179: Tecendo redes à muitas mãos
Debatedor: A definir
Data: 01/06/2018    Local: ICB Sala 10 - Mungunzá    Horário: 08:30 - 10:30
ID Título do Trabalho/Autores
2431 A importância do uso de cuidados paliativos dentro do Programa Melhor em Casa
Ana Paula Macedo, Edson Couto

A importância do uso de cuidados paliativos dentro do Programa Melhor em Casa

Autores: Ana Paula Macedo, Edson Couto

O Município de Estância Velha está localizado na região metropolitana de Porto Alegre, com uma população estimada em 47.287 hab (IBGE, 2017), tendo sua principal atividade econômica na área coureiro calçadista. A rede de saúde é composta por oito Unidades Básicas de Saúde, com oito equipes de Saúde da Família, uma Equipe de EMAD, um CAPS, uma Farmácia Municipal, um Hospital Municipal e Equipe de Vigilância em Saúde. O Programa Melhor em Casa foi instituído no Município em 2014, mas somente em 2017 foi reconhecido a nível federal, através da habilitação de uma Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (EMAD). Durante este período, já foram atendidos mais de quinhentos pacientes com as mais diversas patologias (traumas, amputações, sequelas de acidente vascular cerebral e outras). Este é um serviço indicado para pessoas que apresentam dificuldades temporárias ou definitivas de sair do espaço da casa para chegar até uma unidade de saúde, ou ainda para pessoas que estejam em situações nas quais a atenção domiciliar é a mais indicada para o seu tratamento (Ministério da Saúde, dez.2017). Organização Mundial de Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002, "cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais". O uso de cuidados paliativos dentro do Programa Melhor em Casa no Município de Estância Velha, tem uso recente pela EMAD e é realizado após a avaliação médica e de enfermagem, os quais definem a melhor alternativa de cuidado para cada paciente atendido, dentro das mais diversas patologias. Utilizando vários cuidados paliativos já foram atendidos mais de cem pacientes, dos quais 80% apresentaram melhora das condições de sobrevida, com o uso de medicamentos para alívio da dor, orientações para familiares e acompanhantes sobre a patologia e controle da evolução da mesma. Podemos afirmar que o uso de cuidados paliativos dentro do Programa Melhor em Casa constitui uma importante estratégia de ampliação da qualidade de vida dos pacientes com patologias terminais, bem como estreita os vínculos da equipe com os familiares, usuários e da rede de saúde como um todo.  

3527 O TERRITÓRIO E AS REDES VIVAS DE SAÚDE EM UMA COMUNIDADE FLUTUANTE NO AMAZONAS
ANA PAULA DE CARVALHO PORTELA, JÚLIO CÉSAR SCHWEICKARDT, Cleudecir Siqueira Portela

O TERRITÓRIO E AS REDES VIVAS DE SAÚDE EM UMA COMUNIDADE FLUTUANTE NO AMAZONAS

Autores: ANA PAULA DE CARVALHO PORTELA, JÚLIO CÉSAR SCHWEICKARDT, Cleudecir Siqueira Portela

O presente texto teve como objetivo analisar a territorialidade e a produção de redes de saúde em uma comunidade flutuante denominada Catalão, localizada no município de Iranduba, Amazonas. Trata-se de um lugar composto por 111 casas flutuantes nas quais os moradores produzem redes vivas e existenciais neste território líquido, adaptando-se aos períodos de cheia e seca dos rios. Esta pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, foi realizada em quatro etapas: mapeamento das casas-flutuante com o uso do GPS nos períodos de seca e cheia dos rios; identificação das famílias residentes na comunidade; entrevistas com moradores-chave; e entrevistas com profissionais de saúde que prestam assistência a esta população. Os moradores do Catalão vivenciam diariamente mudanças imposta pelo ciclo das águas, seguindo o fluxo dos rios e adaptando sua rotina aos movimentos constantes deste território líquido. Os períodos de seca afetam praticamente todos os aspectos da vida dos comunitários, sendo descrito como o que mais traz dificuldades, principalmente relacionadas a acomodação das casas-flutuante que precisam permanecer sobre as águas. O período de cheia permite que os moradores tenham facilidade quanto ao deslocamento dentro e fora da comunidade, uso da água e de atividades rotineiras. A comunidade é formada basicamente por pessoas com algum grau de parentesco que produzem redes de conexões que ultrapassam os laços consanguíneos, compondo vínculos que se estabelecem e se fortalecem nesta estreita malha de ligações que envolve trabalho, escola, religiosidade e lazer. Quanto à saúde, são atores que atuam na construção de suas próprias redes de cuidados, estabelecendo diferentes conexões que extrapolam os limites geográficos impostos. Embora estejam vinculados a uma equipe da Estratégia Saúde da Família pertencente a Iranduba, não tem recebido uma assistência contínua e resolutiva da equipe, por isso, recorrem à unidade de saúde mais próxima, em Manaus, buscando atender suas necessidades de saúde. A realidade vivenciada por esta comunidade é apenas uma pequena mostra da realidade do mundo ribeirinho e dos vários territórios líquidos que marcam a Amazônia. Nesse sentido, buscamos refletir como construir políticas públicas de saúde específicas para um território com as caraterísticas dessa comunidade flutuante. Estudos semelhantes a este podem ser ampliados e com proposição de estratégias de enfrentamento destes e outros desafios vivenciados por esta população.

3675 A CONTRIBUIÇÃO DA RAPS NO MANEJO NOS CASOS DE TENTATIVA DE SUICÍDIO
VIVIANE LINS ARAUJO DE ALMEIDA, ELAINE ANTUNES CORTEZ, JULIANA DE GREGÓRIO OLIVEIRA, DANIEL LAPROVITA, BIANCA ABREU GIESTAL FILGUEIRAS, Fernanda Bernardo dos Santos, Fernanda cardoso Corrêa Póvoa

A CONTRIBUIÇÃO DA RAPS NO MANEJO NOS CASOS DE TENTATIVA DE SUICÍDIO

Autores: VIVIANE LINS ARAUJO DE ALMEIDA, ELAINE ANTUNES CORTEZ, JULIANA DE GREGÓRIO OLIVEIRA, DANIEL LAPROVITA, BIANCA ABREU GIESTAL FILGUEIRAS, Fernanda Bernardo dos Santos, Fernanda cardoso Corrêa Póvoa

Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa, com o objetivo de evidenciar a dificuldade do enfermeiro das Estratégia de Saúde da Família (ESF) no manejo dos casos de tentativa de suicídio, seja pelo desconhecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) ou pela não identificação das tentativas de suicídio e seus sinais de alerta resultando na subnotificação das notificações compulsórias e na não captação deste usuário pelos serviços de saúde mental.

4176 Pelos caminhos da integralidade: o que uma usuária-guia pode ensinar sobre a produção de redes de cuidado?
Danielle Abujamra Siufy Nardez, Rosilda Mendes, Viviane Santalucia Maximino

Pelos caminhos da integralidade: o que uma usuária-guia pode ensinar sobre a produção de redes de cuidado?

Autores: Danielle Abujamra Siufy Nardez, Rosilda Mendes, Viviane Santalucia Maximino

O presente trabalho foi apresentado ao programa de Pós Graduação da Universidade Federal de São Paulo como requisito do título de mestre em Ensino em Ciências da Saúde, cuja defesa aconteceu em dezembro de 2017. O objetivo dessa pesquisa foi analisar a conformação das redes constituídas na Atenção Básica na construção da integralidade do cuidado, compreendendo como os vínculos são produzidos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa na modalidade de pesquisa-intervenção que fez uso do dispositivo da cartografia para acompanhar os processos de formação de redes para o cuidado ampliado. A escolha pela abordagem qualitativa e pela cartografia encontrou eco na pergunta formulada e no objetivo traçado para essa pesquisa. Não se tratava de explicar ou medir um fenômeno, mas de investigar e compreender a potência do trabalho em rede na construção prática do conceito ampliado de saúde que abarca tanto as questões sociais quanto as territoriais. A proposta não foi isolar um fenômeno do seu contexto e caracterizar as variáveis, mas sim compreender as conexões presentes nas configurações de rede que se apresentavam no cotidiano do serviço elencado para o estudo. A aposta dessa pesquisa foi mergulhar no universo de sentidos de uma usuária-guia e de uma equipe, dedicando tempo para produzir dados sobre as redes e integralidade do cuidado. O cenário escolhido foi uma equipe de saúde da família de Santos que atua em um território de alta vulnerabilidade há dez anos e que demonstrou disponibilidade para o processo de pesquisa, bem como histórico de atuação em rede. A escolha do usuário como fio condutor dessa pesquisa foi realizada com a equipe buscando dentre os casos, aquele que mobilizou a atenção de todos pelo alto grau de vulnerabilidade e impacto no cotidiano do serviço, considerando ainda sua disponibilidade para participar do processo, vivências significativas nos diferentes pontos da rede, adesão e participação nos serviços. Diferentemente de tomar um sujeito para análise ou realizar entrevistas para a coleta de dados, o usuário-guia é mais abrangente e aproxima-se da construção de uma cartografia uma vez que se propõe a acompanhar a trajetória construída pelos sujeitos e está aberta a revelar os afetos e potencialidades do cuidado produzido em rede. A produção de dados foi realizada por meio de oficinas, sendo quatro com a equipe que tiveram o objetivo de favorecer a participação de todos no desenvolvimento do tema, permitir a elaboração gráfica da trajetória percorrida pela usuária-guia e a produção de conhecimento a partir dos elementos que eles destacaram como favoráveis para construção de redes. A usuária-guia esteve presente em três momentos, sendo dois dedicados a conhecer a sua perspectiva da rede e a construção de seu mapa de afetos e na última oficina no qual foi proposto o desenho de uma rede compartilhada com a equipe, destacando a percepção de cada um a respeito de temas importantes para a produção do cuidado ampliado. Além disso, para a produção de dados ainda foram utilizados os diários de pesquisa elaborados pela pesquisadora e pela equipe e a construção de uma narrativa. Os resultados nessa pesquisa se configuraram como efeitos do processo de pesquisar e os tópicos que emergiram como analisadores das oficinas realizadas provocaram o debate a respeito da característica da produção do cuidado a partir da trajetória de uma usuária-guia pelas redes de atendimento. Dessa forma, os resultados apontam que o modo como a usuária-guia produz seus cuidados revela a relação entre as redes de serviço formalmente instituídas e as redes informais ou “redes vivas”. Mostram também que a afetividade e o vínculo se caracterizaram como vivências únicas para a construção do cuidado integral com destaque para o componente leve/relacional dos vínculos estabelecidos entre a usuária-guia e os trabalhadores e para o acolhimento produzido a partir dessa relação. O caminho percorrido pela usuária-guia deixou marcas importantes no modo de compreender os limites da atuação profissional dos trabalhadores e o papel que as diferentes categorias profissionais assumem na formação das redes e na concepção de cuidado integral. O conceito de integralidade permeou o desenvolvimento da pesquisa e é analisado sob a ótica dos trabalhadores e da usuária-guia, colocando em questão a formação das redes e a temerária visão do conceito como totalidade. A pesquisa permitiu ainda a reflexão a respeito do lugar no qual situamos os usuários nos processos de cuidado que acontecem nos serviços de saúde da rede e qual status que seu sofrimento adquire para os diferentes níveis de atenção, considerando que ser o centro da rede não é sinônimo de protagonismo, uma vez que pode significar estar sujeito aos cuidados previamente definidos pelos especialistas. Nesse sentido nos aproximamos mais do usuário como alvo de cuidados previamente descritos os quais podem se dar à revelia dos seus afetos. O método escolhido para a pesquisa também se constituiu um importante analisador para a produção de dados e mostrou-se revelador de pistas para o processo de pesquisa trazendo importantes questionamentos para o centro da discussão dos resultados proporcionando uma abertura para novas possibilidades de investigação da integralidade e de formação das redes, pontos chave para a análise da produção do cuidado em saúde. A trajetória percorrida ao longo desse processo permitiu conhecer e revisitar alguns conceitos importantes para a prática do cuidado na perspectiva da integralidade e da formação das redes e foram pontos chaves para a análise da produção do cuidado em saúde. As redes são importantes instrumentos para as práticas integradas de cuidado, desde que não enredem o usuário nos desejos dos profissionais, assim como integralidade é desejável como ideal para as práticas desde que não anule a capacidade do sujeito de participar do planejamento de seus cuidados. A integralidade no seu caráter totalizante age assolapando as necessidades de saúde podendo resultar na padronização de comportamentos esperados para as comunidades atendidas. Integralidade tomada pela vertente da intervenção verticalizada e não dialógica pode ser prejudicial à saúde. O afeto foi tema recorrente nas oficinas e esteve presente como forma e conteúdo, consolidando a visão da afetividade como componente importante das relações estabelecidas nas nossas práticas. Incluir o afeto e a afetividade nas práticas não inviabiliza o uso do conhecimento técnico para a compreensão da doença e reforça a ideia que a Atenção Básica é um lugar privilegiado para a constituição de vínculos. O diferencial observado nessa pesquisa é a disponibilidade dessa equipe de suprir as necessidades da usuária, propondo articulações e soluções compartilhadas o que possivelmente deverá ser dar pelos caminhos futuros, uma vez que a rede não parou de ser tecida. Sendo assim, a ideia que se depreende dessa pesquisa não é tomar essa experiência como exemplo e generalizar os conhecimentos que emergiram dessa trajetória, contraponto a ideia de que podemos conhecer o funcionamento geral da rede a partir de uma de suas partes. É possível e desejável reproduzir a cartografia como método e intervenção para a construção de saberes próprios do lugar, ou melhor, caminhar junto com o usuário e apreender os conceitos que se farão presentes a partir daquela realidade, afinal sujeito e objeto compartilham um território existencial e intercessor que se extingue com o fim da experiência e não se repete nem mesmo para os mesmos sujeitos.

4366 A fabricação do Centro Especializado em Reabilitação de São Bernardo do Campo (CERIV/SBC) em rede:uma análise da Política como dispositivo
Valéria Monteiro Mendes, Paula Bertolucci Alves Pereira, Larissa Ferreira Mendes dos Santos, Gislene Inoue Vieira, Laura Camargo Macruz Feuerwerker, Samara Kielmann Almeida dos Reis, Débora do Carmo, Débora Cristina Bertussi

A fabricação do Centro Especializado em Reabilitação de São Bernardo do Campo (CERIV/SBC) em rede:uma análise da Política como dispositivo

Autores: Valéria Monteiro Mendes, Paula Bertolucci Alves Pereira, Larissa Ferreira Mendes dos Santos, Gislene Inoue Vieira, Laura Camargo Macruz Feuerwerker, Samara Kielmann Almeida dos Reis, Débora do Carmo, Débora Cristina Bertussi

Este texto resulta da pesquisa Avalia quem pede, quem faz e quem usa (2013 a 2017) e integra as análises da Rede de Observatórios Microvetoriais de Políticas Públicas em Saúde e Educação em Saúde, que têm apostado em dois planos de exploração sobre o processo de fabricação de Políticas – a genealogia e a análise da Política como dispositivo. Sobre à genealogia, partimos do pressuposto que o exercício genealógico permite compreender as forças que se apropriam de uma questão e o como ocorrem as disputas segundo os valores e sentidos construídos por estas forças. Quanto ao segundo plano, objeto deste texto, consideramos que ele possibilita compreender que, embora as Políticas busquem fabricar processos de subjetivação e operem nessa perspectiva, os atores envolvidos nesta construção produzem múltiplas possibilidades de movimentação. Nosso objetivo é discutir como a Política Nacional de Atenção à Pessoa com Deficiência operou em São Bernardo do Campo quanto à proposta de organização do cuidado em saúde e aos arranjos fabricados pela Secretaria Municipal de Saúde na composição do cuidado à pessoa com deficiência. Trata-se de analisar o dispositivo como um disparador de vetores e de recolher o modo como distintos atores operam neste âmbito. A metodologia adotada foi a cartografia, na qual o método é o encontro. Nesta trilha, encontramo-nos com a questão candente do processo de construção do serviço: fabricar um CER IV em rede. Tal aposta decorreu do movimento de qualificação da rede (2009-2016) e da proposição de diversos dispositivos para sua efetivação (via gestão central, departamentos/serviços e trabalhadores), do que resultou a fabricação de uma outra vista do ponto (e não de outra perspectiva de um mesmo ponto de vista) sobre a produção do cuidado no município, incluindo a temática da reabilitação. O CER foi tecido em SBC a múltiplas mãos, segundo os pressupostos de produção do cuidado compartilhado entre pontos da rede e de arranjos interprofissionais (incluindo familiares/cuidadores), como parte da reestruturação da atenção ambulatorial especializada num contexto de fragmentação da oferta de reabilitação, de invisibilidade para as necessidades desta população e de não previsão da construção de um CER no município. Neste processo foi decisiva a participação da gestão (que disputou a viabilidade do serviço) e dos apoiadores de rede (que ajudaram na produção de visibilidades para o tema e na tessitura de relações do CER com a rede, mesmo com especificidades e permeabilidades distintas para os problemas). Dos resultados apontamos os efeitos na movimentação dos distintos atores (gestores e profissionais do CER, bem como de outros serviços) tendo em vista a aposta na produção de um arranjo em rede que articulasse as estratégias e as ações de reabilitação existentes e que incluísse novos desenhos, desdobrando a proposição do modelo assistencial do texto da Política Nacional. Destaca-se ainda a implicação dos trabalhadores na discussão de distintos arranjos de cuidado que contribuiu para a produção de sentido de pertencimento e de responsabilização e, possibilitou a abertura do serviço para a composição de uma rede nas/entre as equipes e para fora dele. Neste movimento foram produzidos os elementos estruturantes do serviço: o acolhimento não regulado/porta aberta, a interdisciplinaridade e o tema da alta. Sobre o primeiro, a proposta era torná-lo o único mecanismo de acesso (oportuno e necessário) e tal aposta demandou pactuações com a rede, visando recompor a solicitação de atendimentos (distintos encaminhamentos para diferentes profissionais) para reabilitação, tendo sido fundamental nesta construção o papel dos apoiadores. Após um período de realização do acolhimento em dois dias da semana por uma assistente social, houve o questionamento sobre a possível inclusão de alguns casos via regulação, o que provocou o posicionamento da equipe pela continuidade da porta aberta e pela necessidade de recomposição de tal tarefa, que passou a integrar o processo de trabalho no CER (incluindo o importante apoio da recepção). Quanto ao atendimento interdisciplinar, este também assumiu distintas configurações dentro e fora do CER, a depender da necessidade das pessoas, a exemplo do arranjo para usuários com disfagia  e com dores osteomusculares crônicas (que extrapolou os muros do serviço), a reorganização da fila de otorrinolaringologia e a estratégia “vir a ser” (voltada ao cuidado de crianças com risco psíquico não poderiam ser acolhidas no CER, por não apresentarem deficiências e crianças com alguma deficiência que apresentavam tal risco psíquico). Em compasso com estes dois aspectos, o tema da alta também foi incorporado como estruturante, sendo trabalhado com os usuários e seus familiares/cuidadores como parte de um processo de reabilitação para a vida, desde o acolhimento. Percebe-se que o valor atribuído à processualidade (como noção constitutiva da fabricação do serviço) contribuiu para demarcar uma mudança de conceito, de modelo e de cuidado sobre o tema da reabilitação. Fabricou-se, assim, uma oposição ao entendimento tradicional sobre os centros de reabilitação que privilegia uma lógica fragmentada (multiprofissional e não interdisciplinar), desarticulada (outros espaços de cuidado e de distintos modos de seguir a vida) e limitadora do acesso (definição prévia do número de atendimentos; impossibilidade de entrada de outros usuários e institucionalização daqueles que acessavam o serviço). Das considerações apontamos que a construção em rede do CER IV em SBC mostrou que as apostas e os arranjos locais podem ser decisivos na fabricação de movimentos para além do que determina o texto da Política, havendo múltiplas possibilidades de produção, apesar dos eventuais limites das definições legais. A experiência reforça que, como dispositivo, a enunciação da necessidade de uma rede é um vetor frágil para enfrentar a histórica fragmentação dos serviços de reabilitação e a redução da pessoa com deficiência à condição de consumidores-indesejáveis-descartáveis-improdutivos, não obstante a afirmação das necessidades e potencialidades dos usuários como critério para a necessária articulação de um cuidado em rede. Tornou-se nítido que o processo de invenção de uma política de cuidado para a pessoa com deficiência foi marcante na reinvenção do modo de pensar a atenção especializada em SBC. Isso mantem relação com a produção de visibilidades para as questões e necessidades da pessoa com deficiência (em ato e nos territórios) que foi desdobrada com a fabricação de modos de cuidar orientados segundo distintas formas de compor e de conduzir essas existências. Mesmo com os desafios e tensionamentos que permaneceram (baixa visibilidade em alguns territórios para o cuidado produzido no CER, articulação restrita entre o CER e a atenção básica, limitada sustentabilidade de algumas articulações), ficou evidente que distintos atores (além dos que ocupam os lugares formais da gestão) podem interferir decisivamente na produção da gestão e das políticas, justamente porque todos fazem gestão e todos reinventam as políticas no cotidiano da gestão e do cuidado. O arranjo produzido em SBC para as pessoas com deficiência foi inovador na construção de um serviço em rede e não regulado, o que mostra a potência da invenção local na superação dos limites das proposições nacionais. Concluímos que a análise de Política como dispositivo (como os exercícios genealógicos), apesar dos vetores biopolíticos que nos atravessam, ajuda a pensar sobre um conjunto de questões e de interlocuções não produzidas no campo e sobre possibilidades de compor modos de cuidar em saúde menos subordinadores e homogeneizantes, mais porosos à diferença e em ato.

4530 A Rede de Urgência e Emergência a partir do Serviço Móvel de Urgência/SAMU como serviço-sentinela em Rede Viva
Emmanuela Amorim

A Rede de Urgência e Emergência a partir do Serviço Móvel de Urgência/SAMU como serviço-sentinela em Rede Viva

Autores: Emmanuela Amorim

Introdução O estudo está relacionado à pesquisal nacional: Observatório Nacional da Produção de Cuidado em diferentes modalidades à luz do processo de implantação das Redes Temáticas de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde: Avalia quem pede, quem faz e quem usa, que objetivou compreender a produção do cuidado nas diferentes redes de atenção à saúde em diversos municípios do país. Em Recife/PE, a pesquisa se voltou para a Rede de Saúde Mental e sua relação com a Atenção Básica e Rede de Urgênvia e Emergência-RUE. Na RAC Recife, partiu-se da compreensão do SAMU como um serviço-sentinela, conceito originalmente relacionado ao conceito de evento-sentinela da epidemiologia, e que no caso da RAC RUE Recife da RUE, o SAMU como um serviço de destaque na rede de urgência. Apostou numa antropofagia do conceito “SAMU serviço-sentinela” para avaliar rede partiu da percepção de o mesmo circula em diferentes serviços da Rede RUE no intuito de dar o prosseguimento ao cuidado em urgência de uma vida em risco de morte eminente. A pessoa na situação de “vida por um fio” que dá entrada (ou não) na Rede RUE por meio do SAMU teria um primeiro momento de atendimento em uma linha de cuidado em urgência, mas necessitaria de outros pontos da rede para dar continuidade ao cuidado. Partindo-se desse cenário da RUE e do papel de serviço sentinela que representa o SAMU nessa Rede, foi se desenvolvendo a pesquisa. O objetivo desse trabalho foi contextualizar a construção desse modo de produção da RAC RUE em Recife, tomando-se como importância as interlocuções da equipe de pesquisadores RAC RUE Recife para a aprovação e execução da pesquisa no município e algumas análises preliminares sobre elementos de potência e dificuldades dessa rede na articulação do cuidado em urgência.   A RUE-Recife a partir do SAMU: (re)desenhando do método no pesquisar O SAMU foi criado no Brasil em 2003 a partir da Portaria Nº 2.048/GM de 5 de novembro de 2002, sendo um serviço que implementa a Assistência Pré-hospitalar (APH) na rede de urgência e emergência do SUS. A APH é prestada aos indivíduos com quadros agudos, de natureza clínica, traumática ou psiquiátrica, quando ocorrem fora do ambiente hospitalar, podendo acarretar sofrimento, sequelas ou morte. Para tanto, deve coordenar meios, processos e fluxos que visem garantir a sobrevivência do paciente, interagindo com todos os componentes da rede de assistência local à saúde. O SAMU Recife/PE foi implantado em 21 de dezembro de 2001, um dos pioneiros no Brasil, sendo o serviço aeromédico o componente implantado em julho de 2011. Em 2016, o SAMU Recife contava com uma frota de 6 Unidades de Suporte Avançado (USA), 18 Unidades de Suporte Básico (USB), 4 Motolâncias e também com 2 helicópteros que fazem parte de convênios firmados com a Polícia Rodoviária Federal (PRF/PE) e o Grupamento Tático Aéreo (GTA/SDS/PE), vinculado à Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS/PE). Composição da equipe: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e condutores, treinados pelo Núcleo de Educação Permanente (NEP) do SAMU Recife/PE. A USA tem equipe composta por 01 médico, 01 enfermeiro, 01 técnico de enfermagem e 01 condutor; a USB é composta por 01 técnico de enfermagem e um condutor.  A aeronave tem equipe composta por 01 médico e 01 enfermeiro, além do piloto e 01 tripulante operacional. Na equipe de pesquisadores locais contava-se com as narrativas de pesquisadores trabalhadores do SAMU. Apostou-se em outros métodos como o grupo focal e o diário de campo do pesquisador-trabalhador SAMU da RAC RUE Recife, arranjo que aponta uma lógica da atuação do próprio serviço: princípio da não maleficência, de não causar prejuízo à prestacao do atendimento. Foram três caminhos metodológicos: Primeiramente, recorreu-se a fontes documentais e diários de campo. Em seguida, realizou-se 2 grupos focais com trabalhadores SAMU, objetivando trazer diferentes narrativas em grupo sobre o atendimento em urgência em rede, sendo um grupo focal com profissionais do serviço aeromédico e outro com equipe SAMU suporte básico. A partir dos grupos focais, pretendeu-se identificar pessoas que usaram o serviço do SAMU, o que seria o terceiro caminho rumo ao usuário-guia. Contudo, mesmo após a realização dos grupos focais, não se conseguiu identificar usuário que vinhessem a participar da pesquisa. Os critérios de escolha participantes dos grupos focais foram o tempo de experiência/vivência no serviço e o local de lotação/atuação, com o intuito de enriquecer a discussão e dar complementariedade aos relatos.   SAMU: Quando quem cuida está numa fronteira da linha vida-morte na via pública O trabalho no SAMU está nas mãos do socorrista atuando direto com a vítima, seguindo o protocolo de atendimento, decidindo de forma imediata sobre qual a melhor condução para o suporte à vida naquele momento urgente. E neste cenário limítrofe, trabalha-se com três prioridades: a avaliação da cena, com garantia de segurança para a equipe e da vítima; a avaliação da vítima e a classificação de prioridade de atendimento, em caso de múltiplas vítimas. Esse sentimento de enfrentamento do risco entre a vida e morte, mas de heroísmo pelo salvamento de vidas quando são salvas, mas de demônios pelo não salvamento. Assim alguns relatos de incapacidade de se salvar por situações em que não era possível agir, por conta de impedimentos técnicos, os olhares do entorno eram de revolta. Os socorristas, em sua atuação de salvamento em situações extremas, ora são deuses ou demônios. No que se refere à articulação do SAMU na RUE, foram tratadas as limitações na comunicação entre o SAMU e unidades hospitalares ao qual se encaminham os usuários e as afetações geradas nestes trabalhadores, comprometidos com a viabilidade da condição de vida dos usuários por eles assistidos. Se por um lado, se afirmava o reconhecimento do trabalho do SAMU em que, mesmo em situações extremas, é possível realizar o trabalho de salvamento. No caso dos trabalhadores de unidades básicas, no grupo focal até se indicou algumas chamadas de pessoas que acionavam o SAMU192 de forma recorrente. Algumas pessoas com doença que não era tão grave, mas em estado de agudização, por falta de retaguarda de serviços de saúde em seus territórios para realizar atendimento a pequenas urgências, acabavam acionando o SAMU para a remoção.   Considerações finais O SAMU se mostra um potente observatório da rede de urgências e emergências. Contudo, analisar o cuidado prestado ao usuário pelo serviço SAMU não é tarefa simples, pela própria situação aguda ao qual o mesmo se encontra, além da natureza do atendimento que pode incluir situações de risco e necessidade de rápida intervenção, o que em determinadas ocorrências não dá condições do usuário avaliar o cuidado a ele prestado.

4889 O que pode “Vir a Ser”?: tessituras de cuidado no Centro Especializado em Reabilitação de São Bernardo do Campo (CER IV/SBC).
Valéria Monteiro Mendes, Larissa Ferreira Mendes dos Santos, Paula Bertolucci Alves Pereira, Laura Camargo Macruz Feuerwerker

O que pode “Vir a Ser”?: tessituras de cuidado no Centro Especializado em Reabilitação de São Bernardo do Campo (CER IV/SBC).

Autores: Valéria Monteiro Mendes, Larissa Ferreira Mendes dos Santos, Paula Bertolucci Alves Pereira, Laura Camargo Macruz Feuerwerker

Este texto integra a pesquisa Avalia quem pede, quem faz e quem usa e se inscreve nas análises da Rede de Observatórios Microvetoriais de Políticas Públicas em Saúde e Educação em Saúde, por meio da qual temos explorado dois planos analíticos relacionados à produção das Políticas – a genealogia e a análise da Política como dispositivo. No primeiro, consideramos que estas análises permitem o entendimento de que não há linearidade na elaboração dos problemas e dos conceitos para seu enfrentamento, sendo necessário conhecermos as forças, as apostas, os sentidos e os valores a eles relacionados em diferentes momentos, visando à invenção de ações que enfrentem o instituído. Sobre o segundo, temos como pressuposto que os atores relacionados à elaboração de uma Política fabricam micropoliticamente no cotidiano distintas e imprevisíveis movimentações, independentemente do texto da Política (ainda que este fabrique intensos processos de subjetivação). Apostamos na fabricação de outras interrogações e de formas de agir-pensar em oposição ao modo hegemônico de construir o conhecimento, as pesquisas, o trabalho em saúde, especialmente por assumirmos como questão a produção do cuidado na diferença e em ato. Nosso propósito é partilhar as tessituras com as quais nos encontramos ao analisarmos o modo como a Política Nacional de Atenção à Pessoa com Deficiência operou como dispositivo em São Bernardo do Campo quanto à proposta de organização do cuidado à pessoa com deficiência e aos arranjos desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Saúde, do que decorreu a construção de um CER IV em rede e não regulado e de arranjos singulares como o “Vir a Ser”. Adotamos como metodologia a cartografia, na qual o método é o encontro. Nossa prática não consiste na definição e representação de um objeto, pois acompanhamos o processo em plena rota, seus efeitos, (re)orientações, desvios, variações. Trata-se de uma investigação que se faz na ocupação/povoamento de um território e que implica no traçado de um (in)certo contorno, visando localizar as linhas que compõem um dispositivo (visibilidade, enunciação, força e subjetivação), bem como suas conexões e agenciamentos estabelecidos com o seu “fora”. Assim, acompanhamos as questões que rondaram alguns trabalhadores em específico do CER: Quem é do CER? Quem é do CAPSi? Quem pertence aos dois serviços?. Estas interrogações mobilizaram a invenção de respostas que ultrapassaram os caminhos construídos estritamente pelos diagnósticos no campo da saúde mental, particularmente quanto ao autismo. Deslocamento do instituído que engendrou a criação de um dispositivo instaurado na intersecção de dois dispositivos de cuidado (CER e CAPSi). Disso, a “Estratégia Vir a Ser” (como era denominada) foi fabricada segundo uma demanda interna do CER quanto à necessidade de produzir o cuidado de crianças com risco psíquico encaminhadas ao serviço e que não poderiam ser acolhidas como “usuárias” por não apresentarem deficiências, bem como quanto à demanda de crianças com alguma deficiência e que apresentavam tal risco psíquico. Incitadas por tal desconforto que atravessava os profissionais de distintas equipes, as ações relativas à “Estratégia” foram disparadas por duas fonoaudiólogas da equipe de deficiência auditiva. Paulatinamente constituíram-se composições com profissionais de distintas equipes do CER (fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais, psicóloga) e de um CAPS de SBC (psiquiatra e pediatra). Para além da demarcação de um lugar para estas crianças segundo uma CID (que impõe limites e barreiras e que produz segregações), tais profissionais sentiam-se implicados em favorecer a vivência de experiências voltadas à fabricação daquelas existências no serviço e fora dele. Semanalmente, os profissionais da “Estratégia” desenvolviam atividades no CER e em distintos espaços da cidade (públicos e privados, como em um shopping center), de modo que as crianças e suas famílias experimentassem a ocupação da cidade e a produção do cuidado como algo que pertence a todos (e não apenas aos profissionais de saúde) e que não está circunscrito aos muros de um serviço (o cuidado como aquilo que não tem lugar para ocorrer por ser em ato). Do contato com os trabalhadores visibilizamos uma transversalidade da “Estratégia” relacionada às equipes de reabilitação auditiva, reabilitação infantil, deficiência auditiva, estimulação precoce, neuro-infantil, deficiência intelectual, justamente porque as distintas profissionais da “Estratégia” também integravam e vivenciavam as questões sobre o tema cada qual em sua equipe. Isso parece ter favorecido outras possibilidades de ofertas de cuidado e, no limite, contribuído para distintas conversações no CER e para além dele (nas equipes de cada profissional da “Estratégia”, bem como entre os profissionais da “Estratégia” com a gerência do CER, com os trabalhadores de outras instituições e serviços e com as famílias e cuidadores). Tal possibilidade de aposta pelos profissionais do CER deveu-se à fabricação do serviço segundo os pressupostos de produção do cuidado compartilhado entre os pontos da rede e de composição de arranjos interprofissionais que incluía familiares e cuidadores, o que possibilitou a realização de distintas ações dentro e fora do CER orientadas para as necessidades das pessoas. Deveu-se ainda pela composição dos elementos estruturantes do serviço (acolhimento não regulado/porta aberta, atendimento interdisciplinar e o tema da alta – trabalhada processualmente desde a entrada do usuário no serviço). Estes movimentos que possibilitaram a construção do “Vir a Ser” e de outros arranjos de cuidado são constitutivos de um processo de qualificação da rede de atenção (2009 a 2016) ocorrido no âmbito da recomposição da atenção ambulatorial especializada dado o contexto de fragmentação da oferta de reabilitação, de invisibilidade para as necessidades da população com deficiência e de não previsão de implantação de um CER no município. Dos efeitos recolhidos desta ampliação da vida pela “Estratégia”, destacamos a possibilidade de experimentação de um corpo outro, que acontece como força e expressão de sua singularidade, bem como a criação de formas de resistência às hegemônicas práticas normalizadoras de condutas das crianças ditas autistas. Práticas essas que reduzem e circunscrevem esses corpos à marca identitária do espectro do autismo e que, com o dedo em riste, apontam a diferença enquanto não potência. Retomando a questão do título, inspirada no pensamento espinosano, destacamos que o intuito não foi o de respondê-la a partir da experiência do “Vir a Ser”. Interessou-nos partilhar a constatação de que os profissionais produzem invenções (com a sensibilidade e o rigor requeridos) quando têm como questão posicionar as necessidades das pessoas no centro de suas práticas, para além das determinações do texto da Política. Isso reafirma que as movimentações fabricadas pela gestão – como ocorreu quanto ao projeto político do serviço, aumento da governabilidade dos trabalhadores, inclusão dos usuários e seus familiares no projeto de cuidado e produção de interlocuções que ultrapassaram o CER – são decisivas para a fabricação de ações que considerem as múltiplas questões e possibilidades relacionadas ao modo de conduzir a vida pelas pessoas. Estes aspectos chamam atenção para o fato de que os movimentos produzidos em SBC (2009-2016) privilegiaram o envolvimento de distintos âmbitos da atenção (básica, especializada, hospitalar) e de outras instituições e secretarias (como a de esporte e lazer – “Projeto de bem com a vida”), apesar de alguns desafios e tensionamentos que permaneceram, sobretudo, considerando o avassalador retrocesso produzido no primeiro ano da gestão municipal vigente (desmonte de projetos, demissões em massa, redução da governabilidade dos trabalhadores), deliberadamente ancorado nos pressupostos próprios da governamentalidade biopolítica que nos atravessa.

2619 As reentrâncias das Redes de Atenção à Saúde: os significados produzidos pelo trabalhadores
Maria Salete Bessa Jorge, Yane Carmem Ferreira Brito, Jordana Rodrigues Moreira, Suellen Silva Vaz, Karla Cavalcante Mesquita, Ilse Maria Tigre de Arruda Leitão

As reentrâncias das Redes de Atenção à Saúde: os significados produzidos pelo trabalhadores

Autores: Maria Salete Bessa Jorge, Yane Carmem Ferreira Brito, Jordana Rodrigues Moreira, Suellen Silva Vaz, Karla Cavalcante Mesquita, Ilse Maria Tigre de Arruda Leitão

APRESENTAÇÃO: As Redes de Atenção à Saúde (RAS) surgem com a proposta de desenvolvimento de diálogos entre os diversos dispositivos existentes do território, o qual estão submersos em singularidades. As RAS emergem como proposta que deve conter serviços organizados em níveis de complexidade tecnológica, na qual se estabelecem suas ações e seus serviços, permitindo satisfazer às necessidades da pessoa no cuidado com a sua saúde. Apesar de todas essas características que demonstram a potencialidade do trabalho em rede ainda é notório a dificuldade de articulação entre os diversos dispositivos e essas barreiras são de diversas ordens: políticas, sociais, entre outras. As barreiras de ordem políticas trazem em seu cerne a precarização dos vínculos empregatícios, em períodos preestabelecidos (mudança de governo) os profissionais são retirados de suas funções e essa renovação rompe os “velhos” vínculos mantenedores daquela rede. Por sua vez, o social está intrinsecamente ligado ao estabelecimento de vínculos para além do contexto de rede, é no seio social que se estabelecem redes informais, as quais são potencializam as ações de cuidado. Para a efetivação das redes se faz necessário que os trabalhadores estejam imbricados em todo esse processo e sintam-se mais dos partícipes desse processo, eles sejam o processo. Assim, objetivou-se identificar os significados atribuídos pelos trabalhadores de saúde que compõem a equipe saúde da família às Redes de Atenção à Saúde. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, recorte do projeto guarda-chuva intitulado “Gestão em Redes Compartilhadas: espaços de tecnologia e inovação para o cuidado na atenção primária em saúde”. O estudo foi realizado no município de Fortaleza, em duas unidades de Atenção Primária à Saúde do distrito de saúde da regional IV.  A coleta de dados abrangeu o mês de novembro de 2017. As unidades selecionadas foram: Unidade de Atenção Primária à Saúde Gothardo Peixoto e Unidade de Atenção Primária à Saúde Dr. Luís Costa. Os participantes do estudo foram os trabalhadores da saúde que compõem a equipe da Estratégia Saúde da Família com maior número de famílias cadastradas de cada unidade de Atenção Primária à Saúde. Os participantes foram convidados a participar da pesquisa com prévia orientação sobre seus objetivos e agendamentos. Os critérios de inclusão serão: trabalhar na unidade há, pelo menos, um ano. E como critérios de exclusão serão adotados: trabalhadores em afastamento legal de trabalho, em período de férias ou não forem encontrados na unidade durante o período da coleta. Foi adotado um roteiro de entrevista semi-estruturada. A técnica utilizada foi a Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2010). Para garantir o anonimato dos entrevistados, os participantes foram codificados com “TEC”, o técnico de enfermagem, “ACS”, o agente comunitário de saúde, “ENF”, o enfermeiro e “MED”, o médico, seguido de numeral arábico conforme a ordem em que serão entrevistados. O estudo foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará e da Coordenadoria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde de Fortaleza, tendo aprovação e CAAE: 53417616.0.0000.5534. RESULTADOS: Participaram do estudo 12 trabalhadores de saúde. A predominância de trabalhadores de saúde é do sexo feminino (11) e somente um trabalhador de saúde do sexo masculino. As faixas de idade foram classificadas com intervalos de 15 anos. Entre 25 e 40 anos, são dois trabalhadores de saúde e entre 41 e 60, dez. Com relação à formação, nove são agentes comunitários de saúde, dois são técnicos de enfermagem e um é enfermeiro. Portanto, 75% dos participantes são agentes comunitários de saúde. Oito dos trabalhadores de saúde trabalham na Unidade Primária à Saúde entre dois a cinco anos, e quatro trabalham a mais de cinco anos. As interlocuções resultantes das entrevistas semi-estruturadas dizem respeito às percepções dos trabalhadores de saúde das Redes de Atenção à Saúde resultando em uma categoria temática: As Redes de significados ou os significados das redes? Reuniram 14 unidades de contexto, que agrupam falas sobre os significados atribuídos pelos trabalhadores de saúde as RAS. A maioria dos participantes da pesquisa não conseguiram definir o conceito da RAS corretamente, gerando significados bem diferentes do conceito da teoria. Nas falas a seguir, percebe-se claramente as desconexões que os participantes fazem do real significado das redes: “Redes de Atenção à Saúde é a primária, é a rede que você procura primeiro. Você vai, está sentindo uma febre, uma gripe, uma coisa mais leve, você procura um posto de saúde, atenção primária, é o primeiro atendimento” (ACS 3) e  “É quando você procura na unidade as suas necessidades básicas, por exemplo, um clínico, uma prevenção. Quando você chega na unidade e você encontra essas suas necessidades” (TE 2). Fica evidente que participantes das RAS não sabem o que elas são, quais são seus significados, e possivelmente não conseguem efetivar a rede por não a conhecer em seus reais conceitos. Para outros trabalhadores, os significados não são tão claros, mas também não são tão desconexos como outros participantes. Para esses, pode-se resumir a rede como um “conjunto de unidades”: “Para mim Rede de Atenção são o conjunto de postos, hospitais, clínicas que atendem a população em geral” (ACS 4) e “Rede de Atenção eu entendo que é todo o conjunto que existe, que presta assistência a população” (ACS 5). Houve ainda um participantes que conceituou corretamente as RAS, e talvez explicou o motivo de muitos trabalhadores desconhecerem as RAS em seu significado mais profundo, na teoria a RAS é uma coisa, mas na prática é outro: “A Rede, pela minha experiência de SUS, a teoria não condiz com a prática, mas na teoria é como tivesse outros locais de apoio ao programa saúde da família, no qual a gente teria uma referência e contra-referência, seria como se tivesse um cuidado continuado, partiria da atenção básica para esses outros locais, que no caso, seriam, serviços secundários e terciários, as ONGs, na teoria” (ENF 1). CONSIDERAÇÕES FINAIS:  Os achados encontrados mostram que os trabalhadores de saúde não compreendem os significados das Redes de Atenção à Saúde, gerando vários outros significados para elas que não são os legítimos significados, comprometendo toda a operacionalização das RAS, deixando de ser um potencializador do serviço e passando a ser mais um complicador do sistema de saúde.

2646 DIAGNÓSTICO DA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE DA MULHER NA AP 2.1, NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.
Lucas Gonçalves, Mary Ann Freire, Regina Agonigi

DIAGNÓSTICO DA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE DA MULHER NA AP 2.1, NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.

Autores: Lucas Gonçalves, Mary Ann Freire, Regina Agonigi

Introdução: O Brasil vive um processo de alteração da pirâmide etária e consequências sociais aceleradas são vistas com grande impacto no setor saúde, sem planejamento prévio da Rede de Atenção à Saúde (RAS). As políticas públicas desenvolvidas para responder as demandas são testadas a todo o momento, sendo um grande desafio para os profissionais de saúde, incluindo a gestão, cumprir as leis que regem o sistema. O enfoque na fase reprodutiva da mulher foi sendo completado com questões sociais ao longo dos anos, mas muito se questiona a forma prática em que a política é exercida. É necessário o acompanhamento das principais demandas da mulher e, pelo debate das políticas públicas de saúde, planejar e dialogar os arranjos organizativos que respondam essas necessidades. O questionamento se os serviços de saúde realmente ofertam atenção integral busca a criação e atualização dos serviços oferecidos pelo setor público de saúde. Dessa forma, o estudo tem como objetivos identificar as principais demandas de saúde da mulher, na sua integralidade, na AP 2.1, no municipio do Rio de Janeiro, além de caracterizar a rede de atenção à saúde da mulher e discutir os fluxos existentes na área. Desenvolvimento: Estudo de abordagem qualitativa utiliza como metodologia a análise microvetorial. A coleta de dados se deu na base da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o TABNET RJ e na base de dados do prontuário eletrônico instituído no SMS RJ, o VitaCare. Foram consultados o Sistema de Informações sobre Mortalidade, o Sistema Nacional de Agravos Notificáveis, produção ambulatorial no Sistema de Informações Ambulatoriais e dados cadastrais. O recorte temporal foi de 2010 a 2016, tempo escolhido para analisar um movimento progressivo dos dados. As mulheres alvo do estudo foram selecionadas a partir de 10 anos, idade escolhida por ser a inicial considerada como idade fértil no Brasil. A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS/RJ), pareceres 1.844.534 e 1.919.881, respectivamente, em fevereiro de 2017. Resultados: A mulher que reside na AP 2.1 possui linearidade de condições socioeconômicas, de acordo com os dados consolidados de informações cadastrais coletados nas UBS. Aponta-se na maioria das faixas etárias a predominância da raça branca, com coleta de lixo, rede de abastecimento de água e rede de coleta de fezes e urinas, As principais causas de mortalidade da mulher misturam condições crônicas e agudas evitáveis, característica geral de países subdesenvolvidos. De 2010 a 2016, foram registradas 22724 mortes de mulheres acima de 10 anos na AP 2.1 no Rio de Janeiro. Elas são divididas em causas maiores que podem ser detalhadas em doenças específicas, fundamental para o real planejamento em ações objetivando uma resposta à demanda. As doenças do aparelho circulatório foram causadoras de 6102 mortes de 2010 a 2016. Em seguida, neoplasias, doenças do aparelho respiratório, algumas doenças infecciosas e parasitárias e doenças do sistema nervoso representam as outras maiores causas de morte.  Entre as doenças agudas, a pneumonia é marcante e causou 2158 mortes das mulheres alvo do estudo. Sozinha e proporcionalmente, representa 44% de todas as neoplasias. Ao mesmo tempo que se luta por um modelo de atenção que contemple as condições crônicas e suas agudizações, as causas agudas são demandas permanentes que torna o planejamento dos serviços um grande desafio a ser discutido. É um sinal importante da característica do Brasil, onde as causas evitáveis representam muitas mortes, alta procura ao serviço de saúde e as ações preventivas possuem efetividade parcial. Ao comparar as principais causas de mortalidade da AP 2.1 com o município do Rio de Janeiro, observamos diferenças que expressam as desigualdades encontradas no território. No Rio de Janeiro, as doenças endócrinas nutricionais e metabólicas se inserem como quarta causa de morte e as causas externas de morbidade e mortalidade aparecem como sexta causa de mortalidade, ou seja, há significantes diferenças entre as áreas programáticas. A diferença é exposta pelo maior investimento em políticas públicas na região, movimento histórico com cicatrizes sociais, culturais e econômicas. Os indicadores como expectativa de vida, qualidade de vida, renda per capita, maior investimento do capital privado e a própria estrutura da RAS na são elevados na AP 2.1, destoando parcialmente do restante do município. Os quadros agudos notificáveis ainda expressam grande impacto nos serviços de saúde. Ao analisarmos o SINAN, a categoria dengue, de 2010 a 2016, ainda é a principal a ser notificada e com um número exponencial, passando dos 15 mil casos. O setor público não aponta grandes avanços do combate à epidemia que registra grandes surtos no verão carioca. A produção da atenção básica ainda se concentra na consulta médica, evidenciado pela grande diferença quantitativa entre a consulta médica e a consulta de todos os profissionais de nível superior. Além disso, as visitas domiciliares, administração de medicamentos, aferição de pressão arterial são os procedimentos mais registrados na Atenção Básica na AP 2.1. As unidades possuem um ranking semelhante de procedimentos registrados e demonstram oferta de serviços padronizada. A consulta pré-natal foi o único procedimento exclusivo às mulheres que figurou o oitavo procedimento mais realizado em apenas uma unidade. As outras atividades exclusivas, como grupos de ações coletivas para mulheres, grupos de apoio e campanhas específicas são ocultas pela padronização dos nomes dos procedimentos e apontam fragilidade na gestão de informações. O valor empenhado para a AP 2.1 aumentou mais de 400% no intervalo de 2009 a 2016, de 25 milhões de reais para 109 milhões de reais. O acréscimo de investimento impactou diretamente na cobertura dos serviços de saúde, de 2% para 35%. A AP 2.1 conta com uma ampla oferta de pontos de saúde, contabilizando em 2016, segundo o CNES, 13 unidades de atenção básica, 64 ESF, 20 ESB, 8 NASF, 2 CAPS III, 1 CAPSi, 17 residências terapêuticas, 2 CEO, 1 Hospital Municipal e 1 Unidade de Pronto Atendimento. Além disso, 4 unidades básicas de saúde são Amigas da Amamentação e 2 estavam em processo de certificação No recorte temporado do estudo, foram realizados 110 abortos legais no Rio de Janeiro, respaldados pela Lei 1042 de 1987, sendo 99 em consequência de estupros. Aliado a isso, a Rede Cegonha acolheu, de 2011 a 2015, 527.037 mulheres no Rio de Janeiro, além de 54148 remoções em transportes, com forte percentual na AP 2.1. No Hospital Municipal de referencia da região, Miguel Couto, segundo o CNES, possui 39 leitos para maternidade, com médias mensais de internações obstétricas de 268 com média de 4,2 dias de permanência, a realização de em média 207 partos, sendo 29,6% cesárias.Conclusões: Por fim, as demandas das mulheres misturam condições agudas e crônicas e as políticas públicas precisam se adaptar a uma realidade de contrastes sociais entre regiões. As mortalidades e agravos mostram a necessidade de repensar no planejamento e questionar até que ponto a integralidade, diretriz da Lei Orgânica, é alcançada nos serviços de saúde. A produção da atenção básica mostra uma padronização dos serviços ofertados, apesar das diferentes já sabidas em cada região. Nota-se uma ampla oferta de serviços de saúde na região, onde dificuldades locais apontam entraves no alcance da integralidade.

2769 Internação em domicílio: avanços e desafios da desospitalização no Estado do Amazonas
Davi Araújo da Cunha, Marluce Sampaio Cavalcante, Leida Reny Borges Bressane, Iolete Ribeiro da Silva

Internação em domicílio: avanços e desafios da desospitalização no Estado do Amazonas

Autores: Davi Araújo da Cunha, Marluce Sampaio Cavalcante, Leida Reny Borges Bressane, Iolete Ribeiro da Silva

Apresentação A constatação das mudanças das sociedades, caracterizadas por uma transição demográfica e uma transição epidemiológica, sinalizam para uma necessária reformulação do modelo de atenção à saúde no Brasil ainda hoje centrado no hospital e no saber médico. O resultado da manutenção desse modelo hegemônico é a ineficiência e a ineficácia. O primeiro gerado pelo crescente alto custo da incorporação acrítica de tecnologias com contrapartida descrescente de resultados. O segundo, a ineficácia, diz respeito a incapacidade de enfrentar problemas de saúde gerados pela complexificada e desenfreada urbanização, tais como as doenças crônico-degenerativas, psicossomáticas, neoplasias, violências, entre outras. Assim, o saber do tipo fragmentado, biologicista e mecanicista percebido no modelo médico hegemônico liberal de atenção à saúde vigente necessita de atualização diante desse novo cenário Consciente dessa realidade, a portaria no 825, de 25 de abril de 2016 do Ministério da Saúde do Brasil redefine a Atenção Domiciliar (AD) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) afirmando-a como modalidade de atenção à saúde integrada às Redes de Atenção à Saúde (RAS), caracterizada por um conjunto de ações de prevenção e tratamento de doenças, reabilitação e promoção à saúde, prestadas em domicílio, garantindo continuidade de cuidados. Desenvolvimento do trabalho Trata-se de relato de experiência de R.O.C. de 75 anos de idade, obeso, acamado há quase 15 anos, atendido pelo Programa Melhor em Casa, da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas, possui diagnóstico de paraplegia decorrente de um tumor benigno na coluna cervical, tabagista, DM tipo II, em uso de cistostomia, UPP grau II. Paciente, lúcido, acompanhado por uma equipe multidisciplinar. Recebe visita da atenção domiciliar (AD) multiprofissional semanal. Percebe-se, contudo, que a família possui dificuldades no desempenho dos cuidados e em seguir as orientações da equipe pois o paciente é geralmente pouco colaborativo, apresentando  recusa a  seguir um plano alimentar mais saudável, por exemplo. Resultados e impactos encontrados Em decorrência de quase 11 anos de acompanhamento em atenção domiciliar observa-se a melhora do quadro clínico de acordo com a politica de redução de danos onde tínhamos um paciente com úlcera de pressão grau 4, condições de higienização precária, em estado de quase abandono  e com a parceria com o ministério público houve melhoras significativas no cuidado. Destaca-se a inter-relação entre condições de saúde, condições sociais e condições relacionais que podem favorecer ou não a evolução do quadro clínico. Considerações finais A Atenção Domiciliar (AD) oferecida pelo Programa Melhor em Casa da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas – SUSAM está em fase de aprimoramento e ampliação. Essa modalidade estratégica de atenção à saúde ainda pode contribuir com um atendimento integral, aumentar a rotatividade de leitos hospitalares e ajudar no processo de humanização, envolvendo a família e a comunidade como co-participantes para o enfrentamento de agravos à saúde. Desafios de custeio do Programa, logístico, de recursos humanos e relacionais são, ainda, nós que precisam de melhor articulação para solucioná-los. 

732 A necessidade da capacitação dos profissionais da Atenção Primária à Saúde em situações de urgência e emergência
Louise Constancia de Melo Alves, Josilayne Medeiros da Silva, Thuanny Nayara do Nascimento Dantas, Naryllenne Maciel de Araujo, Rodrigo Assis Neves Dantas, Daniele Vieira Dantas

A necessidade da capacitação dos profissionais da Atenção Primária à Saúde em situações de urgência e emergência

Autores: Louise Constancia de Melo Alves, Josilayne Medeiros da Silva, Thuanny Nayara do Nascimento Dantas, Naryllenne Maciel de Araujo, Rodrigo Assis Neves Dantas, Daniele Vieira Dantas

A Atenção Básica à Saúde no Brasil caracteriza-se por ser a principal porta de entrada e centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde, objetivando promover a assistência integral ao sujeito, família e coletividade. As Unidades de Saúde da Família (USF) desempenham um papel central na garantia de acesso a uma atenção à saúde de qualidade a toda população. De acordo com a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde de 2011, todo cidadão brasileiro tem direito ao acesso ordenado e organizado aos serviços de saúde. A Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009, que dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde, afirma que em situações de urgência/emergência, qualquer serviço de saúde deve receber e cuidar da pessoa, bem como encaminhá-la para outro serviço em caso de necessidade. Para isso, é necessário que se disponha de estrutura, tecnologia e profissionais qualificados para lidar com essa demanda. Com isso, objetiva-se analisar a capacitação do profissional da atenção básica em situações de urgência e emergência. Trata-se de uma revisão integrativa realizada em outubro de 2017 com buscas nas bases de dados SciElo, Lilacs e Google Acadêmico, utilizando-se dos descritores “Capacitação em Serviço ”, “Atenção Primária à Saúde”, “Atendimento de Urgência”, separados pelo operador booleano AND. Foram incluídos no trabalho artigos dos últimos 10 anos (2007-2017), completos nas bases de dados e que se enquadram na temática; e excluídos aqueles que não possuem a mesma temática, não estavam disponíveis para acesso e que foram publicados antes de 2007. Conforme preconiza o Sistema único de Saúde (SUS), o atendimento na Unidade Básica de Saúde trata-se de uma assistência prestada no primeiro nível de atenção à saúde, se configurando como a melhor porta de entrada, pois contempla a integralidade da atenção e a coordenação da atenção à saúde. Além disso, as unidades são obrigadas a possuírem estrutura física, medicações e materiais para os primeiros atendimentos, conforme a Portaria GM nº 2048 de 5 de Novembro de 2002. Acontece que, comumente, nem todas as unidades possuem todos os recursos necessários. Além disso, diante de situações de urgências e emergência, os profissionais encaminham o usuário à unidade de maior complexidade sem avaliá-lo adequadamente, ou mesmo estabilizá-lo, por insegurança e desconhecimento sobre como proceder ao atendimento pré-hospitalar. Dessa forma, a dificuldade instalada em realizar atendimento de urgência e emergência está relacionada principalmente por: ausência de materiais e despreparo profissional. O despreparo profissional trata-se do reflexo da escassez de atividades de Educação Permanente (EP) para com a equipe local. Portanto, percebe-se a necessidade de ações voltadas a Educação Permanente relacionadas à urgência e emergência no nível de atenção primária à saúde, através de cursos, reuniões e discussões clínicas a respeito do tema, sensibilizando a importância de se abordar o assunto, tornando o trabalho de prevenção mais sistemático e eficaz. Capacitação em Serviço; Atenção Primária à Saúde; Atendimento de Urgência.

4431 Política de Atenção Domiciliar: uma aproximação genealógica
Valéria Monteiro Mendes, Laura Camargo Macruz Feuerwerker, Paula Bertolucci Alves Pereira, Clarissa Terenzi Seixas, Kênia Lara Silva, Janainny Magalhães Fernandes, Vinicius Santos Sanches

Política de Atenção Domiciliar: uma aproximação genealógica

Autores: Valéria Monteiro Mendes, Laura Camargo Macruz Feuerwerker, Paula Bertolucci Alves Pereira, Clarissa Terenzi Seixas, Kênia Lara Silva, Janainny Magalhães Fernandes, Vinicius Santos Sanches

Este exercício genealógico sobre a constituição da Atenção Domiciliar (AD) se inscreve no âmbito da pesquisa da Rede de Observatórios Microvetoriais de Políticas Públicas em Saúde e em Educação na Saúde. Apostamos na radicalização da análise sobre a produção das políticas, partindo do princípio que não há linearidade na construção dos problemas e nos conceitos produzidos para enfrentá-los. A genealogia nos convida a identificar as forças que se apropriam dos problemas e conceitos em diferentes contextos e momentos, instituindo diferentes sentidos e valores. Assim, é necessário mapear as forças, os vetores, os projetos, as apostas a eles relacionados, pois isso ajuda a perceber que as forças que se apropriam dos problemas e que produzem valores não correspondem necessariamente a atores sociais, que produzem distintas forças, algumas simultaneamente. Nosso objetivo é produzir visibilidades que ajudem no entendimento das alianças, das confluências e dos atritos relacionados à construção da política de AD, abrindo novas possibilidades de ação. Tal análise demanda evidenciarmos alguns de seus antecedentes, como as distintas experiências em AD no SUS desde os anos 90, que assumiam diferentes configurações/perfis de atendimento. Outro antecedente refere-se às duas forças fortemente operantes na construção da AD, a saber, as necessidades de saúde (relacionadas ao perfil de adoecimento e o envelhecimento da população, que exigem mudanças no cuidado) e a racionalização dos gastos (relacionado à restrição de recursos que impunha uma agenda de racionalização na saúde). Nos anos 2000 havia dois obstáculos para a produção de políticas em AD, respectivamente a essas forças: a falta de voz ativa dos grupos vulneráveis e o medo dos gestores frente à judicialização pelo alto custo do cuidado domiciliar. Outro antecedente refere-se ao debate, marcado por aquelas duas forças, no Ministério da Saúde (MS) no período de 2003-2005, cuja tradução era: localizar a AD no Departamento de Atenção Especializada (e produzir movimentos voltados à desospitalização) ou localizar a AD no Departamento de Atenção Básica (e fabricar movimentos voltados às necessidades de saúde não contempladas pelos arranjos vigentes). Configurou-se um empasse que foi desdobrado em uma pesquisa nacional voltada à análise de experiências em AD nas cinco regiões do país. O estudo identificou que a força necessidades de saúde se expressava fortemente em composição com outra força inesperada para os pesquisadores: a inovação do modelo tecnoassistencial. Percebeu-se que a potência de substitutividade da AD relacionada ao modelo médico-hegemônico aumentava quando as ações voltavam-se para as necessidades de saúde e sua potência decaia quando as equipes centravam-se nos procedimentos. Apesar destes resultados não terem sido debatidos pela troca da equipe do MS houve ampla discussão com as equipes de AD. Pesquisas subsequentes mostraram que a força de racionalização produzia dois vetores: a desospitalização precoce (redução do tempo de internação e o cuidado fora do hospital) e a transferência dos gastos (localizado no interior dessa força, atingindo diretamente as famílias e operando mais intensamente na Saúde Suplementar). Analisando esses cruzamentos percebemos diferentes modos de racionalizar custos (arranjos voltados ao cuidado compartilhado segundo as necessidades dos usuários e arranjos que transferem responsabilidades e gastos). Apenas em 2011, num contexto de mudança de gestão, o MS decidiu construir uma Política Nacional de Atenção Domiciliar (Melhor em Casa), ainda pautando as duas forças originalmente operantes na AD. Já a força da substitutividade era pautada apenas por certos atores da academia e por trabalhadores da AD. A Política retomou os elementos propostos pela Atenção Especializada (2004/2005) em sintonia com o vetor desospitalização (AD incluída na Rede de Urgência/Emergência e dirigida aos grandes municípios e às regiões metropolitanas). Porém, a coordenação da Política foi localizada no Departamento de Atenção Básica (DAB), provavelmente pela intensidade da força necessidades de saúde. A maioria dos municípios operou segundo a força necessidades de saúde e utilizou a Política para cuidar de uma população desassistida e frequentemente restrita aos domicílios, o que faz pensar porque os municípios rebelaram-se e/ou subordinaram-se às definições ministeriais. Aventamos duas hipóteses: a força necessidades de saúde se expressa mais intensamente porque as necessidades não respondidas nos municípios são mais gritantes e as questões relacionadas aos hospitais não produzem sentido para os municípios. Com o lançamento do Melhor em casa estudos que analisaram os efeitos da política nos arranjos municipais mostraram que a classificação da AD (AD1, AD2, AD3) foi problemática, porque a Política privilegiou a incorporação de tecnologias duras e desconsiderou elementos que podem demandar o cuidado intensivo (vulnerabilidades e intensividade do cuidado). Isso provocou disputas entre as equipes e uma responsabilização territorializada em detrimento da produção compartilhada do cuidado nos diferentes pontos da rede. Evidenciam-se os efeitos da força racionalização de gastos, que atravessa as forças necessidades de saúde e inovação do modelo tecnoassistencial e que se expressa na relação população/equipe (municípios acessam a equipe de apoio apenas quando possuem mais de uma equipe de AD). Tais efeitos pressionam as equipes para a rotatividade dos casos e tensionam seu compromisso com a força necessidades de saúde e sua relação com a Atenção Básica (AB). No período, a Coordenação Geral da Atenção Domiciliar (CGAD/MS) incorporou mudanças apontadas localmente (pelas equipes de AD e pelos pesquisadores) e efetivou modificações principalmente nos critérios populacionais para elegibilidade dos municípios, nos procedimentos e inclui a vulnerabilidade nos critérios de classificação. Os resultados apontam que é fundamental analisar os agenciamentos da Política em relação aos Serviços de AD. Percebe-se que o MS e os municípios não operam a força inovação do modelo tecnoassistencial e que para efetivá-la seria necessário ampliar o número de equipes e suas possibilidades de conexão. A potência da AD pode ensinar sobre a fabricação de mudanças na AB que ajudem no encontro das equipes com as necessidades e as singularidades dos usuários. Pensar a AD como modelagem substitutiva também implica em considerar o papel do cuidador, sendo fundamental discutir medidas de suporte para o atendimento de suas necessidades diante dos vetores de transferências de gastos/de responsabilidades para a família. A radicalização da força necessidades de saúde em interação com a força inovação do modelo tecnoassistencial tem produzido apostas interessantes sobre o morrer em casa e o cuidado paliativo, considerando a criação de espaços intercessores entre a equipe de AD e o usuário/cuidador, bem como a fabricação de rede entre os serviços. Como considerações apontamos que a AD, como um vetor importante para substitutividade do modelo médico-hegemônico, pode ser pensada como uma estratégia de compartilhamento e de criação de corresponsabilidade entre serviços e como um dispositivo para modificar a lógica do cuidado hospitalar. Para tanto seria necessário fazer a força necessidades de saúde atravessar a desospitalização, visando a construção de altas compartilhadas entre os serviços e a continuidade do cuidado baseada na singularidade das situações vividas, seus limites e possibilidades. É nítido que as potencialidades da AD modificam-se a depender da força que dela se apropria. Assim, a força inovação do modelo de atenção apenas ganhará potência num movimento de inversão dos agentes que produzem o SUS, ou seja, quando trabalhadores e usuários apropriarem-se do SUS para pautar a integralidade e a singularidade na produção do cuidado em conexão com movimentos sociais e outros atores, sobretudo neste período de supressão de direitos em que os vetores biopolíticos potencializam a precarização e o sucateamento do SUS

1081 Relato de experiência: A Contribuição do cuidado realizado com profissionais residentes do município de Tauá, Ceará.
Brena Dielle Anastacio de Sousa, Nara Bezerra Custódio Mota, Antonio Charles de Oliveira Nogueira, Jamilia Soares de Farias, Luis Rocildo Caracas Vieira e Souza, Gina Késsia Alves do Carmo, Cássio Marques Ribeiro

Relato de experiência: A Contribuição do cuidado realizado com profissionais residentes do município de Tauá, Ceará.

Autores: Brena Dielle Anastacio de Sousa, Nara Bezerra Custódio Mota, Antonio Charles de Oliveira Nogueira, Jamilia Soares de Farias, Luis Rocildo Caracas Vieira e Souza, Gina Késsia Alves do Carmo, Cássio Marques Ribeiro

Apresentação: A Saúde é definida como “um estado completo de bem estar, que está relacionado ao bem estar físico, mental e social e não somente a ausência de doenças”.  As informações supracitadas nos trás a seguinte reflexão, algumas vezes os profissionais responsáveis em cuidar da saúde dos usuários, não conseguem cuidar de forma satisfatória da própria saúde. Podem-se citar algumas observações empiricamente: os profissionais da residência multiprofissionais têm que cumprir carga horária semanal de 60 horas, muitos começam a se adaptar ao novo estilo de vida, tendo assim que organizar melhor suas rotinas, conseguinte, caso essa organização não seja satisfatória, acabam prejudicando a maneira de se alimentar, dormir e de se exercitar, com isto a falta de organização pode surgir o estresse. Diante da informação supermencionada, no município de Tauá, Ceará foi implantado o projeto titulado Cuida RIS, onde os próprios residentes formavam trios para cuidar dos outros residentes. Esse projeto ao ser colocado em prática teve como objetivo proporcionar momento de cuidados aos residentes e preceptores que compõe a IV turma de Residência Integrada em Saúde do Ceará. Desenvolvimento: Os pressupostos metodológicos caminham sobre uma pesquisa qualitativa, onde foi utilizado um diário de campo para anotações dos momentos realizados. O Cuida RIS, foi desenvolvido com 14 residentes e preceptores que estavam disponíveis a participar, iniciando em maio a setembro de 2017, acontecendo sempre às quartas-feiras. Foram trabalhados relaxamento, oficina de lanches saudáveis, treinamento funcional, cinema, piquenique e musicoterapia. Resultados: A experiência vivida nesse projeto fez perceber a importância de trabalharmos o cuidado com este público, por isto ficou notório as seguintes reflexões: Os residentes e preceptores gostaram dessa forma de cuidado, a assiduidade estava presente, os próprios residentes se disponibilizaram para realizar momentos de cuidados com o restante da turma, os temas e as formas de trabalho realizados nesses momentos foram criativos. Considerações finais: Salienta-se, que estas ações são indispensáveis, visto que, os profissionais passam a se sentirem mais relaxados ao participarem de ações de cuidado e o estresse diminui conforme relatos. Tal fato contribui não apenas para que trabalhe melhor, mas sim que disponibilizem momentos para serem cuidados, cuidados estes que interferem positivamente em suas rotinas.

2338 RELATO DE EXPERIÊNCIA: A CONTRIBUIÇÃO DO TREINAMENTO FUNCIONAL PARA OS PARTICIPANTES DO GRUPO MEXA-SE REALIZADO NO MUNICÍPIO DE TAUÁ-CEARÁ.
Brena Dielle Anastacio de Sousa, Raquel Felipe de Vasconcelos, Jamilia Soares de Farias, Nara Bezerra Custódio Mota, Antonio Charles de Oliveira Nogueira, Cássio Marques Ribeiro, Gina Késsia Alves do Carmo, Luis Rocildo Caracas Vieira e Souza

RELATO DE EXPERIÊNCIA: A CONTRIBUIÇÃO DO TREINAMENTO FUNCIONAL PARA OS PARTICIPANTES DO GRUPO MEXA-SE REALIZADO NO MUNICÍPIO DE TAUÁ-CEARÁ.

Autores: Brena Dielle Anastacio de Sousa, Raquel Felipe de Vasconcelos, Jamilia Soares de Farias, Nara Bezerra Custódio Mota, Antonio Charles de Oliveira Nogueira, Cássio Marques Ribeiro, Gina Késsia Alves do Carmo, Luis Rocildo Caracas Vieira e Souza

Apresentação:O sedentarismo pode contribuir não satisfatoriamente para a saúde pública. A ausência de exercícios físicos pode causar inúmeros problemas, dentre eles a hipertensão, diabetes, obesidade, entre outras. No município de Tauá-CE, foi implantado pelos Residentes da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE) o grupo intitulado“Mexa-se” que tem como objetivo proporcionar vivências de treinamento funcional aos tauaenses e estimular práticas saudáveis para melhorar a qualidade de vida.Desenvolvimento:Os pressupostos metodológicos caminharam sobre a realização da pesquisa quali-quantitativa cujo instrumento foi um diário de campo construído sobre as rodas de conversas que eram realizados ao final dos treinos. Durante essas rodas,eram feitos alguns questionamentos, como por exemplo: “Qual a atividade você mais gostou?” “Por qual motivo escolheu essa atividade?”, sendo as respostas registradas no diário de campo.O grupo foi desenvolvido com 08 participantes. As atividades físicas foram desenvolvidas no parque da cidade de Tauá entre os meses de setembro a dezembro de 2017, sempre às segundas e quartas, com duração de 50 minutos por aula. Resultado:A experiência vivida nestes meses trouxe um despertamento ainda maior para as práticas realizadas. Foi identificado que 100% dos participantes demonstraram satisfação ao realizar as atividades propostas; para 75% dos participantes era a primeira experiência com o treinamento funcional; a assiduidade (frequência superior a 60%) estava presente em 62% dos participantes; os momentos que os participantes mais demonstraram interesse, foram as atividades de agilidade (75%) e atividades de força e fortalecimento muscular (25%)e também ficou evidente o interesse pelos  jogos que foram utilizados para aquecimento, dentre eles: jogo da velha (37%), bandeira (38%), amarelinha (25%).Considerações finais: Portanto, podemos elucidar através da experiência vivida, a importância de práticas em grupo, visto quer além de despertar no profissional de educação física um deslumbramento ou interesse ainda maior de busca constante pelo conhecimento, a relevância de proporcionar diálogos sobre hábitos cada vez mais saudáveis e prazerosos, possibilitando assim motivações aos alunos para terem hábitos favoráveis a saúde. Visto isto, é de grande relevância também destacar, a satisfação expressadas pelos alunos ao realizar as atividades propostas e com isto demonstraram focados nos exercícios físicos.