314: Vulnerabilidades, Estigmatização e Significados Sócio-Culturais de Doenças Transmissíveis
Ativador: Mariangela Rebelo Maia
Data: 30/10/2020    Local: Sala 16 - Távolas de trabalhos    Horário: 08:00 - 10:00
ID Título do Trabalho/Autores
6325 DEPRESSÃO EM PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
José Doriberto Freitas, Darli Chahine Baião, Gustavao Oliveira de Araújo, Bruno Ribeiro de Paiva

DEPRESSÃO EM PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Autores: José Doriberto Freitas, Darli Chahine Baião, Gustavao Oliveira de Araújo, Bruno Ribeiro de Paiva

Apresentação: Na década de 1980, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América, identificaram uma nova e misteriosa síndrome com base em casos de pneumonia atípica e de um câncer raro do tipo Sarcoma de Kaposi em homens jovens, previamente saudáveis, em sua maioria homossexuais masculinos, nas cidades de Los Angeles, São Francisco e Nova York. Após inúmeros avanços e retrocessos, erros e acertos por parte de diversos epidemiologistas e infectologistas, os pesquisadores chegaram à definição e caracterização da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (cuja sigla é SIDA ou AIDS, esta última em língua inglesa, adotada no Brasil) que tem como agente etiológico o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Finalmente o isolamento do HIV se deu precisamente em 1983, por uma equipe de pesquisadores franceses cuja autoria foi posteriormente contestada por uma equipe norte-americana. O vírus infecta e mata as células T CD4 e os macrófagos, que são críticas para a resposta imune efetiva. O HIV é transmitido através exposição da mucosa oral, vaginal ou retal durante as práticas sexuais ou durante a amamentação, assim como pela inoculação intravascular, por transfusão de sangue ou hemoderivados e utilização de equipamentos infectados, compartilhamento de seringas durante a injeção de drogas ou através da transmissão vertical da circulação materno fetal. Existem dois grupos de portadores da síndrome. Pacientes com HIV, portadores do vírus, assintomáticos que ainda não desenvolveram a doença, e pacientes com AIDS, sintomáticos, que já manifestaram alguma doença oportunista em decorrência da ação do HIV. Em termos de qualidade de vida, bem como vivências intrapsíquicas, parece haver diferenças entre os dois grupos como conviver apenas com o vírus no casso dos assintomáticos e por outro lado ter desenvolvido doenças clínicas e psicológicas na vivência dos sintomáticos, sendo a depressão uma das grandes doenças aliadas aos pacientes portadores. Nesse sentido o objetivo deste estudo é investigar a relação entre a depressão em pessoas portadoras do HIV/AIDS. Desenvolvimento: Pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico realizada através de uma revisão integrativa nas principais bases de dados Scielo, Google acadêmico, EBSCO, Medline, Bireme, PubMed. Resultado: Desde o aparecimento dos primeiros casos de AIDS na década de 1980, verificou-se uma complexidade ímpar de fenômenos e sintomas associados. Há uma prevalência de transtornos de humor e, particularmente, de depressão na população infectada pelo HIV, transtornos frequentemente associados ao HIV. Essa complicação psiquiátrica pode variar de 4 a 40% na população vivendo com HIV/AIDS. Para compreender a problemática da síndrome é válido ressaltar que pacientes soropositivos portadores do vírus e vivendo com a doença AIDS, têm se tornado objeto de interesse por parte dos profissionais de saúde. Esse interesse se dá pela dimensão do impacto psicológico do diagnóstico como tristeza, sentimentos de negação, hostilidade, culpa, revolta, ansiedade, angústias, transtorno do sono e pela evolução da infecção e da vulnerabilidade social e emocional das pessoas. As repercussões psíquicas da infecção pelo HIV e da AIDS, como doença crônica severa e incurável, coloca o infectado à iminência de morte. Ainda sobre a depressão como transtorno mental decorrente da vivência do HIV/AIDS, esta pode representar uma síndrome que envolve também alterações cognitivas, vegetativas e psicomotoras; ou um transtorno, que pode ser classificado ou estar presente de diversas formas, como Transtorno Depressivo Maior, Distimia, Ciclotimia, Transtorno Bipolar I e II. A infecção pelo HIV e as desordens psiquiátricas apresentam estreita relação e têm recebido atenção especial na última década, considerando o seu impacto na vida pessoal, sexual, social e ocupacional das pessoas vivendo com o HIV/AIDS. Os transtornos de humor se caracterizam pela perda de interesse por atividades que antes davam prazer (anedonia), humor deprimido, perda de energia, alterações do sono, fadiga constante, dificuldades de concentração e na tomada de decisões, baixa autoestima e pensamentos sobre morte e ideação suicida. A depressão, quando vivenciada por pessoas em condição de doença crônica como HIV/AIDS, pode causar incapacidade, afetando a evolução da doença, interferindo na recuperação e, ainda, é considerada risco potencial para o aumento da morbidade e mortalidade. A depressão, em geral, frequentemente é diagnosticada com uma variedade de outros transtornos, entre os quais os da personalidade (ex. Boderline), os relacionados a substâncias (ex. Alcoolismo) e os de ansiedade. A prevalência da depressão ao longo da vida nos Estados Unidos é de 16,6% da população adulta. A cada ano, 6,7% da população adulta recebe um diagnóstico de depressão, sendo 30,4% desses casos (2 % da população adulta) classificados como graves. As mulheres são 70% mais propensas que os homens a vivenciarem a depressão em algum momento da vida. A idade média de início da doença é de 32 para as mulheres. No Brasil, a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2008, estimou a prevalência da depressão na população geral em 4,1%. Estudos realizados em diferentes países indicam a gravidade da doença, seu caráter epidêmico, elevado custo para os serviços de saúde e sua relação com fatores de vulnerabilidade social. Além da depressão, em pessoas vivendo com HIV/AIDS, observa-se que eventos de vida estressantes como desemprego, preconceito, estigma, condições socioeconômicas, fatores socioculturais, conflitos familiares estão associados ao aumento da progressão da infecção pelo HIV/AIDS que, por sua vez, aumentam de três a cinco vezes o risco para o desenvolvimento de depressão. É estabelecido que a infecção pelo HIV/AIDS compromete a qualidade de vida de seu portador, devido à estreita relação entre depressão e qualidade de vida. Um estudo em um hospital de São Paulo, que tinha como objetivo avaliar a prevalência de depressão e outros transtornos depressivos em 120 mulheres infectadas pelo HIV, assim como comparar a prevalência entre pacientes assintomáticas e sintomáticas para HIV, constatou que 25,8% de diagnósticos para depressão, sendo 13,3% nas pacientes assintomáticas e 38,3% nas sintomáticas. É importante lembrar que pelo menos 48% dos participantes já havia experimentado, no mínimo, um episódio de depressão, antes ou depois do diagnóstico de HIV.  Outro estudo visou investigar a prevalência e preditores de ideação e tentativas passadas de suicídio em homens homo e bissexuais, soropositivos (n = 164) e soronegativos (n = 65) para HIV. Os pacientes sintomáticos para HIV (n = 85) apresentaram níveis mais altos de ideação que os assintomáticos (n = 79) e os soronegativos. Foram encontrados altos níveis de tentativas de suicídio tanto em soronegativos (29%) quanto soropositivos (21%). Dentre os fatores preditivos associados destacaram-se histórico de transtorno psiquiátrico (particularmente depressão), uso de drogas e casos de suicídio na família. Considerações finais: O estudo traz um panorama histórico da identificação do HIV e da doença AIDS bem como suas vias de infecção, sintomas, associação e prevalência de depressão em pessoas vivendo com HIV/AIDS em alguns estudos levantados e aponta que a adequada e completa avaliação do paciente com depressão é quesito fundamental na eficácia do tratamento das pessoas vivendo com HIV/AIDS. O estudo poderá contribuir para o conhecimento do perfil psicopatológico, níveis de depressão bem como sua sintomatologia em pessoas vivendo com HIV/AIDS.

6385 TUBERCULOSE: O ESTIGMA SOCIAL AO LONGO DOS TEMPOS
Alice Damasceno Abreu, Erika Luci Pires de Vasconcelos, Luiz Antonio Fernandes Figueira, Claudia Cristina Dias Granito, Olinda Cizoski França

TUBERCULOSE: O ESTIGMA SOCIAL AO LONGO DOS TEMPOS

Autores: Alice Damasceno Abreu, Erika Luci Pires de Vasconcelos, Luiz Antonio Fernandes Figueira, Claudia Cristina Dias Granito, Olinda Cizoski França

Apresentação: O estigma da Tuberculose leva às pessoas que adquirem a doença a sofrerem não só pelas manifestações clínicas, mas também pela possibilidade de vivenciar preconceitos, sendo rejeitadas em seus relacionamentos sociais. é uma doença infectocontagiosa causada por pelo bacilo de Koch, ou Mycobacteriumtuberculosis. o número de óbitos causados pela tuberculose é maior do que os de HIV/AIDS. No Brasil são notificados cerca de 67 milhões de novos casos e o número de óbitos ultrapassa 4,5 mil mortes por ano. A tuberculose é uma doença que tem cura, no entanto esses números são preocupantes, o que mostra as estratégias não estão sendo efetivas. Consideramos que os investimentos em relação ao controle da tuberculose têm sido importantes, porém são insuficientes, considerando a evolução da doença no Brasil. Dentre as principais causas dessa situação é a não completar o esquema terapêutico, com abandonos frequentes e uso inadequado dos medicamentos, possivelmente vinculado às reações adversas do tratamento e sua longa duração; à melhora clínica nos primeiros meses de tratamento; às dificuldades para o comparecimento às unidades de saúde; à não aceitação da doença; e às falhas no próprio programa de controle à tuberculose. uma doença envolta em tabus e crenças de natureza simbólica e cercada por um forte estigma, evidenciado desde épocas remotas e entre os mais diferentes povos. Apesar dos avanços científicos que tornaram disponíveis tratamentos eficazes, ainda hoje as crenças populares sobre a tuberculose parecem conservar o pensamento de medo, por ser uma doença mortal. O estigma da doença leva pessoas que adquirem tuberculose a sofrerem não só pelas manifestações clínicas, mas também pela possibilidade de vivenciar preconceitos, sendo rejeitadas em seus relacionamentos sociais. A tuberculose geralmente está associada, a crenças tradicionais sobre a natureza moral da saúde, da enfermidade e do sofrimento humano, punição divina, elas se tornam metáforas da vida cotidiana. Objetivo: Discutir as nuances sociais da tuberculose, abrangendo os estigmas e preconceitos dos acometidos pela doença, bem como as dificuldades de adesão ao tratamento. Desenvolvimento: Tratou-se de um estudo qualitativo, no intuito de solucionar os objetivos acima,  por meio de revisão de literatura apoiada por buscas de publicações nas plataformas: Scielo, PubMed e Google Acadêmico. No total foram encontrados 190 documentos e utilizado como critérios de inclusão maior nível de evidência, trabalhos mais novos e aqueles que continham informações uteis para compreensão do questionamento do presente estudo, então 15 foram selecionados. A tuberculose ainda nos dias de hoje é tida como um problema de saúde pública no Brasil, relacionada às mazelas sociais. Esses números são alarmantes se considerarmos que tuberculose é uma doença que tem cura, e evidenciam a necessidade de rever estratégias de ação junto a estas pessoas. Objetivo do estudo é de aprofundar o conhecimento acerca das representações sociais da tuberculose, contribuindo para o desenvolvimento de novas estratégias de cuidado em saúde. Os estudos sobre tuberculose mostram que o padrão de ocorrência da doença está relacionado fundamentalmente aos determinantes sociais, estruturados nos modos de produção e reprodução da sociedade. Nos últimos tempos, a situação da doença vem se agravando, tanto em relação ao adoecimento como no que se refere ao número de mortes, devido aos importantes desníveis sociais. Têm-se identificado como mais vulneráveis para adquirir a doença, populações de baixa renda, e ou com condições insalubres de moradia, os portadores do HIV, os desnutridos, os imigrantes, além daqueles que têm acesso restrito aos bens básicos como saúde e educação.Viver com tuberculose é árduo. Essa representação está apoiada em três categorias: a tuberculose afasta as pessoas, o tratamento é difícil, e muda a percepção de si. O adoecer por tuberculose é percebido como sofrimento pelo isolamento social que vivenciam, pelas dificuldades de realizarem o tratamento, pelo medo do contágio e pela mudança na percepção da imagem corporal. Isso levou à compreensão de que as representações sobre a tuberculose estão expressas como perdas, tristeza, descontentamento e revolta. O sofrimento é a compreensão de que a tuberculose não é apenas uma doença do corpo, mas que tem implicações em diferentes âmbitos do viver, especialmente nos relacionamentos sociais. Estes relacionamentos se modificam, promovendo o isolamento, em decorrência do preconceito que percebem por parte de outras pessoas, e também pelo próprio preconceito acerca da tuberculose, levando-as a sentirem-se "sujas" e um risco para outras pessoas. Manifestações físicas como tosse e emagrecimento, aliados ao preconceito percebido, contribuem para modificar a imagem que têm de si, passando a perceberem-se como doentes e frágeis. Nesse sentido, a experiência de ter tuberculose leva ao sofrimento, modifica a vida cotidiana e a maneira como a pessoa relaciona-se consigo mesma e com os outros. A primeira concepção é a de que a tuberculose é uma doença que passa de uma pessoa para outra e, portanto, o espaço de interação física torna-se um espaço de risco. A segunda concepção é relativa ao estigma da doença, que gera preconceitos, conectando a doença às classes baixas, à promiscuidade e a outras situações sociais de exclusão. O preconceito não é somente dos outros em relação a pessoa com tuberculose, mas é da própria pessoa, ancorada na sua concepção sobre a doença. A preocupação com a contaminação faz as pessoas com tuberculose sentirem-se excluídas ou isolarem-se, numa reação que, algumas vezes, pareceu uma antecipação: isolar-se antes de ser isolada. Expressaram receio de revelar o diagnóstico, preferindo manter a doença em segredo, como consequência do preconceito que existe acerca da doença. Esta situação reside no temor do julgamento social, ou seja, no medo da humilhação, da vergonha. O tratamento da tuberculose é difícil. As pessoas incluem, no tratamento, cuidados que ultrapassam o tratamento médico tais como: a fé, a proteção contra a chuva e a umidade, e expandem os cuidados para uma alimentação saudável, o uso de medicamentos e o acompanhamento periódico nos serviços de saúde. Essa maneira de descrever o tratamento ressalta a percepção de que o cuidado de sua doença abrange o viver diário, através de atitudes que expressam suas experiências e conhecimentos anteriores. Resultado: A análise dos dados nos levou a compreender que há um tema central que expressa como representam a tuberculose: viver com tuberculose é sofrido, apoiado em três categorias: O tratamento é difícil, a tuberculose afasta as pessoas, a tuberculose muda a percepção de si. As representações sobre a tuberculose foram expressas num relato de perdas, de tristeza, de descontentamento e de revolta. As representações da tuberculose como sofrimento apontam a necessidade de promover a criação de uma rede de suporte às pessoas com tuberculose e de trabalhar preconceitos, medos e respeito às diferenças. Considerações finais: Apoiar a desmistificação da doença, evitando a perpetuação do seu estigma nas diferentes esferas da sociedade. A tuberculose é um problema de saúde que precisa de estratégias abrangentes para seu controle, o que faz imperativo rever as ações de divulgação da doença através de meios de comunicação massivos. Em relação ao conhecimento da tuberculose: desconhecimento acerca de aspectos básicos da enfermidade e perpetuação do estigma. As pessoas continuam a se sentir discriminadas pelo preconceito que existe com relação à doença; abandonam o tratamento porque consideram que, muitas vezes, ele traz manifestações piores do que a própria doença; ou por não compreenderem a relação entre a cura e a remissão das manifestações. E continuam a ter um diagnóstico tardio, apresentando emagrecimento acentuado e tosse com hemoptises.  

7565 PREVALÊNCIA DE HIV E HEPATITES VIRAIS EM MULHERES TRANS E TRAVESTIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Luciana Catarina Santos de Melo, Luciane de Souza Velasque, Ricardo de Mattos Russo Rafael, Virginia Maria de Azevedo Oliveira Knupp, Eduardo Mesquita Peixoto, Davi Depret, Luiz Alberico Araujo Montenegro, Damiana de Figueiredo Bezerra

PREVALÊNCIA DE HIV E HEPATITES VIRAIS EM MULHERES TRANS E TRAVESTIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Autores: Luciana Catarina Santos de Melo, Luciane de Souza Velasque, Ricardo de Mattos Russo Rafael, Virginia Maria de Azevedo Oliveira Knupp, Eduardo Mesquita Peixoto, Davi Depret, Luiz Alberico Araujo Montenegro, Damiana de Figueiredo Bezerra

Apresentação: A estimativa do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais (DDAHV),  mostrou que, até junho de 2016, haviam sido notificados quase 1 milhão de casos dessas doenças no Brasil. Isso corresponde, entre a população de 15 a 49 anos, a uma prevalência de 0,4%.  Alguns estudos apontam que o HIV e as Hepatites afetam de forma desproporcional a população de travestis e pessoas transexuais, quando comparados com outros grupos também vulneráveis. Globalmente, a prevalência de HIV neste grupo é de aproximadamente 19,1%, com uma razão de chance de 48,8 (IC 95%: 21,2–76,3), quando comparada com a população adulta. Esta prevalência é ainda maior para travestis envolvidos com o sexo comercial, que apresentam uma estimativa de prevalência para o HIV de 27,3%. No entanto, os dados acerca desta população são escassos e geralmente baseados no autorrelato da infecção pelo HIV e não em resultados laboratoriais mais objetivos, razão pela qual este grupo foi identificado pela UNAIDS como prioritário para realização de estudos e intervenções voltadas para minimizar o impacto da epidemia de HIV/AIDS entre travestis. Objetivo: Realizar uma revisão sistemática sobre a prevalência de HIV e Hepatites virais na população de transexuais mulheres e travestis. Método: Para elaboração formalmente correta da pergunta de pesquisa, foi utilizada a Estratégia PICO. A busca de artigos sobre prevalência de HIV na população de mulheres transexuais e travestis na América Latina foi realizada nas bases de dados BVS, PubMed e Scopus. Os descritores utilizados foram “pessoas transgênero”, “travestis”, “mulheres trans”, “HIV”, “hepatite B”, “hepatite C”, “prevalência”, entre outros. Para critérios de inclusão dos artigos a serem analisados, foram considerados apenas os que tivessem prevalência através da realização de testes para HIV e Hepatites. Foram considerados também os artigos escritos em português, inglês e espanhol, bem como todos os desenhos de estudo e publicados entre 2008 até janeiro de 2018. Todo o processo de busca, seleção e extração dos dados dos artigos foi realizado em pares. Após a busca feita através dos descritores, foram encontrados 721 artigos, sendo que 124 estavam duplicados e foram excluídos. Destes 597 artigos, foram selecionados aqueles que, partir da leitura dos seus títulos e resumos, abordavam o assunto de interesse. Foram excluídos mais 468 artigos, pois não consideravam os critérios de elegibilidade ao tema proposto para revisão. Dessa maneira, obtiveram-se 129 artigos que foram lidos na íntegra e de maneira independente por LM e MN. Em casos em que houve discordância, foi solicitada a avaliação e a decisão pela inclusão ou não do estudo, por um terceiro autor (LV). Como critério de inclusão foram selecionados artigos que tivessem dados de prevalência para HIV na população de travestis e mulheres trans, em países na América Latina, com comprovação de testagem, sendo excluídos os artigos que possuíam prevalência autodeclarada. Além disso, foram excluídos da revisão artigos de Revisões Sistemáticas, estudos sem a população específica e que não tivessem informações sobre prevalência e também foram excluídos Carta de editorial e Protocolos Clínicos. Foram encontrados artigos onde havia a citação da população de travestis e mulheres trans no corpo do texto, porém no momento da leitura na íntegra dos textos observou-se que os dados referentes às populações de interesse encontravam-se de maneira agregada à população de homens que fazem sexo com homens. Estes artigos foram excluídos da revisão, pois não correspondem às populações de interesse. Resultado: Através do processo de seleção inicial dos artigos, foram encontradas 129 publicações de interesse. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, a partir da leitura completa dos textos, foram obtidos 14 artigos sobre o assunto de interesse. Dos 14 artigos analisados, foram identificados que, em todos eles, havia dados referentes ao HIV, porém, em apenas 3 deles, havia dados referentes às hepatites. Nos dados encontrados referentes ao Brasil, a prevalência de HIV na população de mulheres transexuais e travestis foi maior do que a prevalência de hepatites também encontrada nas populações de mulheres transexuais e nos travestis. Dentre as hepatites identificadas (B e C), a de maior prevalência foi a B, chegando a 30,8% no Brasil, dentro da população estudada. Enquanto que, em relação aos dados de HIV, houve uma prevalência nessas populações de até 46,2%. Considerações finais: A pesquisa sobre populações vulneráveis como as de mulheres transexuais e travestis é de extrema importância para a identificação de problemas associados à saúde e à qualidade de vida dessas pessoas. Além disso, a obtenção de dados epidemiológicos, bem como as suas análises, contribuem também para a identificação dos determinantes sociais e determinantes de saúde que estão associados aos principais problemas encontrados dentro desses grupos populacionais mais vulneráveis. No Brasil, em 2016, a prevalência de hepatite era de 0,7% (657.000) em toda a população. Isso representa uma porcentagem muito menor da doença entre a população geral quando relacionada à população de mulheres trans e travestis avaliadas. Também em 2016, a prevalência de HIV era de 0,004% (827.000) no Brasil, o que representa uma porcentagem também bastante inferior se comparada aos casos de HIV dentre as mulheres trans e travestis. É possível perceber que a prevalência de HIV e hepatites virais nesses grupos é bastante superior à prevalência dessas doenças na população em geral. Isso evidencia que existem fatores importantes a serem analisados e estudados, a fim de entender o porquê dessas diferenças e traçar ações importantes, que busquem diminuir a prevalência dessas doenças nas populações. Durante a pesquisa, também ficou evidente que muitos estudos não apresentam dados de HIV e hepatites baseados nos testes para o diagnóstico das doenças. A obtenção desses dados, na maioria dos artigos encontrados, é por autorrelato da população estudada. Isso demonstra o quanto é necessário haver mais estudos que tenham dados baseados em testes reconhecidos para o diagnóstico de doenças como o HIV e a hepatite, trazendo maior confiabilidade para as informações dos estudos publicados. Dessa forma, é fundamental que haja maior número de estudos com essas populações, que abordem a prevalência de doenças infectocontagiosas mas também a prevalência de outros tipos de doenças e acometimentos importantes dentro da área da saúde, a fim de entender os seus processos e determinantes, com o intuito de criar políticas de atenção à saúde mais eficazes e inclusivas.

