220: As Residências em Área Profissional na Saúde: desafios para o desenvolvimento do trabalho em saúde e das práticas docentes
Ativador: A definir
Data: 01/06/2018    Local: FCA 02 Sala 03 - Candiru    Horário: 15:30 - 17:30
ID Título do Trabalho/Autores
3170 A diversidade do Cuidado no SUS a partir das Residências Multiprofissionais em Saúde: aproximações com a Saúde Indígena no interior do Mato Grosso do Sul
Luisa Vilas Boas Cardoso, Janaína Mazzuchelli Pereira, Janaína Mazzuchelli Pereira, Bruna Tadeusa Genaro Martins de Oliveira, Bruna Tadeusa Genaro Martins de Oliveira

A diversidade do Cuidado no SUS a partir das Residências Multiprofissionais em Saúde: aproximações com a Saúde Indígena no interior do Mato Grosso do Sul

Autores: Luisa Vilas Boas Cardoso, Janaína Mazzuchelli Pereira, Janaína Mazzuchelli Pereira, Bruna Tadeusa Genaro Martins de Oliveira, Bruna Tadeusa Genaro Martins de Oliveira

Apresentação: Com a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS), os serviços públicos assumiram um importante papel para a formação profissional no campo da saúde, dentro de uma lógica que integra ensino, assistência, gestão e controle social.  Esse olhar ampliado para a formação foi de suma importância para a expansão dos Programas de Residências Multiprofissionais em Saúde no Brasil, que passaram a integrar as instituições de ensino e de serviço, desde o início dos anos 2000, como dispositivo de constituição de práticas baseadas nos princípios e diretrizes do SUS e nos conceitos que defendem a utilização de metodologias ativas e participativas, tendo a educação permanente como eixo pedagógico. Dentro dessa perspectiva, a Residência Multiprofissional em Saúde da Família de Sobral (RMSF)- Ceará surgiu pela compreensão da necessidade de qualificar, inicialmente, os profissionais da rede para um paradigma em saúde diferente dos modelos tradicionais de pós-graduação, tendo como ênfase a promoção da saúde, a educação popular e a educação permanente. Para a formulação desse Programa, considerou-se que o residente não podia ter uma mera função de observador e acompanhante do sistema de saúde, mas sim, ser um sujeito ativo no processo de construção formativo para o trabalho. Logo, o desenho teórico-metodológico da RMSF de Sobral organiza-se, a partir de vivências de aprendizagem, que buscam intensificar e aprimorar a prática profissional, partindo da busca de conhecimentos e experiências relevantes à Estratégia de Saúde da Família. Em uma lógica similar, o Programa de Residência Multiprofissional do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (RMS HU/UFGD) busca operar mudanças nos processos de formação e de trabalho em saúde e, com a ênfase na Atenção à Saúde Indígena, pretende formar enfermeiros, psicólogos e nutricionistas para uma atuação que contemple as especificidades destes povos, considerando que seus processos de saúde-doença estão relacionados à posse de seus territórios tradicionais, ao uso de recursos naturais, à proteção de suas crenças, modos de vida, etc. Para tal, propicia atividades teóricas e experiências de trabalho nos diferentes pontos da rede assistencial do município de Dourados – Mato Grosso do Sul e também incentiva a participação em eventos e congressos, de modo a promover a aproximação com estes povos, sua realidade e seus saberes. É característica comum aos Programas de Residência supracitados a possibilidade de realização de um mês de estágio eletivo em qualquer um dos campos que já constituem espaço de trabalho, ou ainda, em articulação com qualquer outro Programa ou ponto da rede SUS, a vivência em serviços distintos, a fim de conhecer diversas experiências de cuidado, se aproximar de tais realidades e intercambiar conhecimentos. O presente trabalho teve por objetivo relatar as reflexões de uma residente integrante da RMSF de Sobral, que optou por conhecer, ensinar e aprender sobre o fazer em saúde, realizando seu estágio eletivo na RMS HU/UFGD, na ênfase em Atenção à Saúde Indígena em territórios com etnia Guarani, Kaiowá e Terena.  