290: Experiências de Educação Permanente no âmbito da Atenção Básica
Ativador: Fátima Moustafa Issa
Data: 29/10/2020    Local: Sala 15 - Távolas de trabalhos    Horário: 16:00 - 18:00
ID Título do Trabalho/Autores
9537 ESPIRAL CONSTRUTIVISTA: METODOLOGIA ATIVA EM CURSO INICIAL DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE
Wellington Bruno Araujo Duarte, Roberta Rayssa Magalhães da Silva, Jaslene Carlos da Silva, Juliana Menezes Teixeira de Carvalho, Uêdja Nascimento de Oliveira, Priscila Tamar Alves Nogueira

ESPIRAL CONSTRUTIVISTA: METODOLOGIA ATIVA EM CURSO INICIAL DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE

Autores: Wellington Bruno Araujo Duarte, Roberta Rayssa Magalhães da Silva, Jaslene Carlos da Silva, Juliana Menezes Teixeira de Carvalho, Uêdja Nascimento de Oliveira, Priscila Tamar Alves Nogueira

Apresentação: Sendo um conjunto de ações e serviços de saúde prestado por órgãos e instituições públicas das três esferas governamentais, o SUS baseia-se em princípios organizativos e diretrizes doutrinárias que visam garantir o atendimento universal, igualitário e integral à saúde da população. A nova concepção de saúde trazida com a criação do SUS mudou também a forma com que a APS era vista no Brasil, passando a ser adotada pelo nome Atenção Básica à Saúde. As primeiras iniciativas do Ministério da Saúde dedicadas à alteração na organização da atenção à saúde com ênfase na atenção primária surgiram no momento em que foram estabelecidos o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), em 1991, e o Programa Saúde da Família (PSF), em 1994. Essas estratégias foram inovadoras no Brasil contando com a participação de agentes comunitários de saúde (ACS). A partir dessas experiências, percebeu-se a importância dos Agentes nos serviços básicos de saúde e começou-se a enfocar a família como unidade de ação programática de saúde. Apesar dos trabalhos realizados anteriormente, a categoria profissional de ACS foi reconhecida por lei apenas em 2002. O ACS é um cidadão que trabalha exclusivamente no SUS e emerge das próprias comunidades e se integra às equipes de saúde, sendo capacitado para o trabalho pela instituição executora das políticas públicas de saúde.Já é reconhecida a importância da profissão e definido o perfil de competências desses profissionais. Além disso, para o exercício das atividades de Agente Comunitário de Saúde, um dos critérios obrigatórios é ter concluído, com aproveitamento, curso de introdutório, com carga horária mínima de quarenta horas. Segundo o Art. 2º da Portaria Nº 243/ 2015, são conteúdos obrigatórios ao curso Políticas Públicas de Saúde e Organização do SUS; Legislação específica aos cargos; Formas de comunicação e sua aplicabilidade no trabalho; Técnicas de Entrevista; Competências e atribuições;Ética no Trabalho; Cadastramento e visita domiciliar; Promoção e prevenção em saúde; e Território, mapeamento e dinâmicas da organização social. Para a qualificação desses agentes, é fundamental a implementação da Política Nacional de Educação Permanente, já que esta é parte essencial de um sistema de formação e desenvolvimento dos trabalhadores para a qualificação do SUS, devendo contemplar diferentes metodologias e técnicas inovadoras de ensino-aprendizagem. Com base na articulação de diferentes políticas e normativas que sustentam a operacionalização do SUS, impõe-se a consideração do importante papel dos ACS nas equipes de saúde e o reconhecimento de necessidades específicas de educação permanente desses profissionais. A EPS não é só um processo didático-pedagógico; é um processo político-pedagógico que trata de mudar o cotidiano do trabalho na saúde e de colocar o cotidiano profissional em invenção viva, em equipe e com os usuários. Ela se apoia no conceito de ensino problematizador e de aprendizagem