261: Narrativas de vida pulsantes nos rios, campos e florestas: práticas integrativas e complementares
Debatedor: A definir
Data: 01/06/2018    Local: ICB Sala 14 - Jerimum    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
410 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E A SAÚDE DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DA AMAZÔNIA
LAYLA DE CASSIA BEZERRA BAGATA, EDNA FERREIRA COELHO GALVÃO

CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E A SAÚDE DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DA AMAZÔNIA

Autores: LAYLA DE CASSIA BEZERRA BAGATA, EDNA FERREIRA COELHO GALVÃO

INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objetivo discutir a problemática dos conflitos socioambientais presentes no território amazônico e seus impactos na saúde das populações tradicionais. O processo de ocupação e integração do território amazônico ocorreu de forma desigual e desconsiderando a questão ambiental, como consequência desse processo concentrador de terras e renda na mão de grandes empresários e ação estatal autoritária sobre as populações tradicionais têm uma serie de conflitos socioambientais, que possuem ação direta sobre a saúde dessas populações, considerando os determinantes sociais da saúde. Compreendidos por alguns autores, enquanto fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Permite o reconhecimento dos impactos dos conflitos socioambientais na saúde das populações tradicionais. Nesta perspectiva as desigualdades sociais e disputas territoriais configuram um importante elemento no processo saúde-doença. A PROBLEMÁTICA DOS CONFLITOS SOCIAMBIENTAIS NA AMAZÔNIA O processo de ocupação da Amazônia a partir das políticas de integração e desenvolvimentistas do Governo Federal marcou o início de intensos conflitos neste território. Alguns autores afirmam que os conflitos socioambientais ganharam visibilidade na Amazônia principalmente a partir da década de 1960, com a implantação de grandes projetos desenvolvimentistas que acelerou a expansão urbano-industrial, e gerou um quadro de conflitos por toda a região. Autores apontam aponta que existem 675 focos de conflitos socioambientais que abrangem todo o território da Amazônia Legal. Destacam ainda os segmentos vulneráveis nestes conflitos: mulheres, quilombolas, indígenas, extrativistas, ribeirinhos, pescadores, trabalhadores e trabalhadoras rurais, periferias urbanas. Estes segmentos vulneráveis são atingidos pelas ações dos órgãos ambientais fundiários, fazendeiros, poder público (municipal, estadual e federal), empresas de celulose, pecuaristas, empresas pesqueiras, setor eletro-intensivos, população local, madeireiros, sojeiros e grileiros. A SAÚDE DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS EM SITUAÇÃO DE CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS A compreensão da saúde enquanto um construto de fatores que são determinados para além de questões biológicas, cuja dimensão social tem papel fundamental em sua manutenção, nos permite entender que tanto os danos causados ao meio ambiente pela exploração dos recursos naturais, quanto os próprios conflitos socioambientais decorrentes desses processos de exploração tem impacto direto na saúde das populações tradicionais. Os conflitos sociais na Amazônia têm como pano de fundo as políticas de desenvolvimento e de uso dos recursos naturais que desprezam as potencialidades e desconhecem a resiliência ambiental e a sustentabilidade ecológica; não beneficiam as comunidades tradicionais nem a distribuição de renda e não se preocupam com os riscos para a saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS As multifacetadas realidades do território Amazônico comportam um mister de estudos sobre a  relação entre homem e natureza. A compreensão da dinâmica dos conflitos socioambientais na Amazônia revela, a ação direta destes sobre a saúde das populações tradicionais. As constantes modificações territoriais, principalmente a implantação de grandes empreendimentos, geram novos problemas de saúde pública, cuja identificação e contextualização precisam ser consideradas na elaboração de políticas públicas de saúde. Não somente para garantir a saúde da população que vive na Amazônia, mas também para assegurar os seus direitos.

537 GRUPO ÉTNICO WAIMIRI-ATROARI: UMA VISÃO DA SAÚDE DA MULHER E DA CRIANÇA INDÍGENA
Bianca Albuquerque Castro, Maria Eduarda Leão Farias, Jessica Kelly Morais Silva, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Rebeca Arce Guilherme, Susy Cavalcante Harjani, Sineide Santos Souza, Jessica Kelly Morais Silva, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Maria Eduarda Leão Farias, Sineide Santos Souza, Rebeca Arce Guilherme, Sineide Santos Souza, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Jessica Kelly Morais Silva, Rebeca Arce Guilherme, Rebeca Arce Guilherme, Susy Cavalcante Harjani, Rebeca Arce Guilherme, Susy Cavalcante Harjani, Sineide Santos Souza, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Susy Cavalcante Harjani, Maria Eduarda Leão Farias, Susy Cavalcante Harjani, Sineide Santos Souza, Jessica Kelly Morais Silva, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Jessica Kelly Morais Silva, Rebeca Arce Guilherme, Maria Eduarda Leão Farias, Susy Cavalcante Harjani, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Sineide Santos Souza, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Jessica Kelly Morais Silva, Rebeca Arce Guilherme, Rebeca Arce Guilherme, Rebeca Arce Guilherme, Susy Cavalcante Harjani, Susy Cavalcante Harjani, Susy Cavalcante Harjani, Sineide Santos Souza, Sineide Santos Souza

