñangue Aty Guasu na terra indígena Yvy Katu Potrerito, localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai, no município de Japorã-MS. Nesse evento estiveram reunidas aproximadamente 600 pessoas: os rezadores (Nãnderu), as rezadeiras (Nãndesy), crianças, jovens, trabalhadoras e Conselheiras de Saúde indígena, além de autoridades de âmbito Regional, Estadual e Federal, organizações indigenistas e outros movimentos parceiros. Como nas demais Assembléias da Kunãgue Aty Guasu as mulheres indígenas priorizaram pautas especificas da saúde indígena como: o papel das rezadeiras (Nãndesy), dos rezadores (Nãnderu), sobre a valorização do saber, da medicina tradicional indígena, do trabalho das parteiras e do acesso aos serviços de saúde de modo específico e diferenciado de então competência da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde-SESAI. Além desses assuntos também aconteceram mesas e oficinas que abordaram: a saúde materna e a violência obstétrica; os cuidados das parteiras Guarani e Kaiowá nos territórios indígenas; a necessidade de diálogo entre a rede interna e externa de cuidado à saúde indígena; os encaminhamentos para a saúde indígena (SESAI); a defesa pela realização da 6ª Conferência Nacional de Saúde Indígena; a violência nos corpos/vidas das mulheres Guarani e Kaiowá e a proteção para as crianças e mulheres indígenas e jovens em situação de violência e fome. Objetivo: Este texto pretende dar visibilidade ao protagonismo das mulheres indígenas da Kuñangue Aty Guasu nos espaços de participação e Controle Social e no debate da temática da saúde indígena quando priorizam essa agenda em suas atividades. Desenvolvimento: Trata-se de um relato experiência produzido a partir do olhar de uma pesquisadora indígena que compõe o Observatório de Políticas Públicas e Cuidado da UFMG quando participou da VII Kuñangue Aty Guasu - Grande Assembléia de mulheres indígenas Guarani e Kaiowá. Para esse texto recorremos aos registros do diário de campo da pesquisadora bem como do Documento Final da VII Kunãgue Aty Guasu. Observou-se que durante todo o evento foram priorizadas as falas das mulheres indígenas em especial das Nãndesy, parteiras, anciãs e das mulheres que detém o conhecimento tradicional em suas comunidades. Os diálogos eram feitos na língua materna dos povos indígenas presentes: Guarani, Kaiowá e Ñandeva e posteriormente era realizada a tradução por alguma pessoa que dominasse as línguas. Ao final do evento foi elaborado um relatório final com as proposições e recomendações aos órgãos governamentais e instituições não governamentais que se encontra disponível para conhecimento público. Resultado: A experiência revelou que as mulheres indígenas Guarani e Kaiowá estão organizadas e vem cada vez mais ocupando espaços, outrora distantes, pelos indígenas, inclusive cargos nos serviços de saúde indígena bem como vem lutando para garantir maior participação nos Conselhos de Saúde e demais instâncias de participação e Controle Social. Durante a plenária as mulheres Guarani e Kaiowá denunciaram na presença das instituições governamentais, as tentativas de silenciamento e apagamento de suas vozes e enfatizaram que suas presenças nos espaços que são destinados constitucionalmente para elaboração de diretrizes e discussão de Políticas Públicas de Saúde, podem contribuir na sensibilização e humanização do cuidado junto aos demais participantes, através do compartilhamento de saberes, defendendo a valorização das práticas tradicionais, levando ao fortalecimento do vínculo com a rede, desfazendo preconceitos e intolerâncias. Tudo isso levando sempre em consideração que a medicina tradicional Guarani e Kaiowá, que vem acompanhada por massagens, rezas, chás e de uma boa escuta necessita de um olhar sensível que respeite seus costumes e tradições. As mulheres indígenas Guarani e Kaiowá ao escolherem a Saúde Indígena como um dos temas centrais do evento, analisaram as questões da estrutura do Sistema Único de Saúde, vislumbraram formas de conquistar mudanças na SESAI e nas estruturas do Governo Estadual para assegurar a integralidade na assistência, a equidade na atenção e na alocação de recursos pelo Governo Federal/Ministério da Saúde, na implantação de ações prioritárias para saúde dos seus povos. Foram condenadas todas as formas de desvalorização e criminalização do trabalho das parteiras e das Ñandesys, enfatizando que valorizá-las é fortalecer quem cuida de vidas e que vidas importam e que por isso elas lutam pelo reconhecimento do trabalho desempenhado junto à comunidade. Registrou-se uma expressiva preocupação com a tentativa de extinção pelo atual Governo Federal de uma conquista coletiva dos povos indígenas que foi a criação de uma estrutura especifica no Ministério da Saúde que é a Secretaria Especial de Saúde Indígena- SESAI, quando impõe a municipalização das ações e serviços, sem qualquer diálogo, bem como promove outros desmontes nas demais políticas, ferindo os direitos dos povos originários. A assembléia também apontou a necessidade de intensificação no enfrentamento de todas as formas de violência, sobretudo no que diz respeito à expropriação de seus territórios tradicionais, pois não há saúde sem terra. Considerações finais: A participação na Kunãgue Aty Guasu de mulheres indígenas Guarani e Kaiowá que atuam nas esferas de Controle Social do SUS, fortaleceu o debate, a troca de experiências, além de se instituir como uma potente estratégia de Educação Permanente para o Controle Social no SUS.  Assim, ficou nítido que essas Assembléias são verdadeiros espaços de escuta e que devem ser reconhecidos instrumentos de participação e discussão da complexidade que é a saúde e suas interfaces, respeitando as singularidades, modo de ser e bem viver de cada etnia. Dessa forma, a inserção do tema Controle social na vida das mulheres indígenas Guarani e Kaiowá no que se refere a participação das mesmas nas variadas instâncias como nos Conselhos Locais e Distritais de Saúde Indígena, Conferências, nos Conselhos de Saúde, contribui para compreensão e opinião sobre o planejamento de ações e serviços de saúde, no financiamento, na fiscalização da origem e  execução  de recursos, principalmente quando se trata  da sua própria  comunidade. Portanto, a presença das mulheres indígenas Guarani e kaiowá nas instâncias de controle e de participação social do SUS, é uma ação de relevância pública, que as tornam protagonistas, representantes das demandas dos seus povos junto ao poder público e aos demais atores sociais, fortalecendo a mobilização do segmento de usuários e trabalhadores da saúde indígena na defesa do Sistema Único de Saúde e da atenção diferenciada aos povos indígenas.

