319: Cuidados Intermediários e Redes de Atenção à Saúde
Ativador: Simone Graziele Silva Cunha
Data: 31/10/2020    Local: Sala 16 - Távolas de trabalhos    Horário: 16:00 - 18:00
ID Título do Trabalho/Autores
10055 CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS: ENTRELAÇOS POSSÍVEIS NA PRODUÇÃO DE UMA REDE VIVA DE CUIDADO
Luciana Branco Carnevale

CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS: ENTRELAÇOS POSSÍVEIS NA PRODUÇÃO DE UMA REDE VIVA DE CUIDADO

Autores: Luciana Branco Carnevale

Apresentação: A questão do envelhecimento da população associada à mudança do perfil epidemiológico não é alvo de preocupação recente nas instâncias de governança da Saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS), já no ano de 2003, alertava para a configuração desse panorama epidemiológico e afirmava que as mudanças exigiriam dos Sistemas de Saúde, sobretudo nos países em desenvolvimento, o planejamento adequado de seus serviços e ações para responderem de maneira integral e resolutiva às necessidades de saúde das populações longevas. A esse respeito, salientava a importância dos sistemas de saúde reconhecerem a diferença entre as lógicas que orientam os processos de diagnóstico e tratamento nos problemas agudos e crônicos. Já naquele momento, portanto, a transposição do modelo predominante de atendimento, voltado ao agudo, era vista como condição necessária para abordar as condições crônicas em ascensão Desde então, os modos de organização dos serviços são apontados como fatores decisivos na crise dos Sistemas de Saúde por favorecerem a entrada do usuário pela “urgência e emergência”: pontos da atenção aptos a responderem de forma episódica e fragmentada à demanda espontânea que se apresenta, frente à falta de outras opções de cuidado. Os resultados via de regra são as internações desnecessárias, iatrogênicas e prolongadas, sobretudo no caso de pacientes idosos que do ponto de vista do hospital têm indicações de alta mas, devido a perdas de funcionalidade e independência, não podem ainda voltar para os seus domicílios. Nessa dimensão tem sido discutida uma proposta alternativa de cuidado: a criação de unidades de cuidado continuado intermediário entre a Atenção Básica e os hospitais tradicionais, com o objetivo de recuperar usuários em processo de agudização, em condições de serem acolhidos em média complexidade, ou crônicos egressos de internação hospitalar com baixa autonomia para retornarem aos seus domicílios. Num pequeno município paranaense de quase 15 mil habitantes, existe uma unidade de cuidados intermediários continuados, sob a gestão da enfermagem, que conta, também, com a presença de equipe multiprofissional. Nosso primeiro contato com este serviço ocorreu em 2018, pela via da articulação ensino-serviço. Na época, recolhemos uma demanda específica dos profissionais da equipe (gestores e trabalhadores) em relação ao levantamento e interpretação retrospectiva de dados sobre o perfil assistencial da unidade, desde o início de seu funcionamento em 2015. O pedido foi acolhido e compreendido como uma possibilidade inicial, disparadora do diálogo e da reflexão sobre os processos de trabalho desenvolvidos pela equipe, ainda que lidássemos com dados secundários de prontuários neste primeiro momento. De fato este processo, relatado em outro trabalho submetido a este mesmo Congresso, deu lugar à emergência de questões relacionadas à impossibilidade de produzir e continuar o cuidado prometido pela unidade. Por um lado, as dificuldades ocorriam devido a problemas macro e micropolíticos na gestão e, por outro, a problemas relacionados à produção do cuidado, centrada na lógica da produção de procedimentos no interior do serviço. A própria motivação da existência deste serviço enquanto “cuidado continuado” foi sendo colocada em xeque nas muitas conversas que tivemos com a equipe durante o período de recolhimento dos dados e, posteriormente, também, na devolutiva final da pesquisa para a gestão e equipe. Desde então, temos tentado construir com a UCCI mencionada uma relação configurada pela parceria ensino-serviço, mantendo um grupo de estágio neste cenário. Esta experiência no serviço tem auxiliado o repensar de