466: O Papel da Residência na Qualificação do Cuidado na Rede APS
Debatedor: HARINEIDE MADEIRA MACEDO
Data: 29/10/2020    Local: Sala 06 - Rodas de Conversa    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
8007 O CAMINHAR DO RESIDENTE EM SAÚDE INDÍGENA: ENCONTROS E REENCONTROS COM USUÁRIOS INDÍGENAS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Clara Gomes Machado

O CAMINHAR DO RESIDENTE EM SAÚDE INDÍGENA: ENCONTROS E REENCONTROS COM USUÁRIOS INDÍGENAS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Autores: Clara Gomes Machado

Apresentação: A Residência Multiprofissional em Saúde Indígena (RMSI) do Hospital Universitário da Grande Dourados (HUGD) tem como característica percorrer os serviços em que o usuário indígena transita pela rede SUS, da atenção básica à hospitalar. Nesse caminhar, o residente tem a possibilidade de acompanhar a interação entre usuário e trabalhador nos vários setores, afetando-se e participando ativamente destes encontros. Para este relato, enfoco a minha inserção enquanto psicóloga residente na Equipe Volante de Saúde (EVS), que se reveza para atender terras indígenas que não contam com unidades de saúde e equipe próprias, e nos setores Clínica Médica e Maternidade do HUGD. O presente trabalho tem como objetivo analisar as minhas vivências no primeiro ano da residência a partir de encontros e reencontros que tive com alguns usuários ao transitar entre os campos de prática da RMSI. Para isto, analisarei, a partir de experiências registradas em diário de campo, o contato em momentos diferentes com dois usuários indígenas (sem sugestões): E. e G., que conheci respectivamente na clínica médica e na maternidade do hospital e pude reencontrá-los em seus territórios durante a minha passagem pela EVS. O Sr. E, idoso, andarilho, que atualmente vive uma área de retomada indígena, cujo único familiar presente é um sobrinho, internado por suspeita de tuberculose e um quadro grave de desnutrição. Acompanho a sua hospitalização de aproximadamente um mês em todo o seu percurso, com a realização de procedimento cirúrgico, internação na UTI, e justo na data de sua alta, tem início o meu mês de trabalho na EVS, quando o reencontro em visita domiciliar.Já G., uma jovem, gestante do segundo filho, internada por complicações na gravidez, com suspeita de abuso sexual pelo cunhado e certo grau de comprometimento cognitivo. Acompanho a realização de exames ginecológicos, a preparação para o parto cesárea, a sua recuperação na maternidade durante quatro dias, além de fazer contato com o seu Agente Indígena de Saúde (AIS) para mapear sua rede de apoio pós alta hospitalar. Passados quatro meses, em visita domiciliar junto à EVS, reconheço G com a criança, que havia recém voltado do hospital por diarreia e gastroenterite. Estes encontros aqui descritos, junto a muitos outros ao longo do meu caminhar na RMSI, causaram e ainda causam em mim muitos questionamentos e reflexões, que procurarei sistematizar em três pontos chave. Como primeiro tópico, há o impacto ao ver o indígena hospitalizado, em um local higienizado, com paredes brancas, onde ele(a) deve andar uniformizado, seguir horários e hábitos pré-estabelecidos para se alimentar, dormir, em que não se fala o seu idioma materno, rodeado de pessoas desconhecidas. Em princípio, os corpos me pareciam engessados, robotizados e com certa desconfiança em se expressar, mas aos poucos pude ver, por exemplo, a transformação de E. dentro do hospital, que no começo passava longos dias deitado no leito sozinho em quarto de isolamento, e fora aos poucos se apropriando das áreas externas do hospital, da rotina e dos trabalhadores, na tentativa de (re)existir neste espaço ao seu modo. G., em sua passagem mais curta, além de todos os impactos e intensidades do parto e da hospitalização, se deparou com um interrogatório de alguns trabalhadores, pessoas estranhas a ela, sobre sua vida sexual, familiar e reprodutiva, sob a justificativa de se resguardar os direitos do recém nascido. Posteriormente quando a vejo em sua casa, consigo percebê-la mais leve em sua maneira de existir e de estar, ainda que em um momento de visita domiciliar com a presença da equipe de saúde, que se mostrou dura com cobranças sobre os cuidados com seu filho.Outro aspecto é a relação que se desenvolve entre as equipes e estes usuários. No cenário hospitalar, em meio a prazos e procedimentos, pouco se sabe sobre a realidade do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasi-SUS) e da existência dos indígenas na região, das etnias, localidades destes usuários, equipe de referência e organização dos serviços. Os usuários em questão, nos dois casos sem acompanhante, se revelaram como enigmas, em que o cuidado em saúde esbarrou no desconhecimento completo do sujeito e na dificuldade de buscar redes de suporte tanto para essas pessoas no território quanto para os trabalhadores do hospital, no fornecimento de informações úteis pela equipe de atenção básica. Em contrapartida, as equipes da atenção primária do Sasi-SUS trabalham cotidianamente no território destes usuários, conhecendo a estrutura familiar, a localidade onde vivem e seus costumes tradicionais, e ao trabalhar com estas pessoas, chegam muitas vezes com opiniões pré-concebidas e enrijecidas cerceando as possibilidades de existência desses sujeitos. Assim, me questiono como as equipes de saúde podem ser um meio para possibilitar a criação de autonomia e potência de vida em seus encontros com os usuários, produzindo saúde. Por fim as minhas reações diante da posição ocupada por ser residente nestes cenários, em que entre usuário e trabalhador, penso estar do lado de lá, da equipe de saúde, representando a instituição estatal e de alguma forma legitimando o que é feito pelos trabalhadores. Ao mesmo tempo, sinto que diante da equipe o residente é como um estagiário, que está de passagem, e ainda que colabore com o trabalho, sempre se subordina à decisão dos profissionais do quadro. Esta posição se mostra ambígua, pois se por um lado nos dá uma certa autonomia para estabelecer outro tipo de relação com o usuário, pela fluidez e rotatividade entre os serviços, também limita em alguns aspectos a liberdade de construir um caminho singular a parte do convencional, em que as decisões sejam tomadas horizontalmente junto ao usuário. De toda forma, o residente ocupa um espaço privilegiado de observação e reflexão das negociações e agenciamentos que se dão entre equipes e usuários em vários pontos da rede de atendimento. Desta maneira, afirmo a importância da residência enquanto potência para que estes encontros entre trabalhadores, usuários e residentes ocorra de forma a promover saúde. A continuidade do atendimento ao usuário indígena durante o seu caminhar pelo Sasi-SUS se revela como um cuidado sensível, o que nos leva a pensar na reestruturação do programa de residência de forma que os reencontros não ocorram apenas coincidentemente, mas sim como pauta de trabalho. E, de forma mais abrangente, reafirmar a importância da educação permanente em saúde, em que as equipes do subsistema se conheçam, estabeleçam parcerias e conheçam e o fluxo de serviços por onde os indígenas transitam, amarrando assim a rede de suporte aos usuários indígenas. 

8253 PRÁTICAS EM SAÚDE MENTAL E COLETIVA EM TEMPOS DE RETROCESSOS: LAMPEJOS E RESISTÊNCIAS NA EXPERIÊNCIA DE UMA RESIDENTE
Rosângela Oliveira, Bruno Ferrari Emerich

PRÁTICAS EM SAÚDE MENTAL E COLETIVA EM TEMPOS DE RETROCESSOS: LAMPEJOS E RESISTÊNCIAS NA EXPERIÊNCIA DE UMA RESIDENTE

Autores: Rosângela Oliveira, Bruno Ferrari Emerich

Apresentação: Temos vivido um momento histórico de muita tensão político-democrático-social e de retrocessos, inclusive nas políticas de saúde mental. Temos visto o sucateamento dos serviços públicos quando não há investimento adequado, quando o congresso aprova uma lei de congelamento dos investimentos por 20 anos para a saúde e a educação. Uma fragmentação do cuidado intensificada pela ampla terceirização da saúde, na qual o Estado se desresponsabiliza pela gestão dos serviços, os colocando nas mãos de quem, apenas, cobra mais barato, sem fiscalização ou acompanhamento. Um avanço assustador da lógica neoliberal na saúde. Em dezembro de 2017, fomos surpreendidos pela portaria 3.588 que altera diversos aspectos de leis anteriores como a 10.216. Dentre essas alterações é a suspensão do fechamento de leitos psiquiátricos e retomada de maior repasse financeiro para hospitais psiquiátrico. Recentemente, também uma nova política de drogas que se baseia na abstinência e exclui a redução de danos. Nesses tempos, onde parece haver o imperativo de garantir, pelo menos, o mínimo, pergunta-se: como, institucionalmente, os profissionais estão lidando com isso? Como equacionar a dissonância entre o que temos em termos de construção de política pública e o que, na prática, usuários e trabalhadores necessitam? Quais resistências e enfrentamentos podemos acionar? Como não recrudescer e burocratizar o cuidado no território? A partir de leituras sobre tempos de crise, instituição, processos democráticos na saúde e clínica, além de relatos/cenas de experiências criativas e coletivas vividas enquanto psicóloga-residente na rede de Campinas-SP (2016-2018), neste trabalho pretende-se discutir a possibilidade de que a ludicidade, enquanto potencial criativo e os agenciamentos coletivos numa perspectiva de construção política e democrática, se figurem como fissuras nesse contexto de desmonte do SUS e que levem em conta o cuidado antimanicomial para com o usuário. É importante lembrar que o lúdico não se trata de um “fazer coisas novas” a todo momento e sim, observar o que já temos, o que já sabemos fazer no sentindo de potencializá-las, como é o caso das associações de usuários e familiares da saúde mental e tantos outros coletivos que já temos e devem ser constantemente vitalizados. Outras experiências vividas no percurso formativo da residência multiprofissional em Saúde Mental/Unicamp foram: espaços da ambiência/convivências nos serviços de saúde mental, assembleias de usuários e trabalhadores, Grupo GAM (Gestão Autônoma da Medicação), propostas de rodas de conversa intersetorial, realização de uma viagem autogerida com os usuários da rede saúde mental de Campinas para o 3º Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental em Florianópolis (2017). Apontar-se-á a potencialidade dessas iniciativas, ainda que, na micropolítica, não deixando de destacar as limitações, pois necessitaremos de agenciamentos coletivos maiores. Assim, o presente trabalho, trata-se de um esforço de reflexão sobre a práxis e, que embora num contexto de contensão, o que pode favorecer a tendência ao conservadorismo e burocratização nas instituições (Enriquez, 1989), historicamente sempre foi possível construir práticas libertárias. Há sempre movimentos de contracultura e resistência em conjunturas macrossociais como a atual, a Reforma Psiquiátrica e a Luta Antimanicomial começaram assim e, ao que parece, seguirão.

8900 A EXPERIÊNCIA EM RELATO DE UMA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DA RESIDÊNCIA EM SAÚDE MENTAL DE SERGIPE.
Frances Lima, Iara Santos Martins, Maria de Lourdes Barros Avelino

A EXPERIÊNCIA EM RELATO DE UMA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DA RESIDÊNCIA EM SAÚDE MENTAL DE SERGIPE.

