203: A Educação Permanente em Saúde no cotidiano de sistemas e serviços de saúde
Ativador: A definir
Data: 31/05/2018    Local: FCA 02 Sala 06 - Jaraqui    Horário: 15:30 - 17:30
ID Título do Trabalho/Autores
4508 Educação permanente para as redes intersetoriais: construção coletiva de saberes-ferramentas de cuidado, proteção e cooperação.
Márcio Mariath Belloc, Károl Veiga Cabral, Carla Denise Leão, Belchior Puziol Amaral, Michele Eichelberger

Educação permanente para as redes intersetoriais: construção coletiva de saberes-ferramentas de cuidado, proteção e cooperação.

Autores: Márcio Mariath Belloc, Károl Veiga Cabral, Carla Denise Leão, Belchior Puziol Amaral, Michele Eichelberger

Trata de um trabalho desenvolvido em Porto Alegre no ano de 2017, no âmbito do Projeto Redes da Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC) e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Com a entrada do Projeto em território, várias questões já identificadas pelas gestões e pelos trabalhadores, bem como questões ainda latentes, acabaram por ser levantadas, colocadas em pauta. Eram basicamente aspectos do cuidado e da proteção das pessoas com problemas decorrentes do uso de drogas, em especial, mas não exclusivamente, das mulheres vítimas de violências e vulnerabilidades. Além das formas, por vezes diametralmente opostas, de lidar com esse tema no cotidiano dos dispositivos de atenção, assistência, proteção e educação, apresentava-se também o não reconhecimento dos próprios saberes já contidos no trabalho vivo desses atores. Desta forma, junto com os parceiros acima citados, estruturamos uma proposta de intervenção no âmbito da educação permanente para as redes intersetoriais. E sendo um processo de educação permanente, necessariamente devia partir das demandas dos territórios, da macro e micropolítica do cuidado e proteção, e ocupar espaços já estabelecidos, ocupar a agenda dos dispositivos, suas possibilidades de encontros e articulações. Neste sentido, partimos das nossos encontros com os territórios e de um levantamento já feito entre os trabalhadores nos quais os temas mais demandados para formação eram a questão álcool e drogas, a redução de danos e o trabalho com saúde mental. O desafio começou por construir este processo sem atrapalhar o funcionamento dos dispositivos e tampouco interferir demasiadamente nos espaços intersetoriais autogebstionados já existentes – pensando que, por exemplo, a realidade já era de falta de trabalhadores no caso da assistência e de falta de serviços no caso da saúde, frente a uma demanda cada vez maior da população – e ao mesmo tempo poder operar desde o cotidiano de trabalho destes dispositivos. Cabe destacar que, com o cenário nacional e estadual em crise e a falta dos repasses sistemáticos, todas as redes, de todos os municípios, estavam afetadas. Não obstante, outro desafio importante se interpunha, pois imersa na articulação das redes intersetoriais em acompanhamento das mulheres vítimas de violências e vulnerabilidades, a própria equipe local do Projeto Redes tanto vislumbravam a necessidade da educação permanente quanto se ressentia de tempo para colocá-la em ação junto às equipes de nossos territórios de atuação. Contudo, sabedores de que o principal motivo de alegação (que muitas vezes pode ser traduzido como desculpa) para na constituir espaços de educação permanente junto às equipes é a justamente a falta de tempo, não poderíamos deixar de reconduzir a estruturação de nossas ações, colocando a educação permanente já contida em planejamento estratégico, na estrutura de um projeto transversal, matriciador do próprio trabalho desenvolvido de articulação e acompanhamento das mulheres. A proposta, então, se estruturou a partir das regiões de Porto Alegre nas quais já estávamos inseridos: Centro/Santa Cecília e Restinga/Extremo Sul. Conversando com