seu funcionamento, por ora, fragmentado e, também, apontado para a necessidade de incluir outros aportes como condição para abordar a complexidade que envolve o cuidado no interior, e para além, da unidade de cuidados continuados. Objetivo: Discutir sobre a linha de cuidado implementada na Unidade de Cuidados Continuados Integrados e mapear e cartografar o itinerário dos usuários residentes do município, internados na Unidade, pelas demais redes comunitárias, após a alta do serviço, bem como suas necessidades de cuidado. Método: Para Rolnik (2007), ao pesquisar, o cartógrafo conta com a própria sensibilidade na definição de seu método. Para a autora, o território a ser cartografado não é geográfico, mas “existencial”, é território de encontro entre sensibilidades que implicam o próprio pesquisador numa relação de mútua afetação com outras existências, com outros corpos. Ao se lançar deste modo, a dita “percepção” que orienta a susposta posição de neutralidade e possibilidade de “captação direta da realidade” por parte do pesquisador, quando este se coloca numa posição extraposta ao objeto de sua pesquisa, cede lugar a uma possibilidade de leitura/interpretação do acontecimento, perpassada pela sua subjetividade, pelo lugar desde onde foi fisgado na experiência: pesquisar é tranformar-se, construir a si mesmo. Deste modo, os dados serão oriundos das vivências na unidade, configuradas pelos encontros com trabalhadores, usuários e nos demais territórios existenciais por onde caminham. Tais experiências é que permitirão mapear e cartografar os processos de cuidado enquanto produção de conhecimento. Numa abordagem como esta, categorias analíticas não podem ser previamente definidas, pois decorrem do movimento da produção dos dados durante a construção da pesquisa. Duas ferramentas metodológicas serão utilizadas na pesquisa: o Fluxograma Descritor e o Usuário Guia. Cabe enfatizar que a cartografia do cuidado implica considerar, além dos encontros estabelecidos entre os trabalhadores e entre trabalhadores e usuários, do e no serviço, outros encontros fora deste espaço. Os usuários constroem suas redes de relações e estas conformam também o cuidado. Portanto, o usuário é concebido como um protagonista nesse processo. Por isto, chamado de usuário-guia (MERHY, 2002). Nessa perspectiva torna-se importante compreender a ferramenta “usuário-guia” enquanto a construção de uma narrativa referenciada a partir do usuário acerca de seus múltiplos encontros com os profissionais de saúde, a família, pessoas que circulam nos territórios por onde passa. Franco (2003) define o Fluxograma Descritor como uma representação gráfica que possibilita mapear os itinerários dos usuários em sua busca pela assistência e o modo de entrada nos serviços. O objetivo é apreender nos fluxos percorridos, problemas e características na qualidade da atenção que fazem obstáculo ao cuidado centrado no usuário. É salientada a potência desta ferramenta enquanto produção de uma memória coletiva da equipe, no atendimento do usuário, cujo efeito é conscientizá-la das dificuldades geradas pelo modo como eles mesmos produzem suas práticas de saúde. Um momento que oportuniza a conscientização acerca de seus modos de operar, tantas vezes automatizado e refratário aos efeitos do que se faz ou se diz, ou não, ao usuário que está ali desejando ser cuidado. Resultado: Como se trata de uma pesquisa participante em andamento, a ser iniciada no primeiro semestre de 2020, os resultados apresentados no Congresso da Rede Unida serão parciais e representativos de nosso percurso inicial nesta abordagem. Esperamos, também, a partir desta posição de implicação no estudo poder discutir o desenvolvimento de nosso processo formativo (da supervisora de estágio e dos acadêmicos). Pretendemos, ainda, sinalizar até julho, para aspectos indicativos de possíveis transformações nos processos de trabalho realizados na Unidade de Cuidados Continuados e de que modo poderão (ou não) caminhar em direção à constituição de redes articuladas e mutuamente afetadas, hoje inexistentes, envolvendo a Atenção Básica, outros serviços de saúde, no território, bem como outros pontos de cuidado existentes na comunidade.

10108 REGULAÇÃO DE ACESSO AOS CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS NO MUNICÍPIO DE NITERÓI – RIO DE JANEIRO – BRASIL: POR UMA CONSTRUÇÃO COMPARTILHADA
Mariana Janssen, Maria José Soares Pereira, Jaime Everardo Platner Cezario, Ana Carolina Soares Leitão Reis, Marli Rodrigues Tavares, Vandira Maria dos Santos Pinheiro, Isabel do Vale Pereira Silva Carvalho, Évelin Veiga de Mendonça Bastos

REGULAÇÃO DE ACESSO AOS CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS NO MUNICÍPIO DE NITERÓI – RIO DE JANEIRO – BRASIL: POR UMA CONSTRUÇÃO COMPARTILHADA

Autores: Mariana Janssen, Maria José Soares Pereira, Jaime Everardo Platner Cezario, Ana Carolina Soares Leitão Reis, Marli Rodrigues Tavares, Vandira Maria dos Santos Pinheiro, Isabel do Vale Pereira Silva Carvalho, Évelin Veiga de Mendonça Bastos

Apresentação: Muitos são os desafios a serem superados no sentido de atender aos princípios e diretrizes do SUS. Desta forma, aponta-se para a necessidade de uma organização de ações e serviços que contemple a integralidade dos saberes com o fortalecimento do apoio matricial, considere as vulnerabilidades de grupos ou populações e suas necessidades, e tenha por base o processo de territorialização e incorporação processual da regionalização como diretriz do SUS que tem por função a organização das Redes de Atenção nas regiões de Saúde. Para esta organização, a Fundação Municipal de Saúde vem trabalhando na implantação/implementação gradual das Redes de Atenção em Saúde (RAS) como coordenadora do cuidado e ordenadora da rede, se apresentando como um mecanismo de superação da fragmentação sistêmica. Com base no exposto acima propõe-se diretrizes orientadoras e respectivas estratégias para o processo de implementação da RAS. Neste contexto, a Unidade de Cuidados Intermediários é um dispositivo que possui características que a situa de forma híbrida na RAS, por incorporar elementos constitutivo da Atenção Primária e da Atenção Hospitalar. Em Niterói, a estruturação da assistência voltada para os Cuidados Intermediários se constitui em objeto de um Projeto de Implantação da Unidade de Cuidados Prolongados da RAS no Município. Neste sentido, a Fundação Municipal de Saúde de Niterói através da Vice-Presidência de Atenção Hospitalar e de Emergência-VIPAHE, em parceria com a Universidade Federal Fluminense, Ministério da Saúde e Agência Sanitária e Social da Região Emilia Romagna - ITÁLIA visam a implantação de uma Unidade de Internação em Cuidados Prolongados (UCP), equivalente aos Cuidados Intermediários entre Atenção Básica e Hospitalar, no município de Niterói. Constitui-se de uma unidade intermediária entre os cuidados hospitalares de caráter agudo e crônico reagudizado e a atenção básicae/ou domiciliar. Tem por finalidade: Diminuir a ocupação desnecessária de leitos hospitalares; Reduzir as internações recorrentes ocasionadas por agravamento de quadro clínico dos usuários em regime de atenção domiciliar; Aumentar a rotatividade dos leitos de retaguarda clínica para quadros agudos e crônicos reagudizados. A Unidade de Internação em Cuidados Prolongados (UCP) tem como objetivo a recuperação clínica e funcional, a avaliação, a reabilitação integral e intensiva da pessoa com perda transitória ou permanente de autonomia, potencialmente recuperável; de forma parcial ou total e que não necessite de cuidados hospitalares em estágio agudo. A referida unidade é destinada a usuários em situação clínica estável, necessitando de reabilitação e/ou adaptação a sequelas decorrentes de um processo clínico, cirúrgico ou traumatológico, mas ainda necessitam continuar internados por mais algum tempo. Neste contexto, este trabalho tem por objetivo a construção do sistema de Regulação de Acesso aos Cuidados Intermediários no Município de Niterói – Rio de Janeiro – Brasil de maneira compartilhada, entendendo-se compartilhamento como troca de saberes e experiências, unindo pesquisa, extensão e a práxis cotidiana do serviço de saúde no contexto da organização territorial do município de Niterói, além de estimular a rápida recuperação do paciente, em ambiente humanizado. (PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DA UCP/HMCT – FMS –NITERÓI (RJ)-2019). Desenvolvimento: A proposta de implantação da regulação do acesso a Unidade de Cuidados Intermediários floresce no contexto do Curso de Aperfeiçoamento em Gestão em Saúde, Cuidados Intermediários e Atenção, a partir da discussão da implantação do referido dispositivo no município de Niterói, em diálogo com a academia e a Rede de Atenção à Saúde a ser apresentada pelos alunos do Curso à Gestão da Fundação Municipal de Saúde e aos Técnicos responsáveis pela implantação do Projeto. Neste sentido, a motivação para construção da proposta tem por base o debate sobre a Regulação do acesso à Unidade de Cuidados Intermediários na perspectiva da micropolítica e dos processos microrregulatórios centrados nas necessidades da população e do cuidado compartilhado, da rede de comunicação, sobretudo na superação da racionalidade burocrática da regulação tradicional. Entendendo a complexidade que o sistema de saúde vive no momento com relação à demanda por leitos hospitalares e, ao mesmo tempo, a inexistência no Município de Niterói de leitos que atendam aos casos de internações prolongadas, uma grande preocupação com a qualificação da Regulação dos leitos de Cuidados Intermediários balizou toda a construção de um projeto que possibilitasse agilidade no atendimento da demanda como também coerência com a proposta. Nesta perspectiva, a proposta de implantação da referida regulação contempla a necessidade de elaboração de um plano de ação que considere ações estruturantes e a observação de aspectos como critérios de elegibilidade dos pacientes de acordo com a Portaria nº 3, de 28 de setembro de 2017 do Ministério da Saúde (MS) que discorre sobre a Consolidação das normas sobre as redes do sistema único de saúde; estar hemodinamicamente estável, em recuperação de processo agudo ou crônico agudizado, ou sob evento agudo de manejo possível na proposta do dispositivo, ou com necessidades de reabilitação ou adaptação a sequelas secundárias ao evento clínico, cirúrgico ou traumático; a internação nos Cuidados Intermediários não deve ser superior a 6 semanas, e deve apresentar prognóstico de melhoria com a proposta terapêutica. Inicialmente serão oferecidos 15 leitos, que correspondem a cerca de um terço da necessidade calculada para o Município. A alta do serviço também exige critérios que garantam a continuidade do cuidado. Resultado: Este estudo traz contribuição tanto para a prática profissional como para os serviços de saúde pois mediante a complexidade da temática faz-se importante ressaltar a inevitável necessidade de ampliar conhecimentos que análisem as questões aqui colocadas fundamentando os resultados e suas possíveis correções. Muitas barreiras ainda existem e precisam ser transpostas no que tange ao processo de construção da Regulação de Acesso e aos Cuidados Intermediários e outros processos em saúde. Contudo, acreditamos que a proposta apresentada instituiu mudança no pensamento do grupo que participou da mesma. Faz-se importante ressaltar que a busca da aproximação entre a prática clínica multiprofissional e as necessidades do usuário tem sido uma constante nos diversos campos de trabalho em saúde. Em meio aos altos e baixos podem ser observadas atividades que indicam viabilidade na Integração entre a oferta e a procura, onde a Fundação Municipal de Saúde de Niterói demonstra, nesta iniciativa, abertura para manutenção de um processo mais promissor. Ainda é urgente a necessidade de maior articulação institucional entre os diversos níveis de complexidade, tendo em vista a construção coletiva do papel da Regulação em seus cenários cotidianos onde se desenvolve o processo Saúde/Doença; Considerações finais: Este produto proporcionou experiência e crescimento profissional e despertou para o fato de que o principal papel das instituições na relação entre usuário e serviço deve ser o de reconhecer e capacitar - a partir de uma experiência coletiva de criação dos espaços - o profissional inserido na atividade de Acolhimento, Referência e Regulação para que ele desempenhe com segurança e competência técnica, científica e ética suas atribuições no vasto campo da assistência em saúde.