GRUPO ÉTNICO WAIMIRI-ATROARI: UMA VISÃO DA SAÚDE DA MULHER E DA CRIANÇA INDÍGENA

Autores: Bianca Albuquerque Castro, Maria Eduarda Leão Farias, Jessica Kelly Morais Silva, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Rebeca Arce Guilherme, Susy Cavalcante Harjani, Sineide Santos Souza, Jessica Kelly Morais Silva, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Maria Eduarda Leão Farias, Sineide Santos Souza, Rebeca Arce Guilherme, Sineide Santos Souza, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Jessica Kelly Morais Silva, Rebeca Arce Guilherme, Rebeca Arce Guilherme, Susy Cavalcante Harjani, Rebeca Arce Guilherme, Susy Cavalcante Harjani, Sineide Santos Souza, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Susy Cavalcante Harjani, Maria Eduarda Leão Farias, Susy Cavalcante Harjani, Sineide Santos Souza, Jessica Kelly Morais Silva, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Jessica Kelly Morais Silva, Rebeca Arce Guilherme, Maria Eduarda Leão Farias, Susy Cavalcante Harjani, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Sineide Santos Souza, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Ellen Cristine Oliveira Silveira, Jessica Kelly Morais Silva, Rebeca Arce Guilherme, Rebeca Arce Guilherme, Rebeca Arce Guilherme, Susy Cavalcante Harjani, Susy Cavalcante Harjani, Susy Cavalcante Harjani, Sineide Santos Souza, Sineide Santos Souza

INTRODUÇÃO: O grupo étnico Waimiri-Atroari pertence à família linguística Karib e se autodenomina Kinja. Atualmente possui uma população de 1.969 indígenas distribuídos em 45 aldeias que se localizam no norte do estado do Amazonas e Sul do Estado de Roraima no quilômetro 125 da BR 174.¹ A conformação social do grupo é patriarcal, onde os homens tomam as decisões políticas, organizam o papel de cada membro da tribo, cuidam da preservação das tradições e lideram até mesmo alguns serviços de saúde na Atenção Primária. Culturalmente, possuem rituais únicos com a criança e com a mulher, e esses devem ser preservados e respeitados de acordo com suas peculiaridades. Vivem da caça, pesca e coleta de frutos silvestres, além de plantação própria onde costumam plantar principalmente mandioca, abacaxi e banana². OBJETIVO: Relatar as práticas culturais referentes à saúde da mulher e da criança no contexto Waimiri-Atroari.  METODOLOGIA: Tratou-se de um estudo exploratório e bibliográfico baseado em pesquisas científicas e de entrevista semiestruturada coletada na sede do Programa Waimiri-Atroari. RESULTADOS: Foi possível observar que na infância ocorre a valorização do nascimento por conta do aumento da população. A partir de três anos, o menino passa pelo ritual marybá, no qual ocorre a transição de menino para guerreiro, enquanto a menina é preparada para cuidar da família². Na adolescência, os meninos assumem as responsabilidades de guerreiro e, as meninas passam pela menarca por volta dos trezes anos, sendo considerada a segunda menstruação como o momento de transição de menina para mulher, quando as mesmas estão aptas para constituir uma família².  Logo, a mulher é responsável pelas atividades artesanais de confecção de adornos e vestimentas, bem como pelo cuidado dos filhos e alimentação. São identificados dois momentos importantes, são eles: Climatério e menopausa, onde as mesmas não passam por nenhum ritual e a mulher continua com as suas práticas normalmente; e a terceira idade, na qual as mulheres perdem a importância produtiva, no entanto, suas histórias continuam sendo interessantes e seus aprendizados considerados riquezas, porém não existe uma valorização dessa idosa como um ser que necessita de cuidados². Por fim, na gestante, a partir da descoberta da gestação, a mulher inicia o pré-natal no atendimento particular na cidade de Manaus-AM, no Hospital Beneficente Portuguesa, através do convênio que o Programa Waimiri-Atrori possui. A aldeia dispõe de uma equipe de enfermagem que realiza a triagem e se for identificada alguma complicação, o profissional de enfermagem conversa com os líderes e encaminha a gestante para a cidade mais próxima. Durante o período gravídico, são realizadas cerca de cinco consultas sem data escolhida previamente. Durante o acompanhamento, se a gravidez não for considerada de risco, a gestante volta para a sua aldeia para realização do parto vaginal. Caso ocorra alguma intercorrência, a mesma é encaminhada para a cidade mais próxima, por meio de transporte terrestre ou aéreo². É importante ressaltar que podem ocorrer dois tipos de gravidezes, onde existem vários padrões culturais para lidar, tais como: gravidez gemelar, que culturalmente ocorria o infanticídio de um dos neonatos, pois se acreditava que uma das crianças não se desenvolveria completamente, fato esse que atualmente não ocorre mais devido a influências externas; e as más-formações congênitas, as quais podem ser detectadas na consulta pré-natal, cabendo à gestante decidir se irá haver infanticídio ou não. No pós-parto a mulher permanece em repouso até cessarem os lóquios². CONSIDERAÇÕES FINAIS: Nesse sentido, para que haja um completo entendimento acerca do assunto abordado, faz-se necessário que se observe os fatores biológicos, no entanto, sempre respeitando suas crenças, rituais e organização hierárquica, afim de que ocorra um convívio interétnico harmonioso, procurando fornecer subsídios para manutenção da saúde desse grupo. É importante ressaltar a precariedade no acervo bibliográfico sobre esse tema e reconsiderar as diferenças culturais principalmente quando se trata da realidade dos indígenas na saúde da mulher e da criança.   REFERÊNCIAS: 1. FILHO MATARÉZIO, E. T. Ritual e Pessoa entre os Waimiri-Atroari. Dissertação de Mestrado, USP, 2010.   2. WAIMIRI ATROARI, Programa. Entrevista concedida a Bianca Albuquerque Castro. Manaus-AM, 26 set. 2017.         