8885 DIA DO ORGULHO NEGRO: UMA EXPERIÊNCIA DE VALORIZAÇÃO CULTURAL E PARTICIPAÇÃO POPULAR EM UMA COMUNIDADE DA CIDADE DE CAMPINAS
Andressa Teoli Nunciaroni, Livia Agy Loureiro Zanetti, Luana Muriel Fabricio, Olivia Ornelas Luiz, Rosa Brasilina Abrantes, Igor do Nascimento Mesquita

DIA DO ORGULHO NEGRO: UMA EXPERIÊNCIA DE VALORIZAÇÃO CULTURAL E PARTICIPAÇÃO POPULAR EM UMA COMUNIDADE DA CIDADE DE CAMPINAS

Autores: Andressa Teoli Nunciaroni, Livia Agy Loureiro Zanetti, Luana Muriel Fabricio, Olivia Ornelas Luiz, Rosa Brasilina Abrantes, Igor do Nascimento Mesquita

Apresentação: O Conselho Local de Saúde da unidade de saúde localizada no município de Campinas (SP) percebeu, durante as reuniões e discussões, a ausência de atividades culturais no território, levando a pensar o que poderiam fazer para oferecer à população o contato com a cultura e orientações sobre como exigir do Poder Público mais eventos culturais na região. Sabendo que a população local é majoritariamente negra, foi definido organizar um evento na Unidade de Saúde para valorizar a cultura negra e ampliar a valorização do orgulho negro. Os objetivos foram: estimular o fortalecimento de vínculos entre membros da comunidade do território e acadêmica por meio da cultura negra; encorajar a participação popular no SUS por meio da aproximação entre Conselho Local de Saúde e comunidade; desenvolver um dia gratuito de trocas e vivências no tema da cultura negra. Desenvolvimento: Inicialmente foi elaborado o Núcleo Criativo para organizar o evento, com reuniões periódicas, totalizando quatro encontros. Tais reuniões aconteceram entre julho e novembro de 2018 e objetivaram convidar os parceiros da comunidade, organizar as atividades a serem realizadas, planejar o orçamento e o cronograma do dia do evento. Em todas as etapas do desenvolvimento do evento participaram membros do Conselho Local de Saúde do Centro de Saúde do território, membros da comunidade, trabalhadores locais e estudantes da Unicamp (que faziam estágio na unidade de saúde). O projeto foi aprovado por um Edital de cultura da Unicamp e pôde ser financiado, oferecendo tudo gratuitamente à população. Resultado: O Dia do Orgulho Negro foi realizado na unidade de saúde e contou com Oficina de turbantes, Capoeira, apresentação de danças (Hip hop, Dança de rua, Rap, Samba, Coco, Dança afro), apresentações musicais, resgate às brincadeiras de rua, diálogos abertos, cinema temático, oficina de Grafite, Parede do orgulho negro (exposição em reconhecimento às pessoas que influenciam a cultura negra), oficina de maquiagem e cabelo para a mulher negra, todas implementadas por parceiros da comunidade ou que realizavam atividades voltadas para a população negra. Participaram em média 400 pessoas e o Conselho Local de Saúde foi referência para o evento. Considerações finais: A extensa população negra do território pôde criar laços de identificação com a equipe de saúde, o Conselho Local e demais serviços da comunidade, desde a organização do evento até sua realização. Os moradores do bairro e transeuntes participaram de um dia repleto de cultura e atividade de valorização da população negra, com fortalecimento de vínculos na própria comunidade, potencializando a criação de futuras parcerias e desenvolvimento de novas atividades comunitárias e promovendo ampla participação social e interesse por questões relacionadas à participação popular e controle social.

