415: Vulnerabilidades: interfaces entre modos de viver e adoecer de população
Debatedor: Solomon Kwadwo Boakye Yiadom
Data: 31/10/2020    Local: Sala 13 - Rodas de Conversa    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
6499 VIOLÊNCIA AUTOPROVOCADA EM ADOLESCENTES NOTIFICADOS NO SINAN: PREVALÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS
Leticia Peisino Buleriano, Mayara Alves Luis, Luciana Graziela de Godoi, Nataly Jimenez Monroy, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Solange Drummond Lanna, Franciele Marabotti Costa Leite

VIOLÊNCIA AUTOPROVOCADA EM ADOLESCENTES NOTIFICADOS NO SINAN: PREVALÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

Autores: Leticia Peisino Buleriano, Mayara Alves Luis, Luciana Graziela de Godoi, Nataly Jimenez Monroy, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Solange Drummond Lanna, Franciele Marabotti Costa Leite

Apresentação: A violência contra crianças e adolescentes é considerada um grave problema de Saúde Pública e de Direitos Humanos. Pode acontecer de diversas formas de maneira que exige dos profissionais de saúde atenção para identificá-la. Em relação aos principais tipos de violência a que são cometidos os adolescentes, destaca-se violência física, sexual, psicológica/moral, negligência e autoprovocada. A violência autoprovocada compreende as autoagressões, tentativas de suicídio, suicídio e a ideação suicida. Todavia, vale ressaltar que esta última não é notificável, mas requer atenção dos serviços de saúde. Pesquisa feita a nível nacional utilizando notificações do ano de 2014 no Brasil, encontrou 13,2% de lesão autoprovocada em adolescentes de 10 a 19 anos sendo que a maior parte ocorreu com o sexo feminino. Diante disso, o objetivo desse estudo é identificar a prevalência dos casos de violência autoprovocada entre adolescentes notificadas no Espírito Santo no período de 2011 a 2018 e descrever as características das vítimas. Desenvolvimento: Estudo descritivo realizado com os dados notificados de violências contra adolescentes produzidos pela Vigilância Epidemiológica e registrados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN), entre anos de 2011 e 2018 em todo o Estado do Espírito Santo. As variáveis escolhidas para esse estudo foram: idade; raça/cor; escolaridade; deficiência/transtorno; zona de residência; local de ocorrência; ocorreu outras vezes; meio de agressão; suspeita de uso de álcool por parte do agressor. Os dados foram processados no programa estatístico Stata versão 13.0 e analisadas por meio da estatística descritiva em frequência bruta e relativa e intervalos de confiança de 95%. Resultado: Ao todo foram notificadas 2.461 fichas de notificação de violência autoprovocada entre adolescentes entre os anos de 2011 a 2018. A prevalência da lesão autoprovocada foi de 28%, considerando que 80,4% eram do sexo feminino, 68,2% tinha idade entre 13 e 17 anos, 68,7% eram da raça/cor não branca, 56,2% possuía até oito anos de escolaridade, 92,5% moravam na zoa urbana, a maior parte era solteira (95,3%), aproximadamente 26,0% não apresentavam deficiência/transtorno e 10,4% haviam consumido bebida alcoólica no momento da violência. Em relação ao local de ocorrência, maior parte aconteceu na residência (89,3%) a maioria das lesões era de repetição (53,4%). O meio de agressão mais prevalente foi o envenenamento/intoxicação em 70,1% dos casos notificados. Considerações finais: O presente estudo encontrou alta prevalência de violência autoprovocada entre adolescentes. Diante disso vale destacar o importante papel dos serviços de notificação para o enfrentamento da violência, pois além de possibilitar maior conhecimento desse fenômeno, a ficha ainda possibilita que as vítimas sejam encaminhadas as linhas de cuidado.

6507 SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA DE MULHERES IMIGRANTES HAITIANAS
Giovanna Carla Costa Rangel, Marta Rovery de Souza

SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA DE MULHERES IMIGRANTES HAITIANAS

Autores: Giovanna Carla Costa Rangel, Marta Rovery de Souza

Apresentação: As migrações sempre fizeram parte da história da humanidade. Entretanto, contemporaneamente, esses fluxos migratórios tem se intensificado. Apesar de não repercutir necessariamente como uma ameaça à saúde, os processos migratórios podem acarretar uma maior vulnerabilidade, principalmente para as mulheres que vão enfrentar particulares riscos para a saúde, especialmente à saúde sexual e reprodutiva. Essa pesquisa teve como objetivo caracterizar e descrever os cuidados em saúde sexual e reprodutiva de mulheres haitianas cadastradas na Unidade Básica de Saúde Expansul (UBS) no município de Aparecida de Goiânia, Goiás. Desenvolvimento: Pesquisa de Mestrado defendida e aprovada em Agosto/2019 na Universidade Federal de Goiás. Tratou-se de um estudo com abordagem quantitativa e de caráter descritivo, cujos resultados foram gerados a partir de dados secundários, extraídos da Ficha de Cadastro Individual do Programa e-SUS Atenção Básica e de dados primários coletados através de um Roteiro Complementar de Informações desenvolvido pelo grupo de pesquisa. Os dados foram coletados no período de novembro de 2016 a abril de 2017 e representam uma amostra de 36 mulheres imigrantes haitianas que foram cadastradas na Unidade Básica de Saúde Expansul, em Aparecida de Goiânia, Goiás. Resultado: Evidenciou-se a necessidade de construção de políticas de imigração no campo da saúde, com destaque para a saúde sexual e reprodutiva das mulheres, promovendo a inclusão social e o bem-estar dessa população e enfrentando, de modo articulado, as questões da xenofobia, das desigualdades socioeconômicas, das iniquidades de gênero e das discriminações étnico-raciais.Também há pouco aprofundamento nas questões relacionadas à qualificação dos profissionais de saúde e à organização dos processos de trabalho de modo a compreender as práticas e tradições através do conhecimento da cultura originária da mulher imigrante, para então prestar melhores serviços a ela. Vale destacar a importância da atuação dos profissionais da Atenção Básica no acolhimento às mulheres imigrantes e das ações das equipes de Saúde da Família que contemplem a saúde sexual e reprodutiva dessa população, além de, envolver toda a comunidade na prevenção ao preconceito, à discriminação e a todas as formas de violência contra as mulheres vindas de outros países. A ação desencadeada pela Universidade Federal de Goiás e a Prefeitura Municipal de Aparecida de Goiânia demonstrou que é possível fortalecer a articulação da universidade com o Sistema de Saúde, fornecendo informações ao município que irão contribuir para o entendimento das necessidades de saúde da população imigrante e auxiliando na integração dessas pessoas à comunidade brasileira. Ao mesmo tempo, as lacunas apresentadas pela pesquisa poderão incentivar novos estudos voltados à saúde sexual e reprodutiva de mulheres imigrantes haitianas. Considerações finais: É preciso aprofundar a discussão sobre ações e políticas de saúde pública voltadas às necessidades de saúde sexual e reprodutiva de mulheres imigrantes presentes no território brasileiro.

6536 QUEBRANDO ESTIGMAS E TRANSFORMANDO
Aiarlen Meneses, claudia Ribeiro, Adriana Lemos, Fabiana Albino, Andrea Felizardo

QUEBRANDO ESTIGMAS E TRANSFORMANDO

Autores: Aiarlen Meneses, claudia Ribeiro, Adriana Lemos, Fabiana Albino, Andrea Felizardo

Apresentação: A população transexual sobre estigma, discriminação e exclusão dos serviços de saúde. O presente relato de experiência tem por objetivo apresentar a inserção acadêmica em pós-graduação nos estudos sobre transexualidade. Desenvolvimento: A discussão sobre atenção à saúde a população LGBTQI+ não foi abordado durante minha graduação em enfermagem, logo desconhecia a existência de políticas públicas direcionadas para esta população. O meu conhecimento era apenas do senso comum, que travesti era um homem fantasiado de mulher, que usava maquiagem caricata, usava roupas extravagantes e eram extremamente violentos. Quanto ao homem e mulher trans, eram desviados e sofriam de algum transtorno mental. Carregava comigo todas essas informações que foram agregadas durante minha vida. Em 2009 ingressei em um curso de mestrado acadêmico de uma universidade pública no município do Rio de Janeiro. Inicialmente meu projeto era referente a saúde do homem, tema que me interessa desde a graduação. Minha orientadora e coorientadora propuseram um grande desafio, estudar os saberes e práticas sobre IST/HIV na população transexual e travesti. Confesso que fiquei extremamente preocupado em não dar conta de estudar essa população que é extremamente marginalizada e estigmatizada pela sociedade e por mim, que fui doutrinado pela mesma sociedade transfóbica e binária. Mesmo com receio e temeroso, decidi aceitar tamanho desafio. A partir daí foram muitas leituras e visitas em instituições de pesquisa e atenção à saúde da população trans, como exemplo o ambulatório de atenção à saúde da população travesti e transexual, João W. Nery na Policlínica de Especialidades Sylvio Picanço, da Fundação Municipal de Saúde de Niterói (FMS). Este ambulatório passou a ser o meu campo de pesquisa. Na primeira visita houve um encontro com ativistas, homens trans, médicos, psicólogos e assistente social, esse encontro foi o início da minha (DES)construção social referente a esta população, a partir daí todas as quartas participava de consultas com a população, realizava entrevistas-piloto como parte das atividades de pesquisa do mestrado, ouvia histórias, vivenciava fatos, e assim acompanhava processos de transição física e autoaceitação de diversas pessoas trans e travesti. Durante esse processo pude perceber o quanto essa população é estigmatizada, é invisível e sobretudo tutelada por uma sociedade binária, transfóbica e segmentada. Me inquietou ao perceber o quanto a saúde no formato biomédico, muitas das vezes desvaloriza o ser e supervaloriza a matéria. O campo de pesquisa possibilitou a TRANS formação de conceitos, direitos e deveres frente à população transexual e travesti. Resultado: ou Resultado: Essa aproximação do campo de pesquisa e da população estudada impactou de forma positiva na (DES)construção de regras imputada pela sociedade e possibilitou a reflexão da postura do profissional deve adotar frente a essa população. Considerações finais: Faz-se necessário a discussão sobre o tema na formação profissional em saúde para que os futuros profissionais que reconheçam as vulnerabilidades e direitos de uma atenção integral à saúde da população transexual.  

6869 TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE DE UM ASSENTAMENTO NO TRIÂNGULO MINEIRO PARA IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A VIOLÊNCIA EM POPULAÇÕES DESASSISTIDAS PELO PODER PÚBLICO
Sulivan Lemes da Silva, Pedro Henrique Acosta Duarte, Mayconn Victor Silva Nogueira, William Vargas Tenório da Costa

TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE DE UM ASSENTAMENTO NO TRIÂNGULO MINEIRO PARA IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A VIOLÊNCIA EM POPULAÇÕES DESASSISTIDAS PELO PODER PÚBLICO

Autores: Sulivan Lemes da Silva, Pedro Henrique Acosta Duarte, Mayconn Victor Silva Nogueira, William Vargas Tenório da Costa

Apresentação: O trabalho trata dos determinantes sociais para que as violências sejam construídas e consolidadas em uma comunidade sem suporte e assistência do poder público. O objetivo do trabalho é caracterizar quais fatores são mais influentes para produção dos diversos tipos de violência, tais como: institucional, patrimonial, física, psicológica. Desenvolvimento:  Foram realizadas entrevistas na ocupação com moradores de todas as faixas etárias. A respeito questões se fundamentaram na análise dos principais paradigmas existentes na sociedade brasileira: violência, saneamento básico, qualidade e acesso à água e acesso à energia elétrica. Além disso, questionamentos diversos a respeito da temática da violência foram pesquisados e analisados. Resultado: Os resultados encontrados na pesquisa apontam um profundo contentamento da população com a vida no bairro apesar dos inúmeros problemas apontados, entre os fatores que contribuem para a satisfação de grande parte dos moradores está o fato de não pagar mais aluguel e da dignidade de possuir uma residência, ainda que não seja escriturada e existam diversos problemas relacionados a violência na ocupação. Considerações finais: A territorialização em elucida muito bem como se dão as relações entre o assentamento e os órgãos governamentais no que tange a falta de estruturas sociais básicas, previstas em lei e que, no entanto, não se fazem presentes no território. Esse quadro é, portanto, um cenário clássico de violência escancarada, mas, ao mesmo tempo, implícita e negligenciada nos horizontes políticos e judiciais.

