159: A produção do cuidado em redes colaborativas: superação de estigmas e a exclusão na saúde mental
Debatedor: A definir
Data: 01/06/2018    Local: ICB Sala 16 - Cauxi    Horário: 08:30 - 10:30
ID Título do Trabalho/Autores
419 Grupo SOCIALizAÇÃO: na construção do cuidado em saúde mental dos usuários de álcool e outras drogas do CAPS AD de Ponta Grossa - Paraná.
Angelita Aparecida Bornancin

Grupo SOCIALizAÇÃO: na construção do cuidado em saúde mental dos usuários de álcool e outras drogas do CAPS AD de Ponta Grossa - Paraná.

Autores: Angelita Aparecida Bornancin

APRESENTAÇÃO E OBJETIVO Na Saúde Mental o trabalho profissional deve considerar a singularidade dos usuários do serviço e ampliar o olhar de compreensão dos sujeitos, englobando as múltiplas dimensões de existência como as histórias de vida, os contextos social, cultural, familiar e de sofrimento psíquico. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) tem como característica buscar a reabilitação psicossocial de seus usuários no território onde constrói suas vidas. O CAPS AD oferece atendimento para pessoas com transtorno decorrentes do uso abusivo de Álcool e outras Drogas. Em Ponta Grossa - Paraná, o CAPS AD Belas Tardes, iniciou suas atividades em 02 de abril de 2004 e oferece atendimento individual e em grupo, acolhimento diurno, visita domiciliar, acompanhamento familiar e consulta psiquiátrica para quem mediante avaliação da Miniequipe de Referência Territorial e conste no Projeto Terapêutico Singular (PTS) construído junto com o usuário. O cuidar das pessoas que fazem uso abusivo ou com dependência de substâncias psicoativas (SPA) necessita de uma ação em rede, intersetorial, integral e ao mesmo tempo levar em consideração a singularidade de cada sujeito. A partir da demanda do serviço surgiu a necessidade de implantar um Grupo com informações acerca dos direitos socioassistenciais, refletindo sobre o nosso país através da leitura de jornal e de letras de músicas; dinâmicas, atividades culturais e de lazer buscando elevar a autoestima, incentivar a cidadania e o empoderamento dos pacientes, denominou-se então Grupo Socialização (GS). O GS é um grupo aberto, participam apenas os usuários do CAPS AD Belas Tardes - Ponta Grossa Paraná, conforme conste no seu PTS. Acontece todas as Segundas – feiras das 13:30h às 15:00h. O grupo tem como objetivo instituir um espaço coletivo de informação e de incentivo à cidadania, lazer e cultura. Orientar os usuários sobre os direitos socioassistenciais, buscando o empoderamento e o protagonismo social.   DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Utiliza-se o G S como método de coleta de dados. Os relatos acontecem de modo escrito e/ou oral conforme o desenvolvimento das atividades. Buscamos também observar e explorar o conteúdo implícito, mas, presente nas entrelinhas da comunicação como gestos, olhares e expressões. Durante o desenvolvimento de uma determinada dinâmica, os usuários puderam refletir sobre seus sentimentos e relataram: O primeiro “Eles pensam que eu não tenho força de vontade e que sou muito fraca”. O segundo usuário comenta que: “o morador de rua é considerado lixo do mundo e escória de todos”, O terceiro diz “a droga é mais forte que eu” e o quarto: “vou morrer e não vou resolver meus problemas”. Durante o desenvolvimento do Grupo observou-se através de relatos que o usuário de Substância Psicoativa (SPA) possui baixa autoestima, sente-se excluído e frustrado devido o estigma internalizado e por não conseguir alcançar objetivos propostos por si mesmo, objetivos estes, um tanto quanto difíceis de atingir a curto prazo. RESULTADOS E IMPACTOS: O Grupo Socialização já teve 33 encontros: Dia 10 de outubro de 2016:  Pintura em Mosaico, com 05 participações. Dia 17 de outubro de 2016: Confecção de Cartaz com o tema “O que o CAPS significa para você” e reflexão, com 06 participantes. Dia 24 de outubro de 2016: Oficina de leitura de jornal, com 14 participantes. Dia 31 de outubro de 2016: Dinâmica e Discussão sobre a PEC 241 (PEC do Teto de gastos), com 11 participantes. Dia 07 de novembro de 2016: Dinâmica e Discussão da letra da música  Ninguém = Ninguém - Engenheiros do Havaí, com  15 participantes. Dia 14 de novembro de 2016: Dinâmica A teia das Relações e Discussão da letra da música Que país é esse – Legião Urbana, com 10 participantes. Dia 21 de novembro de 2016: Gincana com brincadeiras para proporcionar momentos de descontração, com 10 participantes. Dia 28 de novembro de 2016: Exercícios de raciocínio lógico para estimulação cognitiva, com 10 participantes. Dia 05 de dezembro de 2016: Dinâmica “Qual é a música”, com 10 participantes. Dia 19 de dezembro de 2016: Dinâmicas Salada de Fruta e o “Feitiço Virou contra o Feiticeiro, com 10 participantes. Dia 23 de janeiro de 2017: Planejamento para 2017, com 13 participantes. Dia 30 de janeiro de 2017: Dinâmica “As seis Imagens”, para estimular a auto estima, com 13 participantes. Dia 06 de fevereiro de 2017: Discussão sobre a PEC 287, com 07 participantes Dia 13 de fevereiro de 2017: Dinâmica “Bola” Discussão sobre a Questão de gênero, com 11 participantes. Dia 06 de março de 2017: Dinâmica do “Espelho” para estimular a autoestima, com 08 participantes. Dia 13 de março de 2017: Dinâmica “Coisas Boas e Coisas Ruins”, com 14 participantes. Dia 20 de março de 2017: Continuação da Dinâmica “Coisas Boas e Coisas Ruins”, com 14 participantes. Dia 27 de março de 2017: Dinâmica “Reforço Positivo”, com 09 participantes. Dia 10 de abril de 2017: Jogo para estimulação cognitiva, com 12 participantes. Dia 17 de abril de 2017: Jogo para estimulação cognitiva, com 10 participantes. Dia 24 de abril de 2017: Dinâmica “Dos Problemas”, com 12 participantes. Dia 08 de maio de 2017: Dinâmica “O Presente”, com 11 participantes. Dia 15 de maio de 2017: “Bingo de socialização”, com 17 participantes; Dia 22 de maio de 2017: Dinâmica Passado, Presente e Futuro, com 16 participantes. Dia 28 de maio de 2017: Exercício de Autoavaliação, com 12 participantes. Dia 19 de junho de 2017: Visita Orientada à Biblioteca Pública Municipal, com 03 participantes Dia 26 de junho de 2017: PNAS, com 11 participantes. Dia 03 de julho de 2017:  Dinâmica “Bandeira Pessoal”, com 11 participantes. Dia 10 de julho de 2017: Música “Tente outra vez”, com 11 participantes. Dia 17 de julho de 2017: Dinâmica “A de viagem”, com 11 participantes. Dia 24 de julho de 2017: Dinâmica “O coração”, com 22 participantes. Dia 31 de julho de 2017: Fatores de Proteção e de Risco, com 09 participantes. Dia 07 de agosto de 2017: Dinâmica “Frases”, com 16 participantes. Dia 21 de agosto de 207: Dinâmica “Eu sou alguém e sou único”, com 10 participantes. O Grupo Socialização já teve 33 encontros, num total de 374 participações. Os usuários deixaram claro em seus relatos o sentimento de exclusão, se sentem a escória da sociedade, possuem baixa autoestima, vivenciam uma dificuldade de aceitar-se como uma pessoa com qualidades, defeitos e limitações como qualquer ser humano. Após a participação no grupo os usuários começaram a lutar mais pelos seus direitos e participaram de mobilizações que aconteceram na cidade, como por exemplo manifestação compra a Reforma da Previdência, tendo uma visão mais crítica da realidade.   CONSIDERAÇÕES FINAIS   Sabe-se que, a terapêutica da dependência química é complexa e conforme a Reforma Psiquiátrica o tratamento a partir do isolamento social, proporcionado pelas internações, e o uso exclusivo de medicações não é satisfatório, não havendo, portanto, intervenções prontas. Acredita-se que, na saúde mental seja essencial trabalhos de Socialização que contribua para que o usuário possa se aceitar como pessoa, como cidadão, que tenha uma visão crítica do uso das SPA, que seja empoderado para decidir sobre seu projeto de vida, e que seja estimulada a autoestima desses sujeitos nas suas singularidades.

821 GRUPO DE APOIO TERAPÊUTICO E OFICINAS TERAPÊUTICAS COMO EQUIPAMENTOS ASSISTENCIAIS NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Carla Steffane Oliveira e Silva, Telma Eliane Garcia, Tiago dos Reis de Oliveira Costa, Paulo Jonathan Pinheiro Nery, Winnie Taíse Pena Macêdo, Fabiolla de Cássia Soares Cardoso

GRUPO DE APOIO TERAPÊUTICO E OFICINAS TERAPÊUTICAS COMO EQUIPAMENTOS ASSISTENCIAIS NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Carla Steffane Oliveira e Silva, Telma Eliane Garcia, Tiago dos Reis de Oliveira Costa, Paulo Jonathan Pinheiro Nery, Winnie Taíse Pena Macêdo, Fabiolla de Cássia Soares Cardoso