2287 Práticas culturais/tradicionais indígenas em contexto de cidade e sua relação com a promoção de saúde e bem-estar
Mayara dos Santos Ferreira, Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Dayana Kellen Onofre dos Santos, Dayana Kellen Onofre dos Santos, Diana Kássia Oliveira de Almeida Silva, Diana Kássia Oliveira de Almeida Silva, Elizabete Amancio de Senna Silva, Elizabete Amancio de Senna Silva, Janaína Léia Passos da Silva, Janaína Léia Passos da Silva, Kássia Pereira Lopes, Kássia Pereira Lopes

Práticas culturais/tradicionais indígenas em contexto de cidade e sua relação com a promoção de saúde e bem-estar

Autores: Mayara dos Santos Ferreira, Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Dayana Kellen Onofre dos Santos, Dayana Kellen Onofre dos Santos, Diana Kássia Oliveira de Almeida Silva, Diana Kássia Oliveira de Almeida Silva, Elizabete Amancio de Senna Silva, Elizabete Amancio de Senna Silva, Janaína Léia Passos da Silva, Janaína Léia Passos da Silva, Kássia Pereira Lopes, Kássia Pereira Lopes

A Psicologia Social há muito tem se dedicado em construir planos de atuação profissional pautados em um compromisso social, ético e político, nos contextos reais da América Latina, direcionados às comunidades e camadas populares. O estado do Amazonas é reconhecido pela existência expressiva de povos indígenas, contando com a migração desses às cidades. Considerando estes apontamentos, este trabalho se refere às atividades de um projeto de extensão realizadas na comunidade indígena Sol Nascente, estabelecida em uma área de ocupação na cidade de Manaus. A comunidade é considerada pluriétnica, composta por moradores indígenas de 12 etnias, e também não-indígenas. Considerando a importância de aspectos como saúde e bem-estar, neste trabalho pretendemos refletir sobre estas categorias atreladas às práticas culturais, objetivando ponderar suas inter-relações. Para isso, fora utilizada a metodologia de Pesquisa Ação Participativa, propondo a integração entre teoria e prática, e articulando pesquisa, extensão e intervenção. O intuito é permitir a implicação de agentes internos e externos que compõem a comunidade, incorporando saberes científicos aos populares na resolução de problemáticas. O projeto foi desenvolvido a partir de visitas semanais à comunidade, utilizando como recursos de obtenção de dados entrevistas, conversas informais e reuniões com moradores e líderes comunitários. A partir disto, foi possível perceber que pessoas indígenas após saírem de suas bases de origem e migrar à cidade passam por um processo de adaptação à cultura deste novo contexto. Em decorrência disso, muitas vezes deixam de realizar suas práticas culturais/tradicionais. Perceber as exíguas práticas sociais e culturais indígenas dessa comunidade permitiu-nos ponderar que muitos moradores indígenas vivenciam um processo de reconformação identitária. Por meio deste, eles agregam modos de vida urbanizados, subtraindo práticas tradicionalmente indígenas, exclusivamente com o intuito de afastar-se das vivências negativas promovidas pela identificação étnica. Foi possível indicar que as práticas culturais, após a inserção de pessoas indígenas em contexto de cidade, se tornaram menos frequentes, demonstrando a importância de refletir sobre a vivência indígena em espaços coletivos citadinos. Identificamos também a influência das religiões na repressão das tradições e símbolos da cultura indígena na comunidade. Algumas igrejas exercitam discursos que demonizam práticas tradicionais indígenas, como a realização de rituais e a utilização de adereços. Em relatos dos moradores, sobretudo os que ainda se reconhecem e se autoafirmam indígenas, identificamos que um dos fatores que colaboram para a afirmação identitária são a manutenção de sua cosmologia, de seus mitos e rituais. Neste sentido, a inibição de hábitos e culturas espirituais, que cerceiam a vivência dos povos indígenas, podem decorrer em agravos principalmente relacionados a efetivação do bem-estar psicossocial e afirmação identitária, que inclusive colabora com as vivências negativas que perpassam a reconformação. Considerando o índice de bem-estar para povos tradicionais, citados por alguns autores e que contém cinco categorias, há menção à dimensão “gerenciamento cultural autônomo”, o qual identificamos que não é exercido plenamente. Tal dimensão expressa a possibilidade de colocar a própria comunidade como protagonista na aplicação de seus saberes e práticas, e também se refere às estratégias de comunicação no repasse destes, através das gerações. São três indicadores: a) auto