11029 RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICOS DE MEDICINA EM UM PROGRAMA DE ATIVIDADE CURRICULAR DE EXTENSÃO SOBRE DISFUNÇÕES DO ASSOALHO PÉLVICO E QUALIDADE DE VIDA PARA MULHERES INDÍGENAS
Fernando Lopes, Deise Andrade Melo, Emanuelly Maria Lima Barbosa, Luisa Tiemi Souza Tuda, Samara Santos Nascimento, Sandro Adriano de Souza Lima Junior, Quelly Christina França Alves Schiave

RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICOS DE MEDICINA EM UM PROGRAMA DE ATIVIDADE CURRICULAR DE EXTENSÃO SOBRE DISFUNÇÕES DO ASSOALHO PÉLVICO E QUALIDADE DE VIDA PARA MULHERES INDÍGENAS

Autores: Fernando Lopes, Deise Andrade Melo, Emanuelly Maria Lima Barbosa, Luisa Tiemi Souza Tuda, Samara Santos Nascimento, Sandro Adriano de Souza Lima Junior, Quelly Christina França Alves Schiave

Apresentação: A universidade cumpre um grande papel no âmbito social. Desta maneira, dentre os três pilares básicos que constituem uma universidade, ensino, pesquisa e extensão, a extensão abrange as atividades promovidas pela instituição de ensino superior e a comunidade na qual está inserida, ultrapassando o ambiente acadêmico para um contato com o público externo à universidade. Tendo em vista o objetivo principal dessas atividades de extensão, que é a troca de conhecimento entre os dissentes e a comunidade, no dia 7 de dezembro de 2019, um grupo de acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas juntamente com uma docente do curso desenvolveram um projeto de extensão visando esclarecer e orientar as mulheres indígenas do Parque das Tribos, em Manaus (AM), a respeito das disfunções do assoalho pélvico correlacionando com a qualidade de vida dessas mulheres. Sabe-se que mesmo com os avanços na atenção da saúde indígena, esta população ainda apresenta um índice de óbitos sem assistência médica maior do que os índices de brancos. No que se refere à saúde feminina indígena, acredita-se que há disfunções do assoalho pélvico nessa população que possam influenciar na qualidade de vida dessas mulheres, todavia, ainda há muito que pesquisar, analisar e discutir, e muitas das vezes, há uma barreira no contexto de variáveis antropológicas, como estilo de vida e padrões culturais. Dessa forma, os estudantes utilizaram-se dos conhecimentos na área acadêmica e uma linguagem adequada a realidade dessa população para favorecer a melhora do programa de atenção à saúde dessas mulheres e, em uma roda de conversa com elas, mostraram no modelo anatômico a localização dos músculos do assoalho pélvico e explanaram sobre dispaneuria, uma dor durante a relação sexual que pode estar relacionada a fraqueza dos músculos dessa região. Além disso, também as conscientizaram sobre a importância de se realizar o exame preventivo anualmente e sempre procurar um Ginecologista. E ao final da conversa as deixaram bem à vontade para fazerem perguntas ou esclarecer alguma dúvida quanto aos assuntos abordados. Desenvolvimento: O Projeto de Extensão foi realizado por seis acadêmicos de medicina do terceiro período da Universidade Federal do Amazonas, com a orientação e supervisão da docente responsável. O objetivo do mesmo consistiu em informar a população de uma comunidade indígena sobre as principais causas de disfunções do assoalho pélvico, buscando também auxiliar na melhora da qualidade de vida de mulheres que possuem tais disfunções. Para a efetivação deste Projeto, a professora responsável buscou o chefe da comunidade indígena e agendou uma visita no bairro em questão; foi acordado de que a mesma levaria os materiais necessários para explicações didáticas sobre anatomia humana da pelve. Coube aos acadêmicos envolvidos estudar o assunto, a saber, anatomia da pelve, sinais, sintomas e principais causas de disfunções de assoalho pélvico e maneiras de preveni-las, assim como de fortalecer o assoalho pélvico. Além do mais, foram desenvolvidos panfletos informativos sobre disfunção