significativa, isto é, ensino-aprendizagem embasado na produção de conhecimentos que respondam a perguntas que pertencem ao universo de experiências e vivências de quem aprende e que gerem novas perguntas sobre o ser e o atuar no mundo. As metodologias ativas, por fazerem parte de um processo de aprendizagem interacionista, possibilitam a construção do conhecimento apartir do conhecimento prévio e da interação entre os sujeitos e objetos de aprendizagem. Estudos revelam que as pessoas elaboram o novo conhecimento e entendimento baseado no que já sabem e no que acreditam. Sabe-se que a aprendizagem significativa é caracterizada pela interação entre o novo conhecimento e o conhecimento prévio, sendo que o novo conhecimento adquire significado para o aprendiz, e o conhecimento prévio deste fica mais enriquecido, ou é ressignificado. O conhecimento prévio é isoladamente a variável que mais influencia a aprendizagem, ou seja, só se aprende a partir daquilo que já se conhece. Objetivo:Relatar a experiência da capacitação de Agentes Comunitários de Saúde para atuação no cuidado em saúde na Estratégia Saúde da Família, visando à formação inicial desses profissionais baseando-se no perfil de competências dos mesmos no município de Jaboatão dos Guararapes-PE. MetodologiaO curso foi dividido em 6 encontros, entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020. Os agentes comunitários de saúde foram divididos em 5 turmas, cada grupo com uma facilitadora. A metodologia ativa utilizada foi a Espiral Construtivista (EC). Diferentemente da Aprendizagem baseada em Problemas e da problematização, a EC utiliza a concepção de problema como sendo uma realidade insatisfatória, ou um desafio que gera inquietude, curiosidade ou desconforto e que pode ser transformada em uma realidade mais favorável. Considerando as diversas formas que as pessoas aprendem foram usadas diversas ações educacionais como Processamento de Situação Problema utilizando a EC; Oficinas de trabalho; Viagem educacional através de filmes e outros dispositivos que mobilizem as emoções e criatividade; Portfólio reflexivo e Reflexão da prática. O processo avaliativo foi realizado a cada ação educacional e por encontro, além da avaliação somativa baseada no Percentual de presença de 90% nas atividades presenciais; Conceito satisfatório nas atividades de dispersão; e Conceito satisfatório no Portfólio. Os conteúdos obrigatórios foram abordados nas açoes educacionais. Resultado: Foram capacitados 84 agentes comunitários de saúde. A medida que o curso acontecia aumentavam os vínculos entre eles e entre eles e os facilitadores, isto foi significativo no processo de ensino aprendizagem. Foram construidos planos de ação baseados nas dificuldades dos agentes comunitários de saúde em seus processos de trabalho, tendo um momento de apresentação e contribuição das áreas técnicas da secretaria municipal de saúde. Os temas dos planos de ação versaram sobre dificuldades para lidar com casos de pessoas com doenças infecto contagiosas, como hanseníase e tuberculose; dificuldade no cuidado a pessoas com transtornos mentais; dificuldade de trabalho em equipe; falta de compreensão sobre o esquema vacinal nos ciclos de vida, entre outras. Ao final do processo, o curso foi considerado de grande importância para a formação dos agentes comunitários de saúde, contribuindo para o cuidado dos usuários na rede. Considerações finaisÉ comprovada a importância das metodologias ativas, em especial a Espiral Construtivista, nos processos de ensino aprendizagem. Essa metodologia contribuiu para a efetividade do curso, a resolução de problemas antes presentes no processo de trabalho, ampliação do conhecimento sobre as competências profissionais e garantiu aumento de vínculos entre os agentes e entre estes e a rede de atenção à saúde e a gestão.

