393: Saúde Mental: experiências que favorecem o cuidado
Debatedor: Eduardo Teodósio de Quadros
Data: 28/10/2020    Local: Sala 13 - Rodas de Conversa    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
10533 PARA ALÉM DOS MUROS...POSSIBILIDADES: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Cristiana Marina Barros de Souza, Joelma Silva Andrade, Ana Cristina Torga Saade Cristina Torga Saade

PARA ALÉM DOS MUROS...POSSIBILIDADES: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Cristiana Marina Barros de Souza, Joelma Silva Andrade, Ana Cristina Torga Saade Cristina Torga Saade

Apresentação: A partir da década de 1980, desenvolveram-se amplas discussões sobre o modelo assistencial ao portador de sofrimento mental, fato que culminou na flexibilização da relação da loucura com a sociedade, o que ocorre, principalmente, com a quebra do paradigma de periculosidade e incapacidade, introduzindo a possibilidade de tratamento fora do hospital psiquiátrico. No desenvolvimento da Política Pública Brasileira da Saúde Mental Infantil e Juvenil, com foco nos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil e na rede intersetorial de atenção à saúde mental infantil e juvenil, percebe-se uma defasagem entre a necessidade de atenção em saúde mental para crianças e adolescentes e a oferta de uma rede de serviços capaz de responder por ela. De modo geral, as políticas de saúde mental existentes estão relacionadas aos problemas da população adulta. Na população de crianças e adolescentes, os tipos de transtorno, principais fatores de risco e de proteção, estratégias de intervenção e organização do sistema de serviços têm especificidades que não podem ser contempladas pela simples extensão das estratégias de cuidado da população adulta à população infantil e juvenil. Tais especificidades tendem a permanecer invisíveis na agenda mais geral das políticas de saúde mental. Historicamente, as ações relacionadas à Saúde Mental da infância e adolescência foram, no país, delegadas aos setores educacionais e de assistência social, em instituições filantrópicas e privadas, com forte componente tutelar tais como educandários, abrigos, escolas especiais, institutos para deficientes mentais e clínicas para autistas. É a partir de 2002, no entanto, que o Ministério da Saúde passa a orientar a construção coletiva e intersetorial das diretrizes de uma rede de assistência de base comunitária e em acordo com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica. Duas ações principais estão em curso nos últimos anos: a implantação, pelo SUS, de novos serviços de saúde mental para crianças e adolescentes, os Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) e a construção de estratégias para articulação intersetorial da saúde mental com setores historicamente envolvidos na assistência à infância e à adolescência (saúde, educação, assistência social, justiça) com vistas à integralidade do cuidado, com bases territoriais. Com o objetivo de superar a defasagem entre a necessidade de atenção em saúde mental para crianças e adolescentes e a oferta de uma rede de serviços capaz de responder por ela, a Secretaria de Saúde de Belo Horizonte abriu um novo CERSAMI NE em cinco de dezembro de 2016, responsável por três distritos: Nordeste, Norte e Venda Nova. Esse território é composto por 58 centros de saúde e 208 ESFs. Desenvolvimento: descrição da experiência O CERSAMI NE é um serviço substitutivo ao hospital psiquiátrico que preconiza o cuidado em liberdade por meio de serviços abertos, territorializados, com financiamento público. Busca responder à crise, mas, também, é um serviço psicossocial. Trata-se de pensar, a partir de cada caso e de cada sujeito, saídas para o sofrimento que acomete crianças e adolescentes. Desde o primeiro dia, o CERSAMI NE acolhe casos graves de crianças em primeiro surto, crianças e adolescentes em uso abusivo de álcool e outras drogas, mas acolhem-se, igualmente, as amarguras de uma infância roubada. Crianças abusadas, maltratadas, mal “falada”, com todos os direitos violados: violências físicas, violências sexuais, abusos, fome, falta de teto, falta de carinho, falta de lazer, falta de educação, falta de possibilidades. Faz-se necessário ir além da sintomatologia! Trabalhar com crianças e adolescentes é uma linha tênue entre proteção e tutela. Essa é a conversa diária no intento de garantir a proteção e de reduzir os danos da vulnerabilidade vivenciadas por essa clientela singular por se tratar de seres humanos em desenvolvimento. São vários os atores nessa caminhada. Conselho Tutelar, Vara da Infância e Adolescência, Abrigos, Assistência Social, Escola, Arte da Saúde, Atenção Básica, as equipes complementares, as medidas Sócio educativas, Ministério Público, Promotoria, e vários outros, formando um contínuo de resposta para a efetividade do cuidado das crianças e dos adolescentes. Resultado: Os efeitos percebidos decorrentes da experiência No desafio sempre constante de prestar uma assistência antimanicomial, faz-se necessário o questionamento das ações praticadas para não correr o risco de se configurar como uma sutileza do manicômio. Cabe aos profissionais, em suas práxis, interrogar e estar atentos se o que se tem feito em relação à reforma da assistência tem contribuído para um novo arranjo das ideias em torno da imagem do sofrimento mental. Os muros que cercam a loucura não implicam apenas nos muros do hospital psiquiátrico. Os muros, por vezes, podem ser erguidos a partir do olhar que se lança sobre o sofrimento mental, seja da família, da comunidade em que vive, seja de uma unidade de atendimento de saúde, seja dos profissionais. O olhar do profissional tange à reflexão da práxis perpassando a prática diária. O trabalho cotidiano é dar nome e ressignificar em qual ponto somos tocados e afetados pelos casos que chegam a um serviço de urgência psiquiátrico infantojuvenil. Ademais, reflete como trabalhamos e transmitimos o nosso fazer clínico para uma política de saúde mental que se atém a estar imersa em uma rede e na lógica antimanicomial. Certamente, o fazer do trabalhador da clínica da saúde mental da criança e do adolescente é tecida de maneira diferente da clínica da saúde mental do adulto à medida que demanda invenção e delicadeza. Em vista disso, requer desse profissional versatilidade a fim de inventar e reinventar estratégias e soluções para o tratamento desses sujeitos em desenvolvimento. Esta clínica específica empreende movimento e audácia em seu cotidiano para acolher e tratar o que, por vezes, não tem tratamento. Além disso, o trabalhador lida, também, com vulnerabilidades e violações de direitos, logo, precisam atuar na clínica concomitantemente com a rede de cuidados e proteção. Desta feita, pensar o caso consiste em identificar a sintomatologia e compreender o sintoma imerso no tecido social. Lógica tal preconizada nos serviços substitutivos de saúde mental encapsulados em princípios muito claros e robustos que vão para além da oferta de acolhimento, atendimento, acompanhamento, tratamento e produção de cuidado, contemplando também a oferta de cidadania e de liberdade, pontos que aprendemos na nossa prática diária com os usuários e a clínica singular do um a um. Considerações finais Produzir cuidado requer sutileza, mas também resistência, além de estar em um serviço que segue o modelo substitutivo de saúde mental e nos leva enquanto profissionais a estar sempre refletindo. Indubitavelmente, somos afetados pelo o que a clínica da escuta nos ensina e nos move, com o intuito de construir soluções sensíveis aos desfechos que cada caso merece. É nesta ótica de produzir um cuidado singular - mesmo diante dos retrocessos políticos - que nós trabalhadores da luta antimanicomial e do SUS seguimos resistindo e acreditando numa política pública que siga os princípios do cuidado em liberdade e busque pelo protagonismo e pela cidadania dos sujeitos, assim como preconizado no SUS e na luta antimanicomial.  

10555 AÇAO DE SETEMBRO AMARELO COM AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÙDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Alice Pequeno de Brito, Marta Caroline Araújo da Paixão, Vilma Maria Alves de Lima, Luciane Lobato Sobral, Samara Costa Fernandes, Jéssica de Fátima Lima Lourinho

AÇAO DE SETEMBRO AMARELO COM AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÙDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Alice Pequeno de Brito, Marta Caroline Araújo da Paixão, Vilma Maria Alves de Lima, Luciane Lobato Sobral, Samara Costa Fernandes, Jéssica de Fátima Lima Lourinho

Apresentação: O Setembro Amarelo é uma campanha criada com o intuito de informar as pessoas sobre o suicídio, uma prática normalmente motivada pela depressão. Mesmo com tantos casos notórios, crescentes a cada ano, ainda existe uma expressiva barreira para falar sobre o problema. O principal objetivo da campanha é a conscientização sobre a prevenção do suicídio, buscando alertar a população a respeito da realidade da prática no Brasil e no mundo. A melhor forma de se evitar um suicídio é através de diálogos e discussões que abordem o problema. Objetivo: Elaborar um relato de experiência sobre a visão de graduandos da educação física e fisioterapia da Universidade do Estado do Pará, a respeito da intervenção feita na Estratégia de Saúde da Família- ESF. Descrição da Experiência: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência realizado na Estratégia de Saúde da Família Canal da Visconde pelo Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde). Foi realizado educação em saúde sobre o setembro amarelo com os Agentes Comunitário de Saúde  - ACS os quais disponibilizamos conhecimentos com intuito de conscientizar sobre a prevenção ao suicídio. Resultado: A finalidade da atividade foi conscientizar aos ACS a necessidade da conscientização sobre a prevenção ao suicídio, observar os possíveis sinais e buscar ajuda quando se julgar importante. Após fazer a exposição dos temas foram realizadas atividades dinâmicas com esclarecimento de dúvidas, que suscitaram importantes discussões sobre o tema. Com isso, Inicialmente, os ACS foram orientados a se apresentarem com intuito de  buscar interação entre o grupo, no segundo momento foi executada a dinâmica do espelho, o qual o se passava uma caixa com espelho dentro da caixa e quando o participante abria a caixa era orientada a falar adjetivos positivos dela. Logo em seguida foi feito o corredor solidário, onde cada indivíduo iria passando pelo corredor de olhos fechados e assim os demais falavam palavras bonitas. Por último, cada participante foi sorteada para ser anjo de alguém e no final foi entregue uma carta demonstrando o sentimento de carinho pelo próximo. Considerações finais: Portanto, vale salientar a importância dessa prática para os alunos que se encontram em formação acadêmica e a interferência por meio das ações sociais feita no espaço de trabalho deles. Assim, é imprescindível manter as ações de promoção e prevenção de saúde de forma sistemática para o conhecimento da prevenção ao suicídio para a sociedade

10585 RELATO DE EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO MÉDICA: UMA ANÁLISE DO CUIDADO ÀS TENTATIVAS DE SUICÍDIO EM MACAÉ (RJ) DO PONTO DE VISTA DE UM SERVIÇO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA.
Ramon Werner Heringer Gutierrez, Cecília Santos De Brito, Ellen dos Santos Brito, Iuri Sena Melo, Matheus Wendell de Almeida Pereira, Rodrigo de Oliveira Cardoso Müller, Thais Maria Paim Oliveira, Helvo Slomp Junior

RELATO DE EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO MÉDICA: UMA ANÁLISE DO CUIDADO ÀS TENTATIVAS DE SUICÍDIO EM MACAÉ (RJ) DO PONTO DE VISTA DE UM SERVIÇO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA.

