288: A preceptoria na formação em saúde: experiências do cotidiano
Ativador: REGINA LUCIA NAPOLITANO FELÍCIO FELIX BATISTA
Data: 29/10/2020    Local: Sala 15 - Távolas de trabalhos    Horário: 10:30 - 12:30
ID Título do Trabalho/Autores
6518 O EXERCÍCIO DA PRECEPTORIA NA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE: VIVÊNCIAS NO USO DAS METODOLOGIAS ATIVAS
Fábio Batista Miranda, Adriane das Neves Silva, Patrick Leonardo Nogueira da Silva, Ana Patrícia Fonseca Coelho Galvão, Albert Lengruber de Azevedo, Francisca da Silva Garcia, Sônia Maria Alves da Silva, Antônia Evilânnia Cavalcante Maciel

O EXERCÍCIO DA PRECEPTORIA NA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE: VIVÊNCIAS NO USO DAS METODOLOGIAS ATIVAS

Autores: Fábio Batista Miranda, Adriane das Neves Silva, Patrick Leonardo Nogueira da Silva, Ana Patrícia Fonseca Coelho Galvão, Albert Lengruber de Azevedo, Francisca da Silva Garcia, Sônia Maria Alves da Silva, Antônia Evilânnia Cavalcante Maciel

Apresentação: O tema abordado nasce a partir das profundas mudanças na educação superior para acompanhar as correntes de pensamento que norteiam a formação do profissional e do docente. Assim, novas tendências pedagógicas apontam a necessidade da formação de um profissional crítico-reflexivo-propositivo, capaz de transformar sua realidade social a partir do uso de metodologias ativas. Objetivo: analisar a atuação da preceptoria desenvolvida no âmbito do sistema municipal de saúde na cidade de Manaus, Amazonas. Desenvolvimento da experiência: A inquietação recai da necessidade de compreender melhor o que significava ser preceptor, e a noção sobre metodologia ativa. O passo seguinte seria contribuir para o seu devido exercício. Trata-se de estudo com abordagem qualitativa que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções (Minayo, 2014). A coleta de dados ocorreu no mês de setembro 2019 nas dependências das Unidades Básicas de Saúde da Família com a aplicação da Entrevista semiestruturada dividida em três momentos: a) perfil do preceptor, b) significados atribuídos ao processo de trabalho na preceptoria e c) entraves/e ou desafios na função exercida. O universo contou com a participação de n (6) preceptores da Escola de Saúde Pública de Manaus (ESAP). No total, foram realizadas seis entrevistas, com uma duração média de 50 minutos após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os sete sujeitos foram identificados como PRECEPT1, PRECEPT2, PRECEPT3, até PRECEPT6, seguindo a ordem de realização das entrevistas.  Para interpretação dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo temática de Bardin. Resultado: Após a leitura flutuante e em profundidade das entrevistas realizadas, elas foram categorizadas em duas grandes áreas: perfil do preceptor e processo de trabalho, construídas através dos relatos dos preceptores e comparadas às leituras pertinentes ao assunto, abordado com o intuito de alcançar o objetivo proposto pelo estudo.  O grupo de respondentes era formado por profissionais com faixa etária entre 30 e 42 anos, com distribuição desequilibrada entre os sexos. Dos 6 participantes, 2 possuíam mestrado acadêmico e 1 mestrado profissional. O restante do grupo eram especialistas:  1 na área de saúde da família, 1 na área da obstetrícia, 1 na saúde mental e enfermagem do trabalho. Quanto ao tempo de formação, a maioria dos participantes concluiu a graduação em até 10 anos. A maioria dos participantes da pesquisa tinham no máximo 8 anos de experiência na atividade de preceptoria. No que concerne sobre o processo de trabalho, os entrevistados referiram à falta de espaço físico/estrutura física para realizar as atividades nos cenários de prática como segue os depoimentos: (...) estava tão acostumado em levar os meus alunos para um grande hospital, e hoje estou aqui nessa casinha pequena (Preceptor 2). Outros depoentes revelam a dificuldade de pôr em prática o plano de progressão para o especializando, devido à escassez estrutural do local (...) eu não consigo me mexer aqui dentro, meus especializados ficaram espantados com a falta de espaço para acolher a demanda do território (Preceptor 1,4,5). Outro discurso emergiu sobre a prática entre o ensino em serviço e a necessidade da implementação da metodologia de ensino ativa no cenário: tenho tido muita ideia boa para implantar aqui, pois venho de outra lugar que trabalhava com metodologia ativa, sinto a necessidade de agir com os meus alunos aqui, entendo por permitir a troca de conhecimento, pois para eles, essa inserção possibilita o educando ser o ator principal da sua formação (Preceptor 3). Isso vai de encontro no estudo com o olhar dos preceptores na formação de cirurgiões-dentistas no Sistema Único de Saúde, ao acreditar que o estudante potencializa as ações da unidade de saúde da família, dos profissionais pela diversificação de práticas. No entanto, outro relato manifestou a necessidade de encontros de educação permanente para o aprimoramento e qualificação das ações em serviço, visto que, para alguns, esse contato com a metodologia é algo novo na sua trajetória profissional (...) eu necessito estudar sobre metodologia ativa, nunca trabalhei com essa abordagem (Preceptor 6). Considerações finais:  Os relatos aqui descritos devem servir como base para reflexão  das equipes preceptoras na atenção primária saúde, a fim de possibilitar um espaço de troca potencializador na formação pedagógica de novos profissionais ao utilizarem a metodologia ativa a partir da integração ensino - serviço - comunidade.