os territórios e os espaços já constituídos de encontros intersetoriais, chegamos em uma proposta de realizar os encontros do Centro/Santa Cecília dentro das reuniões gerais de rede intersecretarias, que ocorrem mensalmente nas quartas-feiras pela manhã, utilizando a última hora para o trabalho para a educação permanente, além de uma terça por mês pela manhã, fechando assim o trabalho quinzenal. Na Restinga também utilizamos um encontro intersetorial já existente, de caráter mensal, construído já no âmbito da articulação social do Redes, acrescido de mais um encontro quinzenal às terás-feiras pela manhã. A ferramenta da educação permanente nos parece extremamente potente para apoiar as equipes na manutenção de espaços de discussão e pactuação da condução de casos, especialmente mantendo uma sistemática de encontros que garantam a pluralidade de serviços envolvidos. Propusemos trabalhar com casos marcadores, conduzindo o debate para situações pertinentes ao cotidiano de trabalho, seus desafios diários de encontrar saídas e apoio tanto para os usuários que acompanham quanto para mutuamente se apoiarem frente à difícil tarefa de acompanhar a vida das pessoas. A ideia foi problematizar o vivido, questionar e tentar encontrar outras respostas e mesmo constituir novos problemas, novas formas de indagar o cotidiano, buscando desenvolver uma inteligência de escuta do vivido, produzindo atos de aprendizagem relativo às intervenções que produzimos diariamente nos atos de cuidado e de gestão. Ainda sobre a essa especifica construção modelagem de processo de educação permanente, também a possibilitou o fortalecimento daqueles grupos como coletivos, que podem operar o cuidado de forma conjunta, apoiando-se tanto nas reflexões que possam produzir, quanto nas intervenções que possam realizar. Trabalhando em coletivos as diferentes equipes puderam constituir uma coesão necessária ao processo de cuidado, sendo capazes de se comunicar e agir conjuntamente, sem no entanto perderem suas singularidades. Conjuntamente é mais fácil de resistir ao modelo hegemônico vigente e aprender a cooperar, a negociar, podendo assim construir outras soluções, permitindo que se abram outros caminhos aos usuários, mantendo a potência de ousar, de criar. Trata-se do trabalho cooperativo como forma de vencer os obstáculos postos pelo tecido social no qual vivemos. A ação conjunta identificada e tomada como dispositivo no trabalho vivo das equipes, colocando o acento na experiência cotidiano flexível e pouco formal. Evidentemente não é tarefa fácil cooperar frente às realidades de precarização dos dispositivos de cuidado e proteção, ainda mais em um contexto em que o discurso hegemônico tensiona para a superespecilização e sua tradução no cotidiano das equipes de fragmentação das ações. Aliado a este enorme desafio também há um modelo de sociedade na qual a competição é a norma, com um desenho urbano demasiado homogêneo e rígido, com pouco ou quase nenhum espaço para a experiência compartilhada. Desta forma, um projeto como este de educação permanente, envolvendo temas que também tem muitas vezes uma resposta moral, estigmatizante e até mesmo iatrogênica, tem também as cores de um esforço para recuperar a capacidade de cooperar com pessoas diferentes de nós mesmos, de escutar de forma ética o discurso do outro sem cair na tentação do julgamento. Neste sentido, trata-se da cooperação como habilidade a ser desenvolvida, investida, como encontro, como apoio mútuo para chegar a um benefício comum, desenvolvendo a capacidade de respeitar as divergências e desigualdades presentes em todos os contextos sociais. Neste trabalho pretendemos apresentar e discutir essa experiência, desde a dimensão dos tensionamentos que a fizeram possíveis, dos desafios e limites, mas também da produção de encontro e vida na criação de caminhos cooperativos.