Autores: Ramon Werner Heringer Gutierrez, Cecília Santos De Brito, Ellen dos Santos Brito, Iuri Sena Melo, Matheus Wendell de Almeida Pereira, Rodrigo de Oliveira Cardoso Müller, Thais Maria Paim Oliveira, Helvo Slomp Junior

Apresentação: A disciplina Saúde da Comunidade II da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Campus Macaé, realiza práticas de campo em um serviço de Urgência e Emergência (U/E), ponto de vista a partir do qual estudantes de medicina do 2º período, por meio de metodologias ativas, fazem observações e análises com relação às redes de atenção à saúde (RAS) locais. Tal serviço é a principal porta de entrada para esses agravos, nesta região. Alunos (as) autores (as) deste artigo encontraram o tema das tentativas de suicídio como frequente, durante suas vivências na disciplina, e escolheram-no para estudo. Tal experiência de aprendizagem é relatada neste texto. MetodologiaMediante entrevistas abertas com profissionais das áreas de medicina, psicologia e assistência social, além de registros em diários de campo, tratou-se de temas como o acolhimento profissional, neste serviço, aos casos de tentativas de autoextermínio e suicídios, além de obstáculos na rede de produção de cuidado a esses usuários. Investigou-se, a partir do ponto de vista da U/E, as ofertas assistenciais nas RAS do município para tais usuários. Resultado:Observou-se que os casos de tentativas de autoagressão e casos de autoextermínio não são raros na cidade, e que o estudo, de caráter preliminar, sugere que há certa desarticulação no fluxo de atendimentos a esses usuários, internamente ao serviço e nas RAS locais. Comparando-se os achados empíricos com os achados da literatura especializada, estabeleceu-se a hipótese de que a maneira como essas pessoas são recebidas, acolhidas e encaminhadas na RAS reflete diretamente nesta realidade, de modo que a construção de vínculo, com a utilização de tecnologias leves, além da criação de leitos de saúde mental e matriciamento das equipes de profissionais das unidades de saúde (US), seriam estratégias que poderiam reduzir gargalos e facilitar o percurso do usuário da rede de cuidados. Além disso, acredita-se que o recolhimento de dados epidemiológicos para notificação desses casos em Macaé carece de atenção, o que poderia interferir no grau de investimento em aprimoramento desse fluxo assistencial pelas respectivas gestões das US locais. Considerações finais: De acordo com o estudo realizado, pode-se sugerir que algumas melhorias seriam benéficas para as práticas de acolhimento, atendimento e encaminhamento nos casos de tentativas de suicídio no serviço estudado. Acrescentaríamos que, dada a relevância do tema na rede em estudo, o mesmo mereceria maior atenção, principalmente, por meio de novos e mais extensos estudos, os quais deverão ser realizados no sentido de se compreender melhor essa problemática na região.

10589 O MOSAICO NA SAÚDE MENTAL: EXPERIÊNCIAS QUE FAVORECEM O CUIDADO EM LIBERDADE E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA
ANA RITA CASTRO TRAJANO, CLARA TEIXEIRA CASTANHEIRA

O MOSAICO NA SAÚDE MENTAL: EXPERIÊNCIAS QUE FAVORECEM O CUIDADO EM LIBERDADE E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

Autores: ANA RITA CASTRO TRAJANO, CLARA TEIXEIRA CASTANHEIRA

Apresentação: A partir de reflexões sobre a Luta Antimanicomial no Brasil, como uma experiência de desconstrução dos manicômios no contexto da construção do Sistema Único de Saúde (SUS), realizou-se conversas entre autora e coautora do presente trabalho, buscando-se articular práticas de estágio curricular em Psicologia Social e Saúde Coletiva da Universidade do Estado de Minas Gerias (UEMG) ao estágio em Serviço de Saúde Mental do município de Itaúna (MG). A institucionalização da pessoa em sofrimento mental expressa um dos mais completos e sólidos processos de desumanização, pois articula dois modos distintos e complementares de violência: a segregação dos corpos e a anulação da subjetividade. No campo da saúde mental, a luta se volta contra muros visíveis e invisíveis do cerceamento da liberdade da pessoa em sofrimento mental, o que a impede de existir em sua singularidade e de pertencer ao mundo cidadão. Atualmente, o SUS e a Política de Saúde Mental Antimanicomial sofrem ataques do governo federal, com suas práticas neoliberais e antidemocráticas, principalmente, ao propor alterações na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), cujo objetivo é criar e fortalecer os serviços substitutivos aos manicômios. Essa reformulação propõe trazer de volta os hospitais psiquiátricos e as chamadas comunidades terapêuticas, que também seguem a lógica manicomial.  O presente trabalho procura caminhar no sentido de favorecer o cuidado em liberdade e o respeito à cidadania de pessoas em sofrimeneto mental. Trata-se de registrar e apresentar a Oficina de Mosaico, que acontece no Centro de Convivência em Saú de Mental Dr. Peri Tupinambás, em Itráuna, desde 2005, sendo conduzida, atualmente, pela oficineira Eliane Vileffort. O projeto foi escrito pela acadêmica, coautora deste trabalho, estudante de Psicologia da UEMG e estagiária do Serviço de Saúde Mental do município, a pedido da gestão responsável pela coordenação de saúde. A oficina de mosaico consiste em picar materiais como como Espuma Vinílica Acetinada (EVA) e azulejos em pequenos pedaços e, posteriormente, colá-los em uma superfície, como vasos de cerâmica, bandejas ou cartolina, formando figuras a partir de um rearranjo dos fragmentos. O processo de construção dessas peças requer paciência e atenção, características que se objetiva desenvolver em usuárias/os do serviço. Juntamente a isso, pretende-se valorizar a autonomia e a cidadania, à medida que favorece o trabalho em equipe, a geração de renda e a comercialização das peças produzidas no próprio Centro de Convivência,  ou, levar a técnica para fora do serviço e produzi-las por conta própria. Por fim, pelo fato de temas como a Luta Antimanicomial e desafios cotidianos que as pessoas em sofrimento mental encontram ao buscarem inserção plena junto à sociedade serem recorrentes durante o andamento das oficinas, espera-se que participantes desses processos aprendam sobre a importância da luta pelo cuidado em liberdade.

10628 DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA EM PSIQUIATRIA À SAÚDE DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO – UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Alexsander Moreira Siqueira, Giselle Diniz Guimarães da Silva

DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA EM PSIQUIATRIA À SAÚDE DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO – UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Alexsander Moreira Siqueira, Giselle Diniz Guimarães da Silva

Apresentação: Os alunos dos cursos de graduação estão vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos mentais que prejudicam significativamente o pleno desempenho de suas atividades acadêmicas, sendo um problema preocupante tanto pelo aspecto da saúde pública quanto educativo.  Estima-se que até 25% dos graduandos desenvolverão algum agravo à saúde mental durante o período de formação e a prevalência de transtornos mentais não psicóticos entre universitários é significantemente maior que na população geral e em adultos jovens não universitários. Nos últimos anos, o perfil sócio-demográfico da comunidade universitária discente sofreu profunda mudança com a introdução do Sistema de Seleção Unificada - SISU que possibilitou que brasileiros de diferentes regiões pudessem concorrer, através da classificação obtida no Enem, a cursos em quaisquer instituições do país cadastradas no SISU. Nesse período, observou-se aumento na incidência e prevalência de transtornos mentais entre estudantes universitários, bem como elevação nas taxas de comportamento suicida, o que despertou interesse e preocupação da Comunidade Acadêmica e sociedade na temática da saúde mental dos estudantes. Desenvolvimento: o presente relato trata-se da experiência do Serviço Médico em Psiquiatria da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – PROAES da Universidade Federal Fluminense – UFF frente ao adoecimento psíquico dos estudantes da UFF. Para isso, seguiram-se as seguintes etapas: identificações das demandas e necessidades em saúde mental do corpo discente; revisão bibliográfica; visitas técnicas às unidades e coordenações de curso; atendimento ambulatorial; prestação de consultoria e assessoria aos dirigentes e coordenação de curso; organização dos dados obtidos; interpretação dos resultados e apresentação do relato. Resultado: O principal desafio no enfrentamento do adoecimento mental dos estudantes foi insuficiência de capacitação do corpo docente e técnico-administrativo da universidade frente ao adoecimento psíquico dos discentes. Observou-se que a UFF não dispõe de informações organizadas sobre o comportamento suicida ocorridos nos últimos cinco anos entre os alunos devidamente matriculados nos cursos presenciais de graduação. Não se verificou, antes da iniciativa da PROAES em criar um Serviço Médico de Assistência ao Estudante, em 2019, ações estruturadas para assistência dos estudantes acometidos agravos à saúde mental. Diante dos problemas encontrados, estruturou-se um modelo de assistência médica à saúde mental do estudante vinculado a um Plano de Trabalho para promoção, prevenção e controle do adoecimento psíquico. Considerações finais: O afastamento do núcleo social, imersão brusca em novos ambientes culturais, fragilização do suporte familiar formam condições desfavoráveis à saúde mental dos universitários e exigem imediata atenção da gestão das universidades a fim de produzir conhecimento no que tange a compreensão dos mecanismos de adoecimento psíquico, identificando os fatores biopsicossociais condicionantes e desencadeadores, assim como os atenuantes e elaboração de estratégias de prevenção, promoção e controle de transtornos mentais que acometem os estudantes. Nesse condão a PROAES/UFF está desenvolvendo ações integradas de promoção, prevenção e controle do adoecimento mental dos estudantes universitários.