9320 PRECEPTORIA ATIVA: A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO EXTRACURRICULAR NA FORMAÇÃO DO EU PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM
Maíza Silva de Sousa, Alda Maria Lagoia Valente, José Henrique Santos Silva, Luciana Duarte Rodrigues Nascimento, Poliana dos Santos Alves, Fernanda Lima de Almeida, Armando Sequeira Penela

PRECEPTORIA ATIVA: A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO EXTRACURRICULAR NA FORMAÇÃO DO EU PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM

Autores: Maíza Silva de Sousa, Alda Maria Lagoia Valente, José Henrique Santos Silva, Luciana Duarte Rodrigues Nascimento, Poliana dos Santos Alves, Fernanda Lima de Almeida, Armando Sequeira Penela

Apresentação: Durante a graduação os acadêmicos de enfermagem são apresentados a uma série de disciplinas que se complementam, visando uma formação holística e humanizada. Entretanto, geralmente é feita uma abordagem teórica que por vezes se distancia da realidade vivenciada na prática. Em decorrência disso, quando o acadêmico chega no estágio sente-se inseguro e com medo de realizar algumas das atividades propostas. Um exemplo é a punção venosa periférica, algo rotineiro dentro de uma unidade de saúde, no entanto, treinar na universidade entre os seus colegas de classe não é a mesma coisa que realizar o procedimento em um paciente debilitado, com várias comorbidades e redes venosas de difícil acesso. Além disso, há fragilidades no desenvolvimento do cuidado como um todo, desde a admissão do paciente até sua alta, pois tal execução requer segurança e prática, algo que o acadêmico geralmente não tem. Nesse momento, ter ao lado a figura do preceptor como alguém experiente, seguro e motivador faz toda a diferença. Ainda assim, apenas os estágios da universidade são insuficientes para desenvolver as competências e habilidades que o futuro enfermeiro necessita. Dentro desse contexto, os estágios extracurriculares compreendem uma estratégia e ferramenta de suma importância para a formação de um eu-profissional seguro, crítico-reflexivo, responsável e com competências e habilidades necessárias para o desenvolvimento de uma assistência de qualidade e humanizada. Assim, o objetivo desse estudo é relatar a experiência de uma acadêmica de enfermagem sobre o estágio extracurricular voluntário realizado em uma clínica de referência em tratamento oncológico e a importância do preceptor ativo na formação do eu-profissional, como membro da equipe multiprofissional. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência vivenciado no estágio de uma clínica oncológica em Belém do Pará, iniciado em dezembro de 2019, com carga horária semanal de 12 horas (sendo 8 horas dedicadas ao ensino prático e 4 horas ao desenvolvimento de pesquisa científica). O estágio busca aliar, prática junto ao ensino, a pesquisa e a extensão de forma integrada e inovadora. Inicialmente nos foi apresentado o relatório parcial e final dos estagiários (turma 2019) a fim de nos familiarizar com as atividades desenvolvidas. Em seguida, nós da turma 2020 tivemos a primeira semana de estágio no ambulatório, que consistiu na observação da rotina, de alguns procedimentos e o contato com o sistema de registro dos pacientes. Na segunda semana já foi possível realizar visitas diárias com os pacientes, investigando o estado geral de saúde e as possíveis reações à quimioterapia, como hipersensibilidade, algo que precisa ser monitorado constantemente; realizou-se preparação de suporte (solução fisiológica 0,9% + vitamina B + vitamina C), punção venosa periférica, curativo de cateter central de inserção periférica (PICC), e a tentativa de punção de Port-a-cath (cateter totalmente implantado). Na terceira semana, a punção de Port-a-cath saiu da tentativa para a execução exitosa. O PICC e Port-a-cath são cateteres de longa permanência que podem ser utilizados na administração de dietas parenterais, medicamentos e outras soluções, sendo extremamente importantes no tratamento de pacientes oncológicos, uma vez que ajudam a preservar as redes venosas periféricas da ação irritante dos quimioterápicos antineoplásicos. Todas as atividades foram realizadas sob supervisão e intervenção (quando necessária) dos preceptores. Vale ressaltar que o enfermeiro