pélvica, com linguagem acessível à comunidade alvo. A visita foi realizada em local situado no centro da comunidade. Esperava-se que a maioria das mulheres participassem, não obstante, mesmo com a divulgação do evento, apenas sete compareceram. Antes e ao fim da roda de conversa, durante a qual as mulheres foram instruídas a se sentirem livres para interromper e fazer questionamentos acerca do assunto, foram aplicados questionários sobre as disfunções pélvicas. Assim, foi possível analisar a quantidade e, talvez, a qualidade de informações adquiridas pelas mulheres com o projeto. Resultado: Perante o término da roda de conversa ministrada pelos acadêmicos acerca da saúde da mulher com enfoque no enfraquecimento do assoalho pélvico, foi observado um maior envolvimento dos discentes com o público, o que os estimulou principalmente a desenvolver uma oratória objetiva e adaptada à realidade do ouvinte. Dessa maneira, o maior contato entre os estudantes e o público proporciona a prática de habilidades ainda deficitárias na formação médica: a capacidade de transmitir um assunto complexo na comunidade, expondo-o de forma simples e em uma linguagem acessível, criar vínculos com o público com o objetivo de promover uma atmosfera confortável para o debate e saber lidar com imprevistos. Além disso, a realização de uma atividade extracurricular de extensão trouxe uma nova perspectiva para os discentes, pois ao trocar o ambiente de aprendizado tradicional da sala de aula, foi possível tornar-se autônomo na busca de informações e colocar em prática o conhecimento teórico. Dessa forma, ao se palestrar em uma comunidade indígena, o acadêmico além de sair da zona de conforto, pode vivenciar a realidade de diferentes grupos sociais, no que tange as iniquidades sociais e processo saúde-doença. Portanto, essa experiência distinta possibilitou um olhar crítico das carências na saúde indígena e formas de auxiliar no seu aperfeiçoamento. Ademais, no decorrer da apresentação, muitos questionamentos foram colocados em pauta, tanto sobre o enfraquecimento do assoalho pélvico, quanto a saúde da mulher em geral, evidenciando que as populações indígenas da cidade de Manaus buscam progressivamente se sensibilizar com a promoção da saúde, logo sendo essencial a continuidade de programas que as assistam. Considerações finais: A partir da vivência dos acadêmicos no projeto de extensão tratando de um tema pertinente para a saúde da mulher “disfunções no assolho pélvico relacionado à qualidade de vida”, foi possível perceber o papel que os estudantes podem ter como agentes de transformação social, levando educação em saúde para uma comunidade que possui maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde e educação. As indígenas participantes demonstraram diversos questionamentos acerca do tema, além de outros relacionados à saúde, evidenciando a importância dessas ações de extensão para transmitir informações. Ademais, foi uma experiência enriquecedora não apenas para as mulheres indígenas, como também para a formação dos futuros médicos ao proporcionar o contato com a comunidade, possibilitando prática na comunicação, a qual será necessária na rotina profissional. Essa vivência permitiu, por parte de cada aluno, uma reflexão acerca dos desafios que ainda precisam ser superados para que a saúde e educação sejam acessíveis a toda população, e ainda, como sua atuação como futuro profissional de saúde pode contribuir para esse processo. Diante disso, constata-se que: não se limitando às salas de aula, a realização de ações como esta são de grande impacto para a comunidade indígena por agregar conhecimento e ocasionar melhorias nas condições de saúde, além de contribuir para o desenvolvimento pessoal e acadêmico dos futuros médicos. Sendo assim, a experiência foi essencial para as duas faces participantes e necessária para colaborar com o progresso da acessibilidade à educação em saúde.