10798 FALE SEU NOME E UMA PALAVRA QUE O DEFINA: SOLIDÃO!
BIANKA ANDRESSA DE OLIVEIRA MEDEIROS, CAMILA TUANE DE MEDEIROS, IALY VIRGÍNIA DE MELO BAÍA, JOÃO MIRANDA DE ARAÚJO DA COSTA

FALE SEU NOME E UMA PALAVRA QUE O DEFINA: SOLIDÃO!

Autores: BIANKA ANDRESSA DE OLIVEIRA MEDEIROS, CAMILA TUANE DE MEDEIROS, IALY VIRGÍNIA DE MELO BAÍA, JOÃO MIRANDA DE ARAÚJO DA COSTA

Apresentação: Este trabalho configura-se como um relato de experiência, produzido por 04 psicólogos residentes no programa de Atenção básica, saúde da família e comunidade, no município de Mossoró, Rio Grande do Norte. O relato em questão diz respeito ao ‘Espaço da palavra’, grupo de apoio que tem se mostrado como um potente método de cuidado coletivo para os sujeitos participantes. A experiência ocorreu com adolescentes, alunos da Escola Estadual Raimundo Gurgel, em Mossoró. Cabe enfatizar que esta escola possui iminentes casos de tentativas de suicídio, o que necessitou urgentemente de intervenção por parte do núcleo de Psicologia da residência multiprofissional, cujo território onde a escola está inserida faz parte de um dos campos práticos da residência. Dessa forma, este relato objetiva divulgar a capacidade de se promover saúde dentro do ambiente escolar, rompendo as tradicionais barreiras de escutas individuais e ações de educação bancária, visto que, dentro do ‘Espaço da palavra’, todos os sujeitos são ouvidos e livres para falar sobre suas demandas, a partir de uma palavra ou poema gerador. A partir disso, há o compartilhamento de emoções, sentimentos, angústias, medos, e demais demandas que permeiam os adolescentes dentro e fora da escola. A escola tem sido palco de grandes preocupações para pais, professores e demais profissionais no contexto escolar, pois, é comumente visto em noticiários jovens cometendo suicídio e autolesão em ambiente escolar. Como meio de promover cuidado para esses adolescentes, foi proposto que aos sábados os psicólogos residentes pudessem acolher tais demandas por meio do grupo. Dando ênfase em um específico dia, foi percebido através dos psicólogos que a demanda do grupo girava em torno da solidão, tendo em vista que as falas dos participantes do grupo estavam interligadas a esta queixa. Com a execução do grupo 'Espaço da palavra', além das trocas de saberes e experiências de enfrentamento entre os adolescentes, podemos captar quais as necessidades daquele grupo populacional, muitas vezes esquecido e negligenciado pelos serviços de saúde, tendo em vista o estereótipo social de que a adolescência é uma fase complicada e chata. Entretanto, para se pensar em uma promoção, prevenção, proteção, cuidados e diagnósticos voltados à saúde dos adolescentes, é de grande importância levar em consideração fatores psicológicos, econômicos e sociais, ambos captados dentro do espaço coletivo de cuidado proposto pelo núcleo, no ambiente escolar. A realização do 'Espaço da palavra' dentro do ambiente escolar foi muito enriquecedora, pois, foi possível compreender, a partir da fala dos adolescentes, as suas principais queixas e demandas, proporcionando uma gama maior de possibilidades de intervenção. Além disso, foi elucidado aos mesmos que eles não estavam sós em suas dores emocionais, o que gerou uma fortalecedora rede de apoio entre os alunos. Apesar da relevância da atividade para a diminuição do sofrimento psíquico dos adolescentes, é preciso algo a longo prazo e com maior frequência, visto que, a demanda em saúde mental encontrada nos ambientes educacionais é elevada. Sendo assim, a permanência de um profissional de psicologia que contribua na promoção da saúde mental nas escolas é imprescindível.

11010 A LUA CHEIA, O SOL E O METEORO: POR UMA FORÇA FRACA NA PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
Marcela Pimenta Guimarães Muniz

A LUA CHEIA, O SOL E O METEORO: POR UMA FORÇA FRACA NA PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL

Autores: Marcela Pimenta Guimarães Muniz

Apresentação: O profissional de saúde é, por natureza, o detentor de poder na relação usuário-profissional. Assim como seu aparato físico de jaleco, caneta e prontuário à mão, crachá ou estetoscópio, também seu arsenal teórico profissionalizante faz com que a distribuição de poder seja consideravelmente desigual. Dessa forma, o saber-poder que passará na produção do cuidado será majoritariamente do profissional. Assim, o presente estudo teve como objetivo refletir acerca da necessária redistribuição de poder na relação profissional-sujeito que sofre psiquicamente. Desenvolvimento:  Metodologia qualitativa, do tipo reflexão teórica, embasada respectivamente nas noções de Nietzsche; Deleuze e Guattari; e Tallemberg: “uma filosofia menor”; “uma literatura menor“; e “uma clínica menor”, que tratam da questão da redistribuição de poder relações de subjetivação. Além disso, toma-se emprestado o corpo celestial para a construção de uma analogia agora necessária para a busca de uma dizibilidade: o Sol e a Lua cheia e o meteoro. Resultado: O Sol emana uma luminosidade tão forte e se coloca tanto como “centro da atenção” que ofusca a visão de quem tenta enxergá-lo. Ao irradiar demasiadamente, impede também um contraste de sua luz com o firmamento. E todos os dias ele se posiciona de forma a ser visualizado, tornando-se menos insólito. Já a Lua cheia, esta é inusitada e quando se revela, nos surpreende. Ela é intensa, mas a luz que emite não é tão forte a ponto de ofuscar nossa visão. Assim, a Lua exerce uma força fraca, uma presença forte, mas que guarda seus excessos para que sua beleza possa ser mais acessada e não apaga a beleza do próprio firmamento. Enquanto isto, o Sol a pino impede que se contemple outras estrelas, planetas e meteoros (popularmente conhecidos como estrela cadente). O profissional que se coloca na saúde mental exercendo todo o seu saber-poder não abre espaço para o saber do outro. O usuário tem suas potencialidades terapêuticas silenciadas se o profissional elege o seu saber como o prioritário. Para que o saber do usuário encontre passagem nessa relação de cuidado, é necessário que o profissional abra mão da ideia hegemônica de que ele é quem tem as respostas; da sensação de que seu conhecimento é o salvador da saúde do outro; do seu furor curandis que tudo quer ajustar no modo de vida do outro. Trata-se da necessidade do profissional se movimentar em direção à diminuição de seu poder; exercer seu saber com menos força; assumir sua força de modo mais leve: uma força fraca. Assim como o Sol impede que se enxergue o restante do espaço celestial, também o profissional de saúde ofusca o saber do outro. A Lua cheia exerce sua luz de forma que não impeça a visualização de outros corpos celestiais. Considerações finais: Fazer do cuidado uma força fraca, dando espaço para o saber-poder do outro é apostar em um regime da atenção psicossocial que se aproxima do paradigma ético-estético, que permite a expressão do sensível específico do portador de transtorno psíquico. Afinal, quem já viu uma estrela cadente em plena luz do dia?

11056 VIVÊNCIA NA EMERGÊNCIA PSIQUIATRICA EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA: UM OLHAR PANORÂMICO
Patrick da Costa Lima, Ana Carla Vilhena Barbosa, Brena de Nazaré Barros Rodrigues, Geovane do Rosário Ribeiro, Raiane Bacelar dos Anjos, Rita de Cássia Goés Brabo, Sávio Felipe Dias Santos, Weslley do Vale Maia

VIVÊNCIA NA EMERGÊNCIA PSIQUIATRICA EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA: UM OLHAR PANORÂMICO

Autores: Patrick da Costa Lima, Ana Carla Vilhena Barbosa, Brena de Nazaré Barros Rodrigues, Geovane do Rosário Ribeiro, Raiane Bacelar dos Anjos, Rita de Cássia Goés Brabo, Sávio Felipe Dias Santos, Weslley do Vale Maia

