311: Do parto ao nascimento: interfaces entre a Saúde da Mulher, do Homem e da Criança
Ativador: Valdecyr Herdy Alves
Data: 28/10/2020    Local: Sala 16 - Távolas de trabalhos    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
5866 A MULHER COMO SUJEITA DE DIREITOS: UMA REVISÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER (PNAISM)
Sabryna Lais Tavares de Lima, Beatriz Ramos Santiago, Ana Caroline dos Santos Rocha, Danilo Mercês Freitas

A MULHER COMO SUJEITA DE DIREITOS: UMA REVISÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER (PNAISM)

Autores: Sabryna Lais Tavares de Lima, Beatriz Ramos Santiago, Ana Caroline dos Santos Rocha, Danilo Mercês Freitas

Apresentação: A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) é uma política pública efetivada em 2004 destinada a pensar a saúde da mulher como sujeita além da maternidade. Surge como convergência do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) junto a questões defendidas pelo movimento feminista, como a equidade e igualdade de gênero, além de se pautar nos princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar disto, é possível verificar inconsistências e mazelas, principalmente no tocante ao cenário atual. O objetivo do estudo foi realizar uma breve reflexão sobre a PNAISM, de modo a destacar as contradições e os pontos que legitimaram a mulher como sujeita em seu eixo integral da saúde e direitos, além de trazer limitações e contradições existentes na própria Política e descrever os principais desafios e discussões da promoção e manutenção de políticas de saúde mental com enfoque nas questões de gênero. Desenvolvimento: Foi realizada uma revisão narrativa da literatura a fim de elaborar uma síntese histórica e qualitativa sobre a política, assim como discutir de forma ampla os conceitos principais que atravessam as discussões sobre PNAISM, principalmente no tocante às temáticas de saúde da mulher e questões de gênero, que refletem na humanização do tratamento e na saúde mental das mulheres, em sua condição social, como o histórico de conquistas no âmbito da saúde e contribuições do feminismo para direitos da saúde da mulher, de modo a evidenciar avanços, contradições e limitações na política escolhida. Para isto, foi feita uma revisão da PNAISM de modo a evidenciar sua construção, institucionalização, objetivos e aspectos implantados e, concomitantemente, foi feita uma revisão de literatura que conversem com as temáticas levantadas, após a revisão da política, pesquisadas nas plataformas Biblioteca Virtual de Saúde, Google Acadêmico, SciELO e PEPSIC. Resultado: Entende-se a violência de gênero como um dos principais fatores de adoecimento em mulheres e, além disso, elas são a maioria na busca pelos serviços de saúde, portanto, foi aberta a condição para que se pensassem políticas de saúde que as amparassem. O movimento de mulheres que antecedeu o PAISM tinha como objetivo a aplicação de políticas públicas que colocassem as mulheres como sujeitas de direito e importância em questões de Estado. Nesse contexto, a criação do PAISM contrariava as políticas de saúde vigentes, baseadas no papel reprodutivo da mulher, as quais não eram atendidas em todas as suas especificidades e necessidades. O PAISM surge sob a perspectiva filosófica de que a mulher deve estar inserida no contexto de saúde com direitos e pleno gozo de sua cidadania. Ainda haviam reivindicações de diversas áreas nas questões de  direitos reprodutivos e ao corpo como um todo, foi quando se tornou interessante atender essas mulheres e suas demandas de: aborto, métodos anticoncepcionais, pílula do dia seguinte e pré-natal. Nesse sentido, sob o viés político, de um lado estão aqueles que acreditavam que o PAISM era apenas um disfarce para o controle de natalidade e por isso era utilizado para fins econômicos e políticos. Por outro lado, o PAISM, apesar de tudo, foi aliado na emancipação da mulher, mesmo com diferentes interesses, sendo um programa que as atendia desde a infância até a velhice. Em 2004, o PAISM foi transformada na PNAISM, a qual atua sob os princípios da prevenção, promoção, assistência e recuperação da saúde, do compromisso político de reduzir a mortalidade