10613 CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS SOBRE ENSINAR A APRENDER A PARTIR DO APOIO MATRICIAL
Thayna Larissa Aguilar dos Santos, Julia Costa Oliveira, Cláudia Maria Filgueiras Penido

CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS SOBRE ENSINAR A APRENDER A PARTIR DO APOIO MATRICIAL

Autores: Thayna Larissa Aguilar dos Santos, Julia Costa Oliveira, Cláudia Maria Filgueiras Penido

Apresentação: O Núcleo de Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) possui como organizador de seu trabalho o apoio matricial. Os profissionais do NASF-AB são apoiadores matriciais, especialistas em determinado núcleo de saber que apoiam as Equipes de Saúde da Família (eSF), referência do cuidado. Tal estratégia matricial é, portanto, formada por diferentes profissionais que buscam trabalhar a fim de alcançar objetivos comuns, operando a partir da lógica de cogestão. Nesse contexto, destaca-se que o apoio matricial pressupõe apoio educativo com e para a eSF, o que pode ser realizado através discussões clínicas e intervenções conjuntas. Tais ações contemplam a dimensão técnico pedagógica do apoio matricial, a partir da qual os apoiadores podem contribuir com o aumento da resolubilidade das eSF, possibilitando uma qualificação para uma atenção ampliada. Dentre as correntes pedagógicas existentes, o apoio matricial possui uma afinidade conceitual com a pedagogia progressista, nova ou construtivista, que entende que o educador, por meio de uma relação horizontal, orienta e direciona o sujeito para o saber. Nesse sentido, o apoio sustentaria o viés ativo da educação. Partindo da compreensão de que existem outras formas de pedagogia e que as práticas matriciais são diversas, este estudo tem como objetivo abordar quais são as concepções e experiências sobre ensinar e aprender a partir do matriciamento, por parte de seus protagonistas, a saber, profissionais da eSF e NASF-AB. Este estudo é um recorte de uma pesquisa mais ampla que estuda o caráter técnico-pedagógico do apoio matricial em Belo Horizonte. Trata-se de uma pesquisa-intervenção participativa. A produção de dados se deu por meio de três grupos de reflexão inspirados em grupos focais, com profissionais da Atenção Primária à Saúde de dois distritos sanitários de Belo Horizonte (MG). Participaram da pesquisa: médicos e enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde (eSF); profissionais de diversas categorias profissionais do NASF-AB. A análise dos dados aconteceu por meio da análise temática. Além disso, as análises foram ampliadas através de discussões com um coletivo ampliado de pesquisadores, composto por membros da universidade e da rede municipal de saúde. Profissionais da eSF alegaram, inicialmente, que não há “ganho de aprendizado” no matriciamento, pois nas reuniões só se “passa” caso e recebe orientação, não havendo ensino e aprendizagem. Porém, ao longo do grupo, tais profissionais reconheceram a existência de aprendizado, sobretudo depois de perguntados se haviam mudado suas práticas a partir do matriciamento, o que foi confirmado. Acerca de haver habilidade pedagógica específica para se ensinar, profissionais da eSF indicaram ser mais relevante haver boa vontade ou saber trabalhar em equipe. Um médico considerou que o processo de aprendizagem dos adultos é diferente, no sentido de se aprender a partir da discussão pontual de problemas frequentes. Esse ponto de vista condiz com uma metodologia ativa em educação chamada de problematização, que se desenvolveu a partir da educação popular freiriana. Alguns profissionais consideraram que há diferentes maneiras de “passar” o conhecimento. Essa perspectiva não condiz com a proposta do apoio, pois esse