INTRODUÇÃO: A desconstrução das práticas hospitalares proposta pela reforma psiquiátrica possibilitou a formulação de novas abordagens de assistência ao portador de transtorno mental. A atenção psicossocial direciona suas ações para a construção da cidadania, da autoestima e da interação do indivíduo com a sociedade onde a reprodução social do sujeito constitui um processo complexo e o sofrimento psíquico perpassa a prática clínica, que realizada na rede de atendimento requer instrumentos e estratégias para a efetivação de ações resolutivas. Nesse sentido, o desenvolvimento das abordagens terapêuticas no trabalho em saúde mental ocorre com vistas a melhorar o enfrentamento do transtorno psíquico. Na atualidade a multiplicidade de intervenções terapêuticas grupais evidenciam as modificações nas concepções e formas de tratamento em saúde mental. Nesses espaços terapêuticos ocorrem a potencialização das trocas dialógicas, o compartilhamento de experiências e a melhoria na adaptação ao modo de vida individual e coletivo. Enfim, são espaços de comunicação e integração. A introdução da família e da comunidade ao tratamento do portador de transtorno mental se constituem em fontes fundamentais de apoio pois ao compreenderem a terapêutica e colaborarem com seu desenvolvimento, essas pessoas estarão mais aptas a cuidar, de forma adequada de seus parentes. Os grupos de apoio terapêutico têm a funcionalidade de favorecer aos sujeitos um espaço de expressão de sentimentos e o convívio com situações semelhantes para avaliar o que pode ser modificado em seu cotidiano. Já as oficinas terapêuticas permitem a possibilidade de projeção de conflitos internos/externos por meio de atividades artísticas, com a valorização do potencial criativo, imaginativo e expressivo do usuário. Logo, as atividades devem ser capazes de estimular e/ou desenvolver habilidades e competências para uma vida em sociedade, que valorize a criatividade, participação e dê um novo sentido ao tratamento e acompanhamento pelo serviço CAPS. Nesse contexto, profissionais, usuários e acadêmicos podem desenvolver uma relação dialógica e dinâmica que fortaleça a interação social, desenvolvam vínculos que facilitem a emancipação por meio do cuidado em saúde mental em seu conceito ampliado, além de contribuir com a reintegração desses sujeitos. Desta forma, delineou-se como objetivo operacional deste trabalho relatar a vivência de acadêmicos de enfermagem no desenvolvimento de um grupo de apoio terapêutico e oficinas terapêuticas e suas implicações na interação social e desenvolvimento de habilidades entre/com sujeitos do serviço CAPS. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Trata-se de um relato de experiência do tipo descritivo, proporcionado pelas aulas práticas da atividade curricular Enfermagem em Saúde Mental da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA), desenvolvido por acadêmicos do nono semestre do curso, a partir das vivências em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Município de Belém-PA. Os sujeitos envolvidos foram os acadêmicos de enfermagem e nutrição, docente da atividade curricular, profissionais de saúde atuantes no CAPS em questão, familiares acompanhantes e usuários do serviço. Durante as aulas práticas, cuja finalidade é garantir o entendimento do funcionamento do serviço CAPS e dinamismo das ações executadas no local, valorizou-se os cuidados de enfermagem necessários para a qualidade da assistência e melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. As tarefas ocorreram por meio de grupos terapêuticos e oficinas com os usuários a fim de estimular a interação em atividades variadas que proporcionassem o aperfeiçoamento e/ou desenvolvimento de suas habilidades. As atividades ocorreram em etapas de acordo com os dias de aulas práticas, as quais foram realizadas através de tarefas interativas como: danças, jogos de tabuleiros, cirandas, pinturas, karaokês, dinâmicas, brincadeiras, entre outros. Estes procedimentos foram desempenhados por acadêmicos durante as aulas práticas e profissionais do CAPS estadual. As atividades manuais ou artísticas eram operacionalizadas de maneira divertida, enriquecidas de dinâmicas, brincadeiras e rodas de conversa que potencializavam a efetividade das ações e fortaleciam a comunicação entre os usuários, profissionais e acadêmicos. Cada ação realizada sempre objetivava o despertar do grupo para o descobrimento de suas capacidades e a percepção de sua validade na sociedade, além de proporcionar o vínculo direto entre os envolvidos. RESULTADOS: Observou-se na vivência que as realizações das oficinas terapêuticas proporcionam o desenvolvimento de habilidades em todos os envolvidos, a descoberta de novos talentos e o aperfeiçoamento de talentos específicos de cada participante efetivando uma assistência integrada e humanizada por parte dos profissionais e acadêmicos e a inclusão familiar ao processo terapêutico de forma gradual. Os indivíduos podem projetar seus conflitos internos sob forma plástica, corporal, literária, musical, teatral, bem como valorizar seu potencial criativo, expressivo e imaginativo propiciando intersecção entre o mundo do conhecimento psíquico e o mundo da arte, pela expressão da subjetividade. Além disso, escutamos relatos de usuários que a partir da descoberta de seus talentos, passaram a utilizá-los como fonte de renda ou introduzi-los junto ao seio familiar. Isso mostra que as ações desenvolvidas no CAPES favorecem a interação social e minimizam o preconceito da sociedade. Identificou-se que o grupo terapêutico potencializa as trocas dialógicas, bem como a partilha de experiências e viabiliza melhor adaptação dos usuários ao modo de vida individual e coletivo, sendo entendido pelos sujeitos como um lugar onde ocorre o debate sobre a necessidade de ajuda de todos. Entre os efeitos positivos declarados pelos participantes dos grupos de apoio estão uma maior capacidade de enfrentamento das situações da vida, a melhora da autoconfiança, o alívio de sintomas e o restabelecimento gradual do equilíbrio emocional. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Com base na experiência relatada, podemos inferir que os grupos de apoio terapêutico e as oficinas acabam por fortalecer o aceite do processo assistencial aos usuários, ampliando a habilidade e a autonomia do sujeito, ao permitirem a ele o desenvolvimento do potencial da criatividade e da expressão. Esses espaços terapêuticos são lugares de comunicação e interação que trabalham as relações interpessoais dos sujeitos aposta ao respeito das diversidades existentes no grupo. Outro fator que deve ser considerado e merece destaque refere-se a aprendizagem que recebemos durante a experiência com o outro e a transformação ocorrida mutuamente. A possibilidade de estar no espaço do CAPS, em convivência com pessoas em sofrimento mental, bem com profissionais de outras áreas, proporcionou um olhar ampliado quanto à saúde mental e a importância do processo de escuta qualificada, além de saber respeitar às diferenças em todas as classes de pessoas.  Pudemos verificar que a enfermagem atuando nas novas modalidades de estratégias na atenção psicossocial, deve apropriar-se desses diferentes equipamentos assistenciais de cuidado, visando a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e a promoção e manutenção de um ambiente terapêutico. Fica a ressalva que os profissionais introduzidos na assistência ao paciente em sofrimento mental necessitam dar maior atenção a estes elementos básicos do cotidiano do serviço CAPS e efetivar as ações direcionadas a promoção de diálogo e interação, para que haja qualidade na prestação da assistência, através de cuidados que sejam capazes de ir além do campo técnico, garantindo interação social e valorização do sujeito portador de sofrimento mental.

885 OS FAMILIARES COMO PROTAGONISTAS NO CUIDAR DO PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL: ADAPTAÇÃO E DESAFIOS
Andreza Dantas Ribeiro, Brenda dos Santos Coutinho, Érika Marcilla Sousa de Couto, Lara Monteiro Cardoso, Herman Ascensão da Silva Nunes

OS FAMILIARES COMO PROTAGONISTAS NO CUIDAR DO PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL: ADAPTAÇÃO E DESAFIOS

Autores: Andreza Dantas Ribeiro, Brenda dos Santos Coutinho, Érika Marcilla Sousa de Couto, Lara Monteiro Cardoso, Herman Ascensão da Silva Nunes