reconhecimento étnico, como um elemento atrelado diretamente a composição da cultura; b) participação popular em práticas culturais estratégicas, que considera a vigência de práticas tradicionais, levando em conta a quantidade de cerimônias, festas e outros exercícios tradicionais, o envolvimento da comunidade e o significado atribuído; c) diversidade comunicacional, através do bilingüismo, desempenhada pela capacidade de falar a língua materna e a língua nacional, garantindo a pluralidade das relações e do lugar. Observando estes aspectos, percebemos que o autorreconhecimento étnico e a efetivação de práticas tradicionais através de cerimônias são dimensões prejudicadas principalmente pelos diversos estereótipos e estigmas que acompanham a noção de ser indígena há muitos anos, bem como o atrelamento de seus rituais a condutas malignas e nocivas. A pluralidade linguística aparece afetada por fatores estruturais e financeiros. A comunidade desenvolve a educação bilíngue através do ensino do nheengatu, no entanto, as atividades estavam paralisadas pela falta de material escolar para os alunos (crianças, jovens e adultos), e também pelas condições do local das aulas, um espaço aberto, passível de circunstâncias naturais como sol, ventos e chuvas. Tendo em vista estes critérios, a situação atual da comunidade pode indicar uma experiência opressiva de suas práticas tradicionais, corroborando com a desestabilização da saúde e de seu bem-estar psicossocial. Todos estes aspectos – sobretudo os de dimensão interativa – têm colaborado com um intenso processo de conflitos intra e intercomunitários, uma vez que muitas dessas problemáticas são corroboradas pela interferência da sociedade envolvente não-indígena, nas práticas culturais indígenas. Como resultado das intervenções comunitárias realizadas pela equipe do projeto de extensão, fora idealizado, em parceria com os moradores, um dia de celebração intitulado pelos próprios comunitários de “encontro de etnias”. Estimulando a autonomia da comunidade, grande parte das atividades foi organizada e promovida pela liderança e moradores. Assim, esta celebração contou com a presença de vendedoras de artesanatos indígenas, bebidas e comidas tradicionais (caxiri, pororoca, peixes assados e cozidos feitos coletivamente), e através do convite de grupos indígenas de outras etnias e assentamentos da cidade, foram realizadas apresentações de danças tradicionais, e grupos de canto. Isto posto, consideramos que a intervenção promovida através do projeto de extensão impulsionou – mesmo parcialmente – o desenvolvimento de aspectos de gerenciamento cultural autônomo, essencial à manutenção do bem-estar. Portanto, de acordo com a realidade desta comunidade percebemos que seus moradores não têm experienciado elementos primordiais à efetivação de sua qualidade de vida, em um lugar que não os permite legitimar seus aspectos culturais tradicionais. A intervenção possibilitou, mesmo de forma fragmentada, exercitar um nível importante na promoção do bem-estar. Contudo, ponderamos que principalmente as condições interativas de moradores indígenas e não-indígenas, alicerça-se ainda em práticas colonialistas, que colocam em supremacia características eurocêntricas, ignorando toda a historicidade étnica destes povos. Está então em pauta a reflexão de como estas condições colaboram com a invisibilidade dos povos indígenas na cidade e, especialmente, na construção de um espaço relacional que não auxilia na promoção de bem-estar. Assim, este projeto de extensão nos permitiu colocar em questão as condições interativas dos povos indígenas desta comunidade, dando a devida importância aos aspectos culturais, étnico-raciais e psicossociais. Consideramos, portanto, essa temática relevante para os estudos em saúde que tangem as populações indígenas, sobretudo em contexto de cidade, ponderando os determinantes sociais para a promoção da qualidade de vida destes povos.

2342 ASSISTÊNCIA À SAÚDE ÀS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DA AMAZÔNIA: Uma experiência para o futuro profissional de saúde
Veridiana Barreto Nascimento, Gabriela de Cássia Oliveira dos santos, Marcilene Batista Costa, Maria da Conceição Cavalcante Farias, Walter de Aquino Vieira Filho, Renata Simões Monteiro

ASSISTÊNCIA À SAÚDE ÀS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DA AMAZÔNIA: Uma experiência para o futuro profissional de saúde

Autores: Veridiana Barreto Nascimento, Gabriela de Cássia Oliveira dos santos, Marcilene Batista Costa, Maria da Conceição Cavalcante Farias, Walter de Aquino Vieira Filho, Renata Simões Monteiro