e morbidade feminina bem como ampliar a atenção integral perante uma postura integrativa, na qual se inserem as mulheres rurais, negras e indígenas, sob o viés de uma saúde humanizada. Além disso, a PNAISM recupera a preocupação com temas como a violência contra a mulher e saúde mental. A política também apresenta questões de humanização e Saúde Integral, levando em conta interseccionalidades e atravessamentos como aspectos físicos, psicológicos, sociais, econômicos, étnicos, culturais, de orientação sexual etc. Tais questões são concretizadas pelo acesso aos três níveis de assistência à saúde, melhoria do atendimento pelos profissionais, acolhimento humanizado à clientela e informação, intervenção e práticas humanizadas não só no acolhimento, mas em uma rede de suporte dentro e fora do estabelecimento, com ações de orientação e prevenção. Porém, também representam desafios para a plena integração prevista pela política, visto que todas as particularidades devem ser abarcadas, além disso, apesar de estarem previstas dentro da política, a mesma não chega, ainda, a todas elas. Além disso, a PNAISM passa a refletir as questões de gênero como agente transformador, pois encara o contexto de desigualdade como produtor de preconceitos que dificultam o processo de construção e de acesso à Políticas Públicas voltadas para a mulher. Neste sentido, a proposta inovadora da Política é educar e desconstruir os profissionais de saúde em busca de um tratamento mais humanizado. No entanto, tais profissionais ainda não são devidamente capacitados para este tipo de cuidado especializado, por conta da própria sociedade legitimadora de preconceitos, fator produtor de violência aos direitos das mulheres e por sua formação. Isso ecoa na distribuição deficitária de anticoncepcionais, atendimento (ou ausência dele) para abortamento seguro seguido de violência psicológica, violência obstétrica e questões relativas à falta de amparo em saúde mental. Neste cenário, uma das práticas que favorece o não cumprimento dos direitos reprodutivos é o cuidado médico verticalizado, por exemplo, que ainda ocorre, visto que há ainda grande dificuldade em incorporar a prática médica ao pleno entendimento das questões de gênero. Por conta disso, é instituído o Monitoramento e Acompanhamento da Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher e do Plano Nacional de Políticas para as  Mulheres a fim de responder às expectativas de tratados internacionais voltados para direitos reprodutivos e os princípios básicos do SUS. Finalmente, é significativo pensar como a PNAISM considera a saúde mental das mulheres, visto que esta é abrangida pelo conceito de bem-estar físico. Isto é de suma importância ao considerar o excesso de expectativas e sobrecargas no papel da mulher nos contextos familiar e social, conceituado como “dupla jornada de trabalho”, levando em consideração as demandas domésticas e de filhos. Cobranças do contexto patriarcal que levam ao adoecimento, que já era uma crítica do movimento de mulheres antes da criação do PAISM e ainda são presentes atualmente. A PNAISM, no seu desafio de integrar, em todas as instâncias, as mulheres, considera a atenção integral, nos três níveis de atenção no SUS, ao abarcar temas ligados à saúde mental, principalmente as condições psicológicas das mulheres no tocante a abortamento seguro; IST/HIV/AIDS; violência doméstica e sexual; atenção obstétrica e; climatério/menopausa. Considerações finais: Nota-se que, apesar dos avanços que a PNAISM proporcionou nos aspectos de autonomia da mulher sobre seu corpo e sua condição, sua criação foi embasada em interesses estatais e ainda patriarcais. Esta condição ainda torna a saúde mental da mulher pouco considerada nas práticas cotidianas, o que vem a suprimir as necessidades delas em prol das necessidades dos grupos dependentes dessas mulheres. Além da dificuldade de atender, integralmente, todas as mulheres, dentro de suas especificidades culturais, sociais e biológicas, dada, principalmente pelas diferenças culturais e regionais, além da falta de profissionais devidamente capacitados e por entraves morais; bem como por ainda não estar implementada devidamente em todas as regiões.

8955 ANÁLISE DISCURSIVO-CRÍTICA DO PROJETO DE LEI Nº 435, DE 2019: uma reflexão para o Cuidado em Saúde.
Rafaela Siqueira Costa Schreck, Kenia Lara da Silva

ANÁLISE DISCURSIVO-CRÍTICA DO PROJETO DE LEI Nº 435, DE 2019: uma reflexão para o Cuidado em Saúde.

Autores: Rafaela Siqueira Costa Schreck, Kenia Lara da Silva

Apresentação: O nascimento de uma criança, tradicionalmente, era momento de exclusiva vivência feminina, centrado no ambiente familiar. No entanto, no último século, ocorreram transformações significativas na atenção à saúde da mulher, influenciadas pelo modelo biomédico, hospitalocêntrico e tecnológico no parto e nascimento. Atualmente, os benefícios do parto normal para o binômio mãe-filho são apontados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ao afirmar que o nascimento é um processo fisiológico e deve ser respeitado, principalmente com a redução de intervenções, ações de empoderamento da mulher e a capacitação dos profissionais para uma assistência segura. A OMS defende que a cesárea possui riscos maternos e fetais e, portanto, deve ser realizada apenas em casos de indicação clínica. O Brasil enfrenta, nas últimas décadas, uma epidemia de cesáreas, e está entre os países com o maior número dessas cirurgias no mundo. A cada 10 partos realizados em maternidades particulares no Brasil, 8,5 são cesáreas sendo que a Organização Mundial de Saúde recomenda 1,5. Este elevado número de cesarianas, resultado da perda da autonomia da mulher no processo de parturição e de uma cultura médica intervencionista na assistência aos nascimentos, deve-se à ideia de que o parto deve ser medicalizado ou tratado, o que tem acarretado aumento na taxa de morbimortalidade materna e perinatal, sobrecarregando os sistemas social e financeiro do país. Para melhoria dos indicadores de saúde e qualificação do cuidado ofertado, o preparo e a atuação dos profissionais de saúde tem sido alvo de intensos debates. A trajetória nacional para incentivo ao parto normal e mudança do paradigma tecnocrático para um modelo de atenção humanizado é resultado da ação de políticas públicas, fóruns perinatais e movimentos sociais, principalmente, feministas. Estes atores defendem a autonomia da mulher no momento de parturição e a medicina baseada em evidências, para redução do uso indiscriminado da tecnologia, das intervenções cirúrgicas, mortalidade materna e prematuridade iatrogênica. Contudo, há outros movimentos no país que disputam ideologicamente a defesa do modelo de parto e nascimento. Entre estes, cita-se o Projeto de Lei (PL) 435/2019 com a proposta de assegurar à toda gestante a opção pelo parto cesárea, a partir de 39 semanas de gestação, sem indicação clínica. O Projeto de Lei é um tipo de gênero discursivo resultado de uma prática sociodiscursiva, portanto um modo de agir e interagir discursivamente. Nele estão revelados investimentos ideológicos sobre o parto normal, no Brasil. Essa proposta surge no país no momento em que o panorama do parto e nascimento é marcado por disputas acerca do embate do parto: de um lado os partidários do modelo tecnocrático, defensores da cesárea, e do outro os ativistas à favor do parto normal na defesa de um modelo humanístico/humanizado de assistência. Ainda que o Projeto de Lei possua características legislativas próprias, o texto foi produzido por uma autoridade legislativa, que possui ideologias partidárias e pessoais que se reproduzem diretamente em suas justificativas de Projeto de Lei. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é analisar discursivamente este documento, identificando os modos de operação da ideologia contidos na Justificativa do PL. Desenvolvimento: A partir dos princípios da metodologia da Análise do Discurso Crítica (ADC), o discurso foi analisado de forma tridimensional, identificando o texto e a prática discursiva como elementos inseridos na prática social, reconhecendo as ideologias, sentidos e orientações hegemônicas presentes. A ADC, pela sua ontologia de posicionamento crítico, emancipatório, além da descrição linguístico-textual minuciosa de um documento-objeto, visa a interpretação explanatória crítica dos fenômenos, que se apresentam em instituições