8906 CONTROLE SOCIAL: A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DA COMUNIDADE PARA UM MELHOR EXERCÍCIO DA CIDADANIA E CONTROLE SOCIAL NO SUS
Adailton de Jesus Gomes Costa, Rui Massato Harayama

CONTROLE SOCIAL: A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DA COMUNIDADE PARA UM MELHOR EXERCÍCIO DA CIDADANIA E CONTROLE SOCIAL NO SUS

Autores: Adailton de Jesus Gomes Costa, Rui Massato Harayama

Apresentação: A participação da população no controle do Sistema Único de Saúde-SUS é um direito de todos, foi conquistada e garantida pelos movimentos sociais no conhecido movimento pela Reforma Sanitária Brasileira. Eles conseguiram por meio da Lei 8142/1990 garantir a participação da população nas decisões do SUS. A Lei prevê que essa participação se dará nas conferências e conselhos de saúde. Este trabalho descreve minha participação em algumas pré-conferências e na 15ª conferência municipal de saúde de Santarém no oeste paraense. Nas pré-conferências contribui como apoio, como acadêmico do curso Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal do Oeste do Pará. Na Conferência participei como delegado pelo seguimento trabalhador. Participei de uma pré-conferência, na zona urbana da cidade, uma em região quilombola e outra na região ribeirinha do município. Foram três realidades bem distintas, sobretudo, quando estamos na Amazônia. Alguns pontos chamam atenção nessas etapas, um deles, é que o tempo de debate foi de maneira geral curto, e a maioria das propostas levantadas eram inexequíveis considerando a realidade em que estávamos. Da etapa que reuniu diversas comunidades ribeirinhas, uma das propostas defendidas foi a construção de uma UPA 24h para atender uma população de aproximadamente 500 pessoas, outra incluía a construção de um centro de imagens e diagnóstico para uma população inferior a um mil habitantes. A etapa da zona urbana, reuniu cerca de  7 bairros, a população estimada dos mesmos é de 50 mil habitantes, dentre as propostas levantadas, predominou a construção de UPA 24h para atendimento da população da grande área. As propostas mais condizentes com a realidade vieram da região quilombola, onde os participantes pediram por exemplo a implantação de ESF ribeirinha, para atender as comunidades ribeirinhas que estavam lá, bem como melhorias na UBS que atende a população. Por fim a Conferência Municipal de saúde foi realizada nos dias 27 e 28 de junho de 2019, Muitos delegados durante os debates das propostas, se posicionavam contra modificações ou supressões em respeito as propostas que tinham vindo das pré-conferências, ora, a conferência é justamente o espaço para amadurecimento das propostas, seleção das mais viáveis e que tragam mais benefícios para a população, uma conferência de saúde, não deve ser vista como mecanismo para aprovação automática do que vem das etapas anteriores, se não qual seria o sentido de se fazer uma conferência. Os dados das pré-conferências e da conferência, mostram que a população não está sendo (in)formada dos seus direitos, o consolidado de propostas mostra que o modelo hospitalocêntrico, muito criticado pelos estudantes e profissionais de saúde ainda é querido pela população. Os resultados dessa observação, mostram que as universidades que formam profissionais de saúde ainda estão sendo pouco eficientes em contribuir com reflexões extra muros que ajudem a população no exercício da cidadania. Por outro lado, os movimentos sociais, muitos dos quais possuem representantes “perpétuos” no conselho de saúde, também não tem conseguindo contribuir para outras formas de pensar saúde, ou mesmo dentro dos movimentos realizar formações que contribuam para outros jeitos de pensar saúde.  

10601 O ESTADO BRASILEIRO E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: UMA PERSPECTIVA POLÍTICA, SOCIAL E ECONÔMICA DE SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE.
Priscilla Mendes Cordeiro, Andreina Maciel de Sena dos Santos, Bruno Geremias Bonfim de Oliveira, Amanda da Silva Melo, Firmina Hermelinda Saldanha Albuquerque

O ESTADO BRASILEIRO E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: UMA PERSPECTIVA POLÍTICA, SOCIAL E ECONÔMICA DE SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE.