Apresentação: A família esteve por um longo período afastado do tratamento dos portadores de transtorno mental (PTM), no entanto, atualmente é uma peça fundamental neste, no qual muitos são os desafios enfrentados, como o preconceito, a resistência à mudança dos hábitos e a falta de conhecimento sobre a doença. O objetivo deste estudo foi verificar a importância do protagonismo dos familiares no tratamento do portador de transtorno mental, assim como suas estratégias adaptativas para esse cuidar e seus desafios, evidenciando as contribuições oferecidas pelo serviço e deficiências no atendimento. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa do tipo relato de experiência, o qual foi vivenciado por acadêmicos do quinto período do curso de graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará, durante aulas práticas da disciplina de Saúde Mental I em um CAPS, localizado no município de Santarém, no Estado do Pará. A observação empírica e o diálogo com os familiares foram realizados durante o mês de maio, do ano de 2016. O relato de experiência foi construído a partir do olhar e do diálogo com os familiares. Foram obedecidos os aspectos éticos da pesquisa, de acordo com a resolução 466/12.  Resultados e/ou impactos: 1) A concepção da família acerca dos desafios no cuidado do portador de transtorno mental: A recusa do usuário em utilizar o psicofármaco é um problema que está incluso na rotina da família cuidadora, resultando em atitudes de violência, de ocultação ou falsificação da ingestão do medicamento pelo PTM. Esse comportamento dificulta o controle da terapêutica pelo familiar responsável que por não saber da falha na tomada dos medicamentos fica impossibilitado de realizar suas atividades habituais. O transtorno mental modifica a capacidade do consciente do indivíduo, ocasionando condutas fora do padrão social, associadas à perda do pudor, a pretensão de estar recluso, ou o oposto, desenvolvendo anseio de mostrar-se, no qual a família não sabe intervir de modo eficaz. O sentimento de vergonha pode estar inserido no meio familiar devido trauma do convívio aliado à falta de compreensão sobre o quadro clínico, findando em recusa do familiar no auxílio do tratamento. As queixas da família dão mais referência ao momento em que o usuário se encontra no estado de crise, pois é a ocasião em que se põe agitado, não evidencia afeto e não aceita as indicações do cuidador. Tendo o familiar por consequência uma vida conturbada, às vezes, alegando medo e insônia pela insegurança de adormecer perante a conjuntura de desempenhos agressivos. Observou-se o sentimento de impaciência do familiar frente ao cuidado com o portador de transtorno mental relacionado à incompreensão das atitudes involuntárias que a doença traz, contudo, há cuidadores que se adaptam e procuram apreender o pensamento de que os comportamentos alterados são implicações da patologia, pois fora da crise os usuários praticam suas atividades diárias normalmente, fortalecendo a relação familiar. Outro ponto é o fato da família se ausentar do processo terapêutico em decorrência de suas ocupações laborais, que independente de haver muitos membros em um grupo, obrigatoriamente uma pessoa terá de renunciar seus serviços para prestar contínua atenção ao usuário, findando na sobrecarga sobre ele. Há famílias, porém, que se organizam, no qual cada um emprega uma função conforme a disponibilidade, alegando o incentivo a tarefas lúdicas com o objetivo de evitar a reclusão. As famílias aludem acerca da necessidade de existir uma ação coexistida do cuidador para com o cuidado, sendo este considerado uma criança, sem poder hierárquico, devendo obedecer às inferências propostas pelo familiar para conseguir efetividade nos artifícios terapêuticos por meio do temor. Isso pode ser consequência do modelo manicomial, no qual foi instituído condutas de ordem para conter as desordens morais e indisciplina dos PTM, como método de autoproteção da família. 2) A importância do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) na reabilitação do usuário e suas deficiências no atendimento: O CAPS está sob a visão de auxiliador e que traz resolutividade para as dificuldades pontuadas, removendo o fardo disposto sobre o familiar responsável. É citado pelos familiares quanto ao bom acolhimento pela equipe multiprofissional, no qual são recepcionados de forma agradável, passam pelo atendimento interdisciplinar e as demandas consistem em resolução dos problemas. Há adversidades quanto ao atendimento, a princípio, é exposta a questão da falta de pontualidade dos profissionais médicos, tendo como consequência a promoção de ansiedade nos pacientes que estão à espera de consultas ambulatoriais, que, por vezes, se encontram em crise, alargando o quadro. Também foram descritos os obstáculos com relação ao transporte e locomoção, no qual famílias que residem em comunidades ou na zona rural tem difícil acesso aos atendimentos agendados. Mas, esforçam-se em estarem presentes independentes da situação. Tal informação remete a necessidade da atuação fortificada dos profissionais nas unidades básicas de saúde (UBS) ou Estratégias de Saúde da Família (ESF) na saúde mental, para que ocorra um atendimento de qualidade dos PTM no nível primário da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e que os serviços estejam mais próximos dos usuários.  A visita domiciliar é uma questão requerida pelos familiares e PTM, alegando a importância do atendimento e acompanhamento domiciliar no conforto do usuário e melhor relacionamento entre os profissionais e usuário. A falta de esclarecimento a propósito da patologia foi observada, mostrando falhas na comunicação da equipe profissional para com a família, aliadas a um déficit na humanização. Ainda, foi percebida a carência de capacitação da família pela equipe multiprofissional a fim de orientar acerca dos métodos para lidar com problemas comuns, que repetidamente, não são solucionados. Considerações finais: Os familiares dos PTM apontaram dificuldades inseridas no espaço familiar no que confere ao transtorno mental, estes apontados, sobretudo ao tratamento e convívio com o usuário. No qual, o cuidador referencial, geralmente, não recebe apoio do grupo e, não se vê subsidiado para prestar um cuidado eficaz, isso por carências na compreensão acerca da patologia e formas de intervenção. Assim, o CAPS assume inegável importância no tratamento do paciente com transtorno metal no auxílio à família do paciente, pois durante o acesso do paciente pelo centro, este se depara com situações que podem dificultar o tratamento e ocasionar um sentimento desesperança no familiar.

3063 Grupo Educativo sobre Saúde Mental e Trabalho: Relato de Experiência
Ana Katarina de Araújo, Valéria Leite Soares, Liliane Félix Ribeiro

Grupo Educativo sobre Saúde Mental e Trabalho: Relato de Experiência

Autores: Ana Katarina de Araújo, Valéria Leite Soares, Liliane Félix Ribeiro

O presente trabalho busca relatar a experiência vivenciada e as atividades desenvolvidas por Residentes Multiprofissionais em Saúde Mental, em um grupo educativo denominado “Reabilitação Psicossocial” no Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas no município de João Pessoa – PB no período de outubro à dezembro de 2016, totalizando 7 encontros. O grupo educativo objetivou refletir sobre a categoria Trabalho; sobre o processo de exclusão e estigma associado ao usuário de drogas relacionado a inserção no mercado de trabalho; e quanto as questões concernentes as políticas públicas, direitos sociais e educação. Participaram do grupo: usuários, residentes e profissionais do serviço. Utilizou-se a metodologia da Educação Popular no intuito de promover o diálogo, a reflexão crítica e a troca de saberes e experiências. Os resultados evidenciam fatores positivos relacionados a categoria Trabalho, como a melhoria na autonomia e autoestima; nos laços familiares e sociais; e nas reais condições de sustento e consumo. Entretanto identificam-se possíveis barreiras políticas, econômicas, sociais e culturais, impostas pela ideologia Neoliberal, que dificultam a inclusão do usuário de drogas no trabalho. Tais aspectos reforçam a importância que o direito ao trabalho seja garantido pelo Estado enquanto política pública, sendo necessário que este deixe de ser visto apenas como uma atividade terapêutica, ocupação do tempo ocioso ou forma de controle institucional. Por fim, conclui-se que as atividades desenvolvidas pelo grupo contribuíram de forma significativa para ampliar as condições de acesso dos usuários ao trabalho, tendo como fruto a implantação do Projeto Brasil Alfabetizado e de um projeto de geração de renda com uma horta medicinal.

3912 A DINÂMICA DAS RELAÇOES FAMILIARES DOS INDIVIDUOS COM ESQUIZOFRENIA ATENDIDOS POR UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO OESTE DA BAHIA.
Anchielle Crislane Henrique Silva, Andressa Karine da Silva, Virna Borges Batista

A DINÂMICA DAS RELAÇOES FAMILIARES DOS INDIVIDUOS COM ESQUIZOFRENIA ATENDIDOS POR UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO OESTE DA BAHIA.

Autores: Anchielle Crislane Henrique Silva, Andressa Karine da Silva, Virna Borges Batista

A esquizofrenia é um transtorno mental, que apresenta diversos tipos de sintomas, surgindo frequentemente em forma de delírios, alucinações e entre outros. Deste modo está classificada como uma doença crônica que gera um grande impacto não apenas na pessoa com a doença, mais principalmente no âmbito familiar, área social e financeira Os familiares da pessoa com esquizofrenia devem participar de forma intensa no tratamento, ajudando a desenvolver sua autonomia para se reinserir ao convívio social. Em alguns casos há resistências e recriminação, da família ocorrendo um grande envolvimento emocional, falta de informação a cerca do transtorno podendo gerar recaída ao paciente e uma família disfuncional. O indivíduo com esquizofrenia deve continuar inserido na família e na sociedade em geral, e para que isso ocorra é necessário realizar pelos profissionais de saúde acompanhamentos e cuidados. Sendo a família um dos pontos centrais de todo o processo de evolução no tratamento. E é com este intenção que o presente trabalho se desenvolveu, esclarecendo a importância da família no tratamento de pacientes com transtornos mentais, tendo objetivo de identificar e analisar como são as dinâmicas das relações das famílias que convivem com indivíduos com esquizofrenia, destacando dessa forma as ações que têm sido desenvolvidas pelos profissionais no CAPS para a ressocialização dos pacientes com esquizofrenia na família, e identificar se as famílias compreendem a importância de estar seguindo o tratamento do membro familiar. Diante disso, estima-se que há um interesse da família em conhecer melhor o transtorno, percebendo que a pessoa não é a única responsável pela sua condição, pois faz parte de um processo de adoecimento. Trata-se de um estudo de campo do tipo qualitativo exploratório tem como objetivo identificar e analisar como são as dinâmicas das relações das famílias que convivem com indivíduos com transtorno esquizofrênico atendido por um CAPS no Oeste da Bahia, estima-se verificar se as famílias compreendem a importância de estar acompanhando o tratamento do membro familiar com esquizofrenia, destacar as ações que têm sido desenvolvidas no CAPS para a ressocialização dos pacientes com esquizofrenia na família e verificar a importância da família em conhecer o transtorno de esquizofrenia. Almeja-se com a criação desse material que a família possa orientar-se aos problemas que poderão vivenciar e que sejam estimuladas a buscarem o tratamento, dessa forma, dispõem do ambiente familiar uma continuação nos modelos básicos do tratamento, como atendimento das necessidades básicas, continuidade na medicação adequada, apoio e afeto para reinserção gradual à socialização, tendo um olhar voltado para o processo coletivo, de pessoas que dispõem de diferentes maneiras de pensar, incluindo os cuidados com a saúde, e a forma como lida frente as dificuldades enfrentadas. Tentando buscar as necessidades de um determinado grupo. Isso significa que o profissional trabalha de acordo com a realidade local, a partir de demandas encontradas em uma comunidade específica.  Nesse sentido, o resultado da pesquisa ainda é parcial considerando que a pesquisa não foi finalizada.

4207 Usuários do CAPS: protagonistas de sua própria história.
Wolembergue Lopes Gomes, Josimeire Cantanhêde de Deus

Usuários do CAPS: protagonistas de sua própria história.