termo é mais voltado para uma educação bancária. Indicaram haver práticas mais voltadas para uma transmissão do saber, relacionadas a princípios tradicionais de aquisição de conhecimento ou práticas de modo dialógico. A princípio, os profissionais que pontuaram que o ensino no matriciamento acontece raramente, associaram esse processo à discussão de algum tema sob responsabilidade de algum profissional. Alguns profissionais defenderam que a dimensão técnico-pedagógica do apoio deveria acontecer em espaços de encontro já existentes entre as equipes, sendo necessário aproveitá-los melhor. Relatam que tentativas de promover educação permanente fora da reunião de matriciamento são geralmente impossibilitadas por não haver tempo previsto para isso nas agendas. Apesar dos profissionais buscarem um momento pré-estabelecido para a realização das ações consideradas por eles como técnico-pedagógicas, foi relatado que a aproximação entre eSF e apoiadores permite que eles tirem suas dúvidas fora da reunião de matriciamento, assim, o "apoio técnico-pedagógico" acontece em outros espaços.  À alegada restrição de tempo para o exercício da dimensão técnico-pedagógica do apoio se associa uma compreensão mais “formal” da situação de ensino e aprendizagem, tal como uma aula sobre um tema específico. Há, portanto, uma dificuldade em se assumir as situações de aprendizado diluídas no cotidiano, como sendo atividades técnico-pedagógicas. Isso indica um entendimento de que as ações educativas são cursos, treinamentos ou capacitações. Nesse escopo, os profissionais consideram que o NASF-AB não tem base técnica de pedagogia, mas consegue fazer uma educação informal. Os apoiadores pontuaram que o matriciamento proporciona aprendizado e ampliação da visão sobre o usuário quando os profissionais do NASF-AB conversam entre si e têm a oportunidade de conhecer mais sobre a área um do outro. Os processos de trabalho parecidos e a afinidade entre profissionais do NASF fazem com que seja mais fácil os apoiadores planejarem atividades entre si do que com a eSF. Ressalta-se que, corroborando a literatura recente, o apoio matricial atua em uma lógica multidirecional, ou seja, o apoio pedagógico se dá do NASF-AB para as eSF e o contrário, sendo um processo dialógico, que como tal não se constitui em via de mão única. Nesse contexto, amplia-se as possibilidades do apoio matricial se sustentar como dispositivo produtor de saberes construídos de forma coletiva e a partir do caso em questão, para além dos saberes especialísticos instituídos. O processo de ensino e aprendizagem pode ser considerado um elemento analisador do apoio matricial, pois traz à tona diversas questões que atravessam as práticas de trabalho dos profissionais. A dificuldade apresentada por parte dos profissionais da eSF e NASF-AB, de se colocarem no lugar de quem aprende, pode afetar o cuidado integral à saúde do usuário, pois não é possível que apenas uma categoria profissional tenha o conhecimento relativo a todas as demandas em saúde. Ainda que os profissionais não reconheçam a dimensão técnico-pedagógica do apoio nas relações dialógicas informais de construção de conhecimentos o desconhecimento dessa dimensão não impede que ela se dê, mesmo nos corredores. Nessas situações, a dimensão técnico-pedagógica do apoio se sustenta menos na reprodução dos elementos instituídos pela política ou pelas portarias, e mais nas necessidades surgidas “a quente” no cotidiano do cuidado, a partir do ineditismo dos casos. Incorporar essa potência instituinte do apoio em favor do alargamento das possibilidades pedagógicas para ampliação da clínica de uns e de outros talvez se constitua em um de seus maiores desafios.