Desenvolvimento: Trata-se de um relato da experiência de extensão de caráter optativo realizado por uma nutricionista residente da Residência Multiprofissional em Saúde da Família do município de Sobral – CE, na Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase na Atenção à Saúde Indígena, no Município de Dourados – MS. A vivência deu-se por 30 dias, no mês de novembro de 2017. Este estágio compreendeu os seguintes locais da rede assistencial: Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HUGD), Unidades Básicas de Saúde indígena da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), Hospital e Maternidade Indígena Porta da Esperança (HIPE), mais conhecido como Hospital da Missão e Casa de Apoio à Saúde Indígena (CASAI). Durante este período, também foi possível conhecer espaços intersetoriais, como o Centro de Referência de Assistência Social Indígena (CRAS), a Escola Municipal Intercultural Guateka – Marçal de Souza. Resultados: Com o processo de colonização, os indígenas no Mato Grosso do Sul vivem atualmente submetidos a situações de confinamento em reservas. Os conflitos por demarcação de terras tradicionais para vivência da cultura e modos de ser na perspectiva indígena, a falta de acesso á água e a direitos básicos marcam o cotidiano desses povos. Grande parte das terras são áreas degradadas pela exploração do agronegócio, impossibilitando a existência do mato, animais, água, plantas, remédios tradicionais e toda cosmologia fundamental para viver o modo de ser Guarani, Kaiowá e Terena. Ao longo dessa experiência, observou-se que a realidade da saúde indígena no município necessita de muitos avanços para contemplar o preconizado nas políticas de saúde para esses povos. Foi perceptível que as instituições de saúde que assistem a população indígena reproduzem o modelo biomédico, com poucos a nenhum espaço para a construção de uma organização em saúde pautada na interculturalidade das diferentes etnias locais. Em alguns ambientes, como o HU, essa contradição se manifestava mais intensamente, uma vez que o cuidado hospitalar apresentava-se de forma engessada e inflexível, com pouca aceitação para outros tipos de práticas de saúde, como as rezas, os cantos, o uso do fogo e das plantas medicinais, que são realizados por lideranças indígenas religiosas nomeadas de nhanderu e nhandesy. Neste espaço, também foi possível observar que os profissionais, em sua maioria não indígena, devido ao desconhecimento e a pouca aproximação com a realidade desses povos, carregavam pré-conceitos que dificultavam na criação de vínculo, na humanização do cuidado e na atenção diferenciada, tornando o trabalho mecanizado e com foco no adoecimento. No caso das instituições de saúde localizadas nas aldeias, como o Hospital da Missão e as Unidades Básicas de Saúde, apesar da existência de algumas diferenças na forma de cuidado, possivelmente pela existência, em sua maioria, de profissionais indígenas, estes espaços causaram a residente mais estranhamento do que o HU, uma vez que, por serem instituições que se aproximam da realidade indígena, esperava-se que de fato, existisse uma atenção em saúde diferenciada para os mesmos, no entanto, o que se percebeu foi que havia muita semelhança com o processo de trabalho realizado pela residente extensionista em comunidades não indígenas no interior do Ceará. As ações que apresentavam um olhar diferenciado ao cuidado em saúde com esses povos eram condutas individuais de alguns profissionais e residentes da ênfase em saúde indígena que conseguiam alguns espaços para o cuidado tradicional. A partir dessas reflexões, a busca pela vivência no território por meio das visitas e conversas com a comunidade, principalmente rezadores e lideranças locais, foi fundamental, pois permitiu que houvesse uma troca de diferentes conhecimentos e saberes que podiam fundamentar uma atenção mais próxima do que deveria ser a saúde indígena. Considerações Finais: As vivências de extensão são de extrema relevância para o processo formativo do residente, pois garantem o aprimoramento do fazer dos mesmos, dando-lhes oportunidades de interagir com experiências de trabalho diferenciadas do seu processo formativo atual. A escolha de uma residência com ênfase na saúde indígena surgiu como uma oportunidade de refletir sobre a atenção à saúde indígena no município de Dourados, sob uma perspectiva externa. A partir desse olhar conclui-se que a atenção a saúde indígena local necessita de uma construção coletiva que leve em consideração a organização desses povos, a cultura, a tradição e diversidade étnica, possibilitando assim a implementação de um modelo diferenciado.

4225 O planejamento local e a formação integrada nas Residências Multiprofissional em Saúde da Família e em Medicina de Família e Comunidade em atenção primária em saúde/ GHC- Porto Alegre
RENATA PEKELMAN, Vinicius Graff, Débora Deus Cardozo, Judith Barros Cassal, Desireé dos Santos Carvalho, Carine Fernandes, Pãmela Leite de Souza, Vera Lúcia Ludwig

O planejamento local e a formação integrada nas Residências Multiprofissional em Saúde da Família e em Medicina de Família e Comunidade em atenção primária em saúde/ GHC- Porto Alegre

Autores: RENATA PEKELMAN, Vinicius Graff, Débora Deus Cardozo, Judith Barros Cassal, Desireé dos Santos Carvalho, Carine Fernandes, Pãmela Leite de Souza, Vera Lúcia Ludwig

Apresentação: A formação multiprofissional de residentes em Atenção Primária em Saúde (APS) tem se desenvolvido há 13 anos no Grupo Hospitalar Conceição/ Porto Alegre-RS. Este é um relato de experiência sobre o processo de formação de campo da APS em atividades teóricas conjuntas entre a Residência Multiprofissional em Saúde da Família e a Residência em Medicina de Família e Comunidade (RMFC). O objetivo é relatar o processo de formação dos residentes na área do planejamento local de saúde no âmbito da APS no Currículo Integrado (CI) que são os estudos integrados em APS. Desenvolvimento: A proposta metodológica dos encontros se dá a partir da realidade. O Serviço de Saúde Comunitária/GHC – campo de práticas das residências, há anos desenvolve o planejamento estratégico como orientador de suas prioridades de intervenção. Os residentes aí inseridos experimentam o processo do planejamento no cotidiano. No campo teórico, é no CI que se dá o aprofundamento e a compreensão dos temas, em que os residentes de diferentes unidades de saúde (US) se encontram semanalmente por três semestres nos quais se discute os fundamentos, os modos de fazer, planejamento estratégico e gestão da APS. Resultados e discussão: O CI desenvolve-se numa perspectiva teórico-prática que traz a realidade para o entendimento da teoria, na reflexão do cotidiano. No segundo semestre das residências, vigilância em saúde, ações programáticas, atenção ao adoecimento crônico e o planejamento estratégico situacional (PES) são o foco dos estudos. Quanto ao PES realiza-se um exercício com problemas elencados nas US. Estes são analisados multidimensionalmente, em sua complexidade. Os residentes têm a tarefa de propor ações para a resolução ou intervenções no problema. Este exercício proporciona uma compreensão mais complexa da saúde e dos processos para um planejamento local com seus impasses para a implementação de ações. Considerações finais: Os exercícios teórico-práticos realizados ao longo dos três semestres, permitem uma maior compreensão da APS, seu papel no sistema de saúde e as diversas faces dos problemas cotidianos, especialmente em relação aos processos de trabalho instituídos e instituintes. Debate-se as contradições, as dificuldades e as potencialidades da APS. O segundo semestre, onde se realiza o exercício do PES, permite uma compreensão a partir de análise da realidade e construção de sínteses e proposições. A avaliação dos educandos é positiva, pois o exercício de análise e criação para elaboração de propostas de intervenção constrói um significado e aprofunda a relação teoria e prática.

5093 RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL E A INTERPROFISSIONALIDADE: A DISCUSSÃO DE CASOS DA APS COMO ESTRATÉGIA SENSIBILIZADORA PARA O CUIDADO CENTRADO NA PESSOA
Nara Maria Holanda de Medeiros, Nara Maria Holanda de Medeiros, Ana Claudia Camargo Gonsalves Germani, Amy Tanaami, Amy Tanaami, Gabriela Junqueira Calazans, Gabriela Junqueira Calazans, Rosana Machin, Rosana Machin, Patrícia Coelho de Soarez, Patrícia Coelho de Soarez

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL E A INTERPROFISSIONALIDADE: A DISCUSSÃO DE CASOS DA APS COMO ESTRATÉGIA SENSIBILIZADORA PARA O CUIDADO CENTRADO NA PESSOA

Autores: Nara Maria Holanda de Medeiros, Nara Maria Holanda de Medeiros, Ana Claudia Camargo Gonsalves Germani, Amy Tanaami, Amy Tanaami, Gabriela Junqueira Calazans, Gabriela Junqueira Calazans, Rosana Machin, Rosana Machin, Patrícia Coelho de Soarez, Patrícia Coelho de Soarez