Autores: Wolembergue Lopes Gomes, Josimeire Cantanhêde de Deus

Tema/Titulo: Usuários do CAPS: protagonistas de sua própria história. Apresentação: essa proposta de intervenção tem como base a implantação do grupo de ajuda e suporte mútuos no CAPS - Madeira Mamoré de Porto Velho/RO, sendo realizado pelo projeto de extensão Promoção de Saúde Mental no Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia. Com o objetivo de construir um espaço de acolhida, troca de experiências, de apoio emocional e promoção da autonomia dos usuários do serviço e seus familiares. Desenvolvimento do trabalho: o grupo de ajuda e suporte mútuos foi instalado no CAPS – Madeira Mamoré para abarcar tanto usuários quanto familiares, não possuindo restrição de participantes. A metodologia utilizada foi embasada na cartilha do manual de ajuda e suporte mútuos, estão sendo realizados encontros mensais e inicialmente sendo ministrado pelos professores e alunos do projeto. Seguindo os seguintes passos: o grupo se posiciona em formato de circulo e ocorre a exposição dos objetivos e das regras do grupo aos novos participantes, que até o quinto encontro será de livre acesso a qualquer pessoa, após esses cinco encontros pretende-se criar uma fidelização dos participantes. Seguindo com uma rodada de apresentações de cada integrante e como foi sua semana, a partir desse primeiro contato e definido com o grupo tema a ser discutido naquela reunião, como por exemplo: como eles lidam com a medicação, crises, sono, quais suas formas de lazer, questão da sexualidade etc. A conversa e mediada por duas pessoas, uma que sempre estimula o grupo a falar e a debater e outra que fica de fiscal para que as regras sejam seguidas. O outro ponto importante que e trabalhado tanto no grupo como fora dele são os planos de ação como: plano de crise (que atua em formas do participante saber lidar com suas crises e momentos difíceis), plano de bem estar (que são atividades a serem desenvolvidas pelo participante tragam um bem estar ou evitem situações de crise) etc. Tendo como objetivo final os próprios participantes que chegaram precisando desse suporte possa ser a pessoa que dê esse apoio a outros participantes dessa rede, pois desenvolveram sua autonomia e laços de confiança, dando continuidade ao grupo. Resultados e/ou impactos: espera-se que com o grupo, os participantes possam encontrar um lugar em que suas vivências são acolhidas, não havendo julgamentos, que seja criado e estimulado a autonomia sobre sua vida e que tenham condição para que sejam protagonistas de sua própria historia tendo uma rede de laços ao seu lado. Considerações Finais: a proposta poderá contribuir para reforçar a integração e estimular autonomia dos usuários do CAPS, modelo de serviço que vem contra aos paradigmas manicomiais e de exclusão das pessoas que possuem algum transtorno mental. Assim, atuando de maneira positiva na reinserção dos usuários a sociedade e também dando suporte aos familiares que muitas vezes enfrentam as dificuldades de se ter um familiar que precise de cuidados e uma atenção especial.

5028 COMO VIVEM PAIS/CUIDADORES E PESSOAS QUE APRESENTAM O: TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO
Aline Aparecida Arantes, Iel Marciano de Moraes Filho, Thaynnara Nascimento dos Santos, Francidalma Soares Sousa Carvalho Filha, Hilma Mirella Costa e Silva, Raimunda de Paula de Castro, Laiane Sousa da Costa, Franc-Lane Sousa Carvalho do Nascimento

COMO VIVEM PAIS/CUIDADORES E PESSOAS QUE APRESENTAM O: TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO

Autores: Aline Aparecida Arantes, Iel Marciano de Moraes Filho, Thaynnara Nascimento dos Santos, Francidalma Soares Sousa Carvalho Filha, Hilma Mirella Costa e Silva, Raimunda de Paula de Castro, Laiane Sousa da Costa, Franc-Lane Sousa Carvalho do Nascimento

Apresentação: O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma alteração do desenvolvimento que é definido a partir de avaliações comportamentais, caracterizado por déficits na comunicação social, na interação, na sensibilidade sensorial, coordenação motora e níveis de atenção, com a presença de complicações no que diz respeito ao empenho e a realização de atividades. No que tange aos aspectos familiares, é importante ressaltar que a chegada de uma criança é sempre esperada por toda família, onde os mesmos desejam que durante o seu desenvolvimento tenha a capacidade de demonstrar o que se anseia; após o nascimento e conforme o tempo passa os genitores começam a perceber peculiaridades nos gestos de seu filho, como tipos de choros, a presença ou não de lágrimas, gestos esses ajudam a mãe a entender seu filho, porem não ocorre como esperado, crianças no Espectro Autístico, que em geral são muito inquietas ou muito agitadas, além de não estabelecerem sorriso social; é ai que os pais passam por uma fase de negação, pois os mesmo cultivam sonhos e fantasias para o futuro de seus filhos; as manifestações clínicas do autismo causam nos pais muita dor, pois a criança se prende em atitudes de retraimento que fazem com que eles se sintam impossibilitados de estabelecer comunicação, levando-os a viver com estranheza ou de modo agressivo em relação ao filho. Com o passar dos anos, os familiares vão se adequando à convivência com a criança/pessoa que está no espectro autista; porém na adolescência podem ocorrer algumas modificações na dinâmica do relacionamento da família mediante mudanças naturais deste período como: desenvolvimento de caracteres sexuais, modificações corpóreas, alterações no comportamento e na adaptação social. Objetivo: analisar o cotidiano de pais/cuidadores e pessoas que estão no Espectro do Autismo. Desenvolvimento: pesquisa avaliativa, exploratória, com abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. Foi aplicado uma entrevista á 32 pais/cuidadores de pessoas que vivem no TEA, onde os critérios de inclusão foram ser cuidador informal de pessoa que está no TEA e aceitar de livre e espontânea vontade, o trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: verificou-se que a maioria dos cuidadores relatou que seu cotidiano é extremamente voltado aos cuidados da criança/pessoa com TEA. Notou-se ainda que os maiores entraves enfrentadas pelos cuidadores foram as dificuldades com relação aos cuidados da criança com TEA, tais como: comunicação e alimentação. Notou-se ainda, que as áreas mais afetadas no cotidiano dos cuidadores foram o lazer e o trabalho. Onde as principais formas de lazer e atividades recreativas das crianças/pessoas usufruem de programas como: banhos, passeios e brincadeiras em geral. Podemos identificar a dificuldade das mães quanto ao atraso da fala e da linguagem nos primeiros anos de vida, uma vez que as mesmas identificam que seus filhos demonstrem a ausência de interação com outras crianças da mesma idade. Já no que diz respeito aos afazeres diários e rotina da família autores afirmam que a dedicação e a disponibilidade dos pais, mas em especial das mães com relação aos cuidados do filho com autismo se dá em tempo integral, fazendo com que o tempo que ela tenha para cuidados consigo própria seja pouco, dessa forma o cotidiano das famílias gira em torno das necessidades e dificuldades da criança/pessoa com autismo, principalmente no que se refere às atividades diárias; quanto as mudanças diárias incluem em muitos casos mudança de cidade, devido á busca de melhores tratamentos para a criança, ocorrem mudanças também na vida social dos mesmos, ou seja, alguns pais evitam expor os filhos a certos ambientes e situações. A participação dos familiares no tratamento da criança/pessoa que está no espectro do autismo exige mudanças na rotina familiar, todavia, quando se percebe a ausência dos demais membros da família, nota-se que a sobrecarga de cuidados prejudica a qualidade de vida e as atividades diárias das mães. Quanto ao tratamento e rede de apoio á pessoas que vivem no TEA em um estudo que trata da incidência de crianças participantes dos programas de estimulação precoce de cinco associações de pais e amigos excepcionais, foi identificado que em todas as APAEs, contam com uma assistência psicopedagogo, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. Os que recebem assistência de locais como a AMA, APAE E CAPSi, tem acompanhamento pelos mesmos profissionais especializados também como: psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psiquiatra e psicopedagogo. Considerações finais: o TEA é um transtorno global do desenvolvimento, que aparece geralmente nos três primeiros anos de vida, manifestando características como: dificuldades na comunicação verbal e não-verbal; dificuldades nas interações sociais, e presença de comportamentos repetitivos e estereotipados, cabe ressaltar que esta alteração pode se manifestar em diferentes graus. Os seus cuidadores prestam um cuidado único a criança/pessoa, a fim de melhorar a interação com atividades que referem-se à comunicação e alimentação, que é a habilidade onde eles apresentam maior dificuldade. Sabe-se das dificuldades em se cuidar de pessoas que vivem no Espectro Autístico, sobretudo pelas características de inabilidades de comunicação e interação social, por isso, é fundamental que os cuidadores tenham à sua disposição uma rede de suporte, com vistas a se estimular o desenvolvimento dessas pessoas e buscar sua inserção nos mais diversos âmbitos, para que a mesma tenha uma vida o mais próximo possível do típico. Com relação as redes de apoio de serviços educacionais, sociais e de saúde á disposição dos cuidadores no cuidado de seus indivíduos, percebeu-se que a maioria das crianças/pessoas recebem apoio da AMA, APAE e CAPSi sendo para o cliente de forma integral, gerando benefícios tanto para os clientes quanto para os familiares, benefícios estes que permitem a realização de passeios compatíveis com as condições financeiras, que possibilitará melhor interação social, ampliação do repertório verbal, e ira reduzir a apresentação de comportamentos inadequados quando a criança/pessoa se encontrar em ambiente diferente de sua rotina. Temos que levar em conta sempre o estado emocional do cuidador pois ele se envolve inteiramente com o cliente e precisa de uma rede de suporte que mostre que sua vida deve seguir o mais simples possível inserindo o autista na sociedade como um todo, não sendo discriminado, tendo uma completa inserção.

5123 O Apoio Institucional para Além do Arranjo Organizacional: um dispositivo de construção de coletivos e de enfrentamentos micropolíticos para sustentabilidade do SUS.
Ana Carolina Rios Simoni, Claudia Tallemberg, Elissandra Siqueira Silva, Károl Veiga Cabral, Paula Emília Adamy, Simone Alves Almeida

O Apoio Institucional para Além do Arranjo Organizacional: um dispositivo de construção de coletivos e de enfrentamentos micropolíticos para sustentabilidade do SUS.

Autores: Ana Carolina Rios Simoni, Claudia Tallemberg, Elissandra Siqueira Silva, Károl Veiga Cabral, Paula Emília Adamy, Simone Alves Almeida

Compartilhamos neste trabalho construções ético-políticas produzidas a partir de experiências na gestão estadual da Política de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do RS, entre 2011 e 1014, tendo o apoio institucional e a educação permanente em saúde como ferramentas metodológicas de aproximação e invenção junto aos municípios, seus territórios e atores, para construção de redes de atenção à saúde capazes de acolher existências singulares. O apoio institucional para a construção de linhas de cuidado nas regiões de saúde abriu possibilidades para superar a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual e a reprodução alienada de práticas, apostando na força dos espaços de formação do agir em saúde no cotidiano, para ampliar a potência e diversificar as ferramentas de análise e intervenção das equipes nas suas realidades. Desta forma, foi concebido não apenas como um arranjo organizacional, mas sobretudo como um operador de mudanças nos processos de trabalho, pautando-se pela indissociabilidade entre as formas de cuidar, as formas de fazer gestão e a política, trazendo à tona o próprio caráter do SUS em sua dimensão híbrida entre a produção da saúde, a cidadania, a inclusão social e a garantia de direitos, tomando a defesa da vida como valor inestimável enquanto projeto societário e civilizatório, contra o sistema de capitalização e gerenciamento de corpos disciplinados e saudáveis – daí sua radicalidade política. O apoio institucional como dispositivo acompanhou o processo implementação de um projeto estratégico de governo, nomeado Linha de Cuidado em Saúde Mental – o cuidado que eu preciso, que tinha como um dos objetivos destinar financiamento estadual complementar e de caráter indutivo para a ampliação e diversificação dos serviços territoriais de atenção psicossocial, especialmente com foco na ampliação do acesso e da qualidade do cuidado em Saúde Mental Álcool e Outras Drogas na Atenção Básica. Era preciso fomentar processos de trabalho em rede, desconstituindo fluxos enrijecidos, pelos quais os usuários migram de internações em hospitais para longas permanências institucionais em comunidades terapêuticas ou asilos de idosos (instituições de longa permanência para idosos - ILPI), onde são tratados como cérebros e personalidades disfuncionais, que portam o estigma da periculosidade. Tratava-se de desconstruir as velhas novas formas de tratamento moral, que ganhava as tintas do século XXI, como no emblemático discurso da “epidemia do Crack” – argumento que faltava para justificar a face contemporânea da grande internação. “SUS pelo Cuidado em Liberdade” foi o norteador ético que orientou as ações empreendidas no bojo deste projeto, em contraposição às iniciativas de recolhimento compulsório, internação de longa permanência, cujo objetivo não é outro senão tirar a dor dos outros da nossa vista. Tendo em conta os limites da regionalização, estabelecemos referências de apoiadores institucionais por macrorregião com agenda periódica de visita e construção com os colegas gestores regionais, secretários municipais e trabalhadores das redes, tendo o apoio institucional como ferramenta para desencadear e sustentar processos de criação ou reestruturação de serviços de saúde mental na direção da singularização das terapêuticas, agenciamento de laços comunitários e interface da saúde com a cultura. Nas circulações que fizemos pelo estado, nas agendas de apoio, conhecemos diversos serviços de Atenção Psicossocial e pudemos escutar muito das lógicas que neles operam. Testemunhamos a presença forte dos estigmas associados ao “doente mental” – o da incapacidade, mas, principalmente, o da periculosidade, que segue operando com força nas relações da sociedade com a loucura. Ousar apostar nas potencialidades daqueles considerados desviantes, incapazes ou perigosos era um ato de coragem em diversos cenários. Reféns de seus preconceitos e valendo-se do senso comum ou de discursos que se dizem científicos, muitos gestores e trabalhadores não conseguiam enxergar para além da imagem de seus próprios parâmetros, de forma que o apoio institucional aparecia como oferta de um espaço-tempo para desconstrução destes escudos que operam em cada um de nós, assim como de invenção de outras formas de trabalhar em equipe e de cuidar. Neste sentido, colocava-se com força nestes lugares do apoiar a aposta de que os profissionais de saúde podem constituir percursos singulares de formação e modos inventivos de trabalhar, mas precisam de companhia, suporte nesta empreitada de problematizar o que há de institucional e institucionalizador nas práticas, inclusive na gestão, para acolher a diferença e construir pertencimento na produção micropolítica, tecendo uma sustentabilidade coletiva. Recolhemos, nestes percursos, múltiplas vivências e construções que seguem reverberando em nós dentre as quais se destacam três experiências paradigmáticas que se iniciaram como agenda de gestão circunscrita a um período de governo, mas que resistem e persistem em seu próprio curso num para além de uma pauta governamental. Tomamos como analisadores estas três experiências do campo sanitário, político e social que, com muitas dificuldades e atravessamentos, continuam persistindo por força de um coletivo heterogêneo – agora capilarizado em diferentes espaços de gestão, formação, atenção e controle social, unido por enlaces de afeto e compromisso ético-político – que segue perpetrando a defesa da vida e do SUS. São elas: as ações de construção de rede de cuidados psicossociais frente ao evento do incêndio da boate Kiss; o processo de desinstitucionalização em ILPI; e a implementação da Política Estadual de Redução de Danos. Nestes contextos, a função do apoio institucional foi tomada em sua conformação rizomática, acêntrica e não hierarquizada, muito embora contenha os arranjos hierarquizados e de enrijecimento das práticas, mas vazando-os, onde a micropolítica dos encontros com e entre os trabalhadores pode produzir, para além da gestão, processos de autonomização na produção do cuidado. O apoio institucional como ferramenta para a gestão estadual da saúde mental foi, sobretudo, nestas três experiências, um dispositivo de produção de novas relações entre os atores sociais envolvidos nos processos de construção da reforma psiquiátrica no Estado, de mudança de modelo de gestão e atenção, rompendo com lógicas hierarquizadas, centralizadas e especializadas, seja no contorno das ações de desinstitucionalização, seja nos cenário de intensa dor e perplexidade deixado pela tragédia da Boate Kiss em Santa Maria, seja na construção delicada e cotidiana da redução de danos como estratégia e diretriz para o cuidado no campo do uso problemático de drogas. Trazendo para a gestão, os princípios do cuidado no SUS, tais como vínculo, acolhimento, responsabilização compartilhada, fomentamos a produção de uma rede viva de cuidados, que para além de um governo ou de outro, ainda pulsa e produz suas ressonâncias. Aprendemos juntos – e com aqueles com quem nos encontramos e compartilhamos o trabalho de desinstitucionalização, de atenção psicossocial em situação de desastres e de fortalecimento da redução de danos – novas formas de se relacionar e de produzir saúde, vivendo então, o desafio da luta antimanicomial e da construção do SUS nas práticas cotidianas do fazer na gestão em saúde mental.

5153 Sentidos do religioso na atenção à Saúde Mental: Perspectiva de profissionais e usuários de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS II) do Sertão do Vale do São Francisco
Grécia Rejane Nonato de Lima, Luciana Duccini

Sentidos do religioso na atenção à Saúde Mental: Perspectiva de profissionais e usuários de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS II) do Sertão do Vale do São Francisco

Autores: Grécia Rejane Nonato de Lima, Luciana Duccini

Este trabalho se baseia numa pesquisa qualitativa, etnográfica, em andamento, vinculado ao Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI) da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Busca-se compreender os sentidos acerca do religioso emergentes das práticas discursivas de usuários e profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial II (CAPS) de duas cidades do Vale do São Francisco. Ressalta-se que os termos religião e religiosidade/espiritualidade são considerados como equivalentes aqui, embora possam ser traçadas distinções conceituais entre ambos. Sabe-se que o sofrimento psíquico, nas sociedades que convencionamos chamar de “modernas”, foi classificado e, consequentemente compreendido, no âmbito das patologias. Lentamente, na passagem do Renascimento europeu à chamada Modernidade, a “loucura” passou de manifestação sagrada, por vezes “possessão demoníaca”, à desrazão e à “doença mental”. Sob o prisma de “doença”, a loucura necessita ser “tratada” e “curada”, visão que veio a comprometer os modos de ser que se afastam do padrão imposto pela sociedade. Dessa forma, o tratamento asilar e a terapêutica moral sustentou, durante décadas, uma lógica de cuidado em que o sujeito em intenso sofrimento psíquico ficava excluído não apenas fisicamente, mas também sem condições de falar de si. Nestes processos é praticamente impossível separar visões de mundo religiosas dos ideais de sujeito subjacentes ao discurso patologizante. Na esfera das Políticas Públicas, em meados do século XX, em diálogo com a área de Direitos Humanos, emergiram questionamentos a tal modelo de tratamento. Surgiu outra perspectiva que buscava “resgatar o sujeito perdido”, até então nomeado apenas por sua “doença”.  No Brasil, entre as décadas de 70 e 80, foi constituído um processo denominado Reforma Psiquiátrica que, na verdade, propunha mudança em toda a lógica de cuidado e não apenas “corrigi-la”. Vale evidenciar que a Reforma Psiquiátrica tem caráter processual, não importando um fim específico a ser atingido, mas seu desenrolar, o que reverbera no abandono de um ideal curativo. Postula-se assim, a busca gradual da autonomia possível para cada sujeito acompanhado. Para que essas mudanças acontecessem, surgiram serviços como os CAPS, que têm posição estratégica na rede de saúde. Um dos princípios na estruturação dos serviços interessa diretamente a este trabalho: capacidade de escuta de todos os  profissionais, bem como sua configuração em rede com vistas a aproximar o cuidado do território existencial dos sujeitos atendidos. Nessa perspectiva, torna-se patente a exigência posta aos profissionais de uma capacidade para ouvir e acolher especificidades dos universos sociais de onde vêm os usuários dos serviços. Universos estes perpassados por dimensões culturais, subjetivas, políticas e também religiosas. As relações entre religião, saúde e bem estar já se tornaram parte do senso comum, tanto quanto têm sido objeto de estudos das ciências humanas e sociais, em especial, na área da antropologia. Contudo, as possíveis influências mútuas entre religiosidade/espiritualidade e saúde mental têm recebido conotações variadas em diferentes épocas, países, áreas de saber e em diferentes grupos religiosos, ora destacando os seus aspectos positivos, ora os negativos. Alguns autores indicam que há uma espécie de “senso comum” que, embebido de cientificismo, tende a sustentar uma visão negativa da religião, em especial no campo da Saúde Mental. Evidentemente, tais noções podem se envolver no desenrolar dos processos terapêuticos e na elaboração de projetos de cuidado em saúde mental, configurando um aspecto merecedor de maior atenção. De fato, embora as relações entre religiosidade/espiritualidade e saúde mental sejam largamente reconhecidas, envolvendo até mesmo a revisão dos manuais psiquiátricos para diagnóstico de transtornos mentais, as diversas formações profissionais para atuação na área não acompanharam estas transformações, manifestando uma lacuna em relação ao cuidado desenvolvido. Há indícios de que a formação profissional não tem preparado adequadamente as equipes para responder a tamanho desafio, em especial no que diz respeito à vivência da religiosidade, tão marcada por pré-noções, sejam essas negativas ou positivas. Isto coloca a importância de compreendermos, de maneira aprofundada, quais sentidos emergem quando, no atendimento psicossocial, os usuários apresentam experiências e narrativas marcadas pelo religioso. O trabalho proposto enquadra-se na perspectiva do construcionismo social no sentido em que considera que os discursos não apenas descrevem a realidade em que se vive, mas participam de sua construção. Compreende-se que os sentidos são compreendidos como elaborações discursivas conjuntas, que sujeitos, social e historicamente situados, constróem processualmente e em copresença. Dessa forma, o encontro clínico e as demais interações no serviço de atenção psicossocial são instâncias privilegiadas para a observação das questões almejadas. A imersão em campo iniciou no mês de novembro de 2017, ou seja, está em fase de aproximações iniciais com usuários e profissionais e o tema tem sido disparado e conversado, ainda aos poucos. Tem se buscado familiarizar os interlouctores com a presença da pesquisadora para reduzir ao máximo o estranhamento com sua assiduidade nos serviços, assim como garantir que todos os participantes tenham conhecimento dos  seus objetivos no local, construindo um processo de consentimento dialógico. Como forma de sistematização das observações, as visitas tem sido registradas em diários de campo. Devido a pesquisa ainda não estar concluída, serão apresentados dados iniciais e primeiras impressões. O CAPS II é um serviço de portas abertas, funciona de segunda a sexta-feira em horário comercial e atende demanda de adultos com intenso sofrimento psíquico. Estes recebem atendimento realizado por equipe multiprofissional que envolvem atividades diversas, coletivas (sejam elas: passeios, grupos terapêuticos, grupos informativos, etc) e atendimentos individuais (consultas com psiquiatra, acompanhamento psicológico ou orientações específicas a respeito de direitos sociais). Os interlocutores, sobretudo os usuários, têm se interessado pelo tema, chegando a se admirar que uma pesquisa possa conversar sobre tal conteúdo. Tem sido possível observar que os usuários em geral levam para o serviço, principalmente para os grupos terapêuticos, aspectos vivenciados nas crenças religiosas do dia-a-dia, sobretudo quando se tratam de práticas mais amplamente aceitas pela maioria, a exemplo de crenças relacionadas ao cristianismo, em especial os cultos evangélicos. No entanto, outros rituais e crenças não tem aparecido de modo expontâneo. Um dos usuários disse que gostaria de falar sobre o assunto, mas teme a forma como  receberiam sua vivência e ritos no candomblé, por isso, prefere falar em particular e não se identificar em momentos coletivos. O tempo previsto da inserção em campo é de seis meses. Está sendo utilizada a observação participante, e serão realizados grupos narrativos com usuários e profissionais selecionados ao longo do trabalho, sendo um total de doze interlocutores por serviço, compostos separadamente um por usuários e outro por profissionais. Como caminho interpretativo serão utilizados Mapas dialógicos como estratégia de visibilização dos discursos das observações e dos grupos. A dissertação ao final do estudo pode contribuir com uma reflexão sobre a formação de profissionais, particularmente quanto às exigências da humanização e às dificuldades de posicionamento frente aos discursos apresentados pelos usuários, de modo que aspectos importantes da sua existência não sejam ignorados por não haver “espaço” para eles na escuta e acolhimento. Acredita-se que este tipo de estudo colabore com os princípios da Reforma Psiquiátrica, principalmente em suas dimensões sóciocultural e técnico-assistencial que, sem dúvidas, refletem nas prática do cuidado, propiciando assim uma visão mais ampla do que vem a ser Saúde Mental e possibilidades de intervenção. 

5079 Com a palavra: os usuários - uma cartografia das redes de cuidado em Saúde Mental
Heloisa Elaine Santos, Marília Cristina Prado Louvison

Com a palavra: os usuários - uma cartografia das redes de cuidado em Saúde Mental

Autores: Heloisa Elaine Santos, Marília Cristina Prado Louvison

Esta pesquisa propôs analisar a produção do cuidado em redes de atenção à Saúde Mental em uma região da Cidade de São Paulo dando visibilidade à análise feita pelos usuários dos serviços que compõem esta rede. São colocados em análise a articulação da rede e os recursos tecnológicos utilizados na organização dos processos de trabalho e na produção do cuidado em Saúde Mental. A Natureza do objeto de pesquisa, que é produzido em ato, pede uma forma de aproximação que permita sua observação deste mesmo modo acompanhando este processo de produção de subjetividade em constante movimento. Optou-se por utilizar a Cartografia como forma de caminhar pelo campo de pesquisa o que possibilita a aproximação com a produção do cuidado e permite a construção de espaços que recolham as afecções desse processo incorporando o movimento como fio condutor da caminhada do pesquisador pelo campo. Foi identificado o usuário guia, Sr. João, em conjunto com a equipe do CAPS da região que o descrevia como uma pessoa articulada e que percorre a RAPS local. João me apresentou a uma rede de cuidados que inclui serviços de saúde e outras maneiras de produzir arranjos cuidadores junto à sua família e no território por onde circula. Mesmo com todas as dificuldades, falta de diversidade nas ofertas e pouca dedicação às suas singularidades, mostrou-se capaz de produzir vida nestes encontros com os trabalhadores e com os demais usuários. No entanto, sua circulação se dá quase exclusivamente pelos espaços da rede formal de cuidado A partir desta vivência em campo foram construídos analisadores da produção do cuidado em saúde mental, por meio de registro em diário de campo e processamento em coletivos de pesquisadores, gestores, trabalhadores e usuários. Estes analisadores foram identificados a partir de cenas e diálogos vivenciados em campo de pesquisa e estão relacionados com a multiplicidade, o vínculo, a autonomia, a cronicidade e a participação. Cada analisador está em relação aos outros, compondo uma rede de analisadores complementares e autoprodutores. É importante assinalar que a produção desta pesquisa corresponde a um recorte temporal e foi marcada por um período onde ocorreu a troca da OSS gestora do CAPS e de quase a totalidade da equipe deste serviço, o que resultou em diversos movimentos de desterritorialização e reterritorialização, cuja contextualização é essencial para melhor compreensão das forças atuantes. Foi percebido o papel central que as tecnologias leves exercem na produção do cuidado em saúde mental. A valorização do vínculo no cuidado e o impacto marcante que a quebra do mesmo produziu nos usuários e trabalhadores do serviço são indicativas dessa centralidade. Nesses espaços de encontro entre os usuários e os trabalhadores há potência para construir um projeto de cuidado em cogestão, onde o protagonismo dos usuários seja incentivado e valorizado Penso que este é um grande desafio, pois, mesmo onde essa é a aposta dos trabalhadores e da gestão dos serviços, há uma tendência a capturar este usuário em uma rede de regras e formulas prontas de produzir saúde de acordo com um modelo médico-hegemônico. Essa automatização das ofertas também é acionada como modo de defesa frente à grande demanda que bate à porta dos serviços de saúde mental e à gravidade de uma parte considerável dos casos, que são desafios diários ao trabalho em saúde. As ações em situações de crise, ou de grande vulnerabilidade social, podem ser em grande parte dos casos, muito diretivas e impactantes. Já os casos estabilizados, oferecem um desafio a longo prazo. O cuidado longitudinal e em “profundidade” necessário para encontrar e estimular o desenvolvimento das potências desses sujeitos, é um tipo de cuidado que necessita de uma dedicação intensa dos trabalhadores, além da articulação em rede intersetorial. Esta articulação exige o fortalecimento cotidiano de diversas ações para ampliar as possibilidades de conexão entre os diferentes serviços, criar espaços de encontros e discussão que incluam trabalhadores, usuários e a sociedade de um modo geral. Mas, por outro lado, esbarram sempre na limitação de recursos. Conquistar e cuidar respeitando as necessidades de saúde de cada pessoa aproxima-se mais da ”arte” do que da “indústria”, ou seja, não dá para fabricar soluções em massa para questões e necessidades singulares. Infelizmente, o que percebemos é que a oferta de medicamentos e de atividades prescritivas ainda são a maior parte das ofertas de cuidado em saúde mental. Embora sejam recursos importantes, o empobrecimento de outras ofertas impacta de forma negativa a produção do cuidado. Alguns usuários atingem o estágio onde são considerados estáveis, ou seja, estão respondendo bem à medicação e tem certo grau de autonomia que permite algum nível de inserção social, seja nas atividades ofertadas pela RAPS ou no convívio familiar e social. Entretanto, este estágio de estabilidade não significa que o usuário tenha circulação e inserção ampliadas.  Podemos citar como exemplo, os usuários que fazem uso adequado da medicação, frequentam oficinas no CAPS e no CECCO, mas não têm autonomia em outras atividades onde não há mediação dos trabalhadores e dos serviços da RAPS. Ações como a inclusão no mercado de trabalho ou em espaços de educação, lazer e cultura extrapolam os limites de uma rede onde o máximo de articulação costuma se dar entre a saúde e a assistência social, principalmente em torno de casos de grande vulnerabilidade social. Apesar da RAPS ser pautada em princípios como o cuidado em liberdade, a responsabilização e a inserção social, há um risco de se reproduzir o modelo de cuidado médico-hegemônico onde a produção de atos de saúde é pautada atos procedimento-centrados em detrimento de atos usuário-centrados. Alguns usuários têm a potência do pertencimento e utilizam os serviços, fazendo vínculo com a rede como um todo. Ao mesmo tempo em que a rede pode ser capturada pelo modelo médico-hegemônico é também disputada por estes usuários que afirmam que não querem só remédio, e pelos trabalhadores que apostam em modos contra hegemônicos de cuidar. Derrubar os muros dos manicômios não garante a desinstitucionalização, como percebi nas falas frequentes de João, quando relata a “estagnação na estabilidade”. E romper com esta estagnação é um grande desafio à RAPS, aos usuários e trabalhadores. Provocar a desestabilização é tirar usuários e trabalhadores da zona de conforto da estabilidade e pode provocar sofrimento. Quais as ferramentas necessárias para manejar este desconforto decorrente da movimentação? Seria uma aposta em ações intersetoriais como possibilidade de facilitar esse processo de inserção social e produção de autonomia? Seria o fortalecimento dos espaços de participação popular, como assembléias de usuários e conselhos gestores em seus diferentes níveis? A ampliação da RAPS? Entre outras ações e pensando no atual momento que vivemos onde emergem os valores fascistas entranhados em parte de nossa sociedade, há que se manter vivo o Movimento da Luta Antimanicomial e fomentar a participação cada vez mais ativa e esclarecida dos diversos setores da sociedade em defesa da vida. Não há um modelo único para cuidar em saúde mental e é necessário garantir os espaços onde possam ser repensadas as estratégias e ferramentas a serem utilizadas, garantindo, inclusive, a análise dos atuais modelos vigentes. Os usuários pedem por participação, pedem por apoio às suas demandas e suas apostas. Coloca-se este desafio principal: Garantir a voz e o protagonismo às pessoas com sofrimento mental.  

