318: Saberes e Práticas da Vigilância em Saúde: desafios e perspectivas
Ativador: Ashley Vanessa Williams
Data: 31/10/2020    Local: Sala 16 - Távolas de trabalhos    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
8098 UTILIZAÇÃO DO SISVAN PARA AVALIAR SITUAÇÕES DE SAÚDE
Mayara Suelirta Costa, Bruno Mendes Tavares, Jayne Cardoso Barros, Rosane Menezes Santos, Tatiana Correia Silva, Rosiele Neves Felix, Taísa Gomes de Andrade Oliveira, Karen Palmeira Figueiredo

UTILIZAÇÃO DO SISVAN PARA AVALIAR SITUAÇÕES DE SAÚDE

Autores: Mayara Suelirta Costa, Bruno Mendes Tavares, Jayne Cardoso Barros, Rosane Menezes Santos, Tatiana Correia Silva, Rosiele Neves Felix, Taísa Gomes de Andrade Oliveira, Karen Palmeira Figueiredo

Apresentação: O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) tem como objetivo principal promover informações contínuas sobre as condições nutricionais da população atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e os fatores que as influenciam, mostrando um recorte real de como está a alimentação, a saúde e o estado nutricional de quem usa o SUS. A transição nutricional está acontecendo no Brasil e em diversas partes do mundo, muitos são os fatores responsáveis por tal e o monitoramento da mesma é fundamental para traçar políticas públicas de combate a obesidade, sendo o SISVAN uma importante ferramenta para isso. Diante disso, o objetivo do presente trabalho é verificar a utilização do SISVAN para avaliar a evolução do estado nutricional e consumo alimentar de adolescentes da Região Norte do Brasil entre os anos de 2008 a 2017. Desenvolvimento: Estudo delineado como ecológico, exploratório, retrospectivo, de base populacional em séries temporais. Os dados foram provenientes dos relatórios do SISVAN, a amostra foi composta por todos os adolescentes registrados nos relatórios de estado nutricional (2008 a 2017) e consumo alimentar (2008 a 2014) de municípios na Região Norte do Brasil. Foi escolhido o Índice de Massa Corpora (IMC)/idade para análise do estado nutricional. Para avaliação do consumo alimentar foi usado um formulário de marcadores de consumo alimentar com o objetivo de identificar com que frequência o entrevistado consumiu alguns alimentos ou bebidas nos últimos 7 dias. As variáveis de consumo alimentar também foram agrupadas em dois grupos, um denominado de “prudente” (consumo de salada crua; legumes e verduras cozidos; frutas frescas ou saladas de frutas; feijão; leite ou iogurte) e outro de “obesogênicos” (batata frita, batata de pacote e salgados fritos; hambúrguer e embutidos; bolachas/biscoitos doces ou recheados, doces, balas e chocolates; e refrigerantes). Variáveis contínuas foram descritas em médias e desvio-padrão. Resultado: De acordo com os dados do SISVAN, entre os anos de 2008 a 2017 na Região Norte o estado de magreza acentuada apresentou uma diminuição, apesar de oscilar durante os anos sua média foi de 1,3% (± 0,33), também houve aumento do excesso de peso da população durante esses anos, com média 14% (± 1,71). O estado nutricional estrófico apresentou média de 77% (± 2,86), apresentando uma tendência de diminuição desde o ano de 2008. A diminuição da magreza e aumento do excesso de peso registrado pelo SISVAN exemplifica o processo de transição nutricional vivenciado por essa população, ou seja, um sistema público e gratuito do SUS conseguindo fazer um diagnóstico tão importante para entender o processo de saúde e doença da população. Ao comparar a evolução do estado nutricional dos adolescentes entre os sexos, verificou-se uma tendência de maior frequência de magreza e obesidade entre adolescentes do sexo masculino, enquanto no sexo feminino as maiores frequências apresentam-se nos estados nutricionais de eutrofia e sobrepeso. O SISVAN possibilita também compreendermos quais os principais grupos de riscos que devem ser trabalhados. Ao analisar o consumo alimentar de adolescentes