4077 FORMAÇÃO DE GESTORES PARA O SUS – A EXPERIÊNCIA DO DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Adriana Almeida

FORMAÇÃO DE GESTORES PARA O SUS – A EXPERIÊNCIA DO DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

Autores: Adriana Almeida

A formação em Gestão para o SUS ainda é uma prática timidamente abordada nas Instituições de Ensino e Instituições formadoras. Recentemente, além de uma ampliação da abordagem desta temática nos cursos de graduação e da criação de um curso específico com este tema, tem havido um crescimento de cursos de pós-graduação, dentre eles, os cursos com formação em serviço. O Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde (DAB/MS) vem, desde 2011, aprimorando seu papel de formador em gestão, em parceria com instituições parceiras de diversos estados do país, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), a Escola Superior de Ensino em Saúde (ESCS), a Escola de Saúde Pública (ESP) entre outras. Ao longo desse tempo, o Departamento formou um coletivo de preceptores, distribuídos por todas as coordenações, que se responsabilizam por acompanhar os residentes, de acordo com uma organização pedagógica desenvolvida por este grupo de preceptores. Esta organização consiste em garantir que os residentes consigam, durante o período de imersão, conhecer as estratégias de i) planejamento, orçamento e monitoramento; ii) apoio ou articulação interfederativa, articulação interinstitucional e articulação intrasetorial e iii) estratégias de educomunicação das frentes de trabalho em que estão inseridos. Ao longo do tempo, o grupo de preceptores entendeu que o mais adequado é que o residente esteja fixado em uma frente de trabalho para se aprofundar em um processo de trabalho e, a partir dele, conhecer a organização do Departamento. Também definiram um período mínimo “ótimo” para esta imersão, que é de 2 meses, no mínimo. Durante o ano de 2017, foi estabelecido um cronograma com 5 entradas para os residentes, a partir deste desenho, foram inseridos todos os residentes que solicitaram a realização de estágio no DAB, possibilitando a interação entre residentes de programas diferentes, além de um alinhamento de ofertas por parte das coordenações e preceptores. Ao longo do ano, 34 residentes, de sete programas diferentes passaram pelo Departamento. Todas as coordenações do Departamento foram envolvidas no processo de preceptoria, possibilitando que os residentes conseguissem conhecer o funcionamento do Departamento através do acompanhamento das ações realizadas em cada frente de trabalho. Entre os pontos positivos desse desenho, está a integração e troca de experiências entre os residentes dos diversos programas, garantindo a troca sobre as ações do DAB. A fragilidade da proposta se deu na grande carga para os preceptores, com imersões muito próximas, com poucos espaços de alinhamento e troca entre os preceptores ao longo do ano. Ainda assim, a aposta tem sido considerada muito positiva e o Departamento segue investindo na formação de profissionais para o SUS.

2088 Troca de saberes e afetos: uma experiência de educação permanente na Estratégia de Saúde da Família
Arthur Grangeiro do Nascimento, Francijane Diniz de Oliveira, Leandra Ferraz de Miranda Henriques, Ivonete Silva Carneiro Monteiro, Isabel Cristina Oliveira Sobral, Márcia Rangel dos Santos Tavares

Troca de saberes e afetos: uma experiência de educação permanente na Estratégia de Saúde da Família

Autores: Arthur Grangeiro do Nascimento, Francijane Diniz de Oliveira, Leandra Ferraz de Miranda Henriques, Ivonete Silva Carneiro Monteiro, Isabel Cristina Oliveira Sobral, Márcia Rangel dos Santos Tavares

Apresentação: A ruptura com o modelo de atenção centrado em doenças, hospitais e tecnologias duras só poderá ser alcançada, além de outros fatores, a partir da compreensão, por cada profissional, de seu próprio processo de trabalho. Foi com esse objetivo que em 2007 o Ministério da Saúde lançou as diretrizes para implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Esta política faz parte de um rol de esforços efetivar o que exige o inciso 3 do artigo 200 da constituição federal do Brasil, onde “atribui ao SUS a competência de ordenar a formação na área da saúde.A dimensão de educação permanente considerada neste trabalho é a que se pauta por relações horizontais de compartilhamento e construção conjunta do conhecimento. Sua essência está no objetivo de transformar realidades, no movimento a partir da inquietação, do incômodo de uma situação, fato ou modelo vigente e, por isso, deve partir dos problemas cotidianos concretos, pensa-los, coloca-los em questão, analisa-los e transformá-los numa situação que atenda as necessidades coletivas. Objetivo: O presente trabalho tem o objetivo de relatar a experiência de um processo de educação permanente com duas equipes de saúde da família de uma Unidade Básica de Saúde do Município de Recife – PE.Descrição da experiência: Para a realização dessa intervenção, foram realizados encontros mensais de educação permanente, com duração de seis meses, com a participação de agentes comunitários de saúde (ACS), técnicos de enfermagem, enfermeira, médicas, cirurgiã dentista e residentes do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde da Família (uma enfermeira, uma farmacêutica, uma terapeuta ocupacional, uma fisioterapeuta e um nutricionista). O percurso metodológico para condução do processo de educação permanente utilizou metodologias ativas, que perpassaram pelo compartilhamento das historias de cada profissional individualmente, até a importância de cada profissão para o desempenho do trabalho no coletivo, nos quais foram utilizadas abordagens como a Tenda do Conto e Mapas Analíticos; e estudos sobre os instrumentos de visita domiciliar, que podem contribuir para o processo de trabalho. A Tenda do Conto foi o ponto de partida de todo o processo. Buscando promover o autoconhecimento dos membros da equipe de saúde, bem como a identidade e o amadurecimento de seus componentes, foi proposta a ideia de, a partir de um objeto representativo de sua atividade profissional, essas pessoas explorassem histórias de suas vidas e de seus trabalhos. Antecipadamente, avisados para escolherem e levarem esse objeto ao encontro marcado se formou um círculo e se iniciou esse momento integrativo com a divisão do grupo em duplas para realização de massagem corporal. Este momento foi finalizado com a dinâmica do nó, onde cada um dava as mãos a pessoas diferentes e que não estavam ao seu lado, entrelaçando o grupo, que precisou estar unido e integrado, desatar o nó formado e retornando ao grande círculo formado.Já os mapas analíticos são instrumentos para análise do processo de trabalho para ser utilizado pelos próprios trabalhadores no cotidiano de seus serviços. A construção de mapas analíticos se dá a partir de um debate coletivo com contribuição de “disparadores” da discussão, que vão sendo delineados por cada ator que se coloca. A aposta nesse instrumento é por uma cartografia impulsionada pelo desejo, pela subjetividade, pelas afetações que irão gerar fluxos conectivos entre os debatedores e cartógrafos da micropolítica do trabalho. Tem como objetivo, também, a exposição de subjetividades, fluxos de intensidades, desejos, conflitos, processos de subjetivação, os processos de captura dos atos produtivos, a liberdade, revelação das concepções sobre trabalho, saúde, cuidado, ética, política e suas relações com o cotidiano. A utilização dos mapas analíticos foi, num primeiro momento, para disparar a discussão sobre os diferentes papéis de cada profissional da equipe de saúde na perspectiva de alteridade e reconhecimento mútuo. Ou seja, foi realizado o exercício para que cada núcleo profissional descrevesse, além de sua própria função, a de um núcleo distinto do seu. Os grupos de núcleos profissionais foram divididos e receberam duas cartolinas, uma no formato retângulo e outra no formato de círculo. Para o primeiro formato, cada profissional descreveria as funções de seu próprio núcleo profissional, e para o segundo formato, de um núcleo profissional distinto do seu, estabelecido por sorteio.  Cada grupo expos o que escreveu nas cartolinas seguindo-se de um debate produtivo em que surgiam novos elementos em relação à organização da equipe e à concepção que uns profissionais tinham sobre outros. Ao final foi lida as atribuições de cada profissional de saúde presente na Política Nacional de Atenção Básica, gerando mais uma rodada de discussões. Esse momento foi de grande troca de saberes, de reconhecimento mútuo, demonstrando que, mesmo com a convivência diária, ainda há muito que aprender sobre o papel de cada trabalhador presente na equipe. Isto gerou uma reflexão da importância destas atividades para o fortalecimento do trabalho em equipe. O encontro seguinte utilizou os mapas analíticos para discutir quatro elementos das práticas cotidiano de trabalho: os atos indispensáveis ao trabalho, os atos inúteis, os desafios e as alternativas. O debate em torno desses temas que tiveram seus registros em cartolina. Após ser elencado todos os pontos de cada tema, o grupo, em conjunto, avaliou quais pontos se caracterizam como prioritários do ponto de vista de relevância e viabilidade. Sobre os atos indispensáveis, além dos pontos imprescindíveis como “ser resolutivo”, “dar continuidade ao cuidado” e “ter comprometimento”, a identificação das necessidades das famílias foi classificada como indispensável, somando-se ao desafio da “seletividade das visitas” deu origem à construção de uma alternativa nova, além das elencadas antes do início do exercício de classificação das prioridades. A alternativa prioritária foi a utilização de um roteiro para visita familiar que seja capaz de identificar as necessidades das famílias de modo integral e que dê condições para organização da demanda, facilitando a seletividade de visitas domiciliares.Resultados: O primeiro momento desses encontros foi necessário, já que a troca de afetos estimulou a coesão do grupo e facilitou a comunicação das ideias de cada ator envolvido, os encontros seguintes foram marcados pela maior fluidez das relações do coletivo. Durante essa experiência foi observado aspectos como um maior conhecimento do papel de cada ator entre si e da equipe de forma conjunta, a identificação dos desafios e principais problemas da equipe, bem como, as ações que eram necessárias e as que estavam obsoletas dentro do processo de trabalho. Desse modo, ficou claro a maior compreensão que o grupo obteve do seu processo de trabalho e qual o ponto de partida, viável e ao seu alcance, para resolver os principais entraves identificados.Considerações finais: O processo de trabalho não envolve apenas a dimensão técnica, os instrumentos “duros”, mas também uma série de fatores que envolvem as relações humanas como os processos de subjetivação, os sentidos que cada profissional dá ao seu trabalho, os significados que são construídos individualmente dentro da equipe, os afetos. A experiência aqui relatada partiu dessa consideração e observou sua importância. A maior compreensão do processo de trabalho por cada profissional foi evidenciada, demonstrando a necessidade da educação permanente em saúde na perspectiva aqui considerada.