Apresentação: Este estudo traz o relato de experiências vivenciadas por discentes, docentes e residentes da Universidade do Estado do Pará (UEPA) Campus XII – Santarém sobre os atendimentos da equipe multiprofissional realizados durante a terceira etapa do I Jogos Indígenas do Baixo Tapajós (JIBAT), no qual o objetivo foi de conhecer o modo de vida, valores e tradições dos povos indígenas; e participar diretamente na assistência, conforme os aspectos da comunicação e a necessidade de adaptações exigidas para a atuação profissional juntamente com a equipe multiprofissional. Desenvolvimento do trabalho: A experiência que será descrita ocorreu com os Indígenas na comunidade de Bragança, localizada no município de Belterra-PA, realizado no período de 03 a 05 de junho de 2016. Esta oportunidade surgiu durante a graduação, proposta pela docente do curso de enfermagem oferecida como estágio pela disciplina "Enfermagem e as populações Tradicionais da Amazônia", no 8º período do curso. Esta oportunidade empolgou a turma de graduação, pois iria contribuir consideravelmente para a formação enquanto profissionais da saúde, uma vez que poucos acadêmicos têm a chance de obter tal experiência. A viagem para a comunidade de Bragança iniciou no dia 3 de junho de 2016, com duração de 8 horas, chegando ao destino às 6 horas da manhã do dia seguinte. O meio de transporte utilizado foi barco e a equipe foi composta por seis acadêmicos (três de enfermagem, dois de fisioterapia e um de medicina), um fisioterapeuta e dois médicos. A ideia dos organizadores dos Jogos Indígenas do Tapajós – JIBAT, é que o evento seja realizado anualmente no mesmo período, nos meses de maio e junho. Nesta primeira edição, o evento contou com as seguintes modalidades: futebol, canoagem, natação, peconha (subida no açaizeiro), lança, arco e flecha, corrida de resistência, corrida de velocidade, corrida com tora e embira de guerra (cabo de guerra). No primeiro dia de disputa, a programação iniciou com um ritual de dança contemplando as quatro etnias presentes, representadas pelas cores azul, vermelho, verde, preto. Os jogos iniciaram com a modalidade natação e remo, depois cabo de guerra, peconha, corrida de velocidade, corrida de resistência e arco e flecha.  A equipe multiprofissional buscava sempre uma melhor localização para os atendimentos rápidos aos atletas. Cabe mencionar que além da equipe multiprofissional havia um ponto de apoio da equipe do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU). No segundo dia de jogos na aldeia Bragança, houve as modalidades: arremesso de lança, logo depois a corrida com tora, na qual as toras de madeira pesavam em torno de 25 kg para as mulheres e 30 kg para os homens. Depois ocorreu o jogo de futebol, tanto feminino, quanto masculino, simultaneamente. Vale mencionar que os jogos iniciavam a 08h00min da manhã e continuavam até às 18h00min com intervalo para o almoço.  Durante os atendimentos, a equipe multiprofissional de saúde observou que as ocorrências mais comuns foram: fadiga, hipotensão postural, hipoglicemia, dores musculares e náuseas. As menos comuns foram: Entorses, traumas miotendíneos e articulares. Percebeu-se então a importância de uma equipe multiprofissional atuando durante os jogos, para um atendimento adequado e eficaz.  Os médicos atuavam na assistência com medicamentos e atendimento às escoriações e possíveis entorses, juntamente com os profissionais fisioterapeutas, onde este ultimo atuava mais especificadamente com alongamentos, possíveis entorses ou luxações. A equipe de enfermagem atuava em todos os âmbitos de apoio aos outros profissionais cuidando dos indivíduos como um todo, principalmente na prevenção de hipoglicemia, por falta de uma alimentação adequada antes das modalidades, na recuperação  de possíveis lesões, onde os participantes dos jogos não se atentavam muito ao detalhe de alongar-se e preparar-se antes das atividades e, por isso haviam intercorrências de exaustão física e fadiga. Em geral, as dificuldades em relação à atuação da equipe multiprofissional, eram diversas, incluíam: a falta de recursos materiais para a prestação da assistência qualificada (resumindo-se a gelo, massagem e manobras de conforto respiratório); a chegada ao local das provas, pois era necessário caminhar por aproximadamente 20 minutos pela floresta, da embarcação até o local das provas; além proporcionar uma atenção por longos períodos de forma continua aos jogos e aos atletas. Resultados e/ou Impactos: Enquanto acadêmicos,  residentes e docentes, estávamos motivados a conhecer uma nova cultura, observar seus valores e tradições, e principalmente, participar da assistência durante a realização dos jogos desta população, uma experiência que acrescentou muito em como indivíduos, futuros profissionais e especialistas. As dificuldades não foram empecilho para que a equipe multiprofissional atuasse da melhor forma possível no atendimento aos atletas dos jogos indígenas. As dificuldades de atuação faz com que na prática influencie no planejamento e execução das atividades, pois trabalhar de acordo com a realidade local também foi um grande desafio, levando a improvisação, exigindo dos estudantes e profissionais a necessidade de saber atuar nos diferentes cenários da prática profissional, considerando os pressupostos dos modelos clínico e epidemiológico. Ao observar a cultura, valores e tradições dos povos, notaram-se algumas manifestações culturais específicas de cada etnia como a pintura no corpo, onde os atletas possuíam sua pintura corporal representando sua aldeia como forma de expressão ou até mesmo como conservação da cultura. Foi perceptível que os atletas indígenas não se alimentavam antes das práticas e exercícios, o que resultava em hipoglicemia e náuseas durante e após as atividades. Nesse sentido cabe inferir que há um déficit no conhecimento dos mesmos a respeito de uma boa alimentação antes de qualquer exercício, alguns afirmavam ver a alimentação antes das modalidades, de forma negativa. Nesse sentido, faz-se importante uma assistência dos profissionais da saúde no que se refere à promoção e prevenção da saúde desses povos por meio da educação em saúde, como uma forma de informá-los que a alimentação antes de qualquer atividade física é essencial para o corpo e bem-estar. Alguns indígenas presentes faziam uso de vestimentas, que não as de cunho indígena, a exemplo disso era o Pajé, importante figura indígena que também era estudante de uma faculdade pública da região, que utilizava apenas o cocar e pintura pelo corpo como expressão indígena, fazendo uso de vestimentas comuns, já os outros indígenas ali presentes apenas como apreciadores dos jogos, não faziam nem uso dos acessórios indígenas. O que remete a reflexão de que os indígenas, em alguns aspectos, estão perdendo seus valores. Mas o I JBAT aconteceu com o objetivo de resgatar esses valores, as raízes, bem como resgatar as práticas indígenas que há muito não era utilizada. Considerações Finais: Diante das situações presenciadas nos jogos, percebeu-se a necessidade de uma intervenção e orientação da população quanto à importância da preparação física antes dos jogos, de uma alimentação direcionada a prática esportiva de alto rendimento, e principalmente hidratação. Além de uma qualificação profissional, a equipe deve ser sensibilizada para trabalhar com este público, levando em consideração os costumes, os rituais e as tradições que são fortemente associados à sua cultura. Relatos desta natureza são de grande valia na qualificação dos profissionais da saúde, pois atuar na atenção à saúde indígena em seu próprio habitat possui peculiaridades o que, invariavelmente, traz dificuldades ao profissional de saúde, mas, também, oferece momentos de profundo aprendizado para a sua atuação profissional, entre eles o enfermeiro, pois poucos têm a oportunidade de atuar com populações indígenas durante a sua formação acadêmica.