registrados pelo SISVAN da Região Norte durante 2008 a 2014, notou-se que existe uma maior frequência 38,57% (± 7,7) de nenhum consumo nos últimos 7 dias pelos adolescentes de salada crua e verduras e legumes cozidos e 22,14% (± 3,67) de consumo de frutas frescas e salada de frutas todos os últimos 7 dias, porém, verificou-se também que desde o ano de 2011 o consumo de frutas frescas “todos os últimos 7 dias” vem diminuindo e o consumo de poucos dias na semana vem aumentando. Foi verificado também um consumo intermediário de batata frita, batata de pacote, salgados fritos, hambúrguer e embutidos e um consumo acentuado bolachas/biscoitos doces ou recheados; doces, balas e chocolates e refrigerante, onde a maioria dos adolescentes consumiu pelo menos uma vez nos últimos 7 dias algum desses, e apenas em torno de 30% não consumiu nos últimos 7 dias. O registro do consumo alimentar pelo SISVAN é muito positivo, pois permite que através dele possamos refletir sobre possíveis doenças que a população pode estar mais exposta de acordo com o que come. As variáveis de consumo alimentar quando agrupadas em “prudentes” e “obesogênicos” mostram uma frequência maior de consumo de alimentos “prudentes”, porém com diferenças muito pequenas quando comparadas as médias de consumo de alimentos “obesogênicos”, as maiores diferenças encontra-se no consumo de “todos os últimos 7 dias”, com maior frequência de alimentos “prudentes”, porém ao analisar a evolução durante os anos foi verificado que vem diminuindo esse consumo. Os dados de evolução do estado nutricional e consumo alimentar da população adolescente da Região Norte do Brasil registrados pelo SISVAN nos mostra que essa região apresenta tendências parecidas com o restante do Brasil e mundo, porém, o fato da região ser caracterizada pela presença da floresta Amazônica, traz pontos positivos e negativos, apresenta um diferencial pela grande disponibilidade de frutos variados e de peixes diversos, ricos em muitos nutrientes, quando comparada com outras regiões do país, o que influencia de forma positiva a saúde das pessoas, como também apresenta fortes questões geográficas de difícil acesso aos interiores do estado e comunidades tradicionais, assim como problemas de conexão a internet, que afeta diretamente o funcionamento e eficácia do SISVAN, nos fazendo refletir sobre os desafios de planejar, cumprir e monitorar políticas públicas de saúde nessa região. Considerações finais: Diante do exposto, verificamos a evolução do estado nutricional entre os anos de 2008 a 2017 e consumo alimentar entre 2008 a 2014 de adolescentes da Região Norte do Brasil através do SISVAN, nos proporcionando fazer análises de adolescentes acompanhados pelo SUS. O SISVAN nos permitiu verificar um aumento na frequência de sobrepeso e obesidade e diminuição de magreza em adolescentes da Região Norte durante os anos, assim como as mudanças no perfil de consumo alimentar, com baixas frequência de hábitos alimentares saudáveis e aumento de consumo de alimentos não saudáveis, informações essenciais para refletir sobre questões de saúde da população. O presente trabalho nos faz refletir sobre as políticas e ações de alimentação e nutrição na Região Norte durante os últimos anos, com evolução de variáveis comprometedoras para a saúde dos adolescentes, necessitando de ações que impactem de forma integrada todas essas dimensões do problema, exigindo a adoção de medidas complexas, com ações dirigidas aos indivíduos e coletividades, precisando ser estudada e discutida em cada região para que reflita a realidade, visto a diferença entre as mesmas que existem em nosso país, assim como a necessidade de fortalecimento dos nossos bancos de dados, como o SISVAN, para melhor monitoramento das nossas políticas públicas. Garantir a efetividade dos sistemas de saúde é um passo fundamental para o monitoramento de políticas públicas e autonomia do SUS.