10685 A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO NÚCLEO DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF) EM UM MUNICÍPIO RIBEIRINHO: EXPERIÊNCIA VIVENCIADA POR ACADÊMICOS
Isabela Pantoja da Cruz, Vanessa Khrisllen Pinheiro Ferreira, Natália Cristina Silva Siqueira, Paula Regina Barbosa de Almeida, Simone Gomes da Silva, Joyce Regina Pereira, Neuza Gabriella Valle Medeiros, Elisângela da Silva Ferreira

A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO NÚCLEO DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF) EM UM MUNICÍPIO RIBEIRINHO: EXPERIÊNCIA VIVENCIADA POR ACADÊMICOS

Autores: Isabela Pantoja da Cruz, Vanessa Khrisllen Pinheiro Ferreira, Natália Cristina Silva Siqueira, Paula Regina Barbosa de Almeida, Simone Gomes da Silva, Joyce Regina Pereira, Neuza Gabriella Valle Medeiros, Elisângela da Silva Ferreira

Apresentação: Segundo a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) de 2017, a Atenção Básica é a porta preferencial de entrada para a Rede de Atenção à Saúde, suas ações visam integrar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) de universalidade, integralidade e equidade, englobando um conjunto de intervenções tanto individuais quanto coletivas que envolvem, sobretudo, promoção e prevenção em saúde. Dessa forma, a equipe multi e interdisciplinar é de suma importância para a concretização dessas ações. A criação das residências multiprofissionais de saúde da família possibilitou fortalecimento dessa concepção de desenvolvimento do trabalho em equipe de maneira interdisciplinar, fato tão relevante para atuação em saúde primária que foi destacado no PNAB, por meio de criação do NASF. Dessa forma, objetiva-se descrever com base na vivência acadêmica a importância do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em um município ribeirinho no estado do Pará. Desenvolvimento: Trata-se aqui de um estudo descritivo, observacional do tipo relato de experiência realizado por meio de uma vivência no Programa de Capacitação em Atenção à Saúde da Criança, da Universidade Federal do Pará (UFPA), nomeado de Multicampi Saúde, no município de Abaetetuba, estado do Pará. O projeto é ofertado para dez cursos de graduação em saúde da universidade: Biomedicina, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional, com o objetivo de estimular a interdisciplinaridade entre os graduandos, com foco em Atenção Integral à Saúde da Criança. A unidade básica de saúde designada aos estudantes atende, prioritariamente, os habitantes das ilhas ao redor de um município do estado do Pará. Na unidade em questão os atendimentos ocorrem de segunda à sexta e apresentam diversos programas de saúde, como Planejamento Familiar, Saúde da Criança, Saúde da Mulher, PCCU e outros. Atuam 4 equipes, sendo lideradas por enfermeiros e compostas por aproximadamente 6 Agentes Comunitários de Saúde em cada uma. No entanto, é no Núcleo de Apoio de Saúde da Família (NASF), que se concentra maior diversidade de composição de equipe. Tal núcleo tem como objetivo apoiar a inserção da Estratégia de Saúde da Família na rede de serviços, tendo como foco o território sob sua responsabilidade, priorizando o atendimento compartilhado e multidisciplinar, com troca de saberes, capacitação e responsabilidades mútuas, gerando experiências para todos os profissionais envolvidos, mediante amplas metodologias, tais como estudo e discussão de casos e situações, projetos terapêuticos, orientações e atendimentos conjuntos. O município conta com duas equipes de NASF, uma para a população urbana do município e outra para a população adscrita da zona rural, aqui abordaremos a equipe que atende a população urbana, contudo, ainda sim ribeirinha, devido à geografia da cidade. Há nessa equipe de NASF uma assistente social, uma psicóloga, uma nutricionista, um educador físico e uma fisioterapeuta. Dessa forma, é de suma importância, expor de que forma se dá o trabalho desses profissionais. Inicialmente, ter o serviço nesse núcleo de Atenção Básica é demasiado significante, pois a assistente social desenvolve escuta e acolhida dos usuários, fortalece a autonomia do usuário, apoia esses na construção e ressignificação de seu projeto de vida, cria espaços grupais de troca de experiência e rede de apoio, desenvolve ações integradas com os profissionais da equipe e demais políticas públicas e constrói a participação e a organização de trabalho comunitário, bem como incentiva a participação