Apresentação: A história da psiquiatria brasileira, em consonância com a mundial, escreveu-se mediante reclusão do doente mental em locais onde reinavam a violência, a despersonalização do individuo e a intolerância, transformando-o em uma ‘’coisa’’e, como tal, sem necessidades individuais ou direitos. Portanto, este deixava de ser visto como cidadão. A patologia psiquiátrica vem associada ao estigma, preconceito e exclusão do individuo com sofrimento psíquico e, por este motivo, muitas pessoas foram jogadas na reclusão e esquecimento pela sociedade, pois eram consideradas como perigosas ou até mesmo como castigadas pelos entendimentos religiosos, logo, muitas não conseguiam lugar na sociedade, no mercado de trabalho, levando-as a pobreza extrema e esquecimento, inclusive por parte dos familiares, os quais abandonavam nos manicômios, para um futuro que, na maioria das vezes, era a morte por outras doenças advindas da negligência e violência por parte das equipes de saúde atuantes nestes locais. Por décadas o modelo hospitalar e manicomial foi utilizado no Brasil para o tratamento de pessoas com algum tipo de limitação ou enfermidades no quesito da saúde mental. O atendimento limitava-se a internações prolongadas, mantendo o doente afastado do seu âmbito familiar e social. Após os anos 1970, com a reforma psiquiátrica no Brasil, a política de saúde mental tem como objetivos a redução de leitos psiquiátricos, o maior controle sob as internações, a organização da rede de saúde mental substitutivos e o reconhecimento dos direitos de cidadania das pessoas com transtornos mentais. O movimento de desinstitucionalização propõe um novo modelo assistencial, tendo como prioridades a integração e a manutenção do paciente na comunidade. Nessa perspectiva, os serviços de Emergência Psiquiátrica (EP) surgem como um dos pilares assistenciais deste novo contexto de atenção ao doente mental, providos de uma rede de atenção diversificada, descentralizada, humanizada e integrada à rede de serviços de saúde. Após os movimentos de critica às instituições psiquiátricas, surgem serviços extra-hospitalares como o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), NAPS (Núcleo de Atenção Psicossocial), Ambulatório de Saúde Mental, Hospital-Dia, serviços de saúde mental nos hospitais gerais, entre outros que buscam a reinserção do individuo com sofrimento mental na sociedade e o resgate de sua cidadania. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência da vivência de um grupo de acadêmicos de enfermagem durante estágio realizado na emergência psiquiátrica de um hospital referência na cidade de Belém, no período de 17 à 31 de julho do ano de 2019, proporcionado pela Liga Acadêmica Paraense de Saúde Mental (LAPASME). Os acadêmicos, acompanhados de duas enfermeiras do setor, realizaram atividades pertinentes às funções do profissional enfermeiro dentro do setor, desde medidas burocráticas até a assistência direta com os pacientes. O objetivo principal deste trabalho foi relatar a vivência dos acadêmicos de enfermagem durante o estágio no setor da emergência psiquiátrica, com o intuito de quebrar paradigmas e observar o papel do enfermeiro no âmbito da psiquiatria. Resultado: Durante a realização do estágio, os acadêmicos puderam observar as medidas tomadas para que o modelo manicomial não fosse mais uma realidade, como a redução do número de leitos e a quase inexistente utilização da força para lidar com os pacientes, apenas em momentos nos quais estes estivessem apresentando riscos para a própria vida ou de outros, sendo necessária a contenção mecânica e sedação destes, como é preconizado pelo Ministério da Saúde. No entanto, algumas medidas adotadas pelo setor ainda remetem à um modelo manicomial, como a existência de uma porta de entrada na qual os pacientes recém chegados ficam na espera de um leito, causando assim uma lotação superior à permitida, pacientes que ficam contidos em cadeiras ou macas por prolongados períodos, ficando impossibilitado de realizarem higiene pessoal, alémde alguns profissionais do serviço tratarem os usuários de forma rude e sem humanização.Todavia, foi possível ser evidenciado o processo das terapias alternativas aplicadas com os pacientes do setor psiquiátrico, terapias estas que incluíam a realização de atividades em grupospropostas pela equipe multiprofissional composta por enfermeiros, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, médicos e psicólogos, os quais atuavam em conjunto com a finalidade de proporcionar bem estar, uma nova forma de expressarem suas emoções e, até, amenizar crises advinda da patologia psíquica, àqueles que estavam recebendo os cuidados. Os acadêmicos estagiários também puderam compreender a funcionalidade do sistema e como se dão os procedimentos com o paciente, desde sua chegada até o momento da alta, realizando as anotações pertinentes e ajudando os enfermeiros e técnicos de enfermagem com os procedimentos cabíveis para cada situação. Considerações finais: Mesmo com certas dificuldades enfrentadas pelo setor, a equipe realiza, no geral, um trabalho multiprofissional de qualidade, realizando atividades que estimulam a reinserção do paciente no eixo social e promovendo a sua autonomia, assim como a equipe oferece uma escuta qualificada, assistência e uma relação respeitosa com a condição de saúde dos pacientes. Foi de fácil observação a constituição do vínculo entre a equipe e os pacientes, estabelecendo-se uma relação respeitosa e harmônica, fato que tornava o serviço mais fácil, apesar de que, no momento da chegada ao serviço, muitos pacientes apresentavam um comportamento agitado e, em certos casos, agressivo e necessitavam de medicação. A falta de materiais foi um ponto negativo a ser destacado, pois afetava na qualidade da assistência, fato que atrasava o serviço, assim como a precária condição dos pacientes que aguardavam leito na porta de entrada, os quais dispunham de apenas uma cadeira reclinável para repousar. A superlotação do setor também se constituiu em um problema marcante, visto que, devido a grande demanda, alguns pacientes tinham que ficar em poltronas dispostas pelo salão principal do setor, aguardando a liberação de algum leito e isso se deve, também, a falha no cuidado na atenção básica, pois muitos pacientes psiquiátricos começam o tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), porém abandonam, agravando a condição deste e o levando-o até a atenção terciária do serviço de saúde, muitas vezes com um quadro avançado da patologia e requerendo uma internação sob as observações da equipe multiprofissional. No geral, o setor da emergência é uma área que propicia grande aprendizado para quem busca conhecer mais sobre a saúde mental e reforça a luta para que o modelo manicomial seja mantido no passado.

11200 COMUNIDADES TERAPÊUTICAS: ASSISTÊNCIA POLÍTICA EM SAÚDE MENTAL E DIREITOS HUMANOS
Talissa Rodrigues Barreto

COMUNIDADES TERAPÊUTICAS: ASSISTÊNCIA POLÍTICA EM SAÚDE MENTAL E DIREITOS HUMANOS

Autores: Talissa Rodrigues Barreto

Apresentação: Comunidades Terapêuticas (CTs) são espaços formalizados e financiados que ofertam reclusão social e comportamento religioso para o interno. O interno é o cidadão decidido em abstinência que deseja se isolar da macrossociedade, pois considera estabelecer dificuldades em seguir a vida com saúde e dignidade enquanto consumidor de substâncias psicoativas. Este trabalho se intera sobre legislações asilares e mudanças na Rede de Atenção Psicossocial (entre os anos de 2011 e 2019). Analisa o Relatório da Inspeção Nacional em 28 Comunidades Terapêuticas (2018), produzido por meio do Conselho Federal de Psicologia, o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e o Ministério Público Federal, que executam delineamento prático e ético no cuidado em saúde mental. Tal pesquisa de revisão bibliográfica, descreve o bordeamento necessário e possível para lidar com os fenômenos das instituições que contém difícil acesso, muros, portões, trancas e restrições à liberdade. Partindo do princípio da segurança sanitária, a Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Ministério da Saúde), regulamentou em 30 de junho de 2011, o funcionamento em regime de residência para instituições que prestem serviços de atenção a pessoas com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas. O principal instrumento terapêutico a ser utilizado nessas instituições de regime de residência, deverá ser a convivência entre os pares. As supostas reformulações subjetivas dos pacientes devem ocorrer com o corpo em abstinência, conhecimentos cultuados pelos Alcoólicos/Narcóticos Anônimos que permeiam as vivências grupais nas CTs pelo Brasil e mundo afora. Diálogos entre esses espaços e a Psicologia Comunitária são emergentes tão quanto os desastres naturais por irresponsabilidade de gestão. A Lei 10.216 não é o bastante para romper com as demandas manicomiais e higienistas de reestruturação social. É de suma importância informar sobre como tais cuidados estão sendo geridos publicamente.

11210 CONSIDERAÇÕES DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL EM CENTROS DE APOIO PSICOSSOCIAL
Suzana Pinto Dal' Berto, Simone Wunsh, Lara Remus

CONSIDERAÇÕES DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL EM CENTROS DE APOIO PSICOSSOCIAL

Autores: Suzana Pinto Dal' Berto, Simone Wunsh, Lara Remus

Apresentação: Os Centros de Apoio Psicossocial (CAPS)   integram as Redes de Assistência Psicossocial (RAPS) e, constituem-se por equipes interdisciplinares. O trabalho das  equipes, encontra-se permeados por uma pluralidade de demandas dos sujeitos e da rede. Os sujeitos que  acessam o CAPS, apresentam singularidades, sendo, portanto, necessário que os profissionais disponibilizem,  em suas práticas, uma ampla e diversificada forma de conduzir o cuidado, buscando-se, uma abordagem comum a todo o processo de assistência. Assim, a integração da equipe de saúde torna-se imprescindível, para que o atendimento e, o cuidado alcancem a amplitude do ser humano, transcendendo a noção de conceito de saúde. Logo, compreende-se o cuidado do sujeito e suas singularidades. O presente trabalho consiste em um relato de experiência, na ótica de um profissional da psicologia, que atuou em um CAPS em uma cidade, no interior do Estado do Rio Grande do Sul. Objetivo:apresentar a importância do sujeito e suas singularidades no cuidado em saúde mental em CAPS. Desenvolvimento: Os sujeitos, em sofrimento psíquico, acessam os serviços do CAPS, por diferentes  portas de entrada. Nesse momento,  a equipe, inicia o cuidado, por meio  da prática do acolhimento e escuta ativa, considerando-se as singularidades que emanam do sujeito. Posteriormente, ocorre o compartilhamento do processo com equipe interdisciplinar. Nesse momento, busca-se definir a melhor forma terapêutica, respeitando-se, necessariamente, o conhecimento não somente sobre o usuário, mas também do usuário como sujeito singular, responsável pelo seu cuidado. Resultado: Ao reconhecer as singularidades no ambito geral de vida do usuário do CAPS para além dos sinais e sintomas do sofrimento, torna-se possível encontrarmos um novo sujeito, um sujeito com novas singularidades, construído  acerca do auto- cuidado e do cuidado, o que resulta num novo sujeito, um sujeito único. Considerações finais: Por fim,  a identificação, e o reconhecimento das singularidades dos sujeitos contituem-se de fundamental importância para a realização  do cuidado em saúde mental. O compartilhamento e a construção da prática do cuidado interdisciplinar  possibilita, a partir de valiosas trocas de experiências e saberes, compreender que o cuidado, vai muito além da doença e sintomatologia, pois, visa a (re)ssignificação do sujeito e de suas singularidades.