12039 NARRATIVAS DE UMA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – INTEGRALIDADE, HIV/AIDS, ATENÇÃO DOMICILIAR TERAPÊUTICA
Marta Machado Torres

NARRATIVAS DE UMA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – INTEGRALIDADE, HIV/AIDS, ATENÇÃO DOMICILIAR TERAPÊUTICA

Autores: Marta Machado Torres

Apresentação: Publicizando uma dissertação de mestrado em saúde coletiva. O estudo foi materializado através do Programa de Pós-graduação em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia/UFPA. A coleta de dados ocorreu em 2015/2016. De assistência direcionada ao domicilio no âmbito da UREDIPE, serviço especializado em HIV/AIDS e Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Pará. A pesquisa em questão aprofundou conhecimentos a respeito da vivência dos usuários para com o conjunto das políticas direcionadas para a saúde pública e integralidades das ações e serviços. Objetivou conhecer a percepção dos usuários sobre a integralidade no serviço da Assistência Domiciliar Terapêutica/UREDIPE e sua relação com o Sistema Único de Saúde. UREDIPE é um serviço de referencia estadual localizado em Belém. Trajetória metodológica de abordagem qualitativa exploratória. População contemplou oito pessoas adultas, com idade entre 24 e 99 anos. Desenvolvimento: Permaneço trabalhando como enfermeira na assistência domiciliar. Espaço que tem garantido atenção qualificada às situações de prostração e sequelas desencadeadas principalmente pelas comorbidades que perpassam a vida seja por uso prolongado das terapias medicamentosas, diagnósticos tardios, prejuízo na aceitação ao tratamento e outras situações de ordem psicossocial. O aprendizado constituído e internalizado no envolvimento que se deu ao produzir a referida dissertação permitiu maior interação com o processo de trabalho e com as pessoas com quem lido diariamente. Diante da particular história de vida que lhes tomou a existência em determinado momento quando atingidos pelo HIV e de seus envolvimentos com a Atenção Domiciliar Terapêutica arrendou outras faces talvez antes não consideradas deste ponto de vista. No âmbito do que se deu estar frente a frente com suas percepções, inferi-las e quiçá materializá-las qualitativamente a partir das análises que deram sentidos palpáveis às interpretações, certamente muito do que se conseguiu avançar no estudo estimulou outras investidas sobre situações igualmente vivenciadas pelos participantes da pesquisa. Cada pessoa entrevistada, das suas falas fluidas, situadas, recordantes, reivindicantes, deram eco, fazendo ressoar o que se trata da interseção entre suas vidas e da dinâmica do cuidado, serviços, práticas da saúde e do controle social, apontando sobremaneira do que vem essencialmente a ser a integralidade, esta enquanto eixo central do trabalho na saúde, consequentemente pilar estrutural do Sistema de Saúde vigente e pela formulação de políticas gerais e específicas de atenção aos usuários e á população como um todo. As narrativas apontaram aspectos desviantes no ato do acolhimento, resultante dos desencontros entre os serviços bem como das descontinuidades presentes nas atitudes profissionais, que podem não ser intencional, mas expressamente condizente à violação dos direitos humanos quando não respondem satisfatoriamente às demandas inerentes ao recorte deste estudo, evidenciados pelas afetações, estigmas, adoecimentos e sofrimentos que ora se apresentaram. Revelou a importância de fazer fluir o fluxo nos diferentes níveis de atenção do sistema. Apontando ser imperativo que este esteja estruturado de modo a integrar ações assistenciais, preventivas, e de promoção da saúde coletiva, superando a tradicional e persistente fragmentação. Bem como romper laços que firmam relação de subserviência, de exclusão dos sujeitos. Urge avançar pela escuta de suas histórias e de suas vivências, fazendo valer os direitos os de usuários e plena viabilidade do SUS. Significativamente emergiu no universo da pesquisa enredo sobre prática de relações sexuais em contextos de relações afetivas na terceira idade. De um diagnóstico e vivência com o HIV revelado a partir dos oitenta anos de idade. Conforme se afirma, sexualidade é como a energia que impulsiona não apenas para