180: Luz nas ruas, uma conversa necessária
Debatedor: A definir
Data: 02/06/2018    Local: ICB Sala 11 - Murupi    Horário: 08:30 - 10:30
ID Título do Trabalho/Autores
621 A Educação Física e algumas experiências com pessoas em situação de rua
Ranulfo Cavalari Neto, Gleyson Batista Rios

A Educação Física e algumas experiências com pessoas em situação de rua

Autores: Ranulfo Cavalari Neto, Gleyson Batista Rios

Apresentação: A Educação Física (EF) apresenta uma diversidade de campos de atuação, sendo a saúde um deles. As pessoas em situação de rua são uma população com características e demandas próprias, onde o setor saúde não é o único, nem o principal na consolidação de um atendimento justo e humanizado. Objetivo: Refletir sobre a atuação do Profissional de Educação Física (PEF) no cuidado à saúde de pessoas em situação de rua, assim como apresentar os instrumentos utilizados na prática a partir de experiências. Descrição da experiência ou método do estudo: O trabalho do PEF com pessoas em situação de rua não é um trabalho isolado. Para obter sentido em tal prática necessita-se do apoio de outras categorias profissionais (assistência social, psicologia, medicina, enfermagem, técnicos etc.) e de parcerias com outros setores e entidades, para que juntos possam elaborar uma linha estratégica de ação que vá ao encontro com os desejos e as necessidades das pessoas em situação de rua. Em Niterói-RJ, por meio da parceria entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e os serviços de saúde mental (CAPSi e ERIJAD) é realizado um projeto chamado “OCUPA PRAÇA”, com o objetivo de proporcionar e construir outras formas de cuidado com crianças e adolescentes em situação de rua. Essa construção é orientada a partir das necessidades e dos desejos dos mesmos, no qual busca-se de forma horizontal, afetuosa, e democrática a mudança na forma de cuidado hegemônica (prescritiva e verticalizada), para uma concepção de cuidado da Clínica Ampliada. Nesse sentido, a EF se faz presente por meio de oficinas de práticas circenses, esportes, dança e outras práticas corporais. No munícipio de Goiânia-GO o trabalho do PEF acontece através do Consultório na Rua, dando continuidade a uma atividade de convivência musical, que anteriormente era desenvolvida em parceria com um CAPS AD, além de uma atividade inicial articulada com a rede de atenção a pessoas com deficiência e a Universidade Estadual de Goiás, promovendo prática corporal para pessoas em situação de rua com deficiência física e visual. Outras experiências podem ser encontradas, como em Porto Alegre, utilizando o futebol como forma de lazer e cuidado. Resultados e/ou impactos: O trabalho com a prática corporal parte da defesa de que todos têm direito ao lazer. Os resultados dessas experiências, por enquanto, só são possíveis ser mensurados pela relação de cuidado que se amplia com vínculo e acesso a direitos, porém é possível captar pistas do impacto na população atendida com relação a redução de danos e saúde mental. Para os profissionais de saúde, presenciar a ampliação das formas de cuidado através de atividades físicas lúdicas e prazerosas, atividades com música, e atividades manuais, facilita uma postura ético-profissional mais humana e acolhedora.   Considerações finais: A violência presente no território, a desigualdade social, o racismo e a repressão estão presentes na vida dessa população. A ressignificação do território através das práticas da cultura corporal pode possibilitar a construção de um trabalho coletivo, enquanto ferramenta de emancipação e dignidade do ser humano.

1395 POLÍTICAS DE ATENÇÃO AOS IMIGRANTES HAITIANOS EM APARECIDA DE GOIÂNIA
Giovanna Carla Costa Rangel, Marta Rovery de Souza

POLÍTICAS DE ATENÇÃO AOS IMIGRANTES HAITIANOS EM APARECIDA DE GOIÂNIA

Autores: Giovanna Carla Costa Rangel, Marta Rovery de Souza

As migrações de refúgio no Brasil, tem se revelado intensas e diversificadas. Distintas comunidades imigrantes de países como Haiti, Congo, Síria, Nigéria, República Dominicana se mesclam em espaços e nichos econômicos, ampliando seus espaços de migração e circulação no país. Dessa forma, as demandas por serviço de saúde e a necessidade de atenção primária a estes contingentes imigrantes se incrementam, assim como com as novas gerações de imigrantes, nascidas no Brasil. Entendendo que a informação é fundamental para ampliar a qualidade no atendimento à população, foi realizada uma ação de extensão, fruto da parceria entre a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Prefeitura Municipal de Aparecida de Goiânia/Goiás, com foco na população de imigrantes haitianos residentes neste município. O evento teve por objetivo o preenchimento da Ficha de Cadastro Individual e da Ficha de Cadastro Domiciliar e Territorial do sistema  e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) e de um Roteiro Complementar de Informações desenvolvido especificamente para esta ação. Sendo assim, no dia 2 de abril de 2017, estudantes e professores da UFG, servidores do município de Aparecida de Goiânia e voluntários, reuniram-se na Unidade Básica de Saúde Expansul (UBS Expansul) e organizaram equipes de atendimento aos imigrantes haitianos que procuraram a UBS no período de 8:00 às 17:00 hs. Na ocasião, foram oferecidos também serviços (estes abertos à toda comunidade) como orientação ao Trabalho e Emprego, combate ao tráfico humano, orientações sobre equidade e saúde, Assistência Social (CRAS/CREAS), atendimento Odontológico, atendimento Médico e de Enfermagem, vacinação e cadastramento do Cartão SUS. Com a ação, 108 haitianos tiveram as fichas preenchidas, o que vale destacar que a área de cobertura da UBS conta com apenas 1 Agente Comunitário de Saúde (ACS) o que demandaria vários dias para alcançar este número de fichas preenchidas. Além disso foi possível realizar 16 coletas de exame preventivo do câncer de colo do útero; 89 haitianos foram imunizados com 4 tipos de vacinas; foram realizados 24 atendimentos com Clínico Geral, 8 atendimentos com Pediatra e 80 atendimentos odontológicos e foram cadastrados 27 usuários no Cartão SUS. A presença de voluntários fluentes na língua francesa foi essencial para que esses resultados fossem alcançados pois a maioria dos haitianos se comunicam apenas nesse idioma ou em créole, o que dificulta muito ao ACS realizar o cadastramento desses novos moradores, o que por sua vez inviabiliza a utilização desta população aos serviços de saúde daquela unidade básica de saúde. O objetivo da ação foi alcançado sendo considerada satisfatória por todos os envolvidos na organização e execução da mesma. 

1817 Enfermagem na assistência ao Imigrante: Um relato de experiência
BRUNA HELLEN VAZ PIRES, Tarcia Millene de Almeida Costa Barreto

Enfermagem na assistência ao Imigrante: Um relato de experiência

Autores: BRUNA HELLEN VAZ PIRES, Tarcia Millene de Almeida Costa Barreto

Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência sobre a vivência de acadêmicas de enfermagem na ação “Atenção Integral a Saúde do Imigrante”, ocorrida no dia 13 de outubro de 2017, na Rodoviária Internacional - José Amador de Oliveira no município de Boa Vista realizada pela Liga Acadêmica de Enfermagem Saúde e Diversidade, no qual oportunizou aos discentes a reflexão sobre a assistência de saúde prestada ao imigrante. Durante a ação foram aplicado 245 vacinas em 76 imigrantes, dentre elas, Dupla adulto, Hebatite B, Febre Amarela e Tríplice viral, e em seguida distribuído 510 escovas e 248 pasta de dente aos presentes. Com a análise das fichas de atendimentos foi possível notar a prevalência de imigrantes do sexo masculino, 84%, oriundos da Venezuela, com faixa etária entre 18 e 57 anos, com respeito à cidade de origem, 28% imigraram de El tigre, 19% de Valencia, 16% de Maturin, 9% de Anaco, 4% de Caracas, 4% de São Feliz, 4% de Barquisimeto e 16% de outras cidades. No que diz respeito à condição de moradia, muitos deles dormem em barracas, outros no chão da rodoviária, vivendo em condições insalubres e improprias, suscetíveis a doenças e expostos a agravos e danos à saúde. A atuação das ligantes na ação de saúde com os imigrantes contribuiu para formação acadêmica e melhoria da assistência de enfermagem, visto que buscou-se realizar a assistência integral a saúde do imigrante seguindo os princípios da ética, da universalidade e da igualdade do Sistema único de Saúde, que garante o acesso universal as ações e serviços de saúde e uma assistência livre de qualquer tipo de discriminação, preconceito e privilégios. Foi possível praticar habilidades adquiridas em sala de aula, que são essenciais para a profissão. Além de proporcionar aos alunos uma reflexão diante de um cenário de atuação diferente do que costumam vivenciar. Porém observou-se a necessidade de politicas publicas eficientes voltadas a essa população, que aumenta conforme a necessidade de buscar trabalho e moradia, tendo em vista o cenário atual no país de origem. Nota-se, então, a importância de realizar ações de saúdes visando uma assistência eficaz e integral, de forma humanizada, individualizada e holística práticas essenciais na enfermagem.

1948 Itinerários de vida: O uso de álcool e a rua como produtores de subjetividade e realidades sociais
Marinara Nobre Paiva

Itinerários de vida: O uso de álcool e a rua como produtores de subjetividade e realidades sociais

Autores: Marinara Nobre Paiva

INTRODUÇÃO Em regiões metropolitanas compostas por centros urbanos é muito comum a presença de pessoas em situação de rua. Esta população é formada por pessoas heterogêneas de realidades diferentes, mas com situações em comum: a condição de vulnerabilidade social e a falta de pertencimento na sociedade. Diante disto, um dos fatores para a busca de álcool e outras drogas se dá pela vulnerabilidade citada. Por não compreender esta realidade a sociedade os condena mais ainda a marginalidade e despreza o fato de que muitos destes fazem uso de drogas como fuga de inúmeros sofrimentos. Deste modo, a população em situação de rua é atravessada por estigmas e vulnerabilidades. Entretanto, são também permeados por uma invisibilidade social. A partir do momento em os sujeitos não percebem a escassez material desse público, quando os seus corpos se confundem na cidade como se fosse mais um componente do lugar e quando seu sofrimento é silenciado, é desencadeado uma invisibilidade sobre este segmento populacional. Portanto, o objetivo é compreender como se dá a relação do álcool e as pessoas em situação de rua e de que maneira esta droga colabora para seu convívio em sociedade. Analisa-se, portanto, os processos de estigmatização das pessoas em situação de rua. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente trabalho é fruto de uma pesquisa bibliográfica que teve como base de dados Scielo, Lilacs, livros e revistas. Foram utilizados 15 artigos e seu critério de inclusão foram os textos em língua portuguesa compreendidos entre os anos de 2002 a 2017, artigos que abordassem apenas a população de rua e álcool e que fosse de pesquisa qualitativa no campo das ciências humanas. Já os critérios de exclusão foram os artigos de línguas internacionais e blogs sensacionalistas. A análise de dados escolhida é a análise de conteúdo, na qual esta procura dar sentido a determinado documento. A categoria utilizada é a categoria analítica teórica constituída pelos conceitos: pessoa em situação de rua, álcool, drogas, vulnerabilidade, invisibilidade e subjetividade. RESULTADOS E DISCUSSÕES A história da população em situação de rua é ligada diretamente ao surgimento de sociedades pré-industriais e, consequentemente, ao movimento de expansão capitalista na Europa. Para a construção das indústrias na época, muitas pessoas foram despejadas de suas terras, especialmente os camponeses, e nem todos foram acolhidos ou adaptados por esse novo movimento. Gerou assim uma grande população nas ruas, em total desalento. No Brasil, a população em situação de rua cresceu na década de 1980 devido a mudança de regime político no país. Justamente nesse tempo foi o momento que a era da globalização eclodiu, as taxas de desemprego elevaram-se e houve uma intensa depressão econômica. Como resultado, a miséria fez parte da vida de muitos brasileiros e acabaram por ter como “moradia” as ruas, sem outras escolhas. Contudo, ainda hoje é muito comum perceber a presença das pessoas em situação de rua, que infelizmente são vítimas de preconceito e segregação social. São vistos como impróprios para a convivência no mesmo ambiente e ao mesmo tempo como pessoas ameaçadoras. Isso faz com que a repressão seja mais um comportamento negativo com esse público. Em consequência, a higienização se torna uma ação paralela à conduta repressora. Portanto, esse segmento populacional é atravessado por vulnerabilidades e opressões. As dimensões citadas colaboram para que a sociedade estigmatize e, ao mesmo tempo, invisibilize essa população. A invisibilidade da população em situação de rua se dá quando não percebemos a falta de recursos materiais dessas pessoas e quando seus corpos se confundem na cidade, como se eles fossem mais um componente do contexto. Deste modo, não permitimos novos encontros, não conhecemos novas histórias de vida e não entramos em contato para compreender como a rua produz a subjetividade dessas pessoas. A invisibilidade social vai para além de seu significado, onde o sofrimento da população em situação de rua é silenciado, não havendo modos de expressá-lo. Também faz parte desse processo “invisibilizante” os locais onde eles habitam, sendo permeados por uma visão de ameaça, vagabundagem e inutilidade. Buscando modos de sobrevivência a tantas mazelas, discriminação e invisibilidade, uma de suas fugas da realidade é a recorrência ao uso de álcool e/ou drogas. O álcool e/ou drogas têm funções que tangem ao aspecto físico, psicológico e social da pessoa em situação de rua. Dentre elas, estão a alteração da consciência para rememorar experiências passadas; integração em grupos que são compostas pelas mesmas pessoas em situação de rua, pois ela é um elemento socializador; ajuda nos processos fisiológicos da noite, tais como frio e fome, bem como em tempos de solidão, alívio do sofrimento psíquico e constrói processos identificatórios tanto com a rua quanto com o álcool e/ou drogas. Portanto, faz-se necessário a Psicologia ter como premissa de cuidado a política de Redução de Danos, na qual esta se fundamenta em apresentar estratégias de cuidado em saúde e melhoria da qualidade de vida do sujeito, reduzindo danos presentes e possíveis danos futuros que a droga possa acarretar.   CONCLUSÃO A partir do que foi visto, percebe-se que o álcool e/ou outras drogas são elementos que se fazem presente em boa parte da população em situação de rua com uma finalidade que se torna muito clara: a sobrevivência nos espaços das cidades. É importante ressaltar que eles auxiliam a tolerar e suportar a realidade de descriminação, estigmas e invisibilidades que as ruas proporcionam, tornando-se assim uma alternativa possível à essas mazelas. Não a toa, as funções da bebida alcóolica e/ou drogas se referem aos aspectos sociais, físicos e psíquicos. Entretanto, as representações sociais que são atribuídas à população em situação de rua tais como maloqueiros, bêbados, bebum, “nóia”, trecheiros e pedreiros segundo dizem respeito só ao que é perceptível, ao visível, ao palpável. Mas as relações que são mantidas com esses elementos dizem respeito ao não tangível, ao subjetivo, ao intocável. Por este motivo, a população em situação de rua é carregada de estigmas sociais, preconceitos e invisibilidade devido a sua condição, seu estado de morada e por ser ela que nos mostra quem somos na intimidade, que fogem de obrigações que nos permeiam e que nos fazem reconhecer nosso lugar de sujeito. Portanto, cabe à Psicologia acolher e propor o espaço da escuta a esses sujeitos atravessados por angústias e sofrimentos, bem como atuar com a política e estratégia de Redução de Danos. Deste modo, são minimizados danos presentes e futuros que as drogas acarretam, bem como alivia e/ou diminui o sofrimento instalado nessa população que tanto precisam do nosso olhar enquanto sujeito e enquanto ciência.

2544 Saúde e Política da População em Situação de Rua – um relato de experiência.
Nathelly Moretti Freitas

Saúde e Política da População em Situação de Rua – um relato de experiência.

Autores: Nathelly Moretti Freitas

O presente resumo tem por objetivo apresentar um relato de experiência acerca da Saúde e Política da População em Situação de Rua (PSR), de um Município Norte Fluminense - Macaé. Essa população, como em quase todos os outros municípios no Brasil, é pouco reconhecida em termos de assistência social, de saúde e de direitos humanos. Muitos não possuem Registro Geral (RG) - não são conhecidos pelo Estado ou qualquer órgão público. Grande parte das vezes, a assistência negligenciada pelo poder governamental é realizada por organizações não governamentais. Políticas não governamentais e instituições religiosas realizam certos trabalhos vinculando-se em um caráter social e assistencialista. Nesse contexto, pretende-se conhecer as necessidades de ocupantes transeuntes das vias públicas, que muito sofrem com olhares de negação, crítica e discriminação social, através de um Estudo descritivo com abordagem qualitativa e pesquisa aplicada. O Cenário de coleta de dados será o Centro de Referência em Serviço Especializado para PSR (Centro POP); e as ruas do Centro de um Município Norte-Fluminense (Macaé – RJ). Os participantes da pesquisa serão os usuários Centro POP; e pessoas que declaram pertencer a PSR.A técnica de coleta de dados será a partir de um instrumento (questionário), contendo: aspectos gerais, dados sobre a saúde, riscos e higiene pessoal, exame físico, condições psicossociais, entre outros. O tratamento, análise e discussão de recursos envolve interpretação e análise de dados, analise e compreensão das necessidades da População em Situação de Rua que podem ser atendidas por acadêmicos de Enfermagem de maneira extencionista para Promoção da Saúde.Sendo assim, inicia-se uma ação da Universidade por meio dos Acadêmicos de Enfermagem que levarão a promoção da saúde e orientações vinculadas a diversos temas de interesse, como: higiene pessoal, drogas lícitas e ilícitas, Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), direitos sociais e o acesso ao Centro POP, orientações psicológicas e principalmente, realizar uma escuta ativa a um público por muitos oprimidos, descriminados, desconhecidos e invisíveis. Que cumprem as regras de uma população opressora para pertencer e serem reconhecidos pela sociedade.

3094 Corre pra Vida: saúde, assistência, cidadania e promoção de direitos às pessoas em situação de rua
Alessandra Pimentel de Sousa, Lidiane Nogueira Rebouças, Lidiane Nogueira Rebouças, Aline Bezerra Oliveira Lima Câncio, Aline Bezerra Oliveira Lima Câncio, Francisca Ozanira Torres Pinto de Aquino, Francisca Ozanira Torres Pinto de Aquino, Luana Montenegro Freire, Luana Montenegro Freire, John Wesley Delfino Lima, John Wesley Delfino Lima, Ana Paula Costa da Silva, Ana Paula Costa da Silva, Fabiane do Amaral Gubert, Fabiane do Amaral Gubert, Natalia Alexandre Ferreira, Natalia Alexandre Ferreira

Corre pra Vida: saúde, assistência, cidadania e promoção de direitos às pessoas em situação de rua

Autores: Alessandra Pimentel de Sousa, Lidiane Nogueira Rebouças, Lidiane Nogueira Rebouças, Aline Bezerra Oliveira Lima Câncio, Aline Bezerra Oliveira Lima Câncio, Francisca Ozanira Torres Pinto de Aquino, Francisca Ozanira Torres Pinto de Aquino, Luana Montenegro Freire, Luana Montenegro Freire, John Wesley Delfino Lima, John Wesley Delfino Lima, Ana Paula Costa da Silva, Ana Paula Costa da Silva, Fabiane do Amaral Gubert, Fabiane do Amaral Gubert, Natalia Alexandre Ferreira, Natalia Alexandre Ferreira

Apresentação: O Corre pra Vida é um projeto iniciado em 2015 voltado às pessoas em situação de rua, usuários de álcool e outras drogas, que se encontram em condição de extrema vulnerabilidade. Tem-se como objetivo favorecer o cuidado à saúde, o autocuidado, o resgate à cidadania, a promoção de direitos e a reinserção social das pessoas em situação de rua ou em outros contextos de vulnerabilidade social que faz uso de drogas, a partir da articulação de rede intersetorial na garantia da acessibilidade às diversas políticas públicas, possibilitando a construção de um caminho sob a ótica da redução de danos. O Projeto Corrre Pra Vida, atua numa perspectiva de ações em ponto de acolhimento, ações de campo, abordagem e atividades na perspectiva da Redução de danos junto aos usuários; acolhimento, apoio e realização de acompanhamento psicossocial dos usuários, favorecendo o cuidado com a saúde, o auto cuidado e a cidadania; encaminhamentos para a Rede de Atenção de Saúde, de Assistência Social e de Apoio; investimento no processo de reinserção familiar e social da clientela atendida; fomento a inserção da população atendida no mercado de trabalho formal e informal; promoção da autonomia, do exercício da cidadania e participação social; registro, divulgação e combate às situações de violação de direitos com a população em situação de rua, usuários de drogas. Desenvolvimento do trabalho: O projeto encontra-se sob a tutela da Secretaria Especial de Políticas sobre Drogas (SPD), do Governo do Estado do Ceará e é executado através da ONG IDESQ. Inspirou-se na experiência do Projeto Ponto de Cidadania realizado no município de Salvador – BA, iniciativa da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Estado da Bahia em parceria com o CETAD - Centro de Estudos e Terapia de Abuso de Drogas da Universidade Federal da Bahia. Sua implantação em Fortaleza integra as diretrizes estratégicas do programa “Ceará na Trilha da Cidadania” da Secretaria Especial de Políticas sobre Drogas, nos eixos de Acolhimento, Cuidado e Reinserção Social. A população em situação de rua mostra-se como população vulnerável ao uso problemático de drogas e, por vezes, tem maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde e da rede sócio assistencial. Dessa forma o Corre pra Vida mostra-se como importante estratégia como porta de entrada desses sujeitos a diferentes serviços e de articulação com a rede. As ações ocorrem diariamente, no centro da cidade de Fortaleza, Ceará, onde há um ponto de acolhimento (contêiner), que disponibiliza espaço para banho, uso de sanitário, oferta de kit higiene e espaço para escuta qualificada. Além destas atividades são realizadas abordagens de campo em cenas de uso e encaminhamentos/acompanhamentos para a Rede SUS, SUAS e de Apoio conforme a necessidade de cada beneficiário do projeto. Sabe-se que a vulnerabilidade às drogas é potencializada para a população em situação de rua de baixa renda e baixa escolaridade por fatores como a exposição diária à violência; a desmotivação em relação à reinserção social; a falta de perspectivas de um futuro melhor; e os infindáveis apelos de consumo e lazer – sempre inalcançáveis. Assim, a equipe multiprofissional tem realizado ações de campo para abordagem, bem como atividades em praças e em equipamentos parceiros das políticas sobre drogas no território. Além das ações mencionadas anteriormente, diversas atividades são realizadas voltadas aos cuidados com a saúde, redução de danos e garantia de direitos, onde as pessoas beneficiadas pelo projeto podem realizar corte de cabelo, ligações para seus familiares, fazer uso de transporte (conforme avaliação do profissional) para agilizar a realização de consultas, retirada de 2ª via de documentação, encontros familiares, etc; como também participarem de oficinas de rodas conversa, pintura em telas, apresentações artísticas e culturais, que levam o usuário a construir, experimentar, externalizar e refletir suas principais vontades, medos, aflições e anseios, buscando alternativas de convivência, troca de experiências, cultura e lazer, contribuindo para um trabalho terapêutico. Este trabalho envolve características imprescindíveis ao desenvolvimento do indivíduo e valoriza sua emoção, razão, afetividade, cognição, intuição e racionalidade, apostando nas potencialidades individuais e coletivas. Atualmente, a equipe do projeto conta com  profissionais de nível superior (psicólogo, assistente sociail, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta), redutores de danos e pessoal de apoio; e desde a sua implantação em outubro de 2015 já alcançou os seguintes resultados: 423 pessoas em situação de rua cadastradas e mais de 40.000 atendimentos.  Cerca de 150 pessoas passam diariamente pelo container que fica instalado em local estratégico da capital cearense. Os resultados alcançados demonstram a importância de ações deste cunho e a necessidade de inovação nas práticas relacionadas ao resgate da cidadania e atenção integral ao usuário de álcool e outras drogas. Percebe-se imensa satisfação do público atendido, bem como dos profissionais que constroem vínculo com as pessoas, atuando na perspectiva da singularidade de cada indivíduo e no protagonismo de pessoas até então invisíveis socialmente, acompanhando os casos, articulando a rede, ofertando acolhimento e cuidado, minimizando as dificuldades enfrentadas pelas pessoas em situação de rua, onde parte delas, inclusive, é usuária de substâncias psicoativas como o crack. Os profissionais que atuam no projeto realizam reuniões periódicas com intuito de aprimorar suas ações e abordar temas como territorialização, parcerias, metas de atendimento, ações conjuntas com órgãos e entidades congêneres, estudos de casos, acompanhamento de beneficiários, esclarecimentos de dúvidas e outros. Considerações Finais: O projeto é inovador para promoção da saúde, cidadania e reinserção social dessas pessoas que se encontram em extrema vulnerabilidade social, com reconhecimento da sociedade cearense e gerando um serviço de excelência, de grande relevância social, com impacto positivo na vida dos beneficiários e na articulação da rede de serviços locais. A SPD já o desenvolve há 2 anos com aplicação de recursos estaduais para fortalecimento das políticas sobre drogas no Ceará, bem como pretende ampliá-lo para outras regiões do estado que possuem pessoas em situação de rua. Todos os envolvidos acreditam que a continuidade do serviço é fundamental para a construção do cuidado no ‘espaço da rua’, para a garantia dos direitos e redução das iniquidades na saúde da população em situação de rua, tendo em vista a dificuldade que ela tem em acessar os serviços essenciais. O Corre pra Vida surpreende por ser um projeto com profundo respeito pelo ser humano e suas necessidades, ampliando as possibilidades de vida e atuando com base em princípios e valores voltados para a necessidade das pessoas.

4099 CAPSad além dos muros: desafios que a rua nos propõe
Laila Sartori Passos, Arlete Inácio dos Santos, Marianne de Camargo Barbosa, Carolina Sarzeda Reis Couto, Larissa Chagas da Silva, Jessyca Antunes

CAPSad além dos muros: desafios que a rua nos propõe

Autores: Laila Sartori Passos, Arlete Inácio dos Santos, Marianne de Camargo Barbosa, Carolina Sarzeda Reis Couto, Larissa Chagas da Silva, Jessyca Antunes

Este trabalho pretende apresentar a experiência de uma equipe multidisciplinar do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas Alameda (CAPSad) nos cuidados à população usuária de álcool e outras drogas que circula pelo centro da cidade de Niterói/RJ. O trabalho se desdobra enquanto circulamos semanalmente pelas ruas no período da noite, ocasião em que encontramos com essa população. Nesse encontro, temos por objetivo despertar neles a responsabilização pelo uso de substâncias psicoativas, o autocuidado e a autonomia, a partir de estratégias de redução de riscos e danos ao uso de álcool e outras drogas. Nosso trabalho, registrado sempre em diários de campo e/ou prontuários do CAPSad, quando se trata de um paciente já inserido na instituição, tem mostrado questionamentos importantes a cerca dos estigmas que essas pessoas enfrentam. O cuidado com essa população não se restringe apenas ao uso de álcool e outras drogas, visto que é trazido por eles mesmos uma demanda que inclui cuidados clínicos e/ou questões tais como abrigo, alimentação, roupas, banho, retirada de documentos. Desse modo, faz parte do nosso objetivo fomentar a articulação com os demais serviços da saúde e assistência que promovam integralmente o cuidado dessa população. O trabalho na rua tem um potencial de fomentar, na radicalidade, a construção de intersetorialidades, de articulações, justamente porque depende fundamentalmente disso. Além disso, temos como desafio o cuidado do público jovem que não costuma se fixar em algum lugar, mas mantém intensa circulação pela cidade. É na atuação na rua, encontrando com diversas outras instituições como a Assistência Social, Justiça, Educação, ONGs, instituições filantrópicas, que esse trabalho se faz possível no acompanhamento dos jovens em sua circulação. Por fim, apostamos que esse trabalho pode desconstruir os estigmas sobre a população usuária de álcool e outras drogas e tornar visíveis essas pessoas muitas vezes esquecidas.

5433 Sobre a rua
Harete Vianna Moreno, André Rodrigues, André Rodrigues, Heloísa Elaine dos Santos, Heloísa Elaine dos Santos, Lumena de Almeida Furtado, Lumena de Almeida Furtado, Mariana Leite Hernandez, Mariana Leite Hernandez, Naymara Damasceno, Naymara Damasceno, Paula Etlinger, Paula Etlinger, Paula Monteiro de Siqueira, Paula Monteiro de Siqueira

Sobre a rua

Autores: Harete Vianna Moreno, André Rodrigues, André Rodrigues, Heloísa Elaine dos Santos, Heloísa Elaine dos Santos, Lumena de Almeida Furtado, Lumena de Almeida Furtado, Mariana Leite Hernandez, Mariana Leite Hernandez, Naymara Damasceno, Naymara Damasceno, Paula Etlinger, Paula Etlinger, Paula Monteiro de Siqueira, Paula Monteiro de Siqueira

O presente trabalho tem como proposta pensar a rua em sua dimensão ética e política, um “desespaço” – a rua em pedaços, rua em metamorfoses. Partindo de questionamentos feitos por atores pesquisadores e trabalhadores, buscaremos produzir outras visibilidades acerca da rua e de quem produz existência nela. Não se trata de encontrar uma lógica identitária e definitiva do que é a rua, nem tampouco colarmos nas suas visibilidades hegemônicas alimentadas pela mídia, mas de acompanhar as existências que se produzem na rua, seus processos, trânsitos, velocidades e também as relações de dominação e de violências que a atravessam..A grande mídia que difunde modos de ver o mundo e dirige um pensamento coletivo a respeito daquilo que são (podem ser) essas existências, a figura da pessoa em situação de rua, com um mito de periculosidade, que produz nos outros, corpos amedrontados e assujeitados. A população, corpo que clama por espaços “seguros”, reconhece tal grupo como um perigo para a sobrevivência na cidade. Dessa forma, alimentada por apelos midiáticos, muitos defendem a retirada das pessoas em situação de rua, desmanchando uma possibilidade de existência.Tal situação é ratificada quando o projeto da Prefeitura de São Paulo, chamado “Cidade Linda”, traz a ocupação do espaço público pelas pessoas em situação de rua como um problema. A vigilância sanitária, por exemplo, responsável por prevenir, minimizar ou eliminar os riscos à saúde por questões decorrentes do meio ambiente, tende a inviabilizar a existência na rua, pelos riscos que a multiplicação de doenças e pragas, acúmulo de comida ou outros objetos podem representar - talvez, mais para a população em geral, do que para as próprias pessoas em situação de rua. A disputa entre/nas políticas públicas de saúde, habitação, assistência social etc, atravessa as possibilidades do existir sem muros.Num outro polo, mas ainda no âmbito da saúde, o Consultório na Rua, estratégia instituída pela Atenção Básica em 2011 e que tem como objetivo ampliar o acesso da população de rua aos serviços de saúde, de forma itinerante e em parceria com as UBS, permitiu alguma proximidade entre quem vive na rua e um modo de produzir saúde que apostasse nas relações (horizontalizadas).No entanto, o desmonte do SUS e as ações higienistas realizadas pelo governo municipal de São Paulo enfraquecem esse movimento, autorizando em última instância, o seu desaparecimento, seja pela morte em decorrência de hipotermia ou quaisquer outras doenças, seja pela sua retirada do município sem um mínimo de vinculação aos familiares da cidade de origem, apenas assegurando, literalmente, sua passagem de ida. Se antes parecia haver uma certa dificuldade para a saúde pensar a (existência na) rua porque a (existência na) rua não estava na pauta enquanto possível, mas como algo a ser modificado profundamente, agora, com o projeto Cidade Linda, tenta-se impor uma certeza avassaladora: a rua não é pública, ir e vir é direito de poucos e viver na rua é proibido. Há uma heterogeneidade de seres, em ser, na rua, que interessa a uma lógica capitalística proibir de transitar e (des)caracterizá-lo em “mendigo”: a perda da condição financeira - para o que a gentrificação é uma contribuição inegável -, questões de gênero e sexualidade, uso de substâncias psicoativas (também e não apenas), migrações para um estado cuja promessa da vida melhor esconde violências e precarizações, um rompimento com determinado modus operandi. Não há garantias de que se vai para rua por única e exclusivamente falta de opção. Afirmar essa diferença, pode ser mais que um cuidado em saúde; uma ética. Uma política como dispositivo que anula essa diferença, uma aniquilação.A rua é lugar de todos e de ninguém, mas nunca de quem (sobre)vive nela. Das ações higienistas de fogos, bombas e jatos d’água, ao assistencialismo individual ou de pequenos grupos, as iniciativas acabam na mesma intenção: retirar da rua. Instala-se então, um problema: a rua enquanto impossibilidade de existência. Quais seriam alguns atravessamentos e tensões que atuam nesse cenário?Relações de dominação, autoridade e poder se dão em ato na rua, o que acaba por definir quem são os marginalizados. A partir desta expressão que evidencia a desigualdade social, a rua também se mostra em suas contradições e zonas de conflito. Ao mesmo tempo, a rua não pode ser definida somente como zona de dominação, porque ela também é, em si, espaço cotidiano de novas formas de ocupar e construir a cidade.É no chão da rua que o corpo anda, cai, dança, dorme, se aquieta, enche de solidão e se aproxima das pombas. Deste corpo que não se sabe o nome ou cujo nome nos é inaudível, o transitório é o que insiste: fazer do viaduto lar, ocupar um espaço exíguo sob um toldo para tentar se proteger da chuva, colocar a gigante carroça abarrotada de pertences, sons do rádio e pregações na porta do prédio, tem a duração do que é possível. O segurança o manda embora, a polícia o manda embora, o cidadão o manda embora, ele mesmo vai embora.A rua é a cidade, composta pelas relações entre os indivíduos que a habitam. Sua conexão com os demais espaços e lugares configura-se em uma rede que permite a construção de contatos e rupturas, tendo, portanto, uma dimensão política.Diante do que são a rua e a cidade, um desafio se revela. Como permitir que a tensão entre centralidade e mobilidade seja condutora de novos sentidos e significados, construindo zonas de resistência e de pertencimento? Como as pessoas em situação de rua constroem novas maneiras de afetar e serem afetadas que contribuem para a construção de redes culturais, sociais e políticas, pautadas no afeto e na produção de zonas de acolhimento e ruptura com o status quo?A partir desta indagação, um primeiro componente fica evidente. Não é possível falar dos que vivem na rua sem olhar para suas casas e metamorfoses. De onde vem aquele que decide que a rua é seu espaço de morada? É possível definir isso? Não se consegue falar do espaço desvinculado daqueles que o ocupam. A rua ganha sentido a partir do olhar de quem a experiencia. E são múltiplas experiências. Uma infinidade de dor, alegria, morte e resistência: sobrevivência e vida.Corpo e rua são em si a construção de entres que, mesmo no momento da desconexão, desfazem e refazem o que o corpo não suporta e ao mesmo tempo tem como potência. A espacialidade rua, entendida como símbolo/signo, traz consigo a concretude da morte e da potência do sujeito.Na rua o corpo ganha os escudos dos cheiros de lixo e a liquidez do que se esvai e transmuta em um suportar de dor e resistência. Qualquer olhar para a rua, sem a possibilidade de pensarmos sua condição de “desespaço” tende a retirar da mesma o que faz dela o reconhecimento de que em cada pedaço de vida existem capturas e linhas de fuga - visíveis e invisíveis. Um olhar asséptico, observável quando as medidas adotadas pelo governo municipal de São Paulo são de repressão policial, ruptura das estratégias de cuidado e assistência e a tentativa contínua de retirar da rua sua condição primeira: ser pública, indica uma terrível política como dispositivo de extermínio.

3962 OS SENTIDOS CONSTRUÍDOS POR PROFISSIONAIS DE SAÚDE INSERIDOS EM EQUIPES DE CONSULTÓRIOS NA RUA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO SOBRE O CONSUMO DE CRACK POR MULHERES
Gilney Costa, Miriam Schenker, Patricia Constantino

OS SENTIDOS CONSTRUÍDOS POR PROFISSIONAIS DE SAÚDE INSERIDOS EM EQUIPES DE CONSULTÓRIOS NA RUA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO SOBRE O CONSUMO DE CRACK POR MULHERES

Autores: Gilney Costa, Miriam Schenker, Patricia Constantino

APRESENTAÇÃO: O crack mobiliza o imaginário social e em torno dele discursos, práticas e políticas são socialmente produzidos e compartilhados. Embora, nem sempre consensuais tais produções conformam identidades e lugares sociais aos sujeitos. Pesquisa de mestrado em saúde pública que analisou os sentidos produzidos por profissionais de Consultório na Rua da Cidade do Rio de Janeiro sobre o consumo de crack por mulheres. O mesmo se apoiou nas contribuições sociológicas de gênero, na literatura sobre o uso de substâncias psicoativas e nos estudos críticos sobre as políticas de enfrentamento ao crack. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo qualitativo, no qual, os dados foram produzidos a partir da realização de três grupos focais nos territórios sanitários de 4 equipes de Consultórios na Rua da Cidade do Rio de Janeiro, totalizando 25 participantes dos níveis médio, técnico e superior. Os dados foram organizados e analisados de acordo com o referencial das práticas discursivas e produção de sentidos. A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fundação Oswaldo Cruz e da Secretaria Municipal de Saúde da Cidade do Rio de Janeiro.   RESULTADOS: Os resultados indicam que os sentidos construídos pelos profissionais das equipes de Consultórios na Rua sobre o crack são atravessados por mitos, crenças e estereótipos, por vezes, ancorados na percepção empírica desses atores. No que tange às relações de gênero, os dados indicam que nos espaços de uso do crack os valores culturais e ideológicos presentes no circuito “formal” das relações sociais entre homens e mulheres são reproduzidos. Neste contexto, a rua é referida como um espaço que favorece a expressão do masculino, compelindo as mulheres a se masculinizarem como estratégia para lidar com as adversidades que o viver na rua impõe. No que diz respeito à rede de serviços psicossociais, os equipamentos de saúde mostram-se insuficientes frente à complexidade que o cuidado à saúde de usuários de crack e outras drogas demandam, especialmente, as mulheres, que quando não são invisibilizadas pelas políticas públicas de enfrentamento ao uso de crack, são reduzidas à esfera reprodutiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Assim, em que pese o discurso da integralidade na melhoria da política de assistência à saúde de usuários de crack, álcool e outras drogas, um amplo esforço deve ser empreendido no sentido de: (a) incorporar o referencial de gênero nas práticas de cuidado e na política de atenção à saúde do grupo de usuários de crack e outras drogas; (b) expandir a rede de serviços psicossociais, (c) qualificar as práticas dos profissionais para lidarem com a complexidade da prevenção e do tratamento dos usuários de crack, álcool e outras drogas, (d) articular os serviços que compõem a rede de saúde e de assistência social para esse público, e, por fim, (e) reorientar o modelo de atenção à saúde dessa população, segundo os princípios da redução de danos.

1428 PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA NA CIDADE DE MANAUS: Prevenção, tratamento e controle em HIV/AIDS e sífilis
Rosiane PINHEIRO Pinheiro Palheta, Raquel Lira de oliveira Targino, Hudson André Arouca Cauper, Jacqueline Cavalcanti Lima, Maria de Nazaré Feitosa Xaud

PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA NA CIDADE DE MANAUS: Prevenção, tratamento e controle em HIV/AIDS e sífilis

Autores: Rosiane PINHEIRO Pinheiro Palheta, Raquel Lira de oliveira Targino, Hudson André Arouca Cauper, Jacqueline Cavalcanti Lima, Maria de Nazaré Feitosa Xaud

Os chamados Consultórios na Rua (CnaR) são a materialização das estratégias de saúde adotadas que tinham como foco prioritário a abordagem e atendimento aos usuários de drogas em situação de rua. A estratégia é levar atendimento integral à saúde às pessoas que tem dificuldades de acesso aos modelos tradicionais de serviços da rede de saúde.  O objetivo do trabalho foi Identificar as pessoas em situação de rua na cidade de Manaus que precisam de diagnóstico, tratamento e prevenção em HIV/Aids e sífilis através de testes rápidos. Foi realizado teste rápido em 48 usuários durante o período de janeiro a junho de 2016, destes 42,7% foram positivos sendo 27% para sífilis, 15% para HIV e sífilis e 2% para HIV. Destes 21% iniciou o tratamento e apenas 2% destes usuários concluiu o tratamento. É possível perceber que de um total de 37 sujeitos do sexo masculino testados, 29 relataram ser heterossexuais ao passo que 8 relataram ser homossexuais. Dos heterossexuais, 2 tiveram diagnóstico de sífilis e 3 tiveram diagnóstico de sífilis e HIV. Em se tratando dos homossexuais, 5 apresentaram diagnóstico de sífilis e 3 estavam com ambas as patologias. Com relação ao diagnóstico encontrado, 6 apresentaram apenas sífilis, enquanto que 1 apresentou sífilis e HIV. É importante levar em consideração o acompanhamento dos casos que, sem sombra de dúvida, deve ser guiada por uma visão crítica onde possibilite a ação estar ao lado das classes menos favorecidas e facilitar o acesso destas aos serviços de saúde disponíveis na rede.

3591 SAÚDE E MIGRAÇÃO INDÍGENA: A EXPERIÊNCIA DA EQUIPE DE CONSULTÓRIO NA RUA COM OS ÍNDIOS WARAO DA VENEZUELA
Rosiane Pinheiro Palheta

SAÚDE E MIGRAÇÃO INDÍGENA: A EXPERIÊNCIA DA EQUIPE DE CONSULTÓRIO NA RUA COM OS ÍNDIOS WARAO DA VENEZUELA

Autores: Rosiane Pinheiro Palheta

Apresentação: do que trata o trabalho e o objetivo:A Equipe de Consultório na Rua (CnaR) é uma estratégia de saúde adotada em 2014 na cidade de Manaus, que visa a abordagem e atendimento integral á saúde das pessoas em situação de rua. O principal objetivo é ampliar o acesso aos serviços da rede de saúde Perpassando o tripé: atenção básica, saúde mental e redução de danos. Com a onda de migração de indígenas venezuelanos da etnia Warao para a cidade entre 2016 e 2017, mais de 500 indígenas estavam na cidade em condições insalubres e de risco pessoal e social, o que levou o poder local e organizações sociais a elaborar em conjunto, estratégias de acompanhamento e cuidado dessa população para minimizar a situação de vulnerabilidade.  O CnaR foi a equipe de saúde estratégica para o enfrentamento dessa situação, tendo como objetivo principal identificar os problemas e garantir atendimento aos Warao bem como o acompanhamento dos casos a partir de uma metodologia de atendimento que incluiu o posicionamento da equipe dentro do espaço onde havia concentração de maior número de indígenas, no caso, o terminal rodoviário de Manaus e as casas improvisadas ocupadas pelos migrantes. Desenvolvimento do trabalho: descrição da experiência ou método do estudo:A Equipe iniciou um trabalho com os índios venezuelanos a partir de incursões ao território para conhecimento da realidade e para estabelecimento de vínculo. Foi constatado, inicialmente, um número de 180 indígenas vivendo em condições insalubres, sobretudo crianças e idosos, que se encontravam, em sua maioria, com varicela.A equipe estabeleceu uma agenda prévia para realizar as consultas médicas in loco duas vezes por semana acompanhada pela equipe. As consultas eram realizadas a partir de uma mobilização prévia e triagem pela equipe para averiguar a existência de casos de urgência e emergência e as necessidades mais prementes de atendimento.A equipe realizava diversas ações como: viabilização e administração de medicação disponível, orientação na continuidade do tratamento, consulta de enfermagem (orientação do cuidado, aferição de pressão, peso, altura, perímetro cefálico, teste de glicemia dentre outras), orientação psicossocial, mobilização indígena, busca ativa, acompanhamento às consultas e exames e visitas e acompanhamento de casos complexos.O quadro abaixo sintetiza o número de atendimentos por ação durante as consultas médicas no período. QUADRO IIATENDIMENTOS E ATIVIDADES COM OS INDIGENAS ITEM ATENDIMENTOS E ATIVIDADES REALIZADAS TOTAL 1 ATENDIMENTO MÉDICO 5672 ENFERMAGEM 6893 PSICOLOGIA 5624 SERVIÇO SOCIAL 4025 DOMICILIAR 2316 AFERIÇÃO DE PRESSÃO ARTERIAL 3667 PESO 5678 ALTURA 5679 PERÍMENTRO CEFÁLICO 18610 TESTE DE GLICEMIA 7411 RECEITA DISPENSADAS 72412 DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS 1306613 MOBILIZAÇÃO DE INDÍGENA 7514 BUSCA ATIVA 7915 VISITAS AOS INTERNADOS 3316 IDOSOS 2017 PUERPERIO 3818 PUERICULTURA 7319 GRÁVIDAS 2520 NEBULIZAÇÃO 421 REUNIÃO DA EQUIPE 722 REUNIÃO INTERSETORIAL 723 AÇÃO INTERSETORIAL 724 ORIENTAÇÃO EM SAÚDE 7025 ADM DE MEDICAMENTO SUPERVISIONADO 197  TOTAL 18636Fonte: Equipe de Consultório na Rua- CNAR, Manaus, 2017.Os atendimentos médicos são realizados em conjunto com a equipe e todas as consultas são acompanhadas de orientação psicossocial, de enfermagem, atividades técnicas da equipe de técnicos em enfermagem, mobilização e busca ativa e produção e registros e relatórios técnicos. O registro da equipe é importante para ter um perfil mínimo epidemiológico dessa população. Dessa forma, Dentre os dados encontrados, percebe-se um alto índice de indígenas com parasitose intestinal, pediculose, gastrointerite, infecções das vias aéreas superiores, cefaléia e doenças de pele.QUADRO IIIATENDIMENTOS E ATIVIDADES COM OS INDIGENAS ITEM AGRAVOS/PROBLEMAS/SITUAÇÃO ADULTO CRIANÇA TOTAL1 CEFALEIA 47 5 522 IVAS 28 89 1173 DERMATITE 10 22 324 ESCABIOSE 4 19 235 PIODERMITE 3 9 126 PEDICULOSE 9 57 667 HIPERTENSÃO 20 0 208 ITU 6 0 69 MASTITE 3 310 ABSCESSO 3 4 711 GASTROENTERITE 17 49 6612 MICOSE 13 18 3113 PARASITOSE INTESTINAL 46 73 11914 ALGIA  TORÁCICA 4 0 415 VARICELA 1 3 416 ODONTO 7 2 917 ANEMIA 8 2 1018 DOR MUSCULAR 12 1219 HIPERPLASIA DA PRÓSTATA 1 120 DEFICIENTE 1 122 COLESTEROL ALTO 3 323 DESNUTRIÇÃO 2 175 17724 SUSPEITA DE DENGUE 1 125 SUSPEITA DE TB 2 226 GRIPE 5 10 1527 DOR ARTICULAR 2 2  TOTAL 258 537 795Fonte: Equipe de Consultório na Rua- Cnar, Manaus, 2017.Os problemas encontrados têm sido tratados levando medicação e administrando in loco durante as consultas bem como durante as visitas feitas pela equipe e que necessitam de continuidade. Ressalta-se que os casos de pneumonia e tuberculose não aparecem no perfil dos agravos de saúde, pois necessita de encaminhamento à alta complexidade, sendo necessária a busca ativa dos comunicantes para realização de exames para prevenção de casos novos. Esse acompanhamento também foi feito pela equipe bem como a realização de consultas e exames, atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde e nos Prontos Socorros. Em se tratando dos imigrantes o acompanhamento tem sido mais efetivo por tratar-se de indígenas que em sua maioria, ainda preserva exclusivamente, a língua nativa.O acompanhamento é contínuo da equipe aos indígenas de forma que também seja garantida a promoção e prevenção da saúde e não apenas a alta complexidade. Resultados e/ou impactos: os efeitos percebidos decorrentes da experiência:Um dos principais entraves para o trabalho da equipe foi a barreira lingüística uma vez que a maioria dessa população só fala a língua materna e alguns que conseguem compreender o espanhol, tem dificuldade no momento das orientações em saúde e na adesão ao tratamento.Outra situação delicada diz respeito ao acompanhamento na alta complexidade, onde diversas situações de internações eram necessárias e havia resistência da parte dos indígenas, sobretudo, quando envolviam os filhos. Houve alguns casos de evasões porque os indígenas não se adaptavam à alimentação e aos cuidados dispensados. O choque cultural é algo esperado e, levando em conta que são indígenas de outro país, as diferenças culturais são mais exacerbadas e exigiu da equipe maior flexibilidade nas ações.Um aspecto positivo se refere à maior adesão aos cuidados dispensados pela equipe e aos tratamentos oferecidos. Essa adesão ocorreu após reunião feita com os xamãs e pajés sobre as dificuldades nesse processo. Após esse diálogo, houve maior adesão aos cuidados propostos pela equipe.09- Considerações finais:O trabalho tem gerado bons resultados com um volume considerável de insumos e trabalho humano na frente saúde para esta população. Vale destacar que a intersetorialidade é um ponto muito positivo que tem apenas somado para o sucesso da ação. As limitações e entraves têm sido superados não apenas com compromisso da equipe, mas sobretudo com sensibilidade onde o valor humano é a diretriz principal que rege as ações da equipe. Muitos casos foram encaminhados, acompanhados e lograram êxito com a total recuperação da saúde e proteção social dessa população.

2573 Título: Consultório na Rua: dos desafios ao acesso à produção do cuidado.
Paula Monteiro de Siqueira, Laura Camargo Macruz Feuerwerker

Título: Consultório na Rua: dos desafios ao acesso à produção do cuidado.

Autores: Paula Monteiro de Siqueira, Laura Camargo Macruz Feuerwerker

Este trabalho tem por objetivo divulgar resultados parciais de uma pesquisa de mestrado cuja coleta de dados foi realizada no decorrer do ano de 2017.  Tem como objeto de pesquisa as Políticas de Saúde para Populações em Situação de Alta Vulnerabilidade Social. A metodologia empregada foi a abordagem cartográfica e teve como campo de pesquisa o cotidiano de trabalho de uma equipe de Consultório na Rua  (CnaRua) no Munícipio de São Paulo/SP, participação na Comissão de Saúde para a Pessoa Vulnerável do Conselho Municipal de Saúde, participação no Projeto de Extensão A cor da Rua, outros espaços  de discussão e problematização das questões que condizem à Pessoa em Situação de Rua (PSR) tais  como: o Comitê Intersetorial da Política Municipal para População em Situação de Rua – Comitê PopRua, o Movimento Nacional População de Rua (MNPR), dentre outros. Aproximamos-nos desses espaços de maneira que pudéssemos compreender os processos de modo orgânico, participando e constituindo os coletivos de forma ativa e intensificada. Em alguns casos coletamos entrevista e esse material foi transcrito dando corpo a base de dados da pesquisa.A Constituição Federal de 88 garante a saúde como um direito universal de cidadania e dever do Estado a ser provido pelo SUS– Sistema Único de Saúde, que tem como princípios básicos: a equidade, a integralidade, a universalidade da saúde, a hierarquização e a participação da comunidade. Muito embora a saúde seja um direito constitucional há a necessidade de políticas para populações específicas. O princípio da equidade reconhece as necessidades de saúde singulares, sendo que é através das políticas para grupos específicos que se atuaria para reduzir o impacto dos determinantes sociais da saúde. A equidade em saúde remete a uma dimensão política em que atores reais estariam em disputa por projetos distintos no jogo social. Em 2012, a População em Situação de Rua (PSR) foi incluída na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) como alvo das ações das equipes de Consultório na Rua (CnaRua), tendo como objetivo a ampliação do acesso da população em situação de rua aos diferentes pontos de atenção à saúde e da rede intersetorial.Conforme preconizado pelo Ministério da Saúde/M.S. (Brasil, 2012), uma equipe deve cobrir até 1000 pessoas em situação de rua. Sabemos que a PSR é heterogênea e atravessada por demasiada complexidade social, podemos citar uma diferenciação básica, a saber: a população que vive nas ruas daquela que vive em centros de acolhida. Dessa forma, construir parâmetros descontextualizados atribuindo uma cobertura sem problematizar as necessidades apresentadas pelo território pode significar inviabilidade na produção do cuidado, sobrecarga às equipes.O município de São Paulo conta com 28 equipes, todas vinculadas a uma UBS do respectivo território de abrangência. Nota-se que há um excedente de 12 equipes, segundo aquilo que é preconizado pelo M.S., as quais são financiadas com recursos do município. Grande parte destas equipes sobressalentes está vinculada ao Projeto Redenção, que tem seu foco numa região específica do centro de São Paulo denominada Cracolândia. Esta que é alvo constante de ações do poder público, sobre as quais é possível reconhecer interesses específicos, tais como: especulação imobiliária e interesses políticos-partidários. Entendemos que os trabalhadores de saúde compõem essas forças tecnológicas que operam na produção de modos de vida – para captura e para a potência. Assim, questionamos que tipos de práticas incidem sobre o corpo dessas populações? Que estratégias políticas de cuidado operam sobre elas? Por intermédio das atividades desenvolvidas pelas equipes de Consultório na Rua e nas suas práticas que as políticas públicas de saúde materializam-se. Dessa forma, exige-se desses profissionais suportar e viver com os fluxos contínuos das afetações trazidas pelas necessidades da população de usuários, tendo então que acolhê-los e encontrar soluções para resolver ou ao menos amenizar os problemas relacionados à sua saúde. As ações de saúde das equipes de CnaRua buscam atender as necessidades e demandas daqueles que estão em situação de rua por intermédio dos atendimentos em loco, fazendo consultas, administrando medicação, escutando, acolhendo e, na medida da necessidade, encaminhando para outros serviços intra e intersetoriais. Também, usam estratégias diferenciadas em certas ocasiões, tais como busca ativa para tuberculose, terapia comunitária, jogo de futebol, dentre outras ações.As situações vivenciadas pela população em situação de rua complexificam as demandas trazidas para a saúde, portanto as respostas em saúde carecem do apoio e articulação com diversos profissionais e setores. Este cenário nos leva a questionar, o fato do dispositivo CnaRua estar vinculado á uma Unidade Básica de Saúde, e o quanto esta base operacional pode agenciar certos modos de produção do cuidado que sejam insuficientes para suprir as necessidades da PSR. Por outro lado, a política adotada para a atenção à saúde da população de rua tem ampliado e promovido o acesso à atenção básica. No entanto nos questionamos: qual a qualidade do acesso?Muitas vezes o atendimento se dá de forma imediatista, pontual ou sem vislumbrar a continuação do acompanhamento. Isto se dá diante da necessidade de sobrevivência, pois pra quem está na rua é uma luta a cada hora, em que situações de extrema violência surgem de forma imprevista a partir de colegas, do rapa, da Guarda Municipal, da Polícia, da expulsão do albergue. E muitas vezes, tais situações, só podem ser suportadas com o anestésico do álcool e da droga.Apesar dos avanços, ainda há precarização no acesso e violação do direito à saúde dessa população. Uma vez que ainda encontram dificuldades em acessar à assistência de saúde, bem como iniquidades são produzidas na chegada ao equipamento de saúde. Podemos citar, como exemplo, a exigência de comprovante de residência e ou documentos de identificação para matrícula nos serviços de saúde, maus tratos no atendimento em decorrência de aspectos relacionados à ausência de cuidados de higiene pessoal, dentre outros contextos. Tendo em vista toda a complexidade do cenário, muitas vezes o trabalho do CnaRua é de garantir a entrada dos usuários nos serviços por meio do acompanhamento dos Agentes Sociais. Nesse sentido, nos questionamos qual amplitude das políticas e ações de saúde e que sentidos são produzidos de forma compartilhada com os usuários.  Principalmente quando a oferta fica restrita à doença e os usuários não experienciam o vínculo e a continuidade do cuidado.

2509 Título: Mobilização Social da População em Situação de Rua (PSR): visibilidades e possibilidades de garantia e conquista de direitos sociais.
Paula Monteiro de Siqueira, Laura Camargo Macruz Feuerwerker

Título: Mobilização Social da População em Situação de Rua (PSR): visibilidades e possibilidades de garantia e conquista de direitos sociais.

Autores: Paula Monteiro de Siqueira, Laura Camargo Macruz Feuerwerker

Este trabalho tem por objetivo divulgar resultados parciais de uma pesquisa de mestrado cuja coleta de dados foi realizada no decorrer do ano de 2017. Este tem como objeto de pesquisa as Políticas de Saúde para Populações em Situação de Alta Vulnerabilidade Social. A metodologia empregada foi a abordagem cartográfica e teve como campo de pesquisa o cotidiano de trabalho de uma equipe de Consultório na Rua  (CnaRua) no Munícipio de São Paulo/SP, participação na Comissão de Saúde para a Pessoa Vulnerável do Conselho Municipal de Saúde/SP (CMS-SP), participação no Projeto de Extensão A cor da Rua, outros espaços  de discussão e problematização das questões que condizem à Pessoa em Situação de Rua (PSR) tais  como: o Comitê Intersetorial da Política Municipal para População em Situação de Rua – Comitê PopRua, o Movimento Nacional População de Rua (MNPR), dentre outros. Aproximamo-nos desses espaços de maneira que pudéssemos compreender os processos de modo orgânico, participando e constituindo os coletivos de forma ativa. Em alguns casos coletamos entrevista e esse material foi transcrito dando corpo a base de dados da pesquisa. As Pessoas em Situação de Rua/PSR “escapam” ao imaginário normativo do que seria a vida em sociedade, por isso, por muito tempo, foi objeto de intervenção policial e/ou assistencialista. O reconhecimento de que essa população é portadora de direitos é recente e ensejam iniciativas políticas no sentido de assegurá-los. Cabe também  interrogar em que medida e com que propósitos tais “vidas sem valor (ou indignas de serem vividas)” passam a ter valor e relevância político-jurídica. No contexto da sociedade capitalista a desigualdade é condição para que o capital possa se reproduzir e aumentar o seu lucro. Como a riqueza da sociedade se acumula cada vez mais nas mãos de poucos e os recursos destinados para atender aos direitos básicos como saúde e moradia não são suficientes para alcançar a todos que necessitam, a exclusão social e a divisão entre pobres e ricos é acentuada. Somado a isso há o estigma que rotula aqueles que estão na condição de rua como incapazes, como bandidos e criminosos, acentuando a criminalização da pobreza.Diante disso, a mobilização social e a formação de coletivos são importantes para dar visibilidade às populações que são marginalizadas e viabilizar a garantia de seus direitos, bem como a mudança social.Nesse sentido, as políticas públicas, quando tem como foco dirimir a exclusão social, devem centrar sua intervenção nas dimensões econômica, simbólica e sociocultural de forma integrada, centralizando-se na proteção dos direitos sociais, buscando assim a reversão dos processos de exclusão social, bem como dar visibilidade às populações que estão à margem do sistema.Os sistemas de saúde compõem sistemas maiores de proteção social, este sistema maior, inicialmente era constituído pela família e foi ganhando corpo institucional a partir das associações das categorias profissionais e instituições estatais. Tais movimentações podem ser consideradas como uma resposta social de ordem pública a determinadas populações/indivíduos e suas necessidades de proteção que se relacionam com cada contexto e localidade. Quando se trata da saúde, no Brasil, o acesso é pensado de forma universal, há países em que só determinadas populações têm esse direito garantido. Desde a década de 1960, já se viam movimentações por parte da População em Situação de Rua (PSR) em busca de políticas públicas que lhes assegurassem melhores condições de vida. Em São Paulo, a Lei n. 12.316 – de 16 de Abril de 1997, dispõe sobre a obrigatoriedade do poder público municipal a prestar atendimento à população de rua na Cidade de São Paulo. Entretanto, foi após a barbárie da chacina da Praça da Sé (2004), que muitos atos e mobilizações denunciaram as duras condições da vida nas ruas. Estas mobilizações deram corpo, dentre outras mobilizações, ao Movimento Nacional da População de Rua (MNPR, 2005) que se constitui como expressão dessa mobilização organizada em várias cidades brasileiras. Em 2003, houve a contratação de um enfermeiro e um agente comunitário de saúde para trabalhar com as pessoas que vivem na rua (ACSR). Em 2004, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS/SP) implanta o projeto "A Gente na Rua". Neste projeto os agentes comunitários tinham vivência de rua, e esta conquista se deu por intermédio da mobilização de um grupo de pessoas em situação, que buscava maior representatividade dos agentes comunitários, bem como possibilidade e oportunidade de inserção no mercado de trabalho.Em 2008, o Governo Federal apresentou à sociedade brasileira um documento contendo as diretrizes da Política Nacional para a Inclusão Social da População em Situação de Rua, com fins a orientar a construção e execução de políticas públicas voltadas a este segmento social, historicamente à margem das prioridades dos poderes públicos. Esta política visa ”assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação, previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda.” Em 2013 foram criados a Coordenação de Políticas para População em Situação de Rua e o Comitê Intersetorial da Política Municipal para População em Situação de Rua – Comitê PopRua. Este é constituído por nove integrantes do poder público municipal e nove representantes da sociedade civil, dentre eles, pessoas em situação de rua. Este colegiado tem como uma de suas funções criar e monitorar o Plano Municipal de Políticas para População em Situação de Rua (PMPSR, 2016). O plano foi constituído de forma participativa, tendo como norte as necessidades da PSR, e sinalizou ações e elementos para uma Política voltada para a garantia dos direitos. O Plano Municipal é uma importante possibilidade de encontrar caminhos que dialoguem diretamente com as necessidades das pessoas em situação de rua. Os dados levantados através de uma pesquisa realizada pelo Comitê PopRua, sendo os pesquisadores pessoas em situação de rua mostraram as enormes dificuldades de funcionamento dos equipamentos de acolhimento e da implementação das políticas públicas em todas as áreas do campo em questão. Contudo, a fim de que as desigualdades se dirimam é necessária maior radicalidade nas ações políticas no que tange à equidade, sendo que esta deve balizar e instaurar práticas institucionais em que se leve em conta de fato as necessidades dos grupos mais vulneráveis. Dessa forma, constituindo projetos de sociedade e políticas sociais que visem à produção da igualdade social. Principalmente no cenário político atual em que há o desmonte do SUS e das políticas sociais de maneira geral.