427: Os potenciais do processo de cuidado
Debatedor: Donizete Vago Daher
Data: 30/10/2020    Local: Sala 11 - Rodas de Conversa    Horário: 16:00 - 18:00
ID Título do Trabalho/Autores
8275 DIMENSÕES DE DESIGUALDADES SOCIAIS NOS DISCURSOS DE ENTIDADES DA ENFERMAGEM
Ana Renata Moura Rabelo, Kenia Lara da Silva, Rafaela Siqueira Costa Schreck, Elen Cristiane Gandra, Stephanie Marques Moura Franco Belga, Rayssa Assunção Guimarães

DIMENSÕES DE DESIGUALDADES SOCIAIS NOS DISCURSOS DE ENTIDADES DA ENFERMAGEM

Autores: Ana Renata Moura Rabelo, Kenia Lara da Silva, Rafaela Siqueira Costa Schreck, Elen Cristiane Gandra, Stephanie Marques Moura Franco Belga, Rayssa Assunção Guimarães

Apresentação: As desigualdades sociais são processos relacionais que tem o efeito de limitar ou prejudicar o status de um determinado grupo, classe ou círculo social. De modo sistêmico, elas são geradas e se reproduzem num dado tempo e espaço. Elas podem ser abordadas por perspectivas diferentes, mas por uma construção histórica quase sempre são evidenciadas em dimensões econômicas. Entretanto, considera-se que há outras dimensões das desigualdades tais como as sociais, existenciais e políticas que se manifestam nas relações sociais fruto da exploração e das lutas entre grupos antagônicos. Além disso, as desigualdades se manifestam como um desafio ainda contemporâneo e em espacial para o campo da saúde. Portanto, visando uma sociedade mais justa é preciso entender o modelo de sociedade em que vivemos (e atuamos): patriarcal-racista-capitalista. Do ponto de vista ideológico, insere-se a problemática da hegemonia em relação às dimensões de desigualdade e a discussão acerca das entidades representativas da enfermagem, aparelhos em disputa/luta pela hegemonia, na elaboração de novas ideologias. Este estudo busca analisar as dimensões de desigualdades encontradas em documentos emitidos pelas principais entidades representativas da enfermagem, do ponto de vista da luta hegemônica. Desenvolvimento: Trata-se de pesquisa qualitativa, orientada pelo referencial teórico da dialética marxista. Realizou-se a análise documental de documentos de posicionamento público, compreendidos por manifestos, cartas e notícias de entidades representativas da enfermagem, embasadas pela Análise de Discurso Crítica proposta por Fairclough. Foram selecionadas as entidades representativas da enfermagem, a saber: Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) e Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO). Considerou-se como documentos públicos as notas, manifestos, cartas e notícias que trazem um posicionamento público. A fase de levantamento de documentos públicos foi conduzida em pares e explorou os documentos presentes nas páginas oficiais das referidas entidades. Os documentos foram selecionados mediante leitura flutuante do conteúdo e utilizando palavras-chaves previamente definidas, com amparo no referencial teórico e delimitadas no protocolo de pesquisa, a saber: Fatores Socioeconômicos; Desigualdade; Formação Profissional; Currículo; Diretrizes Curriculares; Ensino; Enferm*; Nurs. Adotou-se ainda como critério de inclusão documentos publicados após 2011, ano que foi realizada a Conferência Mundial de Determinantes Sociais da Saúde, sediada no Brasil. Em um segundo movimento de análise foram excluídos 22 textos por não apresentarem conteúdo pertinente às dimensões de desigualdade restando na amostra final 12 documentos publicados por COFEN, ABENFO e ABEn. Resultado: A análise documental permitiu apreender algumas dimensões das desigualdades sociais presentes nos documentos analisados, a saber: gênero, raça/etnia, fator econômico e outras vulnerabilidades. As dimensões gênero e raça/etnia foram as mais retratadas, em especial relacionadas a profissão de Enfermagem, majoritariamente feminina. Na construção histórica da Enfermagem são mencionadas: a invisibilidade das contribuições das mulheres negras, as dificuldades de inserção de pessoas negras no curso e no mercado de trabalho, a vivência de preconceito no cotidiano de trabalho, em formas mais agressivas e verbalmente pronunciadas e no comportamento sutil de pacientes, familiares, profissionais e gestores da saúde. Os trechos que sustentam a dimensão gênero tem como público-alvo prioritariamente as mulheres, mas também a população LGBTQ+. Denunciam como efeitos das desigualdades de gênero: a violência nas suas diversas formas (obstétrica, institucional, doméstica e sexual), a mortalidade materna, o cerceamento da autonomia e da participação em espaços públicos e a medicalização do corpo feminino. Na dimensão raça/etnia há denúncia de efeitos das desigualdades em termos de racismo, preconceito, discriminação social, moral e intelectual de negros e indígenas; a xenofobia, a criminalização de mulheres negras pelo aborto e a hipersexualização de negros e indígenas. A desigualdade racial é tratada como um fenômeno histórico que se reinventa ao longo dos anos, pela manutenção das desigualdades econômicas e sociais entre negros e brancos. Os trechos que tratam da dimensão fator econômico denunciam efeitos da concentração do capital, baixa escolaridade e renda, na manutenção das desigualdades econômicas e sobre a saúde. Entretanto, tal dimensão é tratada de modo incipiente nos posicionamentos das instituições analisadas, o que pode estar relacionado ao fato de que a superação de tal desigualdade pressupõe questões estruturais como a forma de apropriação e distribuição de renda, o que supera a vontade ou ato de protestar. A opção política ou religiosa, a vivência de pessoas com deficiência e os residentes em áreas rurais/urbanas são citadas nos documentos como dimensões que submetem os sujeitos às condições de desigualdade. Em alguns trechos há a menção também de modo genérico das “minorias de poder” e “desigualdades de poder”. Percebe-se que não foram contempladas todas as dimensões de desigualdade presentes na literatura e na prática, assim, algumas condições sociais, culturais e de vida que geram desigualdades, não foram tratadas nos discursos das instituições. Alguns trechos de posicionamento analisados avançam no entendimento de entrecruzamento entre as dimensões de desigualdade, opressões múltiplas e imbricadas. Em relação aos modos discursivos de operação da ideologia observa-se que as entidades apresentam mais estratégias de denúncia do que de ação/defesa ou persuasão. Além disso, as estratégias de defesa das populações apresentadas (educação em escolas, direitos à paz, ao diálogo, liberdades individuais, igualdade na inserção e remuneração no mercado de trabalho) não estão diretamente relacionadas à tomada de atitudes pela Enfermagem. Portanto, parece não haver uma percepção direta da atuação e responsabilidade da Enfermagem com a mudança de desigualdades sociais e até mesmo com as desigualdades na profissão. Consequentemente, nos discursos foram acionadas poucas estratégias de persuasão e convocação da classe trabalhadora para atuar na redução das disparidades. Considerações finais: A partir do referencial de hegemonia, entende-se que as dimensões das desigualdades precisam ser visibilizadas no nível das disputas existentes na e pela superestrutura, no confronto de forças entre blocos sociais atuantes em determinado contexto histórico. A enfermagem pode representar tanto a manutenção e a reprodução dos valores da classe dominante, como também e, especialmente pela formação de entidades de classe, pode atuar na disputa hegemônica, promovendo a construção de novos valores sociais e uma nova identidade profissional. Assim, o estudo contribui para a reflexão de como os discursos da Enfermagem (e de outras profissões da saúde) participam na promoção do cuidado à vida e à justiça social, na atuação em contextos de vulnerabilidade e defesa de relações de poder mais democráticas. Porém, ressalta-se que o discurso é um uso social da linguagem, uma forma de comunicação no contexto social, proferido por alguém que representa uma determinada posição social. Por isso, os resultados encontrados representam ainda um convite ao aprofundamento na discussão de como as enfermeiras atuam na compreensão das desigualdades, incorporando análises quanto aos sistemas de dominação, exploração e reprodução social.

8287 DO ESTEREÓTIPO À ESPECIFICIDADE, DA IGUALDADE À EQUIDADE: UMA REFLEXÃO DECOLONIAL PARA A SAÚDE COLETIVA
Danilo Cleiton Lopes, Conrado Neves Sathler, Elenita Sureke Abilio

DO ESTEREÓTIPO À ESPECIFICIDADE, DA IGUALDADE À EQUIDADE: UMA REFLEXÃO DECOLONIAL PARA A SAÚDE COLETIVA

Autores: Danilo Cleiton Lopes, Conrado Neves Sathler, Elenita Sureke Abilio

Apresentação: Este trabalho apresenta parte dos resultados da pesquisa-cartografia de mestrado intitulada: “Atenção diferenciada à saúde indígena: biopolítica e territorialidades no polo base de Dourados, MS”, articulados com novos acontecimentos nos espaços-tempos de produção, numa vinculação indissociável entre: saúde, educação e pesquisa. Como parte das narrativas e reflexões inéditas vivenciadas após a conclusão da pesquisa, destacam-se as linhas discursivas em confronto na VIII Conferência Municipal de Saúde, desta localidade, cujo tema central foi: “Democracia e Saúde” e como eixos temáticos: “Saúde como direito”, “Consolidação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)” e “Financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS)”. A partir do recorte teórico-metodológico da Análise do Discurso e do pensamento Decolonial, objetiva-se refletir os efeitos da colonialidade do poder e seus entraves na efetivação da equidade enquanto princípio e diretriz da produção do cuidado em Saúde, no e pelo (SUS). Desenvolvimento: As Conferências Municipais de Saúde configuram-se como mecanismo oficial de controle social e contam com a participação de gestores, trabalhadores e usuários. Apesar dos usuários ainda terem participação mais tímida, quando comparada aos trabalhadores e gestores, sua representatividade aumenta quando existem – como é o caso do presente relato – alguns incentivos institucionais como a participação de alunos(as) e professores(as) universitários(as). Similar a inúmeros outros espaços-tempos cohabitados nas territorialidades de produção de cuidado em saúde e educação da presente pesquisa, a Conferência Municipal representou, em partes, a multiplicidade territorial de (re)existências. Com destaque para a presença de trabalhadores e usuários(as) indígenas que (re)existem nestes espaços-tempos e configuram-se como territorialidades singulares que se sobrepõem à política e epistemologia eurocêntrica. Suas demandas e necessidades em Saúde são especificas, seja por suas singularidades sociais e históricas, onde seus índices de saúde e perfil epidemiológico se assemelham às populações mais podres do país, bem como por suas especificidades cosmológicas, culturais e epistemológicas que são desperdiçadas pelo pensamento abissal na reverberação da colonialidade do poder. Assim, aquilo que é compreendido como específico aos povos indígenas, aos olhos dos não indígenas, se relaciona a um estereótipo criado para dar aos povos indígenas o lugar do degradável e subalterno. Seus conhecimentos e saberes são ignorados e sua imagem caricaturada é associada ao anti-sujeito para a perspectiva eurocêntrica. Deste modo, as estratégias de saúde eurocêntrica, marcadamente associadas à definição positivista de ciência e visão biomédica de saúde são insuficientes e infecundas, quando não, iatrogênicas aos cuidados em Saúde junto aos povos indígenas. A epistemologia ocidental, em que está assentada a visão fragmentada de saúde biomédica, vem ganhando força no atual cenário político e social brasileiro. Inúmeras confusões retóricas são dissimuladas cotidianamente, com o intuito de produzir efeitos de verdade sobre os diferentes grupos-sujeitos. Com isso, criam-se dualismos e dissociações entre os saberes tradicionais indígenas e a vontade de saber eurocêntrica, com notável prejuízo aos primeiros. Resultado: A narrativa que permeava a fala de alguns participantes da Conferência Municipal de Saúde: “Saúde e Democracia” destacava: “Somos todos iguais”. Essa fala era reproduzida ao microfone, sempre que uma proposta da plenária buscava destacar a necessidade de se considerar posicionamentos e estratégias diferenciadas às demandas das alteridades na implementação de políticas e serviços de saúde, como é o caso de: indígenas, negros, comunidade LGBTI+ etc. Isto é, a narrativa “somos todos iguais” justifica as inequidades dos serviços e políticas de Saúde. Seja através do seu apagamento ou inversão retórica, ambos produtores de efeitos de verdade. O apagamento retórico se expressa, por exemplo, quando trabalhadores(as) de Saúde se dizem ofendidos(as) com o pedido de representantes das alteridades, contra a discriminação pejorativa ao seu modo de ser, nos serviços e espaços de produção de cuidado em saúde: “eu me sinto ofendida com esse pedido porque nós tratamos todos de maneira igual em nossa unidade. Não temos preconceito”. Com isso, populações que são historicamente alvos de injustiças sociais, preconceitos pejorativos e descuidadas pelas políticas públicas e serviços de saúde veem suas necessidades e demandas apagadas pela noção de igualdade subjetiva entre os grupos-sujeitos. A inversão retórica acontece quando a narrativa dos grupos-sujeitos indígenas – vulneráveis por suas condições de vida pelo confinamento geográfico e cultural na reserva indígena – reivindica financiamento para a aquisição de meio de transporte para melhor atendimento desta população. O discurso não indígena contrapõe-se: “porque tem que ter tratamento diferente para os indígenas? Somos todos iguais. Eu que sou branco não tenho esse direito?”. Em seguida faz o relato de uma situação que também justificaria sua necessidade. A inversão retórica trata o direito e a subjetividade como sinônimos, isso faz com que injustiças sociais se perpetuem de maneira a naturalizar-se. Como contraponto ao apagamento e às inversões retóricas vivenciadas neste espaço, a narrativa de um participante da plenária faz um esclarecimento: “não somos todos iguais. Somos diferentes. É só olhar para essa plenária que percebemos que não somos iguais. No momento em que estamos aqui, existem pessoas que estão recolhendo o nosso lixo, limpando nossas casas. Trabalhadores que não tem a oportunidade de estar aqui como usuários do SUS, por conta de seus afazeres. Então não somos todos iguais. Nós lutamos por direitos iguais. É por isso que um dos princípios e diretrizes do SUS é equidade. Equidade!” A partir do conceito político-filosófico de equidade amplia-se a noção de igualdade, compreendendo-a em sua complexidade. O fato de se lutar por direitos iguais em determinado contexto social, não torna iguais, em termos de produção de subjetividade e condições de vida, os grupos-sujeitos que o compõe. A ordem discursiva que dissimula o padrão homogêneo da igualdade enquanto sujeitos, pressupõe, também, uma distribuição homogênea de bens e serviços entre os mesmos sujeitos. Enquanto que a equidade considera a diferença existente entre os grupos-sujeitos e, consequentemente, suas diferentes necessidades. Considerações finais: A partir desta cartografia viva, evidenciam-se as artimanhas discursivas da colonialidade do poder. Em princípio, marca a diferença entre os povos a partir da noção de raça, numa escala linear e unidirecional de superioridade que vai dos indígenas (estado de natureza) aos não indígenas (civilizados). Assim, aquilo que o discurso da Política Pública de Saúde trata como especificidade dos povos indígenas, em ato no cotidiano dos serviços não só é desperdiçada em sua potência, mas transformada e efetivada como estereótipo. As mazelas que afetam diferentes povos em escala mundial, tornam-se exclusividade dos povos indígenas, a saber: a alcoolização, diferentes formas de violência, suicídio etc. Numa postura catalogadora depreciativa, as mazelas advindas das condições de vida e contextos sociais, são ancoradas a identidade e cultura indígena. Por outro lado, o discurso que afirma que “somos todos iguais” em termos de produção de subjetividade, igualmente representa a colonialidade do poder, pensamento e imaginário social em que convivemos. Isto porque apaga a possibilidade do exercício da equidade, num cenário em que, não apenas, faz-se necessário o enfrentamento as injustiças sociais e epistêmicas, mas é indispensável o exercício ético-político da equidade nos espaços de produção de saúde e vida. Haja vista as iniquidades sociais perpetradas pela necropolítica, direcionada as diferenças e alteridades, vivenciadas neste espaço-tempo atual.

8386 A PERCEPÇÃO DO USUÁRIO DA ATENÇÃO BÁSICA SOBRE A VISITA DOMICILIAR
Daniela Teixeira de Souza, Cinoelia Leal de Souza, Elaine Santos da Silva, Leandro da Silva Paudarco, Jader da Silva Ramos, Diana Êmily Mendes Guimarães, Sandy Hellen Rodrigues de Souza, Alaides de Oliveira Souza

A PERCEPÇÃO DO USUÁRIO DA ATENÇÃO BÁSICA SOBRE A VISITA DOMICILIAR

Autores: Daniela Teixeira de Souza, Cinoelia Leal de Souza, Elaine Santos da Silva, Leandro da Silva Paudarco, Jader da Silva Ramos, Diana Êmily Mendes Guimarães, Sandy Hellen Rodrigues de Souza, Alaides de Oliveira Souza

Apresentação: No âmbito da saúde pública no Brasil, a atenção básica é considerada a principal porta de entrada dos pacientes ao Sistema Único de Saúde. Fundamentada pela Política Nacional da Atenção Básica no Brasil, essa porta de entrada necessita, portanto, estar preparada e organizada para a atuação adequada, na resolução de problemas e desenvolvimento de uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e comunidade.  Determinando a família como elemento principal da atenção e por meio da Estratégia Saúde da Família, a Atenção Básica tem dentre os seus diversos instrumentos de assistência a visita domiciliar, sejam elas programadas ou voltadas ao atendimento de demandas espontâneas, segundo critérios epidemiológicos e estratificação de risco da população adscrita. A visita domiciliar realizada pelo Agente Comunitário de Saúde é uma prática crucial para a Atenção Básica, pois ela estreita o vínculo entre a comunidade, a unidade e os profissionais de saúde, permitindo assim a inclusão e a quebra de barreiras existentes entre o coletivo atuação que torna o ambiente favorável a transição de conhecimento sobre saúde no território. O Agente Comunitário de Saúde é um membro da equipe que faz parte da comunidade, e por esse fator, a sua percepção sobre os usuários se torna mais ampliada, e essa base é importante para facilitar a organização das informações pertencentes às famílias assistidas, bem como, favorece a confiança do usuário no acolhimento. Esse dimensionamento da visita domiciliar facilita o planejamento da assistência por permitir o conceito dos recursos que a família dispõe, maior vínculo entre o usuário e o profissional e, por isso, pode ser interpretada como uma ação diferenciada do serviço de saúde. Contudo, apesar da importância e da participação direta com a comunidade, o Agente Comunitário de Saúde ainda enfrenta alguns desafios em relação ao reconhecimento da população para com a sua formação e atribuição na Atenção Básica, afetando o espaço para fortalecimento do vínculo, prevenção de agravos, promoção da saúde, orientações às necessidades individuais e coletivas e alimentação dos sistemas de informações. Nesse sentido, por ser uma categoria de trabalhadores, formada pela e para a própria comunidade, é uma das profissões mais estudadas pelas universidades, isso se dá pelo fato de os Agente Comunitário de Saúde transitarem pelo espaço – governo e comunidade e intermediarem essa interlocução. Nessa perspectiva o presente estudo objetivou analisar a percepção do usuário da atenção básica sobre a visita domiciliar realizada pelo Agente Comunitário de Saúde. Desenvolvimento: pesquisa com abordagem qualitativa exploratória, a coleta de dados ocorreu de fevereiro a março de 2019, com os usuários das Unidade de Saúde da Família dos bairros Vomitamel, Beija Flor e Brasília. Os dados foram coletados por meio de um roteiro não estruturado e flexível ao andamento da entrevista, composto por 11 questões relacionadas ao perfil socioeconômico dos participantes e 2 questões norteadoras, que versavam sobre as experiências e vivências dos usuários com visitas domiciliares realizadas pelos Agentes Comunitário de Saúde na área de abrangência da Unidade. A amostra do estudo foi definida por conveniência e por saturação, nesse intuito, após saturação, foram incluídos 30 usuários, o tratamento dos dados foi realizado a partir da técnica de análise do conteúdo semântica. Todas as fases desta pesquisa foram realizadas em consonância com as questões ético-legais, a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), sob o protocolo CAAE: 79882217.8.0000.0055, em 05 de dezembro de 2017. Resultado: foram abordadas duas categorias temáticas para discussão: A experiência do usuário com a visita do agente comunitário de saúde na atenção básica. No que tange a realização da Visita Domiciliar apenas 50% dos usuários a recebem, no questionário foram abordadas perguntas sobre a frequência das visitas durante o mês ou ano, apenas 36, 67% dos usuários recebem a visita mensalmente, já 10% uma vez ao ano e 3,33% duas à quatro vezes ao mês, além disso, os Agentes Comunitário de Saúde são responsáveis por 93,3% das visitas domiciliares. Vale ressaltar que, a falha nessa atenção impede o acesso dos indivíduos, família e comunidade à principal porta de entrada dos serviços de saúde, da mesma forma que dificulta o trabalho da equipe na área assistida. Nesse contexto, o outro eixo sobre a importância do agente comunitário de saúde na visita domiciliar para promoção da saúde. Na avaliação da visita domiciliar, 50% dos usuários afirmaram já ter recebido uma visita domiciliar, e 50% destes não recebe ou não recebeu visita domiciliar, principalmente por ser uma área descoberta ou pouco frequentada pelos Agentes Comunitários de Saúde durante as visitas. Foi questionado também aos usuários se durante a visita domiciliar as suas dúvidas eram sanadas, cerca de 40% dos entrevistados responderam que sim, sendo que 23,3% das visitas duravam menos de 10 minutos, apenas 23,35% dos usuários disseram que no decorrer da visita os profissionais realizavam orientação e educação em saúde. Tendo em vista que, estas ações devem ser priorizadas pelos profissionais da Atenção Básica, uma vez que o modelo de atenção prioriza a prevenção e promoção da saúde no território. Considerações finais: A partir dos resultados pode-se observar que as visitas domiciliares não ocorrem ou quando realizadas não são frequentes, isto implica na desorganização do trabalho da equipe e carência no atendimento das demandas da comunidade. No entanto, os usuários compreendem a importância dos Agentes Comunitário de Saúde e a realização das visitas, embora não esteja claro para eles todas as atribuições que devem ser exercidas por este profissional. Considerando-se a indispensabilidade da educação continuada desse profissional, visando a obtenção de conhecimentos para que este possa ser aplicado na sua prática e consequentemente ofertar à comunidade acolhimento adequado.  Sabe-se que, definir metas e objetivos em relação ao planejamento da visita domiciliar auxilia na organização e obtenção de resultados na assistência prestada a população pela equipe, em especial ao do Agente Comunitário de Saúde, da mesma maneira que induz a avaliação positiva e satisfatória dos usuários sobre o acolhimento. É inegável a magnitude que a visita domiciliar proporciona quando se considera a enorme abrangência da Atenção Básica e os seus expressivos resultados, no cenário da saúde pública do país.

8464 A INTERSETORIALIDADE COMO DISPOSITIVO FORMATIVO EM EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Fernanda Cornelius Lange, Ronize Lizziani Ronchi

A INTERSETORIALIDADE COMO DISPOSITIVO FORMATIVO EM EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Fernanda Cornelius Lange, Ronize Lizziani Ronchi

Apresentação: O trabalho constitui-se do relato de experiência de um projeto de Intervenção Intersetorial, oportunizadas por uma Residência Multiprofissional em Saúde da Família, com o objetivo de organizar e qualificar a demanda fonoaudiológica proveniente da educação para a saúde. Desenvolvimento: O projeto de intervenção foi elaborado e pactuado com base no matriciamento e na educação popular em saúde, no território da Unidade Básica de Saúde Cidade Nova II, no município de Itajaí – Santa Catarina, com suas respectivas equipes de Saúde da Família (ESF), Núcleo de Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) e um Centro de Educação Infantil (CEI). O projeto ocorreu devido o CEI do território solicitar a ESF diversos encaminhamentos para o serviço de Fonoaudiologia do município, justificando a necessidade de acompanhamento para alguns alunos. A ESF juntamente com NASF agendaram uma reunião entre os setores da saúde e educação, com a intenção de compreender melhor esta necessidade, e pactuar uma intervenção intersetorial. As intervenções que ocorreram através das fonoaudiólogas residentes foram: uma observação não participante em cada turma durante atividades pedagógica; uma oficina com os professores e coordenação sobre o tema do desenvolvimento infantil da linguagem; e o agendamento de uma reunião para definição de um cronograma de oficinas com alunos e professores com a temática de estimulação da linguagem de forma coletiva. Resultado: Ao analisarmos as situações vivenciadas durante o processo destacamos como positivo o engajamento das equipes de saúde para a realização e continuidade do projeto, além disso o excelente entendimento da ESF sobre o papel do NASF-AB no território. Reconhecemos que este projeto permitiu a aproximação entre as equipes do NASF-AB e ESF. O CEI envolvido no projeto, acolheu e disponibilizou-se a engajar-se nas atividades propostas, embora no decorrer das ações seu comprometimento declinou. Cremos que um dos fatores que levou ao declínio foi devido as fonoaudiólogas não terem compactuado com a demanda excessiva de encaminhamentos para o setor de referência no município. Outro ponto relevante é que este projeto foi para nós, profissionais residentes, uma excelente experiência, onde tivemos a oportunidade de aprender a planejar, organizar e executar ações intersetoriais em um território vivo. Considerações finais: Pode-se concluir que as intervenções ocorridas tiveram potencial de transformação das práticas de produção da saúde e educação, visto a qualidade do diálogo intersetorial estabelecido, apesar do processo ter tomado rumos não conclusivos. Evidencia-se que pautar o fazer na concepção da educação popular em saúde é uma bonita possibilidade de ser e estar profissional comprometido com a vida, com o território e com as pessoas, compreendendo que não existe tempo determinado para o alargamento do viver, o qual é o sentido ético-político fundamental da Atenção Básica.

8498 PERFIL DE MOTORISTA QUE TRANSPORTAM CARGAS PESADAS NA RODOVIA FEDERAL
Marlyara Vanessa Sampaio Marinho, Irinéia de Oliveira Bacelar Simplício, Antonia Irisley da Silva Blandes, Simone Aguiar da Silva Figueira

PERFIL DE MOTORISTA QUE TRANSPORTAM CARGAS PESADAS NA RODOVIA FEDERAL

Autores: Marlyara Vanessa Sampaio Marinho, Irinéia de Oliveira Bacelar Simplício, Antonia Irisley da Silva Blandes, Simone Aguiar da Silva Figueira

Apresentação: Devido ao tamanho continental do Brasil, o transporte de cargas de longa distância é um dos meios que garante o abastecimento de bens, serviços e alimentos em regiões que não produzem o suficiente, fazendo deste modo, a profissão de caminhoneiros uma das bases para a economia do país, no entanto esta classe não é valorizada, além de estarem expostos a desenvolver sérios problemas de saúde e ocorrência de acidentes devido a precariedade das estradas brasileiras. Este resumo tem como objetivo traçar o perfil dos profissionais que trabalham no transporte de carga pesada na rodovia federal Santarém-Cuiabá. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo de campo, transversal de cunho descritivo e abordagem quantitativa. O estudo ocorreu durante uma ação de extensão organizada pela Universidade do Estado do Pará – Campus XII em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal em Santarém-Pá, e outras instituições parceiras. Durante a ação foram realizados serviços de saúde como: Aferição de pressão arterial, glicose, bioimpedância, acuidade visual, teste de força palmar, teste de HIV/Sífilis, além de palestras educativas para as sensibilizações do público alvo. Fizeram parte desse estudo 103 profissionais caminhoneiros que realizam o transporte de cargas que interliga a região norte ao centro-sul do país, para a obtenção dos dados aplicou-se um questionário brevio com as seguintes variáveis: Sexo, idade, escolaridade, estado civil, tipo de habilitação, tempo de habilitação, horas diárias dirigindo, ocorrência de algum acidente, que tipo de carga transporta. Os dados foram tabulados utilizando o programa software excell 2016 e organizados por meio da estatística descritiva no formato de médias e frequência relativa. Resultado: A média de idade dos caminhoneiros foi de 41 anos, estado civil 50,5% disseram ser casado, 62,1% relataram ter o ensino médio completo, com relação a categoria de habilitação 48,5% possuem AD, e possuem CNH em média a 17 anos, quanto  ao tempo que dirigem a ´média de horas diária foi de 6 horas, apesar das estradas brasileira apresentarem sérios problemas quanto a infraestrutura 88,3%  disseram que nunca sofreram acidente, indagados ao tipo de produtos que transporta, 11,7% relataram trabalhar com produtos perigosos e voláteis, desses 5,8% disseram transportar combustível, 1,9% gás e 2,9% produtos inflamáveis  Considerações finais: Observou-se que os profissionais possuem experiência, no entanto apesar da média de horas dirigindo, não ser condizente com a realidade, é importante enfatizar que a saúde deste profissional pode ser prejudicada devido  período diário exposto ao estresse e as vibrações que podem prejudicar a coluna, haja a vista, que o recomendado é que o motorista não fique mais de cinco horas e meia dirigindo de maneira ininterrupta, outro ponto que deve-se considerar, é o fato dos profissionais terem informado um baixo índice de ocorrência de algum tipo de acidente, o que pode ter sido superestimado como forma de preservação. Deste modo ações em saúde são fundamentais para a manutenção do bem-estar e saúde dessa categoria profissional.

8545 A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA E AS INTERNAÇÕES SENSÍVEIS À ATENÇÃO BÁSICA: CAMINHOS POSSÍVEIS
Lívia dos Santos Sanches, Andrea Cardoso Souza, Alessandra Branco Vallegas

A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA E AS INTERNAÇÕES SENSÍVEIS À ATENÇÃO BÁSICA: CAMINHOS POSSÍVEIS

Autores: Lívia dos Santos Sanches, Andrea Cardoso Souza, Alessandra Branco Vallegas

Apresentação: A Estratégia Saúde da Família vem se moldando no interior das políticas de saúde, com intuito de promover, expandir e consolidar a Atenção Primária no Brasil. Um dos indicadores de avaliação e monitoramento da sua efetividade é representado pelas taxas de internações por condições sensíveis à Atenção Básica. Essas condições são problemas de saúde que deveriam ter sua resolutividade nesse primeiro nível de atenção, quando diagnosticadas de forma oportuna e precoce. Dessa forma, o objeto desse estudo é a relação da Estratégia Saúde da Família com as internações por condições sensíveis à atenção básica. Objetivo: analisar de que forma esse nível de atenção à saúde interfere nas internações de alcance da Atenção Básica referentes à hipertensão arterial e diabetes mellitus, caracterizando o seu processo de trabalho e levantando os fatores que interferem nas hospitalizações no tocante a essas doenças crônicas. Método: trata-se de pesquisa qualitativa onde realizou-se entrevistas semiestruturadas com as equipes de Saúde da Família de um município do Estado do Rio de Janeiro. Os dados foram analisados tendo como referência o processo de trabalho e a micropolítica do cuidado e da gestão. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense. Resultado: Observou-se que as equipes da Estratégia Saúde da Família do município atuam de forma individualizada, incoesa, com fluxos heterogêneos em relação à demanda, sem protocolos específicos na atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus. Inexiste instrumentos de avaliação do processo de trabalho da equipe em relação ao acompanhamento a esses usuários. Percebeu-se também a ausência de canais de comunicação eficientes entre a atenção hospitalar e a atenção básica, principalmente em relação à referência e contra-referência do paciente hipertenso e diabético no intercurso de sua internação. Considerações finais: As internações por coçndições sensíveis à atenção básica são um indicador valioso da Estratégia Saúde da Família e de seu alcance junto à população adscrita. O processo de trabalho das equipes no cuidado ao portador de doenças crônicas vem exigindo novos arranjos que possibilitem sensibilizar o usuário acerca da importância da adesão ao tratamento e do acompanhamento regular. Instrumentos que avaliem a eficácia da atenção básica permitem refinar suas ações e reorganizar a atuação da equipe junto as suas atribuições e aos objetivos das mesmas. É necessário estabelecer fluxos de comunicação entre as redes de atenção à saúde e a gestão permitindo melhor acesso e acompanhamento do usuário com consequente redução nas internações por hipertensão e diabetes.  

8580 ENTRE CONVERSAS, CANTIGAS E HISTÓRIAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM GRUPO DE APRENDIZAGEM COM CRIANÇAS E A ATUAÇÃO INTERPROFISSIONAL DO NASF-AB
Josiane Teresinha Ribeiro de Souza, Marina Goelzer Kieling, Tuany de Souza Coelho

ENTRE CONVERSAS, CANTIGAS E HISTÓRIAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM GRUPO DE APRENDIZAGEM COM CRIANÇAS E A ATUAÇÃO INTERPROFISSIONAL DO NASF-AB

Autores: Josiane Teresinha Ribeiro de Souza, Marina Goelzer Kieling, Tuany de Souza Coelho

Apresentação: Este trabalho versa sobre a atuação interprofissional em saúde e a demanda de encaminhamentos de crianças de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para profissionais do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) de um município do Vale do Itajaí (Santa Catarina). Esta equipe de Nasf-AB atua com sete equipes de Estratégia de Saúda da Família (ESF) e é composto pelas seguintes categorias profissionais: fonoaudióloga, fisioterapeuta, nutricionista, profissional de educação física, psicóloga e terapeuta ocupacional. Exceto o terapeuta ocupacional, as demais categorias contam com profissional residente em Atenção Básica e Saúde da Família, que atua, no território de abrangência, com parceria entre o município e Instituição de Ensino Superior. Em consonância com o trabalho criativo em saúde e o fazer interdisciplinar que caracterizam o apoio matricial na atuação do Nasf-AB, profissionais de fonoaudiologia, educação física e psicologia deram início em 2019 a um grupo de crianças, iniciativa que surgiu para suprir a alta demanda de atendimentos deste público, em sua maioria com encaminhamentos intersetorial advindo das escolas. Nesse ínterim, o presente trabalho objetiva apresentar o relato de profissionais residentes em Atenção Básica e Saúde da Família com o fazer grupal e o desenvolvimento infantil na lógica de atuação interprofissional. Desenvolvimento: Após levantamento de diagnóstico das demandas pelas quais as eESF acionam o Nasf-AB para atendimento com público infantil, constatou-se o alto número de crianças em início de vida escolar (primeiro ao terceiro ano do Ensino Fundamental); irmãos mais novos que o usuário encaminhado; dificuldade no processo de ensino-aprendizagem; conflitos e/ou dificuldades no desenvolvimento da parentalidade, entre outras. Após discussão dos casos com as equipes de referência e reuniões de equipe do Nasf-AB, foi dado início ao planejamento do grupo. Inicialmente foi realizada avaliação de cada criança para identificar suas principais dificuldades e conhecer a dinâmica da família, para tanto as profissionais lançaram mão de: anamnese e instrumento que visava identificar o nível de alfabetização e habilidades de compreensão e expressão. Esse primeiro momento foi realizado nas dependências de uma das escolas do território, estratégia pensada pelas profissionais como facilitadora no vínculo entre docentes e corpo pedagógico e ESF e Nasf-AB. o segundo momento contemplou as pactuações de data e horário com a agenda da equipe Nasf-AB com a disponibilidade da Associação de Moradores do Bairro, local onde ocorreram os encontros. O grupo ocorreu em período matutino e vespertino, com duração prevista de uma hora e os usuários deveriam participar no horário contrário ao que estavam na escola. Cabe ressaltar que por tratar de crianças com idade entre 7 e 12 anos, os pais ou responsáveis legais assinaram um termo comprometendo-se a aguardar os encontros na UBS. Os encontros foram realizados entre os meses de maio e dezembro de 2019 e está em fase de avaliação para seguimento em 2020. No que tange a riqueza da atuação interdisciplinar no cuidado em saúde, a presença das três categorias profissionais em todos os momentos - da avaliação ao encerramento do grupo -  foi imprescindível para ampliar a compreensão sobre as necessidades de cada usuário e sua família, assim como identificar as dificuldades e planejar as intervenções. Resultado: A experiência do trabalho com grupos é competência dos profissionais da Atenção Básica e faz parte do cotidiano em saúde, contudo, o desenvolvimento de grupos com crianças é escasso, o que vai ao encontro da fragilidade de práticas interprofissionais com foco no desenvolvimento infantil. Com esse ponto de partida, a experiência relatada aqui ousou ao dialogar com as necessidades de um público por vezes invisibilizado e, em outras, hipermedicalizado, nos serviços de saúde: a criança. Pensar o desenvolvimento infantil de modo interdisciplinar e sob a ótica de uma perspectiva social em bairro periférico no Brasil atual, permitiu uma vivência empírica da clínica ampliada e trabalho colaborativo em saúde. Foi necessário dialogar sobre raça, classe social, organização familiar, rompimento de vínculo, conflitos interpessoais, preconceitos, entre outras demandas que eram trazidas pelos participantes nos encontros. O grupo contou com uma média de cinco crianças em cada período e passou por transitoriedade devido a mudança de área de alguns usuários e choque de horário com outras atividades, assim como recebeu novas crianças ao longo do ano. Como ponto de partida metodológico, foi utilizado do referencial de Grupo Operativo de Pichon-Rivière, cuja ênfase centra-se em uma tarefa comum, sensação de pertença, pertinência e mútua representação interna entre os participantes. Os principais aspectos trabalhados foram: comportamento disruptivo, aspectos da socialização com pares, condutas de parentalidade, desenvolvimento afetivo, consciência fonológica, rima, memória, lateralidade, motricidade fina, consciência corporal, resolução de problemas, sequenciação. A partir do grupo foi possível identificar que os usuários, em sua maioria, apresentavam transtorno/distúrbio de base sem acompanhamento terapêutico no momento atual, relacionando as dificuldades apresentadas naquele momento unicamente ao aprendizado escolar. Dentre os transtornos identificados tiveram destaque a Deficiência Intelectual e Distúrbio do Processamento Auditivo Central. Nesse sentido, o trabalho semanal passou a ocupar-se não somente do grupo, senão de orientações, encaminhamentos, discussão de caso com outros pontos da Rede de Atenção à Saúde e, sensibilização dos pais a respeito da necessidade de compartilhar o cuidado dos filhos com outros profissionais. Das razões para não adesão dessa modalidade de cuidado, a partir de relatos e observações das profissionais, teve destaque o custoso deslocamento para alguns e, a fragilidade em âmbitos empregatícios para outro, o que restringia o cuidado dos filhos ao serviço da eESF e profissionais do Nasf-AB. Considerações finais: “Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá”, como os versos da cantiga Escravos de Jó, a atuação profissional nos Nasf-AB pressupõe a interdisciplinaridade como base para o planejamento e desenvolvimento das ações, que fundamentam-se no trabalho colaborativo. Nessa amálgama, o Grupo de Crianças (como foi carinhosamente chamado) permitiu o zigue zigue zá entre as profissionais e equipe de ESF e Nasf-AB a partir do compartilhar de saberes e experiências. Para o seguimento do grupo foi realizada avaliação pelas profissionais mediadoras e equipe de Nasf-AB e foram levantados pontos que podem agregar ao seu desenvolvimento positivo, como: a participação de pelo menos um profissional servidor do Nasf-AB, com vistas ao cuidado continuado dos usuários; inserção de profissional da eESF em todas as etapas do grupo, priorizando o grupo como estratégia de matriciamento para a equipe; inserção de encontros com os pais em cada mês para ser trabalhada a parentalidade e o desenvolvimento infantil; e, estabelecimento de dia e hora na agenda do Nasf-AB para planejamento das ações.

8692 MÚSICA, CUIDADO SENSÍVEL E OUTRAS FORMAS DE OUVIR
Flávia Maria Araujo, Alberto Durán González, Maira Sayuri Sakay Bortoletto

MÚSICA, CUIDADO SENSÍVEL E OUTRAS FORMAS DE OUVIR

Autores: Flávia Maria Araujo, Alberto Durán González, Maira Sayuri Sakay Bortoletto

Apresentação: O cuidado é algo presente na vida humana em vários aspectos dela, pode ser entendido como a priorização das necessidades do outro. Na área da saúde também há necessidade de práticas de cuidado, que podem ocorrer de modo bastante variado. Uma das maneiras de se oferecer cuidado é por meio das tecnologias leves em saúde, são as habilidades do profissional em se vincular e acolher o usuário. Essas habilidades não são inatas, elas podem ser desenvolvidas. A iniciativa de um Projeto de Extensão chamado “Sensibilizarte” que funciona em uma universidade pública propicia à estudantes dos cursos da saúde vivências que favorecem o desenvolvimento de habilidades cuidadoras por meio da sensibilidade e da arte. O projeto leva os discentes para interagir com as pessoas (usuários, familiares, trabalhadores) em um hospital público por meio da arte. Os estudantes entram no hospital semanalmente e levam quatro formas diferentes de arte, cada uma com seu grupo de estudantes em um dia da semana, as modalidades são música, palhaçaria, artesanato e contação de histórias. As atividades do projeto também incluem a capacitação pertinente à execução dessa atividade aos estudantes abrangendo aspectos que se relacionam ao modo de agir dentro do hospital, dinâmicas que trabalhem processos de autoconhecimento, empatia e formação de vínculo, e cada grupo tem sua capacitação referente à atividade específicas que vai desenvolver. Desenvolvimento: por meio de uma pesquisa cartográfica que ocorre com o objetivo de cartografar os caminhos pelos quais passa o cuidado prestado pelo projeto foi possível viver o processo de ser participante do projeto. Uma pesquisadora esteve em campo e construiu-se enquanto discente participante do projeto, por meio da convivência com os estudantes participando ativamente das atividades do projeto, como entradas no hospital e capacitações. Essa construção enquanto cartógrafa foi um processo bastante intenso, pois é necessário estar porosa e abrir o corpo para a passagem dos afetos que irão acontecer, e foram muitos afetos dado o grau de sofrimento que permeia o ambiente hospitalar. Traremos agora, uma cena vivida pela cartógrafa em campo. Essa cena foi uma entrada do grupo da música no setor de pediatria do hospital, havia uma pessoa tocando violão e mais cinco cantando. O grupo geralmente entra cantando nas enfermarias e observando como as pessoas vão reagindo, procurando por aberturas para a interação, que pode ocorrer no corredor mesmo. Quando chegamos à porta dos quartos não estamos cantando, chegamos em silêncio, explicamos o que pretendemos e oferecemos a música, caso seja permitido entramos e cantamos, caso não seja, agradecemos e seguimos, pois a necessidade do outro é o que mais importa nesse momento de cuidado sensível, se a necessidade é dizer não e ficar em silêncio ela será atendida. Nessa cena chegamos à porta de um dos quartos, havia duas crianças com suas mães, cumprimentamos, explicamos o que fazemos ali, e perguntamos se gostariam de ouvir uma música, a mãe de uma das crianças, um menino de cerca de 11 anos respondeu que ele não pode ouvir, é surdo, mas ela gostaria de ouvir uma música. Os demais concordaram, então entramos e cantamos para ela uma música calma e reconfortante, chamada “Um anjo do céu”, o menino, que estava em pé, balançava seu corpo, parecia até acompanhar o ritmo da música, mesmo sem ouvir com os ouvidos, parecia ouvir com o corpo todo. Quando terminamos a outra criança que estava no quarto, com cerca de 5 anos, diz que queria ouvir um rock, a música “Galinha Pintadinha” em ritmo de rock, mais especificamente, o violonista então improvisa um rock e os cantores aceleram a voz para fazer a “Galinha”. A criança que pediu sorriu muito e dançou em seu leito, o menino que ouvia com o corpo todo segue em pé, e dança também, dessa vez mais acelerado, parecia novamente acompanhar o ritmo da música.  Ao final de toda entrada ocorre o processamento dos afetos em grupo, nos reunimos e falamos sobre aquilo que passou por nossos corpos nas cenas vividas e como isso nos afetou. Desse modo ocorre o suporte para emoções de sofrimento vivenciadas, troca de experiências e modos de lidar com essas emoções de modo solidário, e compartilhamento das emoções felizes que ocorreram. Resultado: essa vivência trouxe alegria a todas as pessoas presentes na cena, foi um encontro feliz que gerou uma paixão alegre e pode cuidar de todos de modo sensível, mesmo sem ouvir com os ouvidos o menino parecia sentir a música, afinal ele modificava seu ritmo conforme as músicas mudavam. O afeto que passava pelo corpo da pesquisadora ela de leveza, felicidade e satisfação por poder estar naquele encontro. No momento do processamento, dessa cena, não houveram afetos de tristeza, apenas a alegria e a satisfação compartilhada. Considerações finais: O projeto propõe uma interação sensível com as pessoas dentro do hospital, um encontro espontâneo que oferece cuidado, as pessoas não sabem que o projeto estará ali naquele dia, e caso não haja o desejo de encontro ele é totalmente respeitado, apenas agradecemos e seguimos. Esse encontro pode tocar a sensibilidade de todos na cena, cuidar de aspectos muitas vezes negligenciados em um processo de internação hospitalar, a sensibilidade e as necessidades de encontros não ficam do lado de fora do hospital, e a arte oferece essa oportunidade de cuidado à sensibilidade humana, a música em particular, costuma tocar as emoções e pode alcançar afetos que por vezes as palavras não alcançam. Esse cuidado pode melhorar a experiência de estar dentro de um hospital, pois proporciona um momento para lembrar a quem está dentro dele de que ainda são humanos, o que ocorre com o estudante também. Ao vivenciar essa experiência o discente aprende a se comunicar com as pessoas, ouvir e respeitar as necessidades mesmo que ela lhe diga não, ele sente em seu próprio corpo o afeto e percebe como a arte e a sensibilidade proporcionam cuidado e bem estar para o outro e para si mesmo, aprender a ter um olhar sobre o outro para além de diagnósticos e procedimentos. Assim, poderá inserir essas habilidades em sua prática profissional, quando chegar o momento tornando-se um trabalhador mais acolhedor e sensível ao que os seus usuários necessitam.

8800 OFICINA CULINÁRIA PARA PESSOAS DIABÉTICAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA NUTRICIONISTA DO NASF
Giselle dos Santos Barbosa Teixeira

OFICINA CULINÁRIA PARA PESSOAS DIABÉTICAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA NUTRICIONISTA DO NASF

Autores: Giselle dos Santos Barbosa Teixeira

Apresentação: O Diabetes tipo II - DM II é um problema de saúde prioritário e uma condição de saúde sensível à Atenção Básica de Saúde. A má alimentação é um dos fatores de risco que possibilita o aparecimento e desenvolvimento da doença. A Política Nacional de Promoção da Alimentação Saudável tem por pressuposto promover o consumo alimentar adequado e saudável e a consequente melhoria do estado nutricional da população com impacto direto na prevenção e controle das doenças mais prevalentes, entre elas o DM II. A inserção de ações relativas à alimentação e nutrição nos serviços de Atenção Básica de Saúde tem por objetivo dar respostas às demandas e necessidades de saúde da população. Dentre as ações de intervenção no cuidado à pessoa diabética as atividades educativas em saúde são potentes ferramentas para o processo de mudança de práticas alimentares inadequadas. Um dos desafios lançados ao profissionais de saúde é inovar com métodos educativos que rompa com o modelo de práticas de caráter normativo caracterizado por prescrições comportamentais que desconsideram os determinantes do processo saúde-doença e o saber popular. Em geral essas prescrições representam uma intromissão de cunho impessoal, técnico e objetivo em situações do campo pessoal, afetivo e subjetivo. Por consequência, geralmente, causam resistência ao seu cumprimento. Nesse sentido este estudo relata a experiência do trabalho desenvolvido numa Unidade de Atenção Básica de Saúde do município do Rio de Janeiro de julho a outubro de 2019, com foco nas ações de Educação Alimentar e Nutricional à pessoa diabética pela Equipe de Saúde da Família com apoio matricial do Nutricionista do Núcleo de Apoio à Saúde da Família - NASF. O estudo tem por objetivo apresentar a partir do relato de experiência do Nutricionista do NASF o método educativo denominado de Oficina Culinária para diabéticos e as reflexões sobre as contribuições desse método como estratégia para Promoção da Alimentação Saudável. Métodos e resultadosAs Oficinas Culinárias foram realizadas num Centro Municipal de Saúde do Rio de Janeiro composto por 7 Equipes de Saúde da Família e 1 Equipe NASF. A escolha da pessoa portadora de diabetes como público-alvo se deu a partir da alta prevalência de resultados de hemoglobina glicada gt; 7,5%  desses usuários acompanhadas pelas Equipe de Saúde da Família - ESF. O objetivo da Oficina Culinária foi incentivar práticas alimentares saudáveis, promover o enfrentamento de hábitos e práticas não promotoras de saúde e estimular a autonomia e autocuidado dos indivíduos diabéticos para controle da glicemia. Foram usados como referencial - teórico para as atividades da Oficina Culinária as publicações do Ministério da Saúde e da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro cujos temas  estão relacionados a Alimentação, Nutrição, Diabetes e Atividades Grupais. Os encontros foram mensais e os profissionais que conduziram foram: 1 Enfermeiro, 1 Nutricionista e 1 Agentes Comunitários de Saúde sendo 1 moderador, 1 participante-observante e 1 responsável sobre mídias. Os usuários diabéticos foram selecionados a partir do relatório do laboratório de análise bioquímica e do relatório do prontuário eletrônico com resultado de hemoglobina gt; 7,5%. Cada usuário foi convidado por carta nominal entregue pelos Agentes Comunitários de Saúde em Visita Domiciliar que explicava sobre a proposta da Oficina Culinária. Foram enviadas 76 cartas-convocação. Durante o período que compreende este estudo foram realizados 4 oficinas com média de participação de 22 usuários por encontro sendo 83% usuários diabéticos e 17% não diabéticos. Os usuários não diabéticos eram principalmente familiares do usuário diabético convidados. As atividades foram registradas em prontuário eletrônico. A Oficina Culinária foi dividida em quatro momentos: 1Apresentação: e informações sobre o objetivo do grupo e pactuação de convivência; 2- Roda de conversa sobre um tema de escolha dos usuários e troca de experiências; 3- Sugestões de temas e de práticas culinárias para o próximo encontro; 4 - Prática culinária com ingredientes in natura e minimamente processados e degustação. No momento apresentação foram realizados dinâmicas “quebra-gelo” para apresentação dos profissionais e usuários. Foram pactuados os horários e as regras de convivência. Nas rodas de conversa ao longo do período do estudo foram discutidos os seguintes temas: o que é diabetes e a importância da alimentação saudável para controle da glicemia; refeições: café da manhã, almoço, lanche, jantar e ceia; comida de verdade; desmistificando a alimentação saudável; armazenamento e uso de insulina;e cuidado com os pés. Os temas abordados com exceção do primeiro (o que é diabetes e a importância da alimentação saudável para controle da glicemia) foram escolhidos pelos próprios usuários e todos os assuntos foram amplamente discutido pelos usuário que pode explicitar suas vivências com apoio do profissional moderador. As práticas culinárias realizadas foram: mousse de chocolate, ricota temperada, salada verde e melão, suco de abacaxi com mamão e hortelã; batata-doce com orégano e azeite, iogurte natural com frutas e cereais, alho em conserva. Os ingredientes e utensílios utilizados foram adquiridos a partir de doações dos usuários e dos profissionais. Todos os usuários participaram da degustação e deram sua opinião sobre o preparo. Foi recorrente o relato dos usuários de que a vivência culinária e o espaço livre para debate proporcionaram integração e troca de experiências entre os participantes. Ao mesmo tempo em que expressavam suas ideias, tinham a oportunidade de repensar sua prática alimentares. Considerações finais: A Oficina Culinária para diabético como o método educativo para ações de Educação Alimentar e Nutricional proporcionou aos usuários portadores de diabetes reflexão e motivação para mudanças alimentares promotoras de saúde, aprendizado conceitual, estímulo ao desenvolvimento de habilidades culinárias. O método educativo aqui apresentado se mostrou factível como estratégia educativa, no contexto das políticas públicas de Promoção da Alimentação Saudável, uma vez que é uma experiência diferenciada para reflexão sobre as escolhas alimentares no cotidiano e compreensão de como os alimentos in natura e minimamente processados podem contribuir para controle da glicemia. A troca de saberes, o manuseio dos alimento e a degustação aproximou a informação sobre Alimentação e Nutrição a vivência cotidiana dos participantes. Foi também recorrente o relato de que a vivência culinária e o espaço para livre debate, proporcionado pela técnica do grupo focal, proporcionaram integração e troca de experiências entre os participantes. Ao mesmo tempo em que expressavam suas ideias, tinham a oportunidade de repensar sua prática pessoal e sua atuação profissional em relação à alimentação, à saúde e ao prazer.

9119 GÊNERO COMO CATEGORIA ÚTIL À ANÁLISE DOS PROCESSOS DE SAÚDE E DOENÇA EM CARDIOLOGIA
Paula Land Curi, Mariana dos Santos Reis, Ronaldo Curi Gismond, Beatriz Malheiros Brito

GÊNERO COMO CATEGORIA ÚTIL À ANÁLISE DOS PROCESSOS DE SAÚDE E DOENÇA EM CARDIOLOGIA

Autores: Paula Land Curi, Mariana dos Santos Reis, Ronaldo Curi Gismond, Beatriz Malheiros Brito

Apresentação: Este trabalho é resultado da pesquisa Hipertensão arterial resistente a partir de uma perspectiva de gênero, realizada no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), durante os anos de 2018/2019. Surgiu da parceria realizada entre dois projetos extensionistas realizados no hospital, a saber, Abordagem Multidisciplinar na Hipertensão Resistente e Serviço de Psicologia da Área Cirúrgica. Ao introduzirmos gênero como categoria útil à análise dos processos de saúde e doença em cardiologia, intentamos, através das falas das mulheres diagnosticadas com hipertensão arterial sistêmica resistente, identificar relações que se estabelecem (ou não) entre papéis de gênero e o aparecimento/curso da doença. Objetivamos também enunciar formas de assistência e cuidados prestados às mulheres, tendo como pano de fundo o modo como o discurso médico-científico opera sobre os corpos femininos. Pesquisas indicam que as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito no Brasil e no mundo, sendo a hipertensão arterial sistêmica (HAS) um de seus principais fatores de risco. Indicam que é uma condição clínica multifatorial, cujo tratamento é baseado em um tripé que envolve não só uso de medicação hipertensiva e/ou diuréticos, mas também relacionadas aos hábitos alimentares e de vida. Contudo, as modificações no estilo de vida e a prática de hábitos saudáveis, aparentemente simples e eficazes no tratamento da HAS, se impõem como dificuldades a serem transposta, revelam alguns especialistas. A V Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial afirma que o sexo não é exatamente fator de risco para hipertensão. No entanto, alguns trabalhos científicos sugerem não corroborarem este dado. Notícias veiculadas na mídia, com dados que adjetivados como oficiais, revelam número crescente de pressão alta em mulheres – inclusive, jovens – do mesmo modo que insistem em afirmar que a hipertensão atualmente afeta mais as mulheres porque são mais obesas e mais sedentárias do que os homens. A solução proposta/encontrada para mudar o cenário da condição de saúde da mulher recai na mudança de seu comportamento individual, sem que seja levado em consideração os sistemas de opressão aos quais se veem expostas, como por exemplo, a divisão sexual do trabalho. Foi exatamente essa discussão que nos motivou a realizar a pesquisa. Sabemos que a medicina opera com a categoria sexo referido ao biológico, em detrimento à categoria gênero, como aquela que dá sentido às relações de poder. Claro está que mulher, embora não seja sinônimo de gênero, se entrelaçam perfeitamente numa sociedade patriarcal. Afinal, são elas que estão cotidianamente vivenciam em seus corpos os sistemas de opressões. No que tange a HAS, a solução dada ao problema se dá de maneira simples e patriarcal: Ela é quem precisa cuidar para manter o peso, o padrão alimentar adequado e fazer atividades físicas com regularidade. Ou seja, o discurso médico faz recair sobre a mulher a responsabilidade pelo cuidar, sem considerar as marcas da sociedade patriarcal, reforçando assim estereótipos de gênero. Dado o objeto da pesquisa, entendemos que o método qualitativo seria o mais apropriado para descrever, com profundidade, os processos dinâmicos vividos pelas participantes. Assim, foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturado, como instrumento. As entrevistas se deram no ambulatório de psicologia do HUAP, com mulheres, maiores de 18 anos, diagnosticadas com hipertensão arterial resistente, indicadas pelos médicos responsáveis pelo ambulatório/projeto extensionista, obedecendo aos seguintes critérios de inclusão-exclusão. As mulheres foram divididas em 5 grupos, sendo cada um deles composto por 4 mulheres de determinada faixa etária - Grupo 1: 18 a 28 anos; Grupo 2: 29 a 40 anos; Grupo 3: 41 a 50 anos; Grupo 4: 51 a 65 anos; Grupo 5: 66 em diante. Esta divisão foi considerada numa perspectiva geracional. As entrevistas foram gravadas e as falas transcritas literalmente de modo a preservar fidelidade das narrativas. Posteriormente, foram analisadas a partir de seguintes categorias: a) Ser mulher; b) Ser hipertensa; c) Ser saudável; d) Cuidado e assistência; e, e) Hipertensão e o emocional. A pesquisa não correu como pretendíamos, mas, nem por isso, não resultou em importantes considerações. Deparam-nos com uma enorme dificuldade de encontrar mulheres de todas as faixas pretendidas, em especial, mulheres jovens. Suspeitamos que isto seja efeito da hierarquização dos serviços SUS/ nível de complexidade do HUAP. Entendemos que as mulheres jovens, exatamente por serem jovens, podiam ainda não ter demandado cuidados mais especializados, sendo então usuárias de dispositivos de saúde da atenção primária. Também não podemos deixar de evidenciar dois outros atravessamentos que corroboraram para que não fosse atingido o número estipulado previamente de mulheres na pesquisa. Os “afazeres domésticos” afastavam as mulheres do hospital. Mesmo supondo que dentre elas, algumas, resistiam a nossa chamada, em suas narrativas se fazia presente, de forma inquestionável, como o lar e as pessoas que nele vivem estão sempre em primeiro lugar. Algumas, viviam em estado de vulnerabilidade social que as impedia de ir à unidade, corroborando dados oficiais sobre as mulheres brasileiras. A pesquisa contou com 11 mulheres participantes. O grupo 4 foi o único que atingiu a marca das quatro mulheres. Estas, em especial, colocaram no âmago de suas narrativas a questão racial. Não a raça como sendo fator de risco para a hipertensão, mas o racismo vivido no cotidiano, revelando a importância de ser pesquisar as doenças de forma interseccionalizada. O peso do saber médico se apresentou na fala das participantes e a frequente angústia experenciada quando percebem que esse saber não está sendo suficiente para ficarem saudáveis. Algo que escapa e retorna em seus corpos. As análises demonstraram o papel da mulher em nossa sociedade. Sempre cuidadoras, elas colocam os cuidados com os outros (familiares, especialmente marido e filhos) em primeiro plano. Interrompem seus tratamentos em função de serem mulheres que cuidam de outros. Acumulam várias funções, que contribuem diretamente com seu adoecimento. Sofrem, literalmente, de pressão! Cientes de suas condições, as mulheres associavam o início da patologia ao período gravídico-puerperal, quando se tornaram mães. Relataram a pressão social que sentem em ocupar este lugar de mulher-mãe-cuidadora. Os papéis de gênero ficaram bem explícitos nas falas das participantes, como papéis rígidos que revelam o ônus de se ser mulher. A violência doméstica e familiar foi recorrente na fala e vida das participantes, principalmente, para as mais velhas. Foram violentadas por seus maridos, por suas mães. Referiram-se à violência institucional e estatal contemporânea como geradora de muita ansiedade. Falam dos perigos de ser mulher – seja na rua, ou mesmo em casa - dos feminicídios, porém sem formular o que são as violências de gênero.  Seus itinerários na saúde também dão relevo às violências institucionais vividas. A pesquisa nos levou a explorar e entender melhor como a construção de um corpo esquadrinhado e submetido aos saberes produzidos pelos “homens da ciência” alijam as vivências de gênero, disseminando e legitimando práticas que perpetuam um certo status quo – mulheres cuidam dos outros, antes de cuidarem de si. Ao não se levar em consideração gênero como categoria útil à análise da saúde cardiológica, podemos promover o recrudescimento de patologias. Conclui-se, então, que o caminho a ser traçado é, justamente, de investigação sobre maneiras possíveis de manejo entre os saberes e práticas de cuidado generificadas, buscando os sentidos possíveis do cuidado no contexto da saúde da mulher.

9128 ATIVIDADE LÚDICA PARA RECONHECIMENTO DA INFLUÊNCIA FAMILIAR NA CONSTRUÇÃO DO “EU”
MARCELA LUZ SACRAMENTO, Jemima Raquel Lopes Santos, Milena Arão da Silva OLIVEIRA, Fernanda Matheus Estrela, Nadirlene Pereira Gomes, Júlia Renata Fernandes de Magalhães, Fabricia Damaceno Ferreira, Jaqueline Alves Pires

ATIVIDADE LÚDICA PARA RECONHECIMENTO DA INFLUÊNCIA FAMILIAR NA CONSTRUÇÃO DO “EU”

Autores: MARCELA LUZ SACRAMENTO, Jemima Raquel Lopes Santos, Milena Arão da Silva OLIVEIRA, Fernanda Matheus Estrela, Nadirlene Pereira Gomes, Júlia Renata Fernandes de Magalhães, Fabricia Damaceno Ferreira, Jaqueline Alves Pires

Apresentação: As dinâmicas de grupo, para adultos, são ferramentas úteis para amenizar a ansiedade frente ao coletivo, além de promover a desinibição e favorecer o respeito. Objetivo: Descrever dinâmica que busca compreender a estrutura familiar dos participantes. Método do estudo: Trata-se de um relato de experiência de uma dinâmica denominada “Laços que não são nós: estreitando relações familiares”, a qual é parte de uma oficina reflexiva que é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, através do Edital PPSUS. Esta, é realizada em parceria com a Operação Ronda Maria da Penha, e foi construída e operacionalizada pelo grupo de estudos Violência, Saúde e Qualidade de Vida- VID@, tendo como participantes homens policiais militares. Os materiais necessários para a execução da atividade foram: Genograma impresso; Peças do genograma em cartolina; Árvore grande em EVA (contendo raiz, caule, copa e frutos); e, Fita adesiva. Resultado: A dinâmica é iniciada pedindo aos participantes que preencham os nomes dos familiares no genograma impresso, o mesmo contém campos abrangendo uma geração anterior e uma posterior do partícipe. Após isso, o mesmo deve apresentar seus entes queridos e escolher três deles para escrever nas peças avulsas do genograma que estão em cartolina. Decorrido isso, é solicitado para que os mesmos colem essas peças em qualquer parte da árvore em EVA, que deve estar afixada em parede central. Em seguida, é perguntado o porquê deles haverem colado o nome daquelas pessoas naquela parte da árvore e através disso é incitada uma discussão baseada em analogias referentes a que a raiz é para fixação e absorção de nutrientes, o caule tem função de sustentação e conduzir água e nutrientes a toda a planta, as folhas permite que a planta transpire, realize trocas gasosas, captação de luz para realizar fotossíntese e os frutos são para proteger a semente para o seu desenvolvimento e futura continuação do ciclo. Considerações finais: Através da dinâmica em questão é possível conhecer algumas histórias de vida dos participantes, e apreender os valores que os mesmos atribuem para alguns membros da sua família. O que é de grande importância para conhecer a cultura familiar, e incitar nos participantes reflexão a respeito de reproduções de atitudes e comportamentos. Promovendo assim a possibilidade de identificação, pelos partícipes, dos papeis e das influências que algumas pessoas de sua família tiveram ou tem na construção do indivíduo que ele é hoje.

9147 A QUEM INTERESSA A PRESENÇA DA POPULAÇÃO VULNERÁVEL E DA CLASSE MÉDIA NA MESMA UNIDADE DE SAÚDE?
Mauricio Pereira, Analaura Pereira

A QUEM INTERESSA A PRESENÇA DA POPULAÇÃO VULNERÁVEL E DA CLASSE MÉDIA NA MESMA UNIDADE DE SAÚDE?

Autores: Mauricio Pereira, Analaura Pereira

Apresentação: Este trabalho versa sobre a clínica da Família Wilma Costa, que é uma Unidade de Atenção Primária à Saúdelocalizada no bairro da Ilha do Governador, no Município do Rio de Janeiro. Inaugurada em 2016, atende cerca de 22 mil usuários contando com 6 equipes de Estratégia de Saúde da Família. Trata-se de unidade parceira daUniversidade Federal Fluminense, portanto, apresenta os seguintes programas: Residência em Medicina de Saúdeda Família além de Internato em Medicina e Enfermagem. Dentre os usuários moradores do território adscrito encontram-se desde indivíduos da classe média alta (cujo imóvel vale cerca de 700 mil reais) até moradores de rua que dormem no aterro em frente à unidade. Assim, ficauma pergunta no ar: A quem interessa a presença das mais diversas camadas sociais na mesma unidade desaúde?Ao observar a atmosfera da unidade, desde a sua organização até a expressão dos usuários, a resposta éperceptível: a todos, desde os próprios usuários até os profissionais, incluindo a própria gestão regional, ligada àSecretaria Municipal de Saúde. É importante salientar que para a formação profissional também trata-se de umcenário ainda mais rico, ao podermos oferecer ao formandos (seja do programa de graduação, residência ou atémesmo intercambistas) as mais diversas experiências de abordagem. Os usuários recebem um tratamento equânime pelas equipes de Saúde da Família desde o acolhimento (sejano território ou na própria unidade ) até o momento do atendimento e a dispensação de medicamentos. As equipessão divididas em territórios geográficos. Logo, o arranjo social de um território é muito semelhante entre seusmoradores quando se trata de classe socioeconômicas e hábitos afins. Contudo, uma equipe apresenta apluralidade em seu mais alto grau: a Equipe Baviera. Ao contar com cerca de 4500 usuários, dentre elesmoradores de casas de diversos cômodos, que possuem carro do ano e pessoas que dormem em frente a unidade, a Equipe Baviera, junto com as demais equipes da Unidade, contribui, ao oferecer um tratamento equânime, parareverberar a ideia de que o SUS é do povo, de todos os brasileiros, e que a sociedade pode ser mais justa.