11222 O SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO COMO DISPOSITIVO PRODUTOR DE VIDA: A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DE UMA CASA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
ISABELLA LEITE, Camila Macedo, Daniel Emílio Almeida, Maria Paula Cerqueira

O SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO COMO DISPOSITIVO PRODUTOR DE VIDA: A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DE UMA CASA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Autores: ISABELLA LEITE, Camila Macedo, Daniel Emílio Almeida, Maria Paula Cerqueira

Apresentação: A Reforma Psiquiátrica Brasileira aparece como possibilidade de outro modo de se pensar a assistência psiquiátrica, a contar da criação de outros dispositivos e estratégias de cuidado, comprometida com a saúde enquanto responsabilidade do Estado, com a implementação de mecanismos de reinserção social e ressocialização dos usuários. Segundo o Ministério da Saúde (2003), o modelo hegemônico hospitalocêntrico é substituído paulatinamente por outros modelos de atenção, direcionados por serviços comunitários territoriais, como, por exemplo, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as Residências Terapêuticas (RTs), ambulatórios, centros de convivência, internações em hospitais gerais, Estratégia de Saúde da Família (ESF) e outros equipamentos de saúde e de assistência, cultura, justiça, lazer, esporte e educação. Os Serviços Residenciais Terapêuticos foram serviços pensados a partir da necessidade de acolher egressos de longa internação, tendo em sua história a marca da perda de vínculos decorrente dos anos de institucionalização. Entendemos o SRT como estratégico no processo de desinstitucionalização, sendo este um dispositivo de cuidado complexo, na medida em que tem como especificidade ser um híbrido de serviço e casa. O objetivo deste trabalho é compartilhar o processo de implantação de um SRT tipo II no ano de 2019, no território da zona norte do Rio de Janeiro. Para tal, utilizaremos fragmentos e cenas do cotidiano para disparar a discussão sobre a clínica do morar. Uma “clínica do morar” que convoca a todos os operadores desse encontro a reconfigurar as ofertas de cuidado, constituindo arranjos que se portam e se colocam fortemente calcados na produção de autonomia e ampliação das redes de conexões existenciais, tão esgarçadas e recortadas pelas instituições asilares. Nesse momento político extremamente delicado, frente a tantos retrocessos no campo da saúde pública, faz-se fundamental dar visibilidade e legitimar as práticas de cuidado construídas pelos serviços de saúde mental. Diante deste cenário, entende-se o SRT enquanto um dispositivo de resistência potente, cuja existência possibilita novas narrativas de vida, retoma e reconstrói laços e, em especial, dá língua aqueles que eram silenciados pelo manicômio. O presente trabalho busca, portanto, realizar uma reflexão crítica sobre a experiência de implantação de um SRT no município do Rio de Janeiro, utilizando-se de fragmentos do cotidiano como analisadores de três principais eixos de discussão: o SRT como dispositivo produtor de vida, em oposição aos processos de mortificação manicomiais, a desinstitucionalização como abertura à promoção de novos laços sociais, e a construção de estratégias de qualificação da equipe profissional a partir da perspectiva da educação permanente em saúde. Entende-se que tal reflexão é um compromisso ético-político em promover e visibilizar práticas de cuidado que afirmem a potência da vida em sua multiplicidade, no encontro entre trabalhadores, usuários e a cidade.

11322 CUIDADO COMPARTILHADO, REDUÇÃO DE DANOS E APOIO NO PROCESSO DE TRABALHO EM CAPS ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
Eduardo Caron

CUIDADO COMPARTILHADO, REDUÇÃO DE DANOS E APOIO NO PROCESSO DE TRABALHO EM CAPS ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

Autores: Eduardo Caron

Apresentação: O campo do cuidado em álcool e outras drogas apresenta uma complexidade em torno de três grandes eixos: a medicalização do uso de substâncias, a criminalização, e mais recentemente a prevenção e redução de danos. O uso de substâncias tóxicas passou a ser um problema médico, isto é, um problema de saúde, a partir do século XVIII com o nascimento da medicina social e da clínica. Antes disso o uso de álcool e outras drogas estava distribuído entre uma multiplicidade de práticas que abrangiam desde o uso como especiarias de culinária, uso recreativo, místico, festivo, medicinal etc., mas não era considerado doença. O processo de medicalização, então, deu origem a uma produção de nosologias, inclusive na psicanálise, que, segundo diferentes racionalidades, definiu comportamentos e formas de uso de substâncias como patologias. A partir da invenção da farmacologia e o isolamento dos princípios ativos das substâncias tóxicas, no século XIX os laboratórios passaram a fabricar e a medicina passou a prescrevê-las. A partir da segunda metade do século XX o uso médico de substâncias tóxicas cresceu como remédio psiquiátrico. O outro eixo de problematização no campo do cuidado em álcool e outras drogas é o da criminalização do uso, que passou a ser um problema jurídico a partir do século XX. Complementar ao seu papel na área da saúde, o Estado passa a reger a legalidade do mercado. Para tanto, é no saber médico que se fundamentam os critérios para definir quais as substâncias prescritas, quais as de circulação controlada pelo Estado e quais as proscritas. Assim, é o argumento médico que justifica a criminalização. Os tratados internacionais sobre o mercado de substâncias também compuseram este arcabouço de criminalização que gerou uma política internacional de “Guerra às Drogas” que conduziu à institucionalização do tráfico e a criminalização do uso. O terceiro eixo é o da prevenção. Sabemos que a partir dos programas de prevenção da contaminação pelo vírus HIV, ganharam visibilidade as ações de redução de danos entre usuários de drogas injetáveis; ações que envolvem distribuição de kits com seringas descartáveis, cuidados à saúde integral dos usuários, aconselhamento e atividades educativas por pares. Estas ações passaram, então, a nortear o cuidado no campo de álcool e outras drogas na perspectiva da Redução de Danos. Como consequência o campo do cuidado em álcool e outras drogas se encontra na confluência de forças que colocam as pessoas em sofrimento numa condição de estigma social associado ao crime, à marginalidade social, à doença de ordem moral, ao vício e à dependência. Embora o uso de substâncias seja uma prática transversal, as cenas de uso em locais públicos veiculadas na mídia e os discursos governamentais localizam o uso de drogas como problema de um grupo populacional de risco e desqualificado. Além disso, a patologização do sofrimento como doença física e mental, que dá lugar à figura do usuário-dependente, favorece a um processo de individualização do processo de cuidado. Uma culpa pela doença e a responsabilização individual pela cura subjazem as relações de cuidado e a ideia de cura pela abstinência. Método Trata-se da construção de um dispositivo com usuários e profissionais de CAPS Álcool e Drogas III em São Paulo para ampliação de autonomia em saúde mental e realização de uma prática de redução de danos: Realização de Oficinas de Apoio com trabalhadores sobre autonomia e uso de álcool, drogas e medicação, num processo de formação dos profissionais da equipe em rodas dialógicas de produção coletiva de saberes. Constituição de grupos de usuários como espaço de compartilhamento de experiências de uso de drogas e medicação, demandas de atenção em saúde, redes de apoio e projetos de vida. Grupos de gestão compartilhada e ruptura com as práticas verticais, medicalizantes e diretivas. Apoiador, gestor, usuários e trabalhadores são cogestores do processo. Uso do Guia da Gestão Autônoma da Medicação. Experiência: O dispositivo constitui um espaço mobilizador de cuidado de si, em que as dimensões de poder, saber e afeto estão imbricadas. O plano coletivo é evocado como o que estimula o uso ou protege contra o uso de substância, de forma que o governo de si varia em função das relações de grupo. Ao olhar para si, para o seu processo e sua participação nos encontros, os usuários afirmam um valor dessa participação em que se os usuários se sentem melhor: modificam suas formas de expressão, atenção, introspecção e valorizam a grupalidade como proteção e meio de promover a autonomia. A prática de cogestão entre trabalhadores, usuários e pesquisadores cria novas possibilidades de experiência de subjetividade num contexto de apoio. O coletivo se ocupa da pauta, dinâmica, ética, objetivo e sentidos do grupo, e promove articulações com a equipe e a instituição. A formação em serviço é a própria experiência de cogestão na construção do dispositivo. Permite aos trabalhadores olharem para suas condutas e perceberem expectativas, frustrações, julgamentos e confrontos com os usuários, em que depositam sobre eles a culpa pela adição, recaídas e consequências do uso de drogas. Ocorrem mudanças na relação profissional-usuário em direção a maior abertura, empatia, proximidade e leveza. Essa prática grupal se opera num plano de heterogeneidade e comunicação de diferenças de perspectivas e abre espaço para outras experiências subjetivas e a criação de novos valores em que estereótipos entram em crise: u  O lugar de dependente da droga, do medicamento ou do tratamento; u  A recaída como fraqueza pessoal e falha moral; u  O uso de substância como fuga da realidade; u  O uso de drogas como doença. O grupo é valorizado como meio de promover autonomia como: a) Espaço de proteção e grupalidade, cultivo de relações solidárias e cuidado compartilhado. b) Espaço de indagação, sem respostas pré-estabelecidas, focado no respeito ao sujeito e sua experiência. Considerações Consideramos que o conjunto desta experimentação favorece uma abordagem da Redução de Danos não focada no uso da substância, nem no comportamento individual relativo ao uso. O principal fator redutor de danos é um território existencial que se engendra a partir da grupalidade, um novo regime de afetabilidade em que é possível ver e rever com aceitação e respeito, sem críticas ou julgamentos, toda e qualquer narrativa de experiência de vida. A ampliação de autonomia no viver dos integrantes do grupo se deu de formas variadas sem ter como referência o uso de substâncias. No espaço de compartilhamento de cuidado dois analisadores ganham visibilidade: O primeiro é a ideia de abstinência que orienta uma direção nas relações de cuidado. Tanto os profissionais quanto os usuários gravitam em torno da abstinência como paradigma e meta do tratamento. O segundo é o tema da violência que permeia as relações no serviço, as relações entre os usuários e entre usuários e trabalhadores. É frequente notícias de óbito de usuários do serviço, seja em cenas de uso, seja por falta de atendimento de emergência. No âmbito da grupalidade e do cuidado compartilhado, as manifestações violentas, que incluem desabafos do pavor da morte pela droga, ganham lugar de fala e legitimidade. Abstinência e violência emergem como analisadores fundamentais nos processos de cuidado do sofrimento no campo de álcool e outras drogas.  

11424 ARTICULAÇÃO INTERINSTITUCIONAL: UMA ESTRATÉGIA PARA REORGANIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL
Aline Costa Rezende, Janine Barbosa Fajardo

ARTICULAÇÃO INTERINSTITUCIONAL: UMA ESTRATÉGIA PARA REORGANIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL

Autores: Aline Costa Rezende, Janine Barbosa Fajardo

Apresentação: O objeto dessa experiência é articulação interinstitucional entre Vigilância Sanitária (VISA) e Saúde Mental da Gerência Regional de Saúde e Ministério Público como estratégia de monitoramento da Rede de Atenção Psicossocial em um município da Zona da Mata Mineira. A partir da Lei nº 10.216/2001, que dispôs sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, bem como redirecionou o modelo assistencial em saúde mental, essa passou por uma mudança de paradigma com a instituição da Rede de Atenção Psicossocial, em 2011, pela Portaria 3088/2011. O foco passou a ser nos serviços substitutivos oferecendo uma rede articulada para o cuidado às pessoas com sofrimento ou transtorno mental e usuários de álcool e outras drogas. O município em questão possui uma unidade de CAPS AD e uma tipo I e 4 leitos de retaguarda em hospital geral. Desenvolvimento A Gerência Regional de Saúde da área de abrangência identificou deficiências na prestação do serviço nos dois CAPS, porém, não obteve grande êxito nas discussões, uma vez que as pendências mostraram-se de difícil solução. Assim, o Ministério Público interveio com a instauração de inquérito civil público para apurar as irregularidades. Em 2018, a partir desse inquérito civil público a respeito do funcionamento da Rede de Atenção Psicossocial, a Gerência Regional de Saúde foi acionada para realizar acompanhamento do CAPS AD e CAPS I quanto ao atendimento das cláusulas avençadas no Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta assinado pelo município. Foram realizadas 2 visitas técnicas conjuntas da VISA e Saúde Mental Regional aos serviços com intuito de melhorar a assistência dentro das normas sanitárias vigentes e da normatização da Saúde Mental. Impacto A interação mostrou-se benéfica uma vez que desencadeou uma série de mudanças no serviço. Dentre elas, a Secretaria Municipal de Saúde reestruturou o serviço em novo endereço, conforme notificações da VISA e houve contratação de coordenador de Saúde Mental. Entretanto, algumas pendências permaneceram, dentre elas, a falta de médico psiquiatra, o que demonstrou a dificuldade do município na manutenção de equipe mínima preconizada pelo Ministério da Saúde. Considerações finais: Uma das principais dificuldades relatadas foi referente à insuficiência do repasse financeiro apenas por parte do Ministério para custear o serviço. Essas ações demonstraram o potencial fiscalizatório e técnico para o funcionamento adequado dos serviços ambulatoriais de saúde mental, especialmente, neste momento em que o contexto nacional aponta para o desmanche dessa política de saúde.

11455 O CABELO CRESPO COMO ANALISADOR DO CUIDADO EM UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO: DO RACISMO AO EMPODERAMENTO
Luciana S. Alleluia Higino da Silva, Aline Porto Reis, Alexandre Maciel Guedes

O CABELO CRESPO COMO ANALISADOR DO CUIDADO EM UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO: DO RACISMO AO EMPODERAMENTO

Autores: Luciana S. Alleluia Higino da Silva, Aline Porto Reis, Alexandre Maciel Guedes

Apresentação: O cotidiano das instituições psiquiátricas produzem na maioria das vezes, relações hierarquizadas e hierarquizantes. Essa afirmativa fica evidente quando pensada pela ótica da questão étnico-racial. Segundo a Organização Mundial de Saúde (2001) as desigualdades raciais são as mais preocupantes.   Refere que é necessário que se adotem medidas que proporcionem um ambiente mais saudável para os grupos “desfavorecidos”.  O cabelo crespo traz uma raiz histórica e representativa associada a descuido e sujeira, adjetivado como cabelo ruim ou duro. O racismo tende a minimizar as possibilidades de diálogo das pessoas com os serviços e interfere diretamente na autoestima trazendo consequências na saúde e na saúde mental das pessoas. No tocante ao gênero os homens e as mulheres buscavam referências europeias para cuidar de suas mechas crespas ou cacheadas tentando de várias formas mantê-los “disciplinados”. Objetivo: Refletir sobre a representação do cabelo crespo no cotidiano do hospital psiquiátrico, sua relação com o racismo e apontar possibilidades para o empoderamento das pessoas internadas a partir do cabelo crespo. Desenvolvimento: Sob a abordagem qualitativa trata-se de um relato de experiência acerca do cotidiano das enfermarias psiquiátricas no que se refere à condutas racistas tendo o cabelo como analisador. Discutimos como essas práticas são referenciadas pelo modelo europeu de referência de beleza e limpeza. Vimos as práticas frequentes de cortes cabelos, justificados por dificuldade de pentear e na possibilidade de infestação por pedículos (piolhos), embora não exista trabalho institucional que justifique tal premissa. Em contrapartida iniciamos pequenos trabalhos individuais e coletivos onde tratamos a importância da manutenção do cabelo crespo como identitária da ancestralidade africana. Dessa forma essas ações afirmativas e de empoderamento e discussões coletivas tem se mostrado como ferramenta de valorização da cultura, de um olhar diferente sobre o cuidado do cabelo crespo. Estas atividades abrem caminhos para um diálogo entre os profissionais de saúde e as pessoas internadas no hospital psiquiátrico. Considerações finais: O cabelo crespo é a identidade da maioria das pessoas negras no Brasil e o modelo europeu branco não dá conta de responder a diversidade étnica do país. Tais ações devem compor o escopo libertário de um modelo a ser seguido. Devemos respeitar as diferenças e as diferentes forma de ser e de se estar na vida pois, acreditamos em práticas inclusivas e cuidadosas como determinantes para a saúde mental das pessoas.

11482 INDICADORES DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DE CRIANÇAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL PARTICIPANTES DO PROJETO DE EXTENSÃO JOGA AURORA
MAGALE KONRATH, Rodrigo Giacobo Serra, Tiago Garcia Souza, Eduarda Schafer Kostaneski, Suelen Cristina Ferreira, Quisi Anne de Lemos Brixner, Naiara Mews Oliveira

INDICADORES DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DE CRIANÇAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL PARTICIPANTES DO PROJETO DE EXTENSÃO JOGA AURORA

Autores: MAGALE KONRATH, Rodrigo Giacobo Serra, Tiago Garcia Souza, Eduarda Schafer Kostaneski, Suelen Cristina Ferreira, Quisi Anne de Lemos Brixner, Naiara Mews Oliveira

Apresentação: As atividades desportivas são um fenômeno transformador da realidade social e o seu papel é promover saúde, bem-estar e melhor qualidade de vida da população. Assim, é importante incentivar as pessoas a manter uma relação agradável e satisfatória com a prática dessas atividades em suas vidas, bem como fomentar ações para reduzir e erradicar determinantes que condicionam a sua prática. A qualidade de vida como acesso aos bens culturais e incorporação de hábitos saudáveis tem no esporte uma possibilidade ímpar para desenvolver políticas que buscam o movimento e a incorporação de práticas corporais no cotidiano das pessoas. Deve-se valorizar o esporte como interlocutor na promoção da saúde e busca de qualidade de vida, pois crianças e adolescentes podem ser beneficiados pela prática de atividades esportivas, tanto no campo da prevenção de doenças como na promoção da saúde. As contribuições podem ser observadas durante a infância e adolescência e, como consequência, geram mudanças de comportamento que as acompanham por toda a vida. O projeto Joga Aurora é uma parceria entre a Universidade Feevale e a Nike, com apoio da Prefeitura Municipal de Campo Bom, através da Secretaria de Educação. Tem como objetivo oportunizar a inclusão social, por meio da prática esportiva, contribuindo na qualidade de vida, no crescimento pessoal e na promoção da cidadania de crianças da área de abrangência da Universidade. Em 2019 foram atendidas123 crianças em faixa etária escolar, entre 07 a 12 anos, de ambos os sexos, da EMEF Edmundo Strassburguer, em vulnerabilidade social, onde se destacam indicadores de violação dos direitos humanos, como baixa renda familiar, evasão escolar, baixo índice de escolaridade e carência de espaços de lazer. As oficinas são realizadas por meio de atividades físicas e recreativas, com foco nos esportes coletivos. Nos atendimentos coletivos, são atendidas 4 turmas, com atividades 2x por semana e duração de 1h15min cada encontro. Com as turmas de alunos menores, são priorizadas atividades recreativas e cooperativas. Com os alunos maiores, as modalidades esportivas são periodizadas de forma trimestral, em oficinas realizadas por meio de atividades físicas e recreativas, possibilitando a vivência e aprendizagem dos esportes. Num primeiro momento são desenvolvidas atividades formativas e, em seguida, são aplicados os jogos adaptados, tendo como objetivo possibilitar o conhecimento da prática esportiva. Para além do esporte, a preocupação com a qualidade de vida e a aptidão física relacionada à saúde é uma constante. O projeto é liderado e desenvolvido pela por profissionais da Educação Física e, a partir de 2018, teve a inserção da área da Psicologia que realiza atendimentos individuais e coletivos. Além disto, foram realizadas reuniões com a equipe de professores para dar suporte ao trabalho desenvolvido. Desta forma, as oficinas se constituem como espaços de referência para o convívio grupal, comunitário e social e o desenvolvimento de relações de afetividade, solidariedade e respeito mútuo. Vale ressaltar o envolvimento da comunidade escolar, numa relação que promove aproximações e trocas entre Instituição de Ensino Superior, serviço e comunidade. Metodologia e Resultado: Como resultados do trabalho desenvolvido, tivemos impacto importante no que diz respeito a sintomatologia depressiva. Utilizou-se o inventário de depressão infantil de Kovacs (CDI), devido a presença de altos níveis verificados no início do projeto. O instrumento consiste em uma escala autoinforme com 27 itens que avalia sintomas cognitivos, afetivos, comportamentais e somáticos da depressão em crianças de 7 a 17 anos, na forma de uma escala likert que varia de 0 (ausência de sintomas) a 2 (sintomas graves). No ano de 2019, 50 (40,6%) crianças de um total de 123 apresentaram ponto de corte acima de 17 pontos. Destas crianças (50) 34 (68%) melhoraram, apresentando uma pontuação até 16 pontos. No entanto, 16 (32%) participantes (de 50 crianças) do projeto ainda apresentam uma pontuação acima. Isto reflete a necessidade de outras ações, como encaminhamentos para a rede de atendimento psicológico de Campo Bom, já que apresentam uma complexidade que demandam intervenções psicológicas de longo prazo. Atendendo ao objetivo de “Promover a saúde e qualidade de vida de crianças em situação de vulnerabilidade social”, nossa preocupação é voltada ao desenvolvimento de atividades diversificadas que corroborem ao objetivo. Para além das atividades físico e esportivas, mas associadas a atividades cooperativas e numa proposta interdisciplinar entre Educação Física e Psicologia e comunidade escolar, o trabalho tem se voltado a impactar positivamente nas crianças do projeto. Utilizamos o instrumento Kidscreen-52, desenvolvido para avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde de crianças e adolescentes, cujas respostas das questões são formatadas em escala do tipo likert de um a cinco pontos, sendo a média geral apresentada de 3,9. Dentre as 10 dimensões avaliadas pelo instrumento, a que apresenta o menor valor é a D7 (AFIN), que diz respeito aos aspectos financeiros. Com o escore de 3,0 esta dimensão reflete a vulnerabilidade deste público atingido. Por sua vez, a dimensão D9 (AESC) referente ao ambiente escolar, apresentou o maior índice: 4,3. Tal fato aponta para o quanto a escola tem cumprido seu papel social com relevância. Devemos continuar a voltar nosso olhar para compreender como é possível elaborar estratégias e intervir no crescimento destes índices. É crescente o número de crianças e adolescentes com excesso de peso nas últimas décadas, apresentando-se como uma epidemia global. No Brasil, o número de crianças obesas atinge proporções tão elevadas quando comparado a países desenvolvidos, e em função do crescimento do sedentarismo e hábitos alimentares inadequados, com um expressivo crescimento da população infantil e adolescente obesa, temos, por consequência, uma população adulta sofrendo com doenças crônicas. Nessa perspectiva, aplicamos a bateria de testes previsto no Programa Esporte Brasil (PROESP), voltada a avaliação da aptidão física relacionada a saúde (AFRS) de crianças e jovens. Os indicadores de crescimento, desenvolvimento corporal, motor e do estado nutricional, classificam os indivíduos na Zona Saudável e na Zona de Risco a saúde. O protocolo foi realizado no 1º e 2º semestre de 2019 e em todas as variáveis o número de alunos na zona saudável é maior que na zona considerada de risco para a saúde. A média geral aponta que 76,64% estão na Zona Saudável da AFRS, num crescente se comparada aos resultados do 1° semestre (72,28%). Considerações finais: Acredita-se que a detecção de crianças com alta sintomatologia depressiva e o consequente atendimento psicológico destas através de uma intervenção baseada na regulação emocional, possa corroborar para a melhora dos sintomas. Mesmo evidenciando um número maior de crianças eutróficas em nosso estudo, observou-se também uma tendência ao sobrepeso e a obesidade, ou seja, em zona de risco para a saúde. Nesse sentido, sugere-se que ações educativas referentes a hábitos alimentares e a importância de permanecerem engajados em atividades esportivas sejam fomentadas, impactando nos aspectos sociais, emocionais e físicos. A oferta de atividades de cunho sócio-recreativo-educativo, busca promover o exercício da cidadania e a inclusão social, contribuindo para a permanência na escola e a melhora de indicadores de saúde. Os resultados apresentados demonstram que estamos no caminho certo e novas medidas devem ser implementadas para colaborar com este público em condição vulnerável.

11567 PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL DO ADOLESCENTE NA ESCOLA: DESAFIOS PARA O ENFERMEIRO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Cláudia Mara Tavares, Aline Dias Gomes, Marilei Melo Tavares

PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL DO ADOLESCENTE NA ESCOLA: DESAFIOS PARA O ENFERMEIRO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Autores: Cláudia Mara Tavares, Aline Dias Gomes, Marilei Melo Tavares

Apresentação: A adolescência compreende uma etapa importante no desenvolvimento humano, sendo caracterizada por conflitos de natureza diversa, bem como de grande potência existencial. O perfil de mortalidade dos adolescentes no Brasil mostra que a maioria tem suas vidas interrompidas por causas externas de morbidade e mortalidade, alertando sobre a importância do direito a vida ser garantido nas agendas públicas. O maior êxito para se reduzir a mortalidade de adolescentes vítimas de causas externas é a realização de projetos que promovam articulação intersetorial. Embora haja no país um Programa Nacional de Atenção à Saúde do Adolescente, é raro encontrarmos nas unidades de saúde ações concretas de promoção à saúde mental ou apoio emocional aos adolescentes. A escola - em colaboração com as unidades básicas de saúde - constitui espaço privilegiado para o desenvolvimento de ações de apoio emocional/promoção a saúde mental do adolescente. Objetivo: identificar problemas emocionais dos adolescentes - estudantes do ensino médio e desenvolver estratégias de promoção da saúde mental com apoio de enfermeiro da estratégia saúde da família. Método do estudo: O método utilizado para a investigação foi o descritivo-analítico-experimental da sociopoética. Realizou-se experimentação estética por meio do dispositivo do grupo-pesquisador com 12 adolescentes. Resultado: A angústia e a ansiedade intensa foram referidas pela maioria dos adolescentes participantes da pesquisa, estando relacionadas à emergência da incerteza do futuro, insegurança pessoal, baixa autoestima, pressões advindas do ENEM e necessidade de tomada de atitude diante do porvir. Outro problema mencionado foi o bullying. Os adolescentes destacam que muitas vezes o sofrimento apresentado acaba subestimado pelos pais, colegas e a própria escola. Em função disso, alguns adolescentes disseram que não tentam mais enfrentar a situação. Conforme literatura consultada a angústia pode ser produto da antiprodução, que o mundo do instituído e do organizado exerce sobre as forças físicas, psíquicas e sociais, sendo um efeito indesejável, mas contornável com processos produtivos e criativos de existência. A participação do enfermeiro na escola decorreu da demanda frequentemente apresentada pelo diretor da escola à ESF local. O enfermeiro foi até a escola conversar com os dirigentes e professores, posteriormente realizou grupo de convivência com os adolescentes. A partir desses encontros foram propostas aos escolares ações teatrais, lúdicas e criativas que permitiram ampliar a relação do adolescente consigo mesmo, com o outro e com o ambiente escolar. Considerações finais: O estudo propiciou aos escolares experiências como sujeitos de direitos e detentores de lugares de fala e de coresponsabilização por sua saúde mental, incorporando ações promotoras de saúde e de criatividade na escola. Verificou-se que o ambiente escolar constitui espaço privilegiado para o desenvolvimento de ações de apoio emocional e promoção à saúde mental do adolescente a ser desenvolvido por enfermeiros que atuam na atenção básica em saúde.

12001 A IMPORTÂNCIA DO PLANTÃO PSICOLÓGICO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO E SAÚDE
Ana Cláudia Soares Silva, André Amorim Martins, Vitória Silva Martins

A IMPORTÂNCIA DO PLANTÃO PSICOLÓGICO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO E SAÚDE

Autores: Ana Cláudia Soares Silva, André Amorim Martins, Vitória Silva Martins

Apresentação: O presente artigo teve o intuito de abordar a importância do oferecimento de plantão psicológico nas instituições de ensino e de saúde, apresentando o plantão psicológico como um importante recurso para atendimentos psicológicos emergenciais e de acolhimento inicial de demandas relacionadas à saúde mental nesses contextos. Sabe-se que existem altos índices de pessoas acometidas por conflitos emocionais, expostas à fatores estressantes e outros problemas em que um profissional “psi” pode oferecer contribuições significativas, por essa razão, é importante que o sujeito procure um apoio profissional e que o encontre de forma acessível, especialmente em locais no qual convive rotineiramente. O presente trabalho visa, através do relato de experiência de estágio em Estratégia de Saúde da Família na Rede SUS em Divinópolis (MG), realçar o valor do plantão psicológico tanto para o atendimento de demandas nas instituições de ensino como também no serviço público de saúde. Essa forma de serviço permite ao indivíduo não enfrentar o seu problema sozinho oferecendo o serviço da psicologia para auxiliar os alunos e cidadãos no desenvolvimento de competências e habilidades, bem como no trato de demandas ligadas à saúde mental, com uma escuta qualificada. Além disso, o atendimento psicológico através de plantões oferece campo de estágio para a formação de acadêmicos em psicologia, o que contribui significativamente para a formação profissional dos estudantes do curso e complementam o trabalho desenvolvido em serviços da rede de saúde pública, de suma importância para a ampliação dos serviços de saúde mental e formação de profissionais comprometidos com a construção do cuidado.  Assim, o plantão aparece como uma ferramenta de suma importância para o acolhimento do sujeito.  

11084 PRODUÇÃO DO CUIDADO AOS USUÁRIOS DE CRACK EM SITUAÇÃO DE RUA E QUE VIVEM COM HIV/AIDS
Ana Camila Bezerra de Sousa Silva, Cleysiane Gonçalves Pequeno, Vitória Silva de Aragão, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Leilson Lira de Lima

PRODUÇÃO DO CUIDADO AOS USUÁRIOS DE CRACK EM SITUAÇÃO DE RUA E QUE VIVEM COM HIV/AIDS

Autores: Ana Camila Bezerra de Sousa Silva, Cleysiane Gonçalves Pequeno, Vitória Silva de Aragão, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Leilson Lira de Lima

Apresentação: O vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) caracterizam-se como um desafio mundial desde a década de 80, no Século XX, visto que envolve repercussões epidemiológicas, socioculturais, econômicas e clínicas na vida das pessoas acometidas, tornando-se um importante marco histórico. Por seu caráter pandêmico, o HIV representa um dos maiores problemas de saúde pública atual e demanda atenção especial por parte da sociedade e dos profissionais de saúde; tendo como objetivo proporcionar uma qualidade de vida para esses sujeitos. Partindo da perspectiva do cuidado, Epele (2012) traz que o cuidado implica diretamente as oposições e as tensões entre autonomia/dependência, controle/atenção, saber/prática, fatos e valores. Logo, concatenar o cuidado com as pessoas que vivem com o HIV/AIDS, usuários de crack e que vivem em situação de rua, torna-se imprescindível, partindo do contexto de vulnerabilidade e as relações sociais que estão inseridas. Gois (2017) apresenta em suas contribuições que além dos dados epidemiológicos, viver com HIV/AIDS e fazer uso de crack se torna ainda mais singular no Brasil, uma vez entendida a construção social e simbólica sobre a AIDS e as drogas existente no país, que revela a presença de um imaginário social negativo. Dito isto, ainda se faz necessário questionar: como se dá a produção do cuidado às pessoas usuárias de crack que vivem com HIV/AIDS e em situação de rua? Logo, tem-se como objetivo descrever a produção do cuidado às pessoas usuárias de crack que vivem com HIV/AIDS e em situação de rua. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa com base na hermenêutica fenomenológica de Paul Ricouer. Tendo em vista que a hermenêutica aventa não apenas uma interpretação da intenção do pesquisador, mas, ela alcança a compreensão do discurso; sendo assim, capaz de romper qualquer ligação com o idealismo. O estudo foi realizado na cidade de Fortaleza, no Estado do Ceará; em um serviço de referência para doenças infectocontagiosas, entre elas o HIV/AIDS. A coleta de dados ocorreu no mês de janeiro do ano de 2020. As entrevistas tiveram questionamentos mais amplos sobre o objeto investigado e, na medida que fossem respondidas, perguntas mais pontuais foram realizadas. Vale ressaltar que as entrevistas foram gravadas e armazenadas na íntegra em arquivos digitais de áudio, com autorização prévia dos entrevistados. Os participantes do estudo foram os profissionais de saúde que, porventura, alcança: 3 médicos/e ou residentes, 3 enfermeiros, 3 técnicos de enfermagem, 3 auxiliares de laboratório, 3 psicólogos e 3 assistentes social. Quanto aos critérios de inclusão: estar no serviço há mais de 1 ano; prestar ou ter prestado atendimento direto à PVHA e em situação de rua e em uso de crack. O critério de exclusão foi: estar de licença ou de férias no momento da pesquisa. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Christus – UNICHRISTUS, sob o número do parecer: 3.425.003; asseguro ainda, que o presente estudo buscou e busca respeitar os princípios da Bioética descritos na resolução 466/12. Resultado: Com base nos resultados encontrados, observamos a importância de um sistema capacitado para atender e prestar um cuidado especializado as pessoas que vivem em um contexto de vulnerabilidade social, como por exemplo, é o caso de pessoas que vivem com HIV/AIDS, usuários de crack e em situação de rua; e que repercussões este cuidado, ou a falta dele, pode ocasionar. A experiência no campo da pesquisa ao mesmo tempo em que trouxe uma nova reconstrução de ideias também proporcionou a possibilidade de refletir sobre a promoção de cuidados a essas pessoas. Essa promoção depende da capacitação dos profissionais de saúde são para lidar e promover um cuidado singular e integral. Mediante as falas dos profissionais de saúde é possível perceber a falta de capacitação para com os usuários de serviço, em especial as PVHA, em situação de rua e usuários de drogas. A quebra de vínculo ou a falta de atenção, gera, portanto, uma insatisfação por parte dos usuários, levando em consideração a falta de conhecimento acerca da realidade dos mesmos. Para Góis, os usuários atendidos acabavam sendo anulados por generalizações e rotulados como “problemáticos” e “culpados” por qualquer possível piora em sua situação de saúde. Quando falamos da forma como esses sujeitos são vistos, é necessário atentarmos para uma realidade que perpassa e ultrapassa a doença de base, que podem ser tanto o HIV/AIDS quanto outras doenças infectocontagiosas. Contudo, vale questionar em que situação de vulnerabilidade aquele sujeito está inserido, para assim, entender que ele vai ou não ser capaz de seguir com o tratamento. No entanto, embora haja um tratamento para a doença de base do paciente, não foi possível perceber um tratamento que se adeque a realidade do sujeito, tendo em vista que o usuário não se limite a sua doença de base, mas, existem fatores psicossociais e de vulnerabilidade que interferem diretamente na recuperação desse sujeito. Importante ressaltar o achado que, motivados, na maioria das vezes pela a abstinência, os usuários saem de “alta a pedido”; e fazendo-se automático a reincidida ao serviço de saúde. Não obstante, também foi identificada a falta de políticas para com esses sujeitos, como por exemplo, lugares de acolhimento após terem alta do serviço e que precisam seguir com o tratamento; partindo do pressuposto que, o estado preconiza que é seu dever ofertar: segurança, moradia, assistência à saúde, entre outros deveres aos cidadãos brasileiros previstos na Constituição federal, de 1988. Por isso, os profissionais de saúde precisam readequar a forma de seus atendimentos e cuidado, entendendo assim, que cada sujeito possui particularidades e singularidades. Considerações finais: À guisa de conclusão, os profissionais de saúde possuem uma responsabilidade que precisa ir além do que, teoricamente, é visto. Compreendendo que muitos usuários realizam a “alta a pedido”, precisamos entender o porquê disso se estender por tanto tempo e por tantas pessoas. Entretanto, compreendemos que a “alta a pedido” é entendida como a fissura pela droga, em que, o sujeito encontra-se em abstinência. Logo, solicita a alta com o objetivo de usar a droga e não sofrer mais com a abstinência. Mas, até onde vai o olhar dos profissionais de saúde neste quesito? Onde estão as medidas de redução de danos para que estes sujeitos consigam terminar seu tratamento sem serem “devorados” pela a abstinência? Contudo, faz-se necessária a capacitação e sensibilização dos profissionais de saúde para com estes sujeitos a fim de minimizar os danos e promover um cuidado que se adeque, de forma particular, a cada sujeito, não só tratando a sua doença de base, mas englobando um problema social que é também um grande problema de saúde pública. Referências: BRASIL. Constituição da República Federativa. 1988. Brasília: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, 2004; EPELE, M. Sobre o cuidado de outros em contextos de pobreza, uso de drogas e marginalização. Mana, Rio de Janeiro , v. 18, n. 2, p. 247-268, Aug. 2012.; GÓIS, J. S. Entre “noieiros”, “drogueiros” e “anormais”: experiências de vida das pessoas que vivem com HIV/AIDS e fazem uso de crack [recurso eletrônico]. 2017. Universidade Estadual do Ceará. Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva. Jhennifer de Souza Góis, 2017. 136p; JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago,2008. 176p.; PANARRA, B. A. C. S. et al. Vítimas e culpadas: representações sociais sobre mulheres que vivem com HIV. Rev Cuid, Bucaramanga , v. 8, n. 3, p. 1887-1898, Dec. 2017.; RICOEUR, P. Do texto à acção. Trad. Alcino Cartaxo e Maria José Sarabando. Porto: RÉS, 1989.

9550 DESINSTITUCIONALIZAÇÃO EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Letícia Ramos da Silva, Tiago Braga do Espírito Santo, Clarissa Terenzi Seixas

DESINSTITUCIONALIZAÇÃO EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Autores: Letícia Ramos da Silva, Tiago Braga do Espírito Santo, Clarissa Terenzi Seixas

Apresentação: O presente texto traz como conceito-ferramenta a desinstitucionalização, entendida como um processo complexo, com o objetivo de transformar as relações de poder entre instituição e os sujeitos. Desta forma, não se olha para doença, mas sim para a existência-sofrimento dos sujeitos e sua relação com a sociedade. Nessa direção, desistitucionalizar é colocar em prática modos de cuidado afinados à produção de vida construída na micropolítica do cotidiano, potencializando o reconhecimento das diversas maneiras de existência dos sujeitos. Nesse sentido, alinhados aos pressupostos da Reforma Psiquiátrica Brasileira, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), devem pautar-se na lógica da desinstitucionalização. O presente estudo teve como objetivo investigar o conhecimento dos trabalhadores de um Centro de Atenção Psicossocial acerca da desinstitucionalização. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa descritiva, com caráter exploratório e abordagem qualitativa, realizada em um CAPS II no município do Rio de Janeiro. A coleta de dados foi realizada por meio da entrevista semiestruturada com os trabalhadores do serviço, no período de janeiro a março de 2019. Foram consultados, 10 profissionais. A análise dos dados foi realizada pela análise temática de conteúdo de Bardin. Resultado: Os profissionais do CAPS compreendem a desinstitucionalização alinhada a desconstrução de paradigmas, possibilitando mudanças nas práticas dos trabalhadores no cotidiano do serviço. Com isso, apresenta-se no estudo ferramentas e ações que efetivam a desinstitucionalização, como o território, as redes vivas e a assembleia do serviço. Estas construções almejam a consolidação da autonomia, cidadania e protagonismo dos usuários. No entanto, percebe-se que ainda há profissionais no CAPS que compreendem a desinstitucionalização como sinônimo de desospitalização de pessoas que passaram por longas internações no Hospital Psiquiátrico, o que corrobora para a continuidade de práticas manicomiais no dia a dia do serviço. Considerações finais: A desinstitucionalização, alinhada ao viver em liberdade, deve ser uma direção de trabalho dos profissionais do CAPS que pretende apostar em novos modos de lidar com a loucura e de produzir cuidado, alinhado a autonomia, ao protagonismo e à validação dos desejos dos sujeitos, para que possibilite a invenção de novas maneiras de viver e de estar no mundo.