Autores: Priscilla Mendes Cordeiro, Andreina Maciel de Sena dos Santos, Bruno Geremias Bonfim de Oliveira, Amanda da Silva Melo, Firmina Hermelinda Saldanha Albuquerque

Apresentação: A Constituição Federal  (CF) de 1988 é considerada por muitos pesquisadores uma das cartas mais progressistas do mundo, por abranger um leque generoso de direitos civis, políticos e sociais [1], com a reafirmação de um Estado Democrático, advindo desta constituição, as políticas de saúde passaram a ser dever do Estado e um direito a todos os cidadãos, trazendo em seus elementos constitutivos uma visão da participação popular na construção deste documento e um fortalecimento da democratização aliada ao desenvolvimento econômico. Entretanto, a CF88 também manteve em seu texto, alguns elementos conservadores, existentes em constituições anteriores, nas áreas econômicas, tributárias e administrativas [2], tás elementos, vinculados a uma lógica capitalista, contribuíram progressivamente para o agravamento de um problema estrutural e histórico do Brasil, as desigualdades sociais. Por tanto, o desenvolvimento de políticas ousadas nas décadas de 80, como o projeto de reforma sanitária, por exemplo, exigia um enfrentamento direto desta estrutura social, visto que após a nova constituição os conceitos de cidadania e cidadão se expandiram teoricamente, a todos, neste sentido surgiu o Sistema Único de Saúde – SUS, na esperança de diminuir tais desigualdades e proporcionar uma política de saúde democrática e gratuita. Para se compreender a implantação do SUS, objeto de análise deste trabalho, se faz de extrema importância destacar as marcas das desigualdades econômicas e sociais do país, pois, diante desta problematização será possível, através de uma metodologia de pesquisa, identificar os erros e acertos neste processo de luta, pela melhoria das políticas publicas voltadas para a saúde. O objetivo deste trabalho é compreender o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde no Brasil, através de uma perspectiva política, social e econômica, identificando os principais impactos na sociedade e suas consequências na atualidade. A investigação foi realizada através de pesquisas bibliográficas, com trabalhos desenvolvidos relacionados ao tema, estudos qualitativos e quantitativos, com objetivo de embasar a pesquisa, trazendo dados concretos relacionando-os e problematizando-os aos tópicos em questão. Consiste em revisão integrativa que utilizou de palavras chaves SUS, Política e Sociedade, na base de dados Scielo, onde foram encontrados 175 artigos, tendo como critério de inclusão estudos em português ou inglês, publicado nos últimos 10 anos, sendo que o ano de publicação mais frequentes nesses estudos foi de 2014, seguido de 2017. Foram selecionados 09 artigos que obedeciam os critérios de inclusão. Dos resultados encontramos entre outros o aspecto o impacto do programa sobre o provimento e fixação dos médicos. Vários trabalhos apontam que o Programa mais médicos (PMM) foi responsável pelo provimento emergencial de cerca de 14.000 médicos na atenção primária à saúde nos primeiros 10 meses de funcionamento, distribuídos em 3.785 localidades, inclusive em quilombos e aldeias indígenas. Outro impacto apresentado foi o aumento da relação médico por 1.000 habitantes em diferentes localidades do país e a redução da carência em localidades tradicionalmente excluídas, como é o caso da região Norte do Brasil. A maioria desses profissionais são compostos por médicos estrangeiros, especificamente cubanos, que alcançavam a meta de prestar assistência onde nenhum outro profissional médico brasileiro queria estar. Com encerramento do convênio Mais Médicos com Cuba e atual conjuntura política o PMM passou a ter escassez em médicos nas regiões mais remotas do país. Apesar de inúmeras conquistas e avanços desde a sua criação, a saúde pública no Brasil enfrenta diversos problemas. É comum pacientes esperarem horas para ser atendidos, hospitais sem leitos suficientes, estrutura precária e grandes filas para consultas e tratamentos.  Muitos pesquisadores e especialistas na área têm se debruçado sobre o tema a fim de verificar os principais gargalos do sistema e há certa unanimidade em relação a dois aspectos: o sistema é mau gerenciado e o financiamento é insuficiente, e em frente ao cenário político que se instalou a partir de 2016 e após aprovação da PEC 241/2016 que congela os repasses de verbas do Estado para a Saúde e outras instâncias por 20 anos, fará com que o colapso na saúde chegue em algum momento. Sérgio Piola, coordenador da área de Saúde do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) afirma que não há solução se não houver mais recursos, pois inclusive para a melhoria da gestão, seriam necessários investimentos. Segundo ele, também é preciso investir para que se resolvam as disparidades regionais; a população que depende do SUS nas regiões Sul e Sudeste, recebem muito mais serviços que os moradores do Norte e Nordeste. Concluímos que o desmonte ao SUS vem se perpetuando e iniciando com evidências pela PEC 241/2016 e na atual conjuntura política, vem acontecendo os retrocessos, com cortes de financiamento, programas de saúde, o exemplo do PMM que teve o corte do convênio com Cuba, entre outros ataques. Apesar de inúmeras conquistas e avanços desde a sua criação, a saúde pública no Brasil enfrenta diversos problemas, contudo que possamos resistir e lutar pelo SUS, considerado um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, afinal são 190 milhões de brasileiros potencialmente usuários e 150 milhões que dependem exclusivamente desse sistema que consigamos evitar que o colapso social aconteça. Somos fortes, somos no norte, somos brasileiros.