Apresentamos um relato de experiência do programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva e Atenção Primária da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, na perspectiva da Educação Interprofissional e a tradução da experiência vivida por uma egressa do programa com o objetivo de apoiar a reflexão sobre políticas de indução do caráter interprofissional da formação voltado para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).        A Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva e Atenção Primária (RMSC&AP) é estabelecida em 2013, no Departamento de Medicina Preventiva. A iniciativa era denominada Programa de Aprimoramento e Especialização em Saúde Coletiva – Hospital das Clínicas/Faculdade de Medicina da USP, articulada a partir da então Coordenadoria de Aprimoramento de Pessoal do HC-FMUSP, atualmente Escola de Educação Permanente. Esse programa fazia parte do Programa de Aprimoramento Profissional (PAP) concebido pela Secretaria do Estado da Saúde em parceria com a Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP) da Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo do Governo do Estado de São Paulo, visando estimular a formação de recursos humanos para complementar e aprimorar a formação universitária de profissionais recém graduados em saúde. O Programa visava formar profissionais com visão crítica e abrangente do sistema de saúde, da integralidade das ações, aptos para desenvolver atividades de organização, planejamento, controle, avaliação em atenção primária e serviços de saúde e do trabalho em equipes multiprofissionais. É a partir desse contexto de formação e aperfeiçoamento dos profissionais para responder às necessidades de saúde da população, considerando as diretrizes e princípios do SUS e de modo a desenvolver uma compreensão ampla e integrada das diferentes ações e processos envolvidos, que se realiza a organização da Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva e Atenção Primária. Com a aprovação do Ministério da Educação e Comissão Nacional de Residências Multiprofissionais em Saúde, a residência passou a oferecer oito (8) vagas com bolsas contemplando as áreas de enfermagem, psicologia, odontologia, serviço social e terapia ocupacional. Em 2014, passa a operar com dez (10) vagas nas mesmas áreas. A residência tem como cenário principal o Centro de Saúde-Escola Samuel Barnsley Pessoa. Atividades também são realizadas em espaços comunitários, equipamentos de saúde e equipamentos sociais da região Oeste da cidade de São Paulo. No ano de 2014, foi integrado ao Programa uma nova disciplina intitulada Educação Interprofissional e aparece como oportunidade inicial de apresentar/trabalhar/ promover o aprendizado sobre os outros, com os outros e entre si entre os residentes do programa RMSC&AP, contando também com os residentes oriundos do Programa de Residência Médica em Medicina Preventiva, em que se propõe que os residentes, ao final das 24 horas de discussão, estejam preparados para: a) descrever os conceitos de EIP e PC; b) reconhecer as competências específicas de sua formação profissional; c) reconhecer as competências comuns do campo da saúde coletiva e desenvolver competências colaborativas. Para tanto, utiliza como metodologia chave a discussão de casos clínicos, vividos pelos residentes, anteriormente ou durante o momento inicial da residência em práticas vividas no Centro de Saúde Escola Butantã, que incluem observações e análise de registros em prontuários.  A avaliação dos residentes acontece na forma da construção de uma narrativa, produto de reflexão individual. Espera-se que os objetivos trabalhados neste momento inicial, sejam estendidos às demais disciplinas e estágios que compõem o programa da residência, isto é, que a percepção e o desenvolvimento das competências comuns, específicas e colaborativas avancem entre o grupo de residentes ao longo das atividades de todo o programa. O último semestre do programa, chamado estágio profissionalizante, traz a oportunidade da interação com outros profissionais e serviços e resulta na produção de uma monografia.  O objetivo do período de realização da profissionalização e da monografia é que o residente se concentre em uma área identificada como interessante para sua atuação após o final da residência, tomada como um período de formação em serviço e especialização lato senso em atenção primária e saúde coletiva, considerando suas aspirações profissionais e acadêmicas. Na perspectiva da egressa, a experiência proporcionada pelos espaços educativos relacionados com a disciplina de EIP possibilitou o reconhecimento das competências comuns do campo da saúde coletiva e o desenvolvimento de competências colaborativas para o aprimoramento desse campo. A busca por tais competências se estendeu por cada atividade proposta e exigida na formação da residência. Considerando a mudança dos cenários: UBS com modelos assistenciais diversos, ONG, Núcleo de Vigilância, Centros de Referência, Redes de Apoio, entre tantos outros acompanhou-se o desafio de se reconhecer, de reavaliar as relações e ações, de continuar: a aprendizagem interprofissional. O exercício esteve em entender o seu fazer junto ao fazer do outro e entender o fazer junto ao outro. No caminho de adquirir a interação desejada, realizou-se o reconhecimento das conexões entre as ações realizadas por um ou, dois ou todos membros da equipe, buscou-se estabelecer interlocuções, comunicação efetiva, integralidade da assistência e a abordagem ampliada em saúde com cuidado centrado na pessoa. Nesse sentido, o período do estágio profissionalizante, possibilitou uma rica vivência: a exploração de campos variados com visitas técnicas a quatro municípios de regiões e realidades diferentes, nas quais a residente observou diversas atividades em serviços distintos. Nesse contexto, o processo da construção do comum, permitiu reconhecer a potência dos aprendizados e as mudanças geradas a partir do encontro e do fazer com o outro. As relações construídas, as experiências vividas e o trabalho resultante desse desafio trazem a conquista da autonomia técnica, da liberdade das ações e do sentido, no fazer profissional junto ao outro, pois estão alinhadas nas competências da prática interprofissional.