1343 EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE INDIGENA: estratégias e potencialidades na Casa de Saúde do Índio, Parintins, Am
Elaine Pires Soares, Marilene Dias Granado, Ana Tereza Pinheiro Azedo, Solane Pinto de Souza, Luene Costa Silva, Ândria Soares Tavares

EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE INDIGENA: estratégias e potencialidades na Casa de Saúde do Índio, Parintins, Am

Autores: Elaine Pires Soares, Marilene Dias Granado, Ana Tereza Pinheiro Azedo, Solane Pinto de Souza, Luene Costa Silva, Ândria Soares Tavares

APRESENTAÇÃO: O presente estudo é fruto do trabalho de conclusão do curso de Especialização em Saúde Coletiva com ênfase em Saúde da Família e Saúde Indígena. Tem por finalidade apresentar através de relato de experiência a Educação Permanente em Saúde (EPS) Indígena em Parintins. O objetivo deste trabalho visa demonstrar a importância de se conhecer a Saúde Indígena, a organização estrutural da atenção à saúde destinada a esta população, com enfoque para a Casa de Saúde Indígena (CASAI), as estratégias e potencialidades de Educação Permanente em Saúde desenvolvida por seus profissionais na busca pela integralidade do cuidado para a população indígena no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Parintins. DESENVOLVIMENTO: A metodologia utilizada foi um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência, cuja abordagem realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza, ela se volve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas. O período avaliado compreende os anos de 2015 e 2017 (julho de 2015 à julho de 2017 especificamente). A experiência inicia-se a partir do olhar voltado para a EPS através da orientação realizada às enfermeiras, acadêmicas do Curso de Especialização em Saúde Coletiva com ênfase em Saúde da Família e Saúde Indígena, coautoras deste trabalho, visto que em janeiro de 2015 a EPS foi implantada no DSEI Parintins, e com a disseminação de informações e motivação das mesmas implantaram a EPS na CASAI. Em julho do mesmo ano foi elaborado o Plano de Ação Estratégico para os municípios de Maués, Nhamundá e Parintins e as acadêmicas inseriam ações de EPS para serem desenvolvidas pelos profissionais da saúde indígena no DSEI Parintins. RESULTADOS: O DSEI Parintins localiza-se a leste do Estado do Amazonas na região do Baixo Amazonas e está localizada a 369 km (em linha reta) da capital Manaus, fazendo fronteira com o estado do Pará. Possui população indígena de cerca de 13.033 habitantes distribuídos nas etnias Sateré- Mawé e Hyxkaryana. Na área indígena demarcada, existem 12 (doze) Pólos Base onde as equipes multidisciplinares de saúde indígena (EMSI) atuam durante cerca de vinte dias ininterruptos com folgas de dez dias na cidade. A reserva indígena dos Sateré-Mawé possui 788.528 hectares (ha) e abrange os municípios de Barreirinha, Maués e Parintins. As terras dos Hyxkaryana possuem 1.049.520 (ha) e abrange o município de Nhamundá-Am. Estas populações recebem atendimentos prestados por Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI), e quando não tem seus problemas de saúde resolvidos nas aldeias e Pólo base, são referenciados para as Casas de Saúde do Índio (CASAI), localizadas nas sedes municipais onde passam por avaliações clinicas, investigação diagnóstica e tratamento de patologias, obedecendo ao que dispõe a legislação brasileira.  As CASAI são estruturas que não executam ações médicos-assistenciais, são locais de recepção e apoio ao índio, que vem referenciado da Aldeia/Pólo-Base. Elas têm como função agendar os serviços especializados requeridos, acompanhar os pacientes para consultas, exames subsidiários e internações hospitalares; fazer a contra referência com a rede do SUS e os Distritos Sanitários, prestar assistência de enfermagem e continuar o tratamento após alta hospitalar e em fase de recuperação até que o índio tenha condições de voltar para a aldeia, dar suporte a exames e tratamento especializados, fazer serviço de tradução para os que não falam Português e viabilizar seu retorno à aldeia, em articulação