1464 COM A VOZ, OS USUÁRIOS: discursos sobre as práticas de cuidado em saúde mental em um CAPS do Estado do Pará
Márcia Roberta de Oliveira Cardoso, Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

COM A VOZ, OS USUÁRIOS: discursos sobre as práticas de cuidado em saúde mental em um CAPS do Estado do Pará

Autores: Márcia Roberta de Oliveira Cardoso, Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Apresentação: Este resumo diz respeito aos principais resultados de uma pesquisa de dissertação de mestrado onde foram analisados como as práticas de cuidado em saúde mental são percebidas pelos usuários de um Centro de Atenção Psicossocial - Caps do Estado do Pará, procurando conhecer seus itinerários terapêuticos. Nesse sentido, procurou-se escutar a voz dos usuários, uma vez que todo o debate em relação à política e às práticas de cuidado em saúde mental deve levar em consideração o protagonismo do usuário como centro de suas ações, em consonância com os princípios da Reforma Psiquiátrica. Desenvolvimento: A metodologia utilizada foi de abordagem qualitativa, de cunho discursivo e etnográfico. Participaram do estudo 14 usuários cadastrados no Caps. As entrevistas foram analisadas de acordo com os eixos: Processo Saúde e Doença; Itinerário Terapêutico; Práticas de Cuidado em Saúde Mental; e Usuário e Autonomia. Nos discursos, o Caps foi o local em que os usuários se sentiram mais bem cuidados. Resultados: No que se refere ao Eixo Processo Saúde e Doença, foi possível observar que o sentido dado ao adoecimento explicitado por meio do relato das histórias de vida dos usuários acaba por localizar a doença no corpo físico, no órgão. O intenso sofrimento psíquico produz sintomas orgânicos e psíquicos, que acabam desencadeando ‘crises’. Foi a partir destas que os usuários estabeleceram o primeiro contato com a rede de serviços em saúde mental, principalmente por meio da internação hospitalar, na qual, de certa forma, o cuidado se reduz às práticas de contenção, centrada na administração de medicamentos. A partir desse ‘batizado’ no mundo da internação hospitalar, os usuários, em sua maioria, foram encaminhados para outros serviços da rede de atenção à saúde mental, e em especial, para o Caps. No eixo Itinerário Terapêutico foi abordada a questão dos caminhos percorridos e os diversos recursos escolhidos pelos usuários na busca por cuidados, considerando o processo de adoecimento. Nesse caso, os usuários puderam descrever os caminhos pelos quais passaram até chegarem a ser atendidos no Caps, fosse através da rede de serviços de saúde (pública e privada), fosse através de outros recursos que porventura tenham escolhido para amenizar os sofrimentos ocasionados pelo adoecimento, como ajuda espiritual e religiosa, por exemplo. Os usuários, enquanto narravam as suas trajetórias pela busca de cuidado e solução para seus problemas de saúde, descreveram as facilidades e as dificuldades que enfrentaram ao longo do caminho. Relataram, inclusive, como se sentiram e como reagiram diante dos desafios encontrados. Para alguns, o caminho foi mais longo e penoso do que para outros, que obtiveram a resolução para seus problemas de forma mais rápida e efetiva. Alguns usuários recorreram aos serviços particulares de saúde, especialmente às consultas com médico psiquiatra, em um primeiro momento, e depois procuraram os serviços de saúde da rede pública. O contato com a rede pública de saúde se deu, na maioria dos casos, a partir do contato com a internação em hospital com referência em saúde mental que dispunha de emergência psiquiátrica, especialmente nos momentos de crise. No eixo Práticas de Cuidado em Saúde Mental foram discutidos os sentidos dados pelos usuários às práticas de cuidado vivenciadas durante suas trajetórias pela rede de atenção à saúde, considerando os itinerários terapêuticos percorridos. Os usuários levaram em consideração, para avaliar o tipo de acolhimento, aspectos referentes à forma de atendimento dos profissionais, o acesso aos serviços de saúde, a resolutividade para seu problema de saúde, o tipo de tratamento recebido, o tempo de espera para ser atendido e as condições de estrutura física da unidade de saúde, entre outros aspectos. A maioria dos usuários explicitou que o local em que foram mais bem acolhidos foi o próprio Caps. Destacaram que se sentiram bem acolhidos, principalmente devido ao bom atendimento por parte da maioria dos profissionais, bem como pela disponibilidade de alguns medicamentos necessários ao tratamento, além de pela comodidade de receberem alimentação no próprio Caps nos dias em que frequentaram o referido serviço. A principal queixa dos usuários em relação ao hospital de referência em saúde mental diz respeito ao fato de que o ambiente de urgência e emergência do próprio hospital causou-lhes mal-estar, pois tiveram que conviver com as agressões de outros pacientes internados, bem como passaram pela experiência de serem contidos e amarrados. Quanto ao diagnóstico e ao tratamento recebidos no Caps, os usuários explicitaram os diversos tipos de classificações nosológicas que receberam,  assumindo a identidade, a etiqueta, o rótulo de suas respectivas doenças. Em relação aos procedimentos, todos os usuários enfatizaram a questão do tratamento medicamentoso como um dos principais recursos utilizados na terapêutica, citando os demais recursos como atividades secundárias, porém necessárias à evolução do seu estado de saúde. No âmbito do Caps, é oferecido aos usuários um leque de atividades que, de acordo com as necessidades individuais, os mesmos participam de forma contínua e rotineira das atividades indicadas nos respectivos projetos terapêuticos. Em relação aos profissionais de saúde da equipe do Caps, os usuários realizaram uma avaliação positiva, entretanto criticam a atuação do profissional médico. No eixo Usuário e Autonomia, foram tratadas questões acerca de como a avaliação dos usuários impacta no processo de organização das práticas, no cotidiano dos serviços do Caps. Pelo menos metade dos usuários entrevistados apontou que, para melhorar os serviços no Caps, seria necessário aumentar o número de profissionais da equipe, principalmente o número de profissionais médicos, considerando que há uma carência destes profissionais em relação à demanda. Foi ressaltada também a necessidade de se ter maior disponibilidade de medicação no Caps, uma vez que não há a dispensação de todos os remédios receitados pelos médicos, o que faz com que muitos sejam comprados por conta própria. Quando os usuários indicam sugestões para melhorar os serviços no âmbito do Caps, quando explicitam as alternativas que procuram para lidar com os desafios da vida, quando participam efetivamente de espaços democráticos de cogestão, é possível escutar as suas ‘vozes’ ressoando nas salas, nas oficinas, nas consultas, nas conversas com os profissionais e até no desencadeamento das ‘crises’, ocupando todos os espaços no interior do Caps. O usuário fala até quando está em silêncio, até quando não se manifesta na Assembleia Geral, até quando deixa de frequentar as reuniões do Conselho Gestor. É necessário ter muita sensibilidade para compreender o que os sussurros, os gritos, os silêncios e as ausências têm para nos dizer. Considerações finais: Todos os atores envolvidos no processo de cuidado às pessoas com sofrimento psíquico e/ou transtorno mental, como gestores, trabalhadores, familiares e os próprios usuários, criam condições, estratégias e espaços de participação, possibilitando a discussão e a problematização de todas as questões que envolvem o contexto e o cotidiano implicados no cuidado. Neste sentido, é necessário repensarmos e refletirmos a respeito das práticas de cuidado produzidas no âmbito dos serviços, no sentido de identificarmos qual modelo de atenção predomina nesse processo. Apesar de ainda persistirem grandes desafios no sentido de romper de vez com o modelo manicomial/asilar, muitas estratégias estão sendo construídas no cotidiano das práticas de cuidado, produzindo e inventando novos modos de cuidar, novas formas de fazer acontecer, baseadas em relações sociais pautadas por princípios e valores que buscam reinventar a sociedade, constituindo um novo lugar de acolhimento para o sofrimento.