a reprodução, mas para a obtenção do prazer, do amor e do erotismo. Manifestada em todas as fases da vida. Compreender a sexualidade de pessoas vivendo com HIV/AIDS com vistas à promoção da assistência à saúde adequada e humanizada permite essencialmente quebrar o paradigma do modelo biomédico de atenção à saúde. Estudos apontam que a questão geracional no trato com este tipo de infecção, em muitos casos o diagnóstico é realizado em uma fase tardia da história natural da infecção pelo HIV, e a solicitação do exame para HIV em idosos só ocorre após investigação extensa e por exclusão de outras doenças, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento. Esta foi uma das situações constada neste estudo. A temática do envelhecimento populacional evidencia que não são suficientes as mudanças de caráter econômico e sanitário para promover a saúde de pessoas idosas. Sendo necessário que mudanças sejam acompanhadas de conquistas no âmbito social e que considerem entre os mais diferentes aspectos do envelhecimento a sexualidade, dimensão fundamental da vida e muito atravessada pela epidemia de HIV/AIDS. Portanto infecções por HIV em idosos desafiam a refletir sobre a associação dessa doença ao envelhecimento, incluindo os estereótipos, principalmente no que diz respeito à negação de sua sexualidade. As falas também apontaram que o serviço de assistência domiciliar precisa estar mais equipado e estruturado para atender o conjunto de necessidades instaladas. Que o ADT deve estar saneado para um possível aumento de pessoas a depender deste tipo de assistência prestada. Que o serviço de fisioterapia, por exemplo, este deve ter presente todos os equipamentos que recuperam e exercitam os movimentos. Dimensionam que para ter respostas mais satisfatórias é preciso ter equipamentos, insumos e pessoal suficiente para atender de forma integral as necessidades dos cuidados que são dispensados nas residências. Com a presença considerável de mulheres sendo assistidas no domicilio, há demandas específicas para ginecologia cada vez maiores. Suas falas registram estas reivindicações. Várias ocorrências exigem avaliação e intervenção deste profissional. Casos reincidentes de verrugas vaginais e outros desencadeamentos provocados pelo HPV, como as lesões do colo do útero, estes encontram campo fértil frente à debilidade do sistema imunológico diuturnamente sob ataque do vírus responsável por desencadear a AIDS. E ainda o que necessita de encaminhamentos especializados a demora ainda é muito grande para sua resolução. A descontinuidade da assistência domiciliar por falta do transporte foi outro ponto ressonante nas falas. Conforme enfatizaram, a questão do transporte se evidenciou como uma das principais problemática para o efetivo desenlace do trabalho do ADT. Quando o veículo apresenta problemas que precisa ir para a oficina, isso implica em dificuldades para receber assistência. Pois há impedimentos físicos ou outras dificuldades desta ordem, que os impossibilitam de usufruir do transporte coletivo, para deslocamentos até à UREDIPE. Considerações finais: A estrutura e organização da atenção especializada às pessoas vivendo com HIV/AIDS, do que foi apresentado neste estudo, particularmente do serviço que chega ao domicílio, ADT/UREDIPE segue aos ditames da política de estado estabelecida na carta magna brasileira em consonância aos princípios e diretrizes do SUS. Contudo os problemas existentes, do que emergiu das falas, relacionados à violação dos direitos humanos, deficiência de recursos humanos, equipamento e transporte, por exemplo, podem comprometer os avanços gerados pela integralidade. Apontadas barreiras, reveladas pontualmente responsabilidades da gestão administrativa e governamental há de se vencer esses obstáculos, garantindo atenção resolutiva e includente. Permitindo assim inteira integralidade na assistência às pessoas que convivem com HIV/AIDS. Das pessoas entrevistadas, três evoluíram a óbito. As demais seguem sob nossa assistência. A de mais alta senilidade permanece lúcida e interativa. Está próximo de completar 104 anos. Quando entrevistada narrou todos os detalhes de seu adoecimento, inclusive apontando as violações perpetradas do diagnóstico ao tratamento.