oncológico é responsável por todas as atividades de enfermagem no que tange ao tratamento com quimioterápicos antineoplásicos, bem como o manejo dos seus efeitos colaterais. Assim, o estágio tem proporcionado muito aprendizado e espero conhecer ainda mais sobre os protocolos de quimioterapia, o manejo de suas possíveis reações e construir um eu-profissional crítico-reflexivo, responsável com o cuidado dispensado aos pacientes. Resultado: O estágio realizado se diferencia dos demais pelo fato do estagiário ser realmente notado como um profissional em formação que necessita de subsídios para adequar os conhecimentos teóricos à realidade vivenciada na prática de forma crítica-reflexiva. E uma peça chave desse cenário é a participação ativa dos preceptores que se comprometem com a formação dos estagiários. Assim, desde o início do estágio os preceptores nos repassaram a rotina do local, as atividades desenvolvidas, desde os processos gerenciais (do registro de pacientes, relatório diário) até os procedimentos práticos realizados. Na segunda semana a preceptora já nos ensinou a realizar a visita diária, destacando a importância de investigarmos a presença de sinais e sintomas como alopécia, inapetência, diarréia, obstipação e insônia associados ao tratamento, visto que são efeitos colaterais comuns no perfil de pacientes atendidos no ambulatório, sendo de extrema relevância o registro dessas informações. Quanto a realização de procedimentos, ela explicou detalhadamente quais os materiais necessários, bem como a finalidade de cada um, quando desconhecidos. Em seguida, explicou o passo a passo dos mesmos, o que nos repassou muita segurança, autocontrole e confiança, nos permitindo realizar os procedimentos satisfatoriamente. Um deles me chamou bastante a atenção para a importância do papel do preceptor ativo na construção de um eu-profissional qualificado e responsável – a tentativa de puncionar um Port-a-cath. O fato de não ter conseguido realizar a punção na primeira tentativa me deixou frustrada e sem vontade de realizá-la novamente. Porém, os preceptores me instigaram a treinar o procedimento em uma peça anatômica, o que fiz no restante da manhã. No dia seguinte, ao chegar no estágio a preceptora informou que tinha várias punções para realizar e perguntou se eu queria tentar. Respondi que não sabia e ela insistiu que eu precisava tentar, pois só assim poderia aprender. Um outro preceptor me acompanhou e eu consgui realizar o procedimento com sucesso. Isso me deixou muito feliz e mudou totalmente minha perspectiva anterior quanto a realização do procedimento. Agora consigo realizar esse e outros com segurança, destreza e autocontrole e destaco a importância desses preceptores na minha formação. Além das atividades desenvolvidas no ambulatório, o estágio conta com a atividade de pesquisa e esse método de aliar o ensino-serviço à pesquisa (teoria) é extremamente importante, porque temos a oportunidade de fazer o processo inverso do que é realizado na universidade. E isso ajuda a consolidar e inovar o conhecimento, pois nem sempre observamos na teoria o que encontramos na prática, o que gera um confronto de ideias e permite criar o novo. No que se refere a extensão, o estágio desenvolve atividades em datas alusivas ao câncer, destacando-se medidas de prevenção, controle e combate à doença. Considerações finais: A experiência vivenciada no estágio vai de encontro a alguns estudos da literatura, como o de Souza et al. (2017) que colocam o preceptor num papel passivo e as vezes até omisso quanto a formação dos seus educandos. Tal fato despertou o interesse de relatar essa experiência para mostrar o quão importante é o preceptor ativo na vida de um estagiário e como ele pode fazer a diferença na sua formação. Além disso, a estratégia utilizada de integrar ensino-serviço e pesquisa, nessa ordem, modifica a perspectiva do estagiário, despertando seu interesse em se aprofundar no que é encontrado na prática, tornando-o mais experiente, seguro, autoconfiante e inovador nas atividades que desenvolve. Referência: SOUZA, D.J.; FARIA, M. F.; CARDOSO, R.J.; CONTIM, D. Estágio curricular supervisionado sob a ótica dos enfermeiros supervisores. Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde; v. 6, n. 1, pp. 39-51, 2017.

