157: Redes e encontros na promoção do cuidado em territórios da saúde mental
Debatedor: A definir
Data: 01/06/2018    Local: ICB Sala 13 - Ajuri    Horário: 08:30 - 10:30
ID Título do Trabalho/Autores
544 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS INTOXICAÇÕES POR DROGAS DE ABUSO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 2011-2015.
Catarina Bertani, Rafael Xavier Silva, Marcilia Souza

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS INTOXICAÇÕES POR DROGAS DE ABUSO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 2011-2015.

Autores: Catarina Bertani, Rafael Xavier Silva, Marcilia Souza

Introdução: A intoxicação é um agravo de notificação compulsória no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). O estudo das intoxicações possui grande relevância na saúde pública. No município de São Paulo, destacam-se as intoxicações por drogas de abuso, elas representam cerca de 50% de todas a intoxicações exógenas notificadas nesse Município. Objetivos: Descrever através das notificações armazenadas no SINAN, o perfil epidemiológico das intoxicações exógenas por drogas de abuso no Município de São Paulo, entre os anos de 2011 e 2015. Avaliar a qualidade da informação. Metodologia: Utilizaram-se as informações de exposição por drogas de abuso contidas no banco de dados do SINAN. As variáveis foram analisadas utilizando os programas Excel® e TabWin. Resultados: Foram registrados no SINAN no período de 2011-2015, 9.861 registros de intoxicações por drogas de abuso no Município de São Paulo. O sexo masculino foi o mais frequente com 7.660 registros (77,7%), apresentando uma razão de sexo de aproximadamente 3,0 homens para cada mulher. A faixa etária 20-34 anos foi a mais acometida com 4.841 registros (49,1%), a raça branca foi a que apresentou o maior número de registros, 2.697 (27,4%). O tipo de exposição mais frequente foi aguda-única com 3.176 (32,2%), e o critério de confirmação mais prevalente foi o clínico epidemiológico com 7.054 (71,5%). Dos 9.861 registros, 287 resultaram em óbitos por intoxicação. A qualidade da informação das variáveis estudadas apresentou uma média regular. Considerações finais: Ao se entender o perfil epidemiológico das intoxicações por drogas de abuso, políticas preventivas e de conscientização especificas podem ser criadas, de forma a se entender e suprir o problema diretamente nas esferas sociais em que é mais presente. Para que isso ocorra é necessário uma melhora na qualidade de coleta e armazenamento das informações do SINAN.  

811 SÍNDROMES PSIQUIÁTRICAS E O PERFIL DOS PACIENTES ATENDIDOS EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) NO INTERIOR DA AMAZÔNIA
Thais Chrystinna Guimarães Lima, Brenda dos Santos Coutinho, Andreza Dantas Ribeiro, Renan Fróis Santana, Alda Lima Lemos

SÍNDROMES PSIQUIÁTRICAS E O PERFIL DOS PACIENTES ATENDIDOS EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) NO INTERIOR DA AMAZÔNIA

Autores: Thais Chrystinna Guimarães Lima, Brenda dos Santos Coutinho, Andreza Dantas Ribeiro, Renan Fróis Santana, Alda Lima Lemos

Apresentação: As síndromes psiquiátricas estão cada vez mais incidentes na sociedade e ocupam posição de destaque no cenário mundial nos grupos de doenças crônicas, que vem acometendo significativamente a população em todas as faixas etárias. De acordo com o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), as síndromes psiquiátricas correspondem a 12% da carga mundial de doenças e menos de 1% dos recursos da saúde é investido em ações na área de saúde mental. Esse panorama é preocupante, pois sabemos que a qualidade de vida está interligada com a social, interpessoal e neurobiológica, pois o ser humano é multidimensional. Se uma dessas dimensões for afetada, esse indivíduo pode vir a ter algum transtorno mental. Sabemos que anteriormente o modelo adotado era o hospitalocêntrico, onde o indivíduo que tinha algum transtorno mental era levado ao manicômio, onde recebia um “cuidado” desumano, pois o objetivo não era a reinserção desses indivíduos na sociedade, simplesmente era um lugar onde ele ficava isolado dos demais. Com a reforma psiquiátrica, o modelo hospitalocêntrico não foi mais utilizado, gerando a criação de uma Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), tendo como serviço de referência os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), onde esses indivíduos tem um tratamento humanizado para que o mesmo seja reinserido na sociedade. A partir disso, considerando a prevalência dos transtornos mentais, o objetivo do estudo foi identificar o perfil dos pacientes atendidos em um CAPS, no município de Santarém/Pará, no ano de 2012, bem como os transtornos mentais mais incidentes nesses indivíduos. Desenvolvimento do Trabalho: Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem quantitativa, utilizando-se do estudo documental. Esta pesquisa é um recorte da monografia apresentada como requisito para especialização em saúde mental. O universo da pesquisa foram todos os prontuários dos usuários matriculados em um CAPS, localizado no município de Santarém - Pará, no ano 2012. Os dados foram adquiridos através da consulta aos prontuários, sendo realizada a coleta das seguintes variáveis: sexo, escolaridade e as síndromes psiquiátricas. No que tange aos cuidados éticos, foi mantida a confidencialidade das informações, corroborando com o estabelecido na lei nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que regulamenta a pesquisa com seres humanos. Resultados e/ou impactos: No ano de 2012, no respectivo CAPS haviam 402 pacientes matriculados, onde 41,54% eram do sexo masculino e 58,46% do sexo feminino. Os dados extraídos da pesquisa mostram que o gênero mais acometido por síndromes psiquiátricas são as mulheres. Observa-se que as psicoses afetivas e a esquizofrenia não possuem diferenças significativas entre os sexos, já com relação à depressão, as mulheres são mais atingidos, assim como, nos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, os homens são os mais afetados. Além disso, as mulheres teriam maior facilidade de identificar os sintomas, admiti-los e buscar ajuda, enquanto o homem seja por questões culturais ou, dentre outros motivos acabam não admitindo o transtorno e nem procurando auxílio. Muitas vezes tendem a buscar nas substâncias psicoativas o alívio para seu sofrimento ou angústia. No que se refere à escolaridade dos cadastrados no centro foi possível observar que a maioria, 26,37% apresentava o ensino fundamental incompleto e 23,63% possuíam o ensino médio completo, como minoria, 5,23% tinham o ensino superior completo, 5,97% o ensino médio incompleto, 7,21% eram analfabetos, 13,68% o fundamental incompleto e 17,91% não tinham a escolaridade explanada no prontuário. O que nos mostra que a maioria dos clientes atendidos tinha baixa escolaridade. Cabe ressaltar que a educação tem um efeito direto na saúde psicológica, pois aumenta a possibilidade de escolhas na vida e influencia aspirações, autoestima e aquisição de novos conhecimentos que podem motivar atitudes e comportamentos mais saudáveis. Ademais, a escolaridade e a renda mensal são visualizadas como fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais. Entretanto, se a baixa renda e escolaridade, associadas com o desemprego podem desencadear o sofrimento psíquico, o sofrimento também pode ocasionar a ocorrência de tais variáveis, visto que o individuo com algum transtorno mental, muitas vezes, fica limitado nas atividades em sociedade. Relacionado às síndromes psiquiátricas de maior demanda no CAPS, as síndromes maníacas depressivas e as síndromes psicóticas representaram a maioria dos casos, com 37,06% e 23,4%, respectivamente. Contudo, as síndromes de ansiedade alcançaram representatividade, com 20,4%, outras síndromes corresponderam a 8,95% dos casos e 10,19% não tiveram na Classificação Internacional de Doenças (CID) uma definição precisa. Tais dados refletem a necessidade de todos os profissionais de saúde estar atentos a um possível transtorno mental, independente do nível de assistência à saúde em que esteja atuante, visto que muitas doenças psíquicas podem ser confundidas com doenças orgânicas. Além disso, tal cuidado é essencial para o pleno funcionamento da RAPS. Em relação as que não tiveram a CID definida, tal dado refere-se ao período em que o serviço permaneceu sem o atendimento médico. Considerações finais: A partir do estudo, foi constatada a maior prevalência dos transtornos psiquiátricos no sexo feminino e em pessoas com baixa escolaridade, o que já é evidenciado em outros estudos. Cabe ressaltar também o número significativo de pessoas em sofrimento psíquico, no município que estão cadastradas no CAPS, porém sabe-se que esse número representa apenas uma parcela da população acometida com algum tipo de transtorno mental, observado que o CAPS representa apenas um serviço dentro da RAPS, sendo de referência, abrangendo, em especial, transtornos severos e persistentes. Ademais, o quantitativo de pessoas que estão com sinais e sintomas de uma doença psíquica é superior ao número das que estão em tratamento, seja por questões culturais, preconceito ou subestimação da doença mental e, ainda é visível uma parcela significativa dos indivíduos que estão em sofrimento psíquico limitarem-se a consultas particulares, voltadas para a atenção uniprofissional, o que afeta a integralidade do cuidado. Portanto, cabe a todos os serviços da RAPS, em especial, a atenção primária, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou Estratégias de Saúde da Família (ESF) fornecer espaços de cuidado para um acometimento frequente, porém negligenciado por profissionais de saúde e pela própria população. Portanto, todos os promotores de saúde da atenção primária devem está atentos para a saúde mental da sua população de abrangência, realizando, assim o diagnóstico precoce e tratamento imediato, fornecendo vias para que os indivíduos e seus familiares sejam protagonistas nas mudanças necessárias para a superação do transtorno psíquico, bem como funcionar como a via principal de entrada desses pacientes e encaminhar para um serviço de referência, se necessário.