9535 PEFIL ASSISTENCIAL DE UMA UNIDADE DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS
Luciana Carnevale, Diovanna Catarina Sabin

PEFIL ASSISTENCIAL DE UMA UNIDADE DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS

Autores: Luciana Carnevale, Diovanna Catarina Sabin

Apresentação: A questão do envelhecimento da população permanece na pauta de discussão das Organizações de Saúde, no Brasil e no mundo. Segundo projeções populacionais do IBGE, cerca de 30% da população mundial terá mais de 60 anos de idade em 2060, o que corresponderá a 2 bilhões de pessoas aproximadamente. No Brasil, 73.460.946 de pessoas terão mais de 60 anos. Ou seja, 32,16% da população brasileira será idosa e mais 25,29% será envelhescente, na faixa etária de 45 a 64 anos de idade. As transformações demográficas apontadas nesta prospecção, são frequentemente trazidas como um fator que impacta diretamente no perfil de adoecimento das pessoas. Despontam no debate as condições crônicas, o declínio funcional e a necessidade premente de redimensionar os serviços e as práticas de saúde em direção à produção de um cuidado continuado, integral e interdisciplinar, centrado nas necessidades do usuário e de sua família. Frente à falta de outras opções de cuidado, usuários com condições crônicas de saúde recorrem geralmente às unidades de pronto atendimento (UPAs) e prontos-socorros de hospitais quando acometidos por episódios agudos autopercebidos. Via de regra o desfecho subsequente desses casos é a internação hospitalar quase sempre desnecessária e iatrogênica. Nessa perspectiva, o cuidado intermediário tem sido discutido como proposta alternativa à internação hospitalar. No interior do Paraná uma unidade de cuidado intermediário, situada entre a Atenção Básica e o Hospital, foi criada com base no modelo espanhol. A “atenção intermédia” na rede sociossanitária espanhola, reduz os riscos derivados da hospitalização, sobretudo no caso de pessoas idosas que vivenciam condições crônicas complexas. A ordenação territorial dos recursos sanitários comporta unidades intermediárias de subagudos e de convalescença na gestão assistencial de usuários em situação pós-aguda. Vale mencionar que o serviço paranaense resultou da conversão de uma ala do hospital filantrópico de pequeno porte local, que apresentava uma situação crítica em relação à baixa ocupação de seus 42 leitos, em contraposição ao expressivo volume de gastos destinados à sua manutenção. Para a criação da unidade foram convertidos 22 leitos de internação. Os primeiros atendimentos da UCCI foram iniciados em novembro de 2014 e são destinados, exclusivamente, aos usuários do SUS. Além da enfermagem, a unidade conta com a atuação de uma equipe multiprofissional. Trata-se de uma unidade de convalescença que recebe usuários egressos de interação hospitalar convencional com o objetivo de recuperar, no prazo máximo de 90 dias, perdas de capacidade funcional decorrentes dos quadros clínicos que os levaram à internação no hospital de agudos. Objetivo: Levantar o perfil assistencial de uma Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI). Método: A pesquisa de caráter quantitativo e descritivo analisou 213 prontuários físicos, correspondentes ao atendimento concluído, de usuários do SUS, que frequentaram o serviço pesquisado no período de dezembro de 2014 (mês de início dos atendimentos na unidade) a junho de 2018 (mês final da coleta de dados). O instrumento para a coleta de dados foi idealizado com base em diversos protocolos de registro dos atendimentos, disponibilizados pela Unidade. Foram coletados dados relativos à idade, sexo, município de residência, escolaridade, ocupação atual e/ou pregressa ao internamento, quadro clínico principal motivador do internamento,  tempo de permanência na UCCI em dias, os motivos da alta e/ou desligamento do usuário, o tipo de cuidado indicado pela equipe no momento da alta, o destino e os cuidados necessários após a alta, coordenação entre a articulações entre a unidade e a Atenção Básica e demais serviços de saúde. Foi efetuada uma análise descritiva simples. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética sob o nº CAAE 08755119.0.00008967. Resultado: Dos 213 prontuários analisados, 136 (64,01%) são referentes a usuários do sexo masculino e 77 (35,9%) do sexo feminino. Houve predominância da faixa etária de 61 a 79 anos de idade. De modo geral, os dados apontaram para um perfil socioeconômico predominantemente menos favorecido, o que reforça o papel das equipes de saúde orientadas para apoiarem de forma constante o usuário e sua família no que diz respeito ao desenvolvimento de estratégias de cuidado durante a permanência na unidade, bem como para acompanharem a continuidade do cuidado após a alta do usuário, do serviço. Quanto ao município de origem dos usuários, a despeito da referência deste serviço para uma grande extensão geográfica, parece haver, uma lógica no fluxo dos usuários que obedece predominantemente ao critério de proximidade territorial entre a UCCI e os municípios de residência dos usuários. O quadro clinico predominante, motivador do internamento, foi o AVE (46,4%). Cerca de 80% dos usuários atendidos na UCCI permaneceu internado no serviço até 60 dias, havendo predominância do período de internação entre 21 e 30 dias (22%), sendo que 23,4% permaneceram menos que 20 dias. Quanto aos motivos da saída do usuário da unidade, 142 usuários (66,6%) obtiveram alta em função dos objetivos terem sido atingidos, 19 (8,9%) agudizaram, necessitando de reinternação no hospital de agudos, 2 (0,9%) precisaram de cuidados prolongados para além dos 90 dias, 7 (3,2%) faleceram e 16 (6,5%) solicitaram alta antecipada. Destes últimos, nenhum morava no mesmo município onde está localizado o serviço, o que pode sugerir a dificuldade das famílias de acompanharem os usuários durante o internamento na unidade. Não foram localizados dados referentes aos motivos da alta em 29 prontuários (13,6%). Quanto ao desfecho, 154 usuários (72,3%) seguiram para o domicílio com indicação de cuidados da Unidade Básica de Saúde, 2 (0,9%) foram encaminhados para a linha de cuidados prolongados e 2 (0,9%) seguiram para uma instituição-residência. Em relação a outros tipos de cuidado pós-alta, a Fisioterapia foi o mais frequentemente indicado. Não foram encontrados registros relativos ao apoio ao cuidado dos usuários após a alta. Considerações finais: O estudo evidenciou a fragilidade da Unidade pesquisada em relação ao monitoramento do cuidado pós-alta do serviço. Embora acolha pessoas egressas de internações hospitalares convencionais, não apoia o cuidado posterior à saída do usuário. Existem dificuldades na articulação entre a UCCI e a Atenção Básica, o que dificulta a continuidade do cuidado. Parece haver um problema de base a ser tratado no que diz respeito à “dimensão cuidadora da produção em saúde” nesta unidade. Torna-se importante problematizar em que medida o cuidado intermediário, ao se oferecer no entremeio dos dois pontos da atenção mencionados (Atenção Básica e hospitais convencionais) é capaz de produzir um terceiro não complementar mas, na diferença, o que implica necessariamente na inversão da lógica que orienta os processos de trabalho já instituídos por esses pontos da atenção. Vemos a unidade pesquisada reproduzindo um cuidado fragmentado e centrado em procedimentos, o que faz perder totalmente a sua filiação ao modelo espanhol que lhe deu origem. Outra grande limitação deste estudo foi, sem dúvida, a própria metodologia utilizada, centrada no exame de prontuários. Os entraves experimentados na leitura dos dados apontam para a necessidade da adoção de ferramentas que permitam compreender e operar mudanças nos processos de trabalho da Unidade. A pesquisa segue, a partir de agora, adotando outras ferramentas que permitem implicar pesquisadores, trabalhadores, gestores e usuários, tais como o fluxograma analisador proposto por Franco e Merhy e o usuário guia.