contínua com o DSEI. A Casa de Saúde Indígena de Parintins (CASAI/Pin) fundada no ano de 2001 localiza-se à Rua Francisco Augusto Belém, nº. 64, bairro de Santa Clara. É uma unidade de caráter distrital, adstrita a Secretaria Especial de Saúde Indígena – SESAI/MS, voltada para a promoção de saúde e prevenção de doenças dos povos indígenas aldeados das etnias Sateré-Mawé e Hyxkaryana para receber atendimento de média e alta complexidade junto à rede do Sistema Único de Saúde. Recebe, aloja e disponibiliza alimentação aos pacientes encaminhados e acompanhantes, presta assistência de enfermagem 24 horas por dia, marca consultas, exames complementares e internações hospitalares, providencia o acompanhamento dos pacientes nessas ocasiões e o seu retorno às comunidades de origem, acompanhados das informações sobre o caso. Também promovem atividades de educação em saúde, produção artesanal, lazer e demais atividades para os acompanhantes e mesmo para os pacientes em condições para o exercício dessas atividades. Na CASAI Parintins a EMSI responsável pela assistência é constituída por: 01 gestor, 05 enfermeiros, 02 assistentes sociais, 01 nutricionista, 01 técnico administrativo, 08 técnicos de enfermagem, 01 auxiliar de enfermagem, 04 atendentes de enfermagem,02 intérpretes, 06 motoristas, 03 auxiliar de serviços gerais e 04 vigilantes. Dentre essa organização, no que tange as ações de EPS  estratégias e suas potencialidades, as enfermeiras acadêmicas referem que as ações são contínuas, com desenvolvimento mensal envolvendo várias atividades como rodas de conversa, exposição oral dialogada com a utilização de recursos áudio visuais (notebook e retroprojetor), utilização de panfletos, oficinas pedagógicas, de artesanato, biojóias, crochê e pintura, sessão de cinema e danças tradicionais, visando a integração da equipe com os pacientes e acompanhantes, evidenciando o ensino-aprendizagem. Outro aspecto a se considerar trata-se da orientação aos clientes indígenas a respeito do regimento interno da CASAI, a importância da documentação, dever do acompanhante, materiais de higiene corporal e utensílios importantes, normas e rotinas da instituição, cardápio semanal e os casos em especial (hipertensos, diabéticos) e outros, são também colocados nas rodas de conversas, colocando – se em evidencia a escuta qualificada, levando em consideração as dúvidas dos indígenas, com isso proporcionando uma boa aceitação por parte dos mesmos. Neste sentido, percebe-se que a roda de conversa se apresenta como uma das estratégias fortalecedoras do processo do autocuidado. Participam das atividades, a EMSI, pacientes e acompanhantes em tratamento nas CASAI de Parintins. Visualiza-se que a EPS nesta casa de apoio fortaleceu vínculos da equipe com os pacientes, potencializou a produção do cuidado integral e aproximou o conhecimento dos trabalhadores ao saber tradicional em saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este trabalho busca uma reflexão crítica e coletiva para a educação permanente em saúde sob o aspecto de sua utilização como uma ferramenta importante para a transformação das práticas. A educação permanente em saúde tem como proposta propiciar às pessoas que articulam a mudança um conhecimento mais profundo sobre os processos, oportunidades de trocar experiências, de discutir e de construir coletivamente.  A estratégia oportuniza um ambiente mais favorável, mas a mudança concreta se constrói em cada espaço envolvido com a saúde. A potência da proposta está em construir políticas locais e processos de mudança em espaços concretos e propícios para a transformação. É neste sentido que são desenvolvidas as atividades na CASAI Parintins, a integração, a aproximação, a roda são subsídios para o descontruir para construir, para o aprender a desaprender e reaprender  da equipe e a população indígena, visualizando no horizonte à integralidade da atenção à saúde, eixo norteador da proposta de educação permanente em saúde porque direciona o trabalho em saúde para um trabalho transdisciplinar e multiprofissional, processo que fortalece a produção do cuidado.