1374 SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA: RELATO DE UMA PROPOSTA DE ATUAÇÃO
Telma Eliane Garcia

SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA: RELATO DE UMA PROPOSTA DE ATUAÇÃO

Autores: Telma Eliane Garcia

APRESENTAÇÃO: O campo de conhecimento que abrange a ‘saúde mental’ é prioritariamente uma área de atuação técnica no âmbito das políticas públicas de saúde em um espectro polissêmico que entrecruzam saberes e que vem transformando a relação entre a sociedade e o portador de sofrimento mental. A partir da introdução dos serviços assistenciais no modelo de Atenção Psicossocial, novos dispositivos de intervenção aproximam a assistência profissional da comunidade em seus locais de pertença e moradia e vem paulatinamente qualificando o cuidado terapêutico. Nesse sentido, o Caderno de Atenção Básica (n.34- Saúde Mental) sugere a organização de serviços abertos, utilizando dispositivos coletivos com a participação ativa dos usuários e formando redes de apoio com outras políticas públicas. Sendo assim, justifica-se uma proposta que corrobore no alicerce de processos formativos e de discussão entre acadêmicos, docentes e profissionais, na busca de aprimoramento de competências no cuidado em saúde mental em sua prática diária. O curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Pará, dentro de sua proposta pedagógica, se propõe a trabalhar na perspectiva de inter-relação: ensino, pesquisa e extensão, contribuindo assim de tal modo, que suas intervenções sejam capazes de fortalecer o cuidado integral aos portadores de sofrimento mental. O desafio de inserção nos circuitos de trocas entre os sujeitos em sua singularidade sociocultural, modela as intervenções a partir do próprio território, conduzindo os profissionais a uma escuta qualificada e a elaborar intervenções que considerem as especificidades loco regionais. Nessa perspectiva, o acolhimento é uma ferramenta que abre espaço para o exercício do usuário narrar seus sofrimentos podendo ouvir a si mesmo e ser ouvido por um profissional atento, funcionando como um dispositivo facilitador na formação de vínculos e abrindo possibilidades de novos olhares ao significado do sofrimento mental. Buscando ampliar os momentos de reflexão e trocas de apoio terapêutico, profissionais e usuários devem desenvolver estratégias para compartilhar e construir juntos o cuidado em saúde mental. Nesse sentido os recursos coletivos oferecem suporte aos usuários e uma rede de apoio por meio dos grupos terapêuticos e oficinas operacionais, que favorecem o alívio dos sintomas, o restabelecimento do equilíbrio psicoemocional, bem como amplia o nível de autoconhecimento e contribui para melhora nas relações interpessoais. Tendo como parâmetro essas abordagens, a Faculdade de Enfermagem da UFPA, representada em um projeto de Extensão com a Liga Acadêmica de Saúde Mental, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Belém/Pará viabilizaram uma proposta de atuação na Atenção Básica em uma das Unidades Básicas (Bairro Jurunas), com a finalidade de fortalecer o acolhimento e possibilitar a formação de grupos de apoio terapêutico, compreendendo que o processo grupal enquanto tecnologia de cuidado complexa e diversificada, oferece rica troca de experiências e transformações subjetivas que não seria alcançável em um atendimento de tipo individualizado. O objetivo desse trabalho é relatar as vivências dessa atividade de extensão, com a finalidade de compartilhar tentames e enriquecer as trocas no aprendizado de procedimentos e práticas assistenciais. Desenvolvimento do trabalho: O projeto efetivou-se inicialmente com a cooperação da equipe de trabalho na Unidade Básica e a docente da atividade curricular em Saúde Mental e Psiquiatria que juntamente construíram uma ficha de acolhimento para auxiliar nos registros básicos de cada usuário. Os acolhimentos passaram a ser compartilhados entre a equipe de trabalho e a professora e seus alunos em dias agendados. A partir dessa primeira escuta, os usuários foram convidados a participar de um grupo de apoio terapêutico e oficinas terapêuticas que ocorreram uma vez na semana, em uma sala emprestada de uma igreja do bairro, em virtude de não haver espaço na Unidade para esta ação. As reuniões do grupo de apoio terapêutico desenvolveram-se frequentemente observando cinco fases propostas pela docente: 1-abertura ou quebra gelo;2-levantamento de questões ou introdução de um tema;3- discussão das questões ou do tema; 4- fechamento da discussão;6- dinâmica de encerramento do encontro. Tendo sempre a professora como facilitadora do grupo os temas abordados foram preferencialmente reflexivos, como: compartilhando dificuldades, conflitos na família; perdas; o que eu gostaria de mudar em mim, dependência e independência, entre outros. As oficinas terapêuticas foram planejadas e efetivadas em sua maioria pelos alunos, utilizando oficinas de recorte e colagem, pintura, jogos de mesa, dança, entre outras atividades expressivas. Essas focalizaram temáticas lúdicas e de descontração como: recordando a alegria; brincando com cores e desenhos da infância; dançando na festa Junina; construindo meu futuro; dinâmicas com elogios para autoestima e assim por diante. Os encontros semanais alternavam atividades de grupo terapêutico com as oficinas expressivas em que os alunos se revezavam em várias equipes enquanto que os usuários e a docente se mantinham com regularidade a cada semana. Resultados e/ou impactos :Os acolhimentos passaram a ser registrados e potencializados com uma escuta qualificada que favoreceu os direcionamentos e encaminhamentos para cada caso e facilitou o início da formação de vínculos entre os profissionais, acadêmicos e usuários. Nos primeiros dois meses a frequência dos usuários nos grupos não mantinha regularidade, e alguns apenas compareciam em um encontro e não aderiam o grupo. Com a continuidade e lembretes telefônicos os usuários passaram a participar com regularidade. Nas reuniões de grupo as discussões eram baseadas nas opiniões e sugestões que emergiam do próprio grupo, favorecendo assim a contextualização do sofrimento de cada um à realidade comum a todos, bem como a interação relacional. Nas oficinas a utilização de formas diversas de expressividade e de produção provocava troca de reconhecimento das habilidades por meio de elogios que facilitavam o apoderamento da autoestima de alguns, bem como o fortalecimento da consciência de “ser capaz” que auxiliava no resgate da autonomia de outros. Com o prosseguimento das atividades os usuários começaram a referir os benefícios percebidos na diminuição e espaçamento de alguns sintomas, na consciência de reações e emoções que os levavam a tomar decisões na busca de modificar atitudes em seus hábitos e relacionamentos. Considerações finais: Ao se assumir uma postura capaz de acolher, escutar e compactuar respostas mais adequadas aos usuários, os profissionais e acadêmicos adquiriram mais segurança para atuar, compreendendo que as posturas não devem ser hierarquicamente prescritivas,   mas em simples horizontalidade oferecendo apoio e estimulo à autonomia. Entendendo o espaço grupal como uma tecnologia que dá ênfase ao modo como as pessoas por meio de práticas discursivas constroem sentidos do mundo e de si mesmas, percebeu-se que as incorporações dessas novas ferramentas abrem espaços produtores de saúde gerando um impacto nos determinantes e condicionantes da saúde mental nos sujeitos. Conclui-se que a Saúde Mental na Atenção Básica converge para a construção de um novo modelo dinâmico, não reducionista e que orientam novas formas de prática em saúde.