sociais, com determinadas formações ideológico-discursivas, e as respectivas relações de poder entre elas. Ressalta-se que este método será empregado com o objetivo de não apenas descrever as estruturas do discurso, mas explicá-las em termos de organização social. A prática discursiva explora os processos de produção, distribuição e consumo do texto, incluindo as categorias de coerência e força dos enunciados, juntamente com a análise das relações dialógicas entre o texto e outros textos (intertextualidade) e das relações entre ordens distintas de discurso (interdiscursividade). Nessa dimensão discursiva, observam-se os elementos textuais que podem ser compreendidos ideologicamente, como o significado das palavras, as pressuposições, as metáforas, o estilo. Os posicionamentos da prática social econômica, política e cultural podem ser observados na categoria de hegemonia. Resultado: O gênero textual abordado é o projeto de lei, cuja temática da realização da cesariana por opção da gestante é descrita a partir de um discurso jurídico, com a presença constante de intertextos e interdiscursos de políticas públicas, e posicionamentos de Órgãos Oficiais da Saúde, como Ministério da Saúde. Há a presença de itens lexicais, elementos textuais e discursivos que permitem identificar as ideologias defendidas contra o parto normal e à favor da cesariana. A ideia do parto normal como uma ameaça ao bem-estar materno e fetal é construída, em várias dimensões, com modos distintos para operação dessa ideologia, sendo os mais recorrentes Dissimulação, Fragmentação, Reificação e Legitimação. A Dissimulação opera a Ideologia ao ocultar as relações de dominação, utilizando como estratégia o deslocamento contextual de termos e expressões, como exemplificado pelo emprego de interdiscursos e intertextos dos movimentos sociais à favor da humanização do parto, potencializando outros efeitos de sentidos. Pelo modo de operação da Fragmentação, e estratégia de diferenciação e expurgo do outro, os indivíduos e grupos defensores do parto normal são segmentados, descritos, em alguns trechos até mesmo de forma irônica, com a construção simbólica de um inimigo. O modo de operação da Ideologia por Legitimação também é identificado no texto e na trama discursiva, por meio das estratégias de universalização, em que condições especificas para indicação da cesariana são apresentadas como gerais, a partir da elaboração de uma cadeia de raciocínio para justificar o conjunto de relações entre os riscos do parto normal e os benefícios da cesariana (racionalização), e de narrativização, com o uso de contextos históricos para legitimar a posição defendida. A autora do documento utiliza ainda estruturas textuais para difundir a premissa de que os altos índices de mortalidade materna, associados ao parto cirúrgico, são um processo natural, ou seja, reifica essa naturalização. Ressalta-se que em todo o enredo do texto há uma luta pela hegemonia da via de parto, defendendo uma ideologia contrária ao parto normal. Considerações finais: Ao defender a autonomia da mulher para a escolha da cesariana, a autora reforça a realidade da nossa sociedade, fortemente tecnocrática, atravessada por uma cultura de medicalização e patologização do corpo feminino, da gestação e do nascimento. Além disso, desconsidera a fragilidade, da maioria da população feminina, do acesso à informação para orientar uma decisão consciente de riscos e benefícios da via de parto. O discurso normativo-jurídico do documento ignora a necessidade de estratégias de educação em saúde que garantam oportunidade de uma real autonomia das mulheres na escolha consciente e esclarecida da via de parto. A autora tenta construir um ethos de credibilidade e cientificidade para a sua audiência, de forma a persuadir, no entanto se vale de diversas estratégias ideológicas que conduzem a naturalização de uma ideia, de forma a deslegitimar ironicamente os contrários a sua tese. A proposta legislativa pode promover um retrocesso nas condições de saúde da mulher e da criança, com aumento indiscriminado nas taxas de cesáreas, contrariando as evidências científicas de boas práticas de assistência ao parto e nascimento.

9608 DESAFIOS NA ASSISTÊNCIA AO PRÉ-NATAL DA MULHER ENCARCERADA
Mariana Oliveira Santos, Mariane da Silva Gomes, Adriele Candido Maldonado, Joyce Canaan de Castro Santos, Yara Mendes Sundermann

DESAFIOS NA ASSISTÊNCIA AO PRÉ-NATAL DA MULHER ENCARCERADA

Autores: Mariana Oliveira Santos, Mariane da Silva Gomes, Adriele Candido Maldonado, Joyce Canaan de Castro Santos, Yara Mendes Sundermann

Apresentação: O encarceramento amplia a vulnerabilidade social, individual e programática da população carcerária. Se tratando da mulher encarcerada que vivencia a maternidade, esses fatos ficam ainda mais em evidência. A presente pesquisa teve como objetivo identificar a assistência pré-natal dentro do Centro de Referência a Gestante na cidade de Vespasiano, MG (CRGPL/MG). É para este Centro que as mulheres são transferidas após a descoberta da gravidez. O pré-natal tem como centralidade de assistência acolher a mulher e estabelecer um pacote mínimo de procedimentos e exames que devem ser oferecidos desde o início de sua gravidez, nos períodos de mudanças físicas e emocionais que cada gestante vivencia de forma distinta. Por esse motivo a atenção a mulher gravida no sistema prisional é um desafio, e por se tratar de um espaço de múltiplas segregações. Se trata de uma pesquisa quali-quantitativa de natureza descritiva, para a coleta dos dados foi utilizada um questionário destinados as gestantes, com questões relacionadas a assistência pré-natal, a pesquisa foi aprovada pela Secretaria do Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais e Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (CAEE:23543219.9.0000.513). Durante a coleta de dados 16 mulheres gestantes estavam custodiadas no CRGPL (MG). Os resultados foram obtidos através da análise dos questionários, das mulheres residentes 62% tinha até 29 anos, 34% apresentam idade entre 30 e 39 anos e 4% das mulheres tem mais de 40 anos de idade. No perfil sociodemográfico, 73% das mulheres se declaram negras, e 27% se autodeclararam brancas. Quanto à escolaridade, 58% das mulheres custodiadas no Centro tem ensino fundamental incompleto ou completo, 15% ensino médio incompleto e 23% ensino médio completo e 4% com ensino superior incompleto. Se tratando da situação conjugal, 35% das mulheres responderam ter união estável, 54% são solteiras, 7% divorciadas e 14% casadas. Quanto ao histórico ginecoobstétrico, 13% das encarceradas declararam que estavam gestantes pela primeira vez. Das gestantes 63 % são multíparas, com um filho, dois filhos, três filhos, quatro ou mais. Das mulheres que já eram mães e que tiveram partos anteriores cesarianas, 25% já tinham filhos. Destes foram 8 cesarianas, nos quais 4 mulheres totalizaram estes partos, e, 25 foram partos vaginais, demonstrando que a maior quantidade de partos é normal. Quando questionadas em relação a gravidez: 44% disseram que foi desejada, 6% queria ter esperado mais tempo, 13% não desejava engravidar, 6% assinalaram que foi planejada e 31% relataram que não foi planejada. Do total das gestantes no CRGPL/MG, 25% engravidaram quando já estavam privadas de liberdade, e 75% foram presas quando já estavam grávidas. Para se ter um pré-natal de qualidade deve ser iniciado até a 12ª semana de gestação (captação precoce), no entanto os dados coletados no Centro mostram que das 16 mulheres gestantes apenas 38% iniciaram o pré-natal antes da décima segunda semana de gestação,  56%  iniciaram  após 13ª semanas de gravidez, e 6% das mulheres não iniciou o pré-natal até o momento da coleta dos dados, mesmo tendo declarado  estar com 12 semanas de gestação. Com relação à idade gestacional 12% estavam com até 12 semanas, 12% entre 13º a 21º semanas, 19% entre 22º a 30º semanas, 38% das mulheres estavam com 31º a 37º semanas, 12% com 37º semanas ou mais de gestação, e, 7% não sabiam sua idade gestacional. A preparação da gestante para o parto, assim como o acompanhamento do desenvolvimento do ciclo gravídico, é extremamente importante para mãe e bebê. Quando questionadas quantas consultas de pré-natal com médico e/ou enfermeiro elas haviam realizado 13% (2) internas alegaram ter realizado apenas uma consulta, 19% realizaram duas consultas, as que fizeram  4, 5, 6 e 7 ou mais consultas de pré-natal correspondem respectivamente a 19%, 13%, 13% e 19%, sendo que  6% destas internas relatou  não ter realizado  nenhuma consulta de pré-natal com médico e/ou enfermeiro até o momento da pesquisa. A recomendação é de um mínimo de seis consultas para uma gestação a termo, com o início do pré-natal no primeiro trimestre. 81% das internas relataram que haviam recebido o Cartão da Gestante e 19% relataram não ter recebido. São preconizados a realização dos exames laboratoriais, clínicoobstétricos e procedimentos técnicos durante o pré-natal como medidas essenciais para prevenir, identificar e corrigir de maneira oportuna quaisquer anormalidades ou riscos que possam causar prejuízos à saúde materna ou fetal. Quanto a esses exames, 69% das gestantes disseram ter realizado ultrassonografia e 31% afirmaram não ter realizado. 88% gestantes responderam já ter realizado os exames laboratoriais e 12% negaram ter realizado tal procedimento. Quanto aos testes rápidos para HIV/AIDS, sífilis, hepatite B e toxoplasmose 81% relataram ter realizado, 13% disseram não ter feito e 6% não soube informar. Podemos inferir que o acesso aos exames preconizados pelo Ministério da Saúde ocorre mesmo para a gestante privada de liberdade. Em relação as vacinas 75% das gestantes disseram que receberam e 25% afirmaram que não receberam as vacinas durante a gestação. Os principais objetivos da vacinação, na gestante, são a proteção da mulher grávida, livrando-a de doenças e complicações da gestação, e a proteção do feto. Todas as gestantes internas relataram receber suplementação com ácido fólico e sulfato ferroso, porém o acesso a suplementação ocorre apenas de segunda a sexta, esse fato está relacionado ao fato de que nos finais de semana não existe a presença de profissionais de saúde no Centro. Os suplementos são complementos vitamínicos-alimentícios que contribuem para o aumento de hemácias maternas e formação do tubo neural no feto que devem ser tomados diariamente, mostrando a instituição em desacordo com o preconizado pelo Ministério da Saúde. Quando questionadas sobre o uso  de medicamento de uso continuo,  56% das gestantes disseram que não usam nenhum tipo de medicação e 44% afirmaram fazer uso dos as seguintes fármacos:  Anti-hipertensivos (Anlodipino, Metildopa), Neurolépticos (Aldol, Clorazapina) Antidepressivos (Amtriptilina, Fluoxetina) suplemento vitamínico e mineral (Damater) e Aspirina. O uso de medicamentos na gestação implica ação potencialmente danosa não apenas para a mulher, mas também para o concepto, devendo ser utilizados apenas com prescrições e acompanhamento médico. Quando questionadas se perceberam alguma diferença, na forma de tratamento e no cuidado depois que haviam engravidado e foram transferidas para o CRGPL/MG, 75% responderam que sim, relatando assistência melhor e 25% responderam que não. Nota-se com a pesquisa que o pré-natal é oferecido as gestantes no CRGPL/MG, atende as necessidades básicas para garantir uma gestação e nascimento saudável, mesmo assim não se pode esquecer de buscar ampliar a garantia dos direitos reservados as gestantes. Garantindo um ambiente diferenciado que permita a gestante viver a maternidade mesmo privada de liberdade. Ressalta-se a importância de capacitação permanente de todos os profissionais envolvido na assistência a gestante internada no CRGPL/MG. 

7192 PRÉ-NATAL DO PARCEIRO COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO À SAÚDE DO HOMEM E DA FAMÍLIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UMA USF DE UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA DE ABAETETUBA-PARÁ.
SIMONE GOMES DA SILVA, Kelem Bianca Costa Barros, Nayla Rayssa Pereira Quadros, Elisângela da Silva Ferreira

PRÉ-NATAL DO PARCEIRO COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO À SAÚDE DO HOMEM E DA FAMÍLIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UMA USF DE UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA DE ABAETETUBA-PARÁ.

Autores: SIMONE GOMES DA SILVA, Kelem Bianca Costa Barros, Nayla Rayssa Pereira Quadros, Elisângela da Silva Ferreira

Apresentação:  A atenção ao pré-natal e puerperal é um direito certificado pelo Ministério da Saúde, onde é garantido a realização de no mínimo 6 consultas, devendo a primeira acontecer preferencialmente até 120 dias da gravidez. No período da gestação a mulher deve realizar uma série de exames laboratoriais e participar de ações educativas complementares cujo objetivo principal é a detecção precoce de doenças que venham afetar tanto a mãe quanto o desenvolvimento da criança, além de proporcionar o bem-estar materno e neonatal. No entanto, é observada pouca participação do homem tanto no planejamento do concepto quanto nas consultas de pré-natal e puerperal, esse retrato está baseado em um processo histórico patriarcal e na centralização do cuidado na mãe e na criança. A inserção do homem no processo de gestar acontece a partir da ampliação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem com a incorporação do Pré-Natal do Parceiro, em que as ações são voltadas para o planejamento reprodutivo, atenção à gestação, parto, nascimento e fortalecimento dos vínculos afetivos entre o homem com sua companheira e o filho que está por vir. Assim, para os profissionais de saúde, o Pré-Natal do Parceiro, é uma oportunidade de trazer o homem à unidade a fim de orientar e incentivar a realização dos exames e atualização vacinal descritos na caderneta da gestante. No entanto, vale ressaltar que diversos fatores influenciam na efetividade das ações, como a falta de flexibilidade nos horários das unidades, baixa adesão por parte dos profissionais de saúde e a cultura de resistência masculina a tratamentos e/ou acompanhamentos médicos. Desse modo. a educação em saúde é um importante fator de prevenção constituído por um conjunto de saberes e práticas orientadas a promoção de saúde, uma vez que tem como princípios regulamentar, controlar os gestos, atitudes, comportamentos, hábitos e discursos de uma determinada população. Trata-se de um artifício em que o conhecimento científico atinge a sociedade, oferecendo subsídios para a adoção de novas condutas em saúde, essencial no trabalho do cuidado em enfermagem, estabelecendo-se a partir da participação da população com o compartilhamento de suas vivências, culturas, crenças e necessidades. Logo, este trabalho tem como objetivo relatar a experiência, durante a realização de uma ação educativa sobre o Pré-Natal do Parceiro, cujo público alvo eram gestantes e acompanhantes assistidos por uma Unidade Saúde da Família (USF) ribeirinha, como forma de instrumento de promoção à saúde do homem. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo descritivo, observacional do tipo relato de experiência, desenvolvido por acadêmicas de enfermagem, sob supervisão docente, durante a realização do Programa de Capacitação em Atenção à criança – Estágio Multicampi Saúde 2019/2020, desenvolvido no município de Abaetetuba (PA). Este Programa tem como objetivo qualificar a formação profissional dos estudantes de graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA) e profissionais da Atenção Básica de acordo com a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança do Sistema Único de Saúde (SUS) a fim de reduzir a mortalidade infantil através da integração ensino e serviço. A ação educativa foi realizada em uma sala de espera da Unidade Saúde da Família Arumanduba, localizada na região das ilhas, com as gestantes e seus respectivos parceiros que buscavam atendimento do Programa Pré-Natal. A ação foi desenvolvida em dois momentos: o primeiro foi realizado uma abordagem verbal dos temas em geral como a importância do pré-natal do parceiro e da participação paterna durante o período de gestação e parto, desenvolvimento do vínculo entre pai, filho e esposa durante a gestação e o pós-parto, avaliação da saúde do homem a partir do pré-natal do parceiro, identificação precoce de infecções sexualmente transmissíveis, direitos das mulheres e lei do acompanhante; no segundo momento foram efetuadas orientações sobre pontos complementares, tais como: alterações corporais e emocionais tanto da mãe quanto do pai. Notou-se, a partir do envolvimento ativo e relatos do público masculino, alto índice de adesão ao pré-natal do parceiro, isso ocorre devido aos fatores determinantes de saúde da região em questão, sendo possível destacar a curta distância entre suas residências e a unidade de saúde, frequentes visitas domiciliares de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) abordando sobre a importância da participação do homem no pré-natal, possuírem maior disponibilidade para participarem das atividades desenvolvidas no serviço de saúde, além do enfermeiro da USF ser do sexo masculino (garantindo maior confiança e possibilidade de diálogo ao público-alvo). Ao final sanaram-se todas as dúvidas dos presentes, por meio de um debate sobre seus conhecimentos empíricos e suas incertezas sobre o tema abordado. Resultado: Observou-se o conhecimento satisfatório dos participantes sobre o tema central, bem como o envolvimento efetivo na realização dos exames e acompanhamento nas consultas do parceiro. Durante a ação educativa, através da escuta sensível, foi possível estimular a participação de todos os presentes, que a princípio encontravam-se retraídos, mas posteriormente apresentaram-se interagindo na troca dos saberes por meio da exposição das suas opiniões, vivências e dúvidas, mostrando seus conhecimentos empíricos e disponibilidade para a reformulação das suas ações e saberes, argumentando sobre as orientações estabelecidas, sempre adequando as suas necessidades e as possibilidades que o município e sua realidade socioeconômica oferecem. Outro ponto identificado foi o uso do Pré-Natal do parceiro como estratégia para captar o público masculino para dentro do Sistema de Saúde (SUS) e assim poder possibilitar o cuidado integral desse público, visto que a categoria apresenta grande resistência na realização do acompanhamento médico, realização de testes rápidos e, até mesmo, vacinação. Essa resistência  é sustentada pela cultura patriarcal do homem ser provedor do sustento da família e assim não podendo deter nenhuma patologia. Logo, na maioria dos casos, a população masculina acaba indo em busca dos serviços de saúde quando já possui alguma doença de base instalada, ou seja, necessitando de atenção especializada, o que pode gerar consequência o agravamento de doenças. Considerações finais: Diante disso, evidenciou-se a necessidade e importância de uma intervenção educativa, visto que é um instrumento de fácil implementação e troca de conhecimento, com a ressignificação da cultura de saúde masculina e um melhor acompanhamento e rastreamento de patologias por parte dos profissionais de saúde. Vale ressaltar, que tal instrumento de educação possibilita a disseminação de informações entre a comunidade, fomentando a importância de tal prática entre o núcleo das gestantes e seus parceiros.