3146 Hô-êi-ê-tê, o canto do Pajé: manifestações artísticas relacionadas às praticas de saúde
Nauama Dias Suruí, Chicoepab Suruí Dias, Elisama Dias, Patricia Marques da Costa

Hô-êi-ê-tê, o canto do Pajé: manifestações artísticas relacionadas às praticas de saúde

Autores: Nauama Dias Suruí, Chicoepab Suruí Dias, Elisama Dias, Patricia Marques da Costa

O presente trabalho foi realizado junto ao povo Paiter Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro, Município de Cacoal, Rondônia, e tem como objetivo resgatar as memórias de um tempo em que as festas, os cantos, danças e assovios eram sinônimos de saúde e de cura, e mostrar a importância do reconhecimento das manifestações artísticas relacionadas às praticas de saúde. Para isso foi feita uma pesquisa bibliográfica e também utilizada à observação direta, pois faço parte da comunidade. O povo Paiter Suruí utilizava-se de diversas manifestações artística, neste texto será abordada uma delas, o Hô-êi-ê-tê, festa sagrada realizada para a cura e prevenção de doenças, os espíritos vinham da floresta para a cerimonia que duravam cinco dias e noites. O Pajé comandava a festa, puxando o canto com seu bastão de taquara enfeitado com plumas vermelhas o “naraí”. Ao som do canto a dança era realizada em duas rodas, em uma ficavam o pajé, alguns homens que seguravam taquaras enormes com palhas nas pontas onde eram incorporados os espíritos e casais que dançavam abraçados, a outra roda era a dos que tocavam as flautas. As crianças menores não participavam da festa, pois não suportariam a presença sobrenatural. Eram invocados Goanei, espíritos das águas e Goarei, espíritos do céu, que desciam sobre a aldeia trazendo cantos e histórias, cantados e contadas pelo pajé, o intermediador. Eram dias e noites de músicas vindas de outro mundo. Durante a festa o pajé abençoava a população entregando a elas uma pedra que serviria de proteção contra as doenças, no ultimo dia da festa ele soprava os doentes enquanto todos assoviavam em roda uma música de outros mundos, enquanto os espíritos retornavam para suas casas. A vida era muito bonita, diz os mais velhos com nostalgia, tudo era a festa. Após o contato a vida dos Paiter Suruí mudou drasticamente, grande parte do território dos Paiter Suruí foi invadido e devastado na época também houve uma epidemia de sarampo dizimando a população de 5.000 para 250 pessoas, com isso começaram a fazer o uso da medicina ocidental e o canto do pajé silenciou. Percebe-se um distanciamento da comunidade com as praticas tradicionais de cura, os pajés deram lugar aos agentes de saúde cuja formação não possibilita o diálogo com a medicina tradicional. A perda das manifestações artísticas e saberes de um povo significa também a perda de cultura e identidade, por isso é importante que haja reconhecimento desses saberes através de politicas publicas e a abertura de espaços para o seu fortalecimento, pois somente através do incentivos as praticas tradicionais poderia se trazer de volta, o Hô-êi-ê-tê.

3322 Combatendo o racismo institucional: caminhos de resistência e enfrentamento na promoção de saúde de mulheres negras
Andreza Cristina da Costa Silva, Claúdia Regina Brandão Sampaio

Combatendo o racismo institucional: caminhos de resistência e enfrentamento na promoção de saúde de mulheres negras

Autores: Andreza Cristina da Costa Silva, Claúdia Regina Brandão Sampaio

Os indicadores sociais atuais apontam majoritariamente a condição desfavorável de vulnerabilidade em que a população negra brasileira se encontra. Em qualquer eixo, seja na educação, saúde e acesso ao mercado de trabalho, nota-se as desigualdades raciais vivenciadas por essa população. Esses indicadores tornam-se mais acentuados quando realizamos um recorte de gênero: a mulher negra nesse contexto sócio-político encontra-se na base da pirâmide, ou seja, sofre duplamente nesse sistema patriarcal e racista. Embora possa ser observado alguns avanços na efetivação dos direitos das mulheres negras, ainda é perceptível as desigualdades atravessadas pela raça e gênero que demarcam lugares no estrato social e que influenciam diretamente na saúde dessas mulheres. Dessa forma, ser mulher negra é, sobretudo, carregar em sua historicidade marcas de violência e opressão. Essas marcas na carne foram construídas em períodos históricos diferentes que mesmo com o passar do tempo, mantiveram através de novas roupagens relações desiguais e desumanas. O mito da democracia racial é questionado quando nos deparamos com esses índices, pois verificamos a presença e eficácia do racismo no Brasil. Portanto, não vivemos em um país com harmonia entre os povos, não há acesso para todos, não há igualdade. Falamos de um (não) lugar que foi e é construído através de uma ideologia eurocêntrica e colonizada. Em função disso, é importante questionar qual tem sido a participação dos equipamentos de saúde, sobretudo da Psicologia enquanto ciência e profissão na qualidade de vida dessas mulheres. E mais, como a mulher negra tem encontrado meios de enfrentamento para existir nesse sistema, quais são as estratégias e o modo de vida que levam nesse cenário social?É fundamental conhecer e dar visibilidade a realidade concreta marcada não só pelos traços históricos, mas pelas conjunturas subjetivas dessas mulheres resistentes na diáspora e na sociedade pós-colonial racializada. O racismo institucional enquanto um fenômeno histórico, encontra-se presente nas diversas esferas da sociedade brasileira causando sofrimento à mulher negra, minando e inferiorizando o seu intelecto, auto-estima, afetividade, família e outras dimensões sociais importantes para a sua saúde. Cabe levantar a discussão que embora outros sistemas sejam adotados, sobretudo no âmbito da economia como o capitalismo, os modelos de exploração continuarão. Ainda assim, cabe a nós, como meta ética-política pautar nossas ações na transformação social, resgatar nossas potencialidades e autonomia para que esses modelos sejam combatidos diariamente. Neste sentido, uma ferramenta útil para combater o racismo institucional nos espaços sociaisé a discussão acerca da temática. Evidente que não se trata de uma solução universal e acabada, mas um caminho necessário que favorece outras possibilidades de atuação. Dessa forma, abrir espaços institucionais para a discussão acerca do racismo e seus impactos na sociedade brasileira, é contribuir para a saúde da mulher negra, dialogando com as suas reais demandas de sobrevivência, promovendo a qualidade de vida e uma atuação humanizada, como também rompendo e desmitificando estereótipos e preconceitos que estruturam as relações raciais no país.

2762 PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES: A FITOTERAPIA COMO ALTERNATIVA TERAPÊUTICA NO SUS
Kelle Caroline Filgueira da Silva, Camila Mahara Dias Damasceno, Roxana Braga Andrade Teles, NADJA SANTOS, Lusineide Carmo Andrade Lacerda, Priscylla Helena Alencar Falcão Sobral, Juliana Freitas Campos, Luciana Pessoa Maciel Diniz

PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES: A FITOTERAPIA COMO ALTERNATIVA TERAPÊUTICA NO SUS

Autores: Kelle Caroline Filgueira da Silva, Camila Mahara Dias Damasceno, Roxana Braga Andrade Teles, NADJA SANTOS, Lusineide Carmo Andrade Lacerda, Priscylla Helena Alencar Falcão Sobral, Juliana Freitas Campos, Luciana Pessoa Maciel Diniz