10314 UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE: ESPAÇO PRIVILEGIADO DE OBSERVAÇÃO PARA CONTRIBUIR NA FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL DE PRECEPTORIA
Joceli Duarte Fiamoncini, Allyson Mikael Alves, Gabryel Cordeiro de Lima, Jéssica Sá Furtado, Jéssica Soares Miranda, Leiliane Morais de Carvalho, Luiza de Marilac Meireles Barbosa, Clélia Maria de Sousa Ferreira Parreira

UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE: ESPAÇO PRIVILEGIADO DE OBSERVAÇÃO PARA CONTRIBUIR NA FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL DE PRECEPTORIA

Autores: Joceli Duarte Fiamoncini, Allyson Mikael Alves, Gabryel Cordeiro de Lima, Jéssica Sá Furtado, Jéssica Soares Miranda, Leiliane Morais de Carvalho, Luiza de Marilac Meireles Barbosa, Clélia Maria de Sousa Ferreira Parreira

Apresentação: Está consagrado o entendimento de que a educação interprofissional consiste na circunstância em que os profissionais e estudantes interagem entre si, valorizam as outras profissões, aprendem sobre as dinâmicas de trabalho das diferentes áreas e reconhecem a interdependência entre os membros da equipe, fornecendo subsídios teóricos e metodológicos para proporcionar a formação de profissionais mais colaborativos e preparados para o efetivo trabalho em equipe. Em 2019, no Distrito Federal (DF), foi iniciado o Projeto PET/Interpfosissionalidade em Saúde: Produzindo Saberes e Saúde em Ceilândia/Distrito Federal, aprovado em Edital específico do Ministério da Saúde e cuja submissão exigiu a concordância e sua proposição formal feita pela Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília (FCE/UnB), Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS/FEPECS) e Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). O referido projeto propõe-se a promover a qualificação dos processos de integração ensino-serviço-comunidade por meio dos princípios da interprofissionalidade, interdisciplinaridade e intersetorialidade de modo a impulsionar a educação interprofissional e as práticas colaborativas em saúde voltadas para a atenção primária e de forma articulada com a Estratégia Saúde da Família. O PET-Interprofissionalidade é constituído de quatro grupos tutoriais, dentre os quais o de número 1 intitula-se “A formação interprofissional de preceptores em saúde: o serviço como lócus privilegiado para o ensino e a aprendizagem em práticas colaborativas”. Um dos produtos esperado desse grupo consiste na oferta e na realização do Curso de Especialização em Preceptoria. O curso pretende suprir as necessidades de desenvolvimento da didática, do trabalho em equipe e da educação interprofissional para o papel do preceptor. O grupo 1 é composto por uma coordenadora da FCE, uma tutora da FCE, cinco preceptoras da SES e doze estudantes de seis cursos de graduação (enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, terapia ocupacional e saúde coletiva), oriundos da FCE e ESCS. Este relato de experiência descreve as vivências de campo dos estudantes do grupo tutorial 1, junto às preceptoras do projeto, nos cenários de ensino que contam com preceptoria de estágio em graduação em unidades básicas de saúde da cidade satélite de Ceilândia no DF. Assim para atender a finalidade do grupo 1 que é de formar especialistas em preceptoria em saúde, os objetivos principais das vivências dos discentes foram observar as práticas colaborativas nos serviços de saúde e levantar possíveis necessidades de aprendizagem  para instrumentalizar os profissionais no exercício da preceptoria. De posse de um roteiro, em campo, buscou-se observar: 1) as práticas colaborativas promotoras de ambiente favorável à aprendizagem; 2) as relações entre preceptores e estudantes, buscando identificar as limitações, as fragilidades e os facilitadores dessas relações; 3) as atividades realizadas na preceptoria; 4) as manifestações dos alunos e dos preceptores, quando da abordagem sobre o aprendizado e ensino na preceptoria. Os pontos tocados estavam relacionadas ao trabalho em equipe, ao ato da preceptoria, formatos e estratégias de aprendizagem utilizadas pelos preceptores, barreiras ou facilitadores ao ensino e aprendizado, interesse em curso de formação de preceptores e a satisfação em relação às habilidades e conhecimentos para manter as atividades docentes. A partir dos relatos de observação, foram identificadas que as diferentes relações entre preceptores e alunos não seguem princípios preestabelecidos, mas sim dependem da experiência pessoal e da forma de trabalho dos preceptores que associam o desenvolvimento da didática à experiência empírica. Ademais, é consenso entre os preceptores que o estudante deve ser incentivado a buscar ativamente o conhecimento. Logo, a estratégia de questionar aos alunos, comumente utilizada pelos preceptores, os incita à construção de novos aprendizados. Observou-se também que o momento de interação entre os preceptores e os discentes é de aprendizagem mútua, na qual o aluno tem a oportunidade de expressar seus conhecimentos internalizados e o preceptor por meio das suas práticas em saúde, instrui o aluno a construir o raciocínio clínico. Desse modo, o convívio entre os preceptores e estudantes não é hierarquizado. As principais limitações evidenciadas pelos preceptores foram a elevada quantidade de alunos por grupo, alta demanda de pacientes, quantidade insuficiente de salas e indisponibilidade de materiais. Além disso, os preceptores apontaram que reconhecem a falta de capacitações específicas para o ato da preceptoria. Já em relação às barreiras relacionadas ao ensino, os estudantes relataram que não são utilizados muitos formatos e estratégias diferentes de aprendizagem, tais como a indicação de referencial bibliográfico e o uso de tecnologias. Acrescentaram ainda que o conteúdo raramente é abordado de forma mais dinâmica. Os fatores relatados pelos alunos que promovem a facilitação ao ensino foram a boa comunicação entre a equipe, preceptores atentos, prestativos e organizados, além do preparo e do auxílio dado ao estudante para que ele alcance as competências necessárias ao atendimento ao paciente, identifique falhas de conhecimento e busque instruir-se em  pontos a melhorar. No que se refere às atividades desenvolvidas pela preceptoria foram observados os atendimentos realizados pelos estagiários sob a supervisão dos preceptores, inclusive como é feito o matriciamento, que é um modo de promover a atenção em saúde de forma compartilhada, visando à assistência integral e à resolubilidade da atenção. Nesse sentido, o apoio matricial é composto por diversos atores, como agentes comunitários, nutricionistas, enfermeiros, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e médicos. Os referidos profissionais têm como que objetivos discutir os casos clínicos em conjunto e elaborar projeto terapêutico singular. Trata-se de uma atividade que exemplifica o exercício de práticas colaborativas. Ressalta-se que foi expresso, durante as observações, o interesse dos preceptores e dos demais profissionais de saúde por um curso de especialização em preceptoria, diante da expectativa de necessidade de aprendizagem do preceptor sobre a forma de recepcionar alunos, justificada pela falta de embasamento teórico para a construção da função que não é abordada em curso de graduação. Portanto, muitos preceptores afirmaram não ter realizado nenhum curso ou especialização para exercerem essa modalidade de docência. No entanto, apesar das limitações e das dificuldades no tocante ao ato da preceptoria, esses profissionais procuraram desenvolver competências promotoras do trabalho em equipe e da educação interprofissional, ao buscarem implementar ações que levem à comunicação efetiva, às trocas de experiências e ao olhar centralizado no paciente. Conclui-se, por fim, terem sido válidos os resultados obtidos na observação de campo descrita, oportunizando a visão dos observadores, de forma mais clara, de que a educação interprofissional poderá contribuir para que os trabalhadores de saúde possam ofertar serviços mais coerentes com as necessidades sociais e de saúde. Isso sem perder de vista que o esforço para vencer os obstáculos e as adversidades deve ser em conjunto, ou seja, com a participação do Estado, população, trabalhadores e instituições de ensino, garantindo, assim, o direito inalienável à saúde.