Autores: Frances Lima, Iara Santos Martins, Maria de Lourdes Barros Avelino

Apresentação: Este trabalho pretende abordar a vivência de uma equipe multiprofissional da Residência Multiprofissional em Saúde Mental da Universidade Federal de Sergipe. Este programa, de caráter nacional, se inicia com a promulgação da Lei n° 11.129 de 2005 e parte de uma cooperação intersetorial entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, favorecendo a inserção qualificada de jovens profissionais da saúde no mercado de trabalho. Ademais, a Residência corresponde a uma pós-graduação lato sensu (especialização), na modalidade de treinamento em serviço em unidade hospitalar ou nas redes conveniadas de saúde. O curso tem duração de 02 anos em regime de dedicação exclusiva e em tempo integral, com uma carga horária total de 5.760 (cinco mil setecentos e sessenta) horas e semanal de 60 (sessenta) horas distribuídas em práticas e teórico-práticas de formação em serviço. A Residência Multiprofissional se volta para a educação em serviço e se reparte em diversos tipos de programas diferentes que seguem sua própria proposta pedagógica e englobam profissionais de diferentes áreas, embora sejam todos da saúde. No caso da área de concentração em Saúde Mental em Aracaju- SE, as categorias envolvidas são: psicologia, enfermagem, serviço social, educação física e farmácia, com graduação em nível superior obtida em Instituições de Ensino Superior (IES), em curso reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). A atuação em si da residência em Saúde Mental se dá nos Centros de Atenção Psicossocial (Portaria 3.088/11), tanto na linha de transtorno mental como na linha de Álcool e outras Drogas (AD); no Programa de Redução de Danos e no Consultório na Rua (CnaR), sendo este último vinculado a uma Unidade Básica de Saúde. Já a atividade teórica se divide entre supervisões de núcleo (referente à área do residente), tutoria de campo (AD ou transtorno), eixo de concentração para todos os residentes de saúde mental e eixo transversal para todos os residentes do primeiro ano. Ciente de tais informações, parte-se para o contexto de 05 residentes de áreas diferentes, do sexo feminino e mesma faixa etária que convivem, desde março de 2019 até o momento atual, no cotidiano da Residência em Saúde Mental. Com o propósito de abordar tal vivência, o trabalho se dá pelo relato de experiência das residentes durante seus 09 meses de atuação, contando com temas como a prática multiprofissional em si;  a inserção no trabalho com usuários do CAPS AD III, do CAPS iAD III e em situação de rua;  impressões sobre as instituições correspondentes, o processo de trabalho e os profissionais do serviço; por fim, reflexões teórico-práticas da Saúde Mental. É perceptível que não só é possível a realização de um trabalho eficaz da Residência, mas é engrandecedor para quem atua e para quem convive, inclusive conforme princípios do Sistema Único de Saúde e Reforma Psiquiátrica. Esta vivência é um catalisador de muitas provocações que requer atenção e uma série de investimentos para ser bem experienciada.

9080 A RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO EM SAÚDE E O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Raiane Silva, Monica Aguilar, Carla Furtado, Gilmara Freitas

A RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO EM SAÚDE E O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Raiane Silva, Monica Aguilar, Carla Furtado, Gilmara Freitas

Apresentação: A Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade do Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis da Universidade Federal do Rio de Janeiro é uma modalidade de treinamento em serviço, destinada a enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, odontólogos e nutricionistas. Os primeiros 15 meses foram desenvolvidos no cenário de prática de uma Clínica da Família da Área Programática 1.0 (AP 1.0), onde os residentes realizaram o processo de territorialização, sendo este o momento dedicado para se conhecer a região, bem como toda estrutura urbana, comércio e serviços, dispositivos disponíveis no território, perfil dos cidadãos e outros. Além de participar como parte da equipe multiprofissional de equipes da Estratégia de Saúde da Família e do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), campanhas de vacinação, ações no território e realização de visita domiciliar. Os meses seguintes incluíram experiências na média gestão, desempenhadas na Coordenadoria Geral de Atenção Primária AP 1.0 (CAP 1.0), onde realizou-se um rodízio dos residentes entre os setores existentes da CAP 1.0: Divisão de Ações e Programas de Saúde, Coordenação da Gestão Administrativa, Divisão de Vigilância em Saúde e Divisão de Informação, Controle e Avaliação (DICA). Durante o período de imersão na gestão foi possível acompanhar as atividades de investigação e avaliação das doenças de notificação compulsória; desenvolver a compreensão para a utilização de indicadores de saúde no monitoramento das ações e acompanhamento das condições de saúde da população adscrita. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência da residência multiprofissional no processo de implantação e qualificação do Sistema e-SUS AB junto com a DICA e as unidades de AB da AP 1.0. A equipe de residência multiprofissional insere-se na gestão da CAP 1.0 no segundo semestre de 2019,  nesse período na DICA, foi possível trabalhar com sistemas de informações diversos, dentre eles o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB), acompanhar o processo de produção ambulatorial mensal da atenção primária e secundária, atualizar as informações de 70 equipes via Sistema do Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (SCNES), orientar e participar de treinamentos em serviço sobre a qualificação de registros nas modalidades fichas e prontuários no e-SUS. Diante do exposto, foi possível observar o quanto as condições de infra-estrutura influenciam no processo de geração de informações e a relevância da informação para os profissionais de saúde e gestores locais, como: 1- impacto dos cadastros individuais e domiciliares na nova modalidade de financiamento da atenção primária, vigente a partir de 2020, 2- importância dos registros de determinados procedimentos que influenciam nos indicadores de pacto nacional e municipal, 3- contribuições do grupo técnico de qualificação dos registros do e-SUS capitaneados pela gestão municipal. Participar de uma equipe de residência multiprofissional e a vivência do trabalho no SUS incluindo o acompanhamento das informações na média gestão proporciona uma formação mais ampla, com experiências diversificadas nos Sistemas de Saúde utilizados para monitoramento da atenção primária e desenvolve capacidade gestora de formulação de estratégias contingenciais e de planejamento.

9175 RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL PARA POVOS DO BAIXO AMAZONAS: A IMPORTÂNCIA DE PRÁTICAS DE CAMPO EM COMUNIDADES RURAIS NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Cristiano Gonçalves Morais, Douglas Mota Xavier de Lima

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL PARA POVOS DO BAIXO AMAZONAS: A IMPORTÂNCIA DE PRÁTICAS DE CAMPO EM COMUNIDADES RURAIS NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Autores: Cristiano Gonçalves Morais, Douglas Mota Xavier de Lima

Apresentação: Comunidades rurais apresentam características que as diferenciam dos centros urbanos, como particularidades geográficas, populacionais e culturais. Em virtude disso, há um amplo escopo de demandas dessas comunidades que em sua maioria não são atendidas. No âmbito da saúde, mais especificamente no Brasil, em que o Sistema Único de Saúde (SUS) é o principal meio de assistência à saúde, caracterizar e entender essas demandas é um dos mecanismos mais efetivos de prestar serviços de saúde a essas populações. Nesse cenário, em 2017, a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) deu início ao curso de residência multiprofissional em Estratégia de Saúde da Família para populações do Baixo Amazonas, no intuito de formar profissionais adequados às necessidades e particularidades da região, por meio de inserções pontuais nas comunidades do meio rural e urbano. Portanto o objetivo desse trabalho é descrever experiência e percepções dos residentes nas comunidades rurais do Baixo Amazonas. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo de campo, descritivo do tipo relato de experiência, realizado em meados de junho de 2018, desenvolvido pelos residentes nas comunidades São Pedro, Urucurana e Castanheira, de Juruti. Utilizou-se de rodas de conversas junto aos populares, profissionais de saúde e/ou educação e líderes das comunidades. A fim de caracterizar as comunidades visitadas foram levantadas informações em dois momentos: no primeiro foram coletadas informações referentes a história da comunidade, perfil das pessoas que residiam na sua área de abrangência, principal meio de subsistência da população e problemas referendados pela mesma; no segundo momento foi realizada visita técnica nas comunidades tendo os moradores como guias. Resultado: Com base nos relatos obtidos notou-se que as comunidades foram gradualmente ocupadas a partir de atividades extrativistas sendo principalmente destacado o mineral e o vegetal. O perfil das atividades desenvolvidas para meios de subsistência descrito foi a criação de animais de pequeno porte, agricultura familiar e pesca. Houve uma amplitude de problemas elencados, tendo inclusive paralelo com o processo de saúde e doença, que abrangeram problemas de acesso a serviço de saúde e educação, dificuldades com animais silvestres e domésticos, além de problemas ambientais e estruturais das estradas que ligam as cidades. Através das visitas in loco notou-se as dificuldades estruturais das vias de acesso, a precariedade das construções de moradia de algumas residências, sistemas de saneamento e coleta de lixo. Apesar disso foi possível observar iniciativas singulares e exitosas na atuação de algumas instituições de ensino e saúde dentro da comunidade, destaca-se que tais iniciativas se basearam sobretudo na participação social das pessoas dessas comunidades e da articulação de diferentes atores no desenvolvimento dessas ações. Considerações finais: Em um território amplo e diverso que é o Brasil, que apresenta particularidades geográficas e populacionais como a Amazônia, a implementação do SUS que atenda de forma satisfatória as necessidades da população é um desafio, que pode ser resolvido mediante a identificação dos problemas da comunidade com a participação da mesma, possibilitando a resolubilidade dessas demandas através de políticas públicas mais específicas.

7240 AVALIAÇÃO PARTICIPATIVA SOBRE A FORMAÇÃO NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA E COMUNIDADE
Pedro Alves de Araújo Filho, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Joyce Mazza Nunes Aragão, Lúcia Conde de Oliveira, Maria Socorro de Araújo Dias

AVALIAÇÃO PARTICIPATIVA SOBRE A FORMAÇÃO NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA E COMUNIDADE

Autores: Pedro Alves de Araújo Filho, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Joyce Mazza Nunes Aragão, Lúcia Conde de Oliveira, Maria Socorro de Araújo Dias