Apresentação: O modelo biomédico surgiu no ocidente, nos séculos XVI e XVII, com a explicação do adoecimento através de disciplinas no campo da biologia, e adquiriu credibilidade por suas práticas serem embasadas cientificamente, excluindo questões religiosas. É notória a importância da biomedicina e recursos por ela utilizados para a prevenção e tratamento de doenças, mas percebe-se sua limitação por não visualizar o indivíduo na sua integralidade, quando na condução de problemas de saúde decorrentes da interação de vários fatores. O modelo terapêutico não convencional, distante da abordagem médica hegemônica, não fragmenta o ser humano, evidenciando o sujeito na sua individualidade e considerando a saúde como consequência principal de uma harmonia interior, articulando todos os fatores que possam interferir no processo saúde-doença. A procura de tratamentos alternativos no auxílio ou na impossibilidade de aquisição do tratamento farmacológico é crescente e grande parte da população faz uso de plantas medicinais e outras práticas não convencionais. A utilização de plantas medicinais remonta a antiguidade, associada à tradução e sua facilidade de obtenção tem o seu uso difundido entre gerações. O objetivo desse estudo é descrever a importância das práticas integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde (SUS). Desenvolvimento: Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada entre os meses de julho a setembro de 2017, a partir dos descritores “fitoterapia”, “Sistema Único de Saúde” e “plantas medicinais”. Resultados e Discussão: As práticas não convencionais podem ser chamadas de integrativas e complementares, alternativas, tradicionais, populares, não ocidentais e holísticas. Essas novas práticas de atenção à saúde são decorrentes de uma grave deficiência na área, ocasionada também por aumento das diferenças sociais e consequente proliferação de doenças, assim como mudanças na prática médica. No Brasil a partir da década de 80, após a instituição do SUS, as práticas complementares passaram a ser reconhecidas pelo poder público e estão em ascensão, possuindo credibilidade entre órgãos governamentais, como o Ministério da Saúde, que inclusive, em 2006 publicou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares para apoiar e implementar as práticas alternativas de saúde, já utilizadas por muitas comunidades ampliando as opções terapêuticas dos usuários do SUS. Essa política, visando solidificar as ações do SUS para promoção da integralidade da assistência, busca uma maior aproximação com algumas práticas como a fitoterapia. A fitoterapia é uma terapia baseada na utilização de plantas com propriedades medicinais. Nessa área destaca-se a elaboração da relação nacional de plantas medicinais e da relação nacional de fitoterápicos e, a garantia de acesso às plantas medicinais e aos fitoterápicos à população.  Desta forma, a inclusão da fitoterapia no SUS possibilita benefícios para a saúde da população, mas também em benefícios de ordem econômica, considerando esta implantação uma opção de redução dos gastos com medicamentos convencionais, obedecendo aos critérios da utilização da fitoterapia. O poder curativo das plantas é tão antigo quanto o aparecimento da espécie humana na terra, civilizações perceberam que algumas plantas continham em suas essências princípios ativos, os quais ao serem experimentados no combate às doenças revelaram empiricamente seu poder curativo ressaltando sua importância em aspectos culturais e medicinais. De acordo com a OMS planta medicinal é "todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semi-sintéticos". Este órgão ainda revela que em torno de 60 a 85% da população de países em desenvolvimento fazem o uso de plantas medicinais como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde. Bem como, 80% da população desses utiliza práticas tradicionais na atenção primária, e desse percentual total, 85% usam plantas medicinais ou preparações destas, considerando o uso de extratos mais prevalente.  Por muito tempo o homem identificou plantas como possibilidade para o tratamento de doenças, e por vários anos as plantas medicinais foram as mais importantes fontes utilizadas terapeuticamente, o consumo dessas plantas está associado com o conhecimento repassado por várias gerações. O saber popular sobre os efeitos positivos decorrentes da utilização de plantas medicinais é fator importante na disseminação da prática da fitoterapia, e reconhecido como de interesse científico. No Brasil, a imensa vegetação presente, a influência de diferentes grupos étnicos com conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais e a falta de acesso de grande parte da população a serviços de saúde com qualidade, contribuem para o desenvolvimento da fitoterapia. O Brasil possui uma extensa flora com muitas plantas consideradas popularmente como medicinais, carecendo, contudo, de confirmação científica. Porém, sabe-se que as espécies vegetais possuem princípios ativos, que são os responsáveis pelos efeitos terapêuticos identificados após seu uso. Assim, após realização de estudos científicos que comprovem os efeitos terapêuticos de plantas medicinais, estas podem ser de grande valia para o SUS, por serem de fácil acesso e menor custo. E os profissionais de saúde são sujeitos indispensáveis para auxiliar a população no correto uso de plantas medicinais. A partir dos anos 80, várias ações foram desenvolvidas com interesse em fortalecer a incorporação da fitoterapia no SUS, possibilitando maior cobertura assistencial aos seus usuários. Os fitoterápicos são medicamentos que utilizam princípios ativos unicamente de origem vegetal, e seus efeitos devem ser embasados pela utilização popular, estudos científicos ou demonstrações clínicas. Apesar da atual atenção dada a fitoterapia, estudos que respaldem a sua utilização ainda são escassos. É indispensável a realização de pesquisas para respaldar e tornar mais segura a incorporação dessa prática no SUS. É necessário também capacitar os profissionais de saúde para, através da aquisição de informações sobre eficácia e segurança, a utilização de plantas medicinais seja estimulada. Considerações finais: A leitura e análise dos artigos sobre a temática evidenciaram que, mesmo em desenvolvimento e amplificação de ações do governo federal, as Práticas Integrativas e Complementares ainda encontram dificuldades de implementação no SUS para tornarem-se completamente aceitas pela comunidade em geral. Entraves como o baixo conhecimento que os profissionais de saúde têm sobre a Fitoterapia, o entendimento controverso sobre a eficácia e a segurança deste tratamento por parte de usuários e profissionais de saúde, a dificuldade do acesso à planta medicinal e ao medicamento fitoterápico, aliados a uma estruturação dos serviços nos moldes que favorecem o uso do medicamento sintético, inviabilizam a prática da fitoterapia. Neste cenário, a instituição dessa política é de grande relevância por oferecer outra forma de tratamento aos clientes do SUS, considerando o fato de as plantas medicinais serem acessíveis à população e ainda a retomada do conhecimento popular para busca de evidências clínicas. A participação popular é necessária aos estudos etnofarmacobotânicos para identificação e elucidação de espécies de plantas medicinais. É fundamental o desenvolvimento de estudos que respaldem cientificamente a utilização das terapias convencionais, assim como a capacitação de profissionais que irão promover o atendimento.  A academia precisa considerar os resultados identificados por pessoas que já fizeram uso de terapias integrativas e desenvolver mais pesquisas que confirmem os efeitos positivos dessas novas abordagens terapêuticas com garantia de acesso a plantas medicinais, a fitoterápicos e a serviços ligados à fitoterapia, com segurança, eficácia e qualidade, na perspectiva da integralidade da atenção à saúde.