12042 O PROFISSIONAL DE SAÚDE DA APS COMO PRECEPTOR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SAÚDE COLETIVA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Francine Ramos de Oliveira Moura Autonomo, Ana Caroline Alves da Silva, Isadora Therezinha Neves do Couto Varga

O PROFISSIONAL DE SAÚDE DA APS COMO PRECEPTOR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SAÚDE COLETIVA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Francine Ramos de Oliveira Moura Autonomo, Ana Caroline Alves da Silva, Isadora Therezinha Neves do Couto Varga

Apresentação: O conceito de saúde e a visão do processo saúde-doença sofreram transformações norteadas, principalmente, pelas discussões da Conferência de Alma Ata. Essas transformações possibilitaram a introdução de outro modelo de Atenção em saúde: integral, focado na promoção da saúde, organizado a partir do nível primário, que pressupõe um profissional crítico, capaz de lidar com a realidade e a diversidade que compõem os sujeitos. A Constituição Federal (CF) de 1988, por meio do artigo 200 inciso III, explicita  que  o Sistema Único de Saúde (SUS) tem a incumbencia de ordenar a formação de recursos na área da saúde. Complementando a CF, a Lei Orgânica de Saúde nº 8.080, estabeleceu que todas as esferas de governo devem participar da formulação e na execução da política de formação e desenvolvimento de recursos humanos para a saúde, organizar um sistema de formação de recursos humanos em todos os níveis de ensino, elaborar programas de permanente aperfeiçoamento de pessoal, além de determinar que os serviços públicos que integram o SUS sejam campo de práticas para ensino e pesquisa. Introduz-se, assim, um conjunto de programas e ações de indução dessa mudança como as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN); o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes); e mais recentemente, o Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares das Escolas Médicas (Prómed), o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) e o Programa de Educação pelo Trabalho na Saúde (Pet-saúde). As DCN propõem diferentes cenários, incluindo a Atenção Primária em Saúde (APS) como campo de prática para os estudantes de graduação na área de saúde. Desenvolvimento: O presente estudo é um relato de experiência que tem como objetivo descrever a vivência da preceptoria de duas dentistas que atuam na Estratégia de Saúde da Família (ESF) no município de Niterói-RJ a partir da inserção dos alunos de graduação do Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva (ESC) da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). O ESC constitui-se como uma das iniciativas dos docentes do Núcleo de Saúde Coletiva da UFF a partir das discussões da Reforma Curricular exigida pelas novas DCN de 2001; pretende a aproximação entre teoria e prática, oportunizando formar um profissional crítico, reflexivo, capaz de lidar com as necessidades a partir do conceito ampliado de saúde e apto para atuar no SUS; são precedidos de disciplinas teórico-práticas; oportuniza aos alunos escolher os campos de estágio; se divide em ECS1 (em que os alunos do oitavo período da graduação são inseridos em unidades de APS) e ECS2 (destinado aos alunos do nono período e acontece em unidades de média e alta complexidade em saúde bucal, gestão e vigilância). Este trabalho deter-se-á a vivência do ECS1, especificamente, na Clínica Comunitária da Família Doutor Antônio Peçanha. As duas dentistas que compõem as quatro Equipes de Saúde da Família iniciaram a experiência da preceptoria no ESC após o primeiro ano de implantação da unidade de saúde. A primeira atividade da preceptoria foi uma reunião com as docentes do ESC (professoras da faculdade de odontologia da UFF); a coordenadora do PMF e os preceptores indicados, onde foi realizada a apresentação do programa e objetivos do estágio. Optamos por montar um cronograma que permitisse alcançar os objetivos, metas e produtos pretendidos pela disciplina. O trabalho foi desenvolvido a partir de conceitos entendidos por nós como sendo pilares fundamentais da ESF: 1)Trabalho em equipe, interprofissional e colaborativo: fez-se necessário, inicialmente, apresentar o ESC aos demais integrantes das equipes, além de pactuarmos atividades que extrapolassem o núcleo da saúde bucal, visto que consideramos que o trabalho do dentista de família não se limita ao atendimento clínico individual, e de suma importância esse entendimento por parte dos alunos. Para tal, no primeiro dia do estágio os alunos são apresentados aos profissionais das equipes, conhecem a clínica e constroem conosco o cronograma do estágio, no qual propomos para as primeiras semanas que os discentes atuem como observador participante de atividades na recepção/acolhimento; consultas (médicas, de enfermagem e odontológicas); pré-consultas; na farmácia; vacina; de educação em saúde; reuniões e visitas domiciliares, com todos os profissionais e com alguns usuários, o que permite identificar como é organizado o processo de trabalho e os fluxos formais e informais que se estabeleceram no cotidiano; 2) Reconhecimento do território e Diagnostico Situacional: afim de garantir que os alunos aproximem-se da realidade do território em que foram inseridos os estimulamos a participar do recadastramento (supervisionado pelas preceptoras, pelos Agentes Comunitários de Saúde ou por outros membros da equipe) de uma micro-área previamente escolhida pelos profissionais. Tal atividade permite ao aluno além do reconhecer alguns conceitos como universalidade e igualdade do acesso, equidade, abordagem familiar; experimentar práticas como visitas domiciliares; preenchimento das fichas de cadastro; preenchimento de ferramenta de classificação de vulnerabilidade familiar, e identificação de famílias em situação de vulnerabilidade; verificação do interesse da família em participar da elaboração do Projeto Terapêutico Singular (PTS) e do atendimento odontológico. 3) Integralidade do cuidado e Clínica Ampliada, através de ações de promoção à saúde, prevenção de doenças, tratamento e reabilitação: a partir do desejo da família, inicia-se  o levantamento das condições de saúde; planejamento e execução de ações que possibilitem garantir o cuidado integral (de acordo com as necessidades e potencialidades identificadas pela equipe e família; com garantia do cuidado longitudinal, em todos os níveis de atenção à saúde e através de ações intersetoriais), visando melhorar a qualidade de vida dos usuários em questão. Todas as atividades são avaliadas e reestruturadas, se necessário, ao final do turno de estágio, assim como são elencados temas que nós e/ou os discentes carecemos de conhecimento teórico, estímulo à busca de referências para discussão e aprofundamento no próximo encontro. Os docentes nos visitam em momentos específicos e nos ajudam com a condução e adequação das atividades. Efeitos percebidos: Nesse contexto ao iniciarem-se na prática da preceptoria os profissionais de saúde atuam não somente no cuidado em saúde, mas como educador no processo de formação. Sendo assim nos vimos no desafio de inserir em nossa prática atividades de supervisão e orientação de alunos, que pressupõe conhecimentos distintos dos técnicos aprendidos na graduação; além de somar as atividades de preceptoria às que já desempenhamos em nosso cotidiano. Associar práticas de assistência às de ensino não é tarefa fácil, pois exige tempo com os alunos, assim como perceber as necesidades e potencialidade de aprendizagem de cada um. Por essas e outras razões muitas vezes nos questionamos sobre o quanto estamos contribuindo com o processo formativo. Por outro lado o aluno nos impulsiona a buscar conhecimento, já que exige de nós respostas e nos contrastam com técnicas e aprendizado por vezes diferentes dos que nos foi oferecido ao longo de nossa formação. Logo, a presença dos alunos do ESC1 em nosso serviço também transforma todos que nele trabalhamos. Considerações finais: O fato de os alunos enxergarem o cotidiano do trabalho por outra lente, e questionarem a organização do processo de trabalho e a qualidade do serviço prestado, pode levar o profissional refletir sua prática, reconhecer limites e desafios de seu agir, abrir-se a mudanças, e assim levar à transformação da práxis.