11786 CONSTRUINDO CAMINHOS E SABERES A PARTIR DO APOIO MATRICIAL DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Karen da Silva Santos, Fabiana Carla Pontim Catani, Cinira Magali Fortuna

CONSTRUINDO CAMINHOS E SABERES A PARTIR DO APOIO MATRICIAL DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Autores: Karen da Silva Santos, Fabiana Carla Pontim Catani, Cinira Magali Fortuna

Apresentação: A Vigilância Epidemiológica (VE) é responsável por auxiliar serviços, gestores e equipes de saúde e também por desencadear ações que têm o objetivo de controlar e prevenir doenças e agravos. Realiza coleta, processamento, análise e interpretação dos dados, divulga informações e investiga casos e surtos de doenças. É também responsável por elaborar recomendações e promoção de medidas indicadas. A partir dos anos 90, com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), vem sendo implantada a Vigilância à Saúde no Brasil, principalmente pela necessidade de se olhar para o adoecer de uma forma mais ampla considerando o modo como as pessoas vivem. Nessa perspectiva, a VE atua no apoiar técnico as equipes frente às normas e aos protocolos na condução de casos e agravos. Enquanto que a Atenção Primária à Saúde, sendo o primeiro e essencial nível de atenção, tem por objetivo desenvolver em seu coletivo espaços de cuidados que impactem na saúde da população. Com a proposta do Apoio Matricial, ou também chamado de matriciamento, não se pretende dar respostas prontas às dúvidas das equipes de saúde, mas promover espaços de reflexão e compartilhamento de saberes específicos interdisciplinares a fim de se construírem novas formas “do fazer” junto, com vistas à integralidade e a resolubilidade da atenção. Objetivo: Apresentar uma reflexão frente à utilização do Apoio Matricial pela VE como uma ferramenta importante na promoção de espaços de problematização com os profissionais de uma Equipe de Saúde da Família. Desenvolvimento: Realizou-se encontros semanais durante um mês, encontros de apoio matricial, entre a equipe de VE e as equipes de saúde de uma Estratégia de Saúde da Família (ESF), em uma cidade do interior paulista. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética, Parecer nº 3.124.194. Nos encontros foram utilizadas duas estratégias: a discussão de casos reais e relevantes com o levantamento de propostas de intervenção para os problemas elencados e a oferta de conceitos teóricos referente ao tema abordado. Desta forma, o Apoio Matricial propõe uma formação que valoriza os processos e ferramentas e conceitos que possibilitem, a partir das experiências do dia a dia, produzir aprendizado e conhecimento. Nos embasamos na compreensão de que o conhecimento não se transmite, mas se constrói a partir de questionamentos e dúvidas que surgem no cotidiano das equipes, por meio de um repensar coletivo e não somente cuidados e práticas isoladas. Resultado: Nos encontros se buscou a promoção de espaços coletivos entre os profissionais e que oportunizaram a troca de conhecimentos, dúvidas e a construção de novos saberes. Através das falas identificamos que este espaço de diálogo permitiu aos profissionais expressarem sua forma de pensar sobre os modelos de organização da atenção básica e a valorizarem a estratégia de saúde da família onde atuam: O programa da saúde família é muito mais sensibilizado que uma unidade básica de saúde, eu acho que você vai ter muito. encontrar mais obstáculo para avançar esse projeto numa unidade básica do que em uma unidade de saúde da família que a gente já trabalha em equipe. Já tem vínculo com o paciente (P1- Equipe A – Encontro 3). Quando é UBS né que não tem esse acompanhamento de perto, acho que a gente tem essa facilidade por conta do vínculo com o paciente e que tal é interessante isso que vocês fizeram, sobre fluxo, eu tenho a minha parte, mas não sabia o que a enfermagem faz, ou tinha uma ideia e não é tudo aquilo, que não quando o doutor veio e acrescentou algumas coisas, acho que seria interessante a UBS, ver isso, se está fazendo isso se está fazendo certo, certificar que outras unidades tenham isso (P2- Equipe A– Encontro 3). Percebe-se a potencialidade dos momentos ofertados na modalidade do Apoio Matricial junto a equipe de ESF que normalmente já possui uma agenda de reuniões e momentos de discussões. Mas também se faz necessário pensar estratégias para trabalhar com equipes que possuem uma outra lógica de organização, como as Unidades Básicas de Saúde tradicionais, hospitais, dentre outros. As equipes da atenção primária detêm pontos de vista diferentes das equipes que estão em um outro tipo de serviço, no caso da VE. A diferença nessas perspectivas/ângulos de visão é extremamente importante, sendo que a equipe de atenção básica é a que detêm o ângulo privilegiado, pois conhece a realidade concreta das famílias, do território, da comunidade ao longo do tempo. Quando esses temas ou casos são discutidos na reunião de equipe podem estimular os profissionais a orientarem as famílias em suas visitas quanto à importância da realização de sorologias em suas consultas de rotina na unidade (P1- Equipe C – Encontro 1). Atuar segundo o princípio da integralidade na atenção primária também foi um tema trazido pela equipe na discussão dos casos, pois possibilita ampliação do olhar em relação ao contexto social e sua interface coloca novas dificuldades e desafios a serem enfrentados pelas equipes. A integralidade sob a perspectiva da democracia valoriza o coletivo e este coletivo potencializa a complexidade da vida e do modo de viver das pessoas. Desta forma nos encontros procurou-se criar espaços de compartilhamento de saberes, de vivências e experiências, onde puderam refletir frente à subjetividade do sujeito e considerar suas repercussões nos processos de trabalho. Considerações finais: A troca de saberes, o compartilhar experiências, entre os profissionais de saúde refletindo frente ao lugar que ocupa e como está inserido nos níveis de atenção, favorece uma maior articulação e qualificação da rede de serviços que compõem o sistema de saúde. A potencialidade do encontro é uma característica central do Apoio Matricial. A mudança do olhar da vigilância para além da doença e protocolos ao identificar pela fala das equipes quem eram essas pessoas e qual era o contexto promoveu uma desterritorialização dos saberes. O trabalho contribuiu para que a equipe pudesse refletir sobre sua prática, acionando a potência do trabalho interdisciplinar, a partir da valorização dos espaços de troca e de cogestão, o que pode refletir na transformação das práticas. Dessa forma, pretende-se manter espaços como este nesta equipe de saúde e em outras a partir das vivências apontadas nesse trabalho.