e a mobilização social; a psicóloga, além dos atendimentos, atua na orientação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) quanto ao processo de escuta sensível, identificação de pacientes com necessidades psicológicas e o grau de urgência de atendimento de cada paciente, além do manejo de grupos de apoio e terapêuticos, vale ressaltar que os ACS são fundamentais no enfrentamento e identificação do sofrimento mental, haja vista que estão mais próximos da população; o profissional da nutrição tem o objetivo de promover aos usuários práticas alimentares saudáveis, busca combater distúrbios nutricionais, bem como obesidade, desnutrição, doenças e agravos transmissíveis e deve estimular o consumo de alimentos saudáveis e regionais, além de orientar e promover nas Estratégias de Saúde da Família (ESF) ações sobre aspectos alimentares, nutricionais, aleitamento materno exclusivo, e alimentação complementar, bem como atividades de educação permanente para as ESF’s. Quanto ao fisioterapeuta atuante no NASF, esse promove na unidade programas coletivos de ações terapêuticas preventivas à instalação de processos que levam à incapacidade funcional, à patologias músculo esqueléticas, com o objetivo de minimizar aquelas já instaladas, realiza abordagem familiar e institucional no que diz respeito a postura de crianças e adolescentes, desenvolve atividades voltadas para adultos e idosos, visando a prevenção e reabilitação de complicações decorrentes de patologias e realiza também atendimentos domiciliares para pacientes com doenças crônicas e/ou impossibilitados de se locomover, fazendo o encaminhamento a serviços de maior complexidade, quando necessário. Por fim, o trabalho do educador físico do NASF dentro da unidade Básica de Saúde é também de suma importância, pois é esse profissional que proporciona práticas e atividades de caráter educacional, voltadas à promoção da saúde bem como prevenção de doenças crônicas, para os usuários que precisam desse atendimento também facilita o tratamento e o controle de doenças cujo fatores estão relacionados ao sedentarismo, fortalecimento muscular e aceleração do metabolismo. Resultado: Observou-se que há inúmeras demandas para a equipe multiprofissional do NASF na Unidade de Saúde citada. O NASF constitui-se como apoio essencial às Equipes de Saúde da Família, atuando em situações cada vez mais comuns e graves na Atenção Básica. Nesse sentido, podemos citar algumas situações observadas na prática, por exemplo, cabe ressaltar a importância do fisioterapeuta na reabilitação de pacientes após Acidente Vascular Encefálico ou após danos graves ocasionados por Hanseníase, além disso, o serviço social é imprescindível para condução de situações de vulnerabilidade, esclarecendo sobre formas de obtenção de auxílio de instituições governamentais ou não e apoio financeiro em caso de baixa renda mensal disponível para gastos básicos de sobrevivência, ou ainda ofertando apoio para resolução de casos de exploração de menores ou de abuso sexual; o psicólogo torna-se cada vez mais necessário frente aos crescente números de transtornos mentais, sobretudo, ansiedade e depressão e o nutricionista e o educador físico são fundamentais na reorientação de estilo de vida frente ao aumento de casos de síndrome metabólica, principal comorbidade associada a alto risco cardiovascular, maior causa de morte do Brasil. Sendo assim, o atendimento multiprofissional é essencial para a resolução e prevenção de patologias frequentes na população e sua atuação na atenção primária desobstrui o já congestionado nível de atenção secundária. Considerações finais: Portanto, a inserção de uma equipe multidisciplinar na Atenção Básica é essencial, pois os profissionais que a compõem tornam mais completa a atenção ao paciente e o atendimento mais resolutivo, sanando assim, as demandas locais. Dessa maneira, a atuação do NASF fortalece o Sistema Único de Saúde, garantindo os direitos da população, contribuindo para a efetivação da sua integralidade. Salientamos a necessidade de mais estudos na área para geração de melhores evidências sobre o impacto do trabalho da equipe do NASF sobre os indicadores de saúde na região, bem como desenvolvimento e aplicação de políticas públicas voltadas às especificidades do território e da população atendida. Concluímos que o desenvolvimento e suporte à Atenção Primária é essencial ao ordenamento dos fluxos e resolução das demandas dos usuários do SUS.