2993 Gestão Autônoma da Medicação: saúde mental entre voos e gaiolas
Letícia Presser Ehlers, Analice de Lima Palombini

Gestão Autônoma da Medicação: saúde mental entre voos e gaiolas

Autores: Letícia Presser Ehlers, Analice de Lima Palombini

Apresentação: O presente trabalho é parte da pesquisa Guia GAM como dispositivo de intervenção e formação em serviços de saúde mental, referida a projeto multicêntrico desenvolvido entre UNICAMP, UFF, UFRJ e UFRGS, em parceria com a Universidade de Montreal, no Quebec, Canadá. Com a participação de usuários de saúde mental de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), o projeto resultou na elaboração da versão brasileira do Guia de Gestão Autônoma da Medicação (Guia GAM-BR), instrumento originalmente criado pelos serviços alternativos de saúde mental do Quebec. A Gestão Autônoma da Medicação propõe a oferta de espaços de conversa sobre a experiência do uso de psicofármacos, visando o protagonismo dos usuários de saúde mental e o compartilhamento das decisões sobre o seu tratamento com os profissionais da equipe - prescritores ou não. Desenvolvimento do trabalho: Objetiva-se, neste momento, atentar à percepção dos profissionais de saúde e dos usuários sobre a produção do cuidado em saúde mental instituída nos serviços, durante a validação do Guia GAM-BR. Instância em que realizou-se grupos de intervenção (GI), em três CAPS da região metropolitana de Porto Alegre/RS: entrevistas com trabalhadores e profissionais em formação e grupos focais com os usuários. Resultados: Os dados produzidos permitem observar peculiaridades nas relações de cuidado, em especial em torno ao tratamento medicamentoso. A prerrogativa de aceitação obrigatória dos usuários quanto ao uso de psicofármacos é referida como pré-requisito para sua acessibilidade, sem maiores problematizações a respeito. E, diante a decisão do usuário de interromper sua medicação, a fala dos profissionais (prescritores e não prescritores) aponta duas atitudes contraditórias: ao mesmo tempo que os profissionais referem abandono do tratamento por parte do usuário, uma vez que o acompanhamento (psiquiátrico) é interrompido e que se interrompe o tratamento (no serviço), também referem que toda a equipe se mobiliza, procurando discutir o caso e sugerindo aumento da frequência ao serviço. Na possibilidade do voo, as correntes tornam-se visíveis. Há, contudo, diferenças na percepção das equipes quanto à responsabilidade por essa decisão: para alguns, ela é exclusivamente do usuário, em que a dimensão do cuidado depara-se com os limites da gaiola; para outros, é uma situação a ser compartilhada também com a equipe e a família do usuário. A esse respeito, a aposta é nas potencialidades, a partir do estreitamento de seus laços com sua rede de relações, construindo significantes possíveis para o seu empoderamento, territorializando seu voo. Considerações Finais: A Gestão Autônoma da Medicação, em momento de re-existências da cultura antimanicomial, está entre voos e gaiolas. O reposicionamento das relações instituídas nos serviços de saúde torna-se possível ao valorizar a voz ativa do usuário, como sujeito de saber, que se constitui na experiência de viver a medicalização, o adoecimento, a relação com as redes de saúde e o estigma que atravessam suas relações sociais. Esta horizontalidade proporciona a coprodução de cuidado e saúde mental, entre as (in)certezas de hoje, (re)inventa-se a vida, constroem-se coletiva e singularmente outros modos de ser e estar no mundo.  

462 O Estigma Internalizado nos usuários de substâncias psicoativas (SPA) que participam do grupo Socialização do CAPS A.D. de Ponta Grossa ∕ Paraná no ano de 2017.
ANGELITA APARECIDA BORNANCIN

O Estigma Internalizado nos usuários de substâncias psicoativas (SPA) que participam do grupo Socialização do CAPS A.D. de Ponta Grossa ∕ Paraná no ano de 2017.

Autores: ANGELITA APARECIDA BORNANCIN

O processo da Reforma Psiquiátrica Brasileira trouxe a criação dos serviços substitutivos ao modelo “Hospitalocêntrico” (onde a única modalidade de tratamento era a internação prolongada e o uso de medicação). A partir daí, origina-se as Leis que garantem os direitos das pessoas com transtorno mental e reorganiza toda a gestão da Saúde Mental do país: Lei nº 10.216 de abril de 2001, a Portaria/ GM nº 336 de 19 de fevereiro de 2002 que define e estabelece diretrizes para os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Os CAPS têm como característica buscar a reabilitação psicossocial de seus usuários no território e comunidade onde constrói suas vidas. O CAPS AD oferece atendimento para pessoas com transtorno decorrentes do uso abusivo de Álcool e outras Drogas. O CAPS AD de Ponta Grossa ∕ PR, iniciou suas atividades em 04 de abril de 2004 e oferece atendimento individual e em grupo, acolhimento diurno, visita domiciliar, acompanhamento familiar e consulta psiquiátrica para quem mediante avaliação da Miniequipe de Referência Territorial e conste no Projeto Terapêutico Singular (PTS) construído junto com o sujeito. O uso abusivo ou dependência de Substâncias Psicoativas (SPA) além dos comprometimentos clínicos pode estar associado ao prejuízo na vida social, levando ao abandono, rupturas dos laços afetivos e conflitos com sua rede de apoio devido ao preconceito e estigma que sofrem e internalizam. O estigma é uma construção social que representa uma marca, na qual   o seu portador possui um status de desvalorização em relação aos outros membros da sociedade, o que pode gerar consequências como perda da autoestima, isolamento social e influenciam negativamente no tratamento dos usuários de drogas. A apreensão do estigma ocorre à medida que o usuário se torna consciente das visões negativas que a sociedade tem sobre o uso de SPA. Essa apreensão pode desestimulá-lo a buscar serviços de tratamento na tentativa de evitar que ele seja incluído como membro de um grupo estigmatizado. Face a isso os usuários podem passar a aceitar e concordar com essa visão negativa e discriminatória da sociedade e aplicar os estereótipos negativos a si mesmo, o que caracteriza o estigma internalizado O desejo de pesquisar sobre o tema Estigma Internalizado e uso de SPA surgiu de inquietações que permeiam a nossa prática profissional, como integrantes da Equipe Interdisciplinar, formada 16 Terapeutas do CAPS Ad Belas Tardes em Ponta Grossa ∕ PR, sendo que entre esses profissionais, duas Assistentes Sociais, uma enfermeira, uma Educadora Física e uma Psicóloga elaboraram este Projeto de Pesquisa. Através da nossa prática profissional começamos a refletir quais são os impactos negativos que o estigma internalizado causa na vida social, familiar e na adesão ao tratamento dos usuários de SPA, como ocorre essas relações e como nós profissionais do CAPS A D poderemos intervir nesse processo. A elaboração deste projeto justifica-se na busca conhecer a relação uso de SPA e o estigma internalizado nos pacientes que participam do grupo Socialização do CAPS A.D., pois é através deste conhecimento que poderemos propor ações que venham subsidiar a prática profissional junto aos sujeitos pesquisados. Acredita-se que, a pesquisa é um instrumento de avanço e qualificação profissional, pois é através dela que se adquire conhecimento aproximado da realidade, produz informações e saberes que vão subsidiar a intervenção profissional. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: METODOLOGIA: Para atingirmos os objetivos desta pesquisa, adotamos uma metodologia que considera o universo qualitativo dos sujeitos, para analisar e compreender os valores, opiniões, contradições e significados presentes no contexto histórico e que permeiam o objeto em estudo. A pesquisa quantitativa será utilizada para conhecer a escala de estigma internalizado nos usuários de SPA pesquisados.  Dessa forma faremos o uso de dados qualitativos e quantitativos, pois eles se complementam  Utilizaremos para leitura da realidade o Método Dialético, pois este método nos auxiliará a entender a relação uso de SPA e o estigma internalizado nos pacientes que participam do grupo Socialização do CAPS A.D. Ponta Grossa ∕ PR, pois esta é uma questão que sofre influência do contexto histórico, cultural e social. Os instrumentais adotados para a elaboração da pesquisa serão descritos a seguir: A Revisão Bibliográfica, pois nos permite articular conceitos e sistematizar a produção de uma determinada área de conhecimento. Para avaliar o estigma internalizado nos pacientes que participam do Grupo Socialização aplicamos a escala ISMI-BR – Versão Brasileira da Escala de Estigma Internalizado de Transtorno Mental adaptado para Dependentes de Substâncias. Para a aplicação do Questionário, esclareceremos qual o objetivo da Pesquisa, solicitamos permissão para responderem. Buscamos entrevistar também um profissional de cada categoria profissional que trabalha na Unidade Básica de Saúde (UBS) que atende os pacientes que tiverem a maior escala de estigma internalizado. Questionário para profissionais da UBS. 1 – Quais são suas crenças sobre os dependentes de drogas? - Você acredita que os dependentes de drogas são fracos, sujos, imorais e perigosos? - Você acredita que você é uma pessoa superior por não ser um dependente de drogas? 2 – Você considera o uso de algumas drogas como mais aceitáveis que outras? - Você acredita que o dependente de drogas ilícitas é pior que a dependência de drogas lícitas? 3 – Você acredita que algumas pessoas não podem ser ajudadas? - Você acredita que algumas pessoas estão condenadas a serem dependentes para o resto da vida? 4- Você acredita que algumas abordagens de tratamento são melhores do que outras? - Você acredita que a abstinência é a única forma de recuperação de dependentes de drogas? - Você acredita no trabalho que você realiza com os dependentes de drogas? Aplicamos também um questionário nas famílias dos pacientes que tiverem a maior escala de estigma internalizado. Questionário a família: 1- Quais a crenças que a família possui sobre o uso de SPA? 2- A família considera que a dependência química tem tratamento?   RESULTADOS E IMPACTOS - Maior aproximação da realidade dos pacientes que participam do Grupo Socialização do CAPS AD de Ponta Grossa. - Formulação de novas estratégias de intervenção profissional na relação uso de SPA e estigma internalizado.  Começamos a fomentar essa discussão nos grupos de pacientes, familiares e nas Unidades Básicas de Saúde durante a discussão de casos. - Percebemos que existe a relação uso de SPA e estigma internalizado nos pacientes que participam do Grupo Socialização do CAPS AD de Ponta Grossa.   CONSIDERAÇÕES FINAIS Entende-se, portanto que: a relação uso de SPA e estigma internalizado é uma questão complexa e que necessita ser pesquisada e de intervenções profissionais, pois também interfere na adesão ao tratamento, dificultando a reabilitação psicossocial dos sujeitos no território onde eles constroem suas vidas. Sendo necessário também estratégias de intervenção que estimule o empoderamento dos usuários de SPA, onde esses se vejam como cidadão portadores de direitos e autoestima.