Apresentação: A reorganização da Atenção Primária à Saúde nos moldes da ESF tem como desafios a modificação dos modos de lidar e conviver com as pessoas em sua inserção territorial/sócio comunitária. Nesse sentido, a dimensão do cuidado e do processo de trabalho precisam enfatizar a promoção da saúde, o trabalho em equipe multiprofissional e interdisciplinar, estruturado em redes setoriais, intersetoriais e de apoio social, para a construção de vínculos de amizade e solidariedade com as pessoas, famílias e comunidade, norteados pela corresponsabilidade/cogestão entre trabalhadores/gestores/usuários/comunidade para efetivação do cuidado integral promotor de vida. As experiências envolvendo Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) como estratégia de formação em serviço, têm acumulado relevantes conhecimentos sobre esse processo de ensino-aprendizagem pelo trabalho, com potencial para contribuir na qualificação dos trabalhadores que atuam na área da Saúde, além de constituírem-se em espaços de conformação crítica, reflexiva e transformadora, para o processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de processos de Educação Permanente em Saúde (EPS) que possibilite a afirmação do trabalhador no cotidiano do seu universo de trabalho e na sociedade em que vive. Tomando como pressuposto que o agir na saúde é consequência dos paradigmas hegemônicos, o do ensino tradicional na saúde e o do modelo biomédico de atenção à saúde, os quais foram socio-historicamente constituídos e são cotidianamente perpetuados pelo saber/fazer centrado na doença e seus desdobramentos curativistas, e advogando a premissa de que a RMS pode se constituir em um estratégico processo de ensino-aprendizagem em serviço, sob a lógica da EPS, com potencialidade para promover a subjetivação e a ressignificação de saberes e práticas para a reorientação dos processos de trabalho e de produção do cuidado em saúde para qualificação e fortalecimento do SUS, realizou-se uma avaliação participativa sobre os caminhos, estratégias e ferramentas da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade (RMSFC), para a organização do processo de trabalho e produção do cuidado no contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF). Desenvolvimento: Tomou-se como referencial os preceitos metodológicos da Avaliação de Quarta Geração (AQG) e do Método Paideia, utilizando observação participante, pesquisa documental e grupos focais com profissionais de saúde residentes, preceptores e profissionais do serviço e entrevista semiestruturada com dois gestores de um município do Ceará, um dos cenários de aprendizagem da ênfase Saúde da Família e Comunidade da Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará (RIS-ESP/CE), além de uma coordenadora do programa, totalizando 19 participantes. A análise dos dados seguiu o Método Comparativo Constante inerente a análise processual de reconstrução e negociação que caracterizam o círculo hermenêutico-dialética imanente da AQG com triangulação das informações do corpus de dados. A pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil e apreciada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, tendo sido aprovado com Parecer nº 1.506.166. Resultado: Da análise do material empírico, definiu-se quatro categorias analíticas: 1 Formação no contexto da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade; 2 Processo de trabalho e produção do cuidado; 3 Preceptoria; 4 Potencialidades e desafios para implementação da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade. Constatou-se que o processo de formação no contexto da RMSFC é marcado por muitas fragilidades e desafios a serem enfrentados e superados ante os movimentos de conservação do modelo de atenção à saúde instituído e pedagógico tradicional e, assim, conseguir atingir objetivo ativar-capacitar lideranças técnicas, científicas e políticas para a qualificação do papel coordenador da ESF junto às redes do SUS, com vistas à promoção, proteção e a recuperação da saúde, tendo como base a colaboração interprofissional, a integralidade e a intersetorialidade. Destacando-se a necessidade de apoio institucional tanto por parte da Instituição Formadora/Certificadora como da Executora, com o devido acompanhamento pedagógico e supervisão docente assistencial realizada por profissional devidamente qualificado para que o profissional de saúde residente e todos envolvidos nesse processo de ensino-aprendizagem sejam estimulados a refletir sobre o seu saber-fazer-ser e desenvolva as competências esperadas na perspectiva da cogestão e da corresponsabilidade para ressignificação de saberes e práticas e de transformação social, como estratégia para superar a mera reprodução do saber/fazer instituído. Garantindo, assim, a sustentabilidade, continuidade e qualidade do Programa. Dentre as fragilidades institucionais, verificou-se um descumprimento sistemático do Projeto Político Pedagógico da ênfase avaliada, no tocante aos critérios técnicos e de organização sanitária no processo de pactuação dos municípios de lotação dos residentes Evidenciou-se que a RMSFC como estratégia de formação em serviço pode se constituir como caminho para qualificação dos profissionais de saúde no contexto da ESF/SUS. A territorialização, planejamento participativo, discussão de casos em equipe, Projeto Terapêutico Singular, apoio matricial, consultas compartilhadas, rodas de gestão, ações de educação, prevenção e de promoção em saúde na unidade e na comunidade, visitas domiciliares individuais e conjuntas, trabalho com grupos foram estratégias/ferramentas apontadas como caminho para qualificação do processo de trabalho e do cuidado integral, entretanto, não configuram uma reorientação do modelo de atenção à saúde hegemônico, pois, geralmente envolvia a equipe de residentes e preceptoria e modo pontual, revelando que mesmo os residentes acabaram se enquadrando ao processo de trabalho e produção do cuidado instituído, ainda que se observem linhas de fuga nesse processo. Considerando que quem ensina também aprende e que não se concebe processo formativo pelo trabalho sem docência em serviço e o devido acompanhamento pedagógico institucional, seja executada por preceptor, tutor, orientador de serviço ou outro nome que se queira atribuir, esse sujeito é apontado pelos participantes da pesquisa como imprescindível para facilitação dos encontros de aprendizagem e como o fomentador das articulações e reflexões teórico-práticas e da articulação com a gestão, serviço e comunidade. Apesar de toda a potencialidade enfatizada, tanto preceptoria como tutoria, mostraram-se extremamente fragilizadas e contraditórias nesse estudo, comprometendo o processo de formação e a qualidade do programa. Sendo assim, não se concebe uma Residência para ativação de sujeitos desviantes técnica e cientificamente qualificado, eticamente implicado, além de politicamente engajado, com preceptoria e tutoria fictícia, como observado nesta pesquisa. Considerações finais: A RMSFC da RIS-ESP/CE é um projeto grandioso e ambicioso em virtude da magnitude, capilaridade e descentralização do Programa, o que acarreta uma série de desafios e fragilidades a serem enfrentados para que a Residência consiga atingir a potência agenciadora de novos modos de agir na saúde, conformando outros sentidos e significados para organização do processo de trabalho e produção do cuidado integral e equânime nos territórios da Saúde da Família. Mesmo com movimentos de conservação do instituído, diante dos relatos de aprendizados individuais e com os ‘movimentos de ir além’, de se desterritorializar em movimentos singulares de produção de linhas de fuga, pode-se perceber processos de ressignificação de saberes e práticas, revelando pequenas revoluções moleculares e de produção de uma ‘subjetividade desviante’.

7505 TERRITÓRIO, TERRITORIALIZAÇÃO E NASF: INSTRUMENTOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE MENTAL
Jéssica das Graças Machado Candido, Lorena Costa

TERRITÓRIO, TERRITORIALIZAÇÃO E NASF: INSTRUMENTOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE MENTAL

Autores: Jéssica das Graças Machado Candido, Lorena Costa

Apresentação: O presente relato parte da experiência de formação na residência multiprofissional em saúde mental do Instituto Municipal Phillipe Pinel (IMPP) no campo da atenção básica. Com base na inserção no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), buscamos refletir sobre a contribuição do trabalho territorial no processo de formação profissional, compreendendo a vinculação com o território e as ações de territorialização em saúde mental enquanto instrumentos pedagógicos para conhecimento e intervenção na realidade local e seus determinantes em saúde. Desenvolvimento: Na modalidade de pós-graduação lato sensu de ensino-aprendizagem, a residência pressupõe vivenciar os cenários de prática profissional na interface das políticas de saúde e educação. Na perspectiva multiprofissional, orienta a integração de saberes e campos de conhecimento diversos, propiciando dessa relação à promoção de práticas cotidianas interdisciplinares e transdisciplinares, implicando ações que compreendam a complexidade inerente à saúde nos princípios do SUS. Nesse sentido, o relato objetiva traçar reflexões sobre a experiência ocorrida no primeiro ano da residência multiprofissional em saúde mental no NASF por duas residentes, uma Assistente Social e uma Enfermeira, considerando a articulação das dimensões do cuidado, território e saúde como expoentes no processo trabalho-aprendizagem para a formação multiprofissional. No trabalho desenvolvido com o NASF junto a Estratégia de Saúde da Família –objetivando aprimorar a qualidade do cuidado na atenção básica, compartilhando saberes de diferentes campos profissionais e apoio as práticas de saúde mediante as demandas prioritárias dos territórios – o primeiro olhar inquietante consistiu em apreender o território não apenas como uma área de abrangência da clínica, mas a partir das relações que o constitui, isto é, ao debruçar-se sobre o cotidiano do fazer profissional, perceber o quanto as histórias, sentidos e afetos tornam os lugares singulares para cada experiência de vida que ali se encontra, e, ao mesmo tempo, particulares nas suas condições de produção de saúde-doença, falam das conjunções econômicas, políticas, epidemiológicas, culturais e dos interesses/conflitos que o atravessa. Resultado: Importante considerar, no projeto atual de atenção e cuidado psicossocial para a saúde mental no SUS, o território assume centralidade enquanto categoria fundamental e estratégica à garantia da qualidade dos serviços substitutivos no processo da reforma e luta antimanicomial, nesse sentido é refletido em sua potencialidade analítica e pedagógica para os residentes em formação, tanto na relação com os demais profissionais que operacionalizam as estratégias de cuidado e intervenção, quanto na singular relação com os lugares e sujeitos-usuários. Considerações finais: Cuidar em liberdade tornou-se um princípio e defesa intransigente frente à histórica realidade dos modelos asilares e manicomiais no processo de transformação das relações sociais e práticas de saúde. Assim, apreendendo que o território revela a vida em movimento, sua produção e reprodução, as determinações históricas, culturais e sociais que conformam os lugares e suas relações, o NASF assume lugar fundamental fomentando a saúde mental na atenção básica no aprimoramento das estratégias de cuidado territorial e em rede e ampliação da atenção psicossocial.  

7937 A PROMOÇÃO DA COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE
Luana Pinho de Mesquita Lago, Silvia Matumoto, Tatiana Maria Coelho Veloso, Tatiane Martins Jorge

A PROMOÇÃO DA COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE

Autores: Luana Pinho de Mesquita Lago, Silvia Matumoto, Tatiana Maria Coelho Veloso, Tatiane Martins Jorge

Apresentação: As Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) são forças instituintes indutoras da mudança, primeiro porque sustentam que diferentes profissionais atuem conjuntamente para a resolução dos problemas e, segundo, porque este modelo de formação coloca em xeque a hegemonia médica e questiona paradigmas de formação em saúde ao propor o trabalho em equipe interprofissional com foco na integralidade, necessidades de saúde, formação política,  negociação, mediação e tolerância, vivência de conflitos e relações de poder nos serviços de saúde. No sentido da construção coletiva, a Colaboração pode ser entendida como as relações e interações que acontecem entre profissionais que trabalham juntos, e mais ainda, que os permitem querer trabalharem juntos. Então, a prática colaborativa, como tomada na perspectiva brasileira, seria este conjunto de relações nas práticas profissionais, com a inclusão e reconhecimento da importância do usuário, da família e da comunidade. Esta centralidade nas pessoas é que deveria orientar as práticas e a interação nas práticas com vistas ao cuidado integral. No entanto, nesse contexto, a formação interprofissional ainda se constitui um desafio, pois a lógica estrutural e parcelada do ensino de graduação ainda é dominante, o que estimula uma continuidade ao trabalho uniprofissional e ainda, há pouco apoio político para que as políticas públicas sejam efetivadas. Outro desafio está no exercício de habitar novos territórios, e para isso, por vezes, é preciso desviar-se do núcleo de saberes e práticas profissionais e se lançar ao campo de práticas, aquilo que a literatura aponta como espaço de todos os profissionais no campo da saúde coletiva. Investimentos necessários em um projeto comum, seja teórico ou prático, e que resulte em produção de vida. O objetivo deste trabalho é analisar os movimentos de colaboração interprofissional na formação em serviço em uma unidade na AB e dessa forma, motivar novas experimentações e investimentos necessários em um projeto comum, seja teórico ou prático, que resulte em produção de vida. Desenvolvimento: Este trabalho é parte dos resultados de uma tese de doutorado que teve como foco as práticas profissionais na residência multiprofissional em saúde, em especial as práticas que favorecem ou não a colaboração interprofissional e a integralidade do cuidado na atenção básica. Nesta pesquisa Sócio-clínica, com aporte no referencial teórico-metodológico da Análise Institucional, produziu-se uma pesquisa participativa (pesquisa com) a partir de movimentos de autoanálise, que permitiram ao coletivo de residentes entender um pouco mais como as práticas se produzem e, então, ressignificá-las. O estudo foi produzido no município de Ribeirão Preto, São Paulo, em um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde com residentes de diferentes áreas da saúde, no período de 2017 a 2018. Foram utilizados diferentes dispositivos para produção dos dados como análise de documentos, diário de pesquisa, análise institucional de práticas profissionais, observação, entrevistas, restituições. Nesta produção, será abordado parte dos resultados referente à observação da prática profissional em uma Unidade de Saúde da Família, que denominamos Equipe Ipê, no período de outubro a dezembro de 2017 e à análise de práticas profissionais junto aos residentes desta unidade. Os dados foram organizados e analisados com apoio do referencial teórico-metodológico da Análise Institucional e Sócio-clínica Institucional. A escolha desta Unidade se deu pela plasticidade para o exercício no manejo de conflitos, negociação, cuidado da equipe, aproximação à cogestão e às práticas interprofissionais colaborativas. Resultado: Os residentes da equipe Ipê estavam participando do processo de construção de um espaço de discussão coletivo que foi pensado conjuntamente pela enfermeira da unidade, profissional de referência como preceptora no apoio à gestão do processo de trabalho, e pela tutora de campo da área da Fonoaudiologia, com experiência profissional na AB. Este encontro multiprofissional entre residentes (Terapia Ocupacional, Nutrição, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Farmácia) não incluía os profissionais médicos e seria uma forma de fomentar a corresponsabilidade na formação entre residente multiprofissional e tutor/preceptor dentro da equipe Ipê, algo instituinte. Encontrar espaço comum na agenda de todos foi um trabalho árduo, sempre havia outros compromissos como férias, congressos e outras atividades acadêmicas que interferiam na periodicidade dos encontros e especialmente, na presença da tutora de campo, que possuía vínculo com a Universidade. Os encontros eram planejados em conjunto com dinâmicas que envolviam os desafios do trabalho em equipe e do território. Eles elegeram temas de interesse como 1- organização do processo de trabalho dos residentes e organização de agendas e horários para que se encontrem na unidade; 2- comunicação e 3 – autoconhecimento. Inicialmente, haviam programado três encontros e a primeira autora participou como observadora no segundo deles. A atividade ocorreu na sala de reuniões, espaço coletivo, comum. Primeiramente, houve uma discussão sobre os elementos da comunicação, tipos de comunicador (agressivo, passivo e assertivo): Como se aproximar de um perfil mais assertivo? Ser propositivo, relembrar pactos, falar de suas expectativas, sintonizar o tom de voz e as palavras. A proposta seguinte foi preencher um teste para avaliar as dimensões da comunicação verbal e depois, experimentar a vivência de diferentes papéis para análise de suas reações frente a situações vividas no cotidiano do trabalho, a fim de aprimorar as habilidades de comunicação. A vivência desta dinâmica possibilitou a reflexão, já que os residentes tiveram dificuldade em se expressar em momentos de tensão com outro profissional, e a autoanálise abriu caminho para pensar em mudanças de atitudes em relação à comunicação interprofissional, reconhecendo o quanto é importante o autoconhecimento para o enfrentamento de conflitos presentes no trabalho. Aspectos importantes para a prática colaborativa interprofissional foram o exercício da comunicação interprofissional, o entendimento da dinâmica de funcionamento em equipe e a aprendizagem da resolução de conflitos interprofissionais. Este acompanhamento e parceria entre tutor-preceptor, na perspectiva da Educação Permanente em Saúde, problematizou questões do cotidiano, repensou as práticas articulando-as com o objetivo da equipe, do coletivo, de sustentação do SUS, do trabalho em equipe que atenda às necessidades dos usuários. Equipes implicadas com a função preceptoria e tutoria de campo, como o caso da equipe Ipê, expressam-se como campos que potencializam seu papel formador, se constituem ao mesmo tempo como campo de aprendizagem e de prática, pois lançam mão de ferramentas que disparam processos de subjetivação e de reflexão, que colocam os residentes em uma postura de ação enquanto trabalhadores de um sistema de saúde amplo e complexo. Assim, abre a possibilidade para que no encontro da instituição Saúde com a instituição Cuidado centrado no usuário, essa interferência resulte em uma Formação em serviço com produção de vida. Considerações finais: A parceria entre os profissionais demanda uma comunicação honesta e os aproxima ao compartilhamento do saber-poder; isto leva ao empoderamento de cada profissional e respeito e reconhecimento de um pelo outro, com visível redução dos graus de competição. Dentre as ações que potencializam as práticas colaborativas estão a garantia de espaços formais de integração e análise de práticas, mediados por um tutor ou preceptor que apoie os residentes a escolherem os caminhos que colocam o usuário no centro do cuidado e questionarem os lugares e posicionamentos uniprofissionais na prática dos serviços, os saberes e poderes de uns e de outros. Assim, a RMS se constitui como espaço potente para o desenvolvimento de uma postura de ação colaborativa, a partir de uma aprendizagem interativa que exercite o compartilhamento de saberes e poderes, que se torna mais possível a partir de investimentos na formação dos profissionais de saúde do SUS.

8268 GERENCIAMENTO DOS SERVIÇOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: ESTUDO DE PERCEPÇÃO DE RESIDENTES DE ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA
Rayara Mozer Dias, Marcela de Abreu Moniz, Bruna de Souza Resende

GERENCIAMENTO DOS SERVIÇOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: ESTUDO DE PERCEPÇÃO DE RESIDENTES DE ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA

Autores: Rayara Mozer Dias, Marcela de Abreu Moniz, Bruna de Souza Resende

Apresentação: O trabalho é resultado de uma pesquisa realizada para conclusão de curso de especialização na modalidade residência que teve por objetivo analisar a percepção de residentes de enfermagem em saúde coletiva sobre o gerenciamento realizado pelo enfermeiro na atenção primária à saúde. Desenvolvimento: Trata-se de pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. A técnica empregada consistiu na aplicação de questionário semiestruturado por meio de entrevista. A coleta de dados se deu no período de abril a junho de 2018. O processamento de dados foi realizado com base na análise de conteúdo categorial. O cenário do presente estudo consistiu na Escola de Enfermagem de uma Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Os participantes do estudo foram enfermeiros residentes do segundo ano do Programa de Residência em Enfermagem em Saúde Coletiva. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFF, com base na Resolução No 466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisas envolvendo seres humanos, obtendo aprovação dia 14 de março de 2018, com número do parecer: 2.543.635, CAAE 81171417.2.0000.5243. Resultado: A amostra dos participantes consistiu em 09 enfermeiros residentes matriculados regularmente nas disciplinas do curso de especialização em enfermagem em saúde coletiva, sendo 07 (78%) do gênero feminino e 02 (22%) masculino. A faixa etária compreendeu entre 25 a 52 anos, com média de idade de 29,6 anos. Identificou-se que 08 (89%) participantes formaram-se em instituições de ensino superior públicas, enquanto que 01 (11%) formou-se em instituição de ensino superior privada. Da análise dos dados, emergiram duas categorias analíticas com base na percepção dos enfermeiros residentes: Percepção sobre formação de competências gerenciais durante o curso de especialização em enfermagem em saúde coletiva e Percepção sobre o processo de gerenciamento pelo enfermeiro na Atenção Primária à Saúde. Quando questionados sobre o que entendiam acerca de competências gerenciais aplicadas ao contexto de saúde, observou-se que 8 (89%) participantes, mesmo com certa dificuldade, deram respostas aproximadas aos conceitos presentes na literatura, enquanto 1 (11%) não soube responder. As competências consideradas de maior importância para a formação do enfermeiro especialista em Saúde Coletiva e sua atuação como gerente de serviços na atenção primária à saúde foram: Comunicação, Tomada de decisão, Trabalho em equipe, Visão sistêmica, Planejamento e organização e Educação permanente. A Sobrecarga de trabalho, citado por 8 (89%) participantes, foi o fator dificultador do trabalho gerencial do enfermeiro mais evidenciado, enquanto que o Conhecimento sobre gerência na formação, citado por 5 (56%), foi o fator facilitador mais evidenciado. Considerações finais: Urge a necessidade de se incluir diferentes estratégias de ensino-aprendizagem nos cursos de especialização acerca de competências inerentes ao gerenciamento das unidades no âmbito da Atenção Primária à Saúde. A Residência em Enfermagem em Saúde Coletiva permite que o profissional reflita sobre a importância de se desenvolver competências necessárias para a atuação profissional no contexto do Sistema Único de Saúde, repensando sua prática profissional.

8683 RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE: UM ESTUDO GENEALÓGICO EM PERNAMBUCO, BRASIL
Luiza Milena Reis Silva Dos Santos, Heloíse Gondim Bezerra Silva, Tayonara Do Amaral Santana

RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE: UM ESTUDO GENEALÓGICO EM PERNAMBUCO, BRASIL

Autores: Luiza Milena Reis Silva Dos Santos, Heloíse Gondim Bezerra Silva, Tayonara Do Amaral Santana

Apresentação: Este trabalho tem como objetivo descrever a historicidade das Residências Multiprofissionais em Saúde e construir um panorama comparativo com a situação atual. A partir de atividade de campo na Diretoria Executiva de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (DEGTES), da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES/PE), constatou-se a necessidade de trabalhos deste gênero. Desenvolvimento: Esta é uma pesquisa qualitativa, com fontes localizadas em base de dados na internet e documentos oficiais, além de entrevista, dando ênfase aos editais de inscrição das RMS-PE. A partir da leitura do material, foram identificadas as informações e os dados constantes, estabelecendo relações com o problema proposto. As leituras foram realizadas como recomenda Foucault, partindo da historicidade, tendo a tarefa de mostrar as problematizações da formação pelas suas mudanças ocorridas desde o tempo de sua instituição até os dias atuais e suas distintas relações. Resultado: Em Pernambuco, o Programa de RMS iniciou com poucas ofertas, em limitados espaços, mas, com decorrentes investimentos, se difundiu pelo estado, com ampliação de vagas em diversas Instituições de Saúde e oportunidades para diversas profissões na área da saúde. No final da década de 70, tiveram início as Residências Multiprofissionais em Saúde. Estas seguiam a linha de internato rural multiprofissional, com enfermeiros, dentistas, assistentes sociais e nutricionistas, que atendiam em distantes áreas rurais sozinhos, com visitas semanais do supervisor. Em contraste, em 2010 o Pró-Residência foi criado, ocasionando o aumento do número de Programas. É importante a atual diversidade de especialidades, com ampla perspectiva de áreas de atuação para os graduados, porém a dinâmica de criação de Residências sem regulamentação, principalmente, pelos Hospitais Universitários, gerou desordem na padronização. Além do acompanhamento das COREMUs, que fortalece e legitima o processo de formação. Considerações finais: Este estudo propôs, como objetivo geral, descrever o cenário das Residências Multiprofissionais em Saúde de Pernambuco. Foram utilizados editais como base de dados devido a escassez de dissertações sobre RMS, mesmo o Estado de Pernambuco tendo a capital com maior número de Residências do país. Assim, é vista a necessidade da elaboração de trabalhos que acompanhem e construam a história de seus processos formativos, assim como consolidem os seus efeitos e impactos nos serviços e no sistema de saúde. Houve aumento na quantidade de Programas, assim como investimento nas bolsas mensais dos mesmos, constatando a sua importância, e valorização. Sabe-se que, em todos os níveis de atenção, nos serviços de saúde, é alta a demanda por profissionais capacitados, principalmente formados e preparados na própria Rede de Atenção. Com a experiência de realização desse estudo, há a ampliação do olhar sobre pós-graduação, progressão de carreira, construção de identidade formativa e análise sobre as oportunidades dispostas no futuro do profissional de saúde. Pela relevância em que se constituem, é vista a necessidade de mais estudos acerca das Residências, consolidando, realmente, os seus efeitos sobre o sistema de saúde, ressaltando a demanda suprida com esses profissionais em exercício na própria Rede de Atenção do Sistema Único de Saúde.

8705 ENCONTROS QUE PROPORCIONAM A OFERTA DE SAÚDE, EM UM CONSULTÓRIO DE RUA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Lara Maria Taumaturgo Dias Correia, Gaby Maria Carvalho de Freitas Azevedo, Janina Marinho Bezerra de Oliveira Brasil

ENCONTROS QUE PROPORCIONAM A OFERTA DE SAÚDE, EM UM CONSULTÓRIO DE RUA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Lara Maria Taumaturgo Dias Correia, Gaby Maria Carvalho de Freitas Azevedo, Janina Marinho Bezerra de Oliveira Brasil

Apresentação: A vivência de pessoas em situação de rua é uma realidade global. Um cotidiano que estigmatiza homens, mulheres, idosos e crianças que convivem diariamente com o peso de uma invisibilidade social e, muitas vezes, não têm seus direitos garantidos. Oferecer cidadania e fazer com que essas pessoas sejam assistidas por políticas públicas eficientes é um grande desafio que vem sendo percorrido a passos lentos tanto no cenário nacional como no local. Em 2009, foi criada a Política Nacional para a População em Situação de Rua (decreto nº 7053, de 23 de dezembro de 2009) e o Movimento Nacional da População em Situação de Rua só surgiu no século 21. A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) cria, em 2011, as Equipes de Consultórios de Rua (CnaR), como uma estratégia para o cuidado integral à saúde dessa população em seu espaço. Com a criação dessas equipes, diversas questões passaram a ser introduzidas: organização do processo de trabalho destes serviços, inserção nas redes de atenção à saúde e a questão da formação e qualificação de profissionais de saúde com habilidades e competências adequadas e oportunas para atuar em um contexto tão singular. O município de Mossoró, no Rio Grande do Norte (RN) só aderiu ao Programa em 2014. Este trabalho tem o objetivo de relatar a experiência de residentes em Medicina de Família e Comunidade da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), em 2019, na cidade de Mossoró/RN. O número expressivo de pessoas em situação de rua em Mossoró, assim como no cenário nacional, é resultado de múltiplas expressões da questão social que deságua no agravamento da desigualdade social e pobreza. Durante todo o ano de 2019, quatro residentes médicas da UERN atenderam pessoas no Consultório de Rua, em um veículo adaptado, no Centro da cidade. Cada residente oferecia atendimento médico durante três meses – duas vezes ao mês - de acordo com cronograma fornecido pela Equipe do Consultório de Rua juntamente com a Coordenação da Residência. Durante os atendimentos, foi possível perceber que a População em Situação de Rua vive em condições bastante precárias - muitas pessoas são usuárias de álcool e outras substâncias (apresentam comorbidades em decorrência desse comportamento), algumas se ferem durante brigas e tantas outras apresentam histórico de violência sexual ou crimes. É um trabalho gratificante, porém bastante difícil pois alguns usuários não se comprometem com a linha de cuidado, não têm interesse no tratamento eficaz (apesar do município oferecer alguns exames, medicamentos e transporte para realização de procedimentos e exames); outros não têm condições financeiras até mesmo para adquirir medicamentos e exames simples. Em contrapartida, os casos de sífilis diminuíram; os pacientes de Saúde Mental passaram a ter acompanhamento médico de qualidade; campanhas de prevenção e promoção à saúde foram realizadas. A presença, na rua, de um consultório disponível à População em Situação de Rua é a tentativa de garantia de uma política pública de saúde e de atenção psicossocial. Sendo, portanto, um desafio ético e político que está apenas começando no cenário mossoroense.

9393 DIAGNÓSTICO SITUACIONAL: O PROCESSO DE INSERÇÃO DA PRIMEIRA EQUIPE DE RESIDÊNCIA EM SAÚDE DA FAMÍLIA EM UM MUNICÍPIO DA BAIXADA FLUMINENSE-RJ
Bruna de Lima Ferreira, Carolina Feitoza da Silva Ramos, Isabel Danielle de Morais Silva Travaglini, Antonio José Franco Rodrigues, Marcos Paulo de Oliveira Matos, Débora Duarte Batista, Júlia Batista Afonso, Luana Lara Rodrigues Caetano

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL: O PROCESSO DE INSERÇÃO DA PRIMEIRA EQUIPE DE RESIDÊNCIA EM SAÚDE DA FAMÍLIA EM UM MUNICÍPIO DA BAIXADA FLUMINENSE-RJ

Autores: Bruna de Lima Ferreira, Carolina Feitoza da Silva Ramos, Isabel Danielle de Morais Silva Travaglini, Antonio José Franco Rodrigues, Marcos Paulo de Oliveira Matos, Débora Duarte Batista, Júlia Batista Afonso, Luana Lara Rodrigues Caetano

Apresentação: O Programa Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF-FIOCRUZ), constitui-se uma modalidade de especialização lato sensu de formação em serviço que busca qualificar profissionais de saúde para atuação na Estratégia da Saúde da Família. O programa da RMSF se expandiu a outro cenário de campo: O município de Mesquita-RJ, uma cidade há poucos anos emancipada e com recente mudança no modelo de saúde. Objetivo: O presente trabalho relata a inserção do programa de RMSF, o diagnóstico situacional em saúde e seus desafios. Desenvolvimento: O município de Mesquita traz diversas singulares, entre elas: A mudança do modelo de saúde. E para planejar e direcionar as ações de saúde é necessário conhecer arealidade, a dinâmica e os riscos que a população/comunidade está inserida, a forma como estão organizados os serviços de saúde, as rotinas das unidades básicas de saúde, bem como compreender os pontos integrantes da Rede Assistencial de Saúde, considerando a intersetoralidade e acesso aos cuidados. O diagnóstico situacional é uma ferramenta que auxilia conhecer os problemas, potencialidades e necessidades sociais contidas em um território. A construção desse trabalho ocorreu através de dados secundários, encontrados em bases cientificas e a Observação-participante, onde os residentes registraram suas percepções vivenciadas. Resultado: A equipe de RMSF foi inserida a uma equipe mínima de uma Clínica da Família do município. O diagnóstico situacional permitiu conhecer a realidade do território. Estimasse que a cidade possui 175.000 habitantes, com característica de municípios “Dormitório”, possui 17 bairros, a Clínica cobre 3 destes. Em relação à população mesquitense, é majoritariamente autodeclarados Pretos e do sexo feminino. De forma geral, nota-se a desigualdade social, possivelmente devido à falta de políticas públicas de saúde, educação, moradia, saneamento básico e emprego. A descentralização dos serviços em saúde encontra-se em processo, no entanto, são notórios os obstáculos gerados pelo modo centralizado, principalmente no diagnóstico, tratamento e controle de algumas enfermidades, como por exemplo, a tuberculose e a sífilis. A clínica da família foi inaugurada há pouco mais de um ano, e o bairro de sua localização é distante de alguns serviços, oque também gera obstáculo ao acesso. Os dados apontam também um elevado número de pacientes hipertensos, seguidos de diabéticos, sendo necessária a realização de ações promotoras de prevenção e auto cuidado.Outra observação feita trata-se do saber da população sobre seus direitos e deveres, sua participação enquanto agentes sociais e principalmente a falta de entendimento a cerca dessa transição de modelo de atenção básica, nota-se que muitos identificam o serviço de saúde do município como um favor e não como direito garantido. Considerações finais: Foi possível retratar o mapeamento de potencialidades e fragilidades do território, bem como elaborar estratégias demonstradas no plano de ação elaborado. Além disso, este trabalho também auxiliou no processo formativo dos residentes da Residência Multiprofissional em Saúde da Família, em desenvolver habilidades e ferramentas de investigação, bem como de trabalho em equipe.

9422 ATENÇÃO À SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS: RELATO DE EXPERIÊNCIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Bruna Tadeusa Genaro Martins de Oliveira

ATENÇÃO À SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS: RELATO DE EXPERIÊNCIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Autores: Bruna Tadeusa Genaro Martins de Oliveira

Apresentação: Este texto parte de experiências de ensino-aprendizagem, no contexto de um programa de Residência Multiprofissional em Saúde (RMS), para refletir sobre as contribuições do pensamento decolonial à formação de profissionais para o Sistema Único de Saúde (SUS) e, também, para o trabalho junto a comunidades indígenas. Desenvolvimento: Esta proposta tem por base vivências de formação na RMS, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), cuja ênfase é na Atenção à Saúde Indígena. Elas se deram durante o segundo semestre letivo de 2019, em 7 encontros semanais destinados à discussão do campo de intervenção prática a partir das noções de corporalidade e territorialidade, em aproximação à cosmovisão específica dos grupos com que se trabalha na região em questão, para pensar os processos de saúde e doença e sua relação com os modos de ser indígena. Tais encontros tiveram por premissa o caráter relacional do trabalho em saúde e a compreensão de que, na assistência aos usuários indígenas, estabelece-se um encontro colonial entre eles e os trabalhadores, entre suas formas próprias de conceber e tratar o adoecimento e a racionalidade biomédica. Assim, a partir da compreensão do conceito de colonialidade e da identificação de suas esferas de atuação, buscou-se repensar as vivências de trabalho enquanto residentes. À luz da ideia de que o conhecimento científico é produzido na perspectiva da colonialidade, buscou-se refletir sobre como os diferentes saberes e fazeres em saúde servem para a governo de vidas e corpos, afim de que se pudesse pensar alternativas teórico-práticas vinculadas à produção de outras relações na assistência à saúde dos povos indígenas. Resultado: Destas experiências decorreram (des)aprendizagens e a possibilidade de novos olhares para o saber-fazer em saúde junto à comunidades indígenas. Pôde-se refletir sobre vivências e trocar perspectivas sobre os limites, as possibilidades, as tensões e as intenções dos diferentes núcleos de saber que compõem este campo, além de discutir e problematizar as formulações do pensamento decolonial sobre as formas de resistir e enfrentar a colonialidade no cotidiano das cenas do trabalho em saúde. Considerações finais: Repensar o escopo teórico-prático das ciências da saúde a partir das contribuições do pensamento decolonial se mostrou importante à medida que as vivências nos cenários de atuação da RMS-UFGD puderam ser ressignificadas e os encontros com os usuários indígenas e suas formas próprias de se colocar na vida e conceber saúde e doença puderam ser olhados por uma perspectiva, ao menos, atenta para a colonialidade que os permeia. Assim, o processo de trabalho e a produção de cuidado a saúde voltado a esta população ganha outros deliniamentos, que conduzem à busca da igualdade como princípio e da diversidade como fim.

9942 DO FURO NO MURO A FORMAÇÃO DAS REDES: AS CONTRIBUIÇÕES DA PRECEPTORIA DE CAMPO NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE MENTAL
Luciana Silvério Alleluia Higino da Silva, Andrea Damiana da Silva Elias, Marcella Costa Brajão, Maria Paula Cerqueira Gomes

DO FURO NO MURO A FORMAÇÃO DAS REDES: AS CONTRIBUIÇÕES DA PRECEPTORIA DE CAMPO NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE MENTAL

Autores: Luciana Silvério Alleluia Higino da Silva, Andrea Damiana da Silva Elias, Marcella Costa Brajão, Maria Paula Cerqueira Gomes

Apresentação: Os programas de residência em saúde são ferramentas importantes para o processo formativo e consequentemente para a aprendizagem. As vivências dos residentes associadas ao cotidiano do trabalho compõem uma formação prática e teórica. Dessa maneira a preceptoria de campo se torna um dispositivo potente nesse processo. Tais premissas sustentam o programa de residência multiprofissional em saúde mental do Instituo de Psiquiatria da UFRJ que atualmente teve uma reconfiguração e se apresenta a partir do modelo intitulado como NATI (Núcleo de Apoio Territorial à Internação). Foi criado pela coordenação desta residência e opera na lógica da territorialização dos residentes por regiões. Objetivo: Descrever os desafios enfrentados durante a preceptoria de campo no processo formativo do especialista em saúde mental. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo e reflexivo da preceptoria de campo com os residentes multiprofissionais em num hospital psiquiátrico, no período de junho de 2019 a Janeiro de 2020. A partir das orientações e divisões da coordenação da residências em 4 regiões (NATI) do construímos uma aproximação dos residentes com as pessoas internadas a partir de seu próprio território e com isso as ações de cuidado extra hospitalares se deram articuladas com a rede favorecendo a manutenção e construção dos laços para fora dos muros institucionais. A realização de encontros semanais para discussão clínica e os acompanhamentos propostos pela preceptoria de campo têm substanciado ações territoriais à luz da Clínica Ampliada potencializando a interlocução da pessoa internada com seu território. A preceptoria de campo tem conseguido servir como disposto de mediação entre as múltiplas formas de produzir cuidado e se mostrado um recurso relevante no processo formativo do residente e aprendizado contínuo do preceptor. Embora os processos de trabalho no hospital psiquiátrico tenda a se limitar em ações voltadas para o seu interior, com pouco diálogo com a Rede de Atenção Psicossocial. Esse modelo por vezes produz institucionalização, mantendo a pessoa mais tempo internada, desconectada com sua vida, distanciando-a das suas relações socioafetivas.  Tal evidência aponta para a disparidades do trabalho dos residentes multiprofissionais, dado que o mandato do programa é a desinstitucionalização. Dessa forma a proposta da preceptoria de campo é avançar nas discussões intra e extra-hospitalares para a superar a fragmentação das ações. Considerações finais: Dessa maneira consideramos que o processo formativo da preceptoria de campo tem como desafio sustentar o cuidado na lógica da atenção psicossocial nas enfermarias de um hospital psiquiátrico. Compreendemos a relevância no estreitamento dos laços entre residentes e preceptores de campo na construção do trabalho e no manejo dos casos. Com isso se constrói um diálogo entre o hospital e os serviços extra-hospitalares.

10041 FORMAÇÃO PARA O NASF: DESAFIOS EM UMA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA
Eluá Benemérita Vilela Nascimento, Thiago Santos Souza

FORMAÇÃO PARA O NASF: DESAFIOS EM UMA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA

Autores: Eluá Benemérita Vilela Nascimento, Thiago Santos Souza

Apresentação: O Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) foi criado no ano de 2008 com o objetivo de contribuir para a consolidação da Atenção Primária à saúde através da ampliação de ofertas em saúde a partir dos saberes de profissões que não compunham a equipe mínima de saúde. Desde sua criação alguns esforços, como a mudança da grade curricular dos cursos de graduação, e pós-graduações strictu e latu sensu tem sido desenvolvidas com objetivo de formar profissionais de saúde capazes de desenvolver o trabalho enquanto NASF. Para tanto, o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF), instituído pela Fundação Estatal Saúde da Família, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz–Bahia, tem o propósito de qualificar a formação em serviço dos trabalhadores da Atenção Primária, aproximando academia, serviços de saúde e comunidade.  O objetivo deste trabalho é refletir sobre a experiência do suporte pedagógico em uma RMSF na Região Metropolitana de Salvador. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência a partir da perspectiva de dois apoiadores pedagógicos de núcleo, que atuaram em cinco Unidades de Saúde da Família, de um município da região metropolitana de Salvador entre 2017 a 2019. A formação em saúde através da residência, expõe o profissional, já graduado, em contato direto com a realidade dos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde, no caso do NASF, os ambientes das Unidades de Saúde da Família se constituem como campo de práticas para o desenvolvimento dos saberes e práticas, bem como para o aprendizado da rotina dos serviços de saúde públicos. Desenvolver apoio pedagógico nesse contexto significa compreender as necessidades do serviço de saúde, da população assistida e as competências, habilidades e atitudes envolvidas na tríade ensino – aprendizagem – prática. Para desenvolver esse trabalho é necessário além dos conhecimentos teóricos, compreender a prática em serviço e traçar estratégias de desenvolvimento de competências do residente dentro dos serviços de saúde. Resultado: Após dois anos de atividades pedagógicas em uma RMSF, as estratégias de formação orientadas para o NASF culminaram na construção de competências, habilidades e atitudes de campo (saúde da família) e núcleo (saber pertinente as profissões), desenvolvimento de atividades pedagógicas com leitura de artigos e materiais do Ministério da Saúde, desenvolvimento de ações e projetos em saúde, diálogo com as coordenações de atenção básica do município, atividades de diálogo interprofissional entre residentes do NASF; e NASF e equipe mínima de saúde, atividades de reconhecimento e ações no território de saúde, e atividades pertinentes ao trabalho em equipe multiprofissional visando a integralidade do cuidado em saúde. Considerações finais: Desenvolver o apoio pedagógico em uma residência com metodologia ativa é um desafio cotidiano e um espaço ainda em desbravamento, que instiga o apoiador a propor novos modos de fazer e integrar saberes e práticas populares e multidisciplinares, valorizando o desenvolvimento de dimensões afetivas e intelectuais e buscando ressignificar, através da Pedagogia Problematizadora, situações cotidianas. 

10495 PERFIL DOS EGRESSOS DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA EM ENFERMAGEM EM SAÚDE DA FAMÍLIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Angela Fernandes Leal da Silva, Liliane Ecco Canuto, Maylu Julio Ferreira, Aluísio Gomes da Silva Junior

PERFIL DOS EGRESSOS DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA EM ENFERMAGEM EM SAÚDE DA FAMÍLIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Autores: Angela Fernandes Leal da Silva, Liliane Ecco Canuto, Maylu Julio Ferreira, Aluísio Gomes da Silva Junior

Apresentação: A expansão da Atenção Primária à Saúde (APS) no município do Rio de Janeiro teve como principal finalidade melhorar o acesso e a qualidade do atendimento, sobretudo com a qualificação dos profissionais. Neste contexto, houve a criação dos Programas de Residência em Enfermagem em Saúde da Família vinculados a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS RJ) no ano de 2015 em parceria com três instituições de ensino superior: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade do Grande Rio. Esta modalidade de formação enfatiza a interseção ensino-serviço. Dessa forma, este estudo tem como objetivo caracterizar o perfil dos egressos dos Programas de Residência em Enfermagem em Saúde da Família vinculados à SMS (RJ). Método: Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa realizado com os egressos das residências em enfermagem em saúde da família da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Os dados foram coletados no período dezembro de 2019 e janeiro de 2020 através de questionários auto aplicados por meio da ferramenta Google Forms e posteriormente tabulados e analisados em planilhas do Microsoft Excel®. Foram incluídos os residentes que concluíram sua formação no período de 2017 a 2019 e excluídos os que não concordaram em participar da pesquisa. O projeto foi submetido à plataforma Brasil e aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Fluminense e da SMS (RJ). Resultado: Os Programas de Residência em Enfermagem em Saúde da Família desenvolvidos na cidade do Rio de Janeiro em parceria entre a SMS (RJ) e as instituições de ensino entre 2017 e 2019 tiveram 152 concluintes. Desses todos foram localizados por meio de endereço eletrônico e receberam o questionário, dos quais 113 responderam, correspondendo a uma taxa de resposta de 74,3%. A maioria dos egressos era oriunda da rede pública de ensino totalizando 61,1% (n=69). Em relação ao gênero, 87,6% (n=99) eram mulheres. No que se refere a faixa etária de 25 a 29 anos (59,3%; n=67). Quanto a raça, 59,3% se autodeclararam pardos ou pretos (36,3% pardos; n=41 e 23% pretos; n= 26). Já em relação ao estado civil, 53,1% (n=60) eram solteiros e 71,7% (n=81) sem filhos. A maioria estava em imóvel alugado (38,1%; n=43) e com rendimentos familiares entre cinco e dez salários mínimos, totalizando 56,6% (n=64) dos participantes. Os egressos estavam atuando principalmente na APS, 77,8% (n=88), sendo 69,9% (n=79) no município do Rio de Janeiro. Considerações finais: O estudo possibilitou a caracterização do perfil dos egressos das residências em enfermagem em saúde da família, o que pode auxiliar na formulação de estratégias político pedagógicas para os cursos nesta modalidade. A identificação da inserção destes egressos revelou que um percentual significativo está atuando na rede de APS carioca demonstrando ordenação entre a formação de especialistas e necessidade do mercado. Vale ressaltar que as literaturas nacionais e internacionais corroboram com perspectiva que a consolidação da Estratégia de Saúde da Família como política de implementação da APS perpassa pela qualificação dos profissionais com ênfase na especialidade de família e comunidade.

10699 RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE: ENTRELAÇAMENTOS ENTRE TRABALHO E FORMAÇÃO
Letícia Batista Silva

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE: ENTRELAÇAMENTOS ENTRE TRABALHO E FORMAÇÃO

Autores: Letícia Batista Silva

Apresentação: Este trabalho busca apresentar apontamentos históricos e críticos acerca da instituição da residência como modalidade de formação que se realiza através do trabalho em saúde, assim como destacar algumas problemáticas atuais. Trata-se de resultado de pesquisa bibliográfica desenvolvida em estudos de doutoramento. A modalidade Residência Multiprofissional em Saúde surge na Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul. A experiência iniciou em 1976 como um programa de Residência em Medicina Geral Comunitária desenvolvida no Centro de Saúde Escola Murialdo, na cidade de Porto Alegre. Em 1977, há um redirecionamento dessa formação e do próprio trabalho em saúde desenvolvido, a partir da instituição de um novo programa de residência: a Residência Integrada em Saúde Coletiva. O novo programa contemplava a formação integrada de assistentes sociais, enfermeiros, médicos e médicos veterinários. Tratava-se de uma formação que se desenvolvia no campo da atenção básica, sendo uma inovação o trabalho e a formação em saúde a partir de uma equipe multiprofissional. Nos anos 2000 entra em tela a temática da formação dos trabalhadores para atuação no SUS. Identifica-se um conjunto de ações estratégicas nesse sentido: em 2002, o Ministério da Saúde  cria e financia 19 Programas de Residências em Saúde da Família; em 2003 no âmbito do MS é criada a Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde e nela o Departamento de Gestão da Educação na Saúde, com o objetivo de ordenar a formação de trabalhadores para a área da saúde, apresentando a modalidade RMS como uma estratégia nacional de formação para o SUS; em 2003 a aprovação pelo Conselho Nacional de Saúde da Norma Operacional Básica de Recursos Humanos para o SUS (NOB/RH-SUS/2002) como Política Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, no âmbito do SUS; em 2004 a instituição da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. A questão das residências é apontada na NOB/RH-SUS/2002 nos “Princípios e Diretrizes da Política de Desenvolvimento do Trabalhador do SUS” quando estes tratam das atribuições e responsabilidades do MEC sobre a Política de Desenvolvimento do Trabalhador para o SUS. Em 2005 é publicada a terceira versão da NOB/RH-SUS.  Esta Norma Operacional reitera do destaque para a modalidade Residência em Saúde, contudo aponta a gestão do trabalho como foco de desregulamentações inseridas no contexto das contrarreformas neoliberais. Nesse contexto, em 2005 a Lei 11.129/2005 institui a Residência em Área Profissional da Saúde e cria a CNRMS, cuja organização e funcionamento são compartilhados entre o MEC e o MS. A residência é definida como modalidade de ensino de pós-graduação lato sensu, voltada para a educação em serviço e abrangendo as profissões da área da saúde, com exceção da Medicina. Tais programas abrangem: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional, conforme Resolução CNS nº 287/1998. Em 2005 eram 22 os programas de RMS financiados pelo MS. Em 2019, segundo informação da Comissão de Residência Multiprofissional em Saúde estavam registrados cerca de 1.600 programas de residência uni e multiprofissional, o que aponta a tendência de grande expansão da modalidade Residência em Saúde no Brasil. Nossa pesquisa salientou que esta formação ocupa um lugar estratégico podendo, sob uma ótica, contribuir para uma formação profissional multiprofissional no sentido da efetivação do SUS a partir das necessidades de saúde da população e da leitura de uma realidade social atravessada por desigualdades e inacessibilidade a direitos, como também, sob outra ótica, a formação pode ser utilizada como forma de substituição e precarização das condições de trabalho no SUS. A potencialidade da residência multiprofissional em saúde consiste em sintonizar formação e trabalho, bem como em situar as necessidades de saúde da população usuária como eixo norteador da qualificação de profissionais da saúde, tomando o cotidiano dos serviços do SUS como lócus de ensino e aprendizagem. Uma das contradições que se coloca a priori é a forma de organização das atividades dos residentes. As atividades da residência multiprofissional se desenvolvem com uma carga horária de 60 horas semanais em 2 anos, promovendo uma carga horária total de 5.760 horas, carga horária muito superior a dos cursos de graduação de que os residentes são oriundos. Da carga horária total 80% referem-se às atividades práticas e teórico-práticas e 20% às atividades teóricas. As 60 horas semanais apresentam-se como uma atividade que combinada trabalho e estudo numa lógica devas intensa e com carga horária extensa. Entendemos que a formação pelo trabalho oferecida pelas residências se dá em um processo social e histórico, sendo fundamental apreendê-la no contexto de transformações societárias que conformam esta estratégia de formação pelo trabalho em saúde. Ao analisarmos as legislações em torno da RMS e alguns elementos do contexto histórico de sua implementação, concluímos que: a) a modalidade Residência Multiprofissional em Saúde é uma conquista e uma inovação em termos da formação em saúde, contudo, suas possibilidades como estratégia de formação para o trabalho em saúde podem ser esvaziadas quando o residente se insere nos processos como um trabalhador precarizado e não como um trabalhador/sujeito em formação; b) enquanto proposta, a Residência Multiprofissional em Saúde supera a lógica fragmentada e intra-especializada característica do surgimento da modalidade residência – a residência médica. Entendemos que esse potencial processo de “desfragmentação” pode ser percebido na integração de diferentes áreas profissionais da saúde, assim como na proposta da realização do trabalho e da formação em saúde a partir da interdisciplinaridade; c) a proposta inscrita no surgimento das RMS pauta-se nas necessidades de saúde e não em demandas de categorias profissionais por “especialização”, e dessa forma, atua no sentido do princípio da integralidade no SUS. Entendemos que o princípio da integralidade, dentro do aporte possível de um programa de residência, se materializa justamente a partir da análise crítica acerca das necessidades de saúde como produções históricas e sociais. Ou seja, se a base de análise são as necessidades de saúde, tendencialmente, a ação se desdobrará na afirmação da importância dos diferentes saberes oriundos das áreas que atuam na saúde e outras áreas afins, assim como na construção de ações que integrem os diferentes níveis de atenção – da atenção básica à alta complexidade. Nessa lógica, entendemos que, potencialmente, o foco da atenção sai do cumprimento de protocolos que atendem às patologias e volta-se às múltiplas dimensões das necessidades de saúde; d) especialmente a partir de 2010 pode ser constatada a exponencial evolução do financiamento de bolsas, tal fato aponta o caráter estratégico dessa modalidade de formação. Contudo, essa expansão não significa, a priori, uma expansão no sentido de garantir uma formação de qualidade. São necessários estudos qualitativos para a compreensão do significado dessa expansão; e) ainda que a proposta da RMS estivesse sendo continuamente aprimorada no sentido de atender aos princípios basilares do SUS, ela sozinha não alterará o sentido da formação em saúde, tão pouco a realidade dos serviços de saúde onde se insere; f) e, por fim, com a exposição desses elementos queremos apontar que em tempos de precarização da vida, de avanço neoliberal, de desconstrução das políticas públicas, aqui em especial a política de saúde, discutir os sentido dessa formação pelo trabalho é uma questão importante de pesquisa, pois levanta elementos que se conectam com a totalidade da política de saúde e seus contornos.

10805 VIVÊNCIAS DA RESIDÊNCIA EM ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA NA ATENÇÃO BÁSICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Fernanda Letícia dos Santos Ferreira, Ana Paula Cavalcante Ferreira, Felipe Guimarães Tavares, Hildegard Soares Barrozo de Lima, Beatriz de Barros Lima, Debora Mota dos Santos, Regina Maria Cotti da Rocha Moraes, Priscila Oliveira dos Passos

VIVÊNCIAS DA RESIDÊNCIA EM ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA NA ATENÇÃO BÁSICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Autores: Fernanda Letícia dos Santos Ferreira, Ana Paula Cavalcante Ferreira, Felipe Guimarães Tavares, Hildegard Soares Barrozo de Lima, Beatriz de Barros Lima, Debora Mota dos Santos, Regina Maria Cotti da Rocha Moraes, Priscila Oliveira dos Passos

Apresentação: O Programa de Residência em Enfermagem em Saúde Coletiva propõe-se a formar o sanitarista comprometido com os princípios da Reforma Sanitária Brasileira, através do processo pedagógico referenciado na reflexão crítica sobre a prática da saúde coletiva nos serviços públicos de saúde, aliando competência técnica aos princípios éticos na práxis-profissional. É pautada no treinamento em serviço, sob supervisão, capacitando-os para atuar nas diversas áreas do SUS, permitindo que os mesmos possam construir seu percurso de profissionalização com uma sólida formação geral. Com relação ao exposto, o presente trabalho pretende relatar a experiência de duas profissionais residentes, inseridas no programa de Residência em Enfermagem em Saúde Coletiva pela Universidade Federal Fluminense, no campo da atenção primária em saúde, durante o ano de 2019/2020. Desenvolvimento: Atenção Primária à Saúde abrange a promoção, a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação, de acordo com o perfil epidemiológico e as necessidades de saúde apresentadas pela população de um território. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social, considera o sujeito em sua singularidade, buscando produzir a atenção integral, sendo um cenário de extrema importância para a formação do residente em Enfermagem em Saúde Coletiva, onde os mesmos são capazes de vivenciar, aprender e contribuir para um serviço público de qualidade. Durante os 10 meses de vivência, as residentes ficaram alocadas durante 5 meses na atenção básica da cidade de Niterói-RJ, e 5 meses na atenção básica do município do Rio de Janeiro-RJ. Tiveram a oportunidade de acompanhar e atuar na prática no processo de trabalho das equipes, atividades de gestão, educação em saúde, educação permanente, vigilância epidemiológica, programa de imunização, processo de territorialização, consultas de enfermagem nas áreas de Saúde da Mulher, do Homem, do Idoso, da Criança, do Adolescente, Mental, Matriciamento multidisciplinar, desenvolvimento de material didático de apoio para educação continuada, visando sempre o melhor para o usuário. Resultado: Diante da vivência foi adquirido grande aprendizado entre as residentes, e os profissionais, a experiência foi rica em crescimento profissional e pessoal, foi percebido uma compreensão dos profissionais que integravam as equipes de ambos os campos que foram inseridas, sobre a residência, com o auxílio impecável da preceptoria, que foi de suma importância para o melhor aproveitamento da prática, fornecendo embasamento teórico-prático, acolhimento e extrema dedicação para com as residentes. Conclui-se assim que os objetivos da experiência foram alcançados. Considerações finais: O Sistema Único de Saúde, a Atenção básica são de grande valia para a sociedade em geral, tendo que ser priorizada sempre pela gestão de todos os níveis, sendo garantido todos os princípios designados, para a continuação e melhoria dos serviços prestados à população. Dessa forma garantir profissionais capacitados, adequadamente remunerados e reconhecidos, é assegurar um acesso, atendimento e resolutividade, com qualidade, nos diversos serviços ofertados e principalmente pela porta de entrada – a Atenção Básica.

10974 FARMÁCIA SERTANEJA: UMA FORMA DE DIMINUIÇÃO DA AUTOMEDICAÇÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Maria Bianca Brasil Freire, Fernanda Mariany de Almeida Menezes Frei, Antônia Suellen Fernandes Dantas, Bianka Andressa de Oliveira Medeiros, Camila Mesquita Soares

FARMÁCIA SERTANEJA: UMA FORMA DE DIMINUIÇÃO DA AUTOMEDICAÇÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

Autores: Maria Bianca Brasil Freire, Fernanda Mariany de Almeida Menezes Frei, Antônia Suellen Fernandes Dantas, Bianka Andressa de Oliveira Medeiros, Camila Mesquita Soares

Apresentação: A automedicação é definida como ato de ingerir substâncias de ação medicamentosa sem o aconselhamento e/ou acompanhamento de um profissional de saúde qualificado, visando o alivio de sinais e sintomas por meio de indicação de outra pessoa não habilitada, como amigos e familiares. Se tratando da automedicação responsável, a mesma é limitada à utilização de medicamentos que não necessitam de prescrição, os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP), que podem ser utilizados com segurança. Porém, a população tem utilizado não apenas MIP para a automedicação, mas também medicamentos que exigem prescrição, sem a necessária supervisão, até mesmo medicamentos tarja preta, como os ansiolíticos. Assim, o presente estudo tem por objetivo descrever uma sala de espera sobre a automedicação, e apresentar a farmácia sertaneja como forma de minimizar essa prática. Trata-se de um relato de experiência acerca da sala de espera sobre a automedicação e apresentação da farmácia sertaneja realizada no dia 20 de agosto de 2019 com o público que aguardava atendimento. A ação foi realizada pela equipe de residentes (enfermeira, nutricionista, assistente social, psicóloga e fisioterapeuta) do programa residência multiprofissional em atenção básica/saúde da família e comunidade na unidade básica de saúde Dr. Cid Salém Duarte, localizada no bairro abolição IV município de Mossoró (RN). Para o desenvolvimento da atividade foi levado charges sobre o uso de medicamentos. As charges eram numeradas de um a cinco, de acordo com cada uma foram levantado questionamentos, como por exemplo: “vocês sabem o que é automedicação?”; “ o que tem levado as pessoas realizarem essa prática?” entre outras. Dentre as pessoas presentes, uma média de 15 pessoas participou da sala de espera. Foram distribuídas as cinco charges e pedido para que as pessoas lessem para posteriormente discutirmos. As pessoas começaram a se colocar e trazer experiências já vividas por meio da automedicação, relatos de tratamentos interrompidos, do uso das sobras de medicamentos, e até mesmo da busca do medicamento na casa do vizinho. Dentre os medicamentos mais utilizados a comunidade citou os anti-inflamatórios, antibióticos e até mesmo os ansiolíticos como o clonazepam. Após a discussão, foi apresentada a farmácia sertaneja, onde foi montada no corredor da UBS uma estante com produtos naturais, desde chás até lambedores, como forma de alternativa para diminuição do uso de medicamentos de forma inapropriada, muitos relatarem já fazerem uso, mas prefere o medicamento devido à resolutividade rápida. Com isso percebe-se que a população possui conhecimento prévio sobre a prática, porém acaba desconhecendo as consequências que a mesma apresenta, dando ênfase a apenas a facilidade de obtenção e a cura sintomática de forma rápida, acreditando que somente o medicamento resolverá seu problema. Portanto, é de extrema importância traçar estratégias que venham a minimizar essa prática, como a abertura de espaços para produção de dialogo acerca do uso racional de medicamentos, que promovam a reflexão da população, possibilitando dessa forma a construção de uma relação de corresponsabilidade entre os usuários e profissionais por meio da educação em saúde.

11046 TUDO O QUE EMERGE DO TRABALHO DO RESIDENTE É CONTEÚDO DA TUTORIA: REFLEXÕES SOBRE AS DIMENSÕES DA ATIVIDADE DE TUTORIA EM UM PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE.
Dara Andrade Felipe, José Laerton Santos da Silva, Idaene Silva, Ana Rebeca Paulino Portela

TUDO O QUE EMERGE DO TRABALHO DO RESIDENTE É CONTEÚDO DA TUTORIA: REFLEXÕES SOBRE AS DIMENSÕES DA ATIVIDADE DE TUTORIA EM UM PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE.

Autores: Dara Andrade Felipe, José Laerton Santos da Silva, Idaene Silva, Ana Rebeca Paulino Portela

Apresentação: Trata-se de um relato de experiência da Tutoria de Núcleo de Psicologia no Programa de Residência Multiprofissional de Interiorização da Atenção à Saúde do Centro Acadêmico de Vitória – Universidade Federal de Pernambuco. As Residências Multiprofissionais apresentam-se como uma estratégia de mudança nos arranjos tradicionais do trabalho em saúde. Afinada com o referencial da Educação Permanente em Saúde de formação com o trabalho, compreende que o processo formativo deve se desenvolver a partir da problematização dos saberes e práticas relacionados ao processo de trabalho dos residentes para a produção de práticas de cuidado condizentes com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Dentre outras ferramentas pedagógicas as Residências Multiprofissionais dispõem em seu Corpo Docente Assistencial Estruturante, de preceptores e tutores, além dos docentes. Compete ao corpo docente assistencial estruturante a orientação e supervisão das trabalhadoras e dos trabalhadores residentes, assegurando o percurso formativo. A tutoria é caracterizada como uma atividade de orientação acadêmica de preceptores e residentes, estruturada nas modalidades de tutoria de núcleo e tutoria de campo, sendo pré-requisito para o exercício da função de tutor/a exercício o título de mestre e experiência profissional mínima de três anos. A tutoria de núcleo é a atividade que corresponde à orientação acadêmica voltada à discussão das atividades teóricas, teóricas-práticas e práticas do núcleo específico profissional, desenvolvidas pelos preceptores e residentes. A despeito da relevância da tutoria, ainda são poucos os estudos que problematizam a atividade de tutoria com vistas à sistematização de diretrizes para o seu desenvolvimento, enquanto que as reflexões quanto à preceptoria já possuem relevância no processo de integração ensino-serviço. Assim, esse resumo buscou relatar a experiência da tutoria de núcleo de psicologia, destacando sua dimensão pedagógica, técnica, ético-política, de integração ensino-serviço e afetiva. A experiência de tutoria de núcleo aqui relatada agrupava dois trabalhadores/as residentes psicólogos e a tutora, também psicóloga, docente instituição de ensino. A tutoria ocorria quinzenalmente, com duração média de 2 a 2,5 horas. A tutoria acontecia no formato de conversa, os diálogos eram de forma livre e permitiam a expressão espontânea dos/as residentes, em um exercício permanente de reflexão crítica a respeito do processo de formação pelo trabalho no SUS. Durante as conversas, os/as residentes eram estimulados a problematizar ferramentas, técnicas, ações, posturas e discursos que poderiam ser construídos, reformulados ou distanciados do cotidiano do serviço, na busca por aprimorar o processo de trabalho. Neste processo, a liberdade para buscar ferramentas pedagógicas ou técnicas permeou todo a vivência. A partir dos conteúdos dialogados era indicada a busca e realização de leituras para aprofundamento das temáticas dialogadas, ou discussões conjuntas de textos. Para confecção desse relato foram sistematizados os materiais produzidos a ao longo dos 22 meses do programa (março de 2018 a dezembro de 2020) pelos residentes e tutora, a saber: anotações pessoais, planilhas, sistematizações das atividades desenvolvidas em serviço, composição de fluxo de demandas e registros pessoais em diários de campo em linguagem livre. A partir da sistematização do material produzido foi possível organizar a atividade de tutoria em cinco dimensões, que dizem respeito às estratégias, temas e conteúdos abordados: Dimensão técnica: diz respeito ao aprofundamento dos saberes e práticas relacionados ao núcleo de atuação profissional, no caso, ao domínio das técnicas da psicologia noâmbito da Atenção Básica em Saúde. Dimensão ético-política: compreende os aspetos etíco-políticas do trabalho em saúde em articulação com os princípios e diretrizes do SUS. Dimensão afetiva: compreendem as angústias, críticas e reflexões que emergem do nopercurso formativo na residência e aos cenários de prática. Dimensão pedagógica: diz respeito às reflexões quanto ao caráter educativo do trabalho em saúde e ao desenvolvimento de ações e processos de educação permanenteem saúde nos cenários de atuação dos residentes. Dimensão integração ensino-serviço: articulação entre a tutora os preceptores e residentes com finalidade de desenvolvimento de ações integradas e mediação na relação preceptor-residente. Destaca-se que a apresentação em cinco dimensões apresenta-se como um recurso de sistematização, uma vez que essas se encontraram entrelaçadas durante o processo de tutoria. Ao inserir a tutoria em um papel integrador entre preceptores e residentes, o espaço de tutoria torna-se importante para os processo de integração ensino-serviço no âmbito da residência. Contudo, dentre as dimensões apresentadas, foi possível perceber que a encontrou maiores dificuldades em seu desenvolvimento sistemático foi a relacionada à integração ensino-serviço. Tais dificuldades podem estar relacionadas à dificuldade de integração da atividade de tutoria às demais atividades docentes (uma vez que no caso apresentado à tutora não possuía carga horária docente destinada a essa atividade), bem como à dificuldade de produção de encontros dessa natureza nos serviços de saúde. A maior parte dos encontros entre a tutora e os preceptores teve como objetivo a mediação do relacionamento dentre estes e os residentes. Destaca-se a importância da consideração das realidades regionais na direção da criação de dispositivos que tornem a formação em saúde para o SUS ligada aos processos locais, estabelecendo um diálogo direto entre as redes de saúde, os territórios de inserção e as instituições formadoras. A partir da experiência relatada foi possível perceber que o empreendimento da formação profissional pode gerar incertezas e dúvidas. Nos Programas de Residência Multiprofissionais a estratégia da tutoria possibilita a condução dos trabalhadores residentes pelas reflexões que sobre a construção do cuidado em saúde, sobre a necessidade de pensar a humanização no contexto de trabalho em saúde, além de pensar de forma inovadora o processo de formação. Torna-se perceptível a necessidade de criação de ferramentas e diretrizes que possam nortear a construção dos espaços de tutoria em programas de residência multiprofissionais. Carece no interior dos programas de residência a processos de formação de preceptores que busque construir definições e conceitos que a integram, podendo ser identificado em alguns casos uma não diferenciação dos papéis da tutoria e preceptoria. A vinculação das Residências Multiprofissionais à Instituições de Ensino Superior é um fator importante para pensar a conciliação das atividades dos docentes com a dedicação necessária às demandas produzidas pelos programas de Residência Multiprofissional em Saúde. Os espaços de tutoria, embora previstos, nem sempre ocorrem efetivamente na trajetória de formação das residências, há dificuldade para proteger horários comuns para os diversos sujeitos envolvidos no processo.

7051 A OFICINA DE FOTOS COMO UM MÉTODO DE FORMAÇÃO A PARTIR DOS DEBATES SOBRE O TRABALHO
Karla Maria Neves Memória Lima, Marianna Araújo da Silva

A OFICINA DE FOTOS COMO UM MÉTODO DE FORMAÇÃO A PARTIR DOS DEBATES SOBRE O TRABALHO

Autores: Karla Maria Neves Memória Lima, Marianna Araújo da Silva

Apresentação: O objetivo deste trabalho é apresentar a pesquisa desenvolvida no curso de residência em enfermagem obstétrica da UFF, Niterói (RJ). A questão que norteou a investigação foi como ampliar os recursos para ação das enfermeiras-residentes. A metodologia utilizada segue os preceitos teórico-metodológicos da Clínica da Atividade que preconiza que desenvolver modos para enriquecer o meio de trabalho é um modo de produzir conhecimento e saúde do trabalhador. O método utilizado foi o da Oficina de Fotos, que respaldada na Clínica da atividade, objetivou utilizar o registro de fotos produzidas pelas residentes sobre a sua atividade de formação como método indireto para análise do processo de formação. As residentes confeccionaram fotografias que incitaram a discussão sobre sua atividade de formação, o que estava automatizado na ação diária, um modo de aprender com a atividade singular e coletiva, estabilizada ou nascente. A Oficina de Fotos foi realizada em 5 encontros ao longo de um ano. Observou-se que a análise da atividade clarificou a noção de produção conjunta de saberes e permitiu que as residentes, protagonistas da ação, visualizassem a dimensão de sua participação na construção do conhecimento, da sua própria formação e o trabalho singular e coletivo. À medida que produziam as imagens sobre a formação e o trabalho, as residentes foram protagonistas na construção de seus modos específicos de aprender, de trabalhar e de produzir significados subjetivos e coletivos. Com esse novo olhar sobre o trabalho e a formação, mediado pelo debate das fotos, as residentes propuseram mudanças importantes que reconstruíram a residência. Como por exemplo, durante a Oficina de Fotos, as residentes solicitaram aluas específicas sobre determinados conteúdos que elas consideravam essencial para a formação em enfermagem obstétrica e obtiveram sucesso em suas reivindicações. Ao visualizarem a potência da Oficina de Fotos para a formação como meio e recurso para construírem recursos para agir no trabalho e para pensar a formação, que possibilitou o aumento do poder de agir das enfermeiras, a Oficina se tornou uma disciplina da residência. Consideramos que a Oficina de fotos realizada funcionou como uma caixa de ressonâncias, ampliando a duração e a intensidade da atividade de formação, ao propor a análise da atividade por meio da confecção de fotos e dos debates. A Oficina fez perdurar os ecos da atividade: ver, ouvir, falar, sentir de outros modos a atividade formadora. Isso viabilizou a vivência da formação como processo ora no formato curso de residência e suas prescrições, ora em outros modos enriquecedores do processo de integração ensino-serviço. Uma formação como processo vivo em que é possível afirmar a potência da renormatização tanto do sujeito enredado nos conflitos de sua atividade quanto do gênero coletivo de atividade profissional. É nesse sentido que afirmamos a oficina de fotos como um método comprometido com o desenvolvimento do poder de agir na formação das residentes, uma experiência de análise da atividade que propiciou o compartilhamento e discussão do vivido nos cenários de práticas e que expôs divergências e modos diferentes de vivenciar a atividade de formação.