392: O trabalho em saúde mental e suas multiplicidades
Debatedor: Maria Jacqueline Abrantes Gadelha
Data: 31/10/2020    Local: Sala 12 - Rodas de Conversa    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
9045 ESTRATÉGIAS DE CUIDADO PARA USUÁRIODE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS DO MUNICÍPIO DE RESENDE-RJ: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
LIRYS Figueiredo CEDRO, Ândrea Cardoso de Souza

ESTRATÉGIAS DE CUIDADO PARA USUÁRIODE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS DO MUNICÍPIO DE RESENDE-RJ: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: LIRYS Figueiredo CEDRO, Ândrea Cardoso de Souza

Apresentação: O município de Resende localizado no estado do RJ apresenta umaRede de Atenção Psicossocial(RAPS) que inclui o Centro de Atenção Psicossocial(CAPS)  Este dispositivo tem a função de realizar atendimentos individuais, oficinas, e visitas domiciliares de acordo com a necessidade do usuário. Durante o atendimento individual, há a realização de escuta ativa, acolhimento, para a partir daí, fazer um levantamento das necessidades e demandas para aelaboração do projeto terapêutico singular à luz da redução de danos. Neste trabalho, abordaremos sobre o atendimento individual e suas vertentes como a elaboração do Projeto Terapêutico Singular (PTS), tendo como orientação a redução de danos. É importante salientar que, num primeiro atendimento, o mesmo passa por um acolhimento, onde é, logo após encaminhado para um profissional do território do qual o sujeito ocupa, onde é sua moradia, local em que se estabelece a rede de apoio. No CAPS AD, trabalhamos dentro da perspectiva de redução de danos que tem a proposta de minimizar os danos, sejam estes, físicos ou não. Temos a proposta de atuação que visa não apenas às necessidades de saúde, bem como tudo que abrange o seu projeto de felicidade, ou seja, de produção de sentido em sua vida. O objetivo deste relato constitui em descrever as situações problemas e as estratégias de cuidados voltadas a usuário de álcool do CAPSAD de Resende RJ desde seu ingresso no dispositivo. -A proposta é de fazer uma descrição das situações problemas e estratégias de cuidados frente às situações problemas apresentados Isto com o intuito de implementação da redução de danos por meio de um atendimento singular. A situação problema, em que certo usuário apresentava, era de um uso intenso de álcool, sem perspectiva de redução de uso. Ao longo dos atendimentos, houve uma produção de sentidos em sua vida dentro da perspectiva da redução de danos. Para ilustrar, inicialmente, foram realizadas ações de educação em saúde, esclarecendo para o mesmo o que seria redução de danos. Valorizou-se também sua iniciativa em comparecer, ou seja, de chegar ao serviço para se cuidar. O grande diferencial foi acolher suas questões de vida e trabalhar com as possibilidades de cuidado tanto no aspecto físico como no sócio cultural. Houve incentivo à sua integração familiar e ao retorno às atividades de lazer que devido ao uso problemático do álcool deixara de participar (como eventos familiares, caminhadas, prática desportiva de futebol). Nesse mesmo ínterim, oriento-o a evitar pessoas, lugares e situações que o levem a consumir bebidas alcóolicas o que inclui a adoção de estratégias de evitação e pensar, na questão financeira, colocar na ponta do lápis o quanto economizaria se reduzisse o consumo de etílicos como participação em passeios excursões em família, ou mesmo contribuindo melhor nas despesas domésticas. Também foi proposto a integração do usuário às oficinas, sendo que elaboração do projeto terapêutico se considero também o desejo do usuário, no processo de escolha das oficinas. Como o usuário chegou ao serviço com humor deprimido e pouco comunicativo houve a proposta de sua inserção em um a oficina que pudesse desenvolver melhor habilidades como a de comunicação, a de futebol por gostar de esportes e a de fuxico/ mosaico por gostar para desenvolvimento de habilidades manuais visto que já atuou como pintor, pedreiro em sua vida laboral. Então, nesse sentido, a proposta era trabalhar com a ideia de trabalho como valor social e não apenas com fins remuneratórios. O usuário chegou a trabalhar fora, porém acabou adoecendo, soubemos desta informação por contato telefônico.  Com a busca ativa, o usuário retornou ao CAPS AD  após relativa melhora da enfermidade, porém com alteração de seu projeto terapêuticonaquele momento específico. Para exemplificar, como tinha necessidade de fazer repouso, reduzimos sua frequência para semanal, suprimindo a oficina de futebol, pois precisa de poupar energia. E, houve o incentivo a acessar dispositivos da rede que pudessem atender sua demanda, como PSF, onde, estava indo diariamente fazer a troca de curativo na perna. Com a sua completa recuperação de questão clínica retomou ao Projeto Terapêutico Singular inicial. Com essas ações, houve melhora da autoestima e autoconfiança do usuário de forma que, hoje, já exerce um papel de importância em sua família: é aquele que foi designado a administrar as medicações do próprio pai em casa, por exemplo. Sim, o mesmo sai de uma situação de invisibilidade para uma situação de importância o que nos remete sobre a relevância de se trabalhar com a tecnologia leve o que inclui o acolhimento e escuta ativa. O mesmo também conseguiu diminuir o uso de álcool, consumindo-o apenas de forma ocasional como em festas de fim de ano, aniversários e, também realiza redução de danos no sentido de fazer a ingesta hídrica, bem como se alimentando em situações de consumo de etílicos no sentido de aumentar a saciedade e diminuir o consumo. Com a oficina de jornal, o mesmo obteve melhora do isolamento social, e se tornou mais comunicativo. O envolvimento nas atividades proporcionadas pelo CAPS AD também auxiliou o usuário avoltar a compreender queparticipar dos eventos familiares e retorno às atividades de lazer, bem com ajuda a família em tarefas domésticas, bem como em momentos de adversidades no cuidado com o pai adoecido. Com este relato de experiência, foi possível fazer o usuário refletir sobre outras formas de cuidado não farmacológicas, oque inclui a compreensão e implementação da redução de danos de uma forma mais ampla. Também foi possível, ao mesmo perceber a importância de seu acompanhamento terapêutico como forma de fortalecê-lo e aumentar suas possibilidades de circulação no território quando lhe é proposto realizar atividades de lazer, e atividades desportivas, e trabalhar com a questão da sua autoconfiança quando lhe é proposto participar das oficinas de artesanato, pois de alguma forma gera um produto, havendo a realização de um trabalho como valor social. No caso da oficina de jornal, ao interagir, com a coletividade, o mesmo sai do isolamento, consegue melhorar da timidez e articular suas ideias, bem como há participação de espaços de coletividades de proporcionam ajuda mútua e compartilhamento de experiências e com isso, sente-se, de alguma forma, fortalecido.

9188 O CUIDADO EM GRUPO EM UM CAPSAD III: EXPERIÊNCIA A PARTIR DO MODELO TRANSTEÓRICO DE MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
Cosme Rezende Laurindo, Mariana de Santana Gomes, Cássio Ricardo Mendes Ferreira Castelani

O CUIDADO EM GRUPO EM UM CAPSAD III: EXPERIÊNCIA A PARTIR DO MODELO TRANSTEÓRICO DE MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

Autores: Cosme Rezende Laurindo, Mariana de Santana Gomes, Cássio Ricardo Mendes Ferreira Castelani

Apresentação: A psicoterapia de grupo, por se tratar de uma estratégia de baixo custo e que não demanda grande quantitativo de insumos físicos para seu desenvolvimento, vem se tornando uma prática bastante presente nos serviços substitutivos, tais como os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad). Para que haja maior efetividade das intervenções grupais na área de álcool e outras drogas, pode-se utilizar o referencial do Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento (MTT), que permite leitura da motivação para a mudança segundo a qual o sujeito evolui através de cinco estádios, não necessariamente lineares, que permitem identificar quando ocorrem determinadas mudanças, assessorando nas intervenções a serem desenvolvidas. Sendo assim, desvendar a aplicabilidade do MTT e identificar os benefícios que o mesmo traz frente ao direcionamento e organização dos sujeitos nas intervenções grupais de um CAPSad é o objetivo deste estudo. Desenvolvimento: Este trabalho trata-se de um relato da experiência de organização de intervenções grupais em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas CAPSad III de um município da Zona da Mata Mineira, composto por uma equipe de 16 profissionais diaristas (três enfermeiras, cinco assistentes sociais, quatro psicólogos e quatro técnicos de enfermagem), responsáveis por 06 regiões no município (centro-oeste, nordeste, leste, sudeste, norte, sul), de população estimada para quase 570 mil pessoas. Volta-se à descrição e crítica quanto a proposta de oferta de atividades grupais em consoante com o MTT, a partir da avaliação da motivação dos usuários do referido serviço, com direcionamento a um dos três tipos de grupos ofertados, cada qual dialogando diretamente com uma ou mais etapa da escala de motivação, dentre eles: Possibilidades do Cuidado, voltado à usuários no estádio pré-contemplativo que demonstrem possibilidade de trabalho em grupo, bem como usuários no estádio contemplativo; Manutenção do Cuidado, voltado a usuários que estejam no estádio de preparação e ação; e Gestão do Cuidado, voltado a usuários que estejam no estádio de manutenção. Os usuários em estádio de recaída são avaliados individualmente para inclusão em cada um dos três grupos, a depender do contexto. Os grupos acontecem com periodicidade variada entre semanal ou quinzenal, sendo conduzidos por profissionais da própria instituição, pautados em metodologia dialogada e lúdica, visando participação ativa e construção coletiva dos temas discutidos a cada encontro, sempre aberto ao inesperado. Apresentam curta duração, atendo-se de 60 minutos a 90 minutos, de acordo com a demanda dos participantes. De maneira geral, cada grupo tem a proposta de deter caráter de aprendizagem, propor execução de uma atividade predeterminada, seja através de reflexão ou de exercícios práticos, e ter viés lúdico, de tal maneira que seja cativante, sem que se perca o foco e o direcionamento da prática. DISCUSSÃO As atividades de grupo destacam-se por serem a modalidade de intervenção mais utilizada, seguindo as diretrizes vigentes do modelo de Atenção Integral em Saúde Mental no Brasil, no âmbito da média complexidade, sendo a estratégia que privilegia as trocas de experiência, a comunicação entre pares e construção conjunta de mudanças. Visando fundamentar teoricamente a realização dos grupos, optou-se por construir grupos terapêuticos a partir da MTT, visto tratar-se de um referencial que cada vez mais é utilizado nos contextos de saúde. A MTT, desenvolvida por Prochaska e DiClemente em 1982, tem como base o conceito de motivação enquanto estádio de prontidão para a mudança (estádio interno, mutável através de fatores externos), sendo que o sujeito transita por cinco estádios, não necessariamente lineares, que permitem identificar quando ocorrem determinadas mudanças, bem como direcionam as intervenções a serem desenvolvidas. São definidos os seguintes estádios: pré-contemplação; contemplação; determinação; ação e manutenção. O estádio de recaída faz igualmente parte deste ciclo. A marca do estádio de pré-contemplação é a resistência em reconhecer ou modificar um problema, sendo que, neste estádio, dificilmente o usuário procura ajuda por si mesmo, recebendo motivação externa para início de tratamento (questões judiciais, familiares). Porém, nota-se que há abertura para receber informações sobre o risco associado ao seu nível e modo de consumo de droga. Já no estádio contemplativo, o usuário passa a considerar a possibilidade de mudança, refletindo sobre as implicações de seu comportamento, sem ainda estar preparado para efetivar mudanças. Para ambos os estádios, a proposta em paralelo da instituição é o Grupo de Possibilidades do Cuidado, através do qual desenvolve-se ações voltadas a: fornecer informações  que encorajam a interrupção ou diminuição do uso de drogas; construção e manutenção de vínculo; incentivar ao levantamento de vantagens e desvantagens do modo de usar a droga. Quanto ao estádio de preparação, a marca é o reconhecimento frente ao uso de drogas enquanto causador de problemas, bem como preparação para mudança de comportamento, aberto à construção de estratégias, apesar de ainda predominar a ambivalência. No estádio de ação, há motivação para tomada de atitude e efetuação de mudança. A proposta da instituição para usuários identificados nestes estádios é o Grupo de Manutenção do Cuidado. Neste grupo as ações voltam-se a: construção de planos para mudança; levantar estratégias de enfrentamento das dificuldades a partir da identificação das situações de risco para o uso de drogas; pensar em alternativas no comportamento frente situações de recaída; aproximar família do tratamento; afinar com equipe quanto intervenção farmacológica e trabalhar com o usuário expectativas frente ao uso de medicamentos; comemoração de mudanças e sucessos. E em relação ao estádio de manutenção, observa-se que se preservam e fundamentam-se os valores adquiridos, com ação já implementada, demandando encorajamento e reforço para que diminua o risco de recaída, identificando-se maior autonomia e possibilidade de acesso de outros pontos de atenção na rede. A proposta da instituição para este estádio é o Grupo de Gestão do Cuidado, em que são realizadas as seguintes ações: fortalecimento das estratégias de interrupção do uso de drogas ou de redução de danos; preparação do sujeito para transferência de cuidados para outros pontos da rede, sendo informada essa importância desde o momento do acolhimento na instituição; articular com outros pontos de atenção do território para sustentação das estratégias implementadas até o momento; reavaliação de intervenção medicamentosa; investimento intenso na gestão autônoma do processo de cuidado. Destaca-se que os grupos não se caracterizam enquanto equipamentos enrijecidos, com avaliações constantes quanto estratégias utilizadas, visando ofertar um cuidado integral. A circulação dos usuários por entre os grupos dá-se de forma bastante orgânica, a partir da reavaliação do PTS, uma vez que não se trata de um processo necessariamente linear, podendo um usuário estar num estádio diferente de quando entrou no grupo, assim, trazendo novas vivências para o grupo, contribuindo com experiências que foram mais favoráveis ou não para o seu tratamento e sua mudança de estágio motivacional. Considerações finais: Os grupos terapêuticos com usuários de saúde mental são equipamentos importantes de possibilidade de tratamento, além de ressocialização e inserção social, visto tratar-se de espaço voltado para o agir e o pensar coletivos, analisados por uma lógica própria ao paradigma psicossocial que é respeitar a diversidade, a subjetividade e a capacidade de cada sujeito. Este equipamento torna-se ainda mais valioso a partir da fundamentação teórica de organização de realização, sendo que foi possível perceber a aplicabilidade do MTT frente a grupos em CAPSad.

9283 A INSERÇÃO DA PALHAÇARIA EM CONTEXTO HOSPITALAR
Walan Cardoso, Helena Souza, Ronilda Bordo, José Silva, Edilene Tenório

A INSERÇÃO DA PALHAÇARIA EM CONTEXTO HOSPITALAR

Autores: Walan Cardoso, Helena Souza, Ronilda Bordo, José Silva, Edilene Tenório

Apresentação: O processo de hospitalização pode ser marcado por intenso sofrimento, acompanhado de estresse e alterações na saúde mental do sujeito, visto que no hospital o paciente é constantemente exposto a procedimentos médicos e tem pouco espaço para falar e ser escutado em suas demandas emocionais, o que beneficiaria o seu humor. Especialmente nos casos de diagnósticos graves, o sujeito rompe toda uma rotina já antes estabelecida no seu cotidiano, o que pode resultar em depressões e ansiedades. Nesse contexto, a palhaçaria que é definida como a arte de levar alegrias, através de gestos espalhafatosos, mímicas, músicas, interpretações, danças, improvisações em que pode abrilhantar qualquer ambiente. Porém, visa ao acolhimento destes sujeitos, potencializar o bem estar dos hospitalizados assim como de seus acompanhantes neste processo. O objetivo desse trabalho é apresentar os benefícios trazidos pela palhaçaria no contexto hospitalar. Para tanto, o método utilizado foi uma revisão bibliográfica sobre como a palhaçaria influencia positivamente na vida do paciente, a escolhadas pessoas que se envolvem com esta prática e, também, algumas dificuldades enfrentadas no contexto hospitalar para que a palhaçaria esteja presente. A atividade de palhaçaria pode ser desenvolvida por profissionais da própria equipe multidisciplinar do hospital, como médicos, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, dentre outros, mas é possível também aparticipação popular sem vínculos empregatícios com o hospital. Com a crescente quantidadede grupos que oferecem esse tipo de serviço no ambiente hospitalar a inserção do palhaço tem mostrado resultados interessantes, melhorando o humor dos pacientes e acompanhantes que passam por internações hospitalares. A literatura da área aponta que a palhaçaria contribui para um ambiente mais acolhedor e humanizado, influenciando diretamente no processo de cura dos pacientes.

9663 RECREAÇÃO COMO UM ATO DE VIDA: UMA AÇÃO DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO REALIZADA EM UMA ESCOLA INFANTIL DO MUNICÍPIO DE TEFÉ POR UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
Geimisson Amorim Gil, Adriana Moreira, Renata Figueiró, Adriano Fernandes, Lidiana Dias

RECREAÇÃO COMO UM ATO DE VIDA: UMA AÇÃO DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO REALIZADA EM UMA ESCOLA INFANTIL DO MUNICÍPIO DE TEFÉ POR UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

Autores: Geimisson Amorim Gil, Adriana Moreira, Renata Figueiró, Adriano Fernandes, Lidiana Dias

Apresentação: O objetivo do trabalho é relatar sobre uma ação de saúde desenvolvida pelo Núcleo Ampliado à Saúde da Família (NASF) na Escola Municipal Bertolhetia Excelsa no município de Tefé no bairro Vila Nova, por meio de atividades educativas, prevenção ao suicídio e também um dia de recreação voltada aos alunos desta escola, como também todas as crianças do bairro. Constantemente vemos nos noticiários de televisão, redes sociais e todos os meios de comunicação, histórias trágicas de pessoas que cometem suicídio, entre elas jovens, adultos, idosos e até mesmo as crianças e adolescentes. No município de Tefé nos anos de 2017 e 2018 tivemos muitos casos de suicídio e dentre os óbitos registrados, o que nos chamou muita atenção foram os casos envolvendo crianças e adolescentes, fator este que nos impulsionou a desenvolver um projeto de intervenção através da equipe multidisciplinar do NASF, devido ao mês alusivo à Campanha contra o Suicídio preconizada pelo Ministério da Saúde (MS) que acontece todo o mês de setembro denominado “ Setembro Amarelo”, intensificamos as ações de saúde e foi pensado numa intervenção para evitar que mais pessoas cometessem este ato. Foi realizado um estudo sobre esses óbitos citados anteriormente, e a partir daí, percebemos que neste índice havia uma criança, estudante da Escola Municipal Bertholletia Excelsa, e com essa informação obtida, a equipe procurou a escola para entender melhor o caso, conhecer um pouco da realidade do local, dos alunos, bem como a área em que a escola está situada. Através desse levantamento realizado na escola, os professores então pediram ajuda para uma intervenção urgente no ambiente escolar, devido terem ouvido histórias de que outras crianças estavam anunciando cometer suicídio, onde passaram a observar mudanças de comportamentos e até alto mutilação, escondidas por baixo das blusas de moleton que esses alunos usavam, gerando uma preocupação ainda maior para a equipe de saúde e professores.  Após todo esse levantamento, foi elaborado um projeto macro de intervenção para ofertar atividades recreativas, lúdicas e principalmente trabalhar questões que pudessem trabalhar a escola, os alunos, professores e a família, afim de estimulá-los à uma reflexão sobre a importância da prevenção, promoção à saúde e a valorização da vida. Desenvolvimento: No primeiro momento no mês de agosto de 2019, antes da execução do projeto de intervenção, este foi apresentado para os pais e professores da escola, que demonstraram interesse em participar e apoiar a equipe a desenvolvê-lo. Foi um momento produtivo, de escuta, interação entre os participantes e até mesmo de muita emoção, demonstradas nas suas falas sendo visível a tristeza e preocupação, ao relatarem dificuldades em educar seus filhos, uma vez que vivem em um ambiente propício ao uso álcool e drogas, violência, e outros fatores que favorecem para um possível pensamento suicida. No segundo momento, em setembro de 2019 foi dado continuidade ao projeto, que se concretizou com a ação, ofertado um dia de lazer para estudantes e não estudantes do bairro Vila Nova, com faixa etária de 07 à 12 anos. Foi um momento de muita alegria, descontração e diversão, em que estes participaram de diversas brincadeiras, como: corrida de saco, cabo de guerra, corrida com obstáculos, fizeram ainda torcida organizada para as competições em equipe, distribuídas nas cores verde, amarelo, azul e branco. Teve também uma dramatização falando sobre a prevenção ao suicídio, realizada pela equipe do NASF, que contou a história de um jovem que não recebia atenção da família e amigos, sofria bullyng na escola e com isso começou a ter mudanças de comportamentos, mas com ajuda da escola e dos professores, conseguiu mudar a forma de pensar, fazendo-o acreditar o quanto a vida é importante e o seu valor no mundo. Paralelo as atividades acontecidas, foram ofertados atendimentos psicossocial aos alunos, pais e professores que desejavam fazer uma consulta. Por fim foi servido um lanche aos alunos que visivelmente estavam muito empolgados, alegres e satisfeitos com todo aquele momento vivido. Resultado: Poder levar à esses alunos um momento que oportunizou uma vivência do brincar, e mostrar o quanto a vida deve ser aproveitada, serviu para tirar o foco das questões sobre suicídio tão vivenciadas naqueles últimos meses, e ainda pôde contribuir para que estes pudessem evitar pensamentos suicidas, ora comentados na escola por alguns alunos, que chegaram a pensar em cometer o ato, sentindo-se influenciados pelos outros casos acontecidos. A ação trouxe ainda uma oportunidade para os professores serem os incentivadores da continuidade deste trabalho, pois com a ação, foi observado que mesmo que a escola não ofereça uma estrutura adequada com quadra, espaço físico amplo, não podemos descartar a possibilidade de oferecer momentos de lazer e recreação para esses alunos. Outro ponto que podemos destacar foi o momento da escuta inicial realizada pelos Psicólogos e Assistentes Sociais envolvidos na ação, que ajudou a identificar determinados casos que precisavam de maior atenção e acompanhamento de saúde. Considerações finais: É desafiador realizar um trabalho de prevenção ao suicídio, principalmente quando temos neste cenário, histórias de crianças e adolescentes vivendo em total vulnerabilidade social. Mas ao mesmo tempo é gratificante poder ofertar momentos de tanta alegria e aprendizado para uma população tão carente, esquecida e muitas vezes negligenciadas pelos seus próprios familiares. Portanto, fazer saúde sempre será um desafio e somente através do planejamento, organização e parcerias de todos os setores que queiram fazer funcionar a rede de atenção, como foi o caso neste relato, que aconteceu porque houve a busca e interesse de duas Instituições, Saúde e Educação, para se envolver nesta luta que é de todos. Dessa forma, reafirmamos com a escola o compromisso da parceria, da continuação da ação, da importância de cada profissional envolvido neste trabalho, como protagonista na vida de cada aluno. Por fim nos propusemos a periodicamente realizar atividades neste contexto junto à escola, que promovam o bem estar, a segurança, a prevenção à saúde, ao direito do lazer e aprendizado. Assim, poderemos acreditar que será possível desenvolver um trabalho de qualidade, de eficiência e excelência tendo a escola como uma grande aliada em prol dessas crianças e adolescentes.

9695 O PROCESSO DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO DE USUÁRIOS DE UM CAPS II EM UM MUNICÍPIO DE MÉDIO PORTE
Giovana Cardoso C. Jordão, Flávia Helena M. A. Freire

O PROCESSO DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO DE USUÁRIOS DE UM CAPS II EM UM MUNICÍPIO DE MÉDIO PORTE

Autores: Giovana Cardoso C. Jordão, Flávia Helena M. A. Freire

Apresentação: O município de Volta Redonda (RJ), até a década de 1990, contava com duas Instituições Asilares Psiquiátricas, a Clínica Santo Antônio e a Casa de Saúde de Volta Redonda (CSVR). Em função da denúncia de maus tratos e negligência, ambas passaram por longos anos de intervenção, sendo fechadas respectivamente em 1994 e 1995. Após as intervenções, foi preciso criar um serviço substitutivo de caráter antimanicomial para o tratamento dos ex-internos, possibilitando um tratamento em liberdade e com garantia de direitos, sendo fundando assim em 1994 o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em Volta Redonda. Atualmente a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Volta Redonda é composta por 3 CAPS II, 1 CAPS AD, 1 CAPSi, leitos de enfermaria Psiquiátrica em Hospital Geral, leitos de urgência e emergência CAIS, Ambulatório de Saúde Mental e quatro Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT). Inserindo-se na RAPS do Município, o presente trabalho consiste em um relato de experiência do Estágio Supervisionado do curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense do campus de Volta Redonda, atuando diretamente em um dos CAPS II do município. A entrada no campo da Saúde Mental enquanto estagiária de Psicologia teve início em outubro de 2018, com a inserção no segundo CAPS que foi criado na cidade a partir de duas etapas: (1) a observação do campo e (2) análise e construção do projeto de estágio. A primeira etapa consistiu na observação do cotidiano da instituição a partir da inserção em oficinas, reuniões de equipe, leitura de prontuários e acompanhamento do processo de acolhimento e saída do serviço. A construção de vínculo com a equipe nesta etapa foi crucial para entender a dinâmica do serviço e a história dos usuários para além do relatado nos prontuários. Já a segunda etapa, em sua função analisadora, denunciou dois pontos frágeis neste CAPS, que vieram a se tornar as frentes deste trabalho: a precarização e fragilidade dos vínculos do processo de trabalho da equipe e a institucionalização dos usuários “Encapsulando-os” no serviço. Em virtude do que foi observado no serviço, construímos como proposta de estágio um projeto de Desinstitucionalização do CAPS. Foi possível identificar o perfil dos usuários “Encapsulados”, sendo este parte do grupo de usuários que frequentam a instituição há muitos anos, alguns desde seu início em 1998. Seus projetos terapêuticos são extensos mantendo-os na instituição por muito mais tempo do que o necessário, visto que a maioria não se encontra em situação de crise ou com demanda de atendimento intensivo e diário. Percebemos que estes usuários possuem pouca clareza do sentido ético e político da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial, apresentando baixo nível de autonomia e crítica para posicionar-se perante os desafios sociais, diferenciando o CAPS da Instituição Asilar Psiquiátrica apenas pelo fato de não precisar dormir na instituição. Neste sentido, o  CAPS tornou-se seu principal, ou único ciclo social, para além da família, deslocando-se de seu papel inicial de unidade de cuidado, que visa a inserção social do usuário na comunidade, para um lugar de convivência que poderá levar  mais a uma institucionalização do que à liberdade. Como proposta de intervenção para as fragilidades apontadas, o projeto de Desinstitucionalização do CAPS foi construído com a equipe, tendo como frente principal a criação do grupo nomeado de “Grupo de Saída”, que objetiva facilitar as experiências de encontro com a cidade, em seus grupos e ciclos sociais, proporcionando ao sair do CAPS, novas inserções e sentidos para o lugares a serem ocupados por cada um, sempre ressaltando que a vida pode ser muito mais do que viver apenas no CAPS. O grupo teve início em março de 2019, acontecendo quinzenalmente e sendo composto por usuários, estagiária de psicologia e técnica de enfermagem. Os primeiros encontros aconteceram em locais próximos ao CAPS, em praças, onde conversávamos sobre a finalidade do grupo, bem como mapeávamos os lugares dos quais os usuários gostariam de visitar (cinema, parques, cursos, universidades, oficinas, shoppings, restaurantes, empresas e etc.). A cada encontro tinha-se como proposta ir em algum lugar mais distante elencado pelo grupo, utilizando o espaço-tempo dos trajetos para as discussões sobre os sentidos de estar ali. O tema mais discutido no grupo foi o estigma da loucura e as dificuldades em ocupar aquele espaço que pertence ao Outro. A longo prazo, essa discussão convocou o lugar ético e político dos usuários participantes do grupo, levando-os a indagar e propor intervenções sobre como reivindicar este espaço atuando na micropolítica. Após alguns meses do trabalho com o Grupo de Saída, foi possível perceber uma mudança na compreensão dos usuários em relação ao seu sentido e objetivo, entendendo o grupo apenas como um promotor de lazer e de passeios, e não como um canal que facilitasse o empoderamento social e a produção de  autonomia. A seguinte fala de um usuário exemplifica e reflete como esta inversão de sentido denunciou mais uma forma da dependência e institucionalização dos usuários no CAPS “Vocês poderiam nos levar para comer um lanche com o grupo em um dos nossos encontros? To com muita vontade de comer um X-Tudo”. A este ponto foi possível perceber como estas lógicas estavam perpetuadas nas entranhas do CAPS, refletindo no processo de trabalho e na relação entre trabalhador e usuário. Tendo visto isso, foi preciso elaborar a segunda frente do projeto, a realização de um trabalho com essa equipe institucionalizada que institucionaliza o usuário. Utilizando principalmente o espaço da reunião de equipe, começamos a fomentar discussões a respeito das ações que promoviam tutela e as que promoviam autonomia e liberdade. Os Projetos Terapêuticos Singulares (PTS) dos usuários foram revistos várias vezes colocando em análise um certo comodismo da equipe em ter os usuários o tempo todo na instituição, não incluindo-os no seu próprio processo de cuidado e não questionando o efeito terapêutico do seu PTS. É imprescindível ressaltar que a equipe deste CAPS é muito reduzida, têm vínculos empregatícios  precários, e que mesmo sem garantias e recursos, tenta fazer da melhor forma possível um trabalho amparado nos princípios da Atenção Psicossocial, estando disponível a receber as devidas críticas e incorporá-las no cotidiano de seu trabalho. Este trabalho ainda está em desenvolvimento e os desafios são muitos, principalmente no que tange ao trabalho com a equipe, que sofreu uma mudança de cerca de 50% dos trabalhadores em função de demissões e novas contratações. Em relação ao Grupo de Saída, o foco de trabalho, neste ano de 2020, será fortalecer o coletivo a partir de encontros semanais pré programados com os usuários, obter também maior participação dos usuários na construção dos seus PTS e, fomentar a construção de projetos com instituições parceiras que auxiliem na profissionalização e capacitação daqueles usuários que gostariam de adentrar no mercado de trabalho.

9696 DESATANDO NÓS E TECENDO REDES: A CONSTRUÇÃO DE UM MATRICIAMENTO POSSÍVEL NA ATENÇÃO BÁSICA COM A SAÚDE MENTAL NO MUNICÍPIO DE PIRAÍ (RJ)
Flavia Helena M.A. Freire, Giovana Cardoso Citeli Jordão, Carolina Oliveira Forastieri, Fátima Regina da Silva Souza, Ana Paula Souza Lima de Campos Fernandes

DESATANDO NÓS E TECENDO REDES: A CONSTRUÇÃO DE UM MATRICIAMENTO POSSÍVEL NA ATENÇÃO BÁSICA COM A SAÚDE MENTAL NO MUNICÍPIO DE PIRAÍ (RJ)

Autores: Flavia Helena M.A. Freire, Giovana Cardoso Citeli Jordão, Carolina Oliveira Forastieri, Fátima Regina da Silva Souza, Ana Paula Souza Lima de Campos Fernandes

Apresentação: Este trabalho é um relato de experiência do projeto de extensão desenvolvido pelo Departamento de Psicologia da UFF de Volta Redonda com a Secretaria Municipal de Saúde de Piraí (RJ), atuando diretamente no Programa de Saúde Mental com a equipe do CAPS Reviver. O projeto prevê uma análise da micropolítica do trabalho, convidando os trabalhadores e gestores da RAPS a reflexão sobre suas práticas de trabalho no cuidado integral com o usuário e na criação de estratégias para o trabalho em rede. Tem como objetivo mapear as percepções das equipes de Saúde Mental e da Atenção Básica, no que diz respeito à concepção de matriciamento. Para tanto, metodologicamente, sistematizamos os relatos oriundos da “Oficina de Matriciamento”, realizada no CAPS, perante a necessidade de avaliação do processo de Apoio Matricial em Saúde Mental desenvolvido em 2019. A oficina foi composta por representantes do CAPS, NASF e UBSF. A oficina estruturou-se em dois momentos: (1) apresentação de perguntas previamente definidas sobre o processo de Apoio Matricial - elaboradas pela coordenação da Atenção Básica e Saúde Mental e, (2) discussão das perguntas disparadoras. A metodologia resultou na utilização de dinâmica feita com novelo de lã, que passava pelas mãos de cada trabalhador(a), onde deveria puxar o “fio da meada”. Com o passar do “fio da meada” uma rede foi sendo tecida, os nós iam sendo formados, e as tensões se estabelecendo. Foram quatro perguntas direcionadas as duas equipes: (1) “O que entendo por Matriciamento em Saúde Mental?” (2) Qual meu papel no Matriciamento em Saúde Mental? (3) O que espero do Matriciamento em Saúde Mental? (4) Quais são os problemas que identifico como mais relevantes no Matriciamento? As respostas revelaram a forma como cada equipe se posiciona na rede de saúde e como compreende a estratégia de Apoio Matricial, como facilitadora do cuidado integral em saúde mental. O ponto crucial delimitador de diferenças, refere-se às expectativas sobre o Apoio Matricial. A equipe do CAPS espera construir um cuidado com o usuário a partir do vínculo no território, juntamente com as equipes da UBSF, na perspectiva do cuidado compartilhado. Por outro lado, a equipe de Atenção Básica verbaliza que está disponível para o cuidado com estes usuários, no entanto sentem-se confusas e sem preparação teórica-prática para lidar com usuários com psicopatologias tão complexas. A esse respeito, a atenção básica solicita a equipe do CAPS “ministrar aulas”, palestras e cursos sobre o tema do cuidado na saúde mental. Percebe-se a demanda por uma dimensão didática no processo de matriciamento. Encontrar formas para mediar à comunicação entre as equipes do CAPS e da Atenção Básica tornou-se fator primordial para os próximos encontros, unindo-os a partir do cuidado com o usuário em seus espaços distintos, o da imprevisibilidade do campo da Atenção Psicossocial e o do caráter procedimental e protocolar do campo da Atenção Básica. Trata-se de um trabalho ainda em curso, com muitas potências a serem exploradas, e para o próximo desafio fica a pergunta: Como desatar os nós, tecer essa rede e construir um matriciamento possível?

9797 SAÚDE MENTAL EM PERSPECTIVA: ANÁLISE DO DIÁLOGO ENTRE O NASF E A APS EM UMA REGIÃO AMPLIADA DE SAÚDE DE MINAS GERAIS
Mariana Arantes e Silva, Carlos Alberto Pegolo da Gama, Denise Alves Guimarães, Vivian Andrade Araújo Coelho, Marco Túlio Resende Clementino, Leonardo Isolani e Andrade, Vanessa Cristina de Paiva Oliveira

SAÚDE MENTAL EM PERSPECTIVA: ANÁLISE DO DIÁLOGO ENTRE O NASF E A APS EM UMA REGIÃO AMPLIADA DE SAÚDE DE MINAS GERAIS

Autores: Mariana Arantes e Silva, Carlos Alberto Pegolo da Gama, Denise Alves Guimarães, Vivian Andrade Araújo Coelho, Marco Túlio Resende Clementino, Leonardo Isolani e Andrade, Vanessa Cristina de Paiva Oliveira

Apresentação: A implantação de ações voltadas à Saúde Mental na Atenção Primária à Saúde (APS) objetiva a elaboração de um método de cuidado ao usuário que envolve a aproximação das políticas e saberes relacionados à Reforma Psiquiátrica e à abordagem do sofrimento psíquico inseridos na lógica de atuação da Estratégia de Saúde da Família (ESF). No entanto, o implemento desse diálogo permitiu a identificação de defasagens na capacitação dos profissionais da APS no concernente à tal temática, além de expor a insciência dos princípios da Reforma Psiquiátrica. Isso, por sua vez, leva à produção de ações normatizadoras, infantilização do paciente e medicalização do sofrimento psíquico. Diante disso, percebe-se a implantação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) como uma estratégia de superação desse cenário. O NASF se trata de uma proposta cujo objetivo é a transferência de tecnologia de profissionais especialistas a generalistas da APS. No contexto do cuidado com a Saúde Mental, o profissional do NASF tem a função de introduzir a lógica desse setor dentro da ESF, baseando-se nos paradigmas psicossociais e nas preconizações da Saúde Coletiva. Desse modo, sugere-se a horizontalidade na gestão, valorizando a compreensão multidisciplinar dos casos e incentivando ações que incluam as potencialidades oferecidas pelo território habitado pelo sujeito em sofrimento psíquico. A partir disso, as ações dos profissionais do NASF têm potencial para influenciar na modificação do modelo de atenção à Saúde Mental, viabilizando uma prática que combata a estigmatização do usuário e que proponha ações em defesa dos direitos humanos. Mediante o exposto e impulsionado pela mudança de perspectiva no manejo do sofrimento psíquico, o presente estudo objetiva compreender o modo de atuação dos profissionais do NASF no que tange à atenção em Saúde Mental nos municípios da Macrorregião Oeste do Estado de Minas Gerais. Desenvolvimento: Com vistas a obter as informações necessárias à identificação dos fatores de interesse ao estudo, foi realizada uma pesquisa de caráter quanti e qualitativo com os profissionais da APS e dos NASF pertencentes à Região Ampliada Oeste. Para a coleta dos dados, lançou-se mão de um questionário eletrônico enviado aos gestores das áreas de Saúde Mental dos 54 municípios pertencentes à macrorregião eleita à pesquisa. As questões abordadas no instrumento eram relativas à RAPS, ao NASF e à organização da abordagem à Saúde Mental. Em seguida, foram realizados 12 Grupos Focais (GF) com profissionais da APS e 12 entrevistas semiestruturadas com profissionais de Saúde Mental do NASF que matriciam a APS em questão. O material coletado foi analisado com ferramentas da estatística descritiva e com a Análise de Conteúdo. Por fim, foi realizado um evento para devolutiva dos dados para os gestores e demais profissionais da região ampliada. Resultado: A aplicação da metodologia proposta ao recorte em estudo possibilitou uma série de constatações acerca da ação do NASF na macrorregião ampliada Oeste. Primeiramente, no entanto, é importante analisar o contexto da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) na Região Ampliada eleita à pesquisa. A área analisada conta com 27 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), 12 Ambulatórios de Saúde Mental e 2 serviços de Residência Terapêutica. A ESF está presente em 86,62% dos municípios e o NASF em 62,96% deles. A macrorregião apresenta, ainda, um índice de 1,71 CAPS/100.000 habitantes. No entanto, 14,49% da população não possui acesso a este serviço. No que se refere ao perfil das demandas em Saúde Mental encontradas nessa macrorregião, é perceptível uma gama de questões que exigem a atenção dos setores de saúde. Temáticas como a violência intrafamiliar, divórcio, morte e abandono configuraram-se como fatores predisponentes ao desenvolvimento de ansiedade, depressão, alcoolismo e ao uso de drogas ilícitas.Uma vez compreendido o cenário no qual a macrorregião oeste se insere, é preciso analisar o modo com os profissionais da APS que participaram dos Grupos Focais percebem e vivenciam tal realidade. Foi relatada a dificuldade de compreensão e de abordagem das demandas de Saúde Mental vigentes, declarando a defasagem em suas formações no que se refere a essa temática. Contudo, apesar das necessidades evidenciadas em auxílio nesse manejo, foi perceptível um conhecimento de natureza superficial da proposta de atuação do NASF. Em função da ausência de clareza nas atribuições destinadas ao profissional de referência em Saúde Mental do Núcleo, foi recorrente a associação da figura deste especialista ao papel de supressão das deficiências da assistência ao sofrimento psíquico. Já no concernente aos relatos coletados nas entrevistas dos profissionais pertencentes à Saúde Mental do NASF, destacaram-se aqueles atribuídos a dificuldades da gestão, como a alta rotatividade dos profissionais, a ausência de diagnóstico do território, a carência de uma política de saúde mental e planejamento das ações. Ademais, declaram também perceber uma fragmentação na RAPS, justificando tal afirmativa à falta de comunicação entre os serviços que compõe a rede. No que tange à distribuição das tarefas dos profissionais do NASF, percebe-se uma predominância nas atividades de assistência. Desse modo, propostas de ações intersetoriais, ações de humanização e grupos, visitas domiciliares, consultas conjuntas, construção de projetos terapêuticos singulares e matriciamento contam com uma parcela menor de exercício, sendo realizadas de modo esporádico e em caráter informal, além de não serem incorporadas à prática cotidiana na maioria dos municípios. Além disso, os profissionais identificam a persistência de uma cultura na qual a internação ainda é priorizada. Tal conduta, por sua vez, é impulsionada pela existência de um grande número de comunidades terapêuticas. Contudo, apesar das dificuldades relatadas pelos profissionais à implementação de abordagens mais adequadas ao cuidado com a Saúde Mental, os entrevistados consideram o NASF uma ferramenta importante na mudança da lógica das intervenções. Considerações finais: Mediante o exposto, percebe-se que os resultados da pesquisa evidenciam a existência de gargalos a serem superados com vistas a um diálogo efetivo entre o NASF e a APS. Dentre os obstáculos vislumbrados destaca a insciência acerca de como essa articulação deve ocorrer de modo a produzir resultados reais na vida dos usuários e profissionais envolvidos. Tal clarificação precisa ocorrer em âmbitos diversos, devendo abranger desde os profissionais da porta de entrada da APS, como a equipe de enfermagem e os Agentes Comunitários de Saúde (ACS’s), até as estâncias superiores de gestão do setor. Ademais, situações como a fragmentação dos serviços prestados pelo NASF e a realização de manejos baseados em premissas incongruentes com as evidências atuais, carecem ser superados para que o usuário possa contemplar de um cuidado mais consistente. A partir disso, as ações dos especialistas vinculados ao NASF serão capazes de propiciar uma abordagem multidisciplinar e integral do usuário, atuando no combate à estigmatização do sofrimento mental e propondo ações concordantes com as proposições dos direitos humanos. 

9836 GRUPOS ABERTOS COMO ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE EM UM SERVIÇO-ESCOLA DE PSICOLOGIA
Giovanna Cavalheiro Moreira

GRUPOS ABERTOS COMO ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE EM UM SERVIÇO-ESCOLA DE PSICOLOGIA

Autores: Giovanna Cavalheiro Moreira

Apresentação: Os serviços-escola de Psicologia se configuram como espaços com uma dupla função, haja vista que, por um lado, são locais para o exercício prático visando a formação do psicólogo e, por outro, ofertam intervenções psicológicas à população que busca tais serviços. Nota-se, contudo, que frequentemente se veem face a uma demanda superior àquela passível de ser atendida, somado à solicitação prioritária de atendimentos individuais a despeito do potencial demonstrado pelas práticas grupais. Tendo em vista esse cenário, objetiva-se apresentar e discutir a experiência de grupos abertos realizados desde 2015 na Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina, considerando-os como dispositivos para a promoção de saúde da população. Trata-se de uma intervenção grupal semanal, de caráter aberto, ou seja, novos participantes podem ser inseridos, a cada semana. Os grupos são divididos por faixa etária (crianças, adolescentes, adultos/idosos) e ocorrem no período matutino e vespertino, de maneira a ampliar o acesso dos possíveis interessados. Nos encontros, que possuem duração de 1h30, são propostos temas para reflexão, no caso dos grupos de adultos e de adolescentes, ou atividades lúdicas, nos grupos de crianças. As propostas são, frequentemente, mediadas por atividades artístico-expressivas, com o intuito de promover a coesão grupal, tendo em vista o caráter aberto da intervenção. Neste sentido, pôde-se, efetivamente, notar uma heterogeneidade do público usuário, fato que implica em certa complexidade para condução da intervenção e a necessidade de flexibilidade por parte dos coordenadores dos grupos. Contudo, o uso dos recursos expressivos favoreceu o desenvolvimento das atividades e a comunicação dos participantes, se configurando como um recurso que promove o desenvolvimento de potencialidades latentes e a interação dos integrantes do grupo, frente a diversidade existente. Por meio da experiência, entende-se que este tipo de prática se apresenta como algo potente, que permite a oferta de um espaço de escuta e acolhimento sem a necessidade de inscrição em listas de espera como nos atendimentos individuais. Tem-se, ademais, a oportunidade de convivência e interação com o diferente, respeitando-se o outro em suas particularidades, potenciais e limites. Pensa-se que se apresenta, assim, como um tipo de intervenção que pode ser replicado para outros serviços-escola de Psicologia, seja para o acolhimento do público, seja como estratégia na formação do psicólogo, visando o desenvolvimento de habilidades e competências para a coordenação de grupos e de flexibilidade para se lidar com o inesperado.

9948 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA EM ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS DE SAÚDE MENTAL DE UNIVERSITÁRIOS
Raiane Silva Sousa, Tais Bleicher, Diego Mendonça Viana

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA EM ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS DE SAÚDE MENTAL DE UNIVERSITÁRIOS

Autores: Raiane Silva Sousa, Tais Bleicher, Diego Mendonça Viana

Apresentação: e desenvolvimento: O debate acerca da saúde mental e da vida universitária dos estudantes no Brasil tem se situado no campo das políticas públicas desde o século passado. Em 2007, o Ministério da Educação (MEC) instituiu o Programa Nacional de Assistência Estudantil, trazendo diretrizes nacionais para o campo (BLEICHER, 2016), objetivando assistir ao aluno em diversas áreas, dentre elas, a saúde. A literatura tem dialogado sobre o sofrimento psíquico enfrentado por estudantes universitários. Existem indicações de possibilidade de desequilíbrio emocional em função da insegurança e da falta de adaptação ao novo ambiente, gerando, em casos graves, depressão, e em casos menos graves, o viver em constante estado de tensão. Outro apontamento, é de que em função da adaptação ao espaço acadêmico quanto pelas dificuldades que o processo de amadurecimento acarreta, é possível que o estudante possa ser acometido por depressão, estresse, ansiedade e distúrbios alimentares. O itinerário terapêutico (IT) refere-se a uma busca de cuidados feita por um sujeito na intenção de aliviar um sofrimento em saúde. Ainda não há, na literatura, estudos referentes aos ITs de universitários. Considerando que para essa população há políticas específicas no campo da saúde mental, e seu sofrimento é conhecido, a pesquisa apresentada buscou mapear estes itinerários terapêuticos, objetivando auxiliar na construção de políticas públicas de acordo com a realidade. Método: Assim como acontece com diversos conceitos, é possível encontrar uma polissemia sobre o termo itinerário terapêutico, que leva a modelos de pesquisa diferentes. Um modelo poderia ser mais relacionado à descrição dos fluxos de públicos divididos segundo categorias epidemiológicas através dos serviços de saúde, em uma tentativa de criar modelos explicativos para interpretar como as pessoas ou grupos constituem suas trajetórias em busca de tratamento. No entanto, este modelo afasta-se do sujeito, uma vez que a interpretação é realizada pelo próprio pesquisador, através de um esforço racional. Assim, esta pesquisa se constituiu como qualitativa de campo, adotando como unidade de análise os estudantes de graduação, há pelo menos 6 meses, da Universidade Federal de São Carlos, campus São Carlos, que relataram sofrimento psíquico no período da graduação. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco estudantes sobre os itinerários terapêuticos relativos a este sofrimento. A pesquisa foi aprovada pelo CEP/UFSCar sob o nº CAAE 24260719.0.0000.5504. Resultado: A primeira estudante mudou de cidade em razão do ingresso na universidade, passou a enfrentar sofrimentos, atribuídos por ela a duas causas: sua cor, que é vista como perigosa pelas pessoas da cidade e a competição no ambiente acadêmico. O primeiro ponto de seu IT, foi a religião. O segundo, o atendimento com um profissional de Psicologia. Ela conta que duas colegas estavam fazendo terapia na Unidade de Saúde de seu bairro, e as mesmas recomendavam esta psicóloga. Assim, ela marcou consulta com a médica clínica, que a encaminhou para a psicóloga. Ela relata que sua busca pelo atendimento psicológico se deu pelos aspectos profissionais de sua vida, pois, a jovem se via improdutiva. Em uma de suas colocações, aponta que não sabia o que esperar da terapia. A segunda participante conta que antes da graduação, houve um episódio em que não conseguia levantar da cama, pois estava “travada”. Segundo ela, pelo médico essa condição foi atribuída à ansiedade e estresse. Em seu IT, os pontos são: consulta médica, meditação, religião, exercício físico, conversa e oração. A estudante fala a respeito do Departamento de Atenção à Saúde da universidade, onde há atendimento psicológico. Ela conta não ter procurado porque soube que era “complicado”. Procurou por profissionais de Psicologia particulares, mas não iniciou o atendimento por razões financeiras. O terceiro participante conta que no início da graduação teve episódios depressivos. Ele não atribui causa. Procurou por sua namorada, que já havia enfrentado situação similar, e busco por atendimento psicológico e psiquiátrico particulares. O quarto participante narra que desde quando entrou na universidade enfrentou situações de sofrimento, decorrentes de sua timidez, mas procurou por ajuda dois anos depois. Em período de férias, fez dez sessões de terapia pelo convênio. Sua escolha por fazer nas férias se deu pelo convênio dos pais, para onde costuma viajar durants as férias, e por não ser urgente. Seu IT é constituído por amigos, assistir séries, jogos online e atendimento psicológico. O quinto entrevistado já esteve matriculado em outra universidade. Ele conta que, lá, sofria com a “carga” do curso, e por isso começou a meditar. Quando mudou de universidade, o problema com a “carga” permaneceu, e passou, também, a ter problemas com os professores. Ele comunicou seus pais de que precisava de ajuda, e procurou por atendimento psicológico mais tarde, por razões financeiras. Por não poder pagar por atendimentos semanais, trocou de profissional. Seus atendimentos são particulares. Ele acredita que a população é mal informada sobre locais públicos de atendimento. Além de meditação e atendimento psicológico, seu IT também conta com religião, amigos e família. Portanto, nota-se que quatro dos cinco entrevistados relatam ter acessado profissionais de psicologia em seu IT de saúde mental. A única pessoa que não acessou, chegou a fazer um levantamento dos profissionais da cidade. Não houve menção a outros profissionais de Saúde Mental, com exceção à Psiquiatria. Considerações finais: Existe uma compreensão de que o trabalho em saúde mental é feito apenas por psicólogos e psicólogas. Ao longo das entrevistas, não foram mencionados outros profissionais de Saúde Mental, com exceção de médicos psiquiatras. A Psicologia tem sido a área de saber mais referenciada na busca por cuidado neste campo. Mesmo nesta área, a expectativa em relação à atuação do profissional psicólogo é de um tratamento clínico individual, em detrimento de outras atividades que o profissional possa fazer em uma universidade, como intervenções institucionais, grupais, de promoção e prevenção e Saúde, mediação de conflitos, entre outras. Uma participante apresentou a compreensão de que, mesmo sem saber o que esperar da terapia, esse é o caminho para cuidar da Saúde Mental.Um fator que pode ter levado à essa compreensão é o fato de que, no grupo de quatro estudantes que fizeram essa associação, apenas um utilizava o Sistema Único de Saúde, enquanto os outros utilizavam o sistema privado, que, no Brasil, não adota estratégias de cuidado interdisciplinares e, muito menos, estratégias de cuidado em diálogos com quaisquer instituições da sociedade, como uma Universidade, ou, ainda, estratégias articuladas ao saber popular. Nesse sentido, é com esta expectativa que eles chegam à Universidade e é esse o modelo de cuidado que formulam como demanda. Esse fato se agrava, uma vez que a Universidade Federal de São Carlos, campus São Carlos, não apresentava, no momento da coleta dos dados, qualquer programa institucional ativo de promoção e prevenção em saúde mental com capilaridade em seus diversos departamentos acadêmicos. Suas ações, com foco nos alunos, e não nos determinantes psicossociais do sofrimento, colaboram, assim, para a culpabilização da vítima, e, portanto, em maior sofrimento.

10016 REIKI: PRÁTICA COMPLEMENTAR COMO ALTERNATIVA DE CUIDADO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASSISTIDOS PELA SAÚDE MENTAL NO MUNICÍPIO DE CARMO, RIO DE JANEIRO.
Natália de Carvalho Garufe

REIKI: PRÁTICA COMPLEMENTAR COMO ALTERNATIVA DE CUIDADO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES ASSISTIDOS PELA SAÚDE MENTAL NO MUNICÍPIO DE CARMO, RIO DE JANEIRO.

Autores: Natália de Carvalho Garufe

Apresentação: Os transtornos mentais na infância e adolescência vêm crescendo nos últimos anos, aumentando a demanda em atendimentos realizados pelo SUS no âmbito da saúde mental, o que ocasiona a sobrecarga e a fragilização de seus dispositivos. Se faz necessário a partir deste cenário a implementação de novas abordagens que favoreçam o cuidado, a alta terapêutica e a diminuição do sofrimento psicossocial de crianças e adolescentes que circulam os ambientes terapêuticos, visto que vivem em sua maioria situações de vulnerabilidade social e emocional, como: conflito familiar, violência física, psicológica e sexual, uso de álcool e outras drogas, entre outros. O objetivo desta pesquisa foi investigar a implantação do Reiki no Serviço de Atenção à Infância e Juventude (SAIJ) no município de Carmo Rio de Janeiro como prática alternativa de cuidado e de diminuição da sintomatologia de seus participantes como: pensamento de autoextermínio, automutilação, depressão e ansiedade. A pesquisa foi desenvolvida em caráter qualitativo com aplicação de Reiki por uma profissional especializada integrante da equipe multidisciplinar, sendo realizada uma vez por semana com duração de quarenta minutos de forma individualizada no período de seis meses, totalizando oito participantes com idades entre dez e dezessete anos, todos inscritos no Serviço de Atenção à Infância e Juventude (SAIJ). Foi orientado a todos os participantes a continuação dos tratamentos iniciados anteriormente, visto que o Reiki se trata de uma prática complementar não substituindo o cuidado médico e ou terapêutico. Foi constatado através de entrevistas e levantamentos de dados escolares, familiares e do próprio participante ao início da pesquisa e o findar das aplicações de Reiki que houve uma grande melhora na sintomatologia apresentada inicialmente o que acarretou diminuição do sofrimento dos inscritos na pesquisa. Conclui-se que a implementação da Prática Integrativa Reiki deve ser continuada e encorajada pois se trata de uma alternativa de cuidado eficaz e de baixo custo oferecendo aos participantes um olhar integrado e complementar além da medicalização e consulta médica.  

10066 ATENÇÃO DOMICILIAR E SAÚDE MENTAL: UM ENSAIO TEÓRICO ACERCA DOS SERVIÇOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS
Rayza de Oliveira de Castro Sodre, Clarissa Terenzi Seixas, Tiago Braga do Espirito Santo, Larissa Pereira Stelet Ferreira, Letícia Ramos da Silva, Danuse Dias Couto Delgado

ATENÇÃO DOMICILIAR E SAÚDE MENTAL: UM ENSAIO TEÓRICO ACERCA DOS SERVIÇOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS

Autores: Rayza de Oliveira de Castro Sodre, Clarissa Terenzi Seixas, Tiago Braga do Espirito Santo, Larissa Pereira Stelet Ferreira, Letícia Ramos da Silva, Danuse Dias Couto Delgado

Apresentação: O presente texto é um ensaio teórico, desdobramento do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado O Cuidado Domiciliar no Serviço Residencial Terapêutico, que tem como objeto o cuidado produzido nos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) à luz de um diálogo teórico entre dois campos da área da saúde: Atenção Domiciliar (AD) e Saúde Mental. Desenvolvimento: Os SRT, cuja existência está pautada na estratégia de desinstitucionalização, consiste em domicílios de pessoas provenientes de longas internações psiquiátricas que perderam contato com sua família e/ou sem possibilidades de retorno para elas. O dispositivo é sustentado legalmente por portarias do campo da Saúde Mental e supervisionado por um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do território. Somado a isso, conta com a força de trabalho de cuidadoras no cotidiano. A proposta dessa política pública é que estes espaços sejam as casas dessas pessoas, num intuito de sanar a dívida social do Estado Brasileiro com as pessoas que sofreram longos períodos no sequestro manicomial. A AD, por sua vez, é considerada uma forma substitutiva de cuidado ao modelo hospitalar, nas suas diversas modalidades, e conta com uma política nacional que se operacionaliza na forma do Programa Melhor em Casa. Resultado: Essa primeira aproximação tem permitido identificar algumas barreiras ao cuidado nos SRT, provavelmente oriundos de um certo imaginário produzido ao longo do tempo em torno do louco e do lugar da "casa" para a saúde pública. Assim, ainda que denominado “Serviço”, entende-se o SRT como a casa, tornando pertinente a interlocução entre os SRTs e a AD. Somado a isso, destaca-se a produção de cuidado conduzida pelos moradores e cuidadores no cotidiano das suas relações com o território existencial. Nesta direção, destaca-se a Atenção Domiciliar como produtora de cuidados que vão além daqueles sobre o corpo físico, para  tratar questões que tangem a Saúde Mental e aspectos sociais. Incluem-se, para ambos, a importância das questões culturais, familiares, sociais, econômicas e ambientais, identificando-se, assim, o segundo ponto de intersecção. Porém, o produzido teoricamente evidencia a dificuldade no entendimento dos SRTs como um ambiente domiciliar/casa. Considerações finais: É nessa contradição que pretende-se caminhar: usuário-morador; trabalhador-cuidador; serviço-casa. Acreditamos, contudo, que a fricção entre os campos teórico-prático das SRTs e da AD, produz conhecimentos urgentes para ambos, transformando-os em suas interlocuções. Percebe-se que o cuidado no domicílio das residências terapêuticas traz desafios para o trabalhador-cuidador e para o usuário-morador. Entende-se assim que, para desinstitucionalizar, não basta apenas desospitalizar. Olhar para estes espaços apenas como serviço é corroborar o lugar da instituição. É necessário, portanto, atentar para a reprodução de práticas manicomiais que silenciam a cidadania e a liberdade do morador da SRT. Um ponto fundamental para este avanço está no reconhecimento do SRT como o espaço de moradia-casa e, nessa direção, oferta-se espaço para a ressignificação do cuidado produzido em direção à Atenção Domiciliar. O produto desta interlocução teórica destaca a necessidade de respeito e escuta dos moradores em seus desejos, bem como sedimenta a noção de casa, ressignificando o entendimento tanto dos trabalhadores-cuidadores, quanto dos usuários-moradores.

10094 PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA ÀS PESSOAS COM POTENCIAL SUICIDA.
Mariela Bazzi de Matos Pedreira, Acácia Maria Lima Oliveira Devezas

PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA ÀS PESSOAS COM POTENCIAL SUICIDA.

Autores: Mariela Bazzi de Matos Pedreira, Acácia Maria Lima Oliveira Devezas

Apresentação: O suicídio é um tema complexo e ao mesmo tempo relevante para a sociedade. É um dos mais antigos temas relacionados à saúde das pessoas e à forma como são afetadas pela sociedade. Atualmente, tem sido tratado como fenômeno social e sob perspectivas históricas, sociológicas, econômicas e filosóficas. Sua etiologia é multifatorial, geralmente: social, psicológica, biológica, ambiental e econômica, acontecendo muitas vezes em momentos de crise. As características que antecedem ao suicídio costumam ser: sensação de sofrimento intolerável, vulnerabilidade, desorganização e desconforto emocional, atingindo o limite de sua angústia gerando tensões difíceis de se lidar, onde o suicídio torna-se a única saída. Ressalta-se a importância deste estudo, o enfermeiro. Por ser o primeiro profissional a entrar em contato com o paciente. Este deve estabelecer um vínculo de confiança, segurança, apoio e comprometimento emocional com o paciente, prestando cuidado integral e contínuo por meio de práticas mais humanizadas e assistência de qualidade. Objetivo: Verificar a percepção de enfermeiros que atuam em pronto socorro, em relação a assistência ao paciente com tentativa de suicídio. Método: Trata-se de uma pesquisa de campo exploratória e descritiva com abordagem qualitativa dos dados, realizada em unidade de Pronto Socorro/emergência de um hospital universitário, localizado na região central de São Paulo.  A amostra foi constituída de 9 enfermeiros, que foram entrevistados nos períodos: matutino, vespertino e noturno. Os critérios de inclusão utilizados foram: ser enfermeiro assistencial, concordar em participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e participar da entrevista gravada. O projeto foi aprovado pelo CEP, parecer nº 3.443.380, CAAE (15132719.6.0000.5479). A coleta de dados ocorreu em duas partes, por meio de um formulário contendo informações sobre a caracterização sociodemográfica e profissional dos enfermeiros e questões referentes a percepção do enfermeiro em relação ao paciente com potencial para suicídio. Resultado: A maioria dos participantes era mulher casada 56%, na faixa etária entre 31 a 40 anos. Quanto a percepção sobre a assistência ao paciente com tentativa de suicídio, houve concordância de 5 participantes sobre considerar a tentativa de suicídio como transtorno de saúde e sofrimento intolerável e única saída dessa dor/sofrimento. Em relação ao preparo para atende-lo, 7 responderam que se sentem preparados. Sobre o julgamento da postura que o enfermeiro deve ter diante da situação de assistência, 5 participantes responderam que ter ética, priorizar o paciente, ter conhecimentos teóricos e empatia, são importantes para o atendimento nestes casos. Considerações finais: Diante dos resultados, entende-se que esta pesquisa é de extrema importância, pois entendemos que muitas vezes a insegurança,  preconceito e julgamentos pessoais por parte de quem cuida, pode comprometer o sucesso da terapêutica, da qual o enfermeiro é fundamental neste processo, visto que é o profissional que estabelece mais vinculo com o paciente, podendo ser de grande valia na recuperação da pessoa com potencial suicida.

10138 TENTATIVAS DE SUICÍDIO: MANEJO E ACOLHIMENTO NA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UMA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO DE BELÉM (PA)
Ana Carla Vilhena Barbosa, Beatriz Christina Matos dos Santos, Geogia Helena de Oliveira Sotirakis, Juciane Sousa Dias, Amanda Ferreira Rodrigues, Patrick da Costa Lima, Nillana da Conceição de Castro Rodrigues, Lúcia Menezes de Medeiros

TENTATIVAS DE SUICÍDIO: MANEJO E ACOLHIMENTO NA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UMA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO DE BELÉM (PA)

Autores: Ana Carla Vilhena Barbosa, Beatriz Christina Matos dos Santos, Geogia Helena de Oliveira Sotirakis, Juciane Sousa Dias, Amanda Ferreira Rodrigues, Patrick da Costa Lima, Nillana da Conceição de Castro Rodrigues, Lúcia Menezes de Medeiros

Apresentação: No cenário dos serviços de urgência e emergência (SUE) está inserida as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), e essas unidades acabam se tornando porta de entrada para outros serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo como principal estratégia para aumentar a atenção hospitalar o Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR). Levando em consideração o panorama mundial, o suicídio é um problema de saúde pública e é indicado por um crescimento exponencial de mortes por autocídio, e o enfermeiro, frequentemente, é o primeiro a receber o paciente após um episódio de violência auto infligida. Portanto, o presente trabalho tem por objetivo analisar como os enfermeiros da classificação de risco de uma UPA percebem o cuidado prestado às pessoas que tentam suicídio, a fim de que eles compreendam uma assistência qualificada mesmo estando em uma unidade de U/E. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa descritiva, do tipo relato de experiência, tendo como foco central a educação em serviço voltada para o papel do Enfermeiro na Classificação de Risco, que tem como base norteadora a metodologia da problematização proposta pelo Arco de Maguerez. Sendo finalizado a partir de uma educação em serviço voltada para os enfermeiros de uma UPA de Belém do Pará, por meio da distribuição e discussão de cartilhas desenvolvidas pelas discentes, assim como levantamento de dados quali-quantitativos encontrados na unidade. Resultado:  Com base na atividade de educação em serviço prestada, observou-se o grande interesse e atenção pelo tema proposto, uma vez que se trata de uma temática cada vez mais crescente e frequente nos SUE, já que pôde-se constatar que no local da pesquisa foi possível observar que todos os enfermeiros que participaram da atividade já tiveram contato com algum paciente com tentativa de suicídio e alguns que efetivaram o ato. Também foi possível compreender melhor o cenário do suicídio neste serviço de saúde, desde o acolhimento, manejo, causas, faixa etária envolvida e meios de tentativa de autoquíria. Considerações finais: Percebe-se um ambiente repleto de desafios e particularidades, contando ainda com muitos estereótipos que implicam diretamente na qualidade do serviço prestado e com a possibilidade de reincidências cada vez maiores. Este cenário mostra que a educação em serviço é extremamente necessária e bem vinda, pois serve de ferramenta de aprendizado e atualização para os profissionais, principalmente por se tratar da UPA, que possui uma rotina própria, com uma alta demanda de atendimentos que exigem, muitas das vezes, um pensamento clínico e crítico rápido para salvar vidas.

10174 CRENÇAS E ATITUDES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA FAMÍLIA FRENTE AO PACIENTE COM RISCO DE SUICÍDIO
Fernanda Pinto da Silva, Márcia Peixoto César, Samira Silva Santos Soares, Andrea Cardoso de Souza

CRENÇAS E ATITUDES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA FAMÍLIA FRENTE AO PACIENTE COM RISCO DE SUICÍDIO

Autores: Fernanda Pinto da Silva, Márcia Peixoto César, Samira Silva Santos Soares, Andrea Cardoso de Souza

Apresentação: Trata-se de uma pesquisa sobre as crenças e atitudes de profissionais da saúde da família relacionado ao suicídio, este com ascendência e relevância no campo da saúde, tanto pelos impactos no âmbito individual, familiar, quanto social, econômico e outros. Mundialmente ocorre a cada 45 segundos uma morte por suicídio, com cerca de 800.000 mil mortes ao ano. No Brasil, anualmente, aproximadamente 10 mil pessoas tiram a própria vida, com uma taxa bruta de 5,5/100 mil habitantes. Apesar do suicídio constituir um grande problema de saúde pública, o mesmo ainda não é priorizado, persistindo ainda um grande estigma sobre o tema, fazendo com que as pessoas que precisam de ajuda, na maioria das vezes não busquem este suporte, ou quando buscam os serviços de saúde não tem a atenção devida e em tempo oportuno. Os serviços de saúde as vezes são escassos, quando existem, podem apresentar dificuldades de acesso, acolhimento, prevenção, condução do tratamento, as vezes com  poucos recursos econômicos, profissionais pouco capacitados para identificação dos sintomas e intervenção precoce nos processos. Sendo a Atenção Primária à Saúde, porta de entrada e contato preferencial do sujeito com o sistema de saúde, possui papel fundamental na prevenção, avaliação e abordagem de pacientes com risco de suicídio, devendo objetivar a redução dos índices de tentativas e de suicídios consumados. Para tanto é necessário que a equipe esteja preparada e qualificada para a atenção a estes indivíduos. O profissional possui sua história pessoal e profissional, crenças e atitudes que podem afetar diretamente esta intervenção e cuidado, seja por preconceitos, pré-julgamentos, desconhecimento, bem como visão negativa do paciente com riscos ou mesmo tentativas de suicídio. Além disto, crenças e atitudes equivocadas destes em relação aos pacientes com risco de suicídio, podem gerar assistência inadequada, preconceituosa, pouco efetiva. Desse modo, a pesquisa teve como objetivo, conhecer as crenças e atitudes dos profissionais médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem da saúde da família frente ao paciente com risco de suicídio. Método: Pesquisa de campo exploratória, com delineamento transversal e abordagem quantitativa, onde buscou-se conhecer o perfil sociodemográfico e as crenças e atitudes dos profissionais frente ao paciente com risco de suicídio. Para isso, foram aplicados questionário sociodemográfico e de atitudes frente ao comportamento suicida (QUACS), validado por Botega (2005) com profissionais de enfermagem. Participaram da pesquisa, 37 profissionais, sendo 10 médicos, 09 enfermeiros e 18 técnicos de enfermagem das Estratégias Saúde da Família do município de Santa Cruz Cabrália/Bahia. Os resultados foram analisados pelo pacote estatístico Statistical Package for the Social Science (SP)SS versão 23. Foi realizada frequência absuluta e relativa dos dados sociodemográficos e profissionais, posteriormente verificado média e desvio padrão dos fatores do questionário de atitudes em relação ao comportamento suicida. Esta pesquisa foi submetida ao comitê de ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Santa Cruz e seguiu todos os preceitos éticos. Resultado: A maior parte dos profissionais (83,8%), eram do sexo feminino, faixas etárias entre 31-40 anos (32,4%) e 51-60 anos (32,4%), cor parda (64,9%) casados (43,2%), com prevalência da categoria de técnicos de enfermagem (48,6%). 43,2% dos profissionais apresentavam mais que 15 anos de formados, com 1 a 4 anos de atuação na Estratégia Saúde da Família (54,1%), 62,2% dos entrevistados não apresentavam experiência no campo de saúde mental. Quanto a outros vínculos profissionais 78,4% dizem não ter. 83,8% dos profissionais disseram não haver nenhum incentivo a formação e atualização dos profissionais das Estratégias no campo de saúde mental. 70,3% dos profissionais recebiam algum apoio na atenção aos usuários com transtornos mentais, principalmente do NASF e apenas 29,7% sentem-se aptos para assistir usuários com tentativas de suicídio, enquanto (24,3%) mais ou menos e (10,8%) não se consideram aptos de forma alguma. Os médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem estimam, respectivamente, que em média, 69%, 79% e 52% das pessoas que tentam suicídio possuiam algum tipo de doença mental. Dos médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, respectivamente, 70%, 89% e 94,5% se consideram uma pessoa religiosa. Em relação à análise do questionário de atitudes frente ao comportamento suicida, a categoria médica possui sentimentos mais positivos quanto ao paciente e ao problema, sentindo-se confiantes no atendimento de indivíduos em situação de luta com a vida. No entanto, o resultado demonstrou pontuações altas em relação a atitudes moralistas frente ao suicídio. A categoria de enfermeiros apresentou sentimentos positivos frente ao paciente suicida, porém, dentro da categoria de capacidade profissional demonstrou não considerar capazes e preparados para atender estes indivíduos. Os técnicos de enfermagem apresentaram sentimentos positivos frente ao suicídio e uma boa segurança/confiança na capacidade de atender indivíduos em situação de luta com a vida. No entanto, apresentaram atitudes moralistas frente a problemática. Comparando resultados dos  profissionais médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem quanto aos “sentimentos negativos em relação ao paciente” os técnicos de enfermagem e médicos apresentaram maiores escores comparado a enfermeiros. Sobre a “capacidade profissional”, médicos apresentaram maior escore, seguido dos técnicos de enfermagem, enquanto enfermeiros obtiveram menor escore. Em relação ao “direito ao suicídio”, técnicos de enfermagem obtiveram maior escore, seguida dos médicos, evidenciando atitudes mais moralistas frente ao problema. Considerações finais: Percebe-se um despreparo dos profissionais da saúde da família na atenção aos usuários com risco de suicídio, apresentando sentimentos de insegurança, incapacidades e atitudes moralistas frente aos mesmos. Este ponto de atenção é fundamental para este cuidado, pois nele os profissionais tem maior chance para realizarem detecção precoce destes usuários em sofrimento, rastreio, captação, prevenção e acompanhamentos adequados em uma área adscrita. É imprescindivel que tais  profissionais estejam preparados para atender aos usuários com comportamentos suicida, para isso, torna-se necessário educação permanente, matriciamento e rodas de conversas para desmistificação do suicídio, comportamentos menos preconceituosos, estigmatizantes e moralistas frente ao problema e ao próprio usuário. Acredita-se que a presente pesquisa possa contribuir para construção de novos conhecimentos, ao trazer a percepção e sentimentos dos profissionais da saúde família frente ao sucídio, sensibilizar profissionais e gestores sobre esta realidade nos serviços de saúde, demonstrando a necessidade de capacitação contínua e sistematizada, que poderá influenciar diretamente no cuidado prestado. Além disto, traz um alerta para a necessidade de pensar temas pouco explorados nas instituições formadoras e que são cotidianos nos serviços de saúde, como suicídio e outros, de forma transversal e integrada em todas as disciplinas.  

10243 EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE MENTAL E PRÁTICAS INTEGRATIVAS GRUPAIS: AMOROSIDADE E EMPODERAMENTO NA PRODUÇÃO DE CUIDADO ENTRE MULHERES DO SERIDÓ POTIGUAR
Renata Dantas

EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE MENTAL E PRÁTICAS INTEGRATIVAS GRUPAIS: AMOROSIDADE E EMPODERAMENTO NA PRODUÇÃO DE CUIDADO ENTRE MULHERES DO SERIDÓ POTIGUAR

Autores: Renata Dantas

Apresentação: A política de saúde mental no Brasil institui a necessidade de uma prática de cuidado de base territorial e comunitária que supere a lógica manicomial de isolamento e exclusão da loucura. Neste contexto, o debate sobre gênero e saúde mental ainda é incipiente, o que nos impulsionou a buscar, por meio do exercício da coletividade e da amorosidade nas práticas de saúde, ampliar a discussão do cuidado, dando visibilidade a essas mulheres, em suas interseccionalidades de gênero, raça e classe. Assim, o objetivo da pesquisa é analisar a repercussão das práticas integrativas grupais entre mulheres em sofrimento psíquico a partir de um grupo de dançaterapia com usuárias do Espaço TERAPICS em Currais Novos-RN, região do Seridó Potiguar. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, lançando mão da pesquisa intervenção e perspectiva metodológica da Análise Institucional e da Educação Popular, que dialogam entre si por partirem de uma prática transversal de pesquisa, centrada nas ações e nos discursos dos atores envolvidos. Utilizamos o diário de pesquisa, a análise documental e os Círculos de Cultura, adaptados aos que chamamos de Círculos de Cuidados para construção dos dados que, analisamos pelo olhar da Análise de Implicação. Entendemos que pesquisa e intervenção são inseparáveis, e o campo é feito pelos sujeitos da pesquisa e também pelo pesquisador. Alçamos assim, alguns questionamentos no tocante a produção de vida em um grupo de mulheres em sofrimento psíquico, a partir de ações pautadas no referencial teórico da educação popular, no diálogo, na amorosidade e no incentivo a autonomia. Incitamos a discussão sobre o impacto das práticas integrativas grupais e dos novos modos de cuidado na relação entre feminino e saúde mental. A partir de alguns conceitos da Análise Institucional, apresentamos cinco categorias analíticas, organizadas com base nos analisadores identificados e no movimento de análise ao decorrer da leitura e transcrição dos diários de pesquisa, das falas das participantes e do referencial teórico utilizado. Identificamos a potencialidade das atividades que promovem relações interpessoais e apoio mutuo, como foi o caso do grupo de dança, agenciando novas configurações de cuidado para além dos espaços de saúde, dos profissionais e dos atendimentos individuais. Além disso, identificamos o desafio de desconstrução das cenas de opressão e preconceito entre as mulheres na sociedade seridoense, que, carregam uma herança de preconceito racial, social e de gênero, em especial na relação com a doença mental. Consideramos que as práticas integrativas grupais estudadas aqui, respondem à questão da pesquisa, e aos objetivos apresentados com relação à produção de cuidado de si e do outro. A Análise Institucional nos ensinou sobre a importância de provocar movimentos instituintes, de analisar nossas implicações na pesquisa e considerar o campo do sensível, sem deixar com isso, o compromisso ético da produção cientifica. Por fim, conscientes de sermos seres inconclusos e da necessidade de contínuo aprendizagem, deixamos um fio solto para novas produções de diferença, de subjetividade, de práticas de saúde que sejam críticas, políticas e reflexivas, e de ampliação das possibilidades de se fazer e acessar as pesquisas científicas.

10244 O LUGAR DO AUTISMO NO SUS: UMA ANÁLISE DOCUMENTAL A PARTIR DAS POLÍTICAS DE CUIDADO
Larissa Megale de Aguiar, Ana Caroline dos Santos Rocha, Mayara Cristina Situba Gemaque

O LUGAR DO AUTISMO NO SUS: UMA ANÁLISE DOCUMENTAL A PARTIR DAS POLÍTICAS DE CUIDADO

Autores: Larissa Megale de Aguiar, Ana Caroline dos Santos Rocha, Mayara Cristina Situba Gemaque

Apresentação: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) compreende um conjunto de condições e sintomas característicos que comprometem a comunicação, a interação e o comportamento social. O nascimento de uma criança com o transtorno representa um grande impacto na dinâmica familiar, abalando aspectos emocionais, sociais e econômicos. O prognóstico envolve tratamento multidisciplinar contínuo e frequente, o qual requer custos sociais e econômicos que muitas famílias não têm condições de arcar. No que tange ao Sistema único de Saúde (SUS), de acordo com o princípio da integralidade, é assegurado ao indivíduo dentro do espectro o atendimento a todas as suas demandas. As Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) e o Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) tem papel central nesse processo. Dessa forma, a elaboração e a implementação de políticas públicas que auxiliem nessa questão é de grande importância, além de serem instrumentos para a realização do exercício da cidadania e da inclusão desses indivíduos na sociedade. Dessa forma, foi realizada uma análise documental acerca da assistência e da produção de cuidado ao autismo no SUS, a partir de dois documentos norteadores: "Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA)" e "Linha de Cuidado para a Atenção às Pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo e suas Famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde" como o objetivo de discutir, a partir da literatura, seus principais aspectos, semelhanças  e diferenças entre os documentos. Realizou-se um levantamento bibliográfico nas plataformas digitais BVS, SciELO e Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores: autismo, políticas públicas e SUS. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados em Língua Portuguesa na última década que discutem os documentos vinculados à prática de cuidado amplo à população autista dentro da saúde pública brasileira. Foram encontrados 10 artigos dos quais foram selecionados 4. Os resultados sugerem que a produção científica sobre o tema apresenta pontos de convergência no que concerne a práticas de assistência à pessoa com TEA e sua família, porém defendem pontos de vista diferentes. O  Linha de Cuidado visa a ampliação do acesso e qualificação na atenção de pessoas com TEA, bem como de suas famílias, com foco no cuidado, na garantia de direitos e na cidadania. Em relação ao tratamento, as tecnologias de cuidado oferecem muitas possibilidades que vão de atendimento clínico à terapia aplicada, com base em várias ciências como a psicologia, a fonoaudiologia e a terapia ocupacional, dentre outras. No que tange à rede de atendimento, esta compreende tanto a RAPS como seus diversos pontos, vinculados à Atenção Primária à Saúde ou Serviços de Urgência e Emergência. A Linha de Cuidado e Atenção às pessoas com TEA está intimamente ligada à singularidade, à narrativa aberta no processo diagnóstico, à integralidade do cuidado, à Reforma Psiquiátrica e ao conceito de território, intersetorialidade e garantia de direitos. As Diretrizes de Atenção à reabilitação da pessoa com TEA, por outro lado, focam em oferecer orientações às equipes multiprofissionais atuantes no SUS em diferentes pontos de atenção da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência. Quanto ao tratamento, nessa ótica, não se usa o termo “tecnologias de cuidado”, ainda que seja praticado por meio de Instrumentos de Rastreamento, Avaliação Diagnóstica, entrevista com pais e cuidadores etc. Pode-se observar  com isso, que esse tipo de tratamento é muito mais voltado ao diagnóstico e à orientação sobre autismo do que a ações práticas voltadas ao paciente, apesar de estar disponível uma rede de Cuidados voltada à Pessoa com Deficiência. Por se tratar de uma deficiência, a ênfase nesse modelo é a detecção precoce de sinais iniciais de problemas no desenvolvimento, indicadores do desenvolvimento ou sinais de alerta e indicadores comportamentais de TEA, sendo utilizados como principais instrumentos utilizados o rastreamento, a avaliação diagnóstica e as classificações: CID 10 e CIF. É importante citar que vários pontos de divergência foram observados entre os documentos,  como por exemplo, a discordância na caracterização do TEA como integrante do campo das deficiências intelectuais ou das psicopatologias. A definição elaborada pelos documentos é importante pois a partir dela é definido todo o curso de ação quanto ao tratamento multidisciplinar no país e a diferença pode influenciar diretamente na relação entre profissional e usuário da rede de apoio. O Linhas de Cuidado não direciona especificamente a classificação do Autismo como uma deficiência e busca discutir métodos de intervenção. O Diretrizes, por outro lado, classifica o Autismo como uma deficiência, trazendo técnicas de reabilitação. Com isso, tal documento propõe-se a discutir sobre a condição multifatorial do Autismo para que esse não seja reduzido à condição intelectual de determinação ou à noção de deficiência, de modo que o autismo não seja centralizado como um traço de anormalidade da vida social do indivíduo. Outro ponto de discussão entre os documentos é a noção de integralidade. O documento Linha de Cuidado permeia diversas maneiras de intervenção, considerando a integralidade como o reconhecimento do sujeito dentro de uma organização de cuidados, ou seja, sendo usuário, atuante e interligado com todas as ações e serviços oferecidas para o indivíduo. Ele mostra como é realizada a transição da pessoa autista entre a RAPS e a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, mas não especifica o lugar concreto do sujeito dentro do Sistema Único de Saúde, o que possibilita o questionamento crítico sobre a impossibilidade de  alcançar tal integralidade a partir da realidade do SUS no Brasil. No que concerne a um plano individual, tem-se o Projeto Terapêutico Singular que é uma das ofertas de cuidados apresentadas pelo documento, no qual são construídas redes de identificação das necessidades dos sujeito e de seus familiares para encaminhá-los ao devido processo de tratamento, articulando a integralidade entre os projetos e os possíveis espaços para o autista no SUS, contudo não há elaborações sobre a efetividade e eficácia do projeto na realidade. O Diretrizes, por sua vez, constrói sua discussão voltada para um processo de reabilitação, pois trata o autismo como deficiência. Tal percepção pode ser problemática devido a denotação de um estado fora de algo considerado normal, reforçando um discurso atrelado a aspectos desenvolvimentistas relacionados a uma determinada “norma social”. Esse modelo, adotado pelas Diretrizes, é considerado por alguns autores como automotivo e desfavorável para o desenvolvimento da integralidade dentro do SUS, visto que não se propõe a considerar o sujeito como participante desse processo de atendimento e sim com um paciente que apenas receberá o tratamento, sem participação ativa na rede de saúde. Apesar de apresentarem aspectos em comum, tais documentos norteadores entram em desacordo em alguns pontos, principalmente quanto à classificação do autismo. Divergem também em relação às suas referências e sua metodologia de elaboração. Ambos os documentos são considerados norteadores dentro dessa temática, entretanto geram dúvidas práticas sobre sua implementação. A falta de clareza no que tange aos métodos utilizados no tratamento gera dúvidas sobre os resultados e consequentemente dificuldade na visualização da práticas assertivas voltadas à pessoa com TEA. É de fundamental importância a discussão dos documentos norteadores visando à superação de modelos teóricos e a construção de uma política que compreenda os pontos positivos de ambos capazes de ser implementados de forma eficiente no atendimento dos usuários com TEA e de suas famílias no SUS.

10344 O ESPAÇO DA PALAVRA COMO CUIDADO COLETIVO À POPULAÇÃO LGBTT
JOÃO MIRANDA DE ARAÚJO DA COSTA, VIRNA MYRELLI RODRIGUES ALBUQUERQUE, BIANKA ANDRESSA DE OLIVEIRA MEDEIROS, CAMILA TUANE DE MEDEIROS, IALY VIRGÍNIA DE MELO BAÍA, PEDRO AUGUSTO DE OLIVEIRA COSTA, JESSICA PASCOALINO PINHEIRO

O ESPAÇO DA PALAVRA COMO CUIDADO COLETIVO À POPULAÇÃO LGBTT

Autores: JOÃO MIRANDA DE ARAÚJO DA COSTA, VIRNA MYRELLI RODRIGUES ALBUQUERQUE, BIANKA ANDRESSA DE OLIVEIRA MEDEIROS, CAMILA TUANE DE MEDEIROS, IALY VIRGÍNIA DE MELO BAÍA, PEDRO AUGUSTO DE OLIVEIRA COSTA, JESSICA PASCOALINO PINHEIRO

Apresentação: O presente estudo é um relato de experiência sobre o grupo de apoio Espaço da Palavra, que vem sendo ofertado à comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBTT), na cidade de Mossoró – RN.  Esse grupo acontece no ambulatório LGBTT, primeiro em linha de cuidado integral em saúde a esse público no município, e tem como proposta ser um lugar acolhedor, de reflexões, compartilhamento de experiências e de escuta. Dessa forma, têm-se por objetivo descrever as experiências vivenciadas por meio do Espaço da Palavra na percepção dos profissionais de Psicologia que conduzem o respectivo grupo. Os encontros do Espaço da Palavra ocorrem no turno da noite, de forma semanal, no ambulatório LGBTT, localizado na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (FAEN/UERN). A duração gira em torno de duas horas, e se dá dentro de uma sala da Faculdade, tendo o público médio de 8 a 15 participantes. O encontro é conduzido por profissionais de Psicologia Residentes em Atenção Básica/Saúde da família e comunidade (UERN). Com as cadeiras em círculo, é feito o acolhimento inicial. Esse acolhimento é importante para fortalecer o vínculo entre os profissionais e os usuários. Após esse primeiro contato, é realizado um momento de relaxamento, a partir da prática de meditação guiada. O intuito desse relaxamento é fazer com que as pessoas possam se concentrar no momento presente, como também para diminuir as tensões e o estresse. Posteriormente, dá-se início ao tema que será abordado na noite por meio de uma palavra geradora escolhida através das demandas apresentadas pelo grupo. Por meio dessa palavra, é suscitado o diálogo, à escuta, o compartilhamento de experiências, vivências e a ressignificação dos sentidos trazidos para o círculo. Depois dessas trocas de afetividades, o encontro termina com uma “roda de embalo”, em que todos os participantes se abraçam ouvindo uma música que remete a temática abordada naquele encontro. Através da observação dos psicólogos que conduzem o grupo Espaço da Palavra, pode-se constatar na fala dos participantes que houve uma melhora em sua saúde mental. Por meio da fala, que é bastante terapêutica, esses indivíduos podem ouvir outras histórias podendo se identificarem com outras pessoas que passam pelos mesmos problemas, seja em relação ao preconceito, discriminação e opressão vivenciados no dia a dia, as dificuldades no acesso aos serviços de saúde, problemas familiares, como também no processo de autoaceitação, descoberta de sua identidade de gênero, formas de enfrentamento, resiliência, dentre outros. O grupo de apoio Espaço da Palavra realizado no ambulatório LGBTT surgiu por conta da demanda de atendimentos a esses indivíduos, muitas vezes estigmatizados e que sofrem constantes discriminações, até mesmo dentro dos próprios serviços de saúde, o que faz com que muitos deixem de buscar tratamento nesses locais, impactando de forma negativa no cuidado a esses usuários. Portanto, esse espaço de cuidado vem se constituindo como um lugar de atendimento e cuidado integral, onde as pessoas possam se sentir acolhidas e aceitas em sua subjetividade.

10470 TEMA: DOS CIRCUITOS DA RUA AO ENCONTRO DE LUGAR!
Cristiana Marina Barros de Souza, Alzira de Oliveira Jorge, Mônica Garcia Pontes

TEMA: DOS CIRCUITOS DA RUA AO ENCONTRO DE LUGAR!

Autores: Cristiana Marina Barros de Souza, Alzira de Oliveira Jorge, Mônica Garcia Pontes

Apresentação: Na atualidade temos nos deparado cada vez mais com uma clínica que nos leva a pensar e repensar cotidianamente nossa pratica profissional. Os casos que chegam aos serviços substitutivos de saúde metal da infância e juventude apresentam uma complexidade cada vez maior diante da dimensão clínica e social. Dentre os desafios da clínica contemporânea está a produção do cuidado de adolescentes que fazem um uso prejudicial de substâncias psicoativas e colocam em risco o seu corpo nas cenas públicas de uso de drogas. Este texto retrata um relato de experiência de uma profissional. O objetivo central é mostrar ligação entre a redução de danos e as sociais vulnerabilidades a partir de três casos de adolescentes que foram acolhidos e acompanhados em um CERSAMI em Belo Horizonte. Os relatos se apoiam em encontros e no enlace com uma clínica muito particularizada e individualizada, clínica esta do um a um e da singularidade dos casos. Tratar a drogadição na infância e juventude e produzir cuidado em saúde nessa dimensão de tantas vulnerabilidades convoca o Estado e as políticas públicas a adotar e oferecer estratégias e recursos de proteção da vida e da redução de danos. Desenvolvimento: O corpo, circuitos, possibilidades de laços M. ama pedir. Pede chocolate, atenção um espaço de fala, diz que todos dão atenção para todo mundo menos para ela, se coloca na posição de preterida. Quando se joga na cena de uso, joga o seu corpo com tudo, chega sempre com higiene precária, muito magra, às vezes com algum problema clínico ou DST. É como se este corpo não tivesse dor, não sentisse fome, frio e é a própria dor em existir. Chega ao serviço sempre muito cansada se fixando num circuito: dorme, come, toma banho e volta a dormir. Nem sua voz é presente. Com as energias recarregadas, inicia o outro circuito de pedição: pede tudo, desde roupas, comida, material de higiene pessoal. É como se todo este complemento desse borda para este corpo que chegou tão maltrapilho e esquelético, sem nada. Faz-se um corpo com tudo que vai sendo necessário para se aprontar, ser e sentir preferida. Passa a se sentir querida e parte do serviço. Logo que sai da hospitalidade noturna volta para o abrigo. E um novo circuito se inicia. Algo neste corpo não se completa, não dá contorno e borda. Volta então para a desregulação da droga, fazendo um uso mortífero e desregrado, e o corpo volta a definhar e entra com tudo para a cena e para a droga de tal maneira que nenhum laço na rua é possível. Somente quando este corpo já não suporta, ela volta ao ciclo e à Hospitalidade Noturna no CERSAMI como um lugar de porto seguro para este corpo. Em um segundo caso, W., como todo bom menino, vive solto, não para um minuto, corre, ri, se irrita, chora como um bebê, brinca, brinca, brinca. Coloca apelido em todo mundo, gruda, anda e volta a correr. Brinca de bola de gude, de papagaio, de bola, de esconde e esconde, de queimada, fica tão agitado que os pés ficam inchados. Esse tom frenético é o seu dia assim como também na cena de uso de drogas. Iniciou esse hábito na infância numa posição de proteção à mãe, também usuária de drogas. Queria protegê-la dos traficantes. Ele era o HOMEM da família. Logo essa mãe largada esquece o seu homem na boca e ele é largado à própria sorte. É quase impossível um laço com a vida e com a infância. Contudo, ele chega ao CERSAMI e redescobre a arte de ser criança e ter alguém por ele. Conhece o cuidado nem que para isso exista uma lei invisível de um juiz que não existe. O afeto mútuo com a equipe reafirma o laço com a vida e com a infância. W vai e volta e reafirmamos para ele voltar e ficar. Vamos inventando, num choro desesperado de fissura, estratégias para lidar com isso. Vamos ampliando o leque de prazeres e de ações que se sustentem em coisas de crianças, em um repertório extenso e saboroso de infância e de vida. O Caso L refere-se a um dos primeiros pacientes do CERSAMI e lá se vai uma longa história com o serviço. Quando perguntado sobre onde mora, diz que é no CERSAMI. Lá ele encontra vida e também regras. Determinações que num corpo sem crítica, coloca-o em risco. Ele zomba dos traficantes, é ameaçado de morte, faz um uso tão intenso da droga que seu corpo é marcado por este uso. Tem a boca queimada de tanto usar crack, apanha dos usuários de drogas, apanha dos traficantes e é como se a morte não fosse temida. Ali está um corpo completamente desregrado e posto para a morte real que ninguém compreende. Nem os que ali estão em cena e circulam compreendem este mecanismo e ficam impactados. Ao chegar no CERSAMI é cuidado e este corpo calejado é acolhido, o laço com algum ponto de vida é refeito e a possibilidade aparece pela arte de brincar de banho de balde, cantar, dançar, escutar música. Mas algo nessa adolescência se alimenta do risco iminente e a única forma de regrar esse corpo é a Hospitalidade Noturna. Algo não tem permitido que este menino se expresse. Vamos como um cardápio lhe apresentando as palavras, os sentimentos e emoções sobre a vida. Resultado: Os efeitos percebidos decorrentes da experiência: Alguns efeitos desses encontros/conexões A proteção aparece como essencial no discurso, pois estes meninos e meninas se jogam de uma maneira muito mais intensa no uso de drogas. Há um risco real de morte que os acompanha todo o tempo.  Outro ponto observado refere-se à necessidade de inventar novas formas de produção do cuidado e do acolhimento, buscando enlaça-los a novas perspectivas de vida para estes sujeitos Assim, eles ficam e conseguem sair do circuito e da correria para a droga, apesar de que exigem com maior rapidez e eficiência que se faça um enlaçamento com o tratamento ou redução de danos.  Não dá para a equipe esperar ou adiar estes encontros e laços, pois isso traria o risco da perda deste adolescente Os três casos descritos mostram uma relação entre a prática de redução de danos aplicada à infância e à adolescência tem que oferecer proteção e cuidado de uma forma mais rápida, atenta e singular. Destaca-se a necessidade de um espaço de grande inventidade nos profissionais de saúde de forma a se criar laços que sustentem novas possibilidades de vida para estes adolescentes em situação de tanta vulnerabilidade em suas trajetórias existenciais. Em busca de uma síntese Percebe-se na descrição dos casos que na medida em que as vulnerabilidades vão sendo minimizadas, como sair da situação de rua, enlaçar o sujeito a uma rotina de alimentação, higiene ou consciência de si, é possível abordar a redução de danos e, concomitantemente, reduzir o uso abusivo da substância psicoativa. Para isso há que se pensar que cada caso é singular, tem seu próprio caminho e por isso necessita de uma produção de cuidado em saúde também muito singular.

10486 GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO ENQUANTO ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE AUTONOMIA E CUIDADO EM SAÚDE MENTAL COM USUÁRIOS DE UMA CLÍNICA DA FAMÍLIA NA ZONA NORTE DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Marina Ribeiro dos Santos, Sofia Camargo Collet, Sophia Rosa Benedito, Viviane Liria Costa De Souza

GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO ENQUANTO ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE AUTONOMIA E CUIDADO EM SAÚDE MENTAL COM USUÁRIOS DE UMA CLÍNICA DA FAMÍLIA NA ZONA NORTE DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Autores: Marina Ribeiro dos Santos, Sofia Camargo Collet, Sophia Rosa Benedito, Viviane Liria Costa De Souza

Apresentação: O presente relato tem o objetivo de compartilhar a experiência de implementação e os impactos do dispositivo de grupo de Gestão Autônoma da Medicação (GAM) nos usuários com transtornos mentais, numa clínica da família na comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro, por uma equipe de residentes multiprofissionais do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz). A equipe é composta por assistente social, cirurgiã-dentista, educadora física, enfermeira, farmacêutica, nutricionista e psicóloga. Destas, apenas a enfermeira, farmacêutica, nutricionista e psicóloga fizeram parte do manejo do dispositivo do grupo diretamente. A partir dos movimentos de Reforma Psiquiátrica, mudou-se a orientação de atenção à saúde dos usuários que possuíam transtornos mentais, com a desinstitucionalização e maior integração dos serviços e dos usuários, numa perspectiva de valorização de sua vivência nas comunidade e territórios. Ainda assim, percebeu-se que as condutas de muitos profissionais não se alteraram, sendo altamente prescritivas, baseando-se em tratamentos farmacológicos. Desse modo, a GAM surge como estratégia de cuidado para abordar o uso de medicamentos, seus efeitos, indicações e de que forma eles influenciam ou não a vida de quem os usa. Enquanto ferramenta, utiliza -se um guia, criado em 1999 no Canadá, construído coletivamente por usuários com transtornos mentais graves. De fácil linguagem e utilização, é dividido em 5 passos, que trazem desde perguntas amplas sobre a vida, as experiências e os significados de se utilizar medicamentos e de se reconhecer enquanto indivíduos; a informações técnicas sobre os fármacos. Os grandes pilares do dispositivo são o compartilhamento de experiências, a abordagem à autonomia e o manejo cogestivo. Partindo do princípio de que cada usuário possui sua experiência com o uso dos medicamentos, faz-se importante construir um espaço de informação e valorização da autonomia dos usuários, a fim de que tenham maior poder de negociação perante ao profissional prescritor, na intenção de que juntos, possa ser avaliado se o tratamento induz à qualidade de vida e a reduzir o sofrimento que os sintomas da doença causam; ou se de alguma forma, intensificam este sofrimento com efeitos não desejados. O manejo cogestivo é um modo de operar o dispositivo, onde é possível o compartilhamento da experiência da gestão da medicação psiquiátrica e a construção de uma reflexão coletiva dessa temática. Importante destaque se deve ao fato deste dispositivo ter se iniciado dentro dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no Brasil. A experiência na Atenção Primária à Saúde (APS) é relativamente nova, trazendo relevância a este modo de prática em saúde mental. A experiência se inicia a partir da participação das residentes envolvidas em um espaço de supervisão cogestionado, a partir de 2018, composto por residentes e pesquisadores envolvidos com a proposta do dispositivo de grupo GAM na APS do município do Rio de Janeiro. A partir da compreensão do que era a GAM e da possibilidade desta se fazer enquanto uma nova prática, a partir das experiências dos usuários, complementar à atenção em Saúde Mental dentro da APS, iniciamos o planejamento para o começo do grupo na Clínica da Família na qual estamos alocadas. O primeiro passo foi a articulação com as profissionais das sete equipes de saúde da família (eSF) da clínica, a fim de entender suas compreensões sobre a atenção em saúde mental no território onde estamos e se os mesmos entendiam a estratégia como mais uma opção de cuidado. Concomitante a isso, realizamos um diagnóstico situacional participativo, com apoio de trabalhadoras das equipes e da equipe de farmácia para o levantamento dos usuários, a partir dos seguintes critérios: fazer uso de mais de 2 medicamentos psicotrópicos, por longo período e ter condições de trocar experiências, independente de terem um transtorno mental leve ou grave. Após apresentação da listagem às equipes, veio a articulação junto à elas, principalmente agentes comunitárias, para verificar se os usuários levantados tinham perfil para o grupo e quando sim, fazíamos convites a partir de visitas domiciliares. A equipe de residentes se dividiu entre as eSF para realizar matriciamento das demandas que por ventura fossem levantadas durante o grupo. O processo descrito ocorreu a partir de fevereiro de 2019 e o grupo se iniciou em maio, sendo aberto à novos participantes e com periodicidade semanal. Os usuários eram avisados dos encontros semanalmente via telefone. Os encontros eram planejados no mesmo dia de sua ocorrência, com propostas de dinâmica de apresentação e de finalização, junto às leituras do guia, conforme a proposta da GAM. O grupo obteve participação de cerca de 11 usuários. Os encontros ocorreram de maio a dezembro de 2019 e não conseguimos completar a leitura total do guia. Da discussão e aprofundamento das questões, percebemos que a maioria dos usuários possuíam expectativa de que o grupo fosse um intercessor entre eles e a clínica da família para obtenção de consultas. Além do guia, realizamos atividades que estimulassem a criatividade, como desenhos e pintura e também, oficina de chás, como um recurso não farmacológico para ansiedade e insônia. Durante o final dos encontros, referiram-se ao grupo como um espaço que os fazia bem, local para desabafar, distrair a mente, aprender coisas novas e para socializar. Mesmo morando na comunidade por muitos anos – alguns até em ruas próximas –, os participantes não se conheciam e isso, pode ser analisado pelo fato da maioria deles terem fobia social e síndrome do pânico e, por isso, ficarem restritos em domicílio. Raramente eram participantes de outros espaços da clínica, seja por não se interessarem, seja pelo desconhecimento dos outros grupos e espaços coletivos ofertados, seja pelas dificuldades que transpassavam o cotidiano de suas vidas individuais e da comunidade. A ida ao grupo por si só, já era um grande passo e um momento de construção de vínculos importantes. Do decorrer da experiência, pudemos observar uma melhora significativa na comunicação e disponibilidade de troca dos usuários, que se tornaram mais abertos nas discussões entre si e também, com sua equipe de referência. Cumprindo parte do objetivo proposto, alguns usuários argumentaram sobre seus tratamentos com os prescritores que o atenderam e estiveram a par sobre os agendamentos em serviços especializados, estando mais próximos da construção dos seus projetos terapêuticos. Percebemos que muitos usuários tinham vínculos familiares e o quanto suas relações entraram em choque, a partir do desenvolvimento das individualidades dos usuários no grupo, o que pode ser um analisador positivo da construção da autonomia e do fortalecimento da realização das escolhas, de forma livre e esclarecida. Para além dos benefícios que o grupo oferecia, a concepção de cuidado dos usuários era diferente, atrelada a possibilidade de ter medicações em dia e consultas com o psiquiatra de forma periódica. Assim, ainda que os usuários tivessem avaliação positiva do espaço, não reconheciam o grupo como um espaço de cuidado complementar, além do cuidado biomédico que recebiam na clínica, ambulatórios e/ou CAPS. A partir da experiência, foi possível compreender que utilizar a GAM como prática de cuidado, que leva em consideração a experiência dos usuários, foi importante para reposicionar o cuidado em saúde mental na APS, aproximando os usuários dos seus projetos terapêuticos singulares e fortalecendo sua autonomia, com vistas a um cuidado em saúde mental integral e longitudinal, de bases territoriais, tendo a APS como coordenadora do cuidado na rede.

6731 ESTRESSE E TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS ENTRE PROFISSIONAIS DE ENSINO DE COLÉGIO UNIVERSITÁRIO
Ana Luísa de Oliveira Lima, Jorge Luiz Lima da Silva, Giulia Lemos de Almeida, Mayara Souza Monnerat, Beatriz Ferreira de Toledo dos Santos, Hikari Watanabe Ferreira, Bruna Cerqueira Bonan de Lima

ESTRESSE E TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS ENTRE PROFISSIONAIS DE ENSINO DE COLÉGIO UNIVERSITÁRIO

Autores: Ana Luísa de Oliveira Lima, Jorge Luiz Lima da Silva, Giulia Lemos de Almeida, Mayara Souza Monnerat, Beatriz Ferreira de Toledo dos Santos, Hikari Watanabe Ferreira, Bruna Cerqueira Bonan de Lima

Apresentação: O estresse tem sido indicado como a principal causa que leva o trabalhador a desenvolver transtornos mentais. Os transtornos mentais comuns (TMC) podem ocasionar consequências sociais, redução na produtividade laboral e adoecimento psíquico. Este estudo objetivou descrever o grau de estresse entre trabalhadores de colégio universitário; descrever a prevalência de síndrome de burnout (SB) e TMC entre o grupo; e analisar possível associação entre estresse e TMC. Desenvolvimento: foi realizado um estudo epidemiológico descritivo seccional. O estudo seguiu a resolução 466/2012, e contou com a aprovação do comitê de ética da Faculdade de Medicina da UFF. A população foi composta de 106 trabalhadores do Colégio Universitário Geraldo Reis – Coluni. A coleta ocorreu no período de 2018, com a aplicação de questionário estruturado com dados clínicos, contendo a Job Stress Scale (JSS), Maslach Burnout Inventory (MBI), e a versão reduzida do Self Reporting Questionnaire (SRQ-20). Resultado: entre os trabalhadores, 65 profissionais (61,3%) relataram ser um pouco estressados. Na análise do modelo demanda-controle, 53 (50%) dos trabalhadores se alocou no quadrante trabalho ativo, 41 (38,7%) no trabalho passivo, enquanto que o quadrante de baixa exigência apresentou 12 (11,3%), nenhum trabalhador apresentou alta exigência. A suspeição de TMC entre os trabalhadores foi de 22,6%. Do total, 31 (29,2%) apresentaram síndrome de burnout, segundo Ramirez e cols., 104 (98,1%) SB, segundo Grunfeld e cols. e 29 (27,4%) SB, segundo Golembiewski e cols. Na análise multivariada mantiveram-se associados ao desfecho o sexo feminino (RP=10,03, IC95%=1,21-82,686), pensar em abandonar o trabalho (RP=1,49, IC95%=1,001-2,238), SB (RP=3,776, IC95%=1,024-13,926), e a idade maior se comportou como fator de proteção (RP=0,25, IC95%=0,078-0,794). Considerações finais: não ocorreu associação entre a exposição e o desfecho neste estudo. Os resultados auxiliam na discussão sobre qualidade de vida, despertando o senso crítico sobre sinais e sintomas de estresse, e a conscientização sobre saúde mental, contribuindo assim para a área de epidemiologia, e qualidade de vida do trabalhador, e abre espaço para mais estudos na área da enfermagem.