11227 DIÁLOGOS POSSÍVEIS DA SAÚDE COLETIVA E DO MOVIMENTO DE REFORMA SANITÁRIA COM AS BASES SOCIAIS ESTRUTURANTES DA COLONIALIDADE
Thamires Monteiro de Medeiros, Beatriz Zocal da Silva

DIÁLOGOS POSSÍVEIS DA SAÚDE COLETIVA E DO MOVIMENTO DE REFORMA SANITÁRIA COM AS BASES SOCIAIS ESTRUTURANTES DA COLONIALIDADE

Autores: Thamires Monteiro de Medeiros, Beatriz Zocal da Silva

Apresentação: Este ensaio se propõe a contribuir na reflexão sobre como o campo da Saúde Coletiva em conjunto com o Movimento de Reforma Sanitária (MRS) tem produzido análises e debates acerca da realidade social brasileira que levem em conta a estruturação deste país nas marcas da matriz da colonialidade. Esta matriz aponta a construção do Brasil baseada na sociedade de classes (viés de análise que é marca da Saúde Coletiva e MRS) mas também no racismo, sexismo, e patriarcado. Objetiva-se contribuir nas reflexões do campo da Saúde Coletiva a respeito das suas filiações teóricas de análise. A Saúde Coletiva surge em um contexto de militância e resistência contra o regime militar e com a proposta, junto e na construção do MRS, de instituir o direito à saúde para todas e todos os brasileiros com um sistema de amplo acesso, o Sistema Único de Saúde. Esse campo produziu propostas e práticas que foram encaminhadas e instituídas a partir anos 70 e parte da construção desse campo se deu com perspectivas de críticas, visando ampliação do conceito de saúde, desconstrução de paradigmas de uma ciência ‘neutra", e produção de uma leitura social e de saúde baseada no entendimento da sociedade de classes, de cunho marxista. Desde este mesmo período histórico, até a atualidade, importantes insurgências dos movimentos sociais (Movimento Negro, movimentos LGBTQIA+, movimentos feministas e etc.) e também de quebras epistemológicas, como propostas pelo feminismo negro, têm tensionado historicamente, o entendimento da estruturação social brasileira a partir das marcas da matriz de colonialidade. Apontam como o capitalismo no Brasil se estrutura, por exemplo, a partir da racialidade, e produzem extensa literatura que busca ler a realidade social brasileira a partir de diferenças que nos são estruturantes. Tais grupos têm tensionado também o entendimento de que a produção de conhecimento e formas de ação política são marcadas pelo corpo que as produz, a partir de seus acúmulos de vivência e seu lugar de fala. Desta forma, cientes de nossas escolhas teórica feitas ao longo da história e pelo fato de que somos um campo marcado por corpos brancos, heteronormativos, de acadêmicos, gestores e trabalhadores formais, perguntamos neste trabalho: A saúde coletiva tem dialogado com essas propostas de compreensão da nossa realidade social?  O racismo, a colonialidade, a branquitude, a heteronormatividade e o patriarcado são perspectivas de análise para esse campo? Ao longo de nossa trajetória no campo da Saúde Coletiva percebemos a relevância do debate acerca de limites de nossas filiações teóricas e ações políticas enquanto campo. Temos produzido muitas contradições como um campo que produz discursos baseados em garantia de direitos, emancipação e construção de um outro projeto de sociedade, mas que também produz discursos, métodos e técnicas que legitimam nossa estruturação social baseada em diferenciações de raça, gênero e classe, e de centralidade da produção de conhecimento dada em instituições formais. Já vem sendo apontada em nossa literatura desde Sérgio Arouca com “o fantasma da classe ausente”, o distanciamento da elite intelectual da Saúde Coletiva para com a massa da classe trabalhadora brasileira. Arouca antevê um problema que se agudiza nos anos posteriores, nos quais os atores do campo se concentraram em esforços a efetivação do SUS, por meio de instituições, conseguindo resultados importantes para garantia da saúde como um direito, mas também provocado um movimento de distanciamento do emancipatório que originou o próprio SUS (DANTAS, 2014). Este distanciamento e aproximação do tecnicismo científico provocou a perda do significado emancipatório de algumas bandeiras antes levantadas ou a captura de seus sentidos (COHN, 2009). Assim, já