9826 SURTO DE SARAMPO NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO
Amanda Ferreira Rodrigues, Carla Sena Cunha, Ana Carla Vilhena Barbosa, Yasmin Martins de Sousa

SURTO DE SARAMPO NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO

Autores: Amanda Ferreira Rodrigues, Carla Sena Cunha, Ana Carla Vilhena Barbosa, Yasmin Martins de Sousa

Apresentação: O sarampo é uma doença infecciosa aguda, grave, transmissível e altamente contagiosa, que costuma ser muito comum na infância. É causada pelo vírus do sarampo, um virús RNA que pertence ao gênero Morbillivirus da família Paramoxyviridae. A viremia causada pela infecção provoca uma vasculite generalizada, responsável pelo aparecimento das diversas manifestações clínicas, como febre, coriza e conjuntivite. Pode evoluir com gravidade, causando complicações como pneumonia e encefalite. Essas complicações contribuem para a gravidade do sarampo, particularmente em crianças desnutridas e menores de um ano de idade, em que infecções bacterianas secundárias ocorrem com maior frequência. A transmissão ocorre de pessoa a pessoa, por meio de secreções expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar. O vírus pode ser transmitido de quatro a seis dias antes, até quatro dias após o aparecimento do exantema, sendo o período de maior transmissibilidade dois dias antes e dois dias após o início do exantema. No Brasil, o sarampo é uma doença de notificação compulsória desde 1968, até o final dos anos 70, essa virose era uma das principais causas de óbito, dentre as doenças infecto-contagiosas, sobretudo em menores de cinco anos, em decorrência de complicações, especialmente a pneumonia. Dessa forma, a vacina tríplice viral é a única medida de prevenção eficaz contra o sarampo, protegendo também contra a rubéola e a caxumba. A vacina contra o sarampo é disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS) pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Nos serviços de saúde, a vacinação de rotina deve ser realizada em conformidade com as normas do PNI, segundo o calendário de vacinação estabelecido pelo Ministério da Saúde: uma dose da vacina tríplice viral aos 12 meses de idade, uma dose da tetraviral aos 15 meses de idade, duas doses da tríplice viral entre dois e 29 anos de idade, e uma dose da tríplice viral dos 30 aos 49 anos de idade, de acordo com a situação vacinal encontrada. Apesar da disponibilidade desta vacina, que é barata, segura e eficaz, há mais de 40 anos, o sarampo é umas das principais causas de morte infantil em algumas áreas do mundo. Entre as diversas estratégias de vacinação ultilizadas temos: vaci­nação de rotina; monitoramento rápido das coberturas vacinais (MRC); vacinação de bloqueio; varredura; e intensificação da vacinação. Devido o controle nacional da doença, em 2016 foi entregue ao Brasil pela OMS o certificado de eliminação da circulação do vírus no país, porém, no ano de 2019, essa condecoração foi perdida, devido ao fato de haver vários casos confirmados em território nacional, principalmente na Região Norte brasileira em um período extenso, e por não apresentar um controle vacinal no solo brasileiro em 2017 nas rotinas de vacinação, coberturas da administração das doses da vacina tríplice viral, tanto na dose 1(D1) quanto na dose 2 (D2). O Ministério da Saúde a fim de reverter o declínio de coberturas  de vacinas no Brasil, lançou o Movimento Vacina Brasil, em 9 de abril de 2019, durante a XXII Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, como parte da agenda dos primeiros 100 dias de governo. A iniciativa tem como objetivo mobilizar os três níveis de gestão e diversos setores da sociedade brasileira e alertar sobre a importância da vacinação como principal medida de controle das doenças imunopreveníveis, é a única capaz de evitar a reemergência de doenças eliminadas no país. Objetivo: Identificar as principais causas relacionadas ao surto do sarampo no Brasil e a importância da vacinação. Desenvolvimento: Trata-se de uma revisão de literatura, a partir de coleta de artigos científicos das bases de dados: MEDLINE, LILACS, SciELO , do tipo qualitativa e descritiva entre os anos de 2015 a 2019. Resultado: O surto de sarampo atual decorre da presença de indivíduos suscetíveis a doença, seja pela não vacinação ou pelo esquema vacinal incompleto. Evidencia-se que o surto atual está relacionado a importação, uma vez que o genótipo viral identificado é o mesmo do circulante na Venezuela, Líbano e Europa, e que  a cobertura vacinal está abaixo do preconizado pelo Ministério da Saúde favorecendo o reemergência da doença no país. O vírus do sarampo apresenta oito classes (A-H), que pode ser subdividida em 24 genótipos. Muitos países, como é o caso do Brasil, conseguiram controlar a incidência dessa doença utilizando a vacina, entretanto, enquanto os casos não forem completamente erradicados e uma grande parcela da população global não for devidamente imunizada, essa doença continuará circulando e gerando surto. Diante dos novos casos de sarampo, é extremamente importante que os profissionais de saúde do Brasil e do mundo coloquem essa doença nos diagnósticos diferenciais de doenças exantemáticas, e atuem ativamente na prevenção, estimulando a vacinação. Assim, é importante e indispensável a atenção para a notificação do sarampo, para que se tenha a real noção do número de casos e um adequado estudo e análise epidemiológicas. Apenas com a investigação epidemiológica se poderá chegar aos planos de ações eficazes para erradicar de uma vez por todas o sarampo. Consideraçães finais: Diante da ocorrência do surto de sarampo, as principais ações para contenção de casos ao longo dos 15 meses, foram ações de imunização, seguidas de campanhas de vacinação para faixa etária de 6 meses até 4 anos e a vacinação indiscriminada para pessoas entre 5 e 29 anos, além das crianças de 6 meses a 1 ano. Dessa forma, é importante a manutenção do sistema de vigilância epidemiológica da doença, com o objetivo de detectar oportunamente todo caso de sarampo importado, bem como adotar todas as medidas de controle ao caso. Estes surtos podem ser úteis para identificar lacunas nos programas de imunização, que podem não ser evidentes através do controle da cobertura vacinal. Diante do exposto, recomenda-se tornar a vi­gilância epidemiológica sensível, realizar busca ativa de casos suspeitos ou confirmados de sarampo em municípios e unidades silencio­sas, sensibilizar profissionais de saúde da rede pública e privada quanto à obrigatoriedade da notificação imediata de sarampo. Todos têm uma parcela de responsabilidade nisso, cabe às autoridades gestoras de saúde atuar para que surtos não aconteçam, fortalecendo as ações em imunizações, estímulo à pesquisa de imunobiológicos cada vez mais seguros e livres de possíveis reações.

9749 CUIDADO PSICOSSOCIAL COM POVOS INDÍGENAS: INVESTIGAÇÃO DE UMA MORTE POR PAJẼAIP
Aline Lorena da Silva Lima, Álvaro Pinto Palha Junior, Herbert Tadeu Pereira De Matos Junior, Pedro de Lemos MacDowell

CUIDADO PSICOSSOCIAL COM POVOS INDÍGENAS: INVESTIGAÇÃO DE UMA MORTE POR PAJẼAIP

Autores: Aline Lorena da Silva Lima, Álvaro Pinto Palha Junior, Herbert Tadeu Pereira De Matos Junior, Pedro de Lemos MacDowell

Apresentação: A constituição de 1988 inaugura, na relação com o Estado brasileiro, bases legais de respeito à diversidade e garantia de usufruto dos territórios em que vivem e se deslocam os povos indígenas. Desde então se acumulam esforços para a regulamentação destes direitos e a garantia de sua execução. No que se refere à política pública de saúde, temos como principais marcos regulatórios a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas – PNASPI e a Lei 9.836/1999, conhecida como Lei Arouca, que institui o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena – SASI/SUS. Ambas estabelecem a necessidade de que as equipes de saúde, com suas práticas biomédicas ocidentais, dialoguem e atuem em conjunto com as tecnologias de cuidado em saúde dos povos junto aos quais trabalham. Fazer dialogar bases epistemológicas e práticas de cuidado advindos de contextos culturais tão distintos é ainda um desafio de difícil realização na atuação das equipes de saúde indígena em todo o país. É comum a ocorrência de situações-limite que desafiam as equipes e as comunidades a avaliarem suas tecnologias e as possibilidades de atuação conjunta em busca de caminhos possíveis para a garantia do cuidado. A reflexão que se propõe aqui trata de um exercício de diálogo sobre uma destas situações-limite, que emergiu durante trabalho de intervenção solicitado por lideranças de um povo indígena residente no Território Indígena do Xingu. Ali, os profissionais de saúde do SASI/SUS, se depararam com uma cena recente de óbito por enforcamento de um jovem da comunidade, e seus desdobramentos. Durante o trabalho de investigação do óbito, nos diversos relatos sobre os fatos que antecedem e explicam suas causas e motivações, familiares do jovem falecido e outros representantes de seu povo trouxeram um elemento explicativo de difícil tradução: Pajẽaip.  A grosso modo, compreende-se Pajẽaip, palavra na língua kawaiwete (tronco Tupi), como uma designação para significar um tipo de morte onde “um pajé realizou trabalhos/feitiços para promover uma doença ou morte em outra(s) pessoa(s)”. Essa caracterização impõe um cenário nebuloso para o enquadramento daquele óbito, pelo menos do ponto de vista dos marcos referenciais no processo de cuidado regular em saúde mental vigentes à disposição das equipes de saúde indígena: o óbito teria simultaneamente características de suicídio e de homicídio, não podendo, contudo, ser classificado em nenhuma das duas categorias. Ao descrever o evento, os indígenas evocaram a utilização de capa animal, feitiço e a agência de espíritos na preparação da morte, pressupondo ação direta do Pajẽaip.É importante enfatizar que, neste caso específico, há registros anteriores de tentativas e óbito por suicídio entre outros indígenas da mesma etnia, incluindo enforcamentos. Porém, em todos os casos anteriormente notificados pela equipe, os mesmos indígenas descreveram os episódios como suicídio, sendo esta a primeira vez em que um óbito por enforcamento foi nomeado como um ato de Pajẽaip, evidenciando uma diferença marcada entre os processos de morte. Sabe-se que a tentativa ou óbito por suicídio são de ordem multifatorial. Em casos anteriores, ao preencher as fichas de tentativa/óbito de suicídio do Ministério da Saúde/Sesai, as equipes de campo levantaram junto às vítimas e suas famílias fatores como divórcio, conflitos conjugais, morte de parente próximo, conflitos familiares, proibição familiar. Assim, o percurso das explicações de morte por Pajẽaip compreende artifícios e atores diferentes daqueles mais frequentemente acionados para explicar os casos de suicídio, tanto sob uma perspectiva ocidental, quanto para o