5197 O TERRITÓRIO E A TERRITORIALIZAÇÃO COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE: A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM SAÚDE DA FAMÍLIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Mauricéa Maria Santana, Vanessa de Lima Silva, Josiglês Araújo de Oliveira Júnior, Waldiney Fellipe Da Silva, Lorenna Brito Ferreira, Paulo Leopoldino da Silva Junior

O TERRITÓRIO E A TERRITORIALIZAÇÃO COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE: A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM SAÚDE DA FAMÍLIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Autores: Mauricéa Maria Santana, Vanessa de Lima Silva, Josiglês Araújo de Oliveira Júnior, Waldiney Fellipe Da Silva, Lorenna Brito Ferreira, Paulo Leopoldino da Silva Junior

As temáticas território e territorialização permeiam as diretrizes organizativas do sistema de saúde brasileiro, principalmente quando se trata da descentralização, regionalização e redes de atenção. E estão claramente explicitas nas diretrizes territorialização, adscrição dos usuários, acessibilidade da atenção básica descritas na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB-2012/2017) que guiam o processo de trabalho na Estratégia de Saúde da Família (ESF) e no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf). Considerando por um lado a importância da apropriação dos territórios para organização do processo de trabalho das equipes da atenção básica na perspectiva do planejamento participativo e uma intervenção resolutiva. E por outro lado, a lacuna formativa dos profissionais de saúde, visto que a temática do território e territorialização não compõem a grade curricular das graduações em saúde, com exceção de algumas graduações que tiveram suas grades curriculares reformuladas recentemente. Compreende-se o momento de inserção dos residentes nos territórios de vinculação como um espaço propício para o desenvolvimento da educação permanente (EP), pois parte da integração ensino-serviço, bem como a formação profissional no ambiente de trabalho. Nesse contexto a educação permanente representa um instrumento fundamental para a capacitação e qualificação dos profissionais, pois objetiva responder às lacunas de conhecimentos e atitudes. Este estudo tem por objetivo descrever o relato de experiência vivenciado na disciplina Território/Territorialização na Saúde: foco na Estratégia de Saúde da Família, do programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família – RMSF da Universidade Federal de Pernambuco, cujo objetivo é oferecer e discutir elementos teóricos e práticos que subsidiem aos residentes e profissionais de saúde, assim como organizar o planejamento do seu processo de trabalho na atenção primária sob a lógica do território vivo. Nesse processo, além dos residentes, participam também os profissionais de saúde, incluindo os agentes comunitários de saúde, tanto nas etapas teóricas como nas etapas práticas. Diante disso, a vinculação dos residentes nas equipes pressupõe a necessidade de apropriação da realidade na perspectiva da construção do projeto de intervenção para os dois anos de inserção nas unidades. Inicialmente é feita uma reunião de acolhimento entre a instituição de ensino e a unidade, com a participação de todos os atores: residentes, tutores (professor da disciplina), profissionais eNasf / eSF e as comunidades de Mangueira e Bongi/ Novo Prado, onde são pactuadas as etapas do processo de territorialização. Os residentes são preceptorados pela eNasf e pela eSF dos respectivos territórios. As etapas do processo subdividem-se em três etapas: qualitativa, quantitativa e cartográfica, na perspectiva de ampliar o olhar para o território contemplando as subcategorias analíticas, sendo elas: a dimensão política, simbólico-subjetiva, física e técnica. A etapa qualitativa é realizada no primeiro mês de inserção dos residentes no território e consiste no processo de construção de vínculos entre os residentes, equipes e comunidades. A análise da dimensão política consiste em caracterizar as relações de poder existentes no território, já na dimensão simbólica subjetiva busca-se conhecer elementos da identidade e pertencimento, as representações simbólicas e culturais da comunidade. A finalidade desta etapa é reconhecer o contexto histórico e contemporâneo de apropriação do território, os elementos da organização política e relações das redes de poder existentes, bem como os atores políticos e as possíveis relações de parcerias. Tudo isso a partir das percepções dos comunitários, buscando identificar o que representa para eles a vivência naquele lugar, a compreensão do processo saúde-doença na concepção deles, o reconhecimento dos principais problemas de saúde e doença, as potencialidades materiais e humanas, e caracterização das redes de solidariedade existentes, assim como os aspectos culturais e religiosos. Também busca-se compreender a expectativa que a população tem a respeito do trabalho da equipe da atenção básica. Desde essa etapa a comunidade é inserida no processo de territorialização refletindo junto aos residentes e equipes envolvidas. Para tanto, utilizam-se como instrumentos: diário de campo, onde são registradas todas as impressões que os residentes e/ou profissionais concebem do território, entrevista semi-estruturada e/ou rodas de conversas com moradores e a aplicação da cartografia participativa onde a comunidade faz o próprio mapa contemplando o sentido e o significado de viver naquele lugar. Na etapa quantitativa, exploram-se os elementos da dimensão técnica, caracterizando o território a partir dos indicadores demográficos, sociais e epidemiológicos. Nela utiliza-se um instrumento elaborado na disciplina de território em saúde que permite uma caracterização rápida do território, onde há a agregação de um elenco mínimo de variáveis que permite compreender as condições de moradia, o uso das edificações, a presença de saneamento básico, a população por faixa etária, as condições referidas de saúde e as prioridades descritas na Política de Atenção Básica, além de algumas variáveis socioeconômicas. Na etapa cartográfica é feita uma interface entre todas as dimensões do território, além da cartografia participativa (elaborada na etapa qualitativa), um mapa síntese é confeccionado. O mapa elaborado apresenta as subdivisões das microáreas dos ACS destacando elementos fixos dos territórios, naturais ou construídos. Sendo eles: ruas, becos, escadarias, edificações, etc., evidenciando no mapa as condições de risco existentes. O mapa mostra também a distribuição espacial das morbidades e condições referidas, assim como riscos e possibilidades por família, obtendo-se uma síntese do território a partir da percepção popular e técnica. Após a realização das três etapas é realizado um planejamento participativo com a presença da comunidade, da instituição de ensino (residentes e tutores), dos profissionais da eSF e eNasf e dos gestores, destacando os problemas prioritários do território e a intervenção para eles. Assim, o processo de trabalho dos residentes e das equipes é organizado a partir da realidade do território. Os resultados obtidos com essa experiência apontam a importância desse processo enquanto um espaço de educação permanente, visto que supre lacunas substanciais da formação e traz um novo significado para o trabalho a partir da ampliação do olhar para as reais necessidades do território. Sob essa ótica, podemos destacar os benefícios advindos desse processo, como a percepção qualitativa da vida no território, sobretudo com a inclusão dos comunitários enquanto sujeitos; a compreensão do território em suas multidimensionalidades; a possibilidade de cruzamento entre as variáveis quantitativas; além de permitir a visualização das condições de vida e saúde da comunidade com a confluência do saber popular e técnico. Um dos impactos mais significativos é o reconhecimento da magnitude do trabalho pelos atores envolvidos, no momento da conclusão do processo a culminância das experiências entre eles reflete numa sensação de prazer coletivo e de um novo sentido para o trabalho. Podemos concluir que a condução do processo de trabalho sob a luz do território vivo pressupõe a escolha de caminhos metodológicos que ampliem a forma de ver e consequentemente de atuar no território e envolvendo a comunidade em todo o processo, inclusive no planejamento participativo. Pois, para além de análise dos bancos de dados, quantificação das informações e conhecimento dos indicadores socioepidemiológicos, é preciso observar, sentir, cheirar os territórios, assim como, ouvir os sujeitos signatários que tornam o território vivo e dinâmico.