345: Saúdes, Culturas e Artes nas Ruas
Debatedor: Pedro Sapi Anacleto
Data: 28/10/2020    Local: Sala 07 - Rodas de Conversa    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
6190 O LAZER NO PLANO TERAPÊUTICO: UMA PROPOSTA DE CUIDADO
Thamires Ribeiro da Silva, Edith Lúcia Mendes Lago, Ana Nascimento Miron, Karen Sakane Onga, Daniel Rocha dos Santos, Rafaelle Ramos Delgado

O LAZER NO PLANO TERAPÊUTICO: UMA PROPOSTA DE CUIDADO

Autores: Thamires Ribeiro da Silva, Edith Lúcia Mendes Lago, Ana Nascimento Miron, Karen Sakane Onga, Daniel Rocha dos Santos, Rafaelle Ramos Delgado

Apresentação: O Centro de Atenção à Saúde do Idoso e seus Cuidadores (CASIC) é um Programa de Extensão pertencente à Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense (EEAAC/UFF), localizado no município de Niterói, tendo como objetivo desenvolver práticas sociais de atenção primária em saúde. É um campo de pesquisa e prática de cuidado para graduandos, mestrandos e doutorandos de diversas especialidades. Desenvolve várias atividades assistenciais, oferece terapias complementares e várias oficinas que dão suporte à temática do envelhecimento e de suas especificidades, destinados aos cuidadores familiares ou formais. O Grupo Terapêutico destinado aos cuidadores funciona semanalmente, na parte da tarde e a equipe que o desenvolve é composta por: assistente social, psicóloga, e quatro estagiários nas áreas de medicina, psicologia, enfermagem e turismo. A entrada do acadêmico de turismo no grupo permitiu uma ampliação do entendimento da própria equipe técnica da importância real do lazer como fonte de cuidado para os integrantes do grupo terapêutico. Então, a equipe adotou o passeio turístico como um recurso para promoção de saúde dos componentes. O presente trabalho tem como objetivo relatar a influência do lazer como estratégia de cuidado na saúde dos cuidadores de idosos, expandindo sua qualidade de vida. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo qualitativo desenvolvido a partir da experiência de inserção do lazer como estratégia de cuidado em grupo terapêutico para cuidadores de idosos vivenciada no CASIC. O cuidado com o idoso acarreta inúmeras consequências para a vida do cuidador. Conforme aumenta a dependência do idoso, mais se agrava a saúde do cuidador. As queixas mais frequentes identificadas são: alterações no sono, afeto, humor e depressão. Logo, a demanda por cuidado torna-se debilitante a ponto de repercutir na saúde mental e física. Tanto que 46,7% dos cuidadores entrevistados em pesquisa no Rio de Janeiro sofrem de hipertensão arterial sistêmica, 42,4% de artrose e 39,1% de problemas na coluna, possivelmente associados ao esforço físico. Identificou-se também que 32% encontram-se na faixa etária entre 58 a 67 anos, demonstrando que além das patologias advindas da ocupação, há a necessidade de se lidar com as decorrentes das especificidades de sua faixa etária. No âmbito da saúde mental, devido ao esgotamento físico e psíquico, a satisfação com a vida se reduz, acarretando em uma percepção negativa sobre a própria realidade, aspirações e desejos. O grupo terapêutico é composto principalmente por cuidadores informais já idosos. Normalmente trata-se de um familiar que se responsabiliza pelo cuidado integral do idoso fragilizado, o que demanda tempo, esforço físico e psíquico responsáveis por gerar sobrecarga, doenças, fragilidade e depressão. O encaminhamento para o grupo pelos profissionais se dá mediante sintomas depressivos. Por essa razão, surge a necessidade de se adotar novas estratégias para aumentar a qualidade de vida dos membros do grupo. As estratégias de lazer formuladas pela equipe, sob a orientação do estagiário de turismo, buscam ampliar as chances dos integrantes de desfrutar vivências que favoreçam a inclusão social, a interação grupal e novos aprendizados articulados pela cultura, passando a ser uma atividade datada: toda última sexta- feira do mês. A primeira estratégia, foi a exibição de vídeos com temas como sexualidade, saúde e turismo (como forma de preparação para os passeios culturais). A segunda, foi a criação de um grupo no aplicativo WhatsApp, “O que temos para hoje? ”. O objetivo principal é socializar a programação cultural local, que ocorra nos finais de semana, preferencialmente gratuita ou de baixo custo. A ideia inicial surgiu a partir da fala de uma integrante que sofria com a solidão. A retroalimentação do grupo é responsabilidade de toda a equipe técnica e o monitoramento do estagiário de turismo. Os passeios turísticos também conformam o plano terapêutico, elaborado pela equipe técnica que já havia tido uma experiência muito negativa em um passeio antes da participação do estagiário de turismo. Sob a orientação do turismólogo em formação, muitos entendimentos se expandiram ao longo das experiências. A programação sempre foi debatida com o grupo e é previamente agendada com o setor de veículos da Universidade que fornece a van e o motorista, garantindo a tranquilidade no trajeto e a possibilidade de incluir os idosos, já que muitas vezes o cuidador, por ser o único no cuidado de seu idoso, não iria sem ele. São passeios que estimulam a cultura e o lazer, preferencialmente gratuitos ou de baixo custo. O lanche é coletivo e cabe à equipe técnica o cuidado com o acondicionamento correto. Os passeios incluem também a pré-visitação do local ou consulta online para saber sobre os horários, agenda cultural, checagem da presença de equipamentos que visam a acessibilidade, tais como: elevadores, disponibilidade de cadeira de rodas, rampas de acesso, cobertura, piso antiderrapante e local apropriado para refeições. Os passeios devem se circunscrever à região de Niterói e Rio de Janeiro, evitando a chegada do ônibus à noite, o que seria um fator de dificuldade para os cuidadores que estão com seus idosos. Todos os integrantes do grupo devem estar devidamente identificados com crachás e a equipe técnica fica responsável por pequenos grupos, havendo chamada geral em cada ponto do passeio. Ao longo de 2018 e 2019, foram visitados o Museu do Amanhã, o Zoológico do Rio, Campo de São Bento (Niterói), Centro Cultural dos Correios, Centro Cultural Banco do Brasil, A Fortaleza de Santa Cruz, MAC – Museu de Arte Contemporânea, além de dois eventos de encerramento das atividades, com uma programação específica de natal. Resultado: O grupo caracterizado por cuidadores informais apresenta discursos semelhantes, pois o tempo disponível para o autocuidado é escasso, sendo dedicado às suas responsabilidades. Com o envelhecimento há a diminuição dos vínculos sociais e da capacidade funcional. A oportunidade de sair da rotina, apreciar a cultura e a arte, conhecer novos ambientes e interagir socialmente possibilita que eles se expressem mais livremente, divirtam-se, relaxem e desenvolvam sua criatividade. Tal integração sociocultural é importante para a adoção de uma atitude positiva a respeito de sua própria saúde, pois todos aguardam ansiosamente pela última sexta-feira do mês e demonstram emoção e gratidão após as excursões. Apesar da carência de opções acessíveis para o lazer de idosos, o incentivo da equipe é indispensável já que sua frequência de atividades de lazer está intimamente associada aos encontros proporcionados. As questões do domínio físico foram um desafio, mas a fim de evitar desconforto, dificuldade de mobilidade e fadiga, a equipe promoveu intervalos e dava seguimento ao passeio de acordo com o ritmo dos idosos. O aprendizado gerado ao conhecer novos espaços e exposições influenciou positivamente a área da cognição. O grupo de WhatsApp foi uma ferramenta importante para estimular os idosos a vivenciarem o lazer em suas vidas no seu tempo livre. Assim, foi possível cooperar para superação do isolamento, desânimo e sentimentos de inutilidade ressaltados e que caracterizam a depressão. Considerações finais: Um envelhecimento mais saudável e engajado socialmente é marcado pela qualidade de vida. Assim, as experiências de lazer articuladas no grupo terapêutico ao possibilitarem maior satisfação com a vida, tornam-se capazes de promover a saúde física e mental do idoso. Isso reflete em aspectos emocionais como a solidão e a depressão, influenciando diretamente no bem-estar dos pacientes. Palavras-chave: Lazer; Cuidadores; Equipe Interprofissional.  

7174 A DANÇA SÊNIOR COMO SEMENTE PARA A CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS E O FLORESCER HUMANO NA PERIFERIA DO RIO DE JANEIRO
Mauren Lopes de Carvalho, Lilian Lima da Silva, Matheus da Silva Ferreira, Tatiana Santos e Silva Ramos, Gabriela Esteves Preuss, Aline de Melo Massimo Ferreira, Bruno Costa Poltronieri

A DANÇA SÊNIOR COMO SEMENTE PARA A CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS E O FLORESCER HUMANO NA PERIFERIA DO RIO DE JANEIRO

Autores: Mauren Lopes de Carvalho, Lilian Lima da Silva, Matheus da Silva Ferreira, Tatiana Santos e Silva Ramos, Gabriela Esteves Preuss, Aline de Melo Massimo Ferreira, Bruno Costa Poltronieri

Apresentação: Dançando com o Corpo, a Mente e a Cultura é um projeto de extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia/Campus Realengo, que reúne docentes e estudantes dos cursos de graduação em Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Farmácia e curso técnico de Agentes Comunitários de Saúde em uma proposta de promoção da saúde através da arte e do brincar. O projeto oferece, desde agosto de 2018, encontros semanais com duração de 1 hora, para a prática da Dança Sênior para idosos do bairro de Realengo e territórios adjacentes. O grupo é aberto e atualmente conta com cerca de 30 idosos frequentando regularmente. O objetivo deste trabalho é apresentar de que modo esta proposta inicialmente tão simples vem contribuindo para o florescer humano e o despertar de habilidades e interesses artísticos. Desenvolvimento: A Dança Sênior é uma atividade sócio-físico-mental, de baixo impacto, que não exige esforços físicos intensos e apresenta benefícios de ordem motora, cognitiva e afetiva aos seus praticantes. As coreografias são realizadas em roda com os participantes sentados em cadeiras ou em pé, o que permite a participação inclusive de pessoas com limitações motoras. Nas danças em pé eventualmente são formadas duplas, as quais se modificam a cada unidade coreográfica, proporcionando uma dinâmica de troca e relacionamento entre todos os participantes, sem que nenhum fique de fora. Para além da proposta da dança, foram identificados também outros interesses e habilidades artísticas e culturais entre os participantes. A partir disso, aqueles que desejaram compartilhar suas habilidades ou experienciar mais uma possibilidade de expressão artística, foram tendo essa oportunidade através da participação do grupo em eventos científicos e de extensão promovidos pelo IFRJ. Nas diversas iniciativas, procurou-se estimular que os participantes assumissem as oficinas ou atividades artísticas propostas, no intuito de promover o protagonismo dos mesmos. Resultado: Neste sentido, surgiram, além das rodas de dança, oficinas de pintura, exposição de artesanato, excursão ao cinema e um coral natalino. Os participantes foram pouco a pouco criando vínculos e se abrindo para vivências artísticas cada vez mais ousadas. Sentiram-se a vontade para apresentar as coreografias ensaiadas nos eventos do campus, debater a respeito do filme visto no cinema que abordou o racismo como tema, pegar em um pincel, tintas e tela pela primeira vez e finalmente cantar as canções de natal no fim do ano durante a inauguração do espaço de convivência dos estudantes do IFRJ/Realengo. Considerações finais: Desta forma, o projeto se apresenta como ponte entre os idosos participantes e suas diversas bagagens culturais por viabilizar e fomentar experiências que atravessam e ultrapassam o campo da assistência e que por consequência despertam o florescer humano para muitos idosos que se sentem sozinhos ou que se achavam incapazes de participar e realizar atividades artísticas e culturais.

8107 A PINTURA FETAL E FOTOGRAFIA COMO MEIO DE PRODUÇÃO DE CUIDADO: PROMOVENDO A AUTOESTIMA EM ADOLESCENTES GRÁVIDAS
Izabele Grazielle Da Silva Pojo, Viviane de Sousa Bezerra, Sarah Bianca Trindade, Dheise Ellen Correa Pedroso, Márcia Eduarda Dias Conceição, Tatiana do Socorro dos Santos Calandrini, Luzilena de Souza Prudêncio, Nely Dayse Santos da Mata

A PINTURA FETAL E FOTOGRAFIA COMO MEIO DE PRODUÇÃO DE CUIDADO: PROMOVENDO A AUTOESTIMA EM ADOLESCENTES GRÁVIDAS

Autores: Izabele Grazielle Da Silva Pojo, Viviane de Sousa Bezerra, Sarah Bianca Trindade, Dheise Ellen Correa Pedroso, Márcia Eduarda Dias Conceição, Tatiana do Socorro dos Santos Calandrini, Luzilena de Souza Prudêncio, Nely Dayse Santos da Mata

Apresentação: A gestação altera fisiologicamente o corpo e a mente, as quais podem refletir na autoestima das gestantes e trazer consequências para o binômio, principalmente quando se trata de mães adolescentes. Dessa forma, é necessário que os profissionais da saúde ultrapassem o modelo biomédico para atender a necessidade dessas mulheres, sendo a utilização de pintura fetal e fotografia importantes recursos para atingir esse fim. Objetivo: Relatar a experiência dos autores quanto às contribuições da pintura fetal e do ensaio fotográfico na promoção da autoestima de gestantes adolescentes participantes do Grupo de Extensão e Apoio à Grávidas Adolescentes (GEAGA). Desenvolvimento: Trata-se de um estudo descritivo, de caráter qualitativo, do tipo relato de experiência, vivenciado durante uma oficina do grupo GEAGA, da Universidade Federal Do Amapá (UNIFAP). O grupo faz acompanhamento periódico das gestantes com o objetivo de prepará-las para o ciclo gestacional, desenvolvendo exercícios respiratórios e fortalecimento dos músculos do períneo, além de executar ações de educação em saúde. A oficina a ser tomada como objeto do relato ocorreu em dezembro de 2018, em um ponto turístico do Amapá e foi destinada a quatro gestantes no fim do seu período gestacional, onde foram adotados dois momentos: 1) Realização de pintura gestacional: após a execução da manobra de Leopold, foi feita a ultrassonografia natural nas gestantes que já conheciam o sexo do bebê, e nas que ainda não tinham conhecimento, foi realizada uma pintura simbólica de acordo com o gosto da gestante; 2) Ensaio fotográfico: com as pinturas finalizadas, a equipe auxiliou as gestantes a realizarem um ensaio fotográfico ao ar livre por meio de aparelhos de celulares e câmeras fotográficas. Ao término, as fotos eram disponibilizadas as gestantes digitalmente. Resultado: No primeiro momento, foi perceptível a idealização que as gestantes criaram quanto a imagem de seus filhos e a ansiedade destas para visualização da representação de seus bebês. Considerando a necessidade dessas mulheres em receber apoio, segurança e principalmente esclarecimento dos profissionais de saúde, a equipe por meio de abordagens humanizadas realizou as pinturas conforme as preferências das gestantes, explicando a elas o significado dos anexos embrionários que também estavam sendo representados. No segundo momento, durante a realização do ensaio fotográfico, buscou-se valorizar a mulher e a representação fetal, deixando em evidência o momento único e especial que elas estavam vivenciando. A emoção e a empolgação foi impossível de se passar sem ser notado. Percebeu-se que com esse momento, as adolescentes poderiam ter uma interação com o bebê, se sentindo dessa forma mais seguras quanto a este momento, além disso, elas demonstraram-se muito satisfeitas com a sua beleza, se sentindo mais bonitas e realizadas com a valorização de sua condição de mãe/mulher. Considerações finais: Vislumbra-se assim, a necessidade que as equipes de saúde ultrapassem os limites do modelo clínico, potencializando o cuidado e a atenção ao binômio de forma humanizada, promovendo ações durante o período gestacional que garantam a saúde e o bem-estar destes.  

8138 FAZENDO ARTE NA SAÚDE: O MOVIMENTO DO CORPO É QUE CRIA O VÍNCULO
Debora Silva do Nascimento Lima, Camila Prott Pessanha, Luana de Castro, Rafael Fernandes Tritany, Camila Siqueira de Castro Ferreira, Alexia Pires Figueiredo, Marcus André Carneiro de Carvalho da Silva, Roberta Malafaia Carneiro da Cunha Monteiro

FAZENDO ARTE NA SAÚDE: O MOVIMENTO DO CORPO É QUE CRIA O VÍNCULO

Autores: Debora Silva do Nascimento Lima, Camila Prott Pessanha, Luana de Castro, Rafael Fernandes Tritany, Camila Siqueira de Castro Ferreira, Alexia Pires Figueiredo, Marcus André Carneiro de Carvalho da Silva, Roberta Malafaia Carneiro da Cunha Monteiro

Apresentação: O mover o corpo dançando com o outro, a harmonização dos movimentos, a sincronia, ou um chute no pé quando se está iniciando, resulta no conhecimento do seu corpo, do espaço ao redor e do corpo do outro. E assim, essa interação permite uma sintonia quase mágica. O movimento do corpo permite um encontro consigo a partir do encontro com outro, sendo uma linha, não reta, de expressão do sentimento de uma forma ainda pouco explorada. Por si só, o espaço dançante é de encontro, de troca, de sorrisos leves, afetos, carinho, mas também permitem uma forma de tratamento não hegemônico de dores do coração, tristezas, sentimentos. Alguns autores fazem uma discussão interessante sobre as racionalidades técnicas, das práxis e da arte, salientando que a saúde é um exemplo claro de espaço social que necessita da lógica das práxis. No entanto, o que temos é supremacia da razão médico-centrada, biologicista pautada na racionalidade tecnológica. A qual não permite reflexão crítica acerca da produção e reprodução das formas de cuidado em saúde, bem como não empodera a autonomia dos agentes envolvidos na ação, dos quais, profissionais e usuárias e usuários do serviço de saúde. A racionalidade artística e práxis buscam compreender a ação humana, dessa forma são complementares à medida que valoriza a instituição de outros conhecimentos que não são tangenciados pela razão científica, ainda que isto não signifique que uma racionalidade anule e outra, mas há interseção entre elas. A razão das práxis pode ser definida como a lógica dialética que reconhece contradições, paradoxos e buscando orientar a ação humana a partir de sínteses construídas pelos autores envolvidos em cada processo. A racionalidade artística, por sua vez, objetiva valores estéticos, e a relação do artista com o conhecimento e os padrões instituídos, necessita ser a mais livre possível, já que se espera originalidade no produto do labor artístico. No ambiente-saúde quanto trabalho são práticas relacionadas, que permitem a autonomia do trabalhador em saúde e possibilita a reflexão para a tomada de decisão reduzindo o automatismo que, por si só, é acrítico Trazer a dança para o ambiente de saúde que acontece de forma hegemônica é um desafio, sobretudo pela não compreensão do alcance que a dança permite, no sentido mais amplo do que é saúde, promover saúde e do ser saudável. Este trabalho pretende trazer um relato de experiência, sob o olhar de uma equipe multiprofissional de residentes em Saúde da Família (ENSP/FIOCRUZ), do grupo “Dançando pela saúde”, iniciado em agosto/2019, que se utiliza da dança como expressão artística, interação social e cuidado em saúde, realizado em uma Clínica da Família no município do Rio de Janeiro, como forma de ocupar e utilizar o espaço de atenção à saúde através cuidado para além das paredes dos consultórios. O grupo Dançando pela Saúde surge de uma conversa entre a gerente da unidade e a equipe de residentes, onde se é verificado que uma das residentes teve alguma experiência com dança. De uma conversa informal, nasce a ideia de iniciar o grupo, definindo, assim, que os encontros ocorreriam uma vez por semana, com a duração de uma hora. Inicialmente, a responsável pelo grupo seria uma residente em saúde. Ainda no primeiro encontro do grupo, um usuário da Clínica da Família se propõe a auxiliar, já que o mesmo é professor de dança de Salão. O grupo, então, cresce em número de usuárias e usuários e torna-se um dos grupos com maior adesão na Clínica. É interessante destacar, também, que algumas trabalhadoras da Clínica compõem o grupo. Portanto, trata-se de um grupo composto com usuárias, usuários, trabalhadores da saúde e residentes. As usuárias e os usuários sempre trazem feedbacks positivos das atividades desenvolvidas. Em uma dessas aulas, três usuárias trouxeram seus relatos pessoais de como o grupo de dança estava sendo importante para elas, dizendo: “eu perdi uma pessoa da minha família recentemente, e o grupo de dança tem me ajudado muito a superar. Quando me sinto triste, coloco uma música e fico dançando pela casa”; “ eu venho de um processo depressivo em acompanhamento há um tempo, mas a dança foi a mudança que eu precisava para me sentir ainda melhor”; “começar a semana com dança me faz ter forças para seguir a semana”. Ouvir esses relatos emocionantes, nos traz a certeza que a dança não só movimenta o corpo, como movimenta e gira a vida de outras pessoas, ressignifica, fortalece, alivia. Além disso, a dança possibilita o fortalecimento do vínculo, e estreitamento do laço entre profissional e usuária e usuário. A medida que permite o encontro entre esses atores em um espaço fora do consultório, possibilitando estabelecer confiança do usuário ou usuária em relação ao trabalhador da saúde o que viabiliza compartilhar questões de suas vidas que impactam diretamente à saúde. Importante destacar que o vínculo entre trabalhador e usuária/usuário permite uma confiança de que o profissional irá colaborar na resolução de seus problemas, mas que essa relação não gera, necessariamente dependência, uma vez que esse vínculo deve incentivar o autocuidado e possibilitar a autonomia É possível salientar, também, que além do vínculo que se estabelece entre os participantes do grupo, residentes e trabalhadores da saúde, fortalece a aproximação entre os próprios usuários e usuárias. Muitos delas e deles nasceram ou residem a muitos anos no mesmo local, então a maioria deles se conhecem ou tem algum círculo de amizade em comum. Então, esse encontro oportunizado pelo grupo de dança, tem feito com que elas e eles se encontrem em outros espaços, sejam em festas, bares, visitas ou conversas na calçada, bem típicas de bairros de subúrbio. A utilização do espaço de saúde com proposta de cunho artístico, possibilita um outro olhar do usuário da saúde para o serviço, fazendo com que os mesmos se tornem potentes aliados na luta por uma saúde pública, gratuita e universal. Por este motivo, sempre ao final das aulas os residentes fazem uma fala sobre a importância de mantermos o espaço dos grupos, a importância de apropriação da Clínica quanto nossa a fim de fortalecer o modelo de saúde da família. Salientando, também, a conjuntura política que estamos imiscuídos em que a saúde pública e, sobretudo a da família, não é uma prioridade, ao contrário, vemos a valorização de sistemas de saúde privada em detrimento dos serviços públicos, precarizando-os. Por fim, temos observado que este espaço tem se configurado como um potente dispositivo que contribui para a apropriação das usuárias e usuários dos espaços da clínica, criando um sentimento de valorização e pertencimento e contribuindo para autonomização destes frente às diferentes experiências de saúde e adoecimento, seja pela troca de cuidado, carinho e informação, seja pela rede de apoio que ali se forma. A dança pela dança na saúde da família ganha outras ramificações, por trazer o autocuidado como ponto chave do cuidado em saúde. Levar a arte para o espaço da saúde não só mexe com a estrutura do status quo do trabalho para os trabalhadores, como também, movimenta a população a enxergar outras formas de se cuidar e cuidar do outro. A arte ainda que pouco explorada na saúde da família tem grande potência, para além da utilização da mesma como ferramenta terapêutica.

8209 VIVÊNCIAS CULTURAIS EM SAÚDE COLETIVA NAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS EM ILHA DE MARÉ, SALVADOR- BAHIA.
Matheus Pedreira, Thainá Affonso, Mainara Freire, Joilda Nery, Clarice Mota

VIVÊNCIAS CULTURAIS EM SAÚDE COLETIVA NAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS EM ILHA DE MARÉ, SALVADOR- BAHIA.

Autores: Matheus Pedreira, Thainá Affonso, Mainara Freire, Joilda Nery, Clarice Mota

Apresentação: O presente trabalho visa relatar a experiência dos graduandos de saúde coletiva em um componente prático Práticas Integradas em Saúde Coletiva II (ISCB180), na construção de uma qualidade de vida por meio da arte, cultura e saberes tradicionais, na Comunidade quilombola de Ilha de Maré -, no ano de 2019. A Ilha de Maré, faz parte do município de Salvador (BA), e no semestre de 2019.1 trabalhamos especificamente com as comunidades de Martelo e Porto Dos Cavalos. Objetivo: Descrever aspectos acerca memória da comunidade de Martelo, que surgiram durante a realização do componente de práticas ISCB80, através de relatos e experiências com os moradores, resgatando as histórias e conhecimentos culturais, desta população. Desenvolvimento: Essa vivência prática em uma comunidade quilombola mostrou-se de grande importância para as discentes, na sua formação profissional. Aconteceu durante o 1.º semestre letivo de 2019, neste período realizamos quatro (4) visitas que possibilitou um processo ativo de aprendizagem no campo do conhecimento da saúde coletiva. Além disto, possibilitou a compreensão da interação da cultura, na produção de saúde e nos processos de adoecimento, em especial em uma comunidade quilombola demarcada pelos determinantes sociais, mas repleta de identidade cultural e saberes tradicionais. Através das vivências e interações com moradores da comunidade - em suas festas tradicionais e rodas de conversa - possibilitou o uso da escuta ativa a maior sensibilidade na construção de vínculos e respeito de saberes. Resultado: Conseguimos através da oralidade dos moradores fazer um resgate memorial de aspectos culturais e históricos de grande importância para comunidade. Nestes relatos emergiram aspectos como as histórias dos nomes locais da ilha e seus descendentes; seus saberes tradicionais para cultivar à terra, pescar e mariscar; o uso de ervas medicinais, rezadeiras, benzedeiras; sua forte ligação com a espiritualidade e a natureza; e suas brincadeiras antigas. Resultado: Esta experiência permeou a construção de uma formação mais sensível sobre a cultura, incentivando o trabalho em conjunto com a comunidade por meios das suas potencialidades culturais para saúde.

8442 CARTOGRAFIA DA CRIAÇÃO DE OBJETOS E EXPERIÊNCIAS PARA O CENTENÁRIO DE LYGIA CLARK
Renata Caruso Caruso Mecca, Roberta Furtado Pereira da Rosa, Amanda Oliveira Ferreira, Julia da Silva Leal Tavares, Victória Neves, Rodrigo Pinheiro Barbosa, Andressa Camilla Mendes da Silva, Hugo Costa

CARTOGRAFIA DA CRIAÇÃO DE OBJETOS E EXPERIÊNCIAS PARA O CENTENÁRIO DE LYGIA CLARK

Autores: Renata Caruso Caruso Mecca, Roberta Furtado Pereira da Rosa, Amanda Oliveira Ferreira, Julia da Silva Leal Tavares, Victória Neves, Rodrigo Pinheiro Barbosa, Andressa Camilla Mendes da Silva, Hugo Costa

Apresentação: Lygia Clark foi uma artista revolucionária que buscou a participação do espectador através da sensibilização, expressão gesticular, experimentação sensorial e liberação da imaginação criativa. No contato com suas propostas, caminhamos em direção à memória do corpo e somos emancipados do lugar de espectador para fazer parte da obra como acontecimento. Este trabalho apresenta o processo de construção de objetos/experiências relacionais produzidos por estudantes, extensionistas de duas Instituições de Ensino Superior do Rio de Janeiro, durante a elaboração do evento de Extensão, que tem como disparador o diálogo da obra de Lygia Clark em comemoração ao seu centenário. O evento busca adentrar outra frequência de atenção sobre as práticas corporais, no intuito de ampliar os debates e aguçar uma posição crítica e ética em relação aos estudos que abordam o contato com o corpo. Visa promover o acesso ao saber do corpo encarnado, assim como o encontro de diferentes experiências que aliam a produção em arte e a produção de vida. Como objetivo, pretende-se cartografar os processos de criação dos estudantes para compor uma das sessões do evento e auscultar a movência que a experiência promove nos corpos de maneira a torná-los mais porosos, conectivos e facilitadores da criação de ambientes que rompem anestesiamentos e favorecem processos de diferenciação e intensificação de suas capacidades perceptivas e cognitivas. Desenvolvimento: Em uma chamada interna, foram selecionados 12 extensionistas dos cursos de Terapia Ocupacional, Dança, Musicoterapia e Artes Plásticas. Na construção conjunta do evento foi concebida uma sessão inicial que pretende provocar uma imersão em que os participantes serão convidados a experimentar objetos e proposições baseadas nas obras da artista que foram construídas, em laboratório, pelos extensionistas. Este estudo se guiou pela metodologia da cartografia para acompanhar os processos de criação dos extensionistas diante do encontro e afetação com a obra dessa artista e seus efeitos, tendo como ponto de apoio a experiência. Todo saber advém desse mergulho na experiência, e emerge do fazer. Resultado: A cartografia descreveu a experiência, em detalhes, acompanhando as mutações nos corpos em encontro com as obras em obra e a os fluxos que os atravessavam. Favoreceu o  reconhecimento das genealogias do corpar ativadas pelo acesso à memória do corpo e pela potência vital atualizada nos processos de criação. O encontro humano - não humano promoveu um espaço entre corpos que revitalizou formas singulares mais conectivas com os ambientes e geradoras de um corpo coletivo e de práticas colaborativas de criação. Considerações finais: Como Lygia propôs, caminhamos incorporando o vazio-pleno reconfigurador da existência. O processo mobilizou afetos que incorporaram-se à realidade sensível, recompondo a subjetividade de cada um e construindo um plano comum em que a experiência do corpar acessou sua qualidade ecológica de composição de ambientes incubadores de processo de diferenciação e combativos às modalizações asfixiantes a que corremos risco cotidianamente. Portanto, as cartografias se tornaram parte do processo criativo  dos estudantes não apenas como forma de diário, como também um desafio para relatar as mudanças e as novas subjetividades criadas com decorrer da formação do objeto relacional.

8660 A PRODUÇÃO DE POTÊNCIA EM MOVIMENTOS SOCIAIS: A INVENÇÃO DE CRIANÇAS FOTÓGRAFAS DE UMA OCUPAÇÃO URBANA
Stela Mari dos Santos, Maira Sayuri Sakay Bortoletto

A PRODUÇÃO DE POTÊNCIA EM MOVIMENTOS SOCIAIS: A INVENÇÃO DE CRIANÇAS FOTÓGRAFAS DE UMA OCUPAÇÃO URBANA

Autores: Stela Mari dos Santos, Maira Sayuri Sakay Bortoletto

Apresentação: Hoje e sempre as ocupações urbanas evidenciam a ineficácia e insuficiência de políticas públicas habitacionais que contemplem o direito de moradia dos brasileiros. O aumento de pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social vem se materializando como problema cada vez mais visível nos tempos atuais e isso pode ser sentido e observado pelo aumento das pessoas em extrema pobreza, de pessoas habitando as ruas ou as ocupações urbanas. Esse cenário tende apenas a piorar dado a crise no modelo econômico hegemônico e, mais proximal a nós brasileiros, ao modelo político atual que tem atacado e modificado importantes políticas sociais. No entanto existe uma dobra que toda essa crise possa estar provocando o surgimento de novos movimentos sociais, escapando das velhas formas conhecidas de participação social. Entre esses chamaremos aqui os movimentos que surgem nas ocupações urbanas que tem pulsado inventividade em formas de viver e cuidar de si e do espaço em que vivem. Objetivamos aqui relatar parte do processo de análise da cartografia vivida nesse espaço em conjunto a um movimento de oficinas de fotográficas realizados com adolescentes em uma ocupação urbana. Desenvolvimento: a pesquisa maior utiliza a abordagem de um estudo qualitativo exploratório, de perspectiva cartográfica, tal estudo compreende que na análise do movimento social, vários são os aspectos que podem ser estudados, desde seus discursos manifestos, suas ações concretas, seus planos e programas de trabalho com suas metas e objetivos declarados. No entanto buscamos dar visibilidade ao maior espectro dessas ações que podem ter diversas formas, seja na sua enunciação dentro dos movimentos como seus posteriores efeitos. Neste sentido, a análise microvetorial pode ser capaz de colocar em um plano de análise a gama de atores evocados a partir da formulação das ações dentro desses movimentos, trazendo à tona os efeitos na produção cotidiana da vida das pessoas e, em destaque, na trajetória de vida das pessoas. Neste trabalho o local do qual vamos falar se localiza na região periférica de Londrina, mas especificamente junto com os ocupantes do Residencial Flores do Campo (empreendimento da Caixa Econômica Federal ocupado após permanecer com obras paradas por quase dois anos). Essas pessoas ocuparam tal espaço e exigiam uma manifestação ou posicionamento do executivo do município quanto o destino das famílias caso ocorresse a reintegração de posse e com isso buscaram o debate e a provação da elaboração de políticas não apenas para as 600 famílias que ocupam o Flores do Campo, mas também para as quase 70 mil pessoas que estão hoje na fila da do programa de moradia local aguardando a consolidação de um direito garantido na constituição brasileira, o de moradia a todos. Desde nossa chegada a ocupação percebemos o desejo deles em serem capazes de se comunicar com a população fora da ocupação pelos meios midiáticos. Tal desejo alimentado pela narrativa construída pelo mídia hegemônica que investem em criminalizar as ocupações e seus moradores. Desde então ações de formação dos ocupantes foram feitas e hoje eles contam com página própria da ocupação no facebook. Entre essas ações traremos aqui um recorte do vivenciado em oficinas de formações realizadas com as crianças/ adolescentes da ocupação, buscamos evidenciar aqui o processamento cartográfico que se deu durante a participação de encontros com as crianças/ adolescentes moradores da ocupação em formação para que conseguissem tirar fotos com máquinas não digitais. Um grupo de apoiadores da ocupação contatou os moradores e apresentou a proposta que iniciou no primeiro semestre de 2019 e terminou em dezembro. Para a realização das oficinas inicialmente foi contatado uma liderança da ocupação que possibilitou o acesso aos pais das crianças que tivessem interesse em participar das oficinas e a cada encontro era sempre era realizado o contato prévio com os responsáveis das crianças. Para organização e realização desses encontros ele era dividido em momentos de experimentação com as máquinas e técnicas de fotografia e ou outro momento de debate sobre o vivido que normalmente era realizado junto em momento no qual se comia algo junto. Resultado: Os encontros com as crianças na realização das oficinas eram cheios de curiosidade e desejo por se tirar fotos. Nos primeiros encontros havia o movimento em romper o cheio de receio das crianças/ adolescentes em manusear a máquina fotográfica. Diferente das máquinas digitais que se assemelham muito ao celular as máquinas fotográficas analógicas exigiam de todos uma nova forma de entender, mas nada que fosse impossível. Mas uso do cenário e da iluminação se tornavam muito diferentes. Mas na medida em que foram ganhando confiança em utilizar a máquina o momento se tornava mágico. E do medo de usar a máquina, víamos todos se sentirem autores de imagens que cada um escolhia tirar alimentada pela imaginação de como elas ficariam impressas no papel, uma vez que não tinha, certeza de como ficaria a imagem no exato momento como as máquinas digitais o fazem. E nesse momento a experiência de todos passava a ser algo de transformador. Eles se sentiam, e nós também assim os percebíamos, como verdadeiros fotógrafos que inventavam formas de tirar fotos, poses e já demonstravam domínio do que foi passado a eles sobre a utilização da iluminação natural para melhorar o que eles gostariam de fotografar. Outro momento muito forte foi ver a alegria sentida quando os apoiadores traziam as fotos tiradas por eles impressas em papel. Nesse momento era como se cada uma das crianças/ adolescentes vissem uma obra feita por si mesmas, ficavam estupefatos quando algo apreendido podia ser visto nas suas imagens como o uso da luz de alguma forma diferente, quando a focalização do rosto de alguém havia ficado muito bonita e até mesmo a foto toda desfocada se tornava a foto mais comentada. O término foi marcado por uma grande mostra das fotos tiradas pelas crianças com convite à toda população tanto dos moradores como da comunidade externa a ocupação. Considerações finais: Na dureza que se apresenta inicialmente em uma ocupação urbana, pulsa vida e alegria. Mas para isso é necessário viver o espaço junto com seus ocupantes. A produção de espaços que possam fazer a interface entre a academia e espaços como esses são de extrema importância, pois nos encontros vividos com as crianças/ adolescentes percebemos um aumento de potência de todos os que ali estavam envolvidos. Houve muito aprendizado na troca das vivências entre moradores, apoiadores e crianças/ adolescentes.

8702 A VULNERABILIDADE ESCONDIDA POR TRAZ DO PORTÃO: UMA EXPERIÊNCIA DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS
Helga Rocha Pitta Portella Figueiredo, Warley Henrique Ribeiro Leite, Herta Helena Lopes Martins, Claudia Mara Melo Tavares

A VULNERABILIDADE ESCONDIDA POR TRAZ DO PORTÃO: UMA EXPERIÊNCIA DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS

Autores: Helga Rocha Pitta Portella Figueiredo, Warley Henrique Ribeiro Leite, Herta Helena Lopes Martins, Claudia Mara Melo Tavares

Apresentação: O Sistema Único de Saúde Brasileiro (SUS), apresenta 3 princípios norteadores, a equidade, a integralidade e a universalidade. Este último caracteriza o SUS como algo a disposição de todos, sem distinção. Com a Estratégia de Saúde da Família, houve remodelação da atenção básica, levando saúde a casa da maioria dos brasileiros sob a ideia de melhorar o acesso. Em nossa vivência como usuários, visualizamos algumas situações que nos fazem refletir se de fato os três princípios norteadores estão sendo garantidos. Com esta curiosidade, surge vontade de dar voz a uma comunidade em especial, a comunidade LGBTQI+. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos essa população sofre de exclusão social decorrente do desemprego, falta de acesso à moradia e à alimentação digna, bem como a dificuldade de acesso à educação, saúde, lazer, cultura interferem diretamente na qualidade de vida e de saúde. Isto vulnerabiliza a saúde destas pessoas. Com a objetivo de abrir espaço para debate sobre o acesso ao SUS, grupos localizados no município do Rio de Janeiro, que nos oferecessem esta oportunidade. Método: Trata-se de uma estudo descritivo que teve como inspiração metodológica a abordagem sociopoética, onde buscamos dar voz ao grupo, percebendo os detalhes revelados não somente pela linguagem verbal, mas também pela linguagem corporal demonstrada através de expressões artísticas. Desenvolvimento: No dia 17/12/2019, visitamos uma ocupação antipartidária chamada Casa Nem, ela serve como abrigo a pessoas LGBTQI+ que por algum motivo estão desabrigadas. O ambiente era precário e insalubre, não havendo acesso à água potável, e com presença de insetos e lixos espalhados. Nos sentamos com um grupo de 20 pessoas e iniciamos a uma dinâmica de apresentação, incluindo a nossa. Esse foi um momento bem descontraído, onde um brincava com o outro nos deixando bem acolhidos e à vontade. Em seguida, começamos uma atividade onde todos ficamos de pé, demos as mãos, fechamos os olhos e deixamos nosso corpo se embalar com as batidas de músicas. Essa atividade tinha como intuito nos relaxar, abrir mais nossas mentes e nos colocar em sintonia! O mais incrível durante essa atividade, foi que alguns moradores ficaram tão à vontade que pediram o celular de uma das pesquisadoras para terem a autonomia na escolha das músicas de suas preferências e todos começaram a cantar, interagir mais e aí a aproximação foi inevitável. Após estas etapas, foi ofertada a todos material para elaboração de mandalas, entre estes papel, canetinhas, lápis de cor, cola, tesoura, giz de cera e flores secas (que inicialmente foram colocadas como objeto de decoração mas que durante a atividade foram ressignificadas pelos participantes se tornando parte dos elementos de composição das obras). Todos tinham liberdade de elaboraram as figuras com desenhos, traços, cores, formas e materiais que quisessem. Nos impressionou mais uma vez a maneira que eles estavam levando aquela atividade a sério! Foi um momento de reflexão, onde pensando, desenhando, tentando de alguma forma colocar seus sentimentos naquele pedaço de papel, cada um foi aos poucos se abrindo. Alguns relataram que conseguia se expressar melhor escrevendo, outros com desenhos, outros apenas mergulharam em um momento único de concentração se deixando levar pela música e pelas emoções que estavam sendo passadas para sua mandala. A liberdade sentida pelo grupo nos chamou atenção quando alguns moradores questionaram se nos incomodaria que utilizassem a maconha como faziam de costuma em seu lar, outros menos preocupados com a nossa presença já estavam por utilizar. Depois de algum tempo, uma das pesquisadoras, solicitou que cada autor olhasse para sua obra e buscasse interpretá-la, dando movimento, percebendo as cores e se havia nela algum sentido direcional. Após, começaram as apresentações das criações. Esse foi um dos momentos onde elxs começaram se expor. Muitxs ali falavam sobre suas experiências de vida, como morar nas ruas, uso de drogas, problemas familiares, sociais, muitos depositavam suas alegrias e frustações em terceiros, muitas mandalas mostravam a presença destes. Mandalas traziam conteúdo e falas relacionadas força, família, amor, anergia, dor e dificuldades. Durante as falas, a emoções viram à tona e percebemos que entre si havia apoio, empatia e compaixão. Foi um momento onde todos abriram seus corações e colocaram as coisas que tinham vontade para fora. -’’Eu estou feliz, pois consegui me encontrar com um cara que eu gosto! Foi um encontro muito bacana, pois mediante a minha realidade isso ter acontecido foi algo muito bom’’. Na fala existe uma demonstração de sensação de inferioridade, onde eu não tenho direito de ser feliz, minha realidade não permite isso. -” Amiga, eu gosto muito de você! E eu vi o quanto você conseguiu enxergar tudo o que lhe fazia mal, largou as drogas, está correndo atrás das suas coisas. você é um espelho para mim....” Nesta percebemos nitidamente a empatia entre pares. -” Bom, meu desenho está com uma metade toda preta, pois eu tenho algumas coisas mortas dentro de mim, tristezas, mágoas. E o outro lado do círculo tem uma metade preta e outra branca, pois queria que acontecesse algo bom, que modificasse meus sentimentos”. Lá, a grande maioria entendeu que preta representasse algo obscuro, ruim, negativo e tentavam expressar suas amarguras, decepções, frustrações através dessa cor. As flores secas, ditas anteriormente, caíram nitidamente no gosto de todos os artistas, pois em várias mandalas elas ganharam variadas representações, assim como muitas obras trouxeram em imagens e ema palavras a expressão da vida, da alegria e da esperança. Paralelo ao desenvolvimento da atividade do grupo com as mandalas, uma das pesquisadoras foi convidada a visitar uma moradorx que se encontrava com problemas de saúde e por isso repousava em seu quarto. A moradorx em questão, relatou ser soro positiva e no momento estar com uma anemia grave que segundo orientação deveria tratar com uma alimentação rica em ferro e carne vermelha, porém não era possível ter este tipo de alimentação no espaço onde reside por a casa ter filosofia vegana, e por questões financeiras a mesma encontra dificuldade em se alimentar fora do domicílio. Outra abordagem sobre questões de saúde surgiu, desta vez sobre tratamento de infecções sexualmente transmissíveis. (IST). Reflexões Após termos ido até elxs, conhecido o ambiente, observado tudo o que foi demonstrado, começamos a entender que há necessidade de se estudar mais do que as dificuldades de acesso as unidades de saúde, que o acesso a saúde se inicia antes mesmo do acolhimento em uma unidade. Saúde neste aspecto se relaciona com tudo que ali observamos, ausência de um ambiente adequado para moradia, dificuldade de acesso a emprego, educação, alimentação, entre outros. Saímos desse encontro com a sensação de incapacidade do poder público em promover a saúde destes. Considerações finais: Percebemos muitos problemas e dificuldades, mas fica nítida a vontade de resolvê-los. O apoio, e união estão presentes entre os moradores. Por momentos falaram sobre desavenças, mas descreveram como ato normal em uma família e se veem como tal. Concluímos que mais estudos e ações necessitam ser desenvolvidos voltadas para a garantia dos princípios norteadores do SUS e principalmente garantia dos direitos inerentes a qualquer cidadão estabelecidos no artigo 6º da constituição federal brasileira.

8723 MULHERES NA RUA - PRODUÇÃO DE CUIDADO E ATRAVESSAMENTOS FEMINISTAS
Luana Marçon, Cathana Freitas Oliveira

MULHERES NA RUA - PRODUÇÃO DE CUIDADO E ATRAVESSAMENTOS FEMINISTAS

Autores: Luana Marçon, Cathana Freitas Oliveira

Apresentação: A interinvenção a ser descrita foi produzida a partir da parceria do Coletivo Conexões - Saúde Coletiva e Políticas da Subjetividade (Unicamp) e o Consultório na Rua do município de Campinas (Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira). Essa parceria já teve inúmeros formatos e nesse momento desenhou-se através do projeto de Extensão “Entre a Clínica a Arte e a Cidadania - Oficinas de Arte com a População em Situação de Rua”, onde foi possível experimentar distintos formatos de trabalho usando a Arte como disparador junto à População em Situação de Rua. Compreendemos um projeto de extensão como uma potência de aproximação da universidade com os espaços de cuidado existentes no Sistema Único de Saúde (SUS), nesse caso o Consultório na Rua de Campinas (CnaR), abrindo a possibilidade de produzir pesquisas que dialoguem com a vida social mutável e instável. Seguindo um desejo do Coletivo Conexões de produzir encontros entre distintos sujeitos com a preocupação de olhar e inventar práticas de cuidado, passamos a vivenciar as oficinas que integravam o projeto de extensão e pudemos criar e ampliar vínculos e nossa compreensão sobre a arte na produção do cuidado junto a populações marginais. Desde o primeiro momento, o tema da invisibilidade das mulheres em situação de Rua chamava atenção. Durante as intervenções de campo e nas reuniões de debate com a equipe, percebemos que a aproximação das mulheres era tímida demais. Havia uma questão de gênero clara na participação e seria importante abrir novos espaços de prática e escuta que dessem passagem à situação “ser mulher” e “estar na Rua”. Neste sentido, afetivo experimental de uma pesquisa coletiva, optamos por adentrar um novo recorte de atuação no projeto com o intuito de produzir visibilidade para a mulher na Rua. A intersecção com as perspectivas feministas nos leva a transitar no centro da cidade junto a essas mulheres marginais, sendo tocadas e também experimentando vidas femininas e feministas na Rua, descobrindo e ao mesmo tempo nos experimentando com outros modos de ser mulher. O Feminismo ocupa um lugar de transversalidade em nosso trabalho, já que ele nos ajuda a pensar nossa circulação junto às mulheres em situação de Rua, ora tão distantes de nós, ora tão próximas. Claro que estamos preocupadas com as profundas assimetrias nas relações entre homens e mulheres e com a invisibilidade histórica dada às mulheres, bem como com os movimentos sociais organizados que reivindicam pautas feministas, contudo assumimos um feminismo preocupado em “libertar as mulheres da figura da Mulher, modelo universal construído pelos discursos científicos e religiosos, desde o século XIX”. Imbuídas da percepção da existência de um governo social patriarcal e androcêntrico, buscamos investigar como se efetuam as relações de poder, subjetivação e produção de verdade sobre as mulheres, explorando no processo o modo com que o exercício de poder se efetua na Rua. Cabe reconhecer, aqui, que compreendemos o poder a partir da visão desenvolvida por Foucault, ou seja, como um exercício ativo, produtivo e produtor de um complexo jogo de forças que se sustenta, dentre outras razões, pelo fato de que a maioria dos indivíduos não são mero objeto do poder, mas cumprem um papel importante na operação do mesmo. Assim, quando trazemos à tona os jogos de poder e governo das condutas não nos referimos majoritariamente a uma imposição de constrangimentos aos cidadãos, mas a sutileza das relações de força para fabricar cidadãos que afirmem um tipo de liberdade, em geral regulada por determinado conjunto de interesses hegemônicos que se fazem presentes na sociedade. A partir de tais premissas o desenvolvimento de uma cartografia sobre o cuidado das mulheres na Rua foi a opção de ação que nos pareceu mais adequada, considerando que os efeitos da entrada e formação deste campo de visibilidade das mulheres na Rua são o que tomaram corpo durante a construção cartográfica deste processo. Cartografar o cuidado das mulheres na Rua nos colocou em uma nova forma de experimentar o campo de pesquisa e diante da necessidade de reconhecimento que os registros de pesquisa não teriam como centro uma sobre codificação analítica, mas sim a produção de novas formas de acessibilidade e produção de afetos entre os corpos de pesquisadoras, trabalhadoras e usuárias que passavam todas a habitar a Rua e produzir as alterações nesse território-fronteira. Explicamo-nos melhor. Por se tratar de um recorte de pesquisa dentro de um projeto de extensão maior, os dispositivos utilizados deveriam estar diretamente ligados a arte. Desde nosso primeiro dia de aproximação com o “pano no chão” formamos um espaço conjunto de trabalho. - Consideramos a metáfora do “pano de chão” interessante para brincar entre os ambientes domésticos e de Rua. Assim, resignificamos ele juntando tintas, pincéis e canetas coloridas para que as mulheres pudessem sentir-se à vontade para aproximação - Em todos os momentos em que os dispositivos de construção do campo conjunto de trabalho formaram sua ação observamos o quanto é difícil para as mulheres se posicionarem e serem vistas na paisagem da Rua no Centro da cidade. Nossos achados de pesquisa convergem aqui com as perspectivas feministas que tem se voltado para a desconstrução da Mulher universal desenvolvida dentro de uma perspectiva iluminista e liberal, tensionar tal narrativa nos leva a rupturas em relação as verdades produzidas sobre as mulheres, que as mulheres na Rua nos ajudam as desvelar. Esse território-fronteira, que é a Rua, de circulação e passagem, também foi produzido como um espaço prioritariamente masculino. Historicamente, frequentar a Rua diz respeito ao uso do espaço público e por muito tempo foi legitimado como um privilégio masculino, já que as mulheres estavam encarregadas de organizar e gerir o ambiente doméstico. A forma como as mulheres podem e devem circular pelo espaço público, historicamente, teve um amplo investimento do aparato médico-jurídico incluindo a produção do corpo e das subjetividades femininas. Estas questões, quando revisitadas através dos feminismos, desvelam jogos de força e regimes de verdade instituídos nas relações saber-poder sobre as mulheres. Nesta pesquisa, adentrar a história das mulheres e a ocupação da Rua é, sobretudo, visitar um território de marginalidade e, ao mesmo tempo, de resistência. Buscamos assumir um jeito de olhar para a história fora da convencionalidade cronológica e linear e sustentar uma postura crítica e desnaturalizadora de generalizações, distanciando-se das verdades absolutas que foram produzidas sobre o corpo e a subjetividade feminina. As facetas da domesticação e docilização das mulheres são inúmeras, a ascensão dos regimes de circulação social que conhecemos são pautados na secundarização e submissão das mulheres, visto as movimentações de mulheres que foram necessárias para alcançar o sufrágio, o direito à escolarização, ao mercado de trabalho ainda hoje desigual, ou as agendas ainda conservadoras sobre direitos reprodutivos vigentes no país. Nesse sentido, a perspectiva higienista e de sanitarização da sociedade convergem a um tipo de normatividade onde o homem é visto como um ser livre por instinto, congruentes com um modelo de ciência que naturalizaram sua pouca capacidade de controlar seus instintos e desejos produzindo antagonismo com uma visão de mulher que encarna o controle e a repressão dos desejos sexuais. A partir de tais premissas pretendemos apresentar questões pertinentes a subjetividade da mulher na rua que se refere a experiência de estar na rua junto as mulheres que fazem dela seu espaço de moradia, trabalho e sustento, mas que também produz efeitos sobre a subjetividade de todas as mulheres.

9182 CUIDADO FOTO-AFETIVO: TECNOLOGIA PARA INSERÇÃO DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM NO CENÁRIO DA PSIQUIATRIA
Matheus Marques Ferreira, Cláudia Mara de Melo Tavares, Thainá Oliveira Lima, Marcela Pimenta Guimarães Muniz

CUIDADO FOTO-AFETIVO: TECNOLOGIA PARA INSERÇÃO DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM NO CENÁRIO DA PSIQUIATRIA

Autores: Matheus Marques Ferreira, Cláudia Mara de Melo Tavares, Thainá Oliveira Lima, Marcela Pimenta Guimarães Muniz

Apresentação: No ano de 2018 realizei a prova para o Estágio Não-Obrigatório Acadêmico Bolsistada Prefeitura do Rio de Janeiro e fui aprovado entre os primeiros lugares. Na instituição desaúde mental escolhida tive a real inserção no ambiente e universo psiquiátrico, podendo compreender de forma abrangente e completa o que é ser enfermeiro nessa área de atuação, tanto para o lado positivo, do acompanhamento e alta hospitalar, quando para o lado negativo, das agressões e intercorrências durante o plantão. Ali também, tomado por fortes emoções da própria rotina, tive a iniciativa de criar a Oficina de Foto-Afetividade, levando-me a ressignificação da potente intervenção artística no cuidado ao usuário em sofrimento psíquico invadido por diferentes emoções. Essas são estados psíquicos transitórios multifacetados, incluindo sentimentos, mudanças fisiológicas, sensações, expressões corporais e ações demaneiras específicas. Sua regulação é definida amplamente como a capacidade de gerenciar as próprias respostas emocionais. Isso inclui estratégias para aumentar, manter ou diminuir a intensidade, duração e trajetória de emoções positivas, tato quanto as negativas. As positivas estão relacionadas ao avanço, desejo, mudança e esperança, enquanto as negativas estão relacionadas a estagnação, recuo, sofrimento e até ao aparecimento de doenças, principalmente digestivas e respiratórias. Nesse tocante, a inserção do acadêmico no universo psiquiátrico propicia, por vezes, atravessamentos emocionais negativos, potencializando crises, desafios e medos socioestruturais, que podem afetar a adaptação dos estudantes tornando o período mais estressante e limitante em possibilidades de ensino/aprendizagem. Estes atravessamentos por sentimentos negativos, predominantemente o medo, a angústia e a ansiedade podem ser compreendidos sob a ótica histórica que nos permite afirmar que até muito pouco tempo atrás, “trabalhar na saúde mental” era o mesmo que trabalhar em hospícios, em manicômios, em ambulatórios e emergências de crise psiquiátrica. Era trabalhar com loucos agressivos, em ambientes carcerários, desumanos, de isolamento e segregação. A reforma psiquiátrica brasileira, impulsionada a partir do início dadécada de 1980, propõe um modelo de atenção centrado nos serviços comunitários para substituir a internação hospitalar, seguindo as mesmas orientações das políticas de saúde mental encontradas no cenário internacional. A partir da aprovação da lei n. 10.216/2001 que, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, observa-se a implantação de uma rede de cuidados na comunidade e de políticas voltadas para trabalho, moradia, lazer, cultura, reabilitação e autocuidado. Nessa perspectiva histórico-político-artístico, a experiência de fotografar alarga o campo de percepção, causando mudanças na capacidade de conhecer o mundo real e imaginário, também se torna interessante na medida em que mostra algo concreto, material, dotado de consistência física real e, ao mesmo tempo, assina a ausência do que um dia esteve presente e desapareceu. Assim, a foto pode também ser percebida como testemunha: a fotografia testemunha necessariamente. Atesta ontologicamente a existência do que mostra. Aí está uma característica assinalada mil vezes: a foto certifica, ratifica, autentica e ainda, serve como prova de continuidade e, ao mesmo tempo, como memória da própria identidade e subjetividade do indivíduo. O objetivo geral do relato é analisar a relevância da intervenção foto-afetiva no processo de cuidar, enquanto os objetivos específicos do relato são: 1) refletir sobre as emoções envolvidas nos primeiros encontros do acadêmico de enfermagem com o paciente psiquiátrico hospitalizado; 2) realizar experimentações ético-estéticas por meio da fotopoética junto aos pacientes internados em uma instituição psiquiátrica do município do Rio de Janeiro que busquem mobilizar a sensibilidade no cotidiano do cuidar; 3) buscar embasamento teórico via revisão de literatura para o fortalecimento da intervenção proposta nos diferentes níveis de atenção em saúde ao indivíduo em sofrimento psíquico. Justifica-se através da observação ativa do fato de que intervenções, por meio de tecnologias duras do cuidado, acarretavam desestabilização psíquica do paciente, aumentando seu tempo de internação, indo contra a Lei 10.216, de 6 de abril de 2001 no Art. 4º - A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes, somado ao parágrafo primeiro deste artigo que diz: O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio. Método: O presente estudo configura-se de natureza qualitativa com inspiração sociopoética. A escolha por esta abordagem se justifica, pois, este tipo de estudo resulta em informações ricas e profundas, que possibilitam o esclarecimento de múltiplas dimensões de um fenômeno complexo. Seus resultados são tipicamente baseados nas experiências da vida real de pessoas com conhecimento do fenômeno em primeira mão. No tocante a sociopoética, essa configura-se como uma abordagem do conhecimento do ser humano e da sociedade, que transforma poeticamente a realidade em estudo para melhor conhecer. Como método de pesquisa, visa à produção de subjetividade, utilizando a sensibilidade, a criatividade e a interação com o outro. A oficina ocorreu uma vez na semana e no tempo de 90 minutos tendo como organização os seguintes passos: 1º- apresentação do grupo e proposta temática do encontro; 2º- breve discussão sobre o desejo de fotografar o tema pertinente a proposta do dia; 3º- relaxamento; 4º- liberdade para a observação ativa do estético-belo por todo o espaço do hospital psiquiátrico; 5º- momento de fotografar a imagem observada; 6º- apresentação da fotografia e explanação para o coletivo; 7º- discussão sobre a relação da fotografia com a proposta temática do dia e 8º- encerramento com relaxamento respiratório. Resultado: O relato está baseado nas experiências, encontros, inquietações e intervenção proposta, através da fotografia no manejo de crises, como também das emoções vivenciadas ao longo do período de estágio frente a assistência ao paciente em sofrimento psíquico como possibilidade de reflexões acerca da assistência prestada nestes espaços de cuidado intensivo. Para isso, ao longo do relato são tratados os seguintes temas: emoções negativas experienciadas – principalmente o medo da imersão no universo psiquiátrico; a construção do vínculo durante o cuidado, após a ruptura com o medo inicial; tecnologias do cuidado assertivas que se distinguem das tecnologias duras e engessadas, características da lógica maniconial e assistência criativa no cotidiano com foco nas fotografias e expressões poéticas vivenciadas dentro do hospital psiquiátrico. Considerações finais: Foi demonstrado neste trabalho que a sensibilidade, o estar, o ouvir e o permitir são válidos no tocante ao cuidado terapêutico de pacientes psiquiátricos. Por meio da fotografia, foi possível uma inversão de posições. Aqueles que sempre foram visto, observados e ouviam opiniões sobre si, a partir da fotografia puderam ver, observar, refletir, questionar e opinar sobre si, o que auxiliou no retorno da estima, do autoconhecimento e, principalmente, da sua autonomia enquanto ser, além de trazer a luz do conhecimento, peculiaridades sobre seus históricos de vida que não apareciam em uma entrevista ou reuniões intra-consultoriais.

9207 REFUGIADOS NA ARTE: ENCONTROS CRIATIVOS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE EM SITUAÇÕES-LIMITE
Carmen Jussara Lucena de Vasconcellos, Maria Paula de Oliveira Bonatto

REFUGIADOS NA ARTE: ENCONTROS CRIATIVOS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE EM SITUAÇÕES-LIMITE

Autores: Carmen Jussara Lucena de Vasconcellos, Maria Paula de Oliveira Bonatto

Apresentação: A arte pode ser um elemento de criação superando barreiras comunicativas entre línguas e culturas totalmente distintas? A mobilização para o fazer artístico e lúdico pode contribuir para dissolver tristezas imobilizadoras e fazer emergir seres humanos cheios de vontade de compartilhar sentimentos, projetos, visões? Como essas questões se aplicam ao caso de pessoas afetadas pelas consequências de um desastre socialmente construído, como o enfrentamento do dia a dia em um campo de refugiados de guerra? Foram essas questões que nos mobilizaram a aproveitar a oportunidade de acesso a um campo de refugiados localizado a aproximadamente vinte quilômetros da fronteira com a Síria, rota de fuga de sírios e curdos, para vivenciar a relação com crianças por meio da arte, mesmo que por um período muito breve. Nosso objetivo é refletir sobre o processo de produção artística motivado por ações de arte-educação e arte dramática como potencializadores de promoção de saúde junto a sujeitos afetados por catástrofes e desastres socialmente construídos. A concepção de saúde em questão está embasada pelo conceito de Determinação Social da Saúde, que pressupões processos histórico-sociais complexos, compreendendo a saúde a partir da produção social do humano nas pessoas e das condições de sua máxima realização. Nesse sentido, a saúde se potencializa não somente por acesso a serviços e medicamentos, mas também pela educação, moradia, trabalho e renda, bem como pela organização social, política e cultural, incluindo processos de reflexão e de organização das lutas pelo acesso a todos esses aspectos. Nossos resultados contemplam a produção artística de crianças e jovens expostos a “situações-limite” (FREIRE, 1987) características do enfrentamento às imposições suportadas por grupos de refugiados, entendendo que a situação-limite propõe que a realidade não seja naturalizada e sim possivelmente negada por uma não aceitação que leva à consciência de liberdade e de potência transformadora. A problemática dos refugiados está imersa nas intervenções políticas e econômicas internacionais que geram guerras e situações de migração em massa disparadas pelos interesses do capitalismo mundializado, resultando em desastres socialmente construídos associados a projetos econômicos neoliberais. Entendemos o desastre socialmente construído como um acontecimento que se sobrepõe aos fenômenos naturais tais como enchentes, deslizamentos, furacões e terremotos. É a culminância dos processos econômicos, sociais, históricos e políticos, que por sua vez são geradores das causas estruturais da desorganização social. Ou seja, um desastre nunca é natural. Portanto, contextualizar os problemas estruturais com o estado de vulnerabilidade social ao qual as pessoas são submetidas faz parte da natureza dos desastres socialmente construídos. Desenvolvimento: Durante dois dias, em uma base de atendimento que dispunha de um terraço com cadeiras em círculo, as crianças, que vinham dos campos de refugiados chegavam individualmente ou por grupo familiar. Por vezes, foram contactadas na triagem do atendimento médico com a proposta: “Vamos brincar”? Assim eram convidadas para uma atividade educativa/artística com giz de cera coloridos e folhas de papel ofício. Esse é o contexto em que foi proposta a atividade “Sonhos”. A conexão afetiva foi realizada resgatando algo comum a todos: sua religião, que lhes incute a crença de que Allāh fala com seus fiéis através dos sonhos. A proposta foi desenhar e compartilhar seus sonhos, o que efetivamente foi realizado. Depois receberam materiais para fazerem bolinhas de sabão com a proposta: a bolinha de sabão simboliza o sonho de cada um, e, ao soprá-la, serão seus sonhos subindo ao céu ao encontro de Allāh, como uma oração, juntos. À medida que as bolas se formavam, e o vento as levava para cima, seus sorrisos iam se abrindo e, uns com os outros, apontavam para o céu. Em um outro encontro caracterizada de palhaça propus alguns jogos: Estátua viva, Mímica de animais e “Batatinha frita um, dois, três”. Constatei que a figura do palhaço é universal bem como alguns jogos. No terceiro encontro, sem dispor de tradução simultânea experimentamos jogos recreativos: mímica e um jogo teatral coletivo. Resultado: As ações de arte-educação, realizadas em dois dias, com crianças de 5 a 13 anos, totalizaram um período de 7 horas, cujas atividades compreenderam desenhos, escultura com balões e pintura corporal artística. Já para as atividades de arte dramática, utilizamos a técnica da palhaçaria em 3 dias, com crianças de 5 a 13 anos, durante 3 horas, com jogos recreativos e dramatizações, além da confecção de desenhos. Relativos à atividade “Sonhos”, obtivemos um total de 8 desenhos, que versavam sobre as profissões almejadas: médicos, professora, professor universitário, bióloga, cientista. Os sonhos motivam projeções de futuro, sugerindo a continuidade da vida e possibilidade de seu planejamento. Um dado relevante: o processo gradativo de transformação da expressão corporal. Entre o primeiro e o quinto dia de trabalho pude de observar crescente receptividade e liberdade, transformando expressões limitadas pelo rígido comportamento cultural e religioso. Os 127 desenhos espontâneos foram agrupados por temas, gerando categorias de análise: pessoas (33), paisagens e elementos da natureza (27), abstrato (24), casa (21), qualb (coração) e elementos da natureza (19), sonhos (8), barco (1), Jesus (1). Uma visão imediata sobre a categoria “pessoas” indica expressões de emoções que podem ser decorrentes de eventos traumáticos, como: medo, pavor, terror, mutilações, entre outras. Sobre o trabalho de arte dramática e a observação dos corpos dos participantes destacamos características de desnutrição e a extrema necessidade de cuidados de atenção básica na saúde com crianças marcadas pela guerra, com olhares tristes e sorrisos tímidos. Apontamos a arte dramática (leia-se jogos teatrais e mímicas) como uma real potencialidade de intervenção com sujeitos afetados por desastres e catástrofes na promoção de saúde mental. O ideal seria um trabalho interdisciplinar entre o profissional de arte-educação e o psicólogo, com habilidades e competências em consonância, dando início a processos de dessensibilização. De forma bem simplista, a dessensibilização pode ser explicada como um processo onde o sujeito desaprende as respostas negativas diante de uma situação estressante e transforma a experiência vivida. Considerações finais: Os resultados do estudo indicam que a vivência individual e coletiva do fazer artístico, para muito além de uma visão utilitária da arte, revelam possibilidades de construção de ilhas de humanização e de criação em meio a situações de guerra e injustiça. A experiência também torna inevitável reconhecer que as produções artísticas envoltas em formas espontâneas, ao serem motivadas por intenções educativas baseadas em técnicas de educação popular e de arte-educação, ganham potencial para a elaboração de processos coletivos de superação de limites e de transformação social, apontando para o que Freire (1987) caracteriza como o inédito viável, ou seja: possibilidades para transformações voltadas a um futuro mais humano, e mais ético, com a construção de uma sociedade mais justa, alegre e fraterna. 

9653 LOUCOS PELA X: EXPERIÊNCIAS COLETIVAS DE CARNAVALIZAÇÃO DA VIDA EM TEMPOS SOMBRIOS
Adriele Fernanda Baldessim, Simone Aparecida Ramalho, Bárbara Martins

LOUCOS PELA X: EXPERIÊNCIAS COLETIVAS DE CARNAVALIZAÇÃO DA VIDA EM TEMPOS SOMBRIOS

Autores: Adriele Fernanda Baldessim, Simone Aparecida Ramalho, Bárbara Martins

Apresentação: Partindo da aposta de que em tempos regressivos torna-se ainda mais urgente debruçar-se sobre experiências coletivas, duradouras e cotidianas de afirmação da vida, de sustentação e invenção de outros mundos, objetiva-se apresentar algumas experiências tecidas pelo coletivo econômico cultural Loucos pela X, que reúne pessoas em vulnerabilidade devido a marcadores de classe social, raça, gênero, origem e/ou condição de saúde mental - geralmente excluídas nos processos sociais, culturais e de trabalho - estudantes, pesquisadores, trabalhadores da saúde, professores, sambistas e foliões em torno de uma Ala no GRCES X9 Paulistana e de um Ateliê carnavalesco, gerando trabalho, relações solidárias, convivência na diversidade, festa e formação em saúde, em complexos acontecimentos e arranjos carnavalescos. Para tanto, resgata-se a história deste coletivo inserido na rede de economia solidária e no território carnavalesco da cidade de São Paulo há 18 anos, bem como destaca-se seu momento atual, compartilhando algumas invenções coletivas que tornam viável a afirmação do trabalho solidário, do pertencimento cultural e da força da alegria no enfrentamento dos problemas relacionados à exclusão social de camadas subalternizadas pelo modo de produção capitalista e pelo agravamento dos quadros de sofrimento psíquico. Esta trajetória, marcada pelo vasto diálogo com a comunidade carnavalesca paulistana, aposta que os caminhos do samba abrigam um importante ponto de circulação social para nós, aderecistas e operários da alegria, bem como para o coletivo de foliões que adentra os ensaios para o carnaval, dando vida e movimento às muitas fantasias e às histórias de resistência e sonho por elas narradas. Acreditamos que ao ocupar as passarelas do samba nestas décadas, nas quais existir frente a tantos desafios é um ato de rebeldia criativa, há um encontro potente com o ideal lúdico que sustenta tal empreendimento, assim como sustenta os que dele fazem parte, como aderecistas, estagiários, foliões e parceiros da comunidade. Na tentativa de tornar viável a manutenção de nosso ateliê para além do período de maior agitação carnavalesca, tem-se aberto este espaço oferecendo feijoadas mensais sob a batuta de grupos de samba localizados na zona norte de São Paulo. Nestes sambas têm sido possível romper com a ideia de lucro, tornando possível que a remuneração seja desvinculada da produção, assim, o sujeito que por ali transita, ao acompanhar os custos mensais do coletivo, pode efetuar o pagamento do período em que ele ali esteve de forma singular: a partir de seu cálculo pessoal quanto ao seu papel de consumidor neste espaço de troca cultural e solidária. Ao retomar os espaços de troca carnavalesca e nossas referências solidárias, coloca-se, ainda, a Loucos pela X como um importante campo de formação para profissionais da saúde, dentre outras parcerias quanto a campos de estágio, de imersão formativa e de produção de conhecimento. Assim, pretendemos por dialogar com a invenção carnavalesca, o ideal brincante, a formação carnavalizada e a cultura solidária, como ferramentas de enfrentamento às práticas desesperançadas e que, não sem motivos, colocam o adoecimento como efeito central das políticas retrógradas de nossos tempos.

10105 PROJETO CULTURA A CÉU ABERTO: NOVAS FORMAS DE CUIDADO ÀS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA
Guilherme Andrade Campos, Arlete Inacio Dos Santos, Yasmin da C. Clemente Medeiros, Lucas Caetano De Oliveira, Mariana M. Quintino Ribeiro

PROJETO CULTURA A CÉU ABERTO: NOVAS FORMAS DE CUIDADO ÀS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA

Autores: Guilherme Andrade Campos, Arlete Inacio Dos Santos, Yasmin da C. Clemente Medeiros, Lucas Caetano De Oliveira, Mariana M. Quintino Ribeiro

Apresentação: O projeto, realizado desde maio de 2019 por uma equipe multiprofissional do “Caps AD Alameda - Niterói”, tem como público alvo usuários prejudiciais de álcool e outras drogas que compõem a população em situação de rua (PSR). Ocorrendo na primeira e na terceira quinta-feira do mês em praças de alta circulação da PSR da cidade de Niterói, é observada a importância do cuidado no território. Por meio da exibição de filmes através do “Cine Praça” e apresentações culturais diversas pelo “Praça Cultural”, se busca proporcionar o acolhimento e a aproximação dos usuários em situação de rua aos serviços de saúde, promovendo, durante as atividades, rodas de conversa sobre redução de riscos e danos ao uso prejudicial de álcool e outras drogas, prevenção de doenças e autocuidado. Junto a isso, são viabilizadas testagens de Hepatite, HIV e Sífilis, assim como informações sobre as mesmas. Enfatiza-se, ainda, o viés de acesso à cultura enquanto meio de transformação de subjetividades, sendo, portanto, meio de produção ampliada de saúde, além do trabalho de resgate dos direitos básicos desses cidadãos. Desenvolvimento: Do contato do CAPS-AD Alameda com a PSR, tentamos apreender as demandas de um cuidado que atenda a singularidade de cada sujeito e suas experiências, valorizando a criação de vínculos de tratamento, promoção de autonomia e trocas de informações e saberes – práticas de saúde pautadas pela lógica da redução de danos. A viabilização do projeto é possível por meio do trabalho colaborativo e coletivo com instituições, parceiros e integrantes da PSR. Em nossa programação, a preferência é pela exibição de filmes nacionais e apresentações culturais consideradas populares, na tentativa de promover maior identificação e situações próximas das vivências dos usuários. Resultado: Tivemos uma média de 42 pessoas por atividade proposta, construindo uma forma de reorganizar o olhar da própria instituição a respeito daqueles aos quais se objetiva e se deseja oferecer cuidados que ultrapassam as fronteiras convencionais da saúde - estruturadas na lógica da exclusão, com práticas que mantém o abismo entre quem precisa de cuidado e a instituição que cuida. A participação dos equipamentos públicos orientados pela Integralidade em saúde e educação popular é também uma forma de impulsionar a promoção e o acesso aos direitos sociais, responsabilizando a sociedade e as instituições pelos processos de marginalização. Considerações finais: Observamos que esse projeto possibilitou uma nova forma de se aproximar, criar vínculos e juntos estabelecer prioridades no que e como devemos cuidar. Essa aproximação nos possibilitou vê-los enquanto sujeitos que possuem suas próprias estratégias de autocuidado e que devemos, cada vez mais, estabelecer relações horizontais, possuindo o que ensinar e muito a aprender

10276 BRINCANDO DE FAZER FERRAMENTAS: CONSTRUINDO A MALA DE ARTISTA
Stela Mari dos Santos, Valéria Mendonça Barreiros, Silas Oda, Reginaldo Moreira, Rossana Staevie Baduy, Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Regina Melchior, Celia Maria da Rocha Marandola, Thalita da Rocha Marandola

BRINCANDO DE FAZER FERRAMENTAS: CONSTRUINDO A MALA DE ARTISTA

Autores: Stela Mari dos Santos, Valéria Mendonça Barreiros, Silas Oda, Reginaldo Moreira, Rossana Staevie Baduy, Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Regina Melchior, Celia Maria da Rocha Marandola, Thalita da Rocha Marandola

Apresentação: Quando nos colocamos a pensar o fazer pesquisa nos deparamos com diversas maneiras de trilhar e construir a forma de pesquisar, o ser pesquisador, a relação entre pesquisador e pesquisado. Algumas dessas formas pressupõem a necessidade de uma separação total entre pesquisador e objeto da pesquisa, destacando a importância da neutralidade e imparcialidade no fazer pesquisa e dessa forma acredita-se produzir uma verdade/conhecimento limpa, sem interferência daquele que realizou a pesquisa. Mas, também existem outras formas de construir o percurso da pesquisa, formas que não compreendem a necessidade do total distanciamento entre pesquisador e pesquisado e convocam o pesquisador a mergulhar no mundo pesquisado, implicando-se com o campo e com os encontros: encontros nos quais pesquisador e campo se misturam, e produzem intervenções um no outro. E assim, nesse movimento de pesquisa-interferência, o pesquisador dispõe-se aos mais diversos encontros, e, a partir o referencial teórico utilizado, carrega consigo uma caixa de ferramentas que abarca ferramentas de tecnologias distintas: tecnologias duras que compreendem o campo dos recursos materiais; tecnologias leve-duras, que são os conhecimentos relacionados às teorias, mas não isolados, conectados ao momento singular de encontro com o outro, e portanto, as tecnologias leve-duras demonstram a mediação feita pelo pesquisador entre as tecnologias duras e a leveza exigida pelo encontro; e tecnologias leves, que consistem na produção da relação singular durante o encontro, a partir da escuta, construção de vínculo, do estar sensível e implicado. Entretanto, nesse momento, e no contexto que vivenciamos, o conceito de caixa de ferramentas não nos é suficiente, parecendo um pouco distante do que queremos expressar, assim, escolhemos o conceito de Mala da Artista, pois, a mala, por sua vez, é confeccionada de forma mais afetuosa, com tecidos, linhas, texturas, formas e cores do nosso desejo, pressupondo que os tecidos que a compõem podem transmutar-se em infinitas possibilidades do campo da invenção a partir das multiplicidades de encontros que possamos ter. Desenvolvimento: A proposta desse trabalho é compartilhar narrativas dos percursos e momentos da confecção das nossas malas de artistas. Nosso grupo de artistas encontra-se semanalmente, num ensaio de possibilidades e invenções de estratégias, processando o vivido dentro e fora do campo. Na perspectiva de montar nossa mala, pensamos na possibilidade de vivenciar o Sarau enquanto estratégia para trabalhar grupalidade no nosso coletivo de pesquisa, buscando mobilizar afetos e aflorar a inventividade que nos habita. Resultado: Inventar, encenar, contracenar no confeccionar da mala - narrativas de um sarau brincante: Nem havíamos desfeito a mala dos encontros anteriores da pesquisa lá vamos nós de novo!!! Ao abrir o zíper as fotografias pulam, ainda bem, não precisamos arrancá-las à força...agora recheamos a mala de ferramentas (a caixa era pequena pra nós). Sabe, carregar ferramentas numa mala foi coisa que o fazer atriz e a militância com teatro de Rua ensinou. Lá a gente sempre carrega muita coisa, figurinos improvisados misturados com fios e objetos cênicos, borboletas no estômago, tambores e uma alegria nervosa pelos encontros na/da rua. Bom, agora entra na mala a Poesia!!! Poesia marginal, periférica, vinda dos Saraus na periferia de São Paulo, um encontro que tem afetado deliciosamente nosso corpo. Entra também um Maiakovski, um Leminski, esses são encontros antigos, que caminham conosco há décadas… fiéis escudeiros das trilhas pelo mundo. Ah sim, panos, panos vermelhos, panos arco-íris que escancaram nossos agires militantes. Estamos prontas. Coração disparado...será que el@s vão gostar de viver um Sarau? Chegamos na universidade, mais um lugar-multidão e nos deparamos com mais um lugar sem graça. É sem graça mesmo, sabe daquela que nos desenha um leve sorriso nos lábios provocado pelos olhos que acendem com a beleza. Então, a universidade também é feia, cinza, cheia de concreto, placas, todas iguais no formato e nas cores. E nos perguntamos, mais uma vez, por que o belo fica fora desses lugares/construção. Mas logo essa sensação se dissipa… encontramos gentes, ahhh gentes bonitas, diversas, esquisitas, gentes e mais gentes. Quando surgiu a proposta de construirmos um Sarau em nosso encontro da pesquisa, foi na aposta de um encontro onde pudéssemos nos despir um pouco desse sujeito epistêmico e deixar fluir o sujeito poético/sensível/implicado que com certeza em nós habita. E com borboletas dançando em nossas barrigas, entramos. A sala estava viva, um zum zum zum bonito de se vê!!! Pessoas amarrando tecidos coloridos nas janelas, testando o som, ajustando o microfone, outras arrumando a mesa de partilha de comidinhas, alguns olhares um tanto nervosos, mas alegres com a possibilidade do novo. Alguns chegavam e diziam: num sei se vou ter coragem, mas eu trouxe um livro, ou eu trouxe um poema, ou se me der coragem pego algo na internet. Tapetes coloridos, livros espalhados, gentes se olhando, conversando, se sentindo, se ouvindo… Logo aquela sala de concreto cinza se metamorfoseou num outro lugar, lugar/belo de encontros de gentes! Já estava acontecendo.Foi lindo nosso Sarau! Teve de Plínio Marcos a Taiguara, poema trazido de casa num papel amassado, poema autoral, diálogos dramáticos...pés descalços pela sala, lágrimas de emoção, cantigas de Orixas, Simone de Beauvoir. enfim. Corpos afetados, trabalho vivo em ato, a pesquisadora alegre em nós, saúda a pesquisadora(or) alegre em você. Considerações finais: O movimento do sarau constituiu-se, nesse momento, como um espaço de possibilidade de vazar o instituído academicamente, proporcionando o aflorar de espontaniedades, afetos, desejos, sensibilidades, e assim, (re)conhecer o grupo de artistas/pesquisadoras nesse movimento proporciona a construção da grupalidade através das ferramentas/tecidos leves que promovem conexões outras, do lugar do sensível, permitindo a elaboração e construção das próximas cenas de uma forma mais brincante e mais leve, pois, no contracenar nossos corpos vão tocando-se, apoiando-se, impulsionando-se, marcando-se. E, dessa forma entendemos também a pesquisa, nos movimentos, brincadeiras, invenções e jogos, vamos experienciando encontros e intervindo de formas diversas, colorindo e recolorindo umas às outras. No fazer pesquisa cartográfica, cada um busca em si a ferramenta que faz sentido com seu percurso, assim, a transmutação da caixa de ferramentas em mala da artista está fazendo parte da construção do grupo pesquisador/artista no seu processo de cartografar, confeccionando-a com tecidos, cores, memórias e afetos costurados e entrelaçados nas trajetórias do vivido de cada pesquisadora/artista.

10331 POR UMA CLÍNICA MÍNIMA: CUIDADO E SAÚDE COMO PRODUÇÃO DE VIDA E CIDADANIA
Gabriela Di Paula Dias Ribeiro, Márcio Mariath Belloc, Pâmela do Socorro Carneiro de Barros

POR UMA CLÍNICA MÍNIMA: CUIDADO E SAÚDE COMO PRODUÇÃO DE VIDA E CIDADANIA

Autores: Gabriela Di Paula Dias Ribeiro, Márcio Mariath Belloc, Pâmela do Socorro Carneiro de Barros

Apresentação: O presente trabalho busca apresentar e discutir sobre uma experiência de múltiplos encontros que desvela uma prática de cuidado que se dá articulada à produção de vida e cidadania. Cuidado que demarcamos como clínica mínima, que se dá no detalhe, que se presentifica como uma fresta aberta para a criação conjunta de possibilidades. Frestas por onde o ar circular, espremido pelas tábuas grandes, muitas vezes, firmes, pregadas rigidamente em cada viga que constrói as estruturas sociais e os aparatos sanitários de nossas próprias tecnologias duras e leve-duras e fluxos de atenção. O encontro com o outro é construído a partir do apagar fronteiras, recolher fronteiras, misturar fronteiras. Observamos que a escuta atenta ocorre aonde o outro pode participar com a sua singularidade, com o seu saber. A clínica mínima acontece quando nos colocamos em um lugar de não saber, quando nos deslocamos de uma clínica regada de saberes instituídos para um construir com saber do outro. É estar realmente pari passo e construir junto e não deixar que nossas tecnologias colonizem a experiência do outro, podendo colher os saberes profanos das experiências de padecimento dos processos de saúde-adoecimento-atenção. É profanar a sacralização das tecnologias de cuidado. Sendo assim, um processo artesanal, construído a cada detalhe, confiar e aprendendo com cada escolha. Uma escuta sem o furor da cura, despida do saber especialista que, muitas vezes, se perde ao querer dizer sobre o outro mais que ele próprio. Tais considerações, são fruto de uma experiência vivida a partir da disciplina  Subjetividade e Políticas Públicas, ministrada no Programa de Pós-graduação em Psicologia, na Universidade Federal do Pará. A proposta pedagógica era refletir acerca dos processos de subjetivação contemporâneos e as políticas públicas, suas interrelações, desafios e possibilidades a fim de tratar das respostas singulares e sociais ao modelo de sociedade vigente, atravessado pelo neoliberalismo transnacional, pelo modelo biomédico hegemônico, pelo racismo estrutural, pela hegemonia do patriarcado e suas opressõ es de gênero, pela inviabilização das lutas de classe e outras formas atualizadas de constituição de estado de exceção e desaparecimento político. O debate ao longo da disciplina tinha como uma das finalidades extrapolar o saber disciplinar por meio de uma postura facilitadora do professor, que transitou de forma fluída em um lugar de saber e não saber a fim de construir com as pessoas presentes, institucionalmente considerados como alunos, uma construção coletiva propulsora de processos criativos para além do conhecimento acadêmico via uma aprendizagem significativa; conhecimento construído por meio de experiências significativas que acredita na construção do conhecimento como uma troca de saberes e afetos que geram memórias e uma aprendizagem integral, que envolve intelecto e afetos. A disciplina foi articulada com a possibilidade de termos aulas para além da sala de aula, a citar: em museus da cidade de Belém (PA), em exposições artísticas, em visitas à comunidades consideradas como periféricas da cidade e à projetos sociais. Destacamos assim o encontro com o projeto intitulado “Aparelho: Arte e Cidadania”, localizado na região do Porto do Sal, Cidade Velha, Belém. Uma das atividades realizada pelo Aparelho é a organização da Biblioteca do Porto, que está dentro do Mercado do Porto do Sal, box 5. Na aula que visitamos a Biblioteca do Porto foi possível mergulhar naquela experiência por meio dos olhos, das palavras, das explicações e afetos sentidos nas pessoas que compõem o projeto tanto como usuários quanto como voluntários - que articulam a organização da biblioteca. Para além do serviço de emprestar livros para crianças e adultos da comunidade do Porto do Sal, a biblioteca e o mercado são um ponto de encontro, um lugar onde a pessoa pode se reconhecer ali como parte e como um ser único, com valor, conhecimento, autonomia e direitos. É um espaç o onde não acontece uma simples conversa, mas sim, uma escuta interessada e atenta dos voluntários do projeto, que estão no seu dia de escala para cuidar da biblioteca e fazer o empréstimo dos livros, todavia, notamos que são relações de afeto e formas de cuidado que ultrapassam um emprestar de livros para se constituir em uma forma de escuta que promove saúde. Trata-se justamente da clínica mínima, um deixar o outro escolher as madeiras da sua casa e abrir as portas para adentrarmos na sua morada, no éthos, na ética que compõe um cuidado a partir de uma alteridade radical diante do outro. Afinal, a vida é de quem? Constru(ir) com o outro é ir, ir ao encontro do outro, é deslocamento de si, é romper fronteiras ou ser membrana flexível que não se transforma em muros e colonização do saber do outro. É transitar do centro para periferia sem construir barreiras, sem instituir poderes que subjugam e aglutinam o micro, é resistir na micropolítica, é a não disciplinarização da vida. Clínica mínima: construída a partir de pontos de encontros, espaços de escuta como possibilidades para poder ser o que quiser sem colonizar a experiência do outro diante dos fios invisíveis que se constroem a partir de disciplinarização sutil e sensível que nos deixa no entre, no medo de cair nas frestas e não deixar a vida emergir, medo de olhar para o vazio que existe em cada fresta. Sim, o vazio precisa existir e nele, talvez, possamos construir os pontos de encontros, os pontos de vidas que pulsam espremidas nessas frestas que dão passagem para a criação criativa humana e singular. É o não saber, o não lugar, uma utopia viva e pulsante, oportunidade de espaços vazios para podermos construir, criar, deixar o ar circular nas frestas, dar lugar para uma construção de um comum que garanta o diverso, o múltiplo, o mais singular. Um caleidoscópio semente para um coletivo. Tendo em vista uma clínica mínima que se produz nas frestas das tábuas que constrói uma morada e que cada um vivencia da sua forma a sua experiência, este trabalho propõe também a exposição de registros fotográficos da região do Porto do Sal e da Biblioteca do Porto, que produzem uma reflexão ética e estética sobre a vida das suas palafitas, das suas moradas de madeiras e do cotidiano acolhedor e convidativo de uma periferia constituída de afetos e subjetividades para além da margem que é estar nas periferias da cidade de Belém do Pará. Ademais, os registros fotográficos podem vir a oportunizar diferentes formas de olhar, pensarmos outras formas para além da representação, mas sim, sentir e construir em si as suas próprias frestas e vazios para abrirmos espaços para o ar circular, para o não saber habitar em conjunto com o saber. Imagens que permitem o olhar da proximidade, do estranhamento, da desconfiança, da confiança. o olhar que se constitui no encontro, uma cumplicidade entre o visto e o sentido para além da imagem posta, é aceitar o ruído na compreensão que temos do outro e usar a favor dessa construção da subjetividade. Outrossim, os registros fotográficos trazem as suas frestas cheias de vida das suas palafitas, das suas moradas de madeiras e do cotidiano acolhedor e convidativo de uma periferia constituída por afetos e subjetividades para além da margem que é estar nas periferias da cidade de Belém do Pará.  

10419 O CONSULTÓRIO DE RUA: LUGAR ESTRATÉGICO PARA CONSTRUÇÃO DE CAMINHOS DESINSTITUCIONALIZANTES NA SAÚDE PÚBLICA
Breno Lincoln Pereira de Souza Diniz, Priscilla Victória, Ártemis Garrido, Mariana Aparecida de Oliveira Fonseca

O CONSULTÓRIO DE RUA: LUGAR ESTRATÉGICO PARA CONSTRUÇÃO DE CAMINHOS DESINSTITUCIONALIZANTES NA SAÚDE PÚBLICA

Autores: Breno Lincoln Pereira de Souza Diniz, Priscilla Victória, Ártemis Garrido, Mariana Aparecida de Oliveira Fonseca

Apresentação: O presente trabalho tem como objetivo descrever o equipamento do Consultório de Rua (CdeR) no município de Belo Horizonte como um lugar estratégico para a construção de caminhos desinstitucionalizantes no Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, discutiremos acerca de sua composição e atuação no município junto à população em situação de rua, destacando o papel da arte-educação na ampliação do vínculo dos usuários com a cidade como um todo e na promoção de uma transformação na maneira com que os sujeitos vivenciam a arte e a cidade. O CdeR é um dispositivo que compõe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Belo Horizonte desde 2011, com o objetivo de produzir cuidado às pessoas em situação de rua e que fazem uso prejudicial ou não de substâncias psicoativas. O serviço atua por meio de equipes multiprofissionais que circulam pela cidade em uma van, percorrendo as cenas públicas de uso de álcool e outras drogas nos territórios, buscando construir o cuidado a partir do diálogo entre os diversos saberes e com os demais serviços da RAPS e atuando a partir do entendimento da Redução de Danos enquanto ética do cuidado. As equipes são compostas por 7 profissionais: 1 arte-educador, 1 redutor de danos, 2 assistentes sociais, 1 psicólogo, 1 enfermeiro e 1 motorista. Por vezes, durante os atendimentos, a van se apresenta enquanto um consultório onde o cuidado às pessoas em situação de rua acontece; outras vezes, enquanto um ateliê de arte, um instrumento que possibilita ao usuário circular pela cidade, conhecer os espaços públicos de saúde, arte e lazer. Em outros momentos, a van é o lugar que propicia a privacidade necessária para o acolhimento e uma escuta sensível e sigilosa que precisa acontecer naquele momento. Por meio de diários de campo, reuniões semanais de equipe, supervisões de casos e discussões em rede para além da saúde, construímos o cuidado, compreendendo historicamente o acesso negado dos direitos primários a essa população. Neste sentido, o direito à saúde não é diferente! As barreiras institucionais são postas diariamente aos sujeitos que vivem em situação de rua, seja na recusa de um toque para aferir a pressão, seja na negativa de um atendimento devido a falta de um documento de identidade ou na hostilização por sua apresentação pessoal. O CdeR atua tentando transpor essas barreiras, intervindo tanto com os usuários quanto com os serviços, no sentido de auxiliar na promoção do vínculo entre a população em situação de rua e os equipamentos socioassistenciais e facilitando o acesso dos sujeitos a seus direitos fundamentais. No CdeR as intervenções são estruturadas a partir do cuidado em liberdade e de construções com cada sujeito, ou seja, orientamo-nos pela ferramenta do usuário-guia. As equipes do CdeR buscam colocar em xeque seus núcleos de saberes e seguem arquitetando práticas de cuidado que sejam coerentes com a realidade da vida das pessoas em situação de rua, realizando a construção em saúde a partir dos apontamentos dos sujeitos. Neste sentido, não se está interessado apenas na técnica, mas principalmente na capacidade de acolher/escutar/intervir sensivelmente para posteriormente (a partir do núcleo de saber de cada uma) direcionar terapêuticas. A arte, peça fundamental no CdeR, se dá em três eixos: a construção individual, coletiva e a do espaço. Entende-se enquanto construção individual a atividade que se dá com um usuário, construção coletiva quando há um grupo e a do espaço quando é a cidade o assunto a ser trabalhado. A metodologia se dá de forma espontânea ou programada: o arte-educador pode propor uma atividade para a semana e convidar previamente os usuários, ou o usuário pode propor algo para aquele momento. Um desenho enquanto se espera atendimento, uma mesa com lápis, canetas, tesouras e papéis em meio à cena de uso pública ou um “rolê” em um equipamento cultural da cidade são modos de perceber a arte, a subjetividade, memória e bagagem cultural de cada usuário. Com isso,  a equipe possibilita modos de vinculação não só com a rede de saúde e assistência, mas com a cidade como um todo, garantindo assim direitos, autonomia e o acesso a equipamentos historicamente negados a esse público. O lugar do arte-educador dentro de um serviço que lida a todo momento com o efêmero o faz propor atividades de um minuto, uma hora ou um ano, a depender do tempo de atendimento daquele sujeito e não de um cronograma de oficinas com tempo pré-estabelecido. O espaço da arte-educação ser, em suma, a rua, faz com que o usuário e a equipe como um todo experienciem  a arte para além do seu espaço formal: ela acontece onde o sujeito está, não necessariamente em um espaço legitimado enquanto “espaço de arte”. A arte-educação é urbana e envolve todas as práticas artísticas e todos os cenários possíveis. Nesse contexto, a linguagem da performance é uma das mais utilizadas, pensando o conceito de performance enquanto “a execução de uma ação” e entendendo que estar em campo já é ressignificar a cena de uso, uma vez que a presença da equipe na cena já modifica o espaço e a relação com o  outro. Na contramão de práticas excludentes e alinhado com os princípios estruturantes do SUS da equidade, universalidade e integralidade, o CdeR busca apreender a delicadeza do tempo/espaço dessa população, priorizando a construção de vínculos a partir do acolhimento e entendendo a aposta cotidiana como necessária, buscando se tornar ponte destes usuários no acesso aos serviços públicos da rede socioassistencial. Neste contexto, a arte surge como uma metodologia do  nosso trabalho que desperta o sensível de cada um de nós, entendendo a possibilidade infinita de expressão da vida; não nos deixando endurecer diante dos contextos adversos em que atuamos e fazendo criar saídas para o que a vida pode mais. Entendemos que a luta antimanicomial precisa permanecer como paradigma orientador das reformas sanitária e psiquiátrica, nos ensinando acerca da necessidade cada vez mais urgente de não esquecermos a aliança trabalhador(a), familiares e usuários para construção do SUS que queremos, promovendo cidadania, garantia de direitos e inclusão social. Além do mais, colocar em cena temáticas historicamente negligenciadas, como racismo, feminismo, ‘guerra às drogas’, desigualdade social,  encarceramento da população preta e pobre, entre outras pautas que perpassam a vida dos sujeitos torna-se cada dia mais necessário. Afinal, como já nos lembra Caetano Veloso: “Gente quer comer/Gente que ser feliz/Gente quer respirar ar pelo nariz/Gente pobre arrancando a vida/Com a mão/Gente é pra brilhar/Não pra morrer de fome”.

10490 A EXPERIÊNCIA POÉTICA DO SLAM CAMÉLIAS: PRODUÇÃO DE ESCRITURA E SUBVERSÃO DO DISCURSO NA CIDADE
Júlia Arruda da Fonseca Palmiere, Ana Lígia Saab Vitta, Anita Guazzelli Bernardes

A EXPERIÊNCIA POÉTICA DO SLAM CAMÉLIAS: PRODUÇÃO DE ESCRITURA E SUBVERSÃO DO DISCURSO NA CIDADE

Autores: Júlia Arruda da Fonseca Palmiere, Ana Lígia Saab Vitta, Anita Guazzelli Bernardes

Apresentação: Este estudo possui como objetivo apresentar e discutir a interseção entre duas pesquisas distintas, articulando arte, linguagem e corpo em sua relação com a cidade. Para isto, focamos na experiência poética do Camélias, um grupo de produção de escritura feminista em Campo Grande (MS). Partimos da Psicologia Social e Psicologia da Saúde em sua relação com estudos sobre o discurso produzido na cidade e suas marcas nos corpos que a ocupam. Ao pesquisar a relação corpo/cidade vê-se a produção de marcas que se inscrevem como formas de grafias da cidade no corpo. Esta relação é chamada de corpografia pelas pesquisadoras Fabiana Britto e Paola Jacques, que problematizam modos de viver o espaço urbano na contemporaneidade. Assim, pensar a experiência urbana é realizar um atravessamento entre lógicas coloniais – que compõem o Estado Moderno – e a manutenção de uma espécie de empresa colonial, conforme discute Achille Mbembe. Isto condiciona a gestão das cidades, tendo a privatização e a espetacularização como estratégias condicionantes de gestos normalizadores, o que fragiliza possíveis experiências sensoriais e afetivas na relação com a cidade. Isso, de fato, traz uma clara associação entre cidade-corpo-fala, que se vê em constante ressonância com a produção estética e as condições éticas de ocupação desses espaços. Hegemonicamente, os centros urbanos são geridos para produção do consumo e pela homogeneização, criando o imaginário de uma cidade-pacificada, em que as diferenças são cerceadas. Algumas áreas da região central de Campo Grande (MS), sobretudo do considerado centro antigo, são demarcadas por uma população marginalizada e precarizada, ocupada por moradores de rua e dependentes químicos. Além disto, grupos artísticos se reúnem nesta área, produzindo outra experiência ético-estética na cidade. São grupos de teatro de rua, coletivos de performance, músicos locais e grupos de Slam poesia, que reivindicam a ocupação dos espaços públicos, das praças e das ruas. Em meio ao imperativo de locomoção dos autômatos humanos na modernidade e às grafias do medo que se fundam na privatização e no controle dos espaços públicos, essas expressões artísticas convidam o corpo a parar, produzir desvio e ocupar a cidade de modo distinto que a circulação hegemônica. Para pensar sobre esta experiência de subjetivação, focalizamos na intervenção produzida por um grupo de mulheres slammers, o Slam Camélias. O grupo existe há dois anos e realiza suas intervenções em espaços marginalizados na área central. Por meio das batalhas de poesia em formato Slam, busca incentivar alianças e criar espaço de fala coletiva “depois de todo o atraso resultante dessa história machista silenciadora”, como afirma o grupo. De fato, algumas slammers relatam que a rua produz efeito de silenciamento em seus corpos-mulher, mas que no coletivo criado por mulheres-que-priorizam-mulheres elas se sentem acolhidas e reconhecidas. As poesias recitadas abordam experiências que atravessam suas vidas, suas histórias e seus corpos, sobretudo em relação a violência de gênero, situações de abuso e também de luta e força. Denunciam problemáticas de uma época e incitam a produção de outras narrativas, para além daquelas engendradas no jogo da alternidade masculina, branca, colonial e heteronormativa. Fissuras são abertas no chão asséptico da cidade que se pretende pacificada, criando um espaço heterotópico. Por meio da arte enquanto lócus de experiência e produção de outras percepções espaço-temporais modos hegemônicos de viver a cidade são contestados. Ora menos, ora mais transitórios, estes espaços têm incitado produções micropolíticas comprometidas com a resistência à distribuição diferencial da precariedade. De fato, a denúncia que está em jogo nessas estratégias de resistência acabam intervindo em um campo já dado da cidade — que é composto, primordialmente, pelo funcionamento maquínico e pela fala hegêmonica da população consumista. Desse modo, as formas poéticas ou marginalizadas de ocupação desses espaços se veem, de modo geral, silenciados ou até mesmo aniquilados. Com efeito, Roland Barthes nos introduz a um estudo da linguística que vai pensar a linguagem como essa forma de jogo, de esquemática anárquico que tenta subverter o poder escrutado na língua, seja pelos costumes, pelas normativas ou pelas leis. Tal movimento se daria, no entanto, justamente em um composto que faz deslizar os movimentos originários da palavra — a dizer, a linguística, a gramática, o discurso predominante. Para além dessas questões, a subversão da língua vai emergir — como no caso do Slam — como essa porta de entrada tardia, que se dá, inicialmente, através de uma rede de regras, estratégias e articulações que funcionam opressivamente, condicionando a fala e a produção artística de um modo geral a um confabulado que, por via de regra, induz ao consumo, às subjetividades maquínicas e às formas predominantes de vida. O que, de fato, leva também a produção massiva de corpos e falas precarizadas, cujas formas de vida — e de linguagem não fazem parte do cenário-comum das cidades capitalizadas. É, portanto, um jogo entre fala-língua-ética-cidade que se compõe; tanto regularizado pela rigidez das normas da fala e da ocupação da cidade, quanto constantemente tendo sua manutenção feita pela volatilidade das relações hegemônicas, da produção discursiva que produz o que chamamos de “real”, o imaginário social das cidades. Nessa espécie de jogo, a linguagem pode emergir, também, como subversão à normativa da própria língua, dos próprios costumes e do discurso-comum. Assim, tal subversão viria como uma “linguagem autárquica”, composta por uma determinada autonomia que vai dar à palavra sua possibilidade poética - a dizer, sua possibilidade de ser puro desvio, pura deriva, mas que, no entanto, emerge também na relação constante e incessante com a violência da linguagem, aquela que institui o óbvio e dá corpo a fala predominante — colonial, heteronormativa e branca. É, com efeito, em meio a esse jogo dentre a máquina-linguística que oprime e regulariza e a enunciação de uma nova forma poética de gestão da vida que uma luta se constitui, luta que se origina, de fato, das formas de vida de populações marginalizadas, de povos-menores e de coletivos cuja vida são constantemente postas à morte. Para além desses aspectos, o que se estabelece nessa luta da língua é a própria condição para que, no ato da escritura, da poética desses coletivos, um delírio da língua se estabeleça, interrompendo o discurso hegemônico e abrindo espaço para a linguagem como caso de devir. Está em jogo, portanto, uma modalidade de expressão poética que intervém no cotidiano da cidade, ao passo que, por meio de gestos, linguagens e performances, também contestam modos de governo da vida. Com isto, novas grafias do corpo na cidade se produzem, ao passo em que se engendram novas modalidades de subjetivação, comprometidas com o reconhecimento dos corpos e histórias das mulheres. Ressalta-se a importância do compromisso social da Psicologia em se atentar para as produções coletivas sociais que se engendram nas ruas e incitam novas políticas de reconhecimento em espaços precarizados.

11104 (DES)APRENDÊNCIAS NÔMADES COM OS VIVENTES DA RUA: SOBRE OS MODOS OUTROS DE ESTAR NA VIDA
Paula Monteiro de Siqueira, laura camargo macruz feuerwerker

(DES)APRENDÊNCIAS NÔMADES COM OS VIVENTES DA RUA: SOBRE OS MODOS OUTROS DE ESTAR NA VIDA

Autores: Paula Monteiro de Siqueira, laura camargo macruz feuerwerker

Apresentação: A População em Situação de Rua (PSR) tem crescido nos centros e periferiasdas grandes metrópoles brasileiras. O objetivo desta pesquisa foi cartografar, a partir de alguns planos, a produção dessas existências, reconhecendo suacomplexidade e riqueza - na contramão das forças que tendem a invisibilizá-los, ignorá-los, negando-lhes a possibilidade de qualquer potência ou colorido.Um dos planos cartográficos foi produzido a partir da convivência com ospróprios viventes da rua, o que possibilitou experienciar seus modos outros deestar na vida, sustentando suas existências. Outro plano foi produzido a partirda convivência com um Consultório na Rua, com o propósito de dar algumavisibilidade a suas interferências na produção das existências na rua. Trazemosà tona os campos de forças na produção do cuidado e das existências, os feixese sentires do cotidiano desses viventes e de suas produções no campo rua, bem como dos tensionamentos vivenciados em alguns contextos no SistemaÚnico de Saúde-SUS. em que os saberes dos usuários, trabalhadores, pesquisadores são constituintes dos regimes de verdade. Trazemos cenas deum cuidado produzido no território adstrito, definido para o Consultório. Mas avida vaza, vazava, vazou, uma vez que o território existencial se constituinômade, ainda mais quando se trata dos viventes da rua. A abordagemcartográfica nos permitiu um mergulho intenso no campo rua e aprendemosque recolher - desmarcar – devolver (num movimento ora de estreitamento, orade alargamento), é um deslocamento fundamental para analisarmos amicropolítica do cotidiano. Persistimos no não desejo de formularuniversalidades ou verdades absolutas, mas afirmamos radicalmente que “da Amazônia aos autistas a questão é a mesma, a dos modos de existência”, modos outros em que certos circuitos dos afetos nos tornem viventes maispotentes. Por isso se faz importante dar visibilidade(z) a outros modos de estarno mundo, bem como apostar em mundos mais equânimes, solidários eafetivos. E diante de tanto desmundo produzir e instaurar novas existências.

11144 EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA E POÉTICA - 'Estratégia Saúde da Família: em busca da Integralidade
AMANDA FROTA, Amanda Cavalcante Frota, Cheila Pires Raquel, Ivana Cristina Holanda Cunha Barreto, Luiz Odorico Monteiro Andrade, Rafael Rolim Farias, Luisa Regina Pessoa, Isabella Koster, Isabela Soares Santos

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA E POÉTICA - 'Estratégia Saúde da Família: em busca da Integralidade

Autores: AMANDA FROTA, Amanda Cavalcante Frota, Cheila Pires Raquel, Ivana Cristina Holanda Cunha Barreto, Luiz Odorico Monteiro Andrade, Rafael Rolim Farias, Luisa Regina Pessoa, Isabella Koster, Isabela Soares Santos

Apresentação: A Fiocruz Ceará nasce dos entendimentos entre a Fiocruz e o Estado do Ceará, realizados em 2007 e 2008. Em construção do Governador do Estado, o Presidente da Fiocruz, os Secretários de Saúde e de Ciência e Tecnologia do Estado, os Vice-Presidentes, Diretores e pesquisadores de Unidades da Fiocruz, Reitores das Universidades Federal e Estaduais do Ceará, e o Secretário de Saúde de Fortaleza, foram estabelecidos dois objetivos iniciais da Unidade no Estado: a) Fortalecer e qualificar a Estratégia da Saúde da Família; b) Estimular o desenvolvimento industrial na área da saúde. Na perspectiva do fortalecimento e qualificação da Estratégia Saúde da Família foi estruturada a Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (RENASF), que em 2012 iniciou a primeira turma do Mestrado Profissional em Rede em Saúde da Família com mestrandos e docentes das Universidade Federais do Ceará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Maranhão, da Universidade Estadual do Ceará, d­a Universidade Vale do Acaraú e Universidade Regional do Cariri. Em 2017, foi iniciada uma turma do ProfSaúde, Mestrado organizado pela Fiocruz e ABRASCO, seguindo o modelo desenvolvido pela RENASF, dirigido especialmente para médicos da Estratégia Saúde da Família. Em 2015 o grupo de pesquisadores em Saúde da Família iniciou a implementação da pesquisa Campo de Práticas Profissionais e Acesso ao Cuidado na Estratégia Saúde da Família (CAMPESF), pesquisa de fomento do Programa de Políticas Públicas e Modelos de Atenção e Gestão do Sistema e dos Serviços de Saúde (PMA/Fiocruz), vinculado à Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB). O PMA fomenta projetos de pesquisa que visam o uso dos resultados das pesquisas no campo da saúde pública, para a melhoria das condições de vida da população e do sistema o público de saúde, Sistema Único de Saúde – SUS. A pesquisa foi implementada por docentes e discentes (residentes multiprofissionais e mestrandos) da Fiocruz/CE, Universidade Federal do Ceará e Escola de Saúde Pública do Ceará e resultou de cinco dissertações de mestrado, três trabalhos de conclusão de residência multiprofissional em saúde (RIS-ESP/CE) e três outros estudos, estes implementados exclusivamente pelo corpo de pesquisadores da Fiocruz/CE. Em 2018 o PMA lançou edital de fomento ao investimento e incremento da disseminação científica dos achados das pesquisas vinculadas, contemplando a CAMPESF, objetivando a ampla socialização científica e aplicação ao Sistema Único de Saúde. A CAMPESF analisou o campo e o escopo de práticas de agentes comunitários de saúde (ACS), enfermeiros, médicos e dentistas da Estratégia Saúde da Família (ESF), incluindo a perspectiva de usuários, gestores e dos profissionais com relação ao processo de trabalho. Refletiu também sobre as ações necessárias para aprimorar as práticas e, assim, melhorar o acesso na ESF. Os achados da CAMPESF revelaram fragilidades/potencialidades na implementação dos atributos da Atenção Primária à Saúde (APS) para o cuidado em saúde nos territórios adscritos. Diante das fragilidades e potencialidades desveladas, a equipe de pesquisadores e disseminadores, mediante construção e implementação do Plano Cearense de Disseminação Científica do PMA (2019), dentre diversas estratégias de disseminação do conhecimento compôs a exposição fotográfica e poética ‘Estratégia Saúde da Família: em busca da Integralidade’, como produto de disseminação CAMPESF / PMA. Objetivo: Sensibilizar gestores, trabalhadores, usuários, educadores e educandos, pela fruição artística (imagética/fotográfica e poética), para a qualificação dos atributos da APS na Estratégia Saúde da Família. Desenvolvimento: A equipe de disseminação científica da CAMPESF, constituída por Curadoria (pesquisadora-disseminadora) e fotógrafa retornaram aos campos de pesquisa (municípios: Eusébio, Tauá e Cruz) e  realizaram registros fotográficos das estratégias e atividades municipais que merecem ser fortalecidas na ESF numa perspectiva nacional. O registro fotográfico foi conduzido na perspectiva das recomendações do estudo; aquelas práticas que fortalecem os atributos da APS por meio da ESF. As fotografias registraram o cotidiano real de trabalho (Campo e Escopo de Práticas) dos profissionais das equipes de Saúde da Família. Para tanto, foi solicitado à gestão municipal da APS dos municípios envolvidos os cronogramas (semanais / mensais) de trabalho de todas as equipes, das áreas urbanas e rurais. A partir dos cronogramas, as atividades de agentes comunitários de saúde, técnicos, enfermeiros, médicos, cirurgiões dentistas e NASF dos territórios foram selecionadas (visitas domiciliares, atividades educativas, atividades intersetoriais, atividades na unidade de saúde, atendimentos descentralizados, interação com usuários e equipe, caminhadas de vigilância em saúde no território, atividades coletivas e individuais, grupos operativos, atividades ambulatoriais, atividades interprofissionais, reuniões de equipe, reuniões do conselho local de saúde e demais atividades inovadoras e representativas do cotidiano da Estratégia Saúde da Família. As gestões municipais fizeram a interlocução junto às equipes e disponibilizaram a logística necessária ao acolhimento e deslocamento intramunicipal para os territórios. Traslado e alojamento foram financiadas pelo orçamento da pesquisa CAMPESF. As viagens para a produção e preparação do material foram em abril (Eusébio), junho (Tauá) e julho (Cruz) de 2019. De posse das fotografias, poetas e poetisas cearenses foram convidados para compor ou sugerir poemas já publicados para apresentação das imagens. A exposição foi constituída por 35 fotografias e nove poemas (5 originais) apresentadas em 5 seções (Territórios, Cotidianos, Encontros, Cenários e Práticas da ESF). As imagens foram registradas pela artista-fotógrafa Sheila Raquel e a composição poética pelas poetisas Luana Braga e Marta Pinheiro e pelos poetas Alan Mendonça, Elias José, Francélio Alencar e Johnson Soarez, todos do cenário cearense. Resultado: a) Vivência da Arte da Fotografia e da Poesia na socialização/disseminação do conhecimento científico; b) Interação interdisciplinar e interprofissional de pesquisadores, profissionais da saúde, artistas da fotografia e poesia na socialização / disseminação científica para o fortalecimento do SUS. Considerações finais: É estratégico que os pesquisadores vinculados à Fundação Oswaldo Cruz sejam, cada vez mais, sensibilizados à disseminação científica em suas diversas formas e multimeios: oficinas, seminários, exposições, sites, vídeos, músicas, notícias em rádio e redes sociais, entre outros meios, além dos tradicionais métodos de socialização das produções acadêmicas. Considerando o perfil de difusão científica das pesquisas no Brasil, como estratégia transitória, é oportuno o investimento da Fundação Oswaldo Cruz na formação de pesquisadores-disseminadores, sujeitos eticamente comprometidos com a socialização do conhecimento científico para o fortalecimento do SUS. A Educação Permanente em Saúde para gestores da Estratégia Saúde da Família e a Educação Permanente para a participação social para conselheiros de saúde são imprescindíveis ao fortalecimento da ESF e à consolidação do SUS. O fomento da disseminação científica deve incorporar profissionais da comunicação, da computação, das artes e das ciências sociais em todas as etapas de implementação das pesquisas. A Arte é uma área de conhecimento, e, portanto, insere-se na produção e disseminação científica.