9984 O CONSULTÓRIO NA RUA DE NITERÓI E OS DESAFIOS DO PROJETO DE DESCENTRALIZAÇÃO DO TRATAMENTO DO HIV NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE JUNTO A USUÁRIOS EM SITUAÇÃO DE RUA
ALEXANDRE TEIXEIRA TRINO, MÁRCIO ANDRADE SERRANO, FÁBIA LISBOA, LAURIMAR LOPES, DÉBORA LACERDA, WELITON RAMOS

O CONSULTÓRIO NA RUA DE NITERÓI E OS DESAFIOS DO PROJETO DE DESCENTRALIZAÇÃO DO TRATAMENTO DO HIV NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE JUNTO A USUÁRIOS EM SITUAÇÃO DE RUA

Autores: ALEXANDRE TEIXEIRA TRINO, MÁRCIO ANDRADE SERRANO, FÁBIA LISBOA, LAURIMAR LOPES, DÉBORA LACERDA, WELITON RAMOS

Apresentação: O presente estudo busca apresentar o projeto para descentralizar o tratamento de HIV junto à duas equipes de Consultório na Rua no Município de Niterói, responsáveis pela atenção integral à saúde da população em situação de rua nesta cidade. Integram o componente da Atenção Básica da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no Sistema Único de Saúde local e desenvolvem ações de atenção primária em saúde e atuam frente às diferentes demandas e necessidades de saúde da população em situação de rua, inclusive na busca ativa e cuidado integral aos usuários  com IST / HIV/AIDS. O projeto de descentralização do tratamento de HIV, é uma parceria do Consultório na Rua com a Coordenação de Vigilância em Saúde, bem como com o ambulatório de HIV do Hospital Municipal Carlos Tortelli (HMCT) da secretaria de saúde de Niterói. O que se busca é a melhoria do acesso e da qualificação do cuidado junto aos usuários em situação de rua, de forma a facilitar seu diagnóstico precoce através de testagens rápidas, do tratamento em si com anti retro virais e o seu acompanhamento não mais em ambulatórios especializados, mas na capilaridade da atenção básica, através de matriciamento da equipe do consultório na rua e habilitando o seu médico generalista a desempenhar todo o plano terapêutico de HIV. Desenvolvimento da experiência: esta experiencia em fase inicial, partiu da necessidade de qualificar membros da equipe, sobretudo o médico generalista, junto a esta estratégia e previamente às ações. No ano de 2019 foram  realizados diversas iniciativas de formação junto aos profissionais das equipes, contemplados com seminários, workshops, cursos e oficinas sobre o tratamento de HIV e sua prevenção combinada. No ano de 2020, já se iniciou um processo  pedagógico de aprofundamento da formação do médico da equipe, com a estratégia de matriciamento por parte dos médicos infectologistas do ambulatório especializado de HIV do HMCT. Assim, a partir dos casos que surgem no consultório na rua, o médico generalista está sendo matriciado quinzenalmente, e assumindo o protagonismo do cuidado integral junto aos pacientes com HIV, de forma gradual e de acordo com a complexidade de cada caso. Resultado: com isso espera-se um aumento bastante significativo no número de pacientes  aderindo ao acompanhamento regular, pois, a princípio, permanecerão no local onde já estão vinculados, mas agora com uma proposta de atendimento ampliado e mais integral. O tratamento especializado continuará ocupando seu espaço de sempre, mas nessa nova proposta, os casos direcionados aos especialistas serão somente os mais complexos e específicos. Considerações finais: ao observarmos a potência dessa iniciativa, e onde  podemos chegar, abrem-se perspectivas de novas possibilidades e novos caminhos para o cuidado integral de HIV. Sobretudo junto a usuários em extrema vulnerabilidade, que de certo nos trarão novos modos de atuar com a Redução de Danos, ética de cuidado muito significativa para os consultórios na rua, que contribui para a diminuição das condições de risco e vulnerabilidades junto a pessoas em situação de rua, principalmente quando fortalecemos o vínculo já estabelecido.