11811 ROTEIRO DE APOIO E FACILITAÇÃO PARA CRIAÇÃO DE PROCESSOS FORMATIVOS EM SAÚDE MENTAL PARA PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO BÁSICA
Nina Soalheiro, Karina Caetano, Raquel Tavares de Lima, Amanda Linhares Gonçalves

ROTEIRO DE APOIO E FACILITAÇÃO PARA CRIAÇÃO DE PROCESSOS FORMATIVOS EM SAÚDE MENTAL PARA PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO BÁSICA

Autores: Nina Soalheiro, Karina Caetano, Raquel Tavares de Lima, Amanda Linhares Gonçalves

 Apresentação: Realizada na Escola Politécnica Joaquim Venâncio, Fiocruz, a pesquisa “Desafios para a saúde mental na atenção básica: construindo estratégias colaborativas, redes de cuidado e abordagens psicossociais na ESF (RJ)”, apresenta como um de seus resultados o Roteiro de Apoio e Facilitação para Criação de Processos Formativos em Saúde Mental para Profissionais da Atenção Básica. A pesquisa se desenvolve a partir do diálogo e defesa da função estratégica da Atenção Básica e dos processos formativos realizados com e para profissionais de saúde. O Roteiro de Apoio sintetiza as proposições oriundas de anos de estudo deste grupo de pesquisa sobre a Saúde Mental na Atenção Básica e todo seu conteúdo foi elencado e debatido em sucessivos encontros ao longo do ano de 2019 usando a metodologia ágil Sprint. Os cursos de Saúde Mental disponíveis para trabalhadores da Atenção Básica possuem em geral um direcionamento evidente para a visão biomédica, com ênfase em classificações psiquiátricas e na consequente supervalorização dos diagnósticos e fármacos, o que reflete em uma noção já posta de que a saúde mental é naturalmente medicalizante e institucionalizante. Na nossa visão de processo formativo, pretendemos sistematizar e incluir os conteúdos de natureza psicossocial, valorizando conceitos e práticas originários de diferentes campos de saber, para reforçar uma visão interdisciplinar da Saúde Mental. Objetivo: Preencher uma lacuna gerada pela insuficiência de investimento na formação em Saúde Mental para os profissionais da Rede Básica. Tendo em vista as condições políticas adversas, constatamos nestes profissionais uma demanda importante de formação para qualificar seu repertório de ações e práticas de cuidado ao sofrimento psíquico das mais diversas origens. Propomos sistematizar conceitos, estratégias e ferramentas facilitadoras em um roteiro de apoio, defendendo uma concepção de saúde mental que promova autonomia e acolhimento, sem institucionalização. Queremos, sobretudo, que os profissionais possam refletir criticamente acerca de suas práticas, reconhecer nelas potenciais metodologias de trabalho em Saúde Mental e expandir as possibilidades de cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica, identificando e mobilizando recursos do território. Método: A equipe inicialmente fez uma busca nos currículos de cursos virtuais ou presenciais em Saúde Mental para a Atenção Básica em instituições de ensino de âmbito nacional. Investigamos os processos formativos direcionados para a rede pública de saúde e saúde mental e percebemos que eram deficientes em conteúdos pertinentes ao campo da Atenção Psicossocial. Foram analisados vinte e um cursos encontrados nos mais diversos tipos de instituições privadas e públicas para diferentes graus de escolarização. Os achados da pesquisa apontaram para uma limitação que tornou relevante nosso esforço de construção de um piloto de processo formativo compatível com uma visão mais interdisciplinar da saúde mental. Munidos de leituras e preparações nos reunimos por três dias inteiros – com muita alegria, disposição e vontade de trabalhar; sem celulares, internet, nem distrações da vida – para se debruçar sobre a primeira sistematização do que então nomeamos de um protótipo curricular de processo formativo utilizando uma adaptação da metodologia Sprint. Nesse primeiro Sprint realizado em maio de 2019, nos dedicamos a montar uma primeira versão do documento base, do que viria a ser um documento orientador para criação e programação de práticas educacionais (cursos, módulos, disciplinas, palestras, projetos etc.) voltados para profissionais da Atenção Básica, no qual se queira trabalhar a saúde mental na perspectiva das abordagens psicossociais e da desinstitucionalização. Neste primeiro encontro sistematizamos os princípios norteadores, eixos estruturantes e algumas propostas de atividades e temáticas. No segundo Sprint, em novembro de 2019, nosso objetivo foi melhorar e fechar este primeiro documento, para que ele pudesse ser concluído e disseminado a nível nacional, contribuindo para educadores, gestores e trabalhadores construírem atividades pedagógicas nesse tema. Foram 3 dias de trabalho intensivos, organizados segundo a metodologia Sprint. No primeiro dia de trabalho, revisamos as tarefas às quais nos dedicamos nos últimos meses, fazer pequenas experiências e testes com o protótipo ainda inacabado, tal como ele se encontrava, e debater as demandas e contribuições que serão o foco do segundo dia. No segundo dia, contando com uma equipe maior e acrescida de convidados, o objetivo foi realizar dinâmicas de design thinking para “preencher” as lacunas do documento, validá-lo como documento pedagógico e incrementá-lo com ideias e propostas novas. Os profissionais e pesquisadores convidados leram o documento, ainda inacabado e deram sugestões e feedbacks. No terceiro dia, nossa equipe de pesquisadores se dedicou à síntese e redação do documento final, produto do projeto que vai ser entregue no final de março. Resultado: Ao longo dos últimos dez anos nos dedicamos a discutir a potencialidade das abordagens psicossociais para a desinstitucionalização do cuidado em saúde mental. Diversas pesquisas nas quais nos envolvemos mostraram que um elemento chave deste processo está na esfera de atenção básica, nível do sistema de saúde em que equipes multiprofissionais se veem diante de muitos tipos de desafios no seu dia a dia de trabalho. A atenção à saúde mental na Atenção Básica é um dos desafios que mais causam sofrimento, dúvidas e incertezas a estes trabalhadores: como lidar com o sofrimento psíquico das pessoas que chegam até eles nas unidades básicas de saúde? Por meio do Roteiro de Apoio e Facilitação para Criação de Processos Formativos em Saúde Mental para Profissionais da Atenção Básica queremos estimular a reflexão sobre suas histórias de vida, sobre aquilo que os profissionais produzem, sobre as possibilidades de ressignificar suas práticas. Temos consciência que os saberes psis não esgotam as possibilidades de abordagens da subjetividade e todas as questões que envolvem o processo de adoecimento e cuidado. Por isso este Roteiro busca ir além do campo psi para falar diretamente aos profissionais das equipes de atenção básica. Esses trabalhadores lidam com uma variedade de casos e desafios que aparecem no cotidiano da atenção. Como pesquisadores, sempre ouvimos desses profissionais que eles não se sentiam preparados o suficiente para atender a essa demanda e que, por não terem uma formação especializada na área psi, se sentiam inseguros e carentes de recursos para esse cuidado. Diante disso, começamos a projetar uma forma de dar visibilidade às potencialidades do trabalho que eles já fazem no seu cotidiano, e ajudá-los a lidar com os casos de saúde mental que lhes chegam, superando a lógica do encaminhamento, medicalização e institucionalização. Pensamos as pessoas e os territórios como centrais no processo de trabalho do profissional da Atenção Básica. Consideramos a relevância do trabalho de equipes multiprofissionais e dos saberes trans/interdisciplinares, além da articulação inovadora e lúdica dos conteúdos programáticos, colocando os profissionais como atores essenciais da (des) construção do conhecimento. Pensamos também na importância de resistir à lógica produtivista dos serviços de saúde e de dar visibilidade às práticas inovadoras já existentes que são facilitadas por trabalhadores do SUS. O Roteiro de Apoio, a ser divulgado em um site para trabalhadores do SUS, se desenvolveu pautando a desconstrução e transformação de estereótipos e preconceitos sobre imaginários diversos, dos processos de saúde e de doença, da loucura e do uso social do diagnóstico, das especialidades psi, da autonomia das pessoas em sofrimento psíquico, da desinstitucionalização, além da história social do território e da contextualização das violências.