temos apontado em nossa literatura o distanciamento do campo no que tange a ação política junto às trabalhadoras e trabalhadores (AROUCA, 2003; SANTOS, 2018) e a escolha política do campo pela atuação por meio das instituições do Estado, principalmente as de efetivação do SUS e produção de pesquisa. Um debate também tem sido travado atualmente a respeito da necessidade de compreensão dos limites da atuação dentro do Estado, dados pela conjuntura neoliberal e limites da proposta reformista (DANTAS, 2014). Percebemos assim que temos sido confrontadas enquanto sanitaristas com limites de atuação política (dado que tanto o SUS quanto as demais propostas da Reforma Sanitária Brasileira vem sendo assolapadas pelo neoliberalismo) e com limites colocados pelas lentes teóricas que temos escolhido para efetivar a leitura da realidade social brasileira. Entendemos que nossos corpos localizados em lugares privilegiados de produção intelectual e de trabalho, distanciaram-se não só de práticas emancipatórias mas também da apropriação de lentes teóricas que são fundamentais na leitura realidade brasileira. Os nossos distanciamentos com as lutas populares, a nossa produção discursiva que aponta o racismo e o patriarcado como marcas de “minorias" e não estruturantes da sociedade brasileira, são exemplares dos nossos limites de ação e leitura social. Bem como o são a nossa não prioridade na efetivação das ações afirmativas em nossas instituições de pós-graduação, que se fossem, poderiam falar sobre a importância que damos a corpos diversos na produção de conhecimento no nosso campo. Finalmente, o próprio silenciamento a respeito dos nossos lugares de privilégio, são exemplos de nossos limites: não nos vemos privilegiados, não debatemos tal fato e reproduzimos silenciamento que sustenta opressão. Se faz necessário um processo de desestabilização de verdades e de marcação do quanto a produção do conhecimento tem a raça, gênero e classe hierarquizando o saber. Autoras negras como Djamila Ribeiro(2017) e Lélia Gonzáles (1984) refletem sobre o modelo valorizado, dominante e ‘universal’ da ciência que é eurocêntrico e branco e assim, inviabiliza outros experiências de conhecimento, outras epistemologias que não estejam pautadas nessa estrutura. Produções intelectuais advindas dos movimentos sociais também apontam a necessidade de saídas emancipatórias produzidas em conjunto e não a partir da intervenção de projetos produzidos (apenas) no seio da intelectualidade iluminada. Ainda assim, produzimos repetidamente a ação-discurso que busca resolver os problemas sociais dos brasileiros sem aqueles que dos problemas mais sofrem. Reproduzimos, muitas vezes em discurso e práticas de colonialidade do ser, do saber e do poder (MALDONADO-TORRES, 2007). A marginalidade de temas fundamentais, como apontamos se ampara em uma dada dominância epistemológica na Saúde Coletiva e que diz respeito aos atores que constituem esse campo. Nos colocamos a pensar a decolonização do pensamento da Saúde Coletiva e isso precisa se dar também a partir do reconhecimento de quem somos nós que produzimos esse campo e dos nossos limites. Atualmente, os nossos espaços de representação democrática encontram-se em sua maioria constituídos por sujeitos de pauta política avessa ao que o MRS e o campo da Saúde Coletiva defendem e defenderam. A agenda necropolítica do neoliberalismo segue sendo executada enquanto ficamos atônitos procurando por saídas. Apostamos que a produção de saídas têm sido produzidas no Brasil por muitos daqueles que nunca alcançaram o status de cidadãos no Estado democrático de direito: o povo negro, indígena e as mulheres pobres, por exemplo, tem produzido desde a colonização, estratégias de sobrevivência de sí e do que é seu pertencimento epistêmico e cultural. Neste momento crítico, talvez nos seja tarefa urgente, revisitar nossas bases teóricas e "rebuscá-las"; e assim, avançar na compreensão da estruturação da sociedade capitalista brasileira nas marcas do racismo, do patriarcado e da colonialidade; e investir em processos de construção de parcerias não colonizadoras com aqueles e aquelas que sempre resistiram por sobrevivência.