9167 AS POTÊNCIAS E LIMITES DO PROCESSO GRUPAL EM UMA SOCIEDADE LÍQUIDA
Mariana Gabriel

AS POTÊNCIAS E LIMITES DO PROCESSO GRUPAL EM UMA SOCIEDADE LÍQUIDA

Autores: Mariana Gabriel

Apresentação: O presente trabalho se trata de um relato de experiência a respeito do tempo que trabalhei como estagiária de psicologia no Centro Municipal de Saúde Cecília Donnângelo, através do estágio não obrigatório acadêmico bolsista. A minha função foi acompanhar dois grupos terapêuticos, o primeiro denominado Superação e o segundo Mahalo, no qual ambos são conduzidos por duas psicólogas do SMS. Com isso, a minha experiência se forjou a partir do contato íntimo com o processo grupal, de modo que pude compactuar intensamente com as práticas vividas nesse espaço, desde a escuta atenta até as confraternizações. Vivências estas que diferem categoricamente da hegemônica terapia individual. O processo grupal terapêutico, com suas relações interpessoais, produzem efeitos distintos ultrapassando o fatídico processo médico-paciente-diagnóstico, como e principalmente, a coletividade. Além de produzir perspectivas diferentes sobre, por exemplo, um sofrimento psíquico, no momento em que proporciona uma abertura para que ele seja compartilhado diante do grupo. Um dos fenômenos preponderantes que pude observar no processo grupal é a identificação com o sofrimento do outro, é quase como se tivessem vivido a mesma coisa; isso evidencia uma ligação indissociável entre o sujeito singular e o contexto universal, isto é, o sujeito-no-mundo, sendo afetado por suas estruturas e dinâmicas, junto a outros sujeitos que também são afetados por essas mesmas estruturas e dinâmicas. Foi a partir desse cenário, que começou a nascer a vontade de analisar a relação entre os fenômenos que apareciam nos grupos, com o seu contexto sócio-histórico, como os casos de depressão, ideação suicida e o valor do afeto, a cumplicidade e os estranhamentos. Com isso, pretendo também mostrar as práticas grupais como um importante instrumento para a promoção da saúde dado a atual sociedade individualizante na qual vivemos e que, portanto, devem ser cada vez mais estimuladas e aperfeiçoadas no Sistema Único de Saúde. Através dos meus relatos sobre os encontros, selecionei algumas falas proferidas pelas pacientes sobre o que o grupo significa para elas, o espaço de fala, o espaço de acolhimento, o espaço de confraternização, o espaço do abraço, do choro e do riso. Em suma, “o espaço que elas não encontram lá fora”, como muitas vezes disse a psicóloga Cecília em nossas reflexões sobre os grupos. E por que não encontram? É essa questão que tentarei compreender através de uma análise sócio-histórica. Concomitante a isso, através das minhas experiências nos dois grupos, pretendo registrar as potências e limites que pude observar no processo grupal.

9280 RELATO DE EXPERIÊNCIA: A INDISSOCIAÇÃO DA INTERAÇÃO DO ACADÊMICO DE MEDICINA À COMUNIDADE COM O AMPARO DA REDE SUS
Claudia Menoncini, Gracielle Pampolim, Antonio Marcos De Almeida

RELATO DE EXPERIÊNCIA: A INDISSOCIAÇÃO DA INTERAÇÃO DO ACADÊMICO DE MEDICINA À COMUNIDADE COM O AMPARO DA REDE SUS

Autores: Claudia Menoncini, Gracielle Pampolim, Antonio Marcos De Almeida

Apresentação: Esse relato busca evidenciar a importância de desenvolver as atividades de inclusão social dos acadêmicos de medicina na comunidade sob amparo da rede de assistência do Sistema Único de Saúde - SUS, amparado pelo tripé ensino-serviço-comunidade, integrante das diretrizes para formação em saúde no Brasil. Essa experiência foi constituída a partir das observações e impressões adquiridas em atividade de imersão da disciplina de Saúde Coletiva, do Curso de Medicina, da Universidade Federal da Fronteira Sul - campus Passo Fundo, no segundo semestre de 2019, junto a Escola Municipal Hygino Coelho Portella, localizada em Marau, Rio Grande do Sul, envolvendo 120 alunos do ensino fundamental. Desenvolvimento: A atividade consistiu em uma oficina intitulada Qualidade de Vida, a qual foi dividida em quatro eixos centrais de abordagem: Motivação e Higiene Pessoal; Drogas e Sexo Seguro; Nutrição e Atividade Física; Saúde Mental e Autolesão. Esses temas foram definidos conjuntamente (escola - Unidade Básica de Saúde (UBS) - Acadêmicos) baseados na demanda escolar. A didática escolhida foi dividir os alunos em quadro grupos e utilizar quatro salas simultaneamente de forma dinâmica, para que cada uma comportasse um eixo da oficina. Para melhor ilustrar o tripé ensino-serviço-comunidade, é realizado um recorte, focando o desenvolvimento do eixo Saúde Mental e Autolesão, o qual contou com a presença e acompanhamento integral da psicóloga da UBS de abrangência. Os adolescentes eram recebidos com a mensagem: "Tudo bem não estar bem", e convidados a sentarem-se em circulo. Cada um respondia a pergunta: "O que eu gostaria de ouvir hoje?" e depositava a resposta em uma caixa. Então, era explicado de forma simples o significado de Saúde Mental e sua importância. Na sequência era colocado uma música calma e pedido para que pensassem em silêncio sobre o que lhes causava tristeza. Após 2 minutos, eram convidados a, com palitos de madeiram, furarem uma caixa de papelão posicionada ao centro do circulo, sob a influência de outra música (heavy metal), com a finalidade de descarregar na caixa, todo o sentimento de tristeza. Essa experiência era usada como uma analogia a introdução do tema sobre a autolesão, no intuito de desmistificar essa prática e orientar sobre a busca por ajuda profissional. No encerramento cada adolescente retirava uma dentre as respostas escritas no início da atividade e recebiam um abraço. Os que se encontravam mais sensibilizados eram convidados a conversar em particular com a psicóloga que acompanhava as atividades. Resultado: A grande questão dessa interação, foi a quantidade de adolescentes que se sensibilizaram e choraram durante o desenvolvimento dessa atividade simples, porém efetiva, sendo de fundamental importância a presença da psicóloga. Pois sem a sua intervenção não haveria continuidade do trabalho iniciado, no intuito de diagnosticar possíveis casos de autolesão, abuso e depressão. Considerações finais: Dessa forma, tornou-se perceptível  a importância da atuação do acadêmico na comunidade junto a equipe da UBS, isto porque, muitas vezes na ansia de colaborar com a comunidade os acadêmicos podem frustar os indivíduos por não oferecerem uma continuidade da atividade desenvolvida.

9302 RELATO DE EXPERIÊNCIA: FAZENDA ERMITAGE, DOS ESCOMBROS À RECONSTRUÇÃO DO SONHO EM CONJUNTO COM O PET-SAÚDE
Benísia Maria Barbosa Cordeiro Adell, Alice Damasceno Abreu, Erika Luci Pires de Vasconcelos, Carla Maia Sampaio Azevedo, Carolina Titoneli Gonçalves, Lidiane Pimentel Monteiro, Larissa Correa de Almeida, Lissa Avila Barbosa Carnauba, Luiza Aiglê Francisco Castilho Freitas

RELATO DE EXPERIÊNCIA: FAZENDA ERMITAGE, DOS ESCOMBROS À RECONSTRUÇÃO DO SONHO EM CONJUNTO COM O PET-SAÚDE

Autores: Benísia Maria Barbosa Cordeiro Adell, Alice Damasceno Abreu, Erika Luci Pires de Vasconcelos, Carla Maia Sampaio Azevedo, Carolina Titoneli Gonçalves, Lidiane Pimentel Monteiro, Larissa Correa de Almeida, Lissa Avila Barbosa Carnauba, Luiza Aiglê Francisco Castilho Freitas

Apresentação: A cidade de Teresópolis, no dia 11 de janeiro de 2011 foi despertada por raios cortando os céus. Caia uma forte chuva desde às 19 horas daquele dia  que ficou marcado como a maior tragédia que acometeu a região serrana fluminense, e vários bairros de nossa cidade. A dor psicológica e física foram os primeiros problemas apresentados pelos moradores, também veio falta de água potável, energia elétrica, casas destruídas e famílias inteiras separadas, tornaram-se indigentes, sem documentos, roupas, pertences ou suas casas. O Ginásio PoliesportivoPedro Jaharaem Teresópolis foi o primeiro local a acolher as vítimas, com auxilio da gestão local, voluntários  e a  Cruz Vermelha que trabalhou para receber donativos e distribuir à população. Independente do ocorrido, a tragédia aproximou as pessoas, fazendo com que despertasse uma percepção de caridade, respeito e amor ao próximo. Surgiu após um período em que as famílias obtiveram do governo um aluguel social. O projeto da Fazenda Ermitage, processo esse que deveria ser rápido para reconstrução de vidas, estendeu-se por alguns anos. A proposta de escrever sobre a Fazenda Ermitage surgiu do grupo do Programa de Educação pelo Trabalho o PET- Saúde Interprofissionalidadedo Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO) composto por estudantes, tutores e preceptores do serviço de assistência a saúde do município de Teresópolis, revendo a necessidade de exprimir o ocorrido com a população  de 2011 dos bairros atingidos pelas fortes chuvas e quereceberam, em vista da tragédia, seus apartamentos na Fazenda Ermitage. Trata-se de um ensaio crítico-reflexivo, com um olhar sobre o território onde vive atualmente um grande numero de famílias acometidas pela tragédia de 2011. É necessárioolhar essas pessoas como um grupo heterogêneo agrupados pela necessidade, onde o território deve ser compartilhado e adaptado a todos os modos e estilos de vida, criado para posse e uso da natureza, da sociedade, para produzirem suas histórias, garantido suas subsistências e importante para despertar a capacidade epistemológica da história. Dessa forma, reagrupar essas pessoas e fazerem com que elas deem sequência as suas vidas, foi trabalhado junto a eles na construção de saberes. No dia a dia em busca de demandas e deficiências que atendam às suas especificidades de territorialização, também surge o interesse devido à ausência de estudos referentes ao conjunto habitacional, sobretudo a atual condição e localização das vítimas no espaço geográfico. Objetivo: Conhecer o território vivo, identificar seus personagens principais, observar e, quando possível, atender suas reais necessidades; sensibilizar a população daFazenda Ermitage quanto a direitos políticos e deveres; promover inclusão social destes moradores; atentar aos cuidados de saúde, promovendo a humanização do cuidado pela interprofissionalidade. Método: O estudo tratou-se de uma pesquisa qualitativa, com informações contidas no Atlas Brasileiro dos Desastres Naturais 1991-2010 e diretamente na Secretária Nacional de Defesa Civil (SNDC).Também foram revisadosartigos com os descritores “cuidados”, “tragédia”, “vida”, “território”. A base de dados foi Scielo e literatura brasileira. Desenvolvimento: O desastre natural ocorrido provocou enchentes e deslizamentos em sete municípios, foi considerado a maior catástrofe climática e geotécnica do país. Segundo a ONU, foi o 8º maior deslizamento ocorrido no mundo nos últimos 100 anos, sendo comparado a outras grandes catástrofes a provocada pelo furacão Katrina, nos Estados Unidos, em 2005. Relato dos especialistas as chuvas intensas, com duração de 32 horas, provocaram enchentes dos rios, arrastando pedras e casas. A tragédia causou não só um impacto social, como também alterações geográficas: rios, córregos e canais mudaram seus cursos; estradas, pontes e ruas desapareceram. A região sempre se caracterizou por uma grande vulnerabilidade natural, pela localização na Serra do Mar, formada por rochas com camada fina de terra e coberta por Mata Atlântica, com alta declividade e regime de chuvas intensas no verão, gerando um solos instáveis. Durante anos, encostas e margens dos rios foram focos de desmatamentos e ocupações irregulares, agravando ainda mais a vulnerabilidade da área. O Conselho Regional de Engenharia do Rio (Crea-RJ) divulgou entre 2008 e 2009, que cerca de 42 mil moradores viviam em 230 áreas vulneráveis na região serrana, onde foram construídas 10 mil casas. O Ministério do Meio Ambiente em março de 2011, afirmou em estudo que o descumprimento do código florestal estava diretamente ligado a mais de 900 mortes na região, pois casas destruídas estavam em áreas de preservação ou dentro da faixa de 30 metros de distância da margem do rio que deveria tersua vegetação nativa preservada. Instaurada pela Câmara Legislativa do Estado do Rio de Janeiro uma Comissão Parlamentar de Inquérito, após a tragédia. O governo admitiu limitações na sua capacidade de monitorar e divulgar dados sobre a vulnerabilidade do território e reconhecendo falta de planejamento da ocupação e da utilização do espaço geográfico e deficiência de fiscalização local. O governo federalrepassou R$ 100 milhões ao Governo do Rio de Janeiro e municípios, autorizou saque nas contas do FGTS e antecipou o  Bolsa-Família para cerca de 31.000 famílias cadastradas. Criando também aluguel social para os desabrigados. Em seguida, a então presidente anunciou a construção de 6 mil casas para famílias afetadas, subsidiadas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida e pelo governo estadual. A Defesa Civil do município de Teresópolisidentificou 21 bairros afetados pelo evento. O Conjunto habitacional construído está localizado em uma área onde só existem os próprios condomínios e um posto da Policia Militar. O Conjunto Habitacional contém 72 prédios divididos em 8 condomínios, abrigando 1600 famílias. Em 2019 o UNIFESO, como parte das estratégias de trabalhos interdisciplinares e multidisciplinares, reconhecendo que muitos destes esforços ainda careciam de uma proposta diferenciada, passa a contar com o PET-Saúde, realizando um processo de trabalho com práticas colaborativas, desconstruindo visões isoladas, decorridas da tradicional formação disciplinar. Assim, nosso trabalho é tecido com fatos e fotos, uma grande “exposição”, um mosaico de relatos, um varal de experiências que irá nos ensinar aos poucos como “caminharmos juntos em busca de uma prática interprofissional na área da saúde”. O trabalho do PET- Saúde Interprofissionalidadebusca fazer o registroda história de superação de cada um dos moradores da Fazenda Ermitage, valorizando trajetórias de vida que se apresentam da mesma forma que as nossas práticas e ganham também novos sentidos. Considerações finais: A partir da necessidade de superação deste paradigma disciplinar, o Centro Educacional Serra Dos Órgãos foi selecionado para fazer parte do programaPET- Saúde Interprofissionalidade, que tem como principal objetivo a Educação Interprofissional em Saúde com práticas colaborativas, com a oportunidade de romper a atuação isolada dos diferentes profissionais, colaborar para mudanças na formação e nas práticas dos serviços. Como trabalhar com o PET- Saúde em território com cerca de 8.000 moradores que, em comum, têm marcas da tragédia de 2011? Faz-se necessário entenderelementos que antecederam a construção da Fazenda Ermitage. Os desastres naturais são poucos pesquisados no âmbito da Saúde Coletiva no país. Deve-se analisar a inter-relação entre esses eventos e seus impactos sobre a saúde, explorando os dados afetados, de morbidade, mortalidade e expostos, demonstrando tipos de impactos. Ao final propõe-se uma participação mais ativa do setor de saúde na agenda política global, com foco no desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e reabilitação para reduzir o impacto dos desastres sobre a saúde.

9336 ESTÁGIO DE FISIOTERAPIA NA SAÚDE COLETIVA NO SUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Nathália Arnoldi Silveira, Mylena Stefany Silva dos Anjos, Themis Goretti Moreira Leal de Carvalho

ESTÁGIO DE FISIOTERAPIA NA SAÚDE COLETIVA NO SUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Nathália Arnoldi Silveira, Mylena Stefany Silva dos Anjos, Themis Goretti Moreira Leal de Carvalho

Apresentação: Desde que a saúde no país foi instituída como um direito de todos e um dever do Estado e operada por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), que os gestores deste sistema vêm atribuindo ênfase à mudança do modelo de atenção à saúde, priorizando o nível de atenção básica. A atenção básica articula ações desde a promoção da saúde à reabilitação. Para tanto, a relação entre a equipe e a população de referência baseia-se na assunção de responsabilidades pelo cuidado integral, que entre outros significa ação longitudinal, de seguimento, que requer a construção de vínculo e corresponsabilização, bem como o uso de tecnologias e processos de trabalho diferenciados, conceitos preconizados pelo Ministério da Saúde. Segundo o modelo da história natural da doença, proposto por Leavell e Clark, os níveis de prevenção são hierarquizados em prevenção primária, secundária e terciária, a depender do momento da intervenção. Ao relacionar a atuação do fisioterapeuta com esses níveis de prevenção, observa-se uma atuação destinada ao controle de danos (doenças, sequelas e agravos), ou seja, restringindo-se ao nível da reabilitação não mais atende a todos os objetivos, principalmente quando entendemos que o modelo de atenção centrado na pessoa traz vários benefícios e conquistas ao paciente. Diante dos novos desafios da sociedade brasileira, com profundas mudanças na organização social, no quadro epidemiológico e na organização dos sistemas de saúde, surge a necessidade do redimensionamento do objeto de intervenção da fisioterapia, que deveria aproximar-se do campo da promoção da saúde e da nova lógica de organização dos modelos assistenciais, sem abandonar suas competências concernentes à reabilitação. Frente a esses desafios e necessidades, surge a proposição do modelo da fisioterapia coletiva como base para reorientação do foco de atenção e da prática profissional do fisioterapeuta. A fisioterapia coletiva engloba e amplia a fisioterapia reabilitadora, possibilitando o desenvolvimento da prática fisioterapêutica tanto no controle de dados quanto no controle de riscos. Uma das atividades realizadas com maior frequência na ESF é a visita domiciliar, que proporciona ao profissional a possibilidade de adentrar o espaço da família e, assim, identificar suas necessidades e potencialidades. Portanto, a visita domiciliar busca ampliar a visão das condições reais de vida da família e possibilita a interação em ambientes familiares e sociais, por meio do conhecimento do cotidiano, da cultura, dos costumes e das crenças de determinada sociedade, o que torna essas vivências enriquecedoras para todos os envolvidos. O profissional fisioterapeuta vem ad­quirindo crescente participação nos serviços referentes à atenção primária. Isso porque suas funções e atribui­ções são constituídas por conjunto de ações de saúde, incluindo nessa esfera a prevenção, assim como o diag­nóstico cinesiofuncional, tratamento, reabilitação e ma­nutenção da saúde, conforme o previsto no Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO, 2018). Portanto, este relato de experiência tem como objetivo descrever a importância do projeto de extensão para a vida acadêmica dos bolsistas, professores e para a população contemplada, o quanto o contato e troca de experiências engrandece a jornada na graduação e prepara para a vida profissional, além de possibilitar novas descobertas sociais, culturais e físico funcionais dentro da saúde coletiva. Descrição da experiência O presente trabalho, de caráter descritivo de relato de experiência da prática fisioterapêutica vivenciada no decorrer das atividades realizadas no estágio em Saúde Coletiva, do curso de Fisioterapia da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ. As atividades ocorreram todas as quartas-feiras á tarde, das 14 horas às 17:30 nas residências das pessoas que necessitam de cuidados fisioterapêuticos. Os acadêmicos foram divididos em duplas e foram destinados quatro pacientes para cada dupla. Os atendimentos começaram no segundo semestre de 2019, e as atividades propostas foram realizadas pela dupla de estagiários do 8º semestre do curso de fisioterapia da Universidade de Cruz Alta. Para a avaliação dos pacientes foram aplicados questionários que continham dados pessoais e teste de Lawton e Katz. O primeiro teste avalia as atividades mais complexas do que as atividades básicas de vida diária e cuja independência no desempenho está diariamente relacionada à capacidade de vida comunitária independente. Já o segundo teste avalia o estado funcional e Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD), como banho, vestir, transferência, controle dos esfíncteres e alimentação, fatores que determinam a autonomia. Após as avaliações foram construídas atividades de educação e saúde, abrangendo os pacientes e seus familiares e/ou cuidadores. Dentre as atividades realizadas citamos: rodas de conversas voltadas para a pratica do autocuidado e desmitificação de dúvidas com relação a saúde, exercícios dinâmicos, como caminhadas, alongamentos, dança, exercícios de marcha com obstáculos, exercícios de propriocepção e fortalecimento de membros inferiores e superiores. Os pacientes selecionados continham algumas patologias crônicas, dentre elas, hipertensão, diabetes, lombociatalgia, cervicobraquialgia, além de apresentarem alguma limitação de amplitude de movimento e falta da prática de atividades físicas. Tendo em vista que eram mulheres com idades de 74, 75 e 78 anos e não apresentavam uma queixa específica, foramrealizados exercícios voltados para a prevenção e promoção da saúde. As intervenções tiveram seu fim no mês de dezembro de 2019 e durante os 6 meses foram realizadas oficinas para reflexão das atividades com a equipe que trabalha na Estratégia de Saúde da Família Acelino Flores, unidade em que estavam cadastradas as pacientes atendidas. As duplas de acadêmicos explanavam os atendimentos e juntamente com os Agentes Comunitários de Saúde, enfermeiros, médicos e professora supervisora do estágio analisavam e programavam as ações visando um atendimento centrado em cada um dos pacientes. Impactos O estágio em Saúde Coletiva, nos trouxe uma experiência única, tendo em vista que pudemos notar uma diferença significativa na melhoria da saúde dos pacientes, bem como na qualidade de vida dessas pessoas. Com o decorrer das atividades percebemos que estes passaram a nos relatar melhora no sono, equilíbrio, atividades de vida diária e patologias associadas. Para nós, futuros profissionais da área da saúde, a qual envolve a fisioterapia, é de suma importância o convívio com a saúde pública e/ou coletiva para o nosso conhecimento tanto profissional quanto pessoal. A saúde coletiva nos envolve não só como profissionais da área, mas também como um ser humano que não tenha qualquer conhecimento. O nosso principal objetivo nesse período é passar para as pessoas, que a fisioterapia não é apenas tratamentos com aparelhos, mas sim, é levar qualidade de vida, promoção e prevenção de patologias que muitas vezes podem ser tratadas com uma simples troca de experiência entre profissional terapeuta e paciente. Considerações finais: Com este trabalho que é realizado dentre os estágios do curso de fisioterapia da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, podemos analisar a postura de um futuro profissional na área de saúde coletiva, para que tenha o contato entre paciente, equipe de profissionais que os atende e terapeuta, e perceber que, muitas vezes podemos realizar tratamentos sem medicações e sem a conduta fisioterapêutica realizada em clínicas de reabilitação, como por exemplo.

9340 A COMUNICAÇÃO ENTRE OS PROFISSIONAIS E SUA INFLUÊNCIA NA COORDENAÇÃO DA ATENÇÃO EM UMA REDE DE SAÚDE DO NORDESTE BRASILEIRO
MARINA Ferreira de Medeiros MENDES, Isabella Chagas Samico, Zulmira Maria de Araújo Hartz

A COMUNICAÇÃO ENTRE OS PROFISSIONAIS E SUA INFLUÊNCIA NA COORDENAÇÃO DA ATENÇÃO EM UMA REDE DE SAÚDE DO NORDESTE BRASILEIRO

Autores: MARINA Ferreira de Medeiros MENDES, Isabella Chagas Samico, Zulmira Maria de Araújo Hartz

Apresentação: A coordenação do cuidado destaca-se internacionalmente como eixo importante para organização das redes de atenção à saúde. No entanto, problemas vinculados à mesma podem representar  ausência de comunicação entre  níveis de atenção e repercutir em erros diagnósticos e de tratamento, duplicação de exames, aumento das filas de espera e hospitalizações desnecessárias. Para melhoria da coordenação é necessário minimizar as barreiras entre níveis assistenciais, promovendo um “sistema sem muros”. Esse estudo objetiva compreender o papel das relações comunicacionais entre os profissionais e sua influência na coordenação entre níveis de atenção. Método: Investigação de natureza avaliativa e qualitativa, utilizou dados da pesquisa multicêntrica Equity LA II. Foram realizadas 24 entrevistas: sete médicos da atenção primária (AP) e seis da atenção especializada (AE), seis apoiadores institucionais e cinco representantes da gestão de uma rede municipal de saúde em Pernambuco, Brasil, em 2015. A amostra considerou critérios de conveniência-pertinência (qualidade) e suficiência (completude), até que os objetivos do estudo fossem contemplados e os dados passassem a apresentar redundância ou repetição. A análise de conteúdo foi organizada com geração de categorias mistas, advindas do marco teórico da coordenação da atenção e as emergentes, buscando identificar, sinergias e contradições nas relações entre os atores. Resultado: A maioria dos profissionais conhecia as atribuições da coordenação da atenção, porém não as identificavam executadas na rede. Quanto ao papel da APS, quase todos demonstraram ter conhecimento. Contudo, este saber é incompleto, não sendo compreendido à sua função primordial de ordenadora do cuidado. O médico AP não foi reconhecido como responsável clínico pela maioria dos profissionais. Os especialistas consideraram as referências mal preenchidas e demonstram falta de confiança e reconhecimento no médico AP, que por sua vez revelou não receber contrarreferência e dificuldade de contato com especialista. A coordenação da informação apresentou falha de articulação, vivenciada pelo distanciamento entre os níveis de atenção. Relatou-se a existência de poucos mecanismos de articulação entre níveis e utilização de mecanismos de comunicação informais. Os apoiadores e gestores reconheceram a existência de problemas, porém destacaram o empenho da gestão nas ações para organização da rede. Houve concordância sobre dificuldades com excesso de demanda e limitações de consultas e exames especializados. A “boa vontade” dos profissionais foi considerada facilitadora da articulação, mas não uma prática suficiente. Considerações finais: A percepção sobre a coordenação do cuidado na perspectiva dos profissionais mostrou-se diversa, assumindo ambivalências e contradições de sentidos. O distanciamento e a necessidade de aproximação emergiram com maior intensidade por parte da APS. Os resultados permitiram aprofundar o olhar para complexidade das relações entre os atores e como podem influenciar na coordenação. Ao perceber as tensões e fragilidades comunicacionais torna-se premente pensar estratégias que instituam espaços para encontros e diálogos e oportunizem articulação entre AP e AE. Esse aspecto representa constante desafio e requer avaliação permanente, em que pesem valores, crenças e experiências vivenciadas pelos gestores e profissionais.

9390 SELEÇÃO DE PACIENTES PARA ATENDIMENTO FARMACÊUTICO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: COMO DEFINIR AQUELES COM MAIOR NECESSIDADE DE ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO?
Maria do Carmo Vilas-Bôas Sousa

SELEÇÃO DE PACIENTES PARA ATENDIMENTO FARMACÊUTICO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: COMO DEFINIR AQUELES COM MAIOR NECESSIDADE DE ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO?

Autores: Maria do Carmo Vilas-Bôas Sousa

Apresentação: A elevada demanda de funções técnico-gerenciais nos serviços públicos de saúde prejudica a inserção do farmacêutico no cuidado aos pacientes. Este profissional está em uma posição única para fornecer serviços clínicos, melhorar os resultados de saúde e aumentar a qualidade do uso de medicamentos ao assumir a responsabilidade pelos resultados clínicos relacionados à farmacoterapia. O objetivo foi desenvolver uma ferramenta que auxilie na seleção de pacientes para o acompanhamento farmacoterapêutico. Trata-se um estudo metodológico, que envolve o desenvolvimento, validação e avaliação de um instrumento. Para auxiliar neste processo estão sendo empregados conceitos e recomendações da psicometria, que consiste na teoria e na técnica de medida dos processos mentais e psicológicos. Empregam-se três procedimentos para a construção de instrumentos de avaliação: teóricos, experimentais e analíticos. O primeiro é direcionado às questões teóricas para fundamentar a elaboração do instrumento, análise de juízes e semântica. O procedimento experimental estabelece etapas para a realização do teste piloto e aplicação da ferramenta. E, por fim, o analítico que define as análises estatísticas para avaliar a validade, confiabilidade e precisão. Nos procedimentos teóricos foram realizadas buscas na literatura para identificar fatores que interferem no controle da pressão arterial, assim como uma revisão de escopo para mapear os instrumentos desenvolvidos para seleção de pacientes em serviços farmacêuticos. Nesta etapa, também foram realizados grupos focais com pacientes e entrevistas com médicos, enfermeiros e farmacêuticos, a fim de compreender suas experiências e percepções com o tratamento e implicações no controle da hipertensão arterial sistêmica. O estudo foi realizado em unidades básicas de saúde em um município de Minas Gerais. As entrevistas grupais e individuais foram gravadas e transcritas. A análise dos dados foi realizada no software Atlas.ti®. A primeira versão do instrumento será enviada para juízes para avaliação dos atributos psicométricos. O trabalho foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal de Minas Gerais (CAAE 27284214.7.0000.5149). Com os temas que emergiram das análises e as informações obtidas com a revisão da literatura, elaborou-se a primeira versão do instrumento. Foram encontrados 12 estudos na literatura com a revisão de escopo. A maioria dos estudos foi desenvolvida nos Estados Unidos (58%), seguido pelo Canadá (25%). Em metade dos estudos foram desenvolvidos instrumentos para seleção de pacientes para revisão da medicação (50%) e apenas 17% para acompanhamento farmacoterapêutico. Em 92% dos instrumentos, os itens estavam relacionados à complexidade da farmacoterapia e em 75%, aos aspectos subjetivos. Os dados qualitativos analisados serviram de subsídio para o desenvolvimento do instrumento, o qual foi organizado em seis domínios e, a princípio, é composto por sessenta itens. Dentre os domínios incluídos, destacam-se dados sociodemográficos, utilização de serviços de saúde e aspectos relacionados ao uso de medicamentos. Esta ferramenta pode ajudar os profissionais de saúde a identificar os pacientes que necessitam de acompanhamento farmacoterapêutico. Um instrumento para seleção de pacientes para acompanhamento farmacoterapêutico desenvolvido a partir da perspectiva de pacientes e profissionais contribui para uma prática centrada nas necessidades e particularidades dos pacientes, além de otimizar a coordenação do cuidado nos serviços de saúde.

9415 A REDE DE CUIDADOS DO BAIRRO SÃO JOÃO, POUSO ALEGRE - MG. RELATO DE EXPERIÊNCIA.
Tatiana Loiola

A REDE DE CUIDADOS DO BAIRRO SÃO JOÃO, POUSO ALEGRE - MG. RELATO DE EXPERIÊNCIA.

Autores: Tatiana Loiola

Apresentação: O ser humano vive em contato direto com várias redeses familiares, sociais, profissionais, e muitas vezes não toma consciência do tecer de suas redes, e destas relações e encontros. No cuidado em saúde são fundamentais as conexões em rede, de forma coletiva nas práticas profissionais, com possível troca de saberes, potencialidades e fragilidades.  A produção do cuidado em redes tem sido desafiante e com destaque crescente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), onde os serviços aproximam não somente de serviços da saúde, mas com demais serviços, que estão presentes nos territórios de cuidado. A construção ocorre entre os profissionais, protocolo organizacional e pelo usuário que tece sua rede pelas suas demandas e problemas. As pesquisas que abordam a Atenção Primária á Saúde (APS) demonstram que os serviços são resolutivos e eficazes desde que organizados e integrados em rede. A Rede de Cuidados do Bairro São João (Rede Cuidar São João) desde sua criação, em 2014, apresentou melhora nas práticas dos profissionais, os usuários cruzam e buscam a todo o momento as diversas instituições e serviços, como saúde, educação, segurança, assistência religiosa e social, que abrange centros de referência em Assistência Social (CRAS) e Associação de Moradores Bairro.  A experiência relatada ocorreu no bairro São João, no município de Pouso Alegre, sul de Minas Gerais. O bairro conta com diversos serviços públicos, filantrópicos e sociais. Os sujeitos envolvidos nesta rede de cuidados são profissionais enfermeiros, médicos, farmacêuticos, supervisores de ensino, educadores, assistentes sociais, diretores de escolas de ensino regular de esfera municipal e estadual, usuários dos diversos equipamentos, lideranças atuantes nas organizações sociais e também o pároco e paroquianos. Os encontros aconteceram com frequência bimensal, no período de 2014 a 2019. As reuniões ocorreram de maneira sistemática, organizada e de modo itinerante nas instituições participantes. Este grupo realizou este trabalho com a proposta inicial de construir uma rede de cuidados entre os profissionais atuantes, objetivando melhoria nas parcerias, trabalho conjunto e transformação na qualidade vida da população. Além da representação das coordenações dos equipamentos, os usuários dos serviços e lideranças comunitárias foram convidados a conhecer e compor esta rede. Conclui-se,  que esta rede ocorreu de forma aberta e móvel, sendo que cada ponto pode estabelecer uma conexão direta com qualquer outro ponto. Dentro desta perspectiva é possível pensar na configuração de uma rede rizomática, que criou movimentos e conexões inusitadas a outros modos de funcionamento nas relações entre os profissionais, serviços e territórios, sem uma centralidade no processo desta construção.  

9458 DIÁLOGO ENTRE SAÚDE E JUDICIÁRIO: REFLEXÕES SOBRE GARANTIA DO DIREITO À SAÚDE NA CONTEMPORANEIDADE
Laisa Naiara Euzebio de Sa

DIÁLOGO ENTRE SAÚDE E JUDICIÁRIO: REFLEXÕES SOBRE GARANTIA DO DIREITO À SAÚDE NA CONTEMPORANEIDADE

Autores: Laisa Naiara Euzebio de Sa

Apresentação: A partir de 1990 com o processo de precarização da política de Saúde pública no Brasil e com posteriores demandas pela ausência ou morosidade no acesso, iniciou-se uma crescente recorrência ao judiciário, em um processo denominado judicialização da Saúde. Avalia-se que se por um lado demonstra o acesso a justiça por outro nem sempre efetiva o direito a saúde ou o faz de modo individual e momentâneo. Nesse sentido, a perspectiva dialógica entre instituições da saúde e judiciário, discutindo as demandas e agindo preferencialmente extra judicial se mostra como uma alternativa importante na atualidade. Objetivo: Abordar a partir de pesquisa a garantia do acesso à saúde na contemporaneidade na perspectiva da judicialização e do diálogo interinstitucional. Desenvolvimento: A saúde está posta na Constituição Federal de 1988 como direito de todos e dever do Estado e reforçado na Lei n. 8.080/1990, que instituiu o Sistema Único de Saúde. A partir de 1990 o Brasil enfrentou o início de um contexto de mudanças nos âmbitos político, econômico, cultural e social com o avanço do neoliberalismo, que representou um ataque às políticas públicas as quais passaram a ser regidas pela lógica da focalização, privatização e descentralização, concretizando o processo de contrarreforma do Estado brasileiro (BEHRING, 2009). Nesse contexto, o setor de saúde foi diretamente afetado, com repercussão na precarização das ações e serviços disponibilizados nos diferentes níveis de atenção; priorização da alta complexidade em detrimento da atenção básica, contrariando a diretriz da hierarquização e do investimento em prevenção; setor privado atuando não de maneira complementar, como determina a carta constitucional, mas tendo prevalência em determinados ramos da saúde. Nessa conjuntura neoliberal, destaca-se a despolitização da participação social bem como a oferta de serviços que se dá de forma fragmentada, segmentando os usuários. Percebe-se um esvaziamento da dimensão política, privilegiando-se a dimensão de gerência em detrimento à dimensão de gestão, a relação custo / efetividade em detrimento à eficácia social e a promoção, por parte do Estado brasileiro da desarticulação das dimensões econômica e social da política de saúde (COHN, 2009). Diante do sucateamento da saúde pública, a população usuária dos serviços de saúde não tem algumas de suas necessidades atendidas, enfrentando um contexto de falta de medicamentos e insumos básicos, dificuldade para atendimento em determinadas especialidades de saúde, morosidade para realização de consultas e vagas em CTI, dificuldade de acesso á medicação de alto custo e uso contínuo etc. A judicialização tem sido uma das formas de acesso à saúde na atualidade. Ao falar de acesso em seu sentido amplo requer a problematização acerca da oferta de serviços disponibilizados e a real necessidade da população, considerando as particularidades dos grupos populacionais, condições de vida e trabalho, cultura, idade e necessidades específicas dadas por diferentes acometimentos de saúde, considerando também o acesso a medicamentos, insumos, serviços, saneamento básico, alimentação, enfim, todo o conjunto de necessidades que interferem e se relacionam com o processo saúde doença. A partir daí, considera-se fundamental a integralidade entre os serviços da política de saúde e entre as políticas sociais, de uma maneira geral. Foram criadas iniciativas no âmbito do planejamento e gestão para aproximação com a temática. Em 2010 foi instituído pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o Fórum Nacional para o monitoramento e resolução das demandas de assistência à saúde com vistas à realização de estudos e normativas com fim de dar efetividade aos processos judiciais e evitar novos. Em 2017 foi realizada por esse Órgão uma audiência pública de nível nacional, com vistas a discussão da jurisdição em processos na área da saúde. Também no ano 2017 foi criado o Núcleo de Judicialização no Ministério da Saúde, com a finalidade de organizar e promover o atendimento das demandas judiciais contemplando atividades de emissão de relatórios periódicos dos processos após análise, dando subsídio à consultoria jurídica. A respeito do contexto de judicialização da saúde, reflete-se sobre o grande quantitativo de ações individuais versus o parco número de ações coletivas, conforme afirmam os autores: a proporção entre ações coletivas e ações individuais é ainda grande, de modo que a maioria radical de demandas judiciais de saúde versem sobre ações individuais. Isso reforça a ideia de que a microliti­gação é um dado em saúde e o acúmulo de ações individuais gera desafios para as partes, o Judiciário e a própria gestão em saúde (ASENSI; PINHEIRO, 2015). Diante do contexto atual de redução de direitos e precarização da saúde, no âmbito da judicialização, a opção por ações coletivas é uma via desafiadora, mas que se aproxima mais da garantia do direito à saúde de uma forma ampla. A possibilidade do diálogo à luz do direito entre instituições da saúde e do judiciário na tentativa de promover o acesso e evitar ação judicial tem potencial para ações à longo prazo, duradouras, implementação de projetos e alargamento da própria política promovendo o direito a saúde. Resultado: busca-se contribuir para o debate da garantia do direito à saúde na contemporaneidade, para além da judicialização, na defesa da perspectiva do diálogo insterinstitucional enquanto uma alternativa de efetivação do acesso da população à Saúde. Considerações finais: Os processos judiciais na saúde são, em sua maioria, individuais, não havendo sistematização dessas demandas, acompanhamento minucioso e espraiamento para instâncias extrajudiciais e com soluções também pontuais e focais. Esse cenário coloca a necessidade de repensar o processo de judicialização e analisar alternativas outras na perspectiva do direito com vistas à garantia do acesso á saúde. Nesse sentido e diante do contexto atual, sustenta-se o diálogo interinstitucional entre atores e instituições da Saúde e do Judiciário e as ações articuladas como uma via de garantia do acesso à saúde e defesa dessa política pública.

9373 SÍNDROME DO JALECO BRANCO VERSUS O HOSPITAL DO URSINHO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Claudia Menoncini, Gracielle Pampolim

SÍNDROME DO JALECO BRANCO VERSUS O HOSPITAL DO URSINHO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Claudia Menoncini, Gracielle Pampolim

Apresentação: O objetivo deste relato é descrever uma ação desenvolvida por acadêmicos de medicina com o intuito de reduzir a chamada “síndrome do jaleco branco” em crianças de uma escola municipal. Desenvolvimento: A experiência foi construída a partir das atividade de imersão da disciplina de Saúde Coletiva, do Curso de Medicina, da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, campus Passo Fundo (RS), no primeiro semestre de 2019, junto a Escola Municipal de Educação Infantil Sementinha do Amanhã, situada em Pontão (RS), com crianças de 2 a 6 anos de idade. A atividade foi desenvolvida por acadêmicos do curso de medicina da UFFS, todos vestidos de jaleco branco, e consistiu na preparação de um ambiente que simulasse setores e serviços de um hospital, como recepção, triagem, raio X, sala de curativos e de soro. As crianças ficavam esperando ao lado de fora, e duas a duas eram convidadas a entrar para acompanhar o parto da mamãe ursa, uma ursa de pelúcia de 1,3 metros que possui um zíper na barriga, pelo qual nascem os ursinhos de pelúcia de tamanho pequeno. Assim que o parto ocorre, cada criança fica responsável por cuidar de um ursinho, o qual deverá passar por todos os pontos de atendimento organizados, e que no final das atividades ficam de presente para elas. Resultado: Gradualmente as crianças interagem com a equipe de saúde representadas pelos estudantes de jaleco, que com paciência e bom humor buscam, de forma lúdica, mostrar às crianças a importância de cuidar do ursinho e de si mesmas, assim como a não ter medo de nenhum procedimento e ou pessoa com jaleco branco. Essa atividade que a principio parece muito simples e lúdica, permite que a criança entenda que é preciso cuidar de seu ursinho, e de si mesma, e que a interação com pessoas de jaleco branco não precisa ser dolorosa, haja vista que nessa pouca idade a maioria ainda tem receio do contato, devido a quantidade de vacinas e procedimentos que foram submetidas. Considerações finais: A  partira da experiência vivenciada é possível perceber que essa interação foi positiva, não apenas para que as crianças percam o medo do profisisonal de saúde que usa o jaleco branco, mas também para os acadêmicos de medicina, que se aproximam desses pequenos futuros pacientes e conseguem desenvolver habilidades atitudinais importantes para lidar com situações futuras da comum síndrome do jaleco branco.