povo em questão. No decorrer dos diálogos que ocorreram durante o trabalho de investigação no território, que se estendeu por sete dias, durante os quais foram realizadas diversas reuniões com integrantes de duas aldeias deste povo indígena, houve consenso de que a referida morte não se enquadraria nas categorias disponíveis para registro do caso nos instrumentos de notificação. Um desafio adicional aos atores envolvidos no processo de investigação e de cuidado em curso é que, entre os pajés do grupo em questão, afirma-se não ser comum, e muito menos aceito, este tipo de prática. Historicamente, segundo os nossos interlocutores, mortes provocadas por feitiços foram vingadas com o assassinato dos feiticeiros e sua decapitação. Um dos esforços da equipe, junto à população indígena, foi portanto o de construir outras soluções possíveis, envolvendo profissionais de saúde e outros atores institucionais. Assim, o caso de que aqui tratamos apresenta algumas características que julgamos importante destacar. Acreditamos que se trata de uma situação desafiadora ao trabalho das equipes de saúde, em vários níveis: a insuficiência dos instrumentos de notificação e vigilância para acolher a complexidade do caso; a consequente fragilidade das informações oficiais disponíveis, dado que a vigilância epidemiológica é uma das principais estratégias de organização do cuidado no âmbito da saúde mental em contextos indígenas; e a construção de estratégias locais e contextuais de cuidado para lidar com o óbito e seus desdobramentos em um contexto tão desafiador aos saberes dos profissionais de saúde. Dentre as questões levantadas no contexto dessa investigação, destacam-se: como registrar o óbito, de modo que permita melhor compreensão do fenômeno e planejamento de respostas estratégicas pelo DSEI sem, contudo, violar o processo explicativo do povo para o acontecimento? Como mediar o tensionamento gerado entre familiares do jovem morto e o sujeito acusado de ter provocado o óbito, sabendo-se que esse tipo de prática costuma ser punida ou vingada com novas mortes? É possível contribuir com o processo de luto? É possível construir de forma coletiva uma prática de cuidado que dê conta de cessar o adoecimento recorrente de familiares do jovem falecido, relatado como consequência da continuidade do trabalho de feitiçaria por parte do mesmo sujeito responsável pelo óbito em questão?Os trabalhadores que atuaram neste contexto, como representantes do Estado, em nome do SASI/SUS, optaram por construir o caminho para estas respostas junto à comunidade. E como resultado deste diálogo sobre o óbito e suas consequências, foi possível construir, até o momento: relatório elaborado pelos trabalhadores, lido e revisado pela comunidade, trazendo uma descrição detalhada dos fatos ocorridos tal como relatados pelos indígenas; distribuição do relatório às instituições indigenistas do território para dar ciência aos mesmos, garantindo acesso dos órgãos à versão indígena do acontecido, de forma que a atuação intersetorial possa partir do mesmo nível de informações; auxílio aos integrantes da comunidade na produção de ofícios às instituições indigenistas do território para solicitar apoio que garanta o trabalho dos pajés; solicitação a todas as instituições responsáveis de apoio na mediação do conflito e da tensão entre as famílias envolvidas, provocados pelo óbito do jovem. Ao final dessa etapa de trabalho no território, foi solicitado pela comunidade que se aprofunde o debate e a investigação sobre os fatos ocorridos, de modo a criar bases ou mesmo sugestões de caminhos possíveis para respostas em situações como esta. Trata-se de acontecimento cujas repercussões ainda se encontram em andamento. Não se trata de relato expositivo que pretenda promover debates puramente teóricos. O debate que propomos sobre o referido acontecimento pretende pautar com especialistas indígenas e não indígenas diálogos sobre caminhos possíveis, que somem com a condução do caso atual e contribuam com situações similares em que trabalhadores de saúde sejam convocados para tomar parte.