6962 CUIDADO EM SAÚDE À PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: EXPERIÊNCIA DA CLÍNICA DA FAMÍLIA PEDRO ERNESTO
Anne Marcelle Marques Coelho, Erildo Wolfgramm, Maria Carolina Califrér Falcão de Alcântara Prazeres, Carlos Freitas Lisboa, Débora Cristine de Miranda Passos

CUIDADO EM SAÚDE À PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: EXPERIÊNCIA DA CLÍNICA DA FAMÍLIA PEDRO ERNESTO

Autores: Anne Marcelle Marques Coelho, Erildo Wolfgramm, Maria Carolina Califrér Falcão de Alcântara Prazeres, Carlos Freitas Lisboa, Débora Cristine de Miranda Passos

Apresentação: A Clínica da Família Pedro Ernesto está numa localidade com frequência aumentada de pessoas vivendo em situação de rua. Diante desta crescente demanda propôs-se implementar rotina de cuidado e acesso a este grupo aos cuidados em saúde na unidade. A região não possui equipe Consultório na Rua, toda articulação realizada é baseada nos atributos da APS, de rede e de humanização do SUS. Este trabalho objetiva descrever rotina desta unidade nas abordagens em saúde à pessoas em situação de rua. O usuário é pronto acolhido e realizada escuta inicial qualificada. A classificação de risco parte do amarelo pelo critério físico (desidratação, feridas, suspeita/abandono de TB etc.) e social (brigas entre si, agressividade, intimidação aos pacientes na sala de espera, odor fétido). É feito CNS e cadastro em prontuário eletrônico com dados referidos, endereço real de morada ex. Boulevard 28 de setembro marquise da Caixa; Marquise n. 144 - Banca Dora. Banho facultado antes do atendimento e entrega de kit odontológico. Cerca de 35 usuários já foram atendidos nas diversas compreensões do conceito ampliado de saúde. Estes são liberados com cadastro e Cartão Nacional do SUS impresso valorizando seu direito como cidadão, que por vezes, naquele momento, é o único documento que porta. Abordagens territoriais são realizadas de forma planejada e organizada com os demais parceiros da rede. A unidade abraçou a ideia da assistência em saúde e da busca ativa desses usuários no território. Como bons resultados consideramos a aproximação dos profissionais às pessoas em situação de rua, redução do preconceito em acolhê-los, mobilização da comunidade para doações, construção de fluxo de atendimento com classificação de risco diferencial, oportunização do cuidado ofertando acesso aos serviços e tecnologias da APS (consultas, medicamentos, exames, procedimentos, “Vaga Zero”, entre outros) bem como articulação com a rede hierarquizada de saúde e de assistência social para garantia de direitos e cidadania.

7201 POPULAÇÃO DE RUA: CUIDADOS ATRAVÉS DE NARRATIVAS DE VIDA
Ana Carolina Costa Saraiva, Luciana Werneck, Carolina Zanquettin Martins Lima, Gracielle Siqueira, Gabriela Muler, Claudia Fernandes da Silvia, Debora Ferreira Alves, Leticia Preti Schleder

POPULAÇÃO DE RUA: CUIDADOS ATRAVÉS DE NARRATIVAS DE VIDA

Autores: Ana Carolina Costa Saraiva, Luciana Werneck, Carolina Zanquettin Martins Lima, Gracielle Siqueira, Gabriela Muler, Claudia Fernandes da Silvia, Debora Ferreira Alves, Leticia Preti Schleder

Apresentação: O trabalho foca a abordagem de três pessoas que viveram ou vivem em situação de rua, através de encontros para a construção de narrativas de vida, nos aspectos das histórias, condições de vida, contextos, saúde e perspectivas. Ao mesmo tempo, agrega a importância da construção de narrativas como instrumento de intervenção profissional, contribuindo para o acesso dessas pessoas aos bens e serviços disponíveis às suas demandas. A experiência realizada no PET Saúde Interprofissionalidade, parceria da UNIFESP, UNILUS e da Secretaria de Municipal de Saúde de Santos, caracterizou-se por um processo de abordagem de moradores de rua, previamente definidos na equipe, que além de suas peculiaridades, necessitavam de atenção, acompanhamento e intervenção na rua. Dessa forma, a equipe de estudantes, tutores e preceptores se organizou, numa composição interdisciplinar, em trios para os encontros e produção das narrativas. Cada subgrupo, teve cinco encontros e um fechamento parcial durante o segundo semestre de 2019, com entrega de uma produção, para o narrador num sexto encontro. Narrador 1: Sr M, nascido no Marrocos, já percorreu e morou em diferentes lugares pelo mundo e pelo Brasil, por conta de atividades de trabalho. Tem família em condições muito boas, que pede seu retorno e se propõe a pagar as despesas. Vive em situação de rua há dez anos e sobrevive atualmente da venda de DVDs alternativos. No seu pequeno espaço na rua, que chama de casa, varreu e ajeitou os bancos feitos de caixotes de transporte de legumes, que são deixados nas ruas do mercado central como bancos, para que todos sentassem e contou sua história. Ao seu redor outros moradores de rua que convivem, se aproximaram curiosos e solidários, ouvem e acrescentam informações. Nos seus relatos, Sr. M. alega que não quer retornar ao seu país por não querer se submeter aos rígidos costumes abrindo mão de sua liberdade, no entanto nos pede para fazer contato com seus familiares e se emociona ao falar com eles. Ele se encontra em uma circunstância complexa, pois sofreu um acidente de moto a um tempo considerado, que teve por consequência, uma platina na perna. Contudo, precisa de uma cirurgia para tirar a platina, só que para isso, há um problema, pois em Santos não há o equipamento necessário para a cirurgia e precisa ser encaminhado para São Paulo. Além disso, para ocorra o procedimento, Sr. M. precisa suspender o uso do álcool, algo que ele não tem vontade de fazer. Nosso narrador é etilista e sempre bebeu em todos nossos encontros, quando abordado sobre o assunto, disse que só irá parar com o uso por vontade própria. Narradora 2: C. é uma mulher de 38 anos que viveu nas ruas desde os 12 anos. Seu primeiro contato com a equipe de saúde foi durante uma abordagem na rua, no início da gravidez quando deixava de fazer uso de substâncias psicoativas. Seguiu acompanhada pela equipe durante toda sua gestação, foi encaminhada para serviços de saúde para dar segmento ao pré-natal e também acessar serviços da Assistência Social, sendo um destes um abrigo para o qual foi encaminhada após o nascimento de seu filho. Hoje segue abrigada, fazendo o que pode para conseguir seu sustento de forma independente, por vezes assumindo posturas mais duras como uma estratégia para se manter em instituição que não considera sua singularidade e de seu filho, no entanto possibilita sua sobrevivência, a manutenção do filho e seu direito a maternidade. Planeja um futuro fora deste serviço, manteve seu único bem, um carrinho de madeira utilizado para recolher objetos na rus e revender para reciclagem, com o apoio de outro morador que permanece na rua e cuida de também de seus dois cachorros. Narradora 3: Sra. H. se aproxima da equipe e sem nenhum pudor conta sua história, já teve bons empregos e o respeito das pessoas e pelo vício, esteve preza um tempo. O abuso do consumo a levou a perder moradia e viver na rua. Agora com 55 anos, tenta sobreviver de pequenas vendas e valoriza todo apoio que recebe. Tem um companheiro que conhece há 10 anos das ruas e que também tenta superar os vícios, atualmente ele está em comunidade terapêutica, enquanto aguarda seu retorno ela permanece buscando estratégias de sobrevivência e abrigo para seus dias. Participante e conversadora, está sempre próxima aos serviços e as equipes, acessando o que lhe é oferecido. Compõe o grupo de Redução de Danos do Município junto com docentes, profissionais, ONGs e representantes diversos. Vive na casa de uma amiga e está intrinsecamente engajada nas lutas da população em situação de rua, criando um forte vínculo com a universidade, em que participa do programa de redução de danos e GAM (Gestão Autônoma de Medicação). Sua relação com a família é limitada pelos seus próprios medos e angústias das consequências de uma possível reaproximação, dos sete filhos, apenas as duas filhas mais novas moram no litoral e não as vê. Lembra de outras mulheres em situação de rua e relata suas necessidades, compara as situações e repensa suas estratégias de sobrevivência. A solidariedade e camaradagem entre os diferentes perfis dos narradores, se destacam como aspectos marcantes nas histórias aqui relatadas, a superação do desconforto na rua é compensada no encontro de vidas que se cruzam e se respeitam de maneira própria. Aprofundar essas histórias mostram as contradições e angústias dessas pessoas e também no nosso atendimento, nossas estratégias de cuidado mostram-se frágeis e insuficientes, diante da intensidade desses relatos. É necessário um tempo de convivência de interação com esta demanda, sem território definido, consciente de sua liberdade e sem determinação de futuro. O uso de encontros e produção de narrativas, para aproximação, demonstra ser um potente instrumento nessa relação. Estar na rua, exige estar aberto mais do que tudo à vida como ela é, entender os meandros complexos que levam as pessoas a essa condição e a permanecer nela, é sempre o maior desafio se comparados aos nossos padrões. Portanto há que se quebrar barreiras de pensamentos e modelos de vida. As histórias falam por si, densas, tristes e alegres ao mesmo tempo, cheias de valentias, estratégias e verdades que desconhecemos. Construir as narrativas, se por um lado nos aproxima dessa população tão vulnerável e carente de cuidados em geral, ao mesmo tempo nos apresenta o quanto trata-se de um grupo solidário entre si, fortalecido pela dureza de seu cotidiano. A devolutiva da produção possibilitou aos narradores rever sua própria história, refletindo sobre suas demandas e alternativas de acesso aos serviços que lhes é de direito. Por outro lado, reconstruir suas vidas também considera e insere os desejos, o repensar inclusive num plano terapêutico singular, com apoio das equipes profissionais das diferentes áreas.

7406 DEMANDAS E DIFICULDADES AO ACESSO DE SERVIÇOS DE SAÚDE SOB O OLHAR DE TRANSEXUAIS NO OESTE DO PARÁ
Sabrina de Oliveira Gama, Laís Gabrielle Cardoso de Oliveira, Rui Massato Harayama

DEMANDAS E DIFICULDADES AO ACESSO DE SERVIÇOS DE SAÚDE SOB O OLHAR DE TRANSEXUAIS NO OESTE DO PARÁ

Autores: Sabrina de Oliveira Gama, Laís Gabrielle Cardoso de Oliveira, Rui Massato Harayama

Apresentação: A transexualidade é compreendida enquanto o sentimento interno de não pertencimento ao sexo biológico, havendo a identificação com o sexo oposto, a divergência provoca intensa insatisfação e aversão com o corpo biológico e consequentemente com o gênero atribuído a esse corpo, essa aversão resulta em um processo de buscas de modificações corporais que objetivam o alcance dos aspectos existentes no sexo oposto, podendo também alterar sexo e nome em documentos mediante procura judicial, sendo essas transformações são parte da chamada transição de gênero. O processo de transição é ofertado pelo Processo Transexualizador, ao qual foi instituído pela Portaria n° 1.707/2008, ofertando o serviço por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), mediante parecer médico que ateste devidamente laudo de transexualidade, entretanto o serviço cobria somente mulheres transexuais, sendo então redefinido e ampliado através da Portaria n° 2.803/2013, abrangendo agora homens transexuais e travestis. Apesar do avanço que representa para a população trans, ainda há desafios para seu amplo acesso, tendo em vista que diversos fatores interferem no processo de busca e alcance dos serviços de saúde que trabalhem o processo de transição, o que afeta o campo da saúde, como o uso de artifícios para modificações físicas, tais como uso e/ou aplicação de hormônios sexuais sem aconselhamento profissional, aplicação de silicone líquido industrial ou outras formas de automutilação, além do sofrimento psíquico causado pela divergência entre sexo biológico e identidade de gênero. Desse modo, o objetivo do trabalho é descrever as demandas e dificuldades de homens transexuais no que se refere ao acesso aos serviços de saúde dentro do município de Santarém, Pará. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo descritivo, transversal, realizado entre os meses de agosto a outubro de 2019, o trabalho faz parte de um projeto de pesquisa intitulado “Percepções e vivências em saúde da população travesti e transexual no município de SANTARÉM (PA)”, ao qual contou com a participação de três homens transexuais maiores de 18 anos que expressaram aceite de participação voluntária na pesquisa por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), as ações desenvolvidas nesse estudo estão dentro da resolução nº466/2012 que normatiza as atividades envolvendo pesquisa com seres humanos, sendo devidamente aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa, sob o parecer 3.530.916. O método utilizado foi o snowball (bola de neve), no qual o entrevistado sugere outros indivíduos com características semelhantes a proposta do estudo, destaca-se que a amostra do estudo se encerrou no terceiro sujeito devido a ausência de indicação de outros sujeitos pelo último participante. As entrevistas contaram com um roteiro semiestruturado, sendo todas gravadas e após isso foram transcritas na íntegra. A análise de dados gerou quatro eixos temáticos de discussão, sendo um deles o eixo “sugestões de mudanças no serviço de saúde” que será abordado nesse trabalho. Resultado: Ao serem questionados quanto as quais mudanças julgavam ser mais interessante para melhor atender as necessidades em saúde da população transexual, a principal demanda colocada pelos três participantes foi a necessidade de um ambulatório especializado dentro do município, pois entendem que este equipamento sanaria boa parte das necessidades da população trans residente em Santarém e municípios vizinhos. A fala dos homens transexuais traz fortemente em seu discurso a importância do serviço ambulatorial no sentido em que esse viabiliza o processo de transição, tendo em vista que para o grupo trans a realidade do município é resumida basicamente a poucas alternativas, como a busca pelo serviço na capital do estado, o uso de hormônios sem acompanhamento profissional ou custeio do serviço no sistema privado. Dois dos participantes realizam o tratamento hormonal pelo sistema privado e com acompanhamento multiprofissional, ao mesmo tempo em que relatam terem consciência que a maior parte dos transexuais do município não possui meios de custear o tratamento, sendo esse contexto responsável por levar transexuais e travestis a realizarem modificações corporais com uso de hormônios sexuais por conta própria, o que foi realizado por um dos participantes, que ao se identificar enquanto homem transexual buscou aplicação de hormônio sexual masculino por conta própria, obtendo uma agressiva reação, com aparecimentos de lesões na pele e forte queda de cabelo, o que o fez desistir do uso sem acompanhamento profissional. Além disso, outro ponto associado à ausência do ambulatório no município foi uma culpabilização do próprio segmento lésbica, gay, bissexual, transexual e travesti (LGBT), onde os participantes colocam a inexistência de um movimento social organizado que se articule e busque direitos e ações voltados às necessidades do grupo LGBT, especialmente do grupo trans, sendo relatado por um dos participantes uma crítica a forte concentração do público em eventos festivos, mas com pouco engajamento em debates, rodas de conversa e eventos de cunho político, sendo esse contexto de pouca mobilização julgado pelos participantes como uma das principais razões pela pouca visibilidade do grupo no município, o que, segundo eles, consequentemente não impulsiona a implementação do serviço ambulatorial especializado. Entretanto, ao mesmo tempo em que manifestam essa crítica quanto ao pouco engajamento do grupo em articulação e reivindicações, as falas trazem uma carga compreensiva pela ausência de mulheres trans e travestis nos encontros e debates que ocorrem no município, isso porque segundo eles, as mesmas não se sentem representadas nesses encontros, enxergando neles pouco ou nenhum potencial para conquista de possíveis mudanças significativas em suas vidas. Considerações finais: Durante o estudo, foi possível observar que ao que se refere ao tópico de saúde, a fala dos homens trans é sempre bastante voltada para as questões relacionadas ao alcance das alterações corporais e para o processo de transexualização propriamente dito, não sendo relatadas outras demandas para além do serviço especializado. Esse dado pode ser compreendido ao se considerar que ao serem questionados quanto ao tratamento nos serviços de saúde, os homens transexuais não relataram qualquer constrangimento ou tratamento preconceituoso, e isso é segundo eles mesmos atribuído a sua passabilidade, ou seja, a capacidade de não apresentar características visuais do seu sexo biológico, o que os proporciona uma segurança a mais contra ações discriminatórias. Dessa forma, consegue-se compreender que a principal pauta seja a existência de um equipamento de saúde que lhes proporcione um atendimento especializado, acessível, gratuito e que garanta um serviço crucial a necessidade de trabalhar e cessar o sofrimento causado pela discordância entre o sexo biológico e a auto percepção do sujeito trans.

7579 ASSISTÊNCIA DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR À VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM UMA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO 24 HORAS
TAINAN FABRÍCIO DA SILVA, PAULA ANDREZA VIANA LIMA, NATALIE KESLE COSTA TAVARES, REBECA MOREIRA GOMES, RAFAELA BARROS DOS SANTOS, NICOLE CRISTINA C. DA SILVA, NAYRA MELYSSA C. DE CASTRO, ADRIANA PATRICIA BRELAZ L. GOMES

ASSISTÊNCIA DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR À VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM UMA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO 24 HORAS

Autores: TAINAN FABRÍCIO DA SILVA, PAULA ANDREZA VIANA LIMA, NATALIE KESLE COSTA TAVARES, REBECA MOREIRA GOMES, RAFAELA BARROS DOS SANTOS, NICOLE CRISTINA C. DA SILVA, NAYRA MELYSSA C. DE CASTRO, ADRIANA PATRICIA BRELAZ L. GOMES

Apresentação: A UPA 24h é uma Unidade de Pronto Atendimento e, como sugere o próprio nome, funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. É um dos componentes da Política Nacional de Atenção às Urgências e uma das prioridades do Ministério da Saúde na tentativa de imprimir resolutividade na atenção às urgências, bem como diminuir a superlotação das portas de emergências dos grandes hospitais. A Unidade de Pronto Atendimento possui o objetivo de garantir o acolhimento aos pacientes, intervir em sua condição clínica e contrarreferenciá-los para os demais pontos de atenção da Rede de Atenção à Saúde, para os serviços da atenção básica ou especializada ou para internação hospitalar, proporcionando a continuidade do tratamento com impacto positivo no quadro de saúde individual e coletivo da população Na Unidade de Pronto Atendimento 24 horas, os pacientes são acolhidos e atendidos com agilidade e resolutividade. Todas as unidades contam com equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros e demais profissionais da área de saúde) e equipamentos necessários para realização de diagnóstico e definição sobre a necessidade ou não de encaminhamento para os hospitais de maior complexidade. A violência doméstica contra a mulher constitui-se um grande problema social, político e de saúde, assim requer interdisciplinaridade e intersetorialidade para seu enfrentamento. A equipe multidisciplinar é fundamental na prestação de cuidado às vítimas de violência, assim requer planejamento para seu enfrentamento. Além, de assegurar um acolhimento humanizado, seguro, respeitando às suas individualidades. O objetivo do trabalho é descrever as ações realizadas e os desafios encontrados na assistência em saúde por parte da equipe multidisciplinar à paciente vítima de violência doméstica na Unidade de Pronto Atendimento 24 horas. Desenvolvimento: trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, desenvolvido pela equipe multidisciplinar de uma Unidade de Pronto Atendimento 24 horas da cidade de Manaus, Estado do Amazonas, a partir de um caso atendido e vivenciado na instituição de saúde, relacionado à violência doméstica em usuária do sexo feminino. O atendimento/acolhimento foi realizado na unidade pela equipe multidisciplinar no primeiro semestre de 2019. A equipe multidisciplinar da unidade conta com médicos de diferentes especialidades, enfermeiros, assistentes sociais, biomédicos, técnicos de enfermagem e assistentes administrativos. A usuária deu entrada na unidade queixando-se de cefaleia intensa. Ao ser consultada pela clínica médica, a profissional atentou-se à existência de hematomas na base do pescoço e resolveu realizar o exame físico na paciente. Durante a realização do exame físico, a profissional realizou o inicio do acolhimento à usuária e orientou à mesma a conversar com a assistente social da unidade. Em seguida, a usuária foi abordada pela enfermeira, que continuou o acolhimento iniciado pela profissional médica e conversou com a mesma sobre violência doméstica à mulher. A usuária sanou suas dúvidas e compartilhou seu anseios através de questões sobre tipos de violência, perfil do agressor, estatísticas do ocorrido, filhos, dependência financeira, instituições de acolhimento e etc. Após, a mesma compareceu à sala da assistente social que continuou o processo de acolhimento. Novamente, a usuária compartilhou seus anseios e dilemas sobre o assunto, enquanto a profissional do serviço social explicava-lhe a respeito de questões jurídicas e civis sobre o tema. Após todo esse processo de acolhimento, sensibilização e esclarecimento, a usuária foi referenciada para outra instituição de referência em saúde da mulher, bem como violência doméstica. Após isso, foi realizado a notificação de violência doméstica. Importante salientar que em todo esse processo, os demais componentes da equipe multidisciplinar foram coparticipantes, além de ser respeitado o sigilo, ética e integridade física e mental da vítima da violência. Resultado: Através da vivência desse caso foi possível observar a grande dificuldade na prestação da assistência da equipe multidisciplinar em se oferecer um acolhimento seguro, capaz de atender as necessidades individuais e específicas de forma planejada. O fato torna-se mais delicado, uma vez que não existe um padrão a ser seguido à este tipo de atendimento, a assistência a vítimas de violência desta modalidade é marcada em sua maioria como um desafio para todos da equipe. É válido salientar que a violência doméstica, são ações que prejudiquem o bem-estar, saúde física, psicológica, sua liberdade e seus direitos. Ações estas: agressão sexual, verbal, psicológica, física e/ou negligência com ou sem proximidade familiar. O planejamento multidisciplinar parece ser um método bastante eficaz para romper essa assistência deficiente. Os profissionais de uma Unidade de Pronto Atendimento 24 h não atuam apenas para atender às demandas mais que rotineiras, mas trabalhar continuamente na comunidade, envolvendo e desenvolvimento ações educativas e de diagnóstico para trabalhar nas linhas de violência. A equipe multidisciplinar da unidade composta por médicos de diferentes especialidades, enfermeiros, assistentes sociais, biomédicos, técnicos de enfermagem e assistentes administrativos revezam-se em delinear um plano de abordagem inicial à essa vítima; fornecer o acolhimento necessário em ambiente seguro e adequado; providenciar um atendimento em saúde de acordo com as necessidades e peculiaridades da vítima, bem como esclarecer para ela as questões éticas, administrativas, cíveis e penais importantes, conduzindo a vítima à outras esferas e serviços especializados e pertinentes ao caso. Considerações finais: O caso vivenciado contribuiu diretamente para a criticidade em se elaborar um fluxo e contrafluxo referente à casos tão específicos como este, além de colaborar na formação de um profissional reflexivo, capaz de direcionar seu olhar acima de hábitos e técnicas repetitivas, com novas habilidades frente á cada nova situação. Compõe uma experiência única. De forma perceptível, lidamos com a identificação das dificuldades que os profissionais da equipe multidisciplinar possuem frente á casos de violência e o hábito mais comum é de referenciar á vitima, ou apenas ouvi-la sem oferecer assistência prévia ou posterior. Relutar á uma prática que vise apenas cura/tratamento e ampliar suas ações de acolhimento e humanização são maneiras de quebrar o modelo tecnicista. Partilhar de valores e emoções entre o ser cuidador e ser cuidado forma uma assistência plena, assistir essa usuária de forma equânime é essencial. O acolhimento pela equipe multidisciplinar além de suas infinitas possibilidades visa restaurar sua autoestima, sua saúde psicológica e sua qualidade de vida, através de um olhar sensível e humano. Buscando desenvolver suas ações elencadas nos instrumentos disponíveis, assim como nas políticas públicas e nas legislações vigentes.

7620 FATORES ASSOCIADOS ÀS CAUSAS EXTERNAS NOS DIFERENTES CICLOS DE VIDA
Isadora dos Reis Martins, Johann Peter Amaral dos Santos, Thais Kellen Ribeiro da Silva, Caio Duarte Neto, Leonardo França Vieira, Luciana Carrupt Sogame Machado

FATORES ASSOCIADOS ÀS CAUSAS EXTERNAS NOS DIFERENTES CICLOS DE VIDA

Autores: Isadora dos Reis Martins, Johann Peter Amaral dos Santos, Thais Kellen Ribeiro da Silva, Caio Duarte Neto, Leonardo França Vieira, Luciana Carrupt Sogame Machado

Apresentação: As causas externas constituem um problema de saúde pública no Brasil, estando entre as três principais causas de óbito no país. O boletim epidemiológico do Espírito Santo (ES) aponta para diferente distribuição das ocorrências e suas características conforme o ciclo de vida. Desse modo, este estudo se propôs a verificar os fatores associados às causas externas atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192, no ES, de acordo com os ciclos de vida. Desenvolvimento: Estudo transversal com coleta retrospectiva de dados dos atendimentos realizados pelo SAMU 192 à vítimas de causas externas em 2015, no ES. Dos 51.555 atendimentos em 2015, uma amostra de 2502 boletins de ocorrência foi coletada e, desses, 883 referiam-se a causas externas. Foram coletadas variáveis sociodemográficas: sexo, ciclo de vida (crianças e adolescentes – 2 a 19 anos; adultos – 20 a 59 anos; e idosos – ≥60 anos) e região de domicílio. Também coletou-se variáveis identificadoras de atendimento: turno de solicitação, período da semana, mecanismo do trauma (agressão, queda, acidente de transporte terrestre, queimadura e afogamento), presença de hálito etílico, gravidade presumida pelo Médico Regulado, resposta enviada, gravidade real, destino da ocorrência e óbito no local. Realizou-se o Teste Qui-Quadrado. Resultado: Dos 883 atendimentos 70% foram a adultos, 17% a idosos e 13% a crianças e adolescentes. A média de idade foi de 39.7 ± 20 anos. Considerando o atendimento à população adulta como o mais frequente, é dado a seguir o seu perfil: em sua maioria era do sexo masculino (75%), socorrida na região de Vitória (79,5%), no período diurno (51,9%), durante a semana (64,6%),  sofreu acidente de trânsito (58,9%), não apresentou hálito etílico (83,6%), teve gravidade presumida como amarela (60,1%), foi atendida pelo suporte básico (82,0%) e classificada no local do acidente como risco mínimo (84,4%), recebeu transporte para um serviço de saúde (87,3%) e sobreviveu (90,1%). Observaram-se diferenças significantes (p005) entre os ciclos de vida, uma vez que comportaram-se como variáveis associadas aos adultos o sexo masculino, plantão noturno, suporte avançado, gravidade presumida verde/azul, queimadura e a presença de hálito etílico. Por sua vez, associaram-se aos idosos o sexo feminino, plantão diurno, suporte básico, gravidade presumida amarela e trauma por queda. A única variável associada à população de crianças e adolescentes foi a ausência de hálito etílico. Considerações finais: As causas externas distribuem-se de forma distinta, de acordo com as faixas etárias. Uma vez que estão entre as principais causas de morbimortalidade no Brasil, conhecer o perfil das vítimas e as características das ocorrências permite o aprimoramento da atenção, a partir de um atendimento primário eficaz, e o desenvolvimento de políticas públicas mais bem direcionadas, pautadas na prevenção dos acidentes e violências.

7642 PROPOSTA DE INSERÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DE SINAIS DE VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO EM UM CENTRO DE SAÚDE ESCOLA
Hennã Cardoso Lima, Everton Luis Freitas Wanzeler, Bruna Fonseca Rezende, Bianca Leão Pimentel, Ivanete Souza Miranda, Jeane Serrão, Daniele Ferreira Bezerra, Maira Isabelle de Miranda Cardoso

PROPOSTA DE INSERÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DE SINAIS DE VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO EM UM CENTRO DE SAÚDE ESCOLA

Autores: Hennã Cardoso Lima, Everton Luis Freitas Wanzeler, Bruna Fonseca Rezende, Bianca Leão Pimentel, Ivanete Souza Miranda, Jeane Serrão, Daniele Ferreira Bezerra, Maira Isabelle de Miranda Cardoso

Apresentação: O envelhecer é um fenômeno natural, no qual o idoso tem suas necessidades humanas básicas, que vão, desde as mais simplórias como: comer e dormir, às mais intrínsecas ao ser, tais como: interação social, autonomia, auto estima e realização pessoal. O Brasil está caminhando para um perfil demográfico mais envelhecido,  com isso é indispensável que seus direitos e necessidades sejam assegurados e respeitados. Relatos de violência contra o idoso, em diversos âmbitos, são frequentemente negligenciadas nos serviços de saúde, quer seja pela dificuldade na identificação desses agravos ou pela ausência de um suporte formal de auxílio. Contrapondo isto, a partir da lei nº 10.74/2013, art. 19 tornou-se obrigatório aos sistemas de saúde realizar a notificação em casos de suspeita e confirmação de maus tratos contra o idoso. Objetivo: Sensibilizar os enfermeiros quanto a necessidade do uso de uma ferramenta para auxiliar na identificação de sinais de violência contra o idoso e possíveis intervenções. Método: Estudo descritivo de abordagem qualitativa realizado no centro de saúde escola do marco, durante a realização de consultas de enfermagem aos idosos acompanhados no programa HIPERDIA (hipertensão e diabetes). O trabalho deu-se em dois momentos, inicialmente foram identificados possíveis sinais de violência contra o idoso através da aplicação de um instrumento  que faz parte do caderno de atenção à saúde do idoso do ministério da saúde, validado na ilha de Porto Rico. O estudo contou com a participação de 14 idosos. Posteriormente, foi realizada uma roda de conversa, com a participação dos Enfermeiros e Assistentes Sociais que atendem ao programa, na ocasião, foi contextualizado sobre a violência voltada ao idoso. Em seguida foi feito, uma breve avaliação das respostas encontradas, mediante a aplicação do instrumento, finalizando o encontro foi realizada a apresentação da ferramenta, como forma de melhor nortear os possíveis sinais de violência ao público em questão, auxiliando também, nas medidas efetivas de intervenção frente aos diversos tipos de violência sofridos pelo idoso. Resultado: Notou-se uma excelente participação da equipe de saúde durante a atividade realizada. A roda de conversa entre os acadêmicos, docente e os profissionais de enfermagem e serviço social do CSE do Marco, contribuíram para a troca de conhecimentos e compartilhamento de experiências vividas no cotidiano da equipe, o que muito enriqueceu a abordagem da temática. A equipe presente reafirmou a importância da utilização do instrumento, o qual era desconhecido para todos os integrantes da equipe, a viabilidade de sua utilização, como ferramenta facilitadora no cuidado ao idoso nesse contexto. A atividade desenvolvida foi elogiada pela equipe que se mostrou adepta à proposta em discussão. Considerações finais: O presente estudo versou sobre as diversas formas de violência que a pessoa idosa pode sofrer, no qual os dados coletados revelam, um perfil social com diferentes formas de violência presentes nas relações intrafamiliares. CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM: O estudo buscou contribuir na detecção precoce e intervenção efetiva nas diferentes realidades encontradas no que se refere à violência contra o idoso e a melhoria da assistência prestada.

7716 O RACISMO CAUSA ADOECIMENTO? UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UBS DE SÃO PAULO
MARIA FERNANDA TERRA, Pamela Lamarca Pigozi, Andreza Bianco, Cassia Batista, Thais Paes, Jacqueline Nunes

O RACISMO CAUSA ADOECIMENTO? UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UBS DE SÃO PAULO

Autores: MARIA FERNANDA TERRA, Pamela Lamarca Pigozi, Andreza Bianco, Cassia Batista, Thais Paes, Jacqueline Nunes

Apresentação: foi iniciado diálogo na UBS sobre as necessidades em saúde da população negra. Ação realizada por graduandas de enfermagem do 7 semestre da FCMSanta Casa de SP e profissionais de saúde da UBS da região central de SP. A demanda veio da enfermeira RT e assistente social (AS) da UBS. A proposta teve por finalidade refletir o cuidado no território, ainda na formação, sobre as práticas assistenciais, de prevenção e de promoção da saúde a partir de Determinantes Sociais em Saúde, com foco no marcador raça. Desenvolvimento: realizado entre maio e julho/2019, na UBS, durante o estágio curricular I, em que as alunas ficam inseridas por 30 dias úteis em ESF/UBS. A ação aconteceu a partir do PES, dos momentos: 1) explicativo, 2) normativo, 3) estratégico e 4) tático operacional. Para tanto, foram pensadas estratégias para acessar os/as usuários/as do serviço e pautar o tema racismo, de modo a ampliar a compreensão dos usuários e trabalhadores sobre o tema, a responsabilidade do serviço de saúde em visibilizar e adequar as ofertas assistenciais. Para tanto, optou-se pela construção de um questionário com questões fechadas para conhecer os/as usuários/as e questões abertas, como: você sabe o que é racismo? As pessoas podem adoecer por sofrer racismo? Qual a responsabilidade da UBS em evitar racismo? Campo aberto para receber as sugestões dos usuários. Para aplicar os questionários, foram espalhados cartazes e fotos sobre racismo nos corredores da UBS, com convite para responderem ao questionário na recepção do serviço e, após preenchido, colocar em urna lacrada. Toda a equipe da UBS foi mobilizada e orientada previamente sobre o tema e a dinâmica modificada para a atividade. Participaram: as estudantes, AS, ACS, enfermeiras, Agentes Administrativos e gerente da UBS. Resultado: atividade aproximou as estudantes da realidade da comunidade e do processo trabalho no serviço. Permitiu também vivenciarem a responsabilidade na elaboração de atividades assistenciais em conjunto com diferentes profissionais e comunidade. A necessidade de construir um caminho de diálogo com a comunidade sobre um tema importante para o território, compreendendo a prática da participação social na produção do cuidado, a garantia da diferença e, consequentemente, a saúde como direito. A metodologia aplicada contribuiu para a reflexão sobre como agregar a participação dos usuários de modo a superar a palestra e promover uma reflexão sobre a construção coletiva de práticas de cuidado reconhecendo o marcador de diferença como a cor. Essa produção coletiva/ vivência foi um importante resultado de experiência acadêmica. Considerações finais: A complexidade da produção foi positiva para refletir o processo de trabalho da enfermagem, da equipe e dos caminhos necessários para agregar os usuários como parte do processo do cuidado; a importância do trabalho interdisciplinar para fortalecer ações de promoção da saúde junto da comunidade. Outro ponto importante foi a oportunidade, durante a formação, para refletir e vivenciar experiências concretas do cotidiano de trabalho na APS por permitir desenvolver visão crítica na necessidade, como na elaboração de respostas às críticas identificadas em parceria com os demais membros da equipe e UBS.  

7955 CÂMARA TÉCNICA INTEGRAL À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UMA ESTRATÉGIA DE CUIDADO
aline rosendo, Cleonilda Queiroz, Daniele Moura, Camila Borges, Valéria Monteiro

CÂMARA TÉCNICA INTEGRAL À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UMA ESTRATÉGIA DE CUIDADO

Autores: aline rosendo, Cleonilda Queiroz, Daniele Moura, Camila Borges, Valéria Monteiro

Apresentação: Para consolidar a assistência à saúde dessa população, a Política Nacional De Inclusão Da População Em Situação De Rua prevê que para estes sujeitos seja garantido a atenção integral à saúde e adequação das ações e serviços existentes, assegurando a equidade e o acesso universal no âmbito do Sistema Único de Saúde, com dispositivos de cuidados interdisciplinares e multiprofissionais. O Ministério da Saúde (MS), ao eleger como modelo a criação de uma política pública de saúde para a população em situação de rua em convergência com as diretrizes da atenção básica e a lógica da atenção psicossocial com sua proposição de trabalhar a redução de danos, assume legitimamente a responsabilidade da promoção da equidade, garantindo o acesso dessa população às outras possibilidades de atendimento no SUS. Contudo, é notado impasses no caminho do cuidado a esta população que necessitam ser superados, como: os estigmas e preconceitos ao usuário e o pertencimento de todos os equipamentos de saúde enquanto promotores do cuidado a esta população, bem como o pouco protagonismo dos principais atores, a saber, usuários, trabalhadores de saúde e rede intersetorial (desenvolvimento social, educação, segurança pública, segurança alimentar, habitação e infraestrutura, entre outros), assim como os diversos atores da sociedade civil, uma vez que são primordiais para a efetivação de um cuidado articulado a PSR. Neste sentido, balizados nos pilares do Sistema Único de Saúde, Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), propomos a construção de espaços de reflexões com os trabalhadores da saúde e Desenvolvimento Social, dentre outros setores sobre o cuidado integral das pessoas em situação de rua, através da Câmara Técnica de Cuidado Integral à População em Situação de Rua. Desenvolvimento: A Câmara Técnica (CT) de Cuidado Integral à População em Situação de Rua foi instituída, por meio da Portaria Conjunta nº 56 de 09 de setembro de 2018, entre as Secretaria de Saúde e Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas Sobre Drogas e Direitos Humanos, com o objetivo de qualificar as ações das políticas de Saúde e Assistência Social, voltadas às Pessoas em Situação de Rua (PSR) no Recife. Para a execução da CT, o grupo norteou seus objetivos e ações nas seguintes atividades: Capacitar profissionais sobre os parâmetros ético-legais de atendimento às PSR; Construir diagnósticos socioterritoriais, que apontem reais demandas deste público; Criar protocolos e fluxos de atendimento que contemplem as etapas da reabilitação/reinserção social, desde à abordagem à alternativas de moradia; Criar estratégias de alcance e Planos de Atendimento; Promover acesso à documentação civil; Criar referência em saúde nas diversas Regiões Político-Administrativas (RPAs); Criar ações temáticas, campanhas de sensibilização articuladas com o Comitê Pop Rua; Instituir grupos de trabalho nas seis RPAs para estudos de caso e ações planejadas; Construir documentos técnicos que reforcem normas e princípios. Resultado: No transcorrer de um ano de atividade, identificamos como avanços as seguintes iniciativas: Criação de Fluxo de Urgência em Saúde Mental para PSR; Criação de grupo de trabalho “Gestantes usuárias de crack e outras drogas”; Implantação e implementação das Câmaras Técnicas Distritais, nas 06 RPAs; Intensa articulação intersetorial entre atores das duas políticas; Matriciamento de Unidades Básicas de Saúde para atendimento à PSR; Definição de representantes por Distrito Sanitário para atenção às PSR. Realização de espaços formativos para a rede da saúde e assistência, priorizando os equipamentos de território, através de eventos (seminários, encontros, simpósios, fóruns) dentro do projeto “olhares sobre a rua”, iniciado com a discussão sobre o acolhimento às mulheres em situação de rua. Como primeira ação realizada, foram implantadas as Câmaras Técnicas Distritais, nas 6 RPAs. Este espaço amplia a discussão em relação a saúde da PSR, articulando os serviços de território, tanto da Saúde quanto do Desenvolvimento Social, viabilizando a identificação, discussão e monitoramento dos casos, bem como a definição de estratégias terapêuticas; conforme a singularidade de cada sujeito. Até o presente momento, foram realizadas 32 reuniões das CT distritais, em que foram discutidos 48 casos com a rede territorial, sendo concretizados como encaminhamento: matriciamento das unidades/equipes de referência; visitas territoriais conjuntas; resgate de documentação, benefícios e vínculos familiares; atendimentos das demandas pelas equipes responsáveis do território. Além dos casos discutidos nas CT Distritais, cerca de 290 usuários em situação de rua já encontram-se em acompanhamento nos CAPS / RAPS, seja frequentando as Unidades ou com o PTS (Projeto Terapêutico Singular) sendo efetivado no próprio território; referenciados por meio das equipes de abordagens de rua – Consultório na Rua (CnaR), Consultório de Rua (CdR), Serviços de Abordagem Social. A realização de tal atividade foi fruto da interlocução entre as áreas técnicas, envolvendo as equipes Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS), Consultório na Rua (CnaR) e Consultório de Rua (CdeR). Das demandas identificadas no levantamento, destacam-se: Demandas de saúde: Transtornos mentais, uso de AD, doenças infectocontagiosas (tuberculose, hanseníase, IST e HIV) Demandas sociais: confecção de documentações civis, benefícios, abrigamento, habitação, emprego e renda Como devolutiva a identificação de tais demandas, a CT realizou: Grupo de trabalho para elaboração do fluxo assistencial para usuário em situação de rua com transtorno mental Projeto de realização do diagnostico em saúde mental dos usuários apontados pelas equipes do desenvolvimento social, com hipótese de transtorno mental Grupo de trabalho para elaboração de fluxo para atenção a gestantes e mulheres com filhos em situação de rua, com uso de drogas. Matriciamento das unidades de saúde sobre o cuidado integral à saúde da população em situação de rua Dentre as ações presentes no planejamento da CT, está como prioridade a execução da avaliação psicossocial dos 50 usuários das Casas de Acolhida, apontados com possível transtorno mental, bem como a elaboração de uma escala de autonomia para os usuários acompanhados pelos serviços, subsidiando as decisões dos PIAs e PTSs. Outra necessidade encontrada é a incorporação da rede de Urgência e Emergência na agenda da CT. Considerações finais: Considerando os desafios, que este público demanda para as políticas públicas, e verificando-se a necessidade de definir estratégias para o seu enfrentamento, as áreas técnicas, que compõem o dispositivo da CT, apontam estratégias, as quais deverão ser desenvolvidas a curto, médio e longo prazo, na perspectiva de fomentar uma agenda de garantia do direito ao acesso e efetivação dos serviços públicos a esta população específica. A continuidade das ações da CT qualificam o cuidado as pessoas em situação de rua, executando, assim, o princípio da equidade do SUS. 

7979 SIGNOS E SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS À HANSENÍASE POR UMA POPULAÇÃO RURAL
Rosélly Mascarenhas Amaral de Andrade, Daniela Arruda Soares, Paulo Rogers da Silva Ferreira, Eliana Amorim de Souza

SIGNOS E SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS À HANSENÍASE POR UMA POPULAÇÃO RURAL

Autores: Rosélly Mascarenhas Amaral de Andrade, Daniela Arruda Soares, Paulo Rogers da Silva Ferreira, Eliana Amorim de Souza

Apresentação: Refletir sobre hanseníase perpassa em compreender, entre outros aspectos, os signos e significados provocados nas pessoas acometidas pela doença, mediante a consideração do contexto cultural. A hanseníase provoca marcas não só físicas como também sociais que refletem na vida diária das pessoas acometidas pela doença. Essas marcas são evidenciadas nos discursos exprimidos pelas populações, as quais atribuem signos, significados e sentidos próprios, por meio de um sistema de comunicação que dá sentido à vida. É significativo destacar o contexto das comunidades rurais como mantenedor de características peculiares e condicionantes na percepção dos conceitos sobre saúde, cuidado e tratamento. Deste modo, objetiva-se identificar os signos e significados culturais atribuídos por uma comunidade rural à hanseníase. Desenvolvimento: O estudo tem abordagem qualitativa interpretativa cujo sistema de signos e significados tem por finalidade o conhecimento sistemático das maneiras de pensar e agir das populações, no intuito de desvendar suas representações e comportamentos diante dos seus problemas de saúde. Este estudo foi realizado em um município da Região de Saúde de Vitória da Conquista, na Bahia, no período de julho a dezembro de 2019. Fez parte do estudo a população acometida pela hanseníase. A etnografia rápida foi elegida, sendo realizados momentos de imersão in loco, com vistas à necessidade de convívio junto a estas populações descritas. As impressões foram registradas no diário de campo sendo utilizadas para posterior análise de dados. Resultado: Os discursos oriundos dos encontros com a população acometida pela hanseníase, sobre os signos e significados da doença, perpassam por desconhecerem o modo de transmissão, pois relacionam ao cheiro exalado na cova, aos objetos pessoais compartilhados por familiares que tem ou já tiveram a hanseníase, a banhos em açudes, a doenças com outras etiologias, ou não sabem como adquiriram a doença. O aparecimento das manchas, despontou como primeiro sinal da hanseníase na maior parte dos discursos, porém, alguns deles negaram a doença mesmo tendo a mancha, ou recebendo a confirmação diagnóstica e a realização do tratamento medicamentoso (“fiz o tratamento, mas não era hanseníase”). As sequelas existentes nas pessoas que tiveram o diagnóstico tardio marcam a vida dessa população e as limitam em seu labor diário, bem como as fazem se sentir doentes, mesmo na presença da cura clínica. São corpos marcados por lesões incuráveis e perda de parte dos seus corpos, inviabilizando atividades de vida diárias. Considerações finais: Verificou-se que a miscelânea de signos e significados atribuídos à hanseníase ancora-se no contexto cultural em que estão imersos a população estudada. Do ponto de vista da cultura biomédica, os resultados apontariam para o desconhecimento da doença, do ponto de vista dos serviços de saúde a necessidade de se considerar tais resultados para melhor qualificação do cuidado, para a antropologia ratifica-se o reconhecimento da riqueza em se compreender que há uma pluralidade de culturas que carecem ser consideradas a fim de não recair em práticas etnocêntricas e limitantes.

8011 CONSULTÓRIO NA RUA: DIRETRIZES, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO NO MUNICÍPIO DE MACAÉ
Gilmar da Silva Aleixo, Nathelly Moretti Freitas, Emerson Elias Merhy, Larissa Escarce Bento Wollz, Maria Luiza Vaccari Quaresma, Luciano Bragança de Carvalho, Kathleen Tereza da Cruz

CONSULTÓRIO NA RUA: DIRETRIZES, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO NO MUNICÍPIO DE MACAÉ

Autores: Gilmar da Silva Aleixo, Nathelly Moretti Freitas, Emerson Elias Merhy, Larissa Escarce Bento Wollz, Maria Luiza Vaccari Quaresma, Luciano Bragança de Carvalho, Kathleen Tereza da Cruz

Apresentação: A universalidade é um dos princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS) e determina que todos os cidadãos brasileiros, sem qualquer tipo de discriminação, têm direito ao acesso às ações e serviços de saúde, mas na prática existem pessoas em condição de extrema vulnerabilidade, como a população em situação de rua (PSR), para a qual persistem barreiras ao acesso e ao cuidado em saúde, mantendo-as invisíveis para o sistema. Apesar da Constituição Federal já em 1988 ter definido nos seus artigos 5° e 6°, que a igualdade de todos perante a lei e os direitos sociais deve ser observada e promovida, foi somente em 2004 que se instituiu a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), que viria assegurar cobertura social a PSR de rua e outras populações em situação de vulnerabilidade através de serviços como os Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS). Em 2005, a obrigatoriedade de criação de programas de amparo no âmbito da organização dos serviços de assistência social para a população em situação de rua numa perspectiva de ação intersetorial foi instituída pela lei nº11.258/05, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Ainda em 2005, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) possibilitou a formulação participativa de políticas públicas nacionalmente articuladas e dirigidas às pessoas em situação de rua e promoveu o I Encontro Nacional sobre População em Situação de Rua, O encontro teve como objetivo principal identificar os desafios estratégicos da construção de uma política pública voltada para esse segmento, que seja nacionalmente articulada, em conformidade com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Em 2005, o governo federal constituiu o grupo de trabalho Interministerial (GTI) com a finalidade de elaborar estudos e apresentar propostas de políticas públicas para a inclusão social da população em situação de rua e incluir aspectos das políticas de assistência social, saúde, educação, habitação, trabalho e renda, cultura e garantia de direitos humanos. As ações desenvolvidas pelo GTI resultaram na Pesquisa Nacional da População em Situação de Rua, realizada em 2007, envolvendo 71 municípios, sendo 23 capitais e 48 municípios com população igual ou superior a 300.000 habitantes. A pesquisa nacional identificou 31.922 pessoas maiores de 18 anos em situação de rua. Este dado, somado com dados de pesquisas de outras cidades não envolvidas na pesquisa nacional, permitiu estimar que existe aproximadamente 50.000 pessoas em situação de rua no Brasil. Dessa forma, o governo federal instituiu em 2009, a Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPSR), política esta, estudada pelo Observatório de Saúde de Macaé, por meio da pesquisa “Análise da implementação da Política Nacional para a População em Situação de Rua (PSR) no município de Macaé (RJ)”, com fomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Chamada Universal MCTI/CNPq Nº 01/2016, do qual este trabalho faz parte. A partir do ano de 2011, surgiram novos serviços para atender as necessidades e garantir a atenção à Saúde da população em situação de rua, a exemplo da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), Consultórios na Rua (CnaR), Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP) e as Unidades de Acolhimento, os quais funcionariam de forma descentralizada, em âmbito municipal. Ainda em 2011, por meio da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), foram definidas diretrizes de organização e funcionamento dos CnaR, tema deste trabalho. Objetivo: Apresentar as diretrizes, estrutura e funcionamento no município de Macaé. Método: Este trabalho se fundamenta em uma pesquisa descritiva e exploratória, tendo por base levantamento bibliográfico, bem como experiência junto aos profissionais do CnaR em Macaé. Resultado: A Equipe do Consultório na Rua (eCnaR) integra o componente atenção básica da Rede de Atenção Psicossocial e desenvolve ações de Atenção Básica, seguindo os fundamentos e as diretrizes definidos na Política Nacional de Atenção Básica. É uma equipe multiprofissional e lida com os diferentes problemas e necessidades de saúde da população em situação de rua. Pelas normatizações, foram criadas três modalidades de equipes de Consultório na Rua, variando segundo a composição profissional: i) com 4 profissionais sendo 2 de nível superior e 2 de nível médio; ii) com 6 profissionais e a modalidade iii) acrescida do médico, sendo Macaé pertencente a esta última modalidade. As eCnaR podem ser compostas por profissionais de diversas categorias como: Enfermeiro; Psicólogo; Assistente Social, Terapeuta Ocupacional, Médico, Agente Social, Técnico ou Auxiliar de Enfermagem e Técnico em Saúde Bucal dando um caráter interdisciplinar à atuação da equipe. Em Macaé, a equipe é composta por dois assistentes sociais, uma enfermeira, duas cuidadoras e uma técnica de enfermagem, além de um clínico geral, e possui sua sede na Casa de Convivência (contando com sala para consulta, setor administrativo, arquivo, mesas e cadeiras. O transporte dos profissionais e usuários é feito em carro da prefeitura, disponível apenas 4 vezes por semana e não atendendo especificações do Ministério da Saúde, como identificação do serviço. Além da PSR, o CnaR também atuou no atendimento à população LGBTQI+ e em Assentamentos do município. Segundo registros do dispositivo, foram realizados 2.634 atendimentos em 2019, sendo 282 atendimentos realizados no “Consultório LGBTQI+”, 20 visitas aos assentamentos e 2.332 atendimentos às pessoas em situação de rua. A eCnar atua tendo por base o acolhimento, a formação de vínculo e a redução de danos, priorizando uma observação e escuta qualificada, com valorização e respeito aos diversos saberes e modos de viver dos indivíduos. O CnaR, no municípios, tem como principais parceiros no atendimento às PSR: Centro Pop, Pousada da Cidadania, Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Programa IST/AIDS, Programa de Tuberculose, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad), CAPS Betinho, Estratégias de Saúde da Família (ESFs), Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs) e emergências do município, como prontos-socorros, unidades de pronto atendimento e hospitais. Resultado: O CnaR configurar-se, como a principal porta de entrada dessa população para a rede de serviços e atua integrada à Rede de Atenção à Saúde (RAS), assim como a outras redes intersetoriais, de modo a desenvolver ações de saúde individuais e coletivas, promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde.

8047 PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM SOBRE O ACESSO À SAÚDE DE UMA POPULAÇÃO RIBEiRINHA
Talyana Maceió Pimentel, Luan Cardoso e Cardoso, Davi Gabriel Barbosa, Manuela Furtado Veloso de Oliveira, Marcia Helena Machado Nascimento

PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM SOBRE O ACESSO À SAÚDE DE UMA POPULAÇÃO RIBEiRINHA

Autores: Talyana Maceió Pimentel, Luan Cardoso e Cardoso, Davi Gabriel Barbosa, Manuela Furtado Veloso de Oliveira, Marcia Helena Machado Nascimento

Apresentação: A população ribeirinha é toda aquela que vive em área rural, às margens de rios e lagos na Amazônia. Estas populações constituem a combinação de diferentes grupos sociais, como: indígenas, nordestinos e migrantes de outras regiões. De modo geral, o local de moradia dos ribeirinhos possui pouca infraestrutura para saneamento básico, energia elétrica e serviços de saúde. Este estudo tem como objetivo relatar a experiência de acadêmicos da área da saúde em uma visita técnica na Unidade Básica de Saúde da Ilha do Combú, Belém, Pará. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, o qual retratou-se na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Ilha do Combú, localizada no município de Belém. A experiência oportunizou-se durante a aula prática do componente curricular “Enfermagem em Populações Tradicionais da Amazônia” do curso de graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará. Na ocasião, observou-se o processo de trabalho da UBS, onde foram visitados os espaços físicos referentes aos atendimentos específicos, como acolhimento, consultórios, imunização e salas de procedimentos clínicos e laboratoriais. A partir disso, identificou-se o implementação de principais programas de atenção à saúde como atenção à saúde da criança e do adolescente, saúde da mulher, pré-natal, puerpério, planejamento reprodutivo, dentre outros. Por fim, obteve-se informação sobre o dinamismo das visitas domiciliares realizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde. Resultado: A princípio, destaca-se a necessidade das unidades básicas de saúde em adaptar-se tanto estruturalmente, quanto funcionalmente, de acordo com as demandas da população ribeirinha. No que diz respeito a essas demandas, observa-se a distância geográfica e a locomoção são adversidades ainda presentes na realidade desse público. Outro fator limitante refere-se aos entraves encontrados pelos profissionais na efetivação das políticas públicas dessa população, a exemplo da ausência de comunicação e do acesso à internet na unidade, acarretando a dificuldade de alocar o usuário dentro do sistema de saúde, impossibilitando, assim, o fluxo de seu atendimento. No entanto, salienta-se que o acesso à saúde se faz presente na unidade, reconhecendo seus limites e possibilidades de atuação. Dessa forma, evidencia-se que há uma discrepância entre o que é pautado teoricamente na política e o que é encontrado na prática de atuação no cotidiano da unidade. Considerações finais: Logo, evidencia-se a importância da vivência em diferentes realidades para o processo de formação acadêmica, tendo em vista a obtenção de uma visão integral, universal e equitativa acerca da atenção à saúde de populações específicas, a exemplo dos ribeirinhos. Em um outro aspecto, essa experiência visa a contribuir no processo de criticidade de acadêmicos e profissionais para compreender a atual política direcionada à população e observar as necessidades majoritárias referentes à realidade observada.

8110 HUMANIZAR PARA SUSTENTAR RESISTIR: AS REPERCUSSÕES DO ACOLHIMENTO DE TRABALHADORES DE UM SERVIÇO DE ATENÇÃO INTEGRAL À POPULAÇÃO LGBT+
ROSANA DOS SANTOS SILVA, Sarah Almeida da Silva, Vanessa Oliveira Cordeiro Silva, Ana Luísa Vieira Santos Matos, Anita Gomes Teixeira, Claudia Valverde Alonso, Leonardo Ribeiro da Cruz de Oliveira, Raíssa Santos Monteiro da Silva

HUMANIZAR PARA SUSTENTAR RESISTIR: AS REPERCUSSÕES DO ACOLHIMENTO DE TRABALHADORES DE UM SERVIÇO DE ATENÇÃO INTEGRAL À POPULAÇÃO LGBT+

Autores: ROSANA DOS SANTOS SILVA, Sarah Almeida da Silva, Vanessa Oliveira Cordeiro Silva, Ana Luísa Vieira Santos Matos, Anita Gomes Teixeira, Claudia Valverde Alonso, Leonardo Ribeiro da Cruz de Oliveira, Raíssa Santos Monteiro da Silva

Apresentação: Este relato de experiência que se integra aos estudos sobre humanização em saúde, submetido ao  eixo temático Trabalho, tem como objetivo produzir um exercício reflexivo sobre a experiência de acolhimento de trabalhadores de um serviço de atenção a população LGBT+ em Salvador (BA). Durante o ano de 2019, extensionistas do Núcleo de Estudos e Formação em Saúde (NEFES), através da observação participante, realizaram uma imersão no Casarão da Diversidade, serviço de referência estadual para o cuidado da população LGBT+, composto por uma equipe multiprofissional e situado em uma região da cidade marcada pela desigualdade social e historicamente reconhecida como um espaço de moradia, trabalho e resistência, sobretudo de travestis. O convívio semanal dos extensionistas com os trabalhadores, em sua maioria pessoas LGBT+ com trajetórias de militância na defesa dos direitos desta população, lhes permitiu identificar em suas narrativas o sofrimento de construir o cuidado em um cenário atravessado pelas vulnerabilidades sociais, pela violência e em tempos de desmonte das políticas públicas e de intensificação da necropolítica. Sofrimento este que repercutiu na saúde mental dos trabalhadores e produziu questionamentos sobre o sentido do trabalho e sobre como seguir desenvolvendo práticas de afirmação da vida. O reconhecimento desta dimensão subjetiva dos trabalhadores, que apontava para um mal estar da sociedade brasileira LGBTfóbica, racista, que se estrutura pela desigualdade, funcionou como um gatilho para a construção de uma proposta de intervenção, que teve o acolhimento como principal tecnologia de cuidado. O acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH) e tem como eixos fundamentais a escuta qualificada e a resolutividade. Atentos a potência dessa tecnologia na mudanças dos modos de gerir e de pensar o cuidado, o  acolhimento à equipe do Casarão da Diversidade foi organizado em turnos diurnos, a partir da demanda espontânea. Os trabalhadores eram acolhidos individualmente em uma sala disponibilizada pelo próprio serviço. Foram feitos 46 acolhimentos. Como resultados, identificamos que o acolhimento funcionou como um modo de sustentar (re) existir, uma vez que a partir da escuta as trajetórias de militância eram validadas e ressignificadas. O sofrimento traduzido pelos sentimentos de impotência e frustrações na relação com os usuários, que por vezes desencadeavam processos de adoecimentos nos trabalhadores, podia ser compartilhado, saía do campo do inaudível, para o possível de dizer, uma via importante para a elaboração. Esse encontro com o inevitável, com a realidade das/dos usuários lhes aproximava de seus próprios processos, se dando a identificação do trabalhador com os usuários, uma espécie de espelhamento entre as subjetividades. Por vezes, estavam inadvertidos dessas nuances embora perceptivelmente impactados e afetados. Pensar a humanização é reconhecer que o cuidado em saúde é um trabalho vivo em ato, no qual o trabalhador é afetado pelo desenho da realidade que ganha corpo no encontro trabalhador-usuário. Cuidar do trabalhador também inclui validar suas utopias, sua trajetória, seus modos de resistir e de sustentar o lugar de agente de mudança. Desse modo, o acolhimento dos trabalhadores do Casarão da Diversidade mostrou-se uma importante via de articulação entre cuidado e transformação da realidade.

8149 VIOLÊNCIA EM ESPAÇOS PÚBLICOS CONTRA MULHERES TRANS NO RIO DE JANEIRO: ESTÉTICA, RAÇA E PASSABILIDADE
Davi Depret, Eduardo Peixoto, Luciane Velasque, Ricardo Mattos, Virginia Knupp, Adriana Gil, Luciana Melo, Livia Andrade

VIOLÊNCIA EM ESPAÇOS PÚBLICOS CONTRA MULHERES TRANS NO RIO DE JANEIRO: ESTÉTICA, RAÇA E PASSABILIDADE

Autores: Davi Depret, Eduardo Peixoto, Luciane Velasque, Ricardo Mattos, Virginia Knupp, Adriana Gil, Luciana Melo, Livia Andrade

Apresentação: Pessoas transexuais podem ser definidas como aquelas cujo sexo designado ao nascimento difere de sua expressão ou identidade de gênero atual, ou seja, no caso de mulheres trans, o sexo biológico foi o masculino, entretanto, sua identidade de gênero se aproxima do sexo feminino. No que diz respeito à saúde, esta população apresenta altos indicadores de iniquidades caracterizadas como multifacetadas resultantes de processos de marginalização socioeconômica, estigma e discriminação. Questões socioculturais e históricas atreladas ao machismo e à misoginia colocam essas mulheres em situação de vulnerabilidade frente às ameaças às quais estão expostas cotidianamente, variando desde atos discriminatórios até homicídios. Nesta lógica, o Brasil tem a maior taxa de homicídios entre mulheres trans do mundo. Estudos têm mostrado que a interseccionalidade presente na relação entre raça e passibilidade é um potencial desencadeador de violência devido ao estigma social sofrido por esta população. Desta forma, o objetivo do trabalho foi avaliar a violência em espaços públicos contra mulheres trans e seus fatores associados. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo transversal que envolveu 108 mulheres autodeclaradas transexuais, maiores de 18 anos de idade e com residência no Rio de Janeiro, Brasil, em 2019. Todas as participantes responderam a um questionário adaptado sobre dados sociodemográficos com base na pesquisa Juvipol (Juventude, Violência e Polícia). Os dados foram analisados com um ajuste de regressão logística ordinal com nível de significância de 5% quando relatado ter sido vítima de violência em espaço público aberto e/ou fechado. Resultado: A mediana da idade foi de 36,5 anos (DP= 10,46) e a mediana da renda mensal foi de US $ 256,88 (IQR= 271,20). A frequência de violência em espaços públicos abertos foi de 34,0% nunca, 8,7% uma vez, 30,1% ocasionalmente, 27,2% com muita frequência e em espaços públicos fechados foi 34,0% nunca, 9,7% uma vez, 30,1% ocasionalmente, 26,2% com muita frequência. As participantes brancas e com relato de maior passabilidade relataram significativamente menos violência em espaços públicos abertos (respectivamente, AOR= 0,31, IC 95%: 0,11-0,87, p= 0,025 e AOR= 0,06, IC 95%: 0,01-0,28, p 0,001). A violência em espaços públicos abertos associou-se positivamente à discriminação muito frequente devido a características físicas (AOR= 5,59, IC 95%: 1,65–18,97, p= 0,006) e agressão muito frequente por estranhos (AOR= 11,21, IC 95%: 2,28 – 54,99, p= 0,003). A violência em espaços fechados foi associada a discriminações ocasionais devido a características físicas (AOR= 3,83, IC 95%: 1,39-10,52 p= 0,009) e agressão muito frequente por estranhos (AOR= 12,45, IC 95%: 2,59-59,91, p= 0,002). Considerações finais: A violência está associada à agressão de estranhos e à discriminação por características físicas. Essa violência especificamente em espaços públicos abertos também está associada à baixa passibilidade e raça/cor não branca, destacando a necessidade de levar em consideração questões raciais e de gênero para uma proteção mais eficaz em espaços públicos abertos. Tais pautas devem ser incluídas nas discussões intersetoriais de saúde, tendo em vista que a problemática e suas consequências configuram um problema de saúde pública, tendo em vista que a abordagem da saúde pública a qualquer problema é interdisciplinar e com base científica, onde conhecimentos de diversas áreas, como a medicina, a epidemiologia, a sociologia, a psicologia, a criminologia, a educação, economia, dentre outros são evocados para reflexão. Desta maneira, é imprescindível que esforços coletivos provenientes de setores diversos, como saúde, educação, serviço social, justiça e políticas sejam unidos para a solução do problema, e, coletivamente, as várias abordagens tenham o potencial de produzir reduções relevantes da violência. 

8150 QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO INTEGRAL DE SAÚDE À PESSOA E/OU FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE REFÚGIO PRESTADA POR ENFERMEIRAS EM UMA CLÍNICA DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.
Sany Costa Camargo, Paula Soares Brandão, Marcia Ezequiel Dos Santos

QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO INTEGRAL DE SAÚDE À PESSOA E/OU FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE REFÚGIO PRESTADA POR ENFERMEIRAS EM UMA CLÍNICA DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.

Autores: Sany Costa Camargo, Paula Soares Brandão, Marcia Ezequiel Dos Santos

Apresentação: No âmbito mundial, cerca de 68,5 milhões de pessoas em todo o mundo foram forçadas a sair de seu país de origem, entre elas estão quase 25,4 milhões de refugiados. A lei brasileira no 9.474, de 22 de julho de 1997, define refugiado como todo indivíduo que devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país. Quando se trata de atendimento à saúde da população em situação de refúgio existem variáveis que podem dificultar o acesso ao SUS, como: cultura, idioma, costumes, religião, origem e gênero. Todas estas variáveis poderão se tornar verdadeiros obstáculos ao atendimento em serviços de saúde. Para prestar uma melhor atenção integral à pessoa e/ou família em situação de refúgio, o Enfermeiro necessita de habilidades para atender às necessidades desta população em tela. Deste modo, o objeto deste estudo foi qualificar a atenção das enfermeiras aos indivíduos e/ ou famílias em situação de refúgio adscritos no território de uma Clínica da Família da zona Norte do Município do Rio de Janeiro, RJ. Desenvolvimento: Esta intervenção seguiu os moldes de um projeto de intervenção, o qual o objetivo é a mudança de uma situação-problema através de ações práticas no cotidiano dos atores envolvidos. O plano de intervenção foi construído a partir do uso da ferramenta metodológica Árvore de Problemas, que auxilia na visualização esquemática do problema, suas causas, consequências, ação ou programa objeto da intervenção, objetivo principal, público-alvo e beneficiários da intervenção. Inicialmente foi realizado um diagnóstico situacional de saúde do território de uma equipe que possui a maior concentração de imigrantes angolano e congolês, através da utilização do prontuário eletrônico vigente na unidade de saúde em 2019. A intervenção foi dividida em três momentos específicos e correlacionada. O primeiro será a criação de um roteiro de consulta de enfermagem para acolhimento dos indivíduos e famílias em situação de refúgio, o segundo a realização de oficina para às enfermeiras da Clínica da Família para discutir a temática refúgio e apresentar o roteiro de consulta de enfermagem para pessoa e/ou família em situação de refúgio e o terceiro momento será a implementação da consulta de enfermagem para acolhimento dos indivíduos e famílias em situação de refúgio no cotidiano das equipes. O público alvo desta Intervenção foram as enfermeiras atuantes da clínica da Família que ocorreu a intervenção. A equipe de enfermagem de nível Superior dessa unidade é composta por 03 Enfermeiras da Estratégia Saúde da Família, 03 residentes de Enfermagem do 1o ano, 02 residentes de Enfermagem do 2o ano do Programa de Residência Enfermagem Saúde da Família (PRESF), 02 preceptora de enfermagem da PRESF, sendo uma das preceptoras Responsável Técnica de Enfermagem da unidade. Foram convidados para atuar como facilitadores desta oficina uma representante do Cáritas e uma representante da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Resultado: Foi realizado para esta intervenção o diagnóstico situacional de saúde, o qual foi utilizado o prontuário eletrônico vigente em 2019 para o levantamento da população imigrante e refugiados adscritos do território. O Total de cadastrados da equipe que ocorreu a intervenção são de 4.177, destes 76 são refugiados congoleses, 28 angolanos, 01 nigeriano e 22 são filhos brasileiros desses imigrantes. A faixa etária mais predominante é a adulta (19 a 59 anos) com 51 congoleses, e o sexo corresponde a 42 do imigrantes feminino e 36 do imigrantes masculino. Dos beneficiários da Bolsa Família, a equipe Peixoto possui 944 pessoas, sendo que 54 beneficiários da bolsa família são imigrantes ou filhos de imigrantes Dos usuários com doenças crônicas, 115 diabéticos (03 refugiados dos Congoleses), sendo 41 insulino dependente (0 congoleses) e dos 414 hipertensos (10 refugiados do Congoleses), dos 48 portadores de HIV (0 refugiados do Congoleses). O Roteiro de consulta de enfermagem para acolhimento da pessoa em situação de refúgio, foi elaborado 81 perguntas semi estruturadas, contendo um esquema de calendário vacinal de 0 a 60 anos, um espaço para a construção de genograma e para a construção de familiograma, construído a partir do levantamento da literatura e artigos no período de 2015 a 2019. A oficina ocorreu no dia 08 de Outubro de 2019, no período de 14h30 às 16h00 na sala de reunião da Clínica da Família. Neste dia, 16 profissionais da unidade de saúde participaram da oficina, sendo eles a gerente da unidade, 01 farmacêutica, 01 estagiária da farmácia, 05 Técnicas de Enfermagem, 03 Residentes de Enfermagem do 1o ano da PRESF convênio SMS/UERJ, 03 Enfermeiras e 02 médicas. Durante a oficina alguns profissionais presentes expressaram a dificuldade na abordagem aos refugiados como a língua e a compreensão dos hábitos, sinalizado o interesse e a necessidade de um curso de francês para os profissionais de saúde, alguns demonstram empatia com a temática, porém outros demonstraram uma resistência com a justificativa de experiência de situações complicadas com alguns refugiados e com justificativa que o governo não ofertava uma estrutura melhor para acolher os refugiados. E foi apresentado e solicitado aos enfermeiros presentes que avaliassem e apontassem no prazo de 07 dias, sugestões para melhorar o instrumento. Dos 07 enfermeiros presentes na oficina, apenas 01 enfermeira não deu retorno do roteiro de consulta de enfermagem para pessoa em situação de refúgio. Ao analisar as sinalizações feitas pelas enfermeiras sobre o instrumento, todas acharam o instrumento interessante, bem estruturado, com uma abordagem integral. Embora um pouco extenso para ser utilizado no serviço devido a quantidade de demanda diária. E foi sinalizado a possibilidade de inserir perguntas sobre a situação da relação conjugal, história de violência e na parte de exame físico se foi realizado a circuncisão, visto que é uma prática comum entre os congoleses do território. Inclui-se no instrumento às sinalizações feitas pelas enfermeiras e após disponibilizado de forma adaptada no Google Forms. Devido a falta de tempo hábil não foi possível implementar a 3a etapa. Considerações finais: A imigração é um assunto antigo, que nos últimos anos tem ganhado destaque e que ainda divide opiniões quando abordado. Percebeu-se durante a oficina que a maior parte dos profissionais participantes se interessam em conhecer um pouco mais sobre a temática, conhecer a língua e a cultura dos refugiados que são usuários da unidade de saúde que trabalham. Muitos não tiveram em sua formação acadêmica a oportunidade de abordar sobre imigração e refúgio, este pouco conhecimento sobre população refugiada pode refletir na dificuldade da coordenação do cuidado. A implementação das ações propostas contribuíram na qualificação da atenção integral prestada por enfermeiras à pessoa e/ou família em situação de refúgio, sensibilizando esses profissionais para a temática refúgio, facilitando assim, a criação de vínculo entre o profissional e o cliente, atendendo às necessidades de saúde deste grupo.

8160 SAÚDE DA MULHER EM AMBIENTE CARCERÁRIO - RELATO DE EXPERIÊNCIA
Júlia Fialho Cauduro, Natasha Maranhão Vieira Rodrigues, Estevan Criales Lopez

SAÚDE DA MULHER EM AMBIENTE CARCERÁRIO - RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Júlia Fialho Cauduro, Natasha Maranhão Vieira Rodrigues, Estevan Criales Lopez

Apresentação: O presente trabalho busca relatar a experiência vivenciada pelos alunos de medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) durante atividade de promoção da saúde em um Centro de Detenção feminino no Município de Manaus, Amazonas. Objetivo: Apresentar a realidade da saúde feminina no centro de detenção visitado, bem como os casos encontrados durante o atendimento, de forma a estimular a discussão e o diálogo à cerca do acesso à saúde em um ambiente de privação de liberdade. Desenvolvimento: Na Faculdade de Medicina (FM) da UFAM é desenvolvido o Projeto de extensão “Saúde em Movimento para a Liberdade” coordenado pelo Departamento de Saúde Coletiva e que objetiva promover atividades de saúde no ambiente prisional. Em novembro de 2019, o projeto convidou a preceptora do estágio obrigatório (Internato) em Ginecologia-Obstetrícia e um grupo de 4 internos para a realização de exame preventivo (Papanicolau) nas detentas interessadas e em condições de se realizar o procedimento. O material utilizado para a realização dos exames foi levado pela equipe e autorizada a entrada pelos funcionários de segurança do presídio. O material colido no exame foi enviado para análise pelo serviço de patologia. Resultado: A equipe foi bem recepcionada pelas detentas, que se mostraram dispostas a realizar o exame preventivo bem como sanar dúvidas. Após uma seleção dessas, as aptas à coleta do exame, realizaram-na na enfermaria do presídio. As amostras foram colhidas sem maiores dificuldades, no entanto, observou-se durante o exame ginecológico achados dignos de nota: uma das pacientes apresentava duplo canal vaginal, condição rara associada à malformação mulleriana do Útero Didelfo (presença de 2 hemiúteros), podendo não apresentar sintomas, como fora o caso da paciente. Outra paciente queixou dor mamária bilateral, que ao se realizar o exame físico observou-se mamas rígidas, de aspecto endurecido e associado á grânulos sólidos distribuídos ao longo do tecido mamário e cadeia linfática axilar, o que despertou a atenção da equipe para a possibilidade de neoplasia com metástase, uma vez que a paciente afirmava não saber a origem das lesões e que suas solicitações para acompanhamento lhe fora negadas; após investigação do histórico desta paciente, observou-se que realizará aplicações de material estranho (“hidrogel”) na região, o que resultou no aspecto observado, não apresentando risco de vida. Este caso despertou a discussão entre os acadêmicos e preceptores sobre a possibilidade de fraudes e a abordagem para os casos em que a paciente possa omitir informações propositalmente, buscando se beneficiar de recursos alocados para tratamentos por vezes desnecessários, o que configura o uso inadequado do Sistema Único de Saúde (SUS). Considerações finais: Atendendo aos Princípios do SUS, é essencial a disponibilidade de serviços de saúde básicos e complexos a todos os cidadãos, o que inclui a população carcerária. A experiência foi enriquecedora para os acadêmicos e internos de modo que pudemos nos atentar a um cenário diferente de atenção a saúde e acompanhar casos únicos e fundamentais para a formação médica.

12234 OS RIOS DO CUIDADO NO CER – RIO BRANCO, DO NASCEDOURO ATÉ O OCEANO DO CUIDADO
MARIA-DAS-GRAÇAS ALVES-PEREIRA

OS RIOS DO CUIDADO NO CER – RIO BRANCO, DO NASCEDOURO ATÉ O OCEANO DO CUIDADO

Autores: MARIA-DAS-GRAÇAS ALVES-PEREIRA

Apresentação: Este trabalho é parte integrante da Pesquisa Nacional “Análise da implantação da rede de cuidados à saúde de pessoas com deficiência”, e traz uma construção narrativa a partir do olhar de gestoras e trabalhadoras do Centro Especializado em Reabilitação – CER, de Rio Branco, no Acre. Desenvolvimento: A primeira proposta de construção e implantação de um CER no Acre data de 2012, quando a equipe técnica da Secretaria de Saúde do Estado do Acre escreveu a proposta, no escopo da proposta de implantação da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, ressaltando que não havia nada elaborado nessa área. O CER II de Rio Branco foi habilitado em Dezembro de 2013, para funcionar nas modalidades auditiva e física, na Fundação Hospital Estadual do Acre – posteriormente denominado Hospital de Clínicas de Rio Branco, que recentemente retornou à antiga denominação, como Fundação Hospitalar do Acre, ou como é conhecido pelos acreanos FUNDHACRE. É o maior complexo hospitalar do Acre, que oferta serviços desde ambulatorial até alta complexidade. O funcionamento à época – por falta de espaço adequado que comportasse a requerida Assistência, foi fracionado. Além da FUNDHACRE, o serviço passou a ser oferecido também na Fundação do Bem Estar Social do Acre (FUNBESA), que sediava um Centro de Reabilitação Baseado na Comunidade - inserido à época na Política Nacional de Assistência Social e contava com serviços de reabilitação em fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional para a comunidade. Os trabalhadores e gestores desse Núcleo pertencem aos quadros das Secretarias de Assistência Social, Direitos Humanos e Mulher, e da Secretaria de Saúde do Estado. Outra instituição que abrigava o serviço de reabilitação do CER era a Escola Dom Bosco – da Secretaria de Estado de Educação, com atendimento às crianças, estendido à população adulta. Neste último caso, o atendimento trazia até recentemente uma certa comodidade às famílias das crianças que lá faziam também atendimento de complementação escolar, inclusive sendo atendidas com o transporte da escola. Além do fracionamento de espaço, o atendimento também acontecia de forma particionada, pela óbvia distribuição espacial do CER, e pelos diversos profissionais, lotados nas Secretarias de Saúde, Assistência Social e Educação, além da formação particionada, que carece de aquisição e fortalecimento da cultura do cuidado interprofissional. O próprio histórico de formação a que geralmente a formação universitária oferta “em caixas”, ainda constitui um lugar de formação deficitária em relação ao desenvolvimento das tecnologias (leves, leve-duras e duras). Esta formação voltada para o trabalho e cuidado individual, ainda constitui uma barreia a ser quebrada, no funcionamento do CER voltado para o cuidado integral do usuário. Os processos de transformação de projeto em realidade consomem na nossa realidade, algo mais que tempo e recursos financeiros. As peculiaridades locais contam em projetos nacionais com o financiamento linear – embora a efetivação de projetos de construção nestas terras, necessitem contar com uma especial atenção e dedicação, para que se tornem realidade. Desta forma, passamos especialmente na região Norte como um todo, pelo enfrentamento às dificuldades. Desta feita, elas foram vencidas, com a sensação de que às vezes, esta saga pareceu loucura – ou doidice, como relatou uma das técnicas ouvidas na pesquisa. Resultado: Corresponder à destinação e finalidade precisa aos recursos públicos disponibilizados para a construção do CER. Trazer da teoria para a prática, retirar do papel e tornar realidade. A quebra dos paradigmas de fazer. A iniciativa do fazer acontecer. A construção do prédio do CER, assim como o seu funcionamento foram, no relato emocionado das trabalhadoras envolvidas, uma saga, regida pela obrigatoriedade da construção pela necessidade, habilitação do serviço, e obrigatoriedade em aplicar os recursos, sob pena da devolução. Para os trabalhadores, a realidade do CER integrado, com os serviços funcionando, o espaço próprio, pensado e criado para isso é a realização de um sonho. O que há poucos anos era utopia, e que futuramente integrará todos os serviços de reabilitação, onde o usuário não ficará peregrinando a cidade inteira à caça de serviços, representa hoje uma possibilidade de fazer um tratamento melhor para a vida das pessoas. Quando se pensa na realidade da mãe, que em geral tem que trazer o filho para a reabilitação, quanto mais a gente estiver junto, conversando, trabalhando, resolvendo as dificuldades, melhor para ela, para o filho. É necessário reconhecer que ter o CER funcionando não é pouca coisa. Há algum tempo, a criatividade substituía a existência dos equipamentos adequados. E o profissional precisa de condições de trabalho para ajudar as pessoas. A rede pública não oferecia condições de trabalho, e ainda talvez esteja longe das condições ideais. “Tínhamos um prédio de três milhões de reais fechado, e criando cupim. Foi necessária a decisão e determinação de duas doidas da Secretaria, que colocaram em sua vida a missão de abrir o CER, impedindo a deterioração” – constata o relato emocionado recolhido no campo de pesquisa. Também funcionou para a equipe como uma medida de valorização. A equipe, que estava antes emprestada, abrigada em uma escola, sem condições de prestar um serviço com a qualidade almejada por todos, está junta, em um prédio cuja finalidade é a Assistência em Reabilitação. O que virá de consequências para a população, está feito, e acreditamos que será o melhor. É um sonho para os profissionais, e qualidade na saúde pública. Houve a confiança da Direção à época, a determinação de uma equipe mínima, e nosso CER é realidade hoje. Temos profissionais de excelência. Infelizmente, a população tem baixa expectativa e não tem consciência dos direitos que tem nas políticas de saúde. Conformam-se com migalhas. Os profissionais são excelentes, mas precisam de condições adequadas. Se o tiverem, eles farão o trabalho de excelência. Continuar melhorando e conscientizando é preciso. Considerações finais: “Demos o primeiro passo, que não volta atrás. Temos os profissionais comprometidos com o serviço – que pode trazer para a pessoa com deficiência e para a sua família, que também estão no processo do adoecimento. Temos condição de atender à pessoa diretamente, e ao cuidador. Aqui no mesmo espaço, temos condição de olhar a todos no mesmo espaço – é como um sonho de atingir a todos os envolvidos no processo de sofrimento pelo adoecimento. Quem lida diretamente com este processo sabe o quanto é importante esta atenção também à família, que não era possível nos espaços fragmentados. Este espaço tem condições de olhar para todos e fazer uma linha de cuidado ampliado. Eu vejo estrelas – vejo aqui uma constelação. É fantástico.” A pesquisa segue o rumo dos cursos d’água acreanos, que atravessam o estado perpendicularmente, numa rota que vai do Sul para o Norte, até desaguarem no oceano. Neste caso, o oceano é o sonho do cuidado ofertado através do trabalho interprofissional, que neste relato trouxe narrativas de trabalhadores. Nos próximos rios, contaremos as histórias de usuários-guia, mães, gestores e comunidade compartilhadores do nosso CER.

7128 POTENCIAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS COM AGENTES ANTIDIABÉTICOS ENTRE INDIVÍDUOS DE UM MUNICÍPIO DE MÉDIO PORTE
Camila Cristina Lunardelli Zanfrilli, Edmarlon Girotto

POTENCIAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS COM AGENTES ANTIDIABÉTICOS ENTRE INDIVÍDUOS DE UM MUNICÍPIO DE MÉDIO PORTE

Autores: Camila Cristina Lunardelli Zanfrilli, Edmarlon Girotto

Apresentação: O diabetes melito é uma enfermidade de elevada prevalência, sendo o tratamento medicamentoso uma importante ferramenta de cuidado. Pacientes com diabetes possuem inúmeras comorbidades e, consequentemente, fazem uso de polifarmácia, aumentando o risco de ocorrência de interações medicamentosas. Dessa forma, este estudo teve como objetivo determinar a prevalência de potenciais interações medicamentosas com agentes antidiabéticos e insulinas entre indivíduos com diabetes de um município de médio porte, localizado no norte do Estado do Paraná. Para isso, foi desenvolvido um estudo transversal dentro da coorte do projeto Vigicardio. Os participantes da primeira fase do Vigicardio (2011) foram reavaliados após 48 meses (2015), com avaliação de inúmeros aspectos, incluindo variáveis relacionadas ao uso de medicamentos nas últimas duas semanas. Para confirmação dos medicamentos em uso, foram examinadas a prescrição e/ou embalagem (primária ou secundária) dos medicamentos. A identificação dos medicamentos foi realizada baseada na Classificação Anatomical Therapeutic Chemical (ATC), da Organização Mundial de Saúde. A identificação e a classificação das potenciais interações medicamentosas foram obtidas analisando-se os medicamentos utilizados pelo paciente com o uso da base de dados Micromedex®. O Vigicardio foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. Foram analisados 159 pacientes com diabetes melito, com a média de idade de 61 anos (desvio padrão = 10,0). A maioria dos avaliados tinha até oito anos de estudo (83,8%), não referiram acesso a plano de saúde (61,3%) e não foram classificados com hipertensão arterial (61,3%). Destes, 123 consumiam medicamentos para o tratamento do diabetes mellito, com destaque para o cloridrato de metformina (49,3%), insulina (23,5%) e glibenclamida (10,8%). Dos 123 pacientes, 83 apresentam uma ou mais interações medicamentosas envolvendo medicamentos antidiabéticos, totalizando 265 interações. Em relação à gravidade das interações, destacaram-se a do tipo moderado (78,0%), seguida do tipo grave (19,0%). As interações mais frequentes foram do cloridrato de metformina com ácido acetilsalicílico (9,4%) (grave) e cloridrato de metformina com maleato de enalapril (9,1%) (moderada). Também foram comuns as interações do cloridrato de metformina com atenolol (6,0%) (moderada), insulina com ácido acetilsalicílico (4,2%) (moderada) e cloridrato de metformina com insulina (3,8%) (moderada). A maioria das potenciais interações medicamentosas observadas podem acarretar hipoglicemia ou hiperglicemia. Sendo assim, deve-se realizar constante acompanhamento do paciente e terapia farmacológica a fim de evitar possíveis danos ao paciente e o fenômeno chamado cascata de prescrição, minimizando o risco de reações adversas ou inefetividade terapêutica.

8099 A ESCUTA E O ARTESANATO COMO FERRAMENTA NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL HUMANIZADO
Camila Cristina Lunardelli Zanfrilli, Edmarlon Girotto, Alberto Dúran Gonzalez

A ESCUTA E O ARTESANATO COMO FERRAMENTA NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL HUMANIZADO

Autores: Camila Cristina Lunardelli Zanfrilli, Edmarlon Girotto, Alberto Dúran Gonzalez

Apresentação: Este relato se refere à participação em um projeto de extensão da Universidade Estadual de Londrina: Sensibilizar-te – Humanizar através da arte, o qual tem como base teórica principal a Política Nacional de Humanização – HumanizaSUS. O projeto atua no Hospital Universitário de Londrina, Hospital do Coração, entre outras instituições do município. O objetivo do Sensibilizar-te é levar acolhimento aos pacientes que estão nos hospitais. O projeto conta com 4 frentes: artesanato, contação de histórias, música e palhaço. Desde minha infância sempre houve muito contato com artesanatos, logo, iniciei minha participação no Sensibilizar-te como colaboradora na frente do artesanato em 2017 e nele permaneço desde então. Inicialmente tenho que admitir que antes de entrar para o projeto – e no início dele – eu esperava que eu levaria, de certa forma, alegria e artesanato para os pacientes. Mas, já durante o processo seletivo fui compreendendo aos poucos a real função das cores, artesanatos e o que realmente queremos levar. Sempre tive muita facilidade e nenhuma timidez para falar, mas muito me faltava ouvir o outro. Na frente do artesanato preparamos artesanatos de acordo com cada ala que iremos atuar: enfermaria feminina, enfermaria masculina, pediatria, maternidade, Centro de Tratamento de Queimados, entre outros. Levamos o artesanato pronto ou previamente pronto e o finalizamos junto do paciente. Minhas primeiras entradas foram nas enfermarias masculina e feminina, e, mesmo acompanhada por outra colaboradora experiente, houve um certo choque pra mim no momento, mas ao mesmo tempo uma ressignificação da arte, do cuidado e principalmente do meu papel como profissional de saúde. Ao longo desse tempo fui compreendendo e abraçando este novo significado e percebendo que, muitas vezes, o que o paciente precisa é que alguém os ouça, de verdade, sem pensar na próxima resposta que irá dizer. Há muitas mensagens no silêncio e este, que antes me incomodava e gerava desconforto, se tornou um aliado para ouvir verdadeiramente quem precisa falar e quando não há o que responder, o silêncio pode ser o melhor a se fazer. Dizer para o usuário que ele irá se curar e que irá ficar tudo bem, se não houver possibilidade de cura, é, no mínimo, injusto. O que podemos fazer é o acolhimento, demonstrado principalmente através do artesanato e da atenção que direcionamos ao paciente. A arte abre caminhos que não existiam antes. O ambiente muda quando chegamos com o artesanato que nós fizemos para aquela pessoa. Muitas vezes o paciente se surpreende, e até pergunta se estamos vendendo aquele artesanato. Uma porta se abre quando dizemos que não há custo, e que foi confeccionado para ele. Diversas vezes o artesanato proporcionou a formação da ponte para chegar ao paciente. Como disse Ferreira Gullar, “a arte existe porque a vida não basta”. Percebi minha mudança comportamental, primeiramente fora do hospital, quando eu estava passando de carro no centro da cidade e avistei um homem que aparentemente estava em situação de rua, deitado no ponto de ônibus. Sempre me sensibilizei com situações semelhantes a essa, mas não conseguia lidar com esse sentimento e muito menos tomar iniciativa e falar com a pessoa, muitas vezes por medo de ofender de alguma forma e também pela sensação de impotência, outro sentimento o qual não sabia lidar. Decidi seguir, pra casa buscar algumas coisas que poderiam contribuir para amenizar, mesmo que paliativamente aquela situação. Peguei um colchão, lençol, algumas frutas, pão e leite e quando voltei ao local ele havia saído. Então, percebi que eu poderia mesmo sem alimentos ou colchão, parar e conversar com aquele homem. Então, como não o encontrei nos arredores, decidi procurar outra pessoa em situação semelhante. Não precisei andar muito para encontrar – frequentemente penso que a desigualdade social é um dos piores males da humanidade – novamente era um homem dormindo no chão, também aparentemente em situação de rua há algum tempo, desci e me apresentei, e questionei se ele aceitava os mantimentos que tinha comigo. Ele aceitou e iniciamos uma conversa. Percebi que ele estava de certa forma surpreso, mas ainda assim desabafou suas vivências e realizou questionamentos acerca de alguns medicamentos que consumia quando soube que sou estudante de farmácia. Este encontro ressignificou a minha função quanto profissional de saúde e quanto pessoa privilegiada em muitos aspectos. Posso afirmar com absoluta certeza que o hospital que me ensinou a lidar com o sentimento de impotência e buscar acolher a pessoa em sofrimento, caso seja o desejo desta ser acolhida. Neste momento em específico senti que estava em constante transformação através do Sensibilizar-te, principalmente o meu modo de ouvir as pessoas era muito discrepante se comparado ao início do projeto. O acolhimento é uma das formas de enfrentamento de situações tão desumanas e infelizmente frequentes em nosso país. O afetar e deixar ser afetado em situações de sofrimento me coloca em constante transformação. No hospital comecei a perceber que havia aprendido que nem sempre temos o que dizer, cada entrada realizada até hoje me coloca em situações nunca vivenciadas antes. Não houve um momento muito específico no hospital em que notei a transformação da minha escuta, mas posso afirmar que houveram dezenas de momentos dolorosos que me trouxeram novos olhares para com o outro, para o meu modo de agir em todos os lugares, e até o enfrentamento de problemas pessoais ou não, e até mesmo de pedir permissão para entrar no quarto. O paciente muitas vezes se encontra em dor total. Não é possível tirar a dor de quem está, possivelmente, no momento mais difícil de sua vida. Mas podemos acolher, e estar junto do paciente naquele momento, para que este não se sinta sozinho/abandonado. A dor total está relacionada com o sofrimento desamparado. Em minha concepção o artesanato é a forma mais silenciosa e sensível que podemos abrir um vínculo. A arte fala por si mesma. O artesanato tem sido uma ferramenta de cuidado para chegar a aqueles que aceitam minha presença no quarto, e sempre foi uma ferramenta para chegar até mim. Mudou meu olhar sobre todas as coisas quando compreendi que estou me formando para cuidar de pessoas e não de patologias. Mudamos o mundo através da forma que vivemos nele.