2283 PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR:ponte entre ensino, serviço e comunidade
Jennysser Oliveira Silva, Daniela Ferreira Borba, Adriana Silva Dias

PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR:ponte entre ensino, serviço e comunidade

Autores: Jennysser Oliveira Silva, Daniela Ferreira Borba, Adriana Silva Dias

  Neste trabalho, buscou-se refletir sobre a atenção à saúde mental de uma usuária com diagnóstico médico de Transtorno de Ansiedade, e propor uma sistematização de atuação para determinada equipe por meio do Projeto Terapêutico Singular (PTS), pactuado com o CAPS e o Núcleo de Apoio à Família (NASF), que beneficie a saúde da usuária e sua família promovendo assim vínculo entre o ensino, serviço e comunidade. Realizado um estudo de caso, permitindo a descrição e o aprofundamento sobre a realidade da usuária e seus respectivos problemas. O interesse em realizar este trabalho partiu da insatisfação da usuária com o serviço de saúde CAPS, buscando assim uma aproximação entre serviço e unidade de referência. A coleta de dados se deu em dois momentos, o primeiro momento por meio de consulta de enfermagem onde foi possível levantar um histórico e forma de como seria abordada a usuária e o segundo momento visita domiciliaria onde foi possível conhecer a realidade da usuária e seu núcleo familiar, a partir desses momentos foram realizadas orientações para construção do projeto. O presente trabalho buscou desenvolver o PTS, sendo este um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, com apoio matricial se necessário. Ou seja, é um trabalho conjunto entre a equipe de profissionais, para que juntos definam as ações propostas para melhorar a qualidade de vida do sujeito. É importante ressaltar que o projeto escolhe usuários em situações mais difíceis até pelo fato de ser um grande trabalho desenvolvido, envolvendo vários profissionais, e por isso busca igualar os usuários e minimizar as diferenças, oferecendo o maior cuidado em saúde. Além disso, deve-se escolher um profissional de referência, que será aquele que possui maior vínculo com a família e usuário, facilitando assim a realização das ações desenvolvidas. O PTS proporciona ao usuário, uma assistência personalizada, aonde a equipe discutiu a melhor forma, dentro do processo de assistência envolvendo toda a rede de apoio, além de inserir a família nesse processo, pois apenas o diagnóstico e medicação não são os fatores principais que um usuário busca ao procurar uma unidade de saúde, ele busca ajuda, tratamento e se possível ressocialização ou uma melhora na qualidade de vida. A construção desse trabalho proporcionou uma experiência singular onde foi apresentado os dois lados da assistência, tanto o lado de assistência ao usuário, quanto o ponto de vista do usuário com a saúde e o serviço tendo como ponte as alunas de graduação. Sendo possível a criação de laços com os mesmos, e um sentimento de realmente fazer parte do problema e da solução.

2606 Investigação do consumo de álcool e outras drogas dos profissionais portuários
Antonia Irisley da Silva Blandes, Cristiano Gonçalves Morais, Géssica Rodrigues Silveira, Gisele Ferreira de Sousa, Irinéia de Oliveira Bacelar Simplício

Investigação do consumo de álcool e outras drogas dos profissionais portuários

Autores: Antonia Irisley da Silva Blandes, Cristiano Gonçalves Morais, Géssica Rodrigues Silveira, Gisele Ferreira de Sousa, Irinéia de Oliveira Bacelar Simplício

Apresentação: O consumo inadequado de drogas psicoativas repercute tanto na vida do indivíduo quanto no meio que este vive, por isto é tido como um problema de saúde pelos efeitos negativos que exerce na sociedade em seus mais diversos contextos sociais inclusive no âmbito do trabalho. Objetivo: Identificar consumo de drogas psicoativas de trabalhadores portuário. Desenvolvimento: trata-se de uma pesquisa de campo de caráter quantitativo, desenvolvido pelos discentes do curso de Enfermagem nas práticas integradas em saúde da Universidade do Estado do Pará, no mês de abril 2016, tem a amostra constituída por 30 trabalhadores portuário do município de Santarém, utilizou-se do instrumento adaptado de Zão (2012) utilizado após o consentimento escrito do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme a resolução N°466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, os dados obtidos foram tabulados e analisados no software Excel 2016.Resultados e/ou impactos: A amostra deste estudo é composta por 77% homens e 23% mulheres, destes 95% afirmaram possuir algum tipo de crença sendo que 26% informaram ser crentes, mas não praticantes e 68% assinalaram ser praticantes, além disso 3% tanto não informaram sua crença como afirmaram não possuir crença. Relacionando o consumo de substância psicoativa com crença religiosa pode se observar que dos participantes que informaram possuir crença 84% já fizeram uso de alguma substância psicoativa. Correlacionado a prática de atividade física 48% fizeram uso deste tipo de droga, quanto ao uso do tabaco 36% dos que não fizeram ou não fazem uso informam estar pouco satisfeitos com seu bem-estar físico e 50% informam não ter feito uso de qualquer outra substância psicotrópica. Quanto à frequência do uso destas substâncias 39% assinalaram que faziam uso de outras substâncias psicoativas e 27% informaram fazer uso de álcool uma vez por semana. Considerações finais: Neste estudo pode se observar que a maioria dos participantes fazem uso de alguma substância psicoativa, no contexto do trabalho, o um dado preocupante, pois esse comportamento pode contribuir como agente causador de patologias ou agravos a saúde relacionados ao trabalho, influenciando e comprometendo a saúde e desempenho do trabalhador.

2901 REDES DE CUIDADO À SAÚDE MENTAL DE HOMENS: uma aproximação cartográfica
IGOR ARAUJO, Jessica Santos, Alvaro Pereira

REDES DE CUIDADO À SAÚDE MENTAL DE HOMENS: uma aproximação cartográfica

Autores: IGOR ARAUJO, Jessica Santos, Alvaro Pereira

Objetivo: A base desse estudo foi analisar a rede de cuidados à saúde mental de homens a partir da cartografia do nomadismo de um usuário-guia cadastrado em um Centro de Atenção Psicossocial, visando seu trajeto de cuidados e possibilitando visibilidade aos territórios existenciais, que envolve seus espaços de relações humanas e existenciais. Método: Estudo de abordagem qualitativa, que utiliza a cartografia como método de análise. Resultados: Do itinerário de Ícaro foram enfatizados três núcleos de discussão, que vão do processo de desistitucionalização ao protagonismo no cuidado, os nós da rede de cuidados à saúde mental e as masculinidades diante o sofrimento psíquico. Considerações finais: Acredita-se que para alcançar a efetividade do cuidado se faz necessário conhecer as subjetividades envolvidas nas relações de saúde, e assim repensar as formas de produção de saúde.  

2964 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PACIENTES EM TRATAMENTO NO CAPS ÁLCOOL E DROGAS.
Paula Monick Silva Castro, Silvio Eder Silva, Letícia Karla Ferreira Góes, Rennan Coelho Bastos, Kevin Christian do Carmo Rodrigues

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PACIENTES EM TRATAMENTO NO CAPS ÁLCOOL E DROGAS.

Autores: Paula Monick Silva Castro, Silvio Eder Silva, Letícia Karla Ferreira Góes, Rennan Coelho Bastos, Kevin Christian do Carmo Rodrigues

INTRODUÇÃO: Um dos grandes problemas de saúde pública atualmente é o uso de drogas entre adolescentes e jovens, esta tribulação já se reverbera desde a década de 60 por conta de problemas causados por fatores psicológicos e sociais. O usos de drogas causam também graves prejuízos à saúde sendo este geralmente desencadeado pelo consumo excessivo. O debate tem se intensificado em diversos meios não somente para mensurar efeitos devastadores no usuário que acaba por perder sua qualidade de vida, produtividade, interação social dentre outros mais também devido ao grande mercado da obscuridão que as drogas movimentam aumentando os indicies de marginalidade e criminalidade. As representações sociais vêm com a proposta de designar uma forma de pensamento social e as ideias que levam as pessoas a compreender as diferentes ações que realizam.  OBJETIVO: Caracterizar as representações sociais de dependentes químicos em abstêmios sobre as drogas; e analisar as representações sociais de dependentes químicos abstêmios sobre as drogas. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo do tipo descritivo, uma vez que se pretende conhecer a comunidade de dependentes químicos abstêmios, seus traços característicos, e seus modos de vida frente ao vicio das drogas. Utilizou-se a abordagem qualitativa, já que esse tipo de pesquisa reconhece como ciência o conhecimento do subjetivo do indivíduo, sua transmissão e repercussão até a formação do senso comum de uma população. O estudo tem como aporte teórico conceitual a Teoria das Representações Sociais criada por Serge Moscovici, sendo definida como uma modalidade de conhecimento particular que tem como função a elaboração, divulgação e familiarização de conhecimentos entre indivíduos. O trabalho apoia-se em fontes primária constituídas pelos depoimentos de 30 dependentes químicos abstêmios produzidos a partir de entrevista semi-estruturada e da técnica de associação livre de palavras. Para assegurar o anonimato dos sujeitos do estudo, os mesmos foram codificados pela letra E e números de 1(um) a 30 (trinta). Os participantes foram voluntários que frequentavam a Casa Mental Álcool e Drogas (Casa AD) e um Centro de Apoio Psicossocial (CAPSAD) que atende exclusivamente dependentes químicos que adquiriram transtornos mentais pelo uso de álcool e drogas, da cidade de Belém - PA. Antes de proceder à coleta dos dados, foi obtido o aceite formal da Secretaria Municipal de Saúde e Meio ambiente (SESMA) consolidado pela assinatura do documento de autorização, juntamente com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Esse Termo atende à Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, a qual regulariza e normatiza a pesquisa envolvendo seres humanos. Asseguramos o respeito ao anonimato e à liberdade para se retirarem da pesquisa e receberem todo o material produzido. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A percepção primordial da pesquisa está ligada ao fato que os pacientes atendidos pela casa AD, não se reconhecerem como viciados, mas se admitirem como dependentes. A casa AD propicia aos indivíduos que anseiam por uma melhora na qualidade de vida e não se encontram aptos a abstinência total o processo de redução de danos em que eles não cessam o consumo, mas o diminuem ou substituem por uma substância mais fraca. Os pacientes da casa AD são separados em três categorias de acordo com seus objetivos: os primeiros são os que vieram por motivação própria e realmente querem vencer a abstinência; os segundos estão no tratamento por motivação de outrem e foram indicados/ encaminhados por profissionais, familiares, amigos; os últimos querem melhorar a qualidade de vida podendo optar pela abstinência completa ou redução de danos. O preconceito direcionado a este grupo é muito forte, esta é uma realidade que se mantém mesmo diante de fatos que contradizem este preconceito. Este sentimento de exclusão e indiferença por parte do restante da sociedade se mostrou presente em todos os relatos. Moscovici refere que existem três sistemas que possibilitam o surgimento das representações sociais: a difusão (evidência os sentidos diferentes dados para o objeto na sua circulação), a propagação (define a tomada de posição do grupo podendo ser positiva ou negativa) e a propaganda (a forma de comunicação). Os sujeitos pesquisados passaram a ter sentimentos contrários ao consumo de drogas depois de ingressarem na casa AD, isso se deve ao fato de terem iniciado a representar a dependência química como doença que tem como agente causador às drogas, a consequência disso é que o paciente vai desejar ainda mais alcançar abstinência de drogas. No que se refere ao estereótipo, este constitui a base cognitiva do preconceito, e que é utilizado para se referir à imputação de certas características a pessoas pertencentes a determinados grupos, aos quais se atribuem determinados aspectos típicos. Destacamos que o estereótipo é uma forma de nos livrarmos do excesso de informações que nos são repassadas, este serve para simplificar nossa visão de mundo. O estereótipo de dependente foi adotado pelos participantes do estudo devido concordar com o atual estado de dependência e abstinência de drogas. Esse novo estereótipo permite que eles se desvinculem da imagem de viciados e todos os atributos negativos que ela carrega como: preconceito e discriminação, os pacientes fazem isso na tentativa de incorporar para si uma nova realidade. Foi percebido no transcorrer desta unidade que a emergência de uma nova representação das drogas, ao ser difundida pelo grupo, favoreceu para uma nova opinião que era contra o uso das drogas. A alteração destes componentes contribui para uma mudança de atitude, que consiste a uma modificação duradoura do afeto pró ou contra o objeto social. Já na fase de propagação, ocorreu uma mudança de atitude que culminou no fim do comportamento de consumir de forma excessiva, que eles chamam de redução de danos, contribuindo assim, na fase de propaganda à formação de um novo estereótipo – a do Dependente abstêmio. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O estudo possibilitou enxergar às diversas dificuldades das pessoas em situação de drogadição à maior delas podemos colocar como sendo à exclusão social que uma pessoa denominada drogada pela sociedade sofre. Esses pacientes rejeitam para si esses termos: drogado, viciado e após o início do tratamento se sentiram mais confortáveis em refazer suas representações sociais sobre o vício e se identificar como dependente já que para eles o dependente é alguém que está lutando para sair do vício, está lutando pela abstinência.

3117 PERCEPÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL DOS USUÁRIOS E SEUS FAMILIARES EM UM PRONTO SOCORRO
Mariana Valls Atz, Anelise Fiori, Alane Nardi, Priscila Schonarth, Ana Caroline Roehrs, Gabriela Pires, Graziele Dulius, Jéssica Sartori Ribeiro

PERCEPÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL DOS USUÁRIOS E SEUS FAMILIARES EM UM PRONTO SOCORRO

Autores: Mariana Valls Atz, Anelise Fiori, Alane Nardi, Priscila Schonarth, Ana Caroline Roehrs, Gabriela Pires, Graziele Dulius, Jéssica Sartori Ribeiro

APRESENTAÇÃO: O Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS-POA) é uma das instituições municipais de saúde 100% SUS e a principal porta de entrada na rede em situações de trauma grave, referência para o estado do Rio Grande do Sul. O HPS-POA conta com o Serviço de Saúde Mental, composto por três psiquiatras, duas psicólogas e oito residentes em Psicologia Hospitalar. As atividades desenvolvidas por esse setor consistem em: 1) acompanhamento de todos os usuários e seus familiares internados nas UTIs adultas e pediátrica, bem como na Enfermaria e UTI de queimados; 2) atendimento a todos os menores de 18 anos internados; 3) atendimento às mulheres vítimas de violência; 4) avaliação das tentativas de suicídio na Emergência; 5) avaliação a partir das mais diversas solicitações das Enfermarias e Emergência. A partir dessas atividades, as residentes se deparam com a seguinte questão: como produzir cuidado em um ambiente de trauma? Este trabalho pretende, portanto, refletir sobre as percepções das residentes de Psicologia quanto ao cuidado em saúde mental dos usuários e seus familiares. DESENVOLVIMENTO: Entende-se que esse cuidado se constitui a partir de uma crise circunstancial na existência desses sujeitos e que, muitas vezes, é a primeira vez que eles têm a oportunidade de ser atendidos por um profissional de saúde mental. Assim, atende-se os mais diversos tipos de trauma: queimaduras, traumatismos cranioencefálicos, amputações, violência e maus-tratos, etc., e suas consequências. Tais acontecimentos são inesperados e disruptivos ao mundo presumido, portanto, essas situações são marcas na existência dos sujeitos e o atendimento em saúde mental na internação é a primeira oportunidade para construir caminhos para re-existir. Da mesma forma, o acolhimento aos familiares que se deparam com seus entes em risco de morte e/ou em plena transformação de suas condições de vida se oportuniza com momentos de elaboração e ressignificação do viver e dos sistemas familiares. IMPACTOS: A Psicologia está nesse ambiente para acolher e suportar a situação aguda, emergente, e, portanto, um momento de extrema fragilidade psíquica dos sujeitos. E por ser tão intensa essa fragilidade – resultando muitas vezes numa desestruturação dos sujeitos, das certezas, dos sistemas homeostáticos familiares – é que a Psicologia pode produzir um cuidado potente, que seja ponte sobre águas turbulentas. E essa ponte pode-se construir de muitas maneiras, seja ponte entre usuário/família e a equipe; usuário e familiares; usuário/família e rede assistencial; usuário e a readaptação a sua nova condição clínica e reestruturação da condição familiar; inscrição do usuário enquanto sujeito e não apenas doença/leito. Logo, produz-se cuidado quando unimos as margens de uma história presente com narrativas passadas e planos futuros. CONSIDERAÇÕES: Mesmo diante da falta de recursos materiais e das limitações de encaminhamento efetivo para a rede de saúde, percebemos que se pode produzir cuidado a partir da autonomia de construção de setting, da humanização das visitas, da inserção das famílias no processo de cuidado, das intervenções criativas.

3622 UMA LEITURA SISTÊMICA SOBRE A RELAÇÃO COM USO DE DROGA
Orlando Gonçalves Barbosa, Joaquim Hudson de Souza Ribeiro, Maria de Nazaré de Souza Ribeiro, Cleisiane Xavier Diniz, Selma Barboza Perdomo, Fernanda Farias de Castro

UMA LEITURA SISTÊMICA SOBRE A RELAÇÃO COM USO DE DROGA

Autores: Orlando Gonçalves Barbosa, Joaquim Hudson de Souza Ribeiro, Maria de Nazaré de Souza Ribeiro, Cleisiane Xavier Diniz, Selma Barboza Perdomo, Fernanda Farias de Castro

A amplitude do fenômeno do consumo de drogas exige o empenho de todos os segmentos da sociedade civil organizada, em especial os pesquisadores e as instituições governamentais e não governamentais em direção a esforços coletivos que produzam respostas eficazes para a complexa magnitude alcançada pelo uso de substâncias psicoativas e seus impactos nos usuários e em toda a sociedade. Entre as várias iniciativas que buscam enfrentar a problemática em foco, sem dúvida nenhuma, destacam-se não somente as oriundas do campo das políticas públicas e dos esforço de muitos pesquisadores, mas também de algumas instituições, chamadas comunidades terapêuticas, as quais lidam com a questão do uso e desuso de drogas, dentre elas está a Fazenda da Esperança. O presente estudo teve por objetivo compreender como as pessoas que fizeram uso de droga passaram a conceber a relação deles com seus sistemas de pertença. Este recorte é derivado de uma pesquisa mais ampla intitulada “A experiência religiosa na superação do uso de droga”. Trata-se de uma pesquisa de abordagem exploratória qualitativa. Procurou-se coligar a Teoria Sistêmica à abordagem qualitativa, para marcar o método e compreender o fenômeno estudado na perspectiva sistêmica de complexidade e intersubjetividade. Para tanto, escolheu-se como enfoque as categorias de análise: processo, tempo, contexto e imprevisibilidade, considerando o devir e as relações de incerteza e complementaridade. Desse modo, conseguiu-se observar a desordem do fenômeno estudado, tornando-o não só complexo, paradoxal e imprevisível, mas ainda propulsor de uma intersubjetividade, ajudando-o na sua melhor compreensão e descrição, onde utilizou-se a narração como mediação da leitura do fenômeno. O local de estudo foi a Fazenda da Esperança,  pelo fato de que desde o início de seu funcionamento, mais de dois mil jovens e adultos passaram por ela. A amostra foi composta por três participantes do sexo masculino, que receberam  nomes fictícios para a garantia de sigilo e preservação do anonimato, a saber Rodrigo (30), Renato (53) e Roberto (34), os quais foram escolhidos pelo método de amostra proposital. Os mesmos passaram por uma comunidade terapêutica de base cristã católica (Fazenda da Esperança em Manaus, Amazonas) e se encontravam, no momento do estudo, em condição de desuso de drogas. A coleta de dados deu-se por meio da entrevista semiestruturada, constituída por 16 questões. Os participantes foram entrevistados individualmente em local assinalado como sendo de sua preferência. Foi realizada imersão do entrevistador na instituição no período de uma semana como estratégia complementar a fim de favorecer a compreensão de suas experiências, resultando num diário de campo.  A pesquisa seguiu todo o rigor ético após ser aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UFAM, Parecer 482.521/2013). Os resultados mostraram que as histórias de Rodrigo, Renato e Roberto  permitiram compreender que o fenômeno do uso de drogas está inserido num processo complexo onde os usuários de drogas estão envoltos a aspectos cognitivos, emocionais, motivacionais, influências sociais, familiares, culturais, conjunturais e socioeconômicas. Frente às narrativas dos participantes, encontraram-se sentidos nos seus comportamentos retroativos tanto deles mesmos ao usarem drogas, quanto das pessoas relacionadas aos seus sistemas de pertença, com forte ressonância especialmente em alguns subsistemas, a saber a família, o trabalho e a vivência religiosa, sem excluir, porém, a relação com os pares. Rodrigo aponta a existência de um sistema familiar que se retroalimentava na confusão. Para ter acesso a droga as relações eram rompidas com irmãos e esposa. O uso de álcool para Renato levou ao rompimento do seu primeiro casamento a comunicação entre os dois já estava desgastada; no novo relacionamento encontra alguém que acreditava na sua recuperação; o novo sistema parental do Renato ao reafirmar a confiança recria uma comunicação de competência que possibilita uma busca de equilíbrio na relação casal e com o parar de usar o álcool. Já a crise de Roberto, com uso de cocaína, o leva a sair do controle e romper relação com a esposa e filho, surgindo a necessidade de para com o uso de cocaína. Percebeu-se nos relatos de Rodrigo, Renato e Roberto que o impacto da drogadição em um sistema familiar é variável e estabelece um processo contínuo de inter-relações em que a família influencia o uso de um ou mais de seus membros, mas que também é influenciado por ela. É importante destacar que os próprios entrevistados desqualificam a si mesmos por crer serem eles os únicos causadores dos problemas decorrentes do uso de drogas, sustentado por uma visão linear do problema. Quanto aos seus sistemas e subsistemas de pertença, os entrevistados revelam ambiguidade, ou seja, ora veem os pares positivamente e não culpados pelos sofrimentos vivenciados, ora negativamente, atribuindo-lhes responsabilidade por não apoiá-los no desejo de querer deixar de usar droga. Em todas as situações mencionadas, a complexidade que envolve  o “mundo das drogas” não é percebida, sendo atribuídas justificativas causais, localizadas nos indivíduos isoladamente, com tendências a isolar e polarizar atributos como “bem” e “mal”. Em uma leitura sistêmica, todavia, tais reducionismos são refutados. Com relação ao trabalho, Renato relata que vivia sempre em atrito com a chefia. Rodrigo refere que tinha excelente emprego, porém com o uso contínuo da cocaína, foi deixando progressivamente de trabalhar até não ter mais condições. Roberto afirma que trabalhava somente para sustentar seu vício. Nas falas dos participantes observou-se que a religiosidade está entrelaçada nas narrativas em diferentes momentos das vivências dos participantes da pesquisa, essa colocada com importância pelos ex-usuários. Eles salientaram a perda do valor espiritual ao descrever suas perdas e seu envolvimento com as drogas. Rodrigo relata que  se desligou da Igreja totalmente  e que depois,  de tanto  clamar por Deus, Ele ofereceu a chance de conhecer a Fazenda da Esperança.  Renato e Roberto afirmam que as drogas o afastaram da vida religiosa. No que diz respeito à relação com os pares e outros sistemas relacionais, Renato afirma que costumava ser chamado de  “pé inchado", "velho bebum"; sentia-se  ferido e isso funcionava como motivo para o uso da droga . Roberto e Rodrigo relatam que o afastamento de muitos amigos. Ao fazerem uso de droga, o comportamento dos participantes passou a produzir instabilidade nas relações interpessoais de seus sistemas pessoal, familiar e social, colapsando as conexões.  Baseado na Teoria Sistêmica, o estudo conseguiu compreender a pessoa e o uso de drogas na teia de relações  (família, trabalho, vivência religiosa e relação com os pares) nos seus diversos sistemas e subsistemas. Não se localizou o problema estritamente na pessoa que faz o uso de drogas, supondo que uma causa a levou a isso. Acredita-se que exista, além de uma multiplicidade de fatores a ser considerados, uma relação entre estes, que rompe com a lógica linear, o que supera o olhar sob perspectivas deterministas-causais. Por estar sempre em relação com outros sistemas e subsistemas, o problema em foco não lhe pertence unicamente, mas se expressa enquanto uma característica da relação do seu sistema de pertença. Este sistema de pertença, por sua vez, não consiste em um sistema predeterminado, mas de um sistema que é constituído por todos aqueles elementos que nele estão envolvidos.

4996 Retratos do Cotidiano da Saúde Mental Brasileira
Carine Capra-Ramos, Andréia Sates, Priscila Battú, Fernanda Klunck, Rogério Silva, Cristiano Dendena, Marcos Moss, Renato Rambow

Retratos do Cotidiano da Saúde Mental Brasileira

Autores: Carine Capra-Ramos, Andréia Sates, Priscila Battú, Fernanda Klunck, Rogério Silva, Cristiano Dendena, Marcos Moss, Renato Rambow

ApresentaçãoO presente trabalho refere-se à produção de um documentário, o qual retrata o cotidiano da saúde mental em serviços substitutivos ao manicômio localizados no município de São Leopoldo/Rio Grande do Sul. O planejamento e desenvolvimento desta produção ocorreu a partir do interesse dos usuários em abordar o cuidado em liberdade diante a Reforma Psiquiátrica. Sendo então, protagonizada por usuários de Saúde Mental do CAPS II, mediante apoio técnico de residentes multiprofissionais em Saúde Mental e estagiárias de psicologia. Desenvolvimento O presente documentário tem por objetivo retratar o cotidiano do tratamento em saúde mental em Centros de Atenção Psicossocial – CAPS, do município de São Leopoldo/Rio Grande do Sul. Esta produção foi desenvolvida, organizada e protagonizada, principalmente, por usuários do serviço, residentes multiprofissionais em saúde mental e estagiárias de psicologia.O interesse nesta produção audiovisual surgiu no decorrer de uma atividade terapêutica desenvolvida, no grupo Viver (uma das modalidades de atendimento oferecidas pelo CAPS II). A temática da Reforma Psiquiátrica foi abordada por de diversas formas de expressões relacionadas à arte: cinema, teatro, pintura, escultura, escrita poética, expressão corporal e artesanato. Ao se trabalhar, especificamente, a temática cinema, o grupo assistiu ao filme “O Holocausto Brasileiro”, baseado no livro de mesmo nome de autoria da jornalista Daniela Arbex, o qual retrata a história do Hospital Psiquiátrico Colônia, em Barbacena (MG) e serviu como um dispositivo disparador e condutor de um amplo debate no grupo. Os participantes ficaram sensibilizados ao perceberem o tratamento desumanizado da época e refletiram sobre as mudanças ocorridas no país após a Reforma Psiquiátrica. Durante as discussões, construiu-se o desejo em visibilizar a realidade atual vivenciada pelo usuários nos CAPS, traçando uma relação entre o antigo modelo de atenção à saúde mental e o atual. A fim de demonstrar como está organizada a estrutura dos serviços após a Reforma Psiquiátrica, ou seja, dos serviços substitutivos ao modelo asilar manicomial em saúde mental.De acordo com o integrante do grupo Rogério Silva “Queremos mostrar a importância de termos nossos CAPSs para nossos tratamentos em saúde mental. Muitos de nós, que já temos sofrimento psíquico, sofremos ainda mais preconceito e discriminação por sermos doentes. Se prestar atenção todos os paciente envolvido neste documentário agradecem a Deus por não existir mais manicômio em nosso país. Este documentário é específico para acabarmos com o preconceito e a falta de conhecimento, mostrando o sentimento dos usuários do CAPS, a dificuldade com a família, a experiência e dificuldade dos profissionais. Queremos compartilhar o documentário para diminuir a falta de conhecimento sobre quem faz tratamento em saúde mental para diminuir o preconceito que nos causa sofrimento!”. A execução da presente produção audiovisual foi aprovada pelo Núcleo Municipal de Educação em Saúde Coletiva (NUMESC), Secretaria de Saúde do Município de São Leopoldo/RS e Coordenação de Saúde Mental. Todos os participantes autorizaram a divulgação de suas imagens, por meio do consentimentos assinado em Termo de Autorização para Uso de Imagem.Resultados e/ou impactosDurante a produção do documentário houve a possibilidade de  participar do VI Encontro Regional de Educação em Saúde Coletiva e Mostra de Trabalhos no município de Taquara/RS, momento que propiciou protagonismo, autonomia e empoderamento dos usuários, no qual emergiu o compartilhamento de saberes, valores de auto-estima, alegria, troca de conhecimentos úteis para aprimorar o cuidado em saúde. O trabalho da noção de visibilidade de uma situação vivenciada pelos usuários e amplia o entendimento de seus sofrimentos a um nível social, uma vez que historicamente os usuários não ocupam o lugar de fala, o que se propiciou por meio deste trabalho. A produção audiovisual, como já descrito, proporcionou o fortalecimento de vínculos, a autonomia e o protagonismo dos usuários participante deste documentário, os quais exerceram  sua cidadania por meio deste com afinco. Ao discorrer sobre o impacto da elaboração desta produção em suas vidas, alguns usuários referem ter se sentido “útil” ao produzir o documentário; outro exprimiu que melhorou sua autoestima; outro referiu que pôde expressar o que sentia e que teve muitos aprendizados, principalmente ao compartilharem suas histórias de vida, que são únicas; outra afirma a importância de ter tido a oportunidade de falar o que pensa sobre questões relacionadas à saúde mental; Salienta-se ainda, outro aspecto observado durante este trabalho, refere-se foi a co-construção de uma atmosfera de confiança e coesão do grupo, “estávamos brincando e rindo mais” relata um integrante do grupo, assim como referia os altos e baixos do dia a dia; outro integrante do grupo afirma que a espontaneidade e sinceridade dos participantes do grupo contribuiu para a desinibição e elaboração do trabalho; outro integrante referiu que “pensava que ia ser apenas uma brincadeira e quando vi estávamos apresentando o documentário em vários lugares, não esperava que pudéssemos produzir algo tão bom”; “esse trabalho é uma prova que quando se tem a união, cooperação e uma liderança organizada pode se superar os limites e vencer os maiores desafios” refere outro integrante do grupo.A coesão grupal junto ao contato com as artes possibilitaram que outras ideias e desejos florescessem nos usuários. Então, concomitante à produção do documentário, o grupo teve a ideia de se organizar em pequenas comissões baseada em suas vontades e habilidades para seguir realizando outras atividades, como organização do roteiro, edição das fotos, realização das entrevistas para o documentário, jornal, produção de texto, artesanato, oficina de expressão corporal.O presente documentário é de extrema relevância para os usuários idealizadores desta produção, pois possibilita que estes consigam demonstrar para seus familiares e para a comunidade como é realizado o tratamento nos serviços de saúde mental do seu município. Contribuindo assim para um caminho de problematização dos estigmas e “pré-conceitos”, os quais os usuários de saúde mental vivenciam cotidianamente, além de ampliar o entendimento sobre como se dá o desenvolvimento de atividades terapêuticas em Centros de Atenção Psicossocial – CAPS. A conclusão desta produção, possibilitou a realização de apresentações em diferentes contextos, como Mostra de produções de curtas audiovisuais no município de Novo Hamburgo, aula aberta para discussão dos trabalhos acadêmicos produzidos pelas residentes multiprofissionais em saúde mental, participação no encontro nacional alusivo aos 30 anos sem manicômios em Bauru, além da estreia realizada em reunião geral das equipes dos serviços em saúde mental do município. Considerações finais É de suma relevância salientar que apesar de um cenário político desfavorável à organização de espaços coletivos, este trabalho concretizou-se exatamente pelo fato de ser construído a nível coletivo, demonstrando assim a força das organizações coletivas em tempos de desmontes. Ainda que tenhamos resistido à lógica de desmanche da políticas públicas, uma limitação da produção foi não problematizar os nossos manicômios mentais reproduzidos cotidianamente em serviço substitutivos.

3619 A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NA SUPERAÇÃO DO USO DE DROGAS
Orlando Gonçalves Barbosa, Joaquim Hudson de Souza Ribeiro, Maria de Nazaré de Souza Ribeiro, Cleisiane Xavier Diniz, Selma Barboza Perdomo, Fernanda Farias de Castro

A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NA SUPERAÇÃO DO USO DE DROGAS

Autores: Orlando Gonçalves Barbosa, Joaquim Hudson de Souza Ribeiro, Maria de Nazaré de Souza Ribeiro, Cleisiane Xavier Diniz, Selma Barboza Perdomo, Fernanda Farias de Castro

A inclusão do tema religiosidade em estudos científicos é acompanhada por críticas e por olhares estigmatizantes, especialmente na psiquiatria e na psicologia, sendo necessário superar tais oposições que, via de regra negligenciam o tema por considerá-lo irrelevante e/ou caracterizam e classificam as experiências religiosas como evidências de psicopatologias. A despeito das controvérsias conceituais sobre religiosidade e espiritualidade, existem evidências cada vez mais crescentes que fenômenos que transitam nesta ordem estão associados à promoção da saúde mental. A experiência religiosa é apresentada como fator de superação de processos de sofrimento, adoecimento, desuso de droga e outras adversidades por vários pesquisadores. Sem diferenciar os termos, os pesquisadores apresentam uma associação positiva entre religiosidade/espiritualidade e saúde mental, inclusive como um fator protetor para o abuso de álcool e drogas, mesmo quando expostos às condições de vulnerabilidade e risco social. Optou-se aqui pelo termo experiência religiosa, pelo fato deste ser utilizado pela Psicologia para referir-se às vivências subjetivas, porém compartilháveis no nível discursivo dos indivíduos e grupos. Entende-se por experiência religiosa uma experiência vivencial e intuitiva de algo ou de alguém que o faz transcender, aparecendo de forma mais ou menos estável durante a vida do indivíduo e de forma mais intensa em momentos cruciais pontuais involuntários e imparciais. Todavia, mais que um conceito, a experiência religiosa remete a um caráter relacional de encontro e processo que geram transcendência: com o outro, consigo mesmo e com o Outro (em termos de relações com Deus, o Transcendente ou com um “Ser Superior”, segundo as variações possíveis). O estudo da experiência religiosa para a psicologia tem como perspectiva descrever e sistematizar o elemento subjetivo do comportamento religioso, suas interações sociais, motivações, pertença, conversão, identidade, formação de atitudes, adesão aos valores, papéis sociais, práticas religiosas, maturidade, mudanças e outros elementos atribuídos a esta na experiência com o Sagrado. Estas são razões suficientes para sustentar a pertinência da temática do fenômeno do uso de drogas em sua relação com a experiência religiosa no que diz respeito ao processo de transformação, superação ou transcendência, ou, ainda, em um termo sistêmico, de autopoiese. Este estudo tem como objetivo compreender como a experiência religiosa é situada na trajetória de um grupo de pessoas que superaram o uso de drogas após a passagem destas por uma comunidade terapêutica. Trata-se de um estudo de abordagem exploratória qualitativa por esta favorecer melhor acesso às narrativas que os sujeitos elaboram, no que diz respeito aos significados e intencionalidade atribuídos aos fenômenos vivenciados individualmente e socialmente, assim como às relações que interagem. O local de estudo foi a Fazenda da Esperança, pelo fato de que desde o início de seu funcionamento, mais de dois mil jovens e adultos passaram por ela. A amostra foi composta por quatro participantes do sexo masculino, que receberam  nomes fictícios para a garantia de sigilo e preservação do anonimato, a saber Lucas (38), Luiz (33), Leandro (32) e Leonardo (32), os quais foram escolhidos pelo método de amostra proposital. Os mesmos passaram por uma comunidade terapêutica de base cristã católica (Fazenda da Esperança em Manaus, Amazonas) e se encontravam, no momento do estudo, em condição de desuso de drogas. A coleta de dados deu-se por meio da entrevista semiestruturada sem, contudo, limitar as falas ao roteiro-guia. Os participantes foram entrevistados individualmente. Foi utilizado ainda um diário de campo contendo registros da observação do entrevistador durante o período de imersão na instituição, num período de uma semana como estratégia complementar.  A pesquisa seguiu todo o rigor ético após ser aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UFAM, Parecer 482.521/2013). Nos resultados percebeu-se que em cada um dos participantes, no início da superação, a experiência religiosa foi organizadora de modo singular: uns vivenciando conflitos entre a vontade de Deus, tentando não ceder à sua própria vontade; outros, potencializados pela demanda de encontrar respostas por meio da auto reflexão resultante do encontro consigo mesmo; outros ainda vivenciando esta aproximação religiosa por meio da prática de oração com o suporte de um grupo. Todas as experiências foram relatadas como os levando a transcender o modo com o qual se relacionavam consigo mesmo. "No começo da superação fui aprendendo e fui me autoconhecendo. Fiz um exame de consciência. Aprendi neste tempo a perguntar pra mim mesmo: O que eu fiz? Eu fui útil em que? O que eu fiz para o meu próximo? Eu constitui uma família? Fui quebrando vários paradigmas. Foi assim que eu fiz no começo (Lucas, 38). O movimento de mudança em Lucas articula-se à experiência do contato com Deus que o levou a nova relação consigo a partir de uma reflexão, uma tomada de consciência de si mesmo do seu projeto de vida. Experiências semelhantes à de Lucas foram observadas durante o período de observação na instituição, na prática intitulada “Palavra de Vida”, que era realizada todos os dias em cada grupo na instituição. Na fala de Luiz percebe-se o conflito resultante do desejo de sair daquele espaço e usar drogas e da experiência narrada de dedicação à vontade de Deus: "Eu procurei no início dedicar a fazer a vontade de Deus. A minha vontade era sair e usar droga. Eu ia para a missa com dedicação e atenção. E me colocava na frente para não me distrair". A consciência do conflito parece fundamental ao fortalecimento da determinação, sem distração, para não perder o foco das atividades religiosas. Por isso procura ficar na frente, “mais próximo de Deus”. O conflito parece ter auxiliado o desencadear de uma relação de entrega e confiança com o Transcendente, com o grupo que proporciona o rito e cria-se um ambiente de encontro com o outro. Durante um dos ritos religiosos, mediado pela presença do sacerdote, Leonardo relata uma experiência religiosa em que questões importantes de sua vida adquirem contornos de cunho espiritual, questões que o mesmo buscou respostas a partir da religiosidade: "No começo eu não acreditava em Deus. Foram acontecendo fatos e perguntas que eu tinha no coração. No momento da missa, quando o padre ia falar, parece que era pra mim. Eram respostas para as perguntas que estavam dentro do meu coração" ". Leandro também relata sua experiência: "Tinha um grupo de cinco que estava há um mês na instituição. Fizemos um propósito de 'depositar nosso descanso', que era depois do nosso almoço. A gente ia para o sacrário rezar até a volta para o trabalho da tarde; isso durante 11 meses". O sentido de 'depósito do descanso' é vinculado à experiência religiosa. A prática que envolve esta ação envolve apoio de grupo e perseverança. O que foi mantido por quase um ano, segundo o participante. Nas narrativas colhidas, é possível perceber a importância atribuída ao componente religioso, o qual se integra às suas experiências, sobretudo relacionais. Ainda que tanto a experiência religiosa quanto o desuso de drogas sejam comumente compreendidas como algo de cunho individualizado, observou-se que ela é simultaneamente pessoal e relacional/interativa. Assim, ao reescreverem um novo capítulo de suas histórias de vida, cada participante da pesquisa nos doou a possibilidade de acreditar ainda mais na vida e na sua capacidade extraordinária de superação proporcionada pela experiência religiosa como realização do encontro humano.

3009 Percepções sobre o trabalho e paradigmas da Rede Assistencial em Saúde Mental em Manaus
ADRIANA OLIVEIRA, SIMONE CAMPELO

Percepções sobre o trabalho e paradigmas da Rede Assistencial em Saúde Mental em Manaus

Autores: ADRIANA OLIVEIRA, SIMONE CAMPELO

O presente relato fala sobre as percepções do trabalho na Rede de atenção à saúde mental em Manaus, a partir da experiência de Estágio do curso de Psicologia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, em função das visitas realizadas a três dispositivos da Rede de proteção, o Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, que atende pessoas com transtornos mentais oferecendo serviços ambulatoriais e de internação, o Centro de Atenção Psicossocial Infantil–CAPSi, que oferece atendimento clínico e de suporte social exclusivamente para crianças e adolescentes portadores de transtornos mentais graves e persistentes, ou usuários de crack, álcool e outras drogas, e o CAPS AD III Dr. Afrânio Soares, que atende adultos com transtornos e problemas decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas. Objetiva tecer uma discussão sobre a constituição da rede local, apresentar as percepções sobre o trabalho nos locais visitados, a partir dos discursos dos profissionais, e problematizar a relação entre os determinantes e condicionantes das dificuldades históricas da luta antimanicomial no estado do Amazonas. Ao considerarmos a estruturação da Política Mental de Saúde no estado, verifica-se um paradoxo, tendo em vista que o Movimento da Reforma Psiquiátrica se iniciou na década de 70, por um grupo de profissionais do Hospital Colônia Eduardo Ribeiro, descontentes com as condições de trabalho, os serviços oferecidos aos usuários, e que, ao conhecerem as ideias da Reforma Psiquiátrica, se permitiram questionar as formas de tratamento dadas aos pacientes. A luta e os debates permaneceram por muitos anos, até que fosse aprovada em 2001 a Lei Federal que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial. No entanto, o cenário no Amazonas é marcado por contradições no contexto da Reforma, tendo em vista que a lei estadual de saúde mental foi sancionada somente em 2007, e ao conhecer o ambiente hospitalar do manicômio, notadamente marcado pela violência asilar, que resiste, mesmo após décadas de discussões, inclusive no imaginário da população local, pode-se afirmar que a política local ainda não logrou êxito na reforma, em função da disparidade entre a oferta atual de serviços substitutivos e a demanda da população que consegue chegar a um posto de atendimento médico. Este atraso histórico em relação a disponibilização dos serviços de tratamento que incluam a possibilidade de vivências além dos estigmas apresentados com o diagnóstico, proporcionado pela reinserção social, dificulta a reforma dos modos de pensar, corroborando assim, para que o sofrimento das pessoas portadoras de transtornos mentais e seus familiares, siga atuando como categoria de exclusão. Nos dois Centros de Atenção Psicossocial visitados, apesar do atravessamento das adversidades estruturais, tais como falta de instalação própria da instituição e dificuldade de alcançar estratégias territoriais e comunitárias, os trabalhadores apresentaram discursos com sentido de eficácia por atenderam a demanda de portas abertas, há condições materiais e afetivas (disposição para fazer), e percebe-se parceria entre a equipe multiprofissional, que repercute no modelo terapêutico utilizado, além da inserção de profissionais de referência, contratados por meio de concurso público, proporcionar a manutenção de vínculos e continuidade da assistência nos diferentes níveis assistenciais. No hospital psiquiátrico a ordenação do trabalho demonstra a cronificação de um modelo que permanece com o passar das décadas, numa estrutura hierarquizada, que não dialoga com novos saberes científicos, nem com produções e práticas populares, que abordam outros modos de cuidados com o sofrimento psíquico grave, refletindo na concentração de um modelo de ciência que desconsidera o contexto amazônico, marcado por elementos de práticas integrativas e complementares ligadas à espiritualidade e remédios caseiros, que podem auxiliar inclusive na adesão e compreensão dos sujeitos em tratamento, considerando o elo que pode ser estabelecido com suas subjetividades. O discurso e  postura dos trabalhadores no local é de (im)potência e desesperança, e a percepção do sofrimento perpassa todo o ambiente, inclusive nas paredes desenhadas e rabiscadas pelos pacientes, que em decorrência de longas internações psiquiátricas, suas histórias e trajetórias de abandono, mais parecem personagens do impossível, o que reforça os estigmas impregnados no imaginário coletivo e a conformação com a realidade apresentada. Ao refletir sistemicamente sobre a rede local, encontramos desconexões entre os campos macro e micropolítico, corroboradas por obstáculos culturais e epistemológicos, advindos do Estado, das equipes de trabalho e usuários. Considerando que historicamente os loucos não aparecem como foco nas ofertas de promessas de políticas públicas, há de se pontuar que transformações legítimas podem não ocorrer sem a participação de porