414: Vivências e reflexões sobre atenção à saúde da população
Debatedor: Thays da Silva Araujo
Data: 31/10/2020    Local: Sala 13 - Rodas de Conversa    Horário: 08:00 - 10:00
ID Título do Trabalho/Autores
6172 FATORES ASSOCIADOS À PREVALÊNCIA DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA ADOLESCENTES
Mayara Alves Luis, Nataly Jimenez Monroy, Luciana Graziela de Godoi, Franciéle Marabotti Costa Leite

FATORES ASSOCIADOS À PREVALÊNCIA DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA ADOLESCENTES

Autores: Mayara Alves Luis, Nataly Jimenez Monroy, Luciana Graziela de Godoi, Franciéle Marabotti Costa Leite

Apresentação: Conhecida como um fenômeno complexo e multifacetado, a violência contra os adolescentes, ocorre muitas vezes nos espaços doméstico, familiar e escolar, o que não garante visibilidade na esfera pública e dificulta o acesso aos serviços de saúde. As quatro expressões mais visíveis da violência praticada contra crianças são a física, a sexual, a psicológica e as negligências. A ocorrência de violência nessa fase é considerada como um grande problema de saúde pública. A violência sexual embora seja cometida contra homens e mulheres, em todos os ciclos de vida, mulheres jovens e adolescentes estão mais expostas a esse agravo. A Organização Mundial da Saúde define a violência sexual como “todo ato sexual ou tentativa para obter ato sexual, investidas ou comentários sexuais indesejáveis contra a sexualidade de uma pessoa usando coerção”. Estima-se que no mundo, uma em cada 10 adolescentes já foram vítimas de violência sexual em algum momento de sua vida. Um estudo realizado no Mato Grosso do Sul mostrou que 92% dos casos notificados de violência sexual ao Conselho Tutelar foram contra adolescentes do sexo feminino. Nos registros do SINAN entre 2011 e 2017, 92,4% da violência sexual notificadas contra adolescentes foram contra meninas. No Brasil, a violência sexual ocupa o segundo maior tipo de violência entre indivíduos na faixa etária dos 10 aos 14 anos, ficando atrás apenas da violência física. Além disso, dados revelam que 38% dos casos são de repetição.  Há de se destacar que a maior parte dos atos são cometidos por pessoas conhecidas do abusado: namorado/ex, familiares, amigos e pais. As consequências vão desde distúrbios emocionais, infecções sexualmente transmissíveis, gravidez não desejada, abortos e tentativas de suicídio. De acordo com pesquisa realizada com escolares mostrou que adolescentes violentados têm 13,3% mais chance de se sentir sempre ou quase sempre sozinho, 7,5% mais chance de ter nenhum ou até dois amigos e 9,5% mais chance de relatar problemas frequentes de insônia por motivos de preocupação. Além desses impactos, um estudo de coorte realizado com adolescentes abusados mostrou que ao longo da vida a incidência de depressão, ansiedade, ideação suicida, tentativas de suicídio e abuso/dependência de substâncias foi maior nesse grupo. Além disso, reportaram mais problemas em relação ao bem-estar psicológico, comportamentos sexuais de risco e maior necessidade de suporte médico durante a vida. A violência sexual é um agravo de notificação compulsória pelos profissionais de saúde e conta com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação como uma importante ferramenta para a saúde pública. Em 2006 foi implantado o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) com o objetivo de coletar dados e gerar informações sobre violências e acidentes, a fim de subsidiar políticas em saúde pública e de outros setores direcionadas a estes eventos, buscando preveni-los. Quando o agravo é notificado, a vítima passa a ser acolhida na rede de cuidados e, além disso, a vigilância epidemiológica passa a desempenhar o papel em detectar, prevenir e auxiliar nas tomadas de decisão nas esferas do poder público. Diante do exposto esse estudo teve por objetivo verificar a associação entre a violência sexual contra adolescentes e as características da vítima, do perpetrador e agressão. Desenvolvimento: Estudo transversal realizado com os dados notificados de violências contra adolescentes produzidos pela Vigilância Epidemiológica e registrados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN), entre anos de 2011 e 2018 em todo o Estado do Espírito Santo. As variáveis escolhidas para esse estudo foram: Idade, raça/cor, escolaridade, deficiência/transtorno, situação conjugal, zona de residência, local de ocorrência, quantidade de agressores, idade do agressor, sexo do agressor, vínculo com a vítima, suspeita de uso de álcool. Foram realizadas análises bivariadas por meio do teste Qui-Quadrado (χ²), com nível de significância de p 0,05. A associação entre as variáveis foi testada por meio da regressão de Poisson, bruta e ajustada com os valores expressos em Razão de Prevalência (RP) e os respectivos intervalos de confiança de 95%. Para análise ajustada a entrada no modelo aconteceu com o valor de p 0,20 e a permanência com p 0,05. A análise ajustada ocorreu com a entrada no modelo em dois níveis. No primeiro nível, os dados da vítima e no segundo nível os dados da agressão. Os dados foram processados no programa estatístico Stata versão 13.0. Resultado: Ao estratificar a amostra por sexo para analisar os fatores associados à violência sexual, nota-se após os ajustes para os fatores de confusão que, entre as meninas, a violência sexual foi 20,0% mais prevalente nas adolescentes com idade entre 15 e 19 anos, 4,0% mais prevalente entre aquelas que apresentavam algum tipo de deficiência ou transtorno. Quanto às características da agressão, a violência sexual foi 24,0% mais prevalente na escola/habitação coletiva e em locais de prática esportiva. A agressão foi menos cometida por dois agressores ou mais (RP: 0,88 IC 95%: 0,86 – 0,91), e 17% mais cometida por companheiros. No sexo masculino, a violência sexual foi 4,0% mais prevalente entre os adolescentes com idade entre 15 e 19 anos, 4,0% menos prevalente entre aquelas que já haviam sofrido agressão outras vezes, a prevalência de ocorrência na residência foi 6,0% menor, a agressão foi menos cometida por dois agressores ou mais (RP: 0,97 IC 95%: 0,96 – 0,99) e a prevalência dos pais como agressores foi 15,0%. Considerações finais: O presente estudo evidenciou diferenças de prevalência de violência sexual segundo o sexo e características da vítima, da agressão e perpetrador. O abuso sexual é um agravo que traz impactos profundos em suas vítimas em todo o mundo. Portanto, é fundamental que políticas de saúde sejam executadas a fim de prevenir a sua ocorrência e reduzir os seus impactos. Com os dados apresentados, destaca-se a importância da notificação dos casos de violência, como uma importante ferramenta para a vigilância epidemiológica, cujo papel é fornecer orientação para o poder público na tomada de decisão sobre a execução de ações para a prevenção do agravo. Além do papel epidemiológico, a notificação também é importante para inserir as vítimas em uma linha de proteção e cuidado a fim de que seus direitos sejam assegurados e haja a redução de impactos futuros na sua condição de saúde.  

6213 VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA ADOLESCENTES NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: CARACTERIZANDO O PERPETRADOR E AGRESSÃO
Mariana Zoboli Ambrosim, Franciéle Marabotti Costa Leite, Mayara Alves Luis, Natali Jimenez Monroy, Luciana Graziela de Godoi, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Solange Drumond Lanna

VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA ADOLESCENTES NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: CARACTERIZANDO O PERPETRADOR E AGRESSÃO

Autores: Mariana Zoboli Ambrosim, Franciéle Marabotti Costa Leite, Mayara Alves Luis, Natali Jimenez Monroy, Luciana Graziela de Godoi, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Solange Drumond Lanna

Apresentação: A violência sexual contra adolescentes é reconhecida como um problema de saúde pública, constando também como violação dos direitos humanos. Geralmente ocorrendo com uso da força física, podendo também haver a coação e sedução, que por muitas vezes não deixam marcas visíveis na vítima, dificultando ainda mais a identificação e registro do caso. Nesse sentido, esse estudo tem por objetivo descrever as características do perpetrador e do abuso sexual notificado cometido contra adolescentes no Espírito Santo no período de 2011 a 2018. Desenvolvimento: Estudo descritivo, do tipo descritivo, realizado com os dados de notificação de violências contra adolescentes produzidos pela Vigilância Epidemiológica e registrados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação, entre os anos de 2011 e 2018 em todo Estado do Espírito Santo. As variáveis escolhidas para esse estudo foram: local de ocorrência, ocorreu outras vezes, meio de agressão, quantidade de agressores, idade do agressor, sexo, vínculo com a vítima, suspeita de uso de álcool por parte do agressor. Os dados foram processados no programa estatístico Stata versão 13.0 e analisadas por meio da estatística descritiva em frequência bruta e relativa e intervalos de confiança de 95%. Resultado: O principal local de ocorrência da violência sexual contra adolescentes do sexo feminino foi na residência (72,8%), 49,3% das agressões já haviam ocorrido outras vezes, 43,3% ocorreram por meio de ameaça, 88,4% foram cometidas por apenas um agressor, 69,5% dos agressores tinham entre 20-59 anos, 98,7% eram do sexo masculino, 29,7% dos abusadores eram conhecidos pelas vítimas e houve suspeita do uso de álcool antes da agressão em 29,4%. Contra os adolescentes do sexo masculino a violência ocorreu em sua maioria na residência (72,5%), 58,3% da violência já havia ocorrido outras vezes, 45,3% ocorreram através de ameaças, 17,1% dos casos foram perpetrados por mais de um agressor, 67,5% dos agressores tinham entre 20-59 anos, 94,9% dos agressores eram de sexo masculino, 39,5% dos abusadores eram conhecidos das vítimas e 78,7% dos perpetradores não haviam feito uso de álcool. Considerações finais: Vítimas e agressores, na maior parte dos casos são conhecidos, convivem em ambientes próximos, o que faz com que o maior número de casos tenham ocorrido na residência. Ocorre a prevalência de casos com agressores do sexo masculino, em idade adulta de 20-59 anos. Em repetidos estudos a variações de resultados são pequenas entre diferentes populações em que se estuda esse crime. Existem muitas intervenções a serem feitas, mas a capacitação de profissionais de saúde para conhecer as leis, identificar e notificar esses tipos de casos de saúde e aliado a isso a maior efetividade nas políticas públicas se tornam essenciais.  

6217 NOTIFICAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NA REGIÃO MACRO-OESTE DE MINAS GERAIS
Kelly Naiara Soares de Souza Santos, André Amorim Martins

NOTIFICAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NA REGIÃO MACRO-OESTE DE MINAS GERAIS

Autores: Kelly Naiara Soares de Souza Santos, André Amorim Martins

Apresentação: A violência contra a mulher é um ato crescente na sociedade contemporânea, fato que corrobora com uma situação de extrema angústia sobre todas as mulheres. Esse fenômeno de violência pode ser observado em diversas regiões do planeta caracterizando, assim, um problema de ordem social e de saúde pública. No Brasil, por meio de diversos instrumentos legais, entende-se como violência contra a mulher qualquer ato que cause prejuízos físicos, psicológicos ou sexuais nas mulheres. A caracterização do que é um ato violento contra uma mulher foi um grande avanço no combate a tais atos juntamente com as notificações feitas através do Sistema Único de Saúde para mapeamento, diagnóstico e realização de programas de saúde e políticas públicas de auxiliem nos municípios com maiores ocorrências. O presente trabalho descreve os resultados parciais de uma pesquisa exploratória em que tem-se a pretensão de compreender o processo de notificação realizado pelos profissionais da Secretária Municipal de Saúde de municípios da região macro-oeste de Minas Gerais envolvidos nos casos de violência contra a mulher, bem como identificar as ações desenvolvidas pelos municípios nos casos notificados. Para tal, será realizado um estudo exploratório com caráter qualitativo onde, após a identificação dos seis municípios com maiores índices de prevalências de notificação de violências contra a mulher e suas anuências para o recebimento da pesquisa no local, serão realizadas visitas técnicas nas localidades a fim de entrevistar o responsável pela vigilância epidemiológica e os funcionários responsáveis diretamente pelo preenchimento das notificações de violência, bem como análise de dados documentais dos municípios referentes as estratégias adotas sobre o tema. Dentre os resultados, parciais, observou que de todas as notificações feitas entre 2009 a 2015 na região 72,3% foram de mulheres que sofreram algum tipo de violência e que os municípios que mais notificam possuem uma diferença muito grande no índice de prevalência em relação a cidade polo e mais populosa. Nota-se, também, por parte dos responsáveis pela promoção da saúde de cada município, o descaso pela importância da realização desta pesquisa, uma vez que o retorno do contato inicial para a autorização da realização desta, acontece, em média, após 34 dias. Dentre as seis localidades selecionadas, apenas uma indeferiu a solicitação de realização deste estudo. Este comportamento, considerado aqui, evasivo ou de proteção exacerbada dos dados referentes às notificações de violência contra a mulher, sugerem um distanciamento entre a ocorrência de casos reais e aqueles registrados nos sistemas especializados como o Sistema de Informação de Agravos e Notificações. Após a liberação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos será realizada a fase exploratória onde, a partir da  análise, interpretação e aprofundamento na maneira com que cada município tem trabalhado com suas notificações, será possível apontar os pontos positivos e negativos de cada município analisado para que, futuramente, políticas públicas que visem a prevenção efetiva das violências sofridas pelas mulheres sejam adotadas.

6236 VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA ADOLESCENTES NO ESPÍRITO SANTO: PREVALÊNCIA E CARACTERIZAÇÃO DA VÍTIMA
Mariana Zoboli Ambrosim, Franciéle Marabotti Costa Leite, Mayara Alves Luis, Luciana Graziela de Godoi, Nataly Jimenez Monroy, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Solange Drumond Lanna, Fábio Lúcio Tavares

VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA ADOLESCENTES NO ESPÍRITO SANTO: PREVALÊNCIA E CARACTERIZAÇÃO DA VÍTIMA

Autores: Mariana Zoboli Ambrosim, Franciéle Marabotti Costa Leite, Mayara Alves Luis, Luciana Graziela de Godoi, Nataly Jimenez Monroy, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Solange Drumond Lanna, Fábio Lúcio Tavares

Apresentação: A Organização Mundial da Saúde a adolescência compreende as faixas etárias de 10 a 19 anos.  Período de transição entre a infância e a vida adulta, trata-se de um momento de maiores impulsos no desenvolvimento físico, mental, social e sexual. De 2011 a 2017 o Sistema de Informação de Agravos e Notificação recebeu cerca de 83.068 notificações de casos violência sexual contra adolescentes, sendo que a maior parte desses casos 32,1% ocorreram nas regiões Sudeste. Tal serviço, tem sido fundamental para atuação da vigilância epidemiológica na detecção, prevenção de tal agravo e subsídio no desenvolvimento de políticas públicas. Nesse sentido, o objetivo desse estudo é identificar a prevalência dos casos de violência sexual contra adolescentes notificados no Espírito Santo no período de 2011 a 2018 e descrever as características da vítima. Desenvolvimento: Estudo descritivo, do tipo descritivo, realizado com os dados de notificação de violências contra adolescentes produzidos pela Vigilância Epidemiológica e registrados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação, entre os anos de 2011 e 2018 em todo Estado do Espírito Santo. As variáveis escolhidas para esse estudo foram: idade (10 a 14 anos / 15 a 19 anos), raça (branco/não branco), zona de residência (urbana; rural/periurbana), anos de escolaridade (0 a 8 anos; 9 anos ou mais), deficiência/transtorno (sim/ não). Os dados foram processados no programa estatístico Stata versão 13.0 e analisadas por meio da estatística descritiva em frequência bruta e relativa e intervalos de confiança de 95%. Resultado: A prevalência de violência sexual entre os anos de 2011 e 2018 foi de 21,8%. No sexo feminino 68,6% dos casos ocorreram contra meninas com a faixa etária entre 10 e 14 anos, 75,1% eram não brancas, a maior parte tinha a escolaridade até oito anos, 91,0% não apresentavam deficiência ranstorno, 89,0% moravam na zona urbana. No sexo masculino 68,4% ocorreram das agressões entre adolescentes com idade contra 10 e 14 anos, 74,4% eram não brancos, 76,7% possuíam até oito anos de escolaridade, 82,6 % não apresentava deficiência ou transtorno, e a maior parte era residentes da zona urbana (90,3%). Considerações finais: O elevado número de registros de violência sexual contra adolescentes nos remete a importância da implantação de estratégias não apenas para registros de número de casos. Esperamos que esses dados possam auxiliar em políticas públicas de proteção as vítimas do abuso sexual. Faz-se necessário a inclusão de tal assunto na formação dos profissionais de saúde, reforçando a importância de uma boa assistência para a redução do impacto da violência na saúde física e mental, rompendo o ciclo da violência das vítimas e proporcionado melhor condição de bem-estar.

6243 VIOLÊNCIA FÍSICA CONTRA ADOLESCENTES NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: PREVALÊNCIA E CARACTERIZAÇÃO DA VÍTIMA
Luíza Eduarda Portes Ribeiro, Franciéle Marabotti Costa Leite, Mayara Alves Luis, Nátaly Adriana Jiménez Monroy, Luciana Graziela de Godoi, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Solange Drumond Lanna, Fábio Lúcio Tavares

VIOLÊNCIA FÍSICA CONTRA ADOLESCENTES NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: PREVALÊNCIA E CARACTERIZAÇÃO DA VÍTIMA

Autores: Luíza Eduarda Portes Ribeiro, Franciéle Marabotti Costa Leite, Mayara Alves Luis, Nátaly Adriana Jiménez Monroy, Luciana Graziela de Godoi, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Solange Drumond Lanna, Fábio Lúcio Tavares

Apresentação: A violência pode ser definida como: o uso intencional da força física ou do poder contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo/comunidade, que possa resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento/privação, podendo acometer diferentes ciclos de vida, como a adolescência. Estudo realizado em 06 escolas em Recife demonstrou que 62,2% dos adolescentes destas instituições já havia sido vítima de agressões, 79,8% foram agredidos pelo uma vez por uma pessoa, e cerca de 12,5% continuaram sendo agredidos. As altas prevalências indicam que estratégias devem ser tomadas para o enfrentamento e prevenção das violências. Um importante sistema de identificação de violências no Brasil é o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) que auxilia com dados para análise do perfil da morbidade da população. Neste contexto, o estudo visa identificar a prevalência dos casos de violência física contra adolescentes notificados no Estado do Espírito Santo no período de 2011 a 2018 e descrever as características da vítima. Desenvolvimento: Estudo descritivo realizado com os dados notificados de violências contra adolescentes produzidos pela Vigilância Epidemiológica e registrados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN), entre anos de 2011 e 2018 em todo o Estado do Espírito Santo. As variáveis escolhidas para esse estudo foram: quantos as características da vítima - faixa etária, raça/cor, escolaridade em anos de estudo, deficiência/transtorno, situação conjugal e a zona de residência. Os dados foram processados no programa estatístico Stata versão 13.0 e analisadas por meio da estatística descritiva em frequência bruta e relativa e intervalos de confiança de 95%. Resultado: A prevalência de violência física contra adolescentes notificada no período de 2011 a 2018 foi de 44,1%. Maiores prevalências, segundo sexo, de violência física foram encontradas na faixa etária entre 13 a 17 anos (Feminino: 58,9%; Masculino: 69,3%), entre indivíduos considerados de raça/cor não branca (Feminino: 74,9%; Masculino: 81,2%), a maior parte tinha entre 5 a 8 anos de estudo (Feminino: 50,5%; Masculino: 60,0%), 95,7% das vítimas do sexo feminino e 90,5% do sexo masculino não possuíam deficiência/transtorno; 84,3% das meninas e 96,4% dos meninos não tinham companheiro e moravam em zona urbana 89,7% das meninas e 92,2% dos meninos. Considerações finais: Conclui-se que a prevalência de notificação de violência física é alta, e, que acomete mais determinados grupos conforme faixa etária, raça/cor, escolaridade, deficiência/transtorno, situação conjugal e zona urbana. Nesse cenário de reconhecimento do agravo, os instrumentos de notificação se mostram essenciais para os serviços de saúde, ao impulsionarem não somente a identificação de problemas através da caracterização das vítimas de violência, mas, impulsionar a efetividade das ações, e, assim contribuir para a Vigilância em Saúde.

6248 CASOS NOTIFICADOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA NO ESPÍRITO SANTO NO PERÍODO DE 2011 A 2018
Márcia Regina de Oliveira Pedroso, Franciéle Marabotti Costa Leite

CASOS NOTIFICADOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA NO ESPÍRITO SANTO NO PERÍODO DE 2011 A 2018

Autores: Márcia Regina de Oliveira Pedroso, Franciéle Marabotti Costa Leite

Apresentação: A violência contra a criança é um fenômeno que vem ganhando destaque na agenda de saúde, tanto a nível nacional como internacional. Dentro deste contexto, em 2006 o Ministério da Saúde implantou o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva), incluindo a violência como um dos agravos de notificação compulsória junto ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Neste sistema, portanto, devem ser notificados todos os casos de violência atendidos nos serviços de saúde e também fora deste setor, incluindo aqueles ocorridos na infância. Assim, o objetivo deste trabalho é descrever os casos notificados de violência contra a criança no Espírito Santo no período de 2011 a 2018. Desenvolvimento: Estudo descritivo onde foram analisados os casos notificados de violência contra a criança no Espírito Santo no período de 2011 a 2018. Para isso, foi obtido o banco de dados com as informações constantes nas Fichas de Notificação/Investigação Individual – Violência interpessoal/autoprovocada registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). O banco de dados foi fornecido pelo setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo. Para o presente trabalho foram selecionadas as fichas de vítimas com idades entre 0 e 9 anos. Foram calculadas as frequências do tipo de violência sofrida pela pessoa atendida. As análises foram realizadas no software Stata 14.0. Resultado: No período de 2011 a 2018 foram notificados 3127 casos de violência contra a criança, sendo os anos de 2011 e 2018 com menor e maior número de notificações, respectivamente (112 e 748 casos). A violência sexual foi o tipo mais notificado, representando 41,3%, seguida pela negligência (31%) e pela violência física (23,4%). Também foram notificados casos de violência psicológica/moral (1,6%), tortura (1,3%), tentativa de suicídio (1,2%) e trabalho infantil (0,4%). Considerações finais: A violência contra a criança apresenta-se com elevada magnitude, tendo aumentado o número de casos notificados ao longo dos anos. Isto evidencia a necessidade de adoção de estratégias e políticas para o seu combate com intuito de garantir o direito de segurança e proteção à infância.

6249 VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA NO ESPÍRITO SANTO: CARACTERÍSTICAS DA AGRESSÃO, DAS VÍTIMAS E DOS AGRESSORES
Márcia Regina de Oliveira Pedroso, Franciéle Marabotti Costa Leite

VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA NO ESPÍRITO SANTO: CARACTERÍSTICAS DA AGRESSÃO, DAS VÍTIMAS E DOS AGRESSORES

Autores: Márcia Regina de Oliveira Pedroso, Franciéle Marabotti Costa Leite

Apresentação: A violência contra a criança é um fenômeno que vem ganhando destaque na agenda de saúde, tanto a nível nacional como internacional. Segundo a Constituição Federal brasileira é papel das famílias, da sociedade e do Estado proteger as crianças de todas as formas de violência, a fim de garantir o seu pleno desenvolvimento físico, mental e social. Os efeitos da violência sofrida na infância se perpetuam na idade adulta, trazendo inúmeros desafios para os gestores e profissionais, incluindo-se a área da saúde. Diante da sua magnitude, o objetivo deste trabalho é descrever as características das agressões, das vítimas e dos agressores dos casos notificados de violência contra a criança no Espírito Santo no período de 2011 a 2018. Desenvolvimento: Estudo descritivo onde foram analisados os casos notificados de violência contra a criança no Espírito Santo no período de 2011 a 2018. Para isso, foi obtido o banco de dados com as informações constantes nas Fichas de Notificação/Investigação Individual – Violência interpessoal/autoprovocada registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). O banco de dados foi fornecido pelo setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo. Para o presente trabalho foram selecionadas as fichas de vítimas com idades entre 0 e 9 anos. Foram calculadas as frequências das variáveis relacionadas às características da agressão, da vítima e dos agressores. As análises foram realizadas no software Stata 14.0. Resultado: No período de 2011 a 2018 foram notificados 3127 casos de violência contra a criança. A maioria dos eventos ocorreu em zona urbana (82,6%) e na residência das vítimas e/ou agressores (70,8%). Observa-se que 34,4% das crianças tinham entre 0 e 2 anos, 28,5% entre 3 e 5 anos e 37,2% entre 6 e 9 anos. As crianças do sexo feminino foram as principais vítimas (56,6%) bem como aquelas de raça preta ou parda (60,4%). A zona urbana foi o principal local de moradia (88,4%) e 3,8% das crianças apresentavam algum tipo de deficiência e/ou transtorno. Com relação às características dos agressores, 65,9% dos casos foram perpetrados por somente um agressor e 48% dos agressores eram do sexo masculino. Observa-se que 55,2% dos agressores eram os pais/padrasto/madrasta da criança, 30,4% pessoas conhecidas e 3,2% desconhecidos; em 11,1% das notificações não foi possível estabelecer o vínculo com a vítima. Considerações finais: A violência contra a criança ocorre principalmente a partir das relações de confiança estabelecidas diariamente, sendo perpetrada por aquelas pessoas que deveriam proporcionar um ambiente seguro e amoroso. Nesse contexto, é necessário compreender a dinâmica destas famílias para que possam ser adotados programas e políticas de fortalecimento dos vínculos e de proteção às relações familiares.

6264 O PROFISSIONAL DA SAÚDE NA ESCUTA E NOTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES COM HIV/AIDS: EMOÇÃO, RAZÃO E AÇÃO
Liney Maria Araujo, José Savio dos Santos, Joseph Rodrigues de Rosa, Kamylla Cavalcante Taques dos Reis, Marcelo Picinin Bernuci, Rejane de Sousa Barros Campos, Stefânia Pinto Mota, Tania Maria Gomes da Silva

O PROFISSIONAL DA SAÚDE NA ESCUTA E NOTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES COM HIV/AIDS: EMOÇÃO, RAZÃO E AÇÃO

Autores: Liney Maria Araujo, José Savio dos Santos, Joseph Rodrigues de Rosa, Kamylla Cavalcante Taques dos Reis, Marcelo Picinin Bernuci, Rejane de Sousa Barros Campos, Stefânia Pinto Mota, Tania Maria Gomes da Silva

Apresentação: A Organização Mundial da Saúde caracteriza a violência como o uso intencional da força física ou poder, real ou em forma de ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, contra um grupo ou comunidade que possa resultar ou tenha probabilidade de resultar em morte, lesão, dano psicológico, problemas de desenvolvimento ou privação. O aumento dos casos de violência contra as mulheres se tornou objeto privilegiado de estudos interdisciplinares. Tais pesquisas têm possibilitado a elaboração de estratégias de enfrentamento da violência, notadamente por meio de políticas públicas. No Brasil, um exemplo é a Lei n. 10.778/2003, que institui a notificação compulsória dos casos de violência pelos Serviços de Saúde. Contudo, há um gap quanto às pesquisas da violência de gênero que incide sobre mulheres vivendo com HIV/AIDS. Trata-se de um grupo em extrema vulnerabilidade, pela própria história da doença, que arrasta preconceitos e pré-concepções ao longo das suas décadas de existência e se potencializa quando agregada a essa condição de gênero. As IST/HIV/AIDS são agravos que em dias atuais ainda suscitam a violência de gênero. A sociedade em geral cobra das mulheres sexo exclusivamente com seus maridos, como forma de moralidade e prevenção. Esse estudo discute a importância da notificação da violência contra mulheres vivendo com HIV/AIDS pelos profissionais de um Serviço Especializado, na cidade de Cuiabá. Em 1996, os Serviços Especializados em IST/HIV/AIDS (SAE) foram inaugurados em algumas capitais do país. Em Cuiabá isso ocorreu em 1998. O serviço é subsidiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a equipe multiprofissional é composta por psicólogos, enfermeiros, nutricionistas, médicos, assistentes sociais, farmacêuticos e dentistas. Todos recebem sucessivas capacitações direcionadas na teoria e prática dos agravos de IST/HIV/AIDS a fim de um exercício de excelência em acolhimento humanizado, diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos usuários. Desde a sua inauguração não há, nos seus registros, notificação de violência doméstica contra as usuárias. Tal fato vai de encontro à literatura especializada que tem enfatizado maior fragilidade das mulheres com HIV/AIDS à violência doméstica. Essa evidente discordância entre a realidade empírica e a elaboração teórica dá relevância a esse estudo. Desenvolvimento: A violência praticada contra as mulheres ou violência de gênero é um sério problema de saúde pública mundial. Atos de violência contra as mulheres não são circunstanciais, mas costumam se perpetuar ao longo da vida das vítimas. Pesquisas evidenciam que, muitas vezes, as agressões ocorrem no ambiente doméstico, praticadas pelos parceiros íntimos das vítimas. A violência de gênero e a AIDS são fenômenos “democráticos”, ou seja, incidem sobre pessoas de qualquer gênero, classe, raça/etnia, geração, embora alguns grupos apresentem maior vulnerabilidade como o supra ciado, mulheres vivendo em situação de IST/HIV/AIDS. Nesses casos, o comprometimento da saúde é muito maior do que quando a vítima não apresenta a doença. Daí a importância dos serviços de saúde, notadamente aqueles especializados, estarem preparados para lidar com o problema. O despreparo desses profissionais para a escuta das vítimas de violência de gênero invisibiliza o problema. Essa invisibilidade, por sua vez, impede ações jurídicas de proteção e amparo às vítimas. Nesse caso, o cuidado integral à saúde da mulher fica seriamente comprometido. O encontro entre o profissional de saúde e a usuária é um momento de comunhão e se o diálogo não se estabelece, perde-se uma oportunidade de defesa das mulheres. A despeito da obrigatoriedade da notificação da violência pelos serviços de saúde, tal regramento nem sempre é colocado em prática, muito provavelmente pela ausência de capacitações pontuais. É necessário que os gestores de todas as áreas da saúde se mobilizem para sair dessa situação discordante entre o que dizem as pesquisas científicas e o que mostram as situações concretas das práticas dos serviços da Rede SUS. O profissional da saúde somente procede à notificação ante um relato da vítima ou frente a um sinal visível de violência, mas a verdade somente virá à tona se a vítima se sentir plenamente segura. Um fator importante para que o profissional proceda a notificação é a sua representação da violência. Quando este reconhece os direitos humanos das mulheres fica mais fácil notificar. Desde a década de 1960 o movimento feminista luta pelos direitos das mulheres, provocando mudanças sociais que possibilitaram a elas maior liberdade e autonomia. Notadamente no âmbito da sexualidade houve uma verdadeira revolução dos costumes, com as mulheres sendo mais livres para se assumirem como protagonistas de suas vidas. Entretanto, essa mudança não atingiu a todas, porque o machismo impregnado na cultura patriarcal brasileira ainda se faz presente. A chegada da AIDS, nos anos 80, tornou mais difícil o exercício da sexualidade. Muitos homens não aceitavam negociar o uso da camisinha com suas companheiras e, como a infidelidade faz parte do modelo de masculinidade hegemônica no Brasil e é tida como um comportamento aceitável, a exposição das mulheres ao HIV/AIDS se tornou notaria. Resultado: Muitas vezes os depoimentos da mulher com IST/HIV/AIDS vem apinhado de sofrimento centrado na sua vida sexual, não explicitando as verdadeiras violências provocadas pela sua parceria sexual. Somado a isso, existe a carência do profissional em conhecer todo o constructo em torno da temática “Violência de Gênero”, levando-o intencionalmente ou não muitas vezes suprimir queixa e ou sinais físicos importantes apresentados pela usuária, que podem caracterizar violência de gênero. Entende-se que esse, no momento da escuta da paciente com HIV/AIDS, deve minimizar seu juízo de valor, aumentando a proximidade com a mulher. A neutralidade é diferente de impessoalidade, pois a primeira gera ações/conduta e a segunda pode-se traduzir em omissão. Considerações finais: Valida-se a importância dos profissionais da saúde no combate à violência de gênero. No tocante a população mulheres com IST/HIV/AIDS que passam por esse tipo de violência, só poderão ter uma escuta diferenciada a partir da oferta de capacitações, instrumentalizações e respaldados pontuais para esses profissionais acolhedores. Certamente isso será um tributo a mais para os profissionais desse ambulatório especializado. Diferencial necessário para o melhoramento das suas expertises que contribuirão na sua prática diária.  Tais ferramentas, são necessárias para um cuidado integral e humanizado das mulheres ali assistidas. Considerando, assim uma forma ideal de promover saúde e qualidade de vida, focado nos princípios do SUS.

6276 NOTIFICAÇÃO DO ABUSO FÍSICO CONTRA ADOLESCENTES NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: CARACTERIZANDO O PERPETRADOR E A AGRESSÃO
Luíza Eduarda Portes Ribeiro, Franciéle Marabotti Costa Leite, Mayara Alves Luis, Luciana Graziela de Godoi, Nátaly Adriana Jiménez Monroy, Solange Drumond Lanna, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Fábio Lúcio Tavares

NOTIFICAÇÃO DO ABUSO FÍSICO CONTRA ADOLESCENTES NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: CARACTERIZANDO O PERPETRADOR E A AGRESSÃO

Autores: Luíza Eduarda Portes Ribeiro, Franciéle Marabotti Costa Leite, Mayara Alves Luis, Luciana Graziela de Godoi, Nátaly Adriana Jiménez Monroy, Solange Drumond Lanna, Edleusa Gomes Ferreira Cupertino, Fábio Lúcio Tavares

Apresentação: A adolescência é marcada por transformações que favorecem a vulnerabilidade às infecções sexualmente transmissíveis, sofrimentos mentais, envolvimento com substâncias psicoativas lícitas/ilícita se diversas formas de violência. A violência física é uma importante natureza de ato violento contra o adolescente, relacionando-se aos danos contra o corpo, como tapas, chutes, estrangulamentos, queimaduras, mutilações e ferimentos por arma de fogo ou arma branca. O Inquérito Viva de 2017 demonstrou que atendimentos ocorridos em serviços de urgência/emergência das capitais brasileiras por agressão foi de natureza física (93,0%) e 05 a cada 10 atendimentos envolveram a força corporal como meio de agressão (51,3%). O levantamento de dados como estratégia de enfrentamento das violências fornece subsídios para a tomada de decisões.Tem-sepor objetivo caracterizar a violência física contra adolescentes no Espírito Santo, segundo os aspectos do perpetrador e da agressão, no período de 2011 a 2018. Desenvolvimento: Estudo transversal do tipo descritivo realizado com dados notificados de violências contra adolescentes registrados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN), entre anos de 2011 e 2018 em todo o Estado do Espírito Santo. As variáveis escolhidas para esse estudo foram: local de ocorrência Residência, quantidade de agressores, idade do agressor, sexo do agressor, vínculo com a vítima, suspeita de uso de álcool. Os dados foram processados no programa estatístico Stata versão 13.0 e analisadas através da estatística descritiva em frequência bruta e relativa e intervalos de confiança de 95%. Resultado: A descrição estratificada por sexo, evidenciou:abuso físico ocorreu na residência(Feminino: 57,8%;  Masculino: 25,1%); agressões de repetição(Feminino: 45,0%; Masculino: 26,0%); e, na maioria dos casos um agressor(Feminino: 82,1%; Masculino: 65,3%). O meio de agressão mais utilizado contra meninas foi a força corporal/espancamento (57,0%)e a arma de fogo/objeto perfuro-cortante entre meninos (52,0%). O vínculo com a vítima do sexo feminino em 31,0% das agressões era o companheiro, no sexo masculino o agressor era desconhecido pela vítima (37%). O agressor prevaleceu-se como sendo homem (Feminino: 90%; Masculino: 68%); de 20 a 59 anos (Feminino: 71,9%; Masculino: 60,7%), e em 77,2% (feminino) e 66,2% (masculino) das ocorrências, não havia suspeita do uso de álcool. Considerações finais: Conclui-se que a análise dos dados do SINAN tornaram possível a identificação do perfil da agressão e do agressor, de modo a contribui com a criação de estratégias de ação de prevenção e planejamento de atividades que possam minimizar impactos e as situações de violência.

6386 ASSOCIAÇÃO DA VIOLÊNCIA FÍSICA DURANTE A GESTAÇÃO E O PERFIL DO PARCEIRO ÍNTIMO
Ranielle de Paula Silva, Franciéle Marabotti Costa Leite

ASSOCIAÇÃO DA VIOLÊNCIA FÍSICA DURANTE A GESTAÇÃO E O PERFIL DO PARCEIRO ÍNTIMO

Autores: Ranielle de Paula Silva, Franciéle Marabotti Costa Leite

Apresentação: A violência conhecida como um fenômeno que ocorre em escala mundial e atinge as mais diversas estruturas sociais e culturais, quando investida contra as mulheres o principal perpetrador geralmente é o parceiro e a residência o local de maior ocorrência desse agravo, de modo que a mulher situa-se em uma relação íntima baseada em agressões físicas, coerção sexual, abuso psicológico e/ou atitudes controladoras. Define-se como parceiro íntimo o namorado, esposo, noivo ou qualquer outro com quem a mulher desenvolve relação íntimo-afetiva. Estudo revela que 11% das mulheres com 15 anos ou mais já foram vítimas de espancamento, e uma em cada cinco mulheres já foi agredida pelo menos uma vez na vida. O marido ou companheiro foi o agressor em 56% desses casos. Dessa forma, a mulher que vivencia a violência encontra-se em relacionamentos marcados por comportamentos violentos que culminam em dano psicológico, físico ou sexual dificultando a experiência de viver a igualdade humana e social. A violência física é entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher. Destaca-se quanto ao dano mais comum, as lesões corporais tendo como exemplo as cutâneas, ósseas, oculares e neurológicas provocadas por queimaduras, tapas, espancamentos, socos, mordidas, arremesso de objetos, chutes, bem como, qualquer ação que ponha em risco a integridade física da mulher. Mesmo a gestante, não está isenta da violência por parceiro íntimo. Na verdade, embora estudos demonstrem que o padrão de violência muda na gestação, a ocorrência das agressões pode em algumas circunstâncias iniciar ou aumentar a frequência no período gestacional. Estudos brasileiros já encontraram prevalências de violência física durante a gestação de 4,6% em Vitória, 5,0% no Rio de Janeiro e 13,1% em Recife. A violência contra a mulher durante o período gestacional se torna ainda mais preocupante devido ao risco elevado de morbidade materna e neonatal. Há evidências que mulheres que sofrem violência física antes e/ ou durante a gravidez iniciam tardiamente o acompanhamento pré-natal. Além disso, a ocorrência de violência na gestação pode ocasionar em complicações como síndrome do estresse pós-traumático, ideação suicida, tabagismo, parto prematuro e baixo peso ao nascer. É importante destacar que a literatura evidencia como fatores associados à violência durante a gestação idade, menor escolaridade da gestante, menor renda, menor apoio do pai da criança, início precoce da relação sexual e o desejo de interromper a gravidez. Enquanto sobre as características do parceiro, nota-se estar desempregado, possuir baixa escolaridade, usuário de álcool e droga e ser controlador. Estudo realizado em Campinas evidenciou que as mulheres consideram o período da gravidez como momento oportuno para serem abordadas pelos serviços de saúde sobre suas vivências de violência. Diante da complexidade desse fenômeno o presente estudo objetivou verificar a associação entre a violência física durante a gestação e as características sociodemográficas e comportais do parceiro. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo epidemiológico transversal analítico. O cenário de estudo foi a maternidade de baixo risco no município de Cariacica, Espírito Santo. Todos os atendimentos realizados pela maternidade são pelo Sistema Único de Saúde (SUS), oferecendo serviços de ambulatório, atendimento às urgências/emergências obstétricas 24 horas e internação. A coleta de dados ocorreu no período de agosto a outubro de 2017 com 330 puérperas internadas, quando foram abordadas para participarem da pesquisa. As entrevistas aconteceram individualmente, na ausência do acompanhante e/ou do parceiro, em local privativo por entrevistadoras treinadas do sexo feminino. No que diz respeito ao processo de coleta de dados foram usados dois instrumentos. O primeiro um questionário próprio estruturado com questões sobre as características socioeconômicas do parceiro como idade (até 40 anos e 41 anos ou mais), raça (branco e não branco), escolaridade (até 8 anos e 9 anos ou mais) e trabalho remunerado (não sim); características comportamentais: consome álcool (não sim), fuma (não sim), usa de droga ilícita (não sim), ciumento (não sim), controlador (não sim) e recusa usar preservativo (não sim). O segundo instrumento utilizado foi da Organização Mundial da Saúde intitulado “World Health Organization Violence Against Women” (WHO VAW STUDY) a fim de verificar o desfecho em estudo, violência física durante a gestação. Esse instrumento tem por objetivo discriminar diferentes formas de violência contra mulheres, praticadas pelo parceiro íntimo, em seus domínios psicológico, físico e sexual. Os dados foram analisados por meio do pacote estatístico STATA 13.0. Para as análises bivariadas foram utilizados o Teste de qui-quadrado de Pearson ou o Exato de Fisher, conforme pressuposto. Foi realizada análise multivariada por meio da regressão de Poisson bruta e ajustada. As variáveis com p 0,20 foram incluídas no modelo e a permanência se deu quando p 0,05. Os resultados foram apresentados por Razão de Prevalência (RP), bruta e ajustada com IC95%, medida de efeito utilizada para estudos de prevalência. Resultado: No que diz respeito à análise bivariada, observa-se que esteve relacionada às maiores prevalências de violência durante a gestação os parceiros não possuírem trabalho remunerado e se recusarem à usar preservativo (p 0,05). A violência física em mulheres gestantes, após o ajuste para os fatores de confusão, manteve-se associada ao trabalho remunerado e recusa em usar preservativo. Nesse sentido, a prevalência de violência física na gestação foi cerca de 170% (RP: 2,70; IC95%: 1,27 – 5,72) maior nas mulheres cujos parceiros não tinham trabalho remunerado, e cerca de duas vezes mais frequente em mulheres com parceiros que recusam usar preservativos (RP: 2,22; IC95%: 1,04 – 4,71). Considerações finais: O presente estudo evidenciou que a violência física durante a gestação foi mais prevalente em puérperas com parceiros que não tinham trabalho remunerado e que recusam usar preservativo. Desse modo, demonstra-se a necessidade de construir ações efetivas e multissetoriais no âmbito da saúde e educação, que promovam a autonomia da mulher e consiga ressignificar as dificuldades vivenciadas, para a abordagem e o enfrentamento da violência por parceiro íntimo na gestação Ainda, faz-se necessário considerar que os fatores que determinam a ocorrência e a permanência na relação de violência respondem a uma dinâmica social complexa, com a qual os serviços devem interagir. Investir em um processo de cuidado para ser realizado nas diferentes esferas da rede que organizam a vida. A inclusão dos parceiros nos serviços especializados deve ser o resultado de um conjunto de práticas, pautados na solidariedade, na confiança e no reconhecimento de que é parte integrante de uma rede maior

5818 AS IMPLICAÇÕES DO AMBIENTE E TERRITÓRIO NO PERFIL SOCIOEPIDEMIOLÓGICO NORDESTINO
Cinoélia LEAL de Souza, Ana Cristina Santos Duarte, Elaine Santos da Silva, Denise Lima Magalhães, Luana Costa Ferreira, Paula Mônica Ribeiro Cruz Viana

AS IMPLICAÇÕES DO AMBIENTE E TERRITÓRIO NO PERFIL SOCIOEPIDEMIOLÓGICO NORDESTINO

Autores: Cinoélia LEAL de Souza, Ana Cristina Santos Duarte, Elaine Santos da Silva, Denise Lima Magalhães, Luana Costa Ferreira, Paula Mônica Ribeiro Cruz Viana

Apresentação: O Brasil possui diferenças sociais, demográficas e ambientais, que influenciam a sua dinâmica territorial e, consequentemente, tem relação com a saúde, e nos últimos 50 anos ocorreram transformações demográficas, sociais e econômicas que foram determinantes para as mudanças nos perfis de mortalidade e morbidade em todo o planeta, e no cerne dessas transformações, o aumento da cobertura do saneamento, a melhoria nas moradias, a inclusão de novas tecnologias na saúde, principalmente as vacinas, foram importantes para o declínio das doenças infecciosas. Por outro lado, ocorreram rápidas transformações no ambiente urbano, em que os fatores de natureza ambiental, econômica, sociocultural e demográfica interferiram nas condições de vida da população de diversas formas, na ocorrência de múltiplos danos à saúde, como os agravos infecciosos ou relacionados à saúde ambiental. Nessa ótica, têm-se a história do semiárido brasileiro, que está intimamente relacionada às secas, e os seus efeitos se apresentam de várias formas, como desemprego rural, fome, pobreza, ou pela consequente migração das áreas afetadas. Devido à irregularidade das chuvas e aos baixos índices pluviométricos (abaixo de 800 mm por ano) grande parte da região enfrenta um problema, já crônico, de falta de água, motivo desses obstáculos ao desenvolvimento das atividades agrárias e agropecuárias, e de repercussão na saúde e desenvolvimento local, interferindo diretamente na qualidade de vida das pessoas. Com isso, é notória a repercussão das condições socioambientais na saúde nestas localidades, nas quais a escassez de água devido às secas, o acesso insuficiente a saneamento básico e as características ambientais propícias da região fazem com que as doenças infecciosas se somem às doenças crônicas não transmissíveis, e sejam responsáveis por vários surtos epidêmicos e pelas altas taxas de morbidade no semiárido. Assim, o presente estudo objetivou refletir sobre as implicações dos fatores ambientais no perfil de adoecimento no semiárido nordestino brasileiro. Desenvolvimento: Estudo descritivo, realizado com base em dados epidemiológicos e sociodemográficos, composta por dados secundários provenientes dos Sistemas nacionais de informação em saúde, disponibilizados no Departamento de Informática do Sistema único de Saúde (SUS), e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dados sobre o sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos; e dados da Organização Mundial da Saúde sobre os indicadores de desenvolvimento sustentável no Brasil, compreendendo os últimos 10 anos. A análise dos indicadores envolveu a caracterização dos casos dos agravos estudados, utilizando as variáveis: faixa etária, sexo, raça e escolaridade dos casos notificados, assim como estimativa das incidências. No segundo momento foi realizada a comparação ano a ano entre os agravos, para compreensão do aumento ou redução das doenças. Resultado: Sabe-se que o Brasil perpassa, desde o final do século XIX, por uma transição epidemiológica com características singulares, que culminou na fusão das doenças crônicas e não crônicas, que quando comparado à outros países. Considera-se que, há um traço comum associado a estas doenças negligenciadas, por estarem dentro de um estigma social, no qual a prevalência ocorre em sua maioria nas populações mais pobres, o que requer maior atenção para resolução em uma visão mais ampla e sistematizada. Além disso, o desenvolvimento das cidades e a multiplicação da população está inteiramente ligado à dificuldade dos gestores em gerir os recursos públicos de forma que ofereça a sociedade o acesso ao saneamento básico, a água tratada, a destinação correta do lixo, dentre outras ações que são de extrema importância para a saúde das pessoas, pois, o agravo na infraestrutura socioambiental provoca o surgimento, ressurgimento e proliferação de doenças além de ser uma preocupação para a saúde pública do país. Nessa perspectiva, o Nordeste brasileiro convive a muitos anos com dificuldades socioambientais, e os problemas ambientais e de saúde advindos das desigualdades sociais vivenciadas por essa região ao longo da história, caracterizada principalmente pela má distribuição dos recursos, torna fundamental a constante análise, avaliação e a proposição de ações e políticas de saúde que visem o enfrentamento de tal situação e, consequentemente, reduzir a incidência dessas doenças. Assim, as tendências nos indicadores de saúde/doença no que se refere a esse quadro ainda carece de muita atenção, pois doenças consideradas “do passado” ainda assolam muitas comunidades da região Nordeste do país, como em Guanambi (Bahia), a exemplo a Dengue e, atualmente, a Chikungunya e a Febre Zika. Cabe-se, ainda, citar as diferenças de incidências de agravos infecciosos na população negra, que é perpetuada também por essa diferença de acesso aos serviços básicos de infraestrutura sócio sanitária e de acesso à saúde. De fato, esses agravos estão ligados ao ambiente, que por sua vez, ainda é deixado de lado, ou usado apenas como plano de fundo nas ações de saúde, principalmente quando se trata de doenças não crônicas, ou infectocontagiosas que poderiam ser evitadas ou até mesmo erradicadas. No Estado da Bahia, maior contingente populacional e em extensão do Nordeste,  no cenário das doenças que envolvem questões socioambientais, é possível associar diretamente tal situação às diferentes condições socioeconômicas, pois estão presentes majoritariamente nas famílias de renda familiar igual ou menor que um salário mínimo, com higiene do ambiente domiciliar e residencial precária, contribuindo para o aumento destas enfermidades que agem importunamente ao estado de saúde do indivíduo e coletivo. Nesse sentido, é importante dialogar, refletir e agir sobre a situação da saúde em nível local e regional, de modo que essas discussões alcancem espaços de participação popular e promovam a sensibilização da comunidade e de seus representantes sobre a assistência à saúde no SUS, sobretudo em áreas marcadas pela desigualdade social e de infraestrutura. Considerações finais: É necessário reafirmar que os fatores ambientais isolados não determinam as condições de pobreza, subdesenvolvimento e falta de acesso à saúde e conservação dos recursos naturais, uma vez que a estrutura globalizada de investimentos também foi favorável, ao longo da história, por outras áreas com maior dinâmica de produção e consumo, e que o acesso a bens indispensáveis à vida, como a água, ainda não é pensado como prioridade nestas áreas, sendo o clima árido muitas vezes apontado como único responsável pelas dificuldades enfrentadas nessas regiões. Cabe então, mais investimentos em saúde, educação e desenvolvimento, pois não se pode considerar o desenvolvimento sustentável sem antes garantir condições mínimas para a sobrevivência da população.

5882 MASCULINIDADES TRANS: RESSIGNIFICAÇÕES, RECRIAÇÕES E ORIGINALIDADE
Cláudia Regina Ribeiro

MASCULINIDADES TRANS: RESSIGNIFICAÇÕES, RECRIAÇÕES E ORIGINALIDADE

Autores: Cláudia Regina Ribeiro

Apresentação:  O gênero e a orientação sexual têm sido apontados como variáveis importantes para a promoção do cuidado em suas práticas individuais e institucionais, atuando, quase sempre, no reforço das iniquidades e assimetrias. Em se tratando da população LGBTI+, esse cenário mostra-se especialmente problemático, pois as barreiras começam no acesso, alijando milhares de pessoas dos cuidados em saúde. Apesar da Atenção Primária ser a ordenadora e a porta de entrada do sistema, é pelos ambulatórios de especialidades de endocrinologia e hospitais universitários que oferecem o processo transexualizador - terapia hormonal e cirurgias de redesignação corporal - que essa população tem acessado o sistema de forma mais frequente na busca por cuidados. Nesse contexto, interessa-me a saúde dos homens trans e, de forma específica, suas experiências com relação às mudanças físicas, emocionais e simbólicas por que passam na busca de “ser quem se é” ao submeterem-se à terapia hormonal para a adequação de gênero. Os participantes da pesquisa são 15 homens que estão em tratamento no Ambulatório de Saúde Integral da População Trans João W Nery, do município de Niterói, cenário desse estudo. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa em que os dados foram construídos através da observação participante e de entrevistas semiestruturadas realizadas entre os meses de junho e novembro de 2019. Como resultados, observou-se que, apesar da busca por um corpo adequado ao padrão vigente de masculinidade que inclui, principalmente, barba e peitoral liso, o engrossamento da voz e a perda das formas arredondadas, tornando-se mais “passáveis”, os participantes relataram o intuito de se desvincularem do modelo de masculinidade hegemônica no que diz respeito ao comportamento e vivências amorosa e sexual, afirmando o desejo pela construção de uma masculinidade particular. 

5923 AS FAVELAS, AS MULHERES E A PROMOÇÃO DA SAÚDE: SABERES DO COTIDIANO
Nilza Rogéria de Andrade Nunes

AS FAVELAS, AS MULHERES E A PROMOÇÃO DA SAÚDE: SABERES DO COTIDIANO

Autores: Nilza Rogéria de Andrade Nunes

Apresentação: O trabalho aqui apresentado é parte de um estudo em curso que tem como objetivo relacionar como a atuação das mulheres de favela (lideranças comunitárias) se articulam com os determinantes sociais da saúde nos territórios populares. A partir do mapeamento de 100 mulheres de diversas favelas do Rio de Janeiro, buscamos identificar como articulam a correlação entre suas práticas comunitárias e a promoção da saúde. A Mulher de favela são (re)conhecidas como liderança, porque seu lugar é de destaque social e político. Fazem gestão de territorialidades (redes) que se constroem como teias no interior do território da favela e se engajam na busca de transformação de um coletivo que transcende suas relações pessoais. Embora mobilize um leque de formas de atuação, a mulher de favela demonstra possuir uma compreensão do conceito “promoção da saúde” enquanto prática social e política. Desenvolvimento Este trabalho encontra-se em curso e faz parte do estudo “Determinantes sociais da saúde em debate: um estudo sobre a atuação de lideranças femininas nas favelas do Rio de Janeiro”. O referencial metodológico desta etapa é produzir um mapeamento dessas mulheres através da “Bola de Neve”, cujo inicio se deu através da busca ativa das mulheres participando de redes e espaços de controle social. Não possuímos a delimitação do lócus do estudo e não há recorte espacial previamente definido, uma vez que o convite à participação desse estudo se dá de forma espontânea. A seleção se faz a partir da atuação dessas mulheres como participantes ativas e publicamente reconhecidas como lideranças de suas comunidades. Resultado: Consideramos para os resultados ora apresentados um universo de 100 lideranças femininas já entrevistadas. Quando perguntadas se acreditavam se o trabalho realizado contribui para a Promoção da Saúde de suas comunidades 96,5% afirmaram que sim. Seus trabalhos se destacam pelas inúmeras estratégias utilizadas e sempre orientadas por metodologias participativas que geram condições para que as pessoas possam expressar suas opiniões, adquirir novos conhecimentos, buscar orientação sobre o acesso aos serviços, dentre tantas outras ações. Nas rodas de conversa, nas campanhas informativas, no trabalho de prevenção, o dialogo é sempre orientado pela perspectiva da mobilização e defesa de direitos, formação de parcerias; ação intersetorial, fortalecimento da participação popular, mobilização de serviços de saúde, dentre outras ações. Considerações finais: A dimensão comunitária na perspectiva da Promoção da Saúde se sustenta nos preceitos da autonomia e do “empoderamento”, buscando estratégias capazes de alcançar diferentes seguimentos e dimensões que perpassam a produção de melhores condições de vida. No contexto de austeridade que estamos vivendo, há que se reconhecer e valorizar as inúmeras perspectivas e atitudes que a mulher de favela atua no enfrentamento das desigualdades humanas e sociais a que são submetidos os moradores das favelas. Trazem consigo uma compreensão ampliada do conceito de saúde e seus determinantes sociais e possibilitando que outras práticas possam ecoar nesses locais acentuadamente marcados pela negligencia do Estado.  

5946 A IMPORTÂNCIA DE AÇÕES EM SAÚDE PARA REFUGIADOS VENEZUELANOS DA ETNIA WARAO NO INTERIOR DA AMAZÔNIA
Vanessa Kemilly Gomes Lima, Marlyara Vanessa Sampaio Marinho

A IMPORTÂNCIA DE AÇÕES EM SAÚDE PARA REFUGIADOS VENEZUELANOS DA ETNIA WARAO NO INTERIOR DA AMAZÔNIA

Autores: Vanessa Kemilly Gomes Lima, Marlyara Vanessa Sampaio Marinho

Apresentação: Refugiar-se é o ato de se abrigar, e este é um direito dos estrangeiros garantido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Isso porque, se um imigrante tiver seus direitos humanos violados, bem como se sentir perseguido em relação a sua religião, nacionalidade, opinião pública ou opção sexual, este pode requerer abrigo. Em Santarém-Pará, os imigrantes venezuelanos chegaram na cidade no final de 2017. Isso aconteceu na época em que mais de 30 mil venezuelanos saíram de seu país como fuga da repressão governamental, assim como das manifestações violentas e da fome. Atualmente, em Santarém os refugiados venezuelanos estão na comunidade Cambuquira, onde mantém residência. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, de uma ação em saúde, ocorrida em dezembro de 2019, em Santarém-Pará. De início, os participantes passavam por atendimentos de triagem que consistiram em: medidas antropométricas, pressão arterial e glicemia. Por conseguinte, foram realizadas aplicação de flúor, e em seguida os venezuelanos eram encaminhados para consulta médica. Houve também um momento de descontração para crianças e adultos, assim como distribuição de materiais de limpeza bucal, bem como educação em saúde sobre este tema. Participaram desta ação profissionais, residentes e acadêmicos da área da saúde. Resultado: Verificou-se que as ações em saúde para esse público propiciam também a efetividade dos princípios do Sistema Único de Saúde. Além disso, promove a acessibilidade de serviços de saúde a esses venezuelanos de acordo com as suas especificidades. Concomitante a isso, notou-se que esses refugiados necessitam de atendimentos de enfermagem, bem como odontológico e médico, devido a sua mudança de hábitos alimentares e falta de cuidados pessoais. Considerações finais: As ações de saúde para os refugiados venezuelanos são imprescindíveis. Realizar esses atendimentos é não só estratégico, mas também uma forma de promover equidade, integralidade, participação social e manutenção da vida.

5962 UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE FLUVIAL (UBSF): UMA INOVAÇÃO TECNOASSISTENCIAL PARA A AMPLIAÇÃO DO ACESSO À SAÚDE NA AMAZÔNIA: RELATO DO CASO DE TEFÉ (AM)
Rodrigo Cunha Lopes, Andreza D'avila Ferreira Marinho, Nayandra Pollyana Torres de Lima, Quênia Valentim Barbosa, Maria Adriana Moreira, Elizete Souza de Azevedo, Fabiana Mânica Martins, Júlio César Schweickardt

UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE FLUVIAL (UBSF): UMA INOVAÇÃO TECNOASSISTENCIAL PARA A AMPLIAÇÃO DO ACESSO À SAÚDE NA AMAZÔNIA: RELATO DO CASO DE TEFÉ (AM)

Autores: Rodrigo Cunha Lopes, Andreza D'avila Ferreira Marinho, Nayandra Pollyana Torres de Lima, Quênia Valentim Barbosa, Maria Adriana Moreira, Elizete Souza de Azevedo, Fabiana Mânica Martins, Júlio César Schweickardt

Apresentação: Trata-se de um trabalho de construção coletiva, por meio de múltiplas mãos (trabalhadores, gestores, usuários, pesquisadores) que acreditam na efetivação do Sistema Único de Saúde. Estamos falando de uma inovação do modelo tecnoassistencial que visa atender e garantir o acesso aos serviços de saúde às populações ribeirinhas do Município de Tefé (AM). Essa estratégia atua segundo os princípios da Atenção Primária à Saúde (APS): acesso universal, equidade, vínculo, continuidade do cuidado e todos os ciclos de vida garantindo integralidade da atenção, a responsabilização, a humanização, e, a participação social. Assim, este relato de experiência objetiva apresentar o processo de trabalho e a equipe multiprofissional que compõe a UBSF. Ousamos também elencar extratos da complexa logística, desde a saída da cidade até a última comunidade assistida pela equipe. Entendemos que, ao relatarmos o  fluxo do trabalho (tanto em terra firme quanto dentro da UBSF nos Igarapés, lagos, Igapós e rios como o Tefé e o Curumitá que banham as comunidades ribeirinhas), bem como a produção desses serviços prestados em ato, que traduzimos por cuidado no território líquido, efetua em nós uma potência de existir singular e múltipla, algo que não podemos guardar só para nós, necessita de compartilhamento. Para que novos saberes sejam produzidos em nós e nos outros espaços do SUS. Desenvolvimento: A Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) é fruto de um projeto, idealizado por Maria Adriana Moreira - secretária de saúde no Município de Borba AM em 2011. No município de Tefé é implantada no ano de 2018, sob a gestão da mesma secretária, tendo em vista a necessidade de ampliação do acesso às comunidades ribeirinhas mais isoladas e desprovidas de serviços de saúde. A Secretaria Municipal de Saúde implantou cinco equipes de Estratégia de Saúde da Família Ribeirinha e Fluvial (ESFR e ESFF) para atendimento de APS nas comunidades. Uma dessas equipes é a da Área 21 que atende os Rios Tefé e Curumitá. Nestes locais, o acesso se dá somente pelas águas. Nesse sentido, a equipe se desloca e atua na UBSF denominada ‘Vila de Ega’, que remete ao primeiro nome do município. Esse território abrange 20 Comunidades e sua população total de 1.420 indivíduos cadastrados e acompanhados pela ESFF. A logística de cada viagem é realizada com antecedência, 30 dias antes da viagem são feitos os memorandos solicitando os materiais de gêneros alimentícios, farmacêuticos, insumos e combustíveis. Após a liberação do empenho, um dia antes da viagem, o enfermeiro coordenador realiza junto ao fornecedor e ao setor de Farmácia Central a entrega e recebimento dos materiais solicitados, após isso são levados para a UBSF com apoio de uma Camionete tipo AMAROK para transporte até o porto. No porto temos uma Lancha Motor HP 115 que nos leva à UBSF (ancorada do outro lado do lago, pois é mais profundo para uma embarcação grande). Também realizamos reuniões com os profissionais da equipe para alinhar o cronograma da viagem, organização dos materiais solicitados e dos setores, temas para a Educação em Saúde. Para a assistência, dispomos de atendimentos médico, enfermagem, odontológico, laboratório, farmácia, vacinação e procedimentos. Somos 15 profissionais: 1 médico, 2 enfermeiros, 1 assistente social, 1 dentista, 2 técnicos de saúde bucal, 6 técnicos de enfermagem, 1 biomédico e 1 técnico de análises laboratoriais. No dia da saída da embarcação são realizados o embarque dos profissionais e do restante dos materiais como alimentos, vacinas e medicamentos. Com a saída da UBSF realizamos uma reunião de equipe para a organização do processo de trabalho. Percorreremos uma distância de 35 horas de viagem pelo Lago de Tefé e Rio Tefé até a comunidade mais distante da sede do município. Iniciamos os primeiros atendimentos dessa comunidade até a mais próxima. Essa organização se deve pela logística dos rios, tendo em vista o tempo que se leva para ir até a sede de lancha e reabastecer a unidade (em caso de falta de materiais). Na comunidade os atendimentos iniciam às 7:00am. No primeiro momento, um dos enfermeiros desce da UBSF para encontrar as lideranças da comunidade (presidente, professores, microscopista e agente comunitário de saúde). Acontece uma reunião e se discute as problemáticas, além do mais realizamos um encontro com os moradores na escola ou no centro comunitário para educação em saúde, vacinação, e outras atividades. A assistente social realiza visitas domiciliares para verificar as situações sociais das famílias e em cima disso trabalhar educação em saúde. Dois técnicos (de enfermagem) vacinadores realizam busca ativa através da leitura das cadernetas, atualização vacinal e educação em saúde juntamente com o técnico de saúde bucal, que faz a avaliação das demandas para atendimento odontológico, educação em saúde aliada à escovação supervisionada das crianças. Enquanto isso, os profissionais que ficam na embarcação realizam atendimentos de demanda livre e programada, fazem visita domiciliar compartilhada bem como a cobertura dos programas, de acordo com os indicadores preconizado pela PNAB. Todos os pacientes são acompanhados com direito à assistência integral, alguns são encaminhados para realização de procedimentos e exames laboratoriais (ou ainda para exames de média e alta complexidade) e finalizam com a dispensação de medicamentos. É priorizado a assistência aos idosos, gestantes, crianças, doentes crônicos, acamados em todas as comunidades do território. Após atendimento na última comunidade é realizado a contabilidade dos materiais utilizados para serem devolvidos à atenção básica, são entregues para coordenações as buscas ativas realizadas, as notificações e o relatório final feito no decorrer da viagem segundo nosso caderno de indicadores. Resultado: Os serviços ofertados trouxeram resultados e impactos positivos para a população ribeirinha, especialmente quanto ao acesso. A atuação da equipe multiprofissional juntamente com gestão e a participação social trouxe consigo um processo de inclusão social em relação ao acesso as políticas de saúde, para a população ribeirinha do rio Tefé e Curumita. Além disso tivemos melhoria da cobertura vacinal, ampliação da coleta do preventivo, atendimento de populações que nunca foram atendidas pelas equipes de saúde bucal, orientação sexual, prevenção de ISTs, diminuição de gravidez na adolescência e ações integradas e conjuntas com as equipes de controle de endemias e vigilância em saúde. Os resultados foram alcançados durante as viagens que aconteceram desde junho de 2018. Considerações finais: A logística e o processo de trabalho que vivenciamos até aqui nos faz entender que o SUS está em acontecimento no município de Tefé. Aqui o cuidado se desloca até o ribeirinho, viabilizando assim a ampliação do acesso à saúde, mais do que isso, é cuidado integral a cada pessoa no seu modo de existir. Cabe ressaltar que toda essa logística era administrada pelo coordenador da equipe, hoje é realizada pela gerente, lidera e supervisiona o processo de trabalho. No balanço das águas, a "UBSF Vila de Ega" se materializa através da promoção do cuidado. Tão necessário aos povos ribeirinhos outrora esquecidos, mas que possuem o mesmo direito, apesar de não ter as mesmas oportunidades. Essa unidade é essencial para a promoção da atenção integral e equitativa na Amazônia (respeitando a sua cultura e os seus modos de vida). Tais ações reforçam a APS como política e estratégia de produção de acesso e qualidade de saúde para as populações ribeirinhas.

6012 ITINERÁRIO E ACESSO DA POPULAÇÃO TRANS AO AMBULATÓRIO ESPECIALIZADO EM NITERÓI
Beatriz Rodrigues Silva Selles Dantas, Claudia Regina Ribeiro, Andréa Felizardo Ahmad, Fabiana Albino Fraga, Aiarlen dos Santos Meneses, Adriana Lemos

ITINERÁRIO E ACESSO DA POPULAÇÃO TRANS AO AMBULATÓRIO ESPECIALIZADO EM NITERÓI

Autores: Beatriz Rodrigues Silva Selles Dantas, Claudia Regina Ribeiro, Andréa Felizardo Ahmad, Fabiana Albino Fraga, Aiarlen dos Santos Meneses, Adriana Lemos

Apresentação: Por muito tempo ignorada e alijada dos seus direitos sociais, a população transexual e travesti vem conquistando visibilidade e sendo inserida na agenda das políticas públicas de saúde. O Processo Transexualizador publicado em 2008 e alterado em 2013, e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis, de 2011, são exemplos de iniciativas que reconhecem a importância de atender às necessidades de saúde da população trans. Ainda assim, a efetivação dos seus direitos é descompassada do que é formalmente estabelecido, sendo comum a dificuldade do acesso os serviços de saúde, o desrespeito ao nome social a ausência de exames físicos, dentre outros obstáculos. Na linha de cuidado apresentada no Processo Transexualizador, a atenção primária seria responsável pelo acolhimento humanizado e encaminhamento para os serviços especializados, como a terapia hormonal e as cirurgias de adequação de gênero, o que não vem ocorrendo, como tem sido evidenciado na pesquisa Buscas pelo Cuidado: o itinerário de saúde de transexuais e travestis no município de Niterói, cujos dados parciais sobre acesso serão apresentados nesse trabalho. Trata-se de uma pesquisa de mestrado, de abordagem qualitativa e caráter exploratório que vem sendo desenvolvida tendo os usuários e usuárias do ambulatório de Atenção Integral de Saúde Trans João W. Nery, em Niterói, como participantes. Como técnicas de construção dos dados,  utilizamos a entrevista semiestruturada e a observação participante. E para a análise, temos utilizado a análise de conteúdo. Entre junho e novembro de 2019 foram realizadas 23 entrevistas onde buscamos identificar o itinerário de saúde da população atendida no ambulatório na produção do seu cuidado e conhecer quais são as portas de entrada para esse serviço. Como resultados, evidenciou-se que, diferentemente do que preconiza a Política e a portaria do processo transexualizador,  poucos usuários do ambulatório têm a atenção primária como referência inicial para a busca do cuidado. Foram citados centros de promoção da cidadania LGBT, indicações de amigos e, de forma importante, as mídias sociais e os sites. Chama a atenção a potência do alcance das mídias, uma vez que quase metade dos usuários chegaram ao serviço por meio delas, através de posts de amigos ou seguindo publicações de ativistas LGBT. Os participantes relataram ainda que nas suas trajetórias encontraram profissionais de saúde pouco capacitados para compreender as suas particularidades, seja no serviço público ou privado; uma flagrante abordagem patologizante desse profissionais; a escassez de informação sobre os serviços públicos especializados existentes e a pouca ou nenhuma divulgação do ambulatório municipal nas unidades de saúde. Ao que parece, serão necessárias ações ativas de busca destas pessoas, que precisam perceber a unidade de saúde como um espaço protegido, uma divulgação ampla dos serviços e representação de identidade visual. As unidades precisam construir canais de informação mais dinâmicos, com maior alcance, especialmente para jovens que não se inserem nas ações programáticas tradicionais. É urgente a utilização das mídias sociais para fornecer informação adequada, abrir novas formas de diálogo e buscar usuários e usuárias tradicionalmente invisibilizados pela sociedade.

6134 INTERFACES ENTRE MODOS DE VIVER E ADOECER DE POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
Hermes Candido de Paula, Donizete Vago Daher, Fabiana Ferreira Koopmans, Magda Guimarães de Araújo Faria, Letícia Aparecida Marincolo Domenis, Carine Silvestrini Sena Lima da Silva, Andressa Ambrosino Pinto, Camila Moreira Jesus

INTERFACES ENTRE MODOS DE VIVER E ADOECER DE POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

Autores: Hermes Candido de Paula, Donizete Vago Daher, Fabiana Ferreira Koopmans, Magda Guimarães de Araújo Faria, Letícia Aparecida Marincolo Domenis, Carine Silvestrini Sena Lima da Silva, Andressa Ambrosino Pinto, Camila Moreira Jesus

Apresentação: A População em Situação de Rua é entendida como um grupo heterogêneo possuidor de diversos meios de sobrevivência em atividades produtivas desenvolvidas na rua, com vínculos familiares rompidos ou fragilizados, sem referência de moradia regular. Seus modos de vida determinam o processo de saúde-doença e de cuidado de forma diferenciada e apresentam diversas vulnerabilidades às quais encontra-se suscetível. Comumente são destituídas dos direitos sociais básicos, como moradia, saúde, educação, lazer, trabalho, segurança, entre outros, o que reforça as iniquidades sociais em saúde. Diante de sua condição social, perdem seus direitos e vivem em condições subumanas de sobrevivência e chegam a um grau desumano, que os impossibilita de desenvolver suas potencialidades intrínsecas à condição humana, atendo-se apenas para a busca pela preservação biológica. É necessário que haja uma melhor atenção pela rede pública de saúde para este segmento, todavia o foco principal desta problemática está na compreensão de que a rua não constitua espaço de moradia para estas pessoas. Situação de rua, como o nome já expressa é um espaço transitório, pois a rua não é espaço para se morar. A invisibilidade social destes indivíduos é observada também na inoperância das políticas públicas. Neste sentido, as políticas públicas para este grupo são apenas um paliativo, de fato não resolvem seus problemas já que não atendem aos demais indicadores associados ao conceito de saúde como saneamento básico, moradia, educação e trabalho importantes para constituição de sua sobrevivência. Considerando a magnitude e complexidade do fenômeno do viver e adoecer da População em Situação de Rua com as interfaces dos seus modos de vida, sublinha-se a importância desse estudo, sobretudo por favorecer o reconhecimento, pelos profissionais de saúde, dos determinados agravos que os acometem, reconhecendo os singulares modos de vida dessas pessoas a fim de proporcionar medidas preventivas de saúde, com ofertas de cuidado plurais na concreta realidade em que vivem. Ademais, espera-se que este estudo, descortine o olhar desses profissionais para os problemas vivenciados por essa população, além dos biológicos para que possam fomentar mais discussão de políticas públicas que os alcancem no ostracismo em que vivem, além de contribuir para produção de conhecimento. Nesse sentido, o estudo objetivou analisar as interfaces entre os modos de viver e adoecer da População em Situação de Rua. Desenvolvimento: Estudo de inspiração etnográfica, uma vez que este é adequado para se compreender a complexidade dos fenômenos culturais. Os participantes foram 23 pessoas em situação de rua em um Bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro e identificadas por nomes fictícios. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um roteiro semiestruturado com uma questão aberta: “Fale-me o como (a) Senhor (a) passa seus dias na rua”. Privilegiou-se a técnica de observação participante para abordagem, uma vez que possibilita ao investigador, se colocar em uma situação social com finalidade de coletar dados e compreender o contexto da pesquisa, possibilitando assim, fazer parte do contexto da sua observação. Utilizou-se o critério de saturação para interrupção das entrevistas. Permaneceu-se em campo em um período de 12 meses, de setembro de 2018 a setembro de 2019. Esses meses foram suficientes para captar os elementos etnográficos por meio de um roteiro de observação onde percorrendo os locais onde geralmente costumam ficar, foi possível observar os elementos constituintes dos seus modos de vida: Como vivem na rua? Como passam os dias, e registrados em um diário de campo. Grande parte das pessoas abordadas interagiram espontaneamente e concordaram em participar do estudo por meio do aceite em Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Poucas se recusaram. Talvez por não se sentirem a vontade de nos relatar suas experiências de vivência nas ruas. Previamente os dados densos coletados foram tratados de forma a possibilitar uma estética mais compreensiva no decorrer da apresentação da escrita textual: transcritos na íntegra, corrigiram-se erros de linguagens e buscou-se traduzir o vocábulo muitas vezes comum dos “nativos” do estudo. Com vistas a responder aos objetivos do estudo, privilegiou-se para a análise de dados, análise a de Domínios, este tipo de análise é o primeiro tipo de análise etnográfica. Seu objetivo é identificar domínios culturais, que são categorias de significados culturais. Deste tipo de análise surgiram questões estruturais que possibilitaram a compreender a organização cultural das Pessoas em Situação de Rua. Resultado: Os participantes deste estudo foram constituídos 21 homens e 02 mulheres. A média de idade variou de 18 a 78 anos. Predominou-se a raça/cor parda e negra. Da análise etnográfica originou-se 04 domínios culturais: uso de drogas, exposição à violência, exposição às variações climáticas, dificuldades para obter alimento, dificuldades para obter água. Muitas pessoas desenvolvem problemas, em especial agravos à saúde, em consequência do uso de drogas, alguns muito graves. Mostrou-se no estudo o cotidiano destas pessoas marcado por diversas formas de violência podendo desencadear problemas de transtorno mental e favorecer ao uso abusivo de drogas. Foi comum encontrá-los em locais insalubres, pouca ventilação, expostos a chuva com dias que oscilavam entre temperaturas muito elevadas e baixas, fatores que geram sofrimento dificultam consideravelmente a vida de quem vive na rua e precipitam problemas de saúde. O consumo diário de frutas, legumes e verduras confere proteção contra doenças do coração e certos tipos de câncer. Os alimentos que a rua lhes oferece nem sempre suprem suas necessidades diárias de nutrientes, ocasionalmente têm acesso a estas variedades por viverem daquilo que a rua lhes oferece. Alguns armazenam em garrafas coletadas na rua, sujas e acondicionadas em locais impróprios. Porém muitas vezes ocorre a escassez de água e com isso apresentam dificuldades para saciar a sede e realizar a higiene corporal. A água para estas pessoas não trata de um direito, é um bem que depende da caridade alheia. Considerações finais: O estudo trouxe evidências que nos permite inferir que a relação da População em Situação de Rua com o meio ambiente em que vive influencia na qualidade de vida dessas pessoas e maximizam agravos à saúde. Percebe-se uma estreita relação entre fatores sociais, biológicos e psicológicos que determinam seu adoecimento. Inclui neste processo um constructo social em que suas identidades são constituídas em dimensões a partir de uma ruptura social e de vulnerabilidades cotidianas que os colocam em um patamar de persistirem suas vidas unicamente com meios que lhes garantam a busca pela sobrevivência e a preservação biológica de suas vidas. Estes fenômenos pressupõem não necessitar de grandes tecnologias para captá-las. Portanto, bastam os profissionais de saúde descortinar o olhar para o meio onde vivem por meio de observações simples e frente a estas questões adotarem medidas que incluam as ações multissetoriais para a prevenção e controle das doenças em pessoas que experimentam o constante sofrimento na rua de forma a dar sentido em suas vidas de forma a colocá-los em condições que precípua principalmente a saída da rua, no entanto se permanecer em situação de rua for suas escolhas ou condição, que sejam adotadas medidas de cuidados que reverbere nas suas plurais e concretas necessidades.

6159 MODOS DE VIVER E SOBREVIVER: O CONTEXTO DE VIDA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
Hermes Candido de Paula, Donizete Vago Daher, Magda Guimarães de Araújo Faria, Fabiana Ferreira Koopmans, Carine Silvestrini Sena Lima da Silva, Guicelmar Ribeiro da Fonseca Chagas Cabral, Rafaela de Oliveira da Silva, Eliane Augusta da Silveira

MODOS DE VIVER E SOBREVIVER: O CONTEXTO DE VIDA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

Autores: Hermes Candido de Paula, Donizete Vago Daher, Magda Guimarães de Araújo Faria, Fabiana Ferreira Koopmans, Carine Silvestrini Sena Lima da Silva, Guicelmar Ribeiro da Fonseca Chagas Cabral, Rafaela de Oliveira da Silva, Eliane Augusta da Silveira

Apresentação: Apresentação: A População em Situação de Rua é entendida como um grupo heterogêneo possuidor de diversos meios de sobrevivência em atividades produtivas desenvolvidas na rua, com vínculos familiares rompidos ou fragilizados, sem referência de moradia regular. Nesse sentido, o estudo objetivou descrever algumas das disposições relacionadas ao modo de vida da População em Situação de Rua e seu contexto. Desenvolvimento: Estudo de inspiração etnográfica. Os participantes foram 23 pessoas em situação de rua em um Bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um roteiro semiestruturado com uma questão aberta: “Fale-me o como (a) Senhor (a) passa seus dias na rua”. Privilegiou-se a técnica de observação participante para abordagem. Permaneceu-se em campo em um período de 12 meses, de setembro de 2018 a setembro de 2019. Esses meses foram suficientes para captar os elementos etnográficos constituintes dos seus modos de vida e registrados em um diário de campo. Previamente os dados densos coletados foram tratados. Com vistas a responder aos objetivos do estudo, privilegiou-se para a análise de dados, análise a de Domínios. Seu objetivo é identificar domínios culturais, que são categorias de significados culturais. Deste tipo de análise surgiram questões estruturais que possibilitaram a compreender a organização cultural das Pessoas em Situação de Rua. Resultado: As ruas do Bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, tem sido cada dia mais habitada por pessoas que por motivos diversos deixam seus lares e fazem dela seus locais de moradia e/ou passagem. Este território, do ponto de vista da sociedade, muitas vezes descortina-se para uma imagem reducionista e simbólica que muitas vezes não condiz com o estereótipo lançado sobre eles. Têm sido visto muitas vezes como refúgio de indivíduos com traços ligados a vadiagem, mendicância e marginalidade. Muito deste imaginário social advém de um constructo social relacionado à imagem de indivíduos sobrantes, inúteis, vagabundos e preguiçosos, e dessa forma são estigmatizados por não estarem inseridos diretamente no mercado formal de trabalho. Suas presenças descortinam olhares, ou os encarceram em um processo de indiferença ou simplesmente são ignorados com seus habitués, como seus corpos se decompusessem ou se transformassem em monumentos lapidados por naturalizarem suas presenças em um processo de exclusão de suas vivências nos espaços urbanos. Normalmente constroem suas relações com seus pares da rua e mutuamente compartilham seus dias, geralmente pouco se relacionam com os transeuntes e nem sequer muitas vezes são percebidos. O que se observa é que existe por parte de muitos, certo distanciamento com os demais da sociedade. Poucos remetem o significado das suas relações na rua com o sagrado e a religiosidade, a ligação com Deus para eles, tem uma relação com seu coexistir e maneira de encontrarem forças para sobreviverem e mudarem seu contexto de vida e superar as dificuldades cotidianas. As histórias de vida mostraram que a vulnerabilidade social e a exclusão preponderam na história familiar, percorrendo gerações passadas até a atual. Dentre as razões ou motivos atribuídos que os impulsionaram a viver em situação de rua destacaram: conflitos familiares, perda de entes queridos, uso abusivo de álcool e outras drogas. Muitos passaram a viver em situação de rua, não porque não tem sentido para suas vidas, passam viver em situação de rua pelo sentido de encontrar a liberdade para viver. São seres livres, almas livres onde seus corpos não cabem nas caixas, seus modos de viver não cabem em protocolos, seus olhares não cabem em molduras, ou são pessoas em fuga dos algozes que lhes traziam dor e sofrimento no meio social que viviam. Neste sentido, a rua lhes apresenta como abrigo e uma forma de estarem livres dos problemas sociais que lhes afligiam. A rua apesar do pulsar das suas artérias representadas pelos seus contornos que sempre se desembocam em algum lugar dá sentidos diversos à vida e, para algumas pessoas, trazem o vazio dos seus encontros. Necessitam resignificar suas vidas com algo que faz sentido para sua existência. Buscam seu lugar no mundo habitando os espaços urbanos caracterizando a busca da liberdade e não se prendem a regras, mas, em algum momento sentem a necessidade de legitimar suas identidades neste padrão novamente e buscam se enquadrar através do trabalho, do desejo de constituir uma família e ter novamente um lar. Foi comum ouvir por parte de alguns sobre o vazio de viver na rua. Da falta de perspectiva para o futuro, falta dos trabalhos formais e necessidade de reconstruir sua vida com uma esposa, marido, ter uma casa e filhos. Para eles, muitas vezes ocorre a necessidade de mudança de comportamentos e reconstrução de modelos aos “iguais” da sociedade. Em busca da liberdade muitos não conseguem se reestruturarem socialmente dentro de padrões e regras impostas. Muito destas questões, incide da adaptabilidade que adquiriram para viver nos logradouros públicos. A comiseração de certa forma contribui para isto, visto que a provisão de meios como doações de alimentos e outros meios lhes conferem, de certo modo, mecanismos de sobrevivência. Tem os que atribuem à permanência na rua, por não se adaptarem as regras de instituições de abrigamentos. Muitos deles durante nossos encontros atribuíram sentido da falta das coisas simples que deixaram para trás: do aconchego familiar e do lar, a saudade de tomar um banho quente, do uso do vaso sanitário, do cheiro da comida que exalava da cozinha da casa que abandonaram, do latir do cão quando chegava a casa, entre outras emoções subjetivas “salvas” em suas memórias. De modo geralmente socializam-se em torno das brincadeiras, risadas e compartilhamentos de alimentos e das drogas. Normalmente estabelecem códigos não descritos, porém implícito. Valorizam a honestidade com os que dividem os espaços. Os que cometem delitos como roubos ou furtos, são expulsos das malocas. As mulheres dos homens do grupo têm de ser respeitadas, caso ocorra abuso, o indivíduo que transgrediu a regra pode ser expulso dos espaços que compartilhavam e até sofrer agressões físicas. Os alimentos e drogas adquiridas tem que ser compartilhadas. Estando entre eles, percebe-se que suas vidas não se resumem num trinômio de vadiagem, mendicância ou somente uso de drogas. Não se resumem em vazios. Seus dias decorrem de um esforço árduo para sobrevivência do que a rua lhes proporcionam, do que é possível obter através de um esforço solitário ou de processos mútuos construído em grupo. Porém tem aqueles que vivem do improviso. Do que a rua lhes oferece, seus dias resumem em um vazio existencial, assemelhando-se vidas ao “léu”. Considerações finais: A População em Situação de Rua reinventa seus modos de vida nos logradouros públicos. São vítimas de um processo de exclusão social e estigmas de quem olha as ruas superficialmente. Neste contexto, vivem homens e mulheres que necessitam ter seus diretos respeitados e acreditados nas suas potencialidades individuais para reconstruir suas histórias de vida, inclusive com possibilidades que precípua principalmente sua saída da rua, no entanto se viver na rua, for suas escolhas ou condição que sejam tratados com dignidade.

6277 HIV/AIDS NA (RE)CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE: UM DIÁLOGO ENTRE SUS E ACADEMIA
Liney Maria Araujo, Roberto Kazan, Joseph Rodrigues de Rosa, Kamylla Cavalcante Taques dos Reis, Marcelo Picinin Bernuci, Rejane de Sousa Barros Campos, Stefânia Pinto Mota, Tania Maria Gomes da Silva

HIV/AIDS NA (RE)CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE: UM DIÁLOGO ENTRE SUS E ACADEMIA

Autores: Liney Maria Araujo, Roberto Kazan, Joseph Rodrigues de Rosa, Kamylla Cavalcante Taques dos Reis, Marcelo Picinin Bernuci, Rejane de Sousa Barros Campos, Stefânia Pinto Mota, Tania Maria Gomes da Silva

Apresentação: Ao se expressar sobre o cuidado de prevenção, diagnóstico, tratamento e seguimento das Pessoa Vivendo com HIV/AIDS (PVHA) todos os discursos, obrigatoriamente, perpassam a questão puramente fisiopatológica da pessoa adoecida. Em breve retrospecto, houve o surgimento de uma doença que levava a pessoa ao óbito mesmo antes de ter seu diagnóstico. Não tardou e a misteriosa doença foi classificada como Síndrome da Doença Adquirida (AIDS). A sigla, a partir daí, virou sinônimo de um constructo equivocado de gênero e sexualidade, época em que esses conceitos, quando relacionados à AIDS, se resumiam à homossexualidade masculina nos seus mais rasos codinomes. Das justificativas para tal atitude, se posta esta, que no início da epidemia, princípio dos anos 80, a sociedade leiga, homofóbica e científica, com a contribuição da mídia, categorizou um grupo de cinco eleitos como responsável pela disseminação da doença e, dentre esses escolhidos, aos homossexuais masculinos coube quase que a total exclusividade dessa responsabilidade, traduzida em “culpa”. Esse valor de julgo teve tamanha contundência que essa “culpabilidade” perdura até os dias atuais. O que é explícito nos acolhimentos das pessoas com esses agravos, onde se vê que toda a sua história de adoecimento psico/emocional muito antes do físico, está intimamente ligada à sua sexualidade e sua transversalidade, como por exemplo: o gênero e a orientação sexual. Foi com zelo nessas pautas e também para a distribuição dos antirretrovirais que o Brasil, em 1996, idealizou e implantou em algumas capitais do país, o Serviço de Assistência Especializada em IST/HIV/AIDS (SAE). E, uma das condições para o funcionamento desse serviço era possuir uma equipe multiprofissional cuidadosamente capacitada, não somente no fator fisiopatológico do HIV/AIDS, mas também na temática sexualidade. Em Cuiabá, o SAE foi inaugurado em 1998 e atualmente conta com quase cinco mil usuários PVHA cadastrados. Todas as ações desenvolvidas nesse ambulatório são totalmente subsidiadas pelas políticas públicas do Ministério da Saúde e em consonância com os movimentos sociais. Pela própria característica dos agravos ali assistidos, os usuários trazem suas demandas focadas essencialmente na questão da sexualidade, gênero e orientação sexual. Para além da questão do adoecimento da PVHA, a aplicabilidade teórico/prática dos conceitos de sexualidade, gênero e orientação sexual é tido como um diferencial no aprendizado dos acadêmicos e residentes de saúde da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que buscam o SAE como campo de aprendizado. Principalmente porque tais conceitos não compõe a estrutura curricular das universidades, necessitando ser interpretados e formulados com um ensino que vai do ideal para o real e, que transponha o imaginário desses acadêmicos e residentes, para que assim possa gerar um aprendizado concreto. Ante a esse contexto justifica-se apresentar este trabalho pois, com a academia dentro do serviço, o aprendizado in lócus se torna vivência. Desenvolvimento: Ter o SAE/Cuiabá como lugar de fala faculta privilégios ímpares como, por exemplo, poder historicizar o movimento científico/social/político do HIV/AIDS. É inegável que o advento da epidemia do HIV/AIDS, trouxe a sexualidade para ser debatida no mundo inteiro, tornando-a um objeto “privilegiado” no olhar de cientistas, religiosos, psiquiatras, antropólogos, educadores, passando a se constituir, efetivamente, numa questão de suma importância. Apesar da homossexualidade e o sujeito homossexual não serem invenções do século XIX, o consciente ou inconsciente individual induz aos piores pontos de vista da sociedade ao se pronunciar sobre esse tipo de orientação sexual, suscitando preconceitos e resultando em opiniões coletivas negativas. É exatamente para a inversão desse equivoco coletivo que o SAE/Cuiabá se propõe como um espaço de viva atuação da trilogia Academia/Serviço/Usuário, onde o ensino/aprendizado favorece a reformulação do intelecto, antes baseado apenas em convicções biológicas. Veja, há aplicabilidade de conceitos antes “periféricos” como sexo, que biologicamente seria fixo - macho/fêmea, agora sob uma nova perspectiva que aborda também o gênero – feminino/masculino, um constructo sociocultural. Já o desejo, esse sim está direcionado a sexualidade humana. Para quem “endereçar” esse desejo é que está ligado a algumas definições como: gay, lésbicas, bissexuais, pansexuais, heterossexuais etc., tida como a orientação sexual. Antes do advento do HIV/AIDS, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fundamentou o conceito de sexualidade, como sendo uma corporatura do ser humano ao longo sua vida, fazendo parte da personalidade de cada um. É algo que influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações, compreendendo o sexo, as identidades e os papéis de gênero, orientação sexual, intimidade e reprodução. Tal qual a saúde física e mental, a saúde sexual também deveria ser considerada um direito básico e fundamental do ser humano. E reitera-se, a sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à ocorrência ou não de penetração, perpassando assim a banalidade a ela atribuída. No tocante a gênero, em uma definição simplificada, seria um produto das relações sociais que é assimilado, representado e institucionalizado, repassado de uma geração para outra, baseado nas diferenças anatômicas percebidas entre os sexos, que configura o primeiro campo no qual as relações de poder se articulam. O movimento de ensino torna essas temáticas obrigatórias para um novo aprendizado, favorecendo uma mudança no (re)pensar da construção ou desconstrução das representações coletivas de gênero e sexualidade. A partir daqui os envolvidos tem uma percepção individual, coletiva e do desenvolvimento social diante de um histórico real de vida do usuário. Resultado: Os profissionais do SAE diariamente reforçam, para os acadêmicos e residentes da saúde, que não há papéis biologicamente inscritos na natureza humana, caso contrário, o próprio serviço seguiria obstinado na reprodução de protótipos biomédicos de patologia e com arranjo rígido que favoreça a tecnicidade e o mecanicismo, em detrimento de um olhar sobre a saúde em sua ampla complexidade do físico e psicológico. O serviço faz questão de inserir no contexto desses “aprendizes” as políticas públicas direcionadas ao HIV/AIDS, onde se sequencia um discurso mais sistemático e argucioso, mesmo que de tenros significados, principiando por palavras elementares como sexo, gênero, desejo e sexualidade. O principal intuito vem sendo alcançado, aguçar nos envolvidos uma consciência assistencial que enxergue as PVHA ali assistidas de maneira não fragmentada ao expor o seu significativo “roteiro de vida”, pautando as condutas dos futuros profissionais de saúde de maneira holística e humanizada, independentemente do gênero ou sexualidade. Resulta-se, assim, em elaboração de ações educativas e resolutivas, com um único propósito, atingir o consciente e o inconsciente de todos do coletivo para o revés da penosa situação social vigente, que ainda teima em enxergar a sexualidade do indivíduo com HIV/AIDS antes mesmo de vê-lo enquanto pessoa livre para direcionar seus desejos sexuais. Considerações finais: A luta pela equidade “sexual” ultrapassou décadas e se fortaleceu a partir da chegada do HIV/AIDS. Esta prática política/social ainda está restrita a um seguimento populacional excluído, enquanto outras categorias permanecem no anonimato, incluindo-se aqui as PVHA que por vezes pertencem as duas categorias citadas. Portanto, auxiliar a academia de saúde a colocar em prática uma teorização mais profunda de gênero e sexualidade, certamente subsidiará a eliminação das fragilidades visíveis entre esses usuários e a sociedade em geral. São parcerias de suma importância para eliminar ideias fixadas em um entendimento apenas biológico e invariável. Por fim, há de se entender que essa engessada percepção traz sofrimento ao psicológico e ao físico de todos os envolvidos na relação serviço-sociedade-usuários.

6404 VIVÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE ATENÇÃO À SAÚDE DA POPULAÇÃO TRANSEXUAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Andréa Felizardo Ahmad, Adriana Lemos, Cláudia Regina Ribeiro, Aiarlen Santos Meneses, Beatriz Rodrigues Silva Selles Dantas, Diana Luiz Pinto, Fabiana Albino Fraga, Giovanna Thayla Caetano de Lima

VIVÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE ATENÇÃO À SAÚDE DA POPULAÇÃO TRANSEXUAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Andréa Felizardo Ahmad, Adriana Lemos, Cláudia Regina Ribeiro, Aiarlen Santos Meneses, Beatriz Rodrigues Silva Selles Dantas, Diana Luiz Pinto, Fabiana Albino Fraga, Giovanna Thayla Caetano de Lima

Apresentação: A iniciativa de estudar a saúde da população transexual partiu de docentes integrantes de um laboratório de estudos vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem de uma universidade pública localizada no Estado do Rio de Janeiro. A inquietude em face à dificuldade de acesso à saúde e a intolerância e discriminação às quais essa população está exposta foi o ponto inicial para a elaboração de estratégias em busca de maior conhecimento sobre as necessidades de saúde dessa população. Nesse contexto, a exclusão social vivenciada nas mais diversas vertentes impactam significativa e negativamente diante da dificuldade de conseguir emprego e de acesso à saúde e educação, fatores esses que interferem na qualidade de vida dessas pessoas. Assim, docentes e discentes integrantes do referido laboratório propuseram-se fazer uma imersão na questão transexual. Portanto, esse trabalho tem por objetivo relatar a experiência de docentes e discentes de um curso de pós-graduação em enfermagem na inserção em pesquisa sobre a temática transexualidade e saúde em atividades científicas diversas. Desenvolvimento: Esse é um relato de experiência do tipo descritivo. As atividades ocorreram de março a dezembro de 2019 e teve como integrantes docentes e discentes de uma universidade pública localizada no Estado do Rio de Janeiro. Primeiramente foram organizadas reuniões para leitura e discussão teórica e temática. Em seguida, deu-se início à experiência através de uma visita a um ambulatório público de saúde trans, localizado em Niterói (RJ). Em diálogo com usuários, ficou perceptível que, além da terapia hormonal ou da cirurgia de redesignação sexual, as pessoas transexuais buscam no ambulatório um lugar de acolhimento e escuta, sem olhares discriminatórios. Outra preocupação é a relutância de empregadores em contratar uma pessoa trans, não considerando a competência profissional. A abordagem de assuntos relacionados à saúde da população trans impulsiona as discussões para propiciar a eliminação do estigma, da intolerância e da discriminação. Nesse contexto; o ensino, a pesquisa e o movimento social foram contemplados em uma mesa redonda promovida pelo laboratório de estudos durante a semana da Enfermagem. O evento trouxe a oportunidade de ouvir as pessoas que sofrem a violência no seu cotidiano e perceber as necessidades diante de quem precisa, o que é crucial para o desenvolvimento de políticas públicas e propicia enriquecimento do saber diante do que é imprescindível para a melhoria da qualidade de vida. Diante desses fatos, foi desenvolvida uma oficina sobre atenção à população trans com Agentes Comunitários de Saúde (ACSs), praticada em dois momentos e realizada em uma clínica da família da cidade do Rio de Janeiro, como parte de um projeto de extensão. Foram convidados um ACS de cada equipe e discutidas as distinções anatômicas entre os sexos biológicos e a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual, além do respeito ao nome social. O debate sobre sexualidade e os direitos sexuais e reprodutivos desconstrói os padrões impostos pela sociedade heteronormativa, o que possibilita um olhar relevante a todas as pessoas, independente de identidade de gênero ou orientação sexual, permitindo assim que os membros da oficina exerçam suas atividades de forma a descomplicar o acesso à saúde pela população trans. A experiência ainda discorre por uma visita a uma instituição que desenvolve um projeto que objetiva investigar a influência da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) na terapia hormonal em travestis e mulheres transexuais que fazem uso desses medicamentos. Outra visita foi a um ambulatório de um hospital universitário da cidade do Rio de Janeiro, onde ocorre um projeto para atendimento a adolescentes transexuais. Os coordenadores do projeto o apresentaram e falaram sobre suas expectativas em relação ao público atendido e suas relações familiares. O ambulatório de atendimento às pessoas que estão inscritas no processo transexualizador deste mesmo hospital também foi conhecido; a rotina local foi apresentada e ocorreu uma palestra com uma mulher trans assessora parlamentar, o que foi muito enriquecedor, pois o tema foi discutido na perspectiva pessoal e política. Também ocorreram participações em outros eventos: um seminário onde os componentes da mesa eram profissionais de saúde e acadêmicos transexuais que abordaram a dificuldade de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) e a inclusão da temática saúde da população trans na grade curricular dos cursos de graduação na área da saúde; outro foi um seminário onde foram apresentados estudos sobre HIV e AIDS entre travestis e transexuais, além das políticas públicas para o acesso à PrEP. Resultado: As necessidades de saúde identificadas foram divididas em dois grupos: 1 – Diretas - o aumento dos casos de HIV entre travestis e mulheres transexuais; a busca pela terapia hormonal e pela cirurgia de redesignação sexual; a insciência sobre a PrEP e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde. 2 – Indiretas - intolerância, violência, discriminação, falta de apoio familiar, desemprego, desrespeito ao nome social e falta de acolhimento. Ainda observamos como necessidade de saúde a inclusão do tema na grade curricular nos cursos de graduação da área da saúde, com o objetivo de formar profissionais de saúde livres de preconceito e estereótipos; e capazes de cumprir um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS): a equidade. Diante desse cenário, percebe-se que através de estudos que abordem a temática, é possível contribuir para o fim da intolerância e o preconceito, fatores determinantes para a qualidade de vida da população trans. E ainda como parte de atividade de estágio docência da pós-graduação uma mestranda ministrou um minicurso sobre a Política de Saúde LGBT, oferecido em uma jornada científica para acadêmicos e profissionais de saúde e paralelo a todas essas atividades, o grupo se reunia periodicamente para discussão teórica e metodológica dos projetos de pesquisa. Considerações finais: As atividades desenvolvidas durante o estudo demonstraram a importância de elevar as discussões sobre a saúde da população transexual, visto que suas necessidades são urgentes e torna-se imprescindível contribuir, como profissionais de saúde e pesquisadores, para que espaços sejam abertos a fim de eliminar o estigma que envolve as pessoas trans. Houve a superação das expectativas, pois através da experiência foi possível obter dados relevantes em virtude das contribuições enriquecedoras obtidas por meio das visitas técnicas, do contato com as pessoas trans e pelos discursos de profissionais envolvidos pela temática. A participação do movimento social e a parceria com a academia colabora para que políticas públicas sejam construídas e implementadas e permite que mais profissionais de saúde compreendam a responsabilidade social que dispõem para além das atribuições técnicas, promovendo reflexões sobre a atuação profissional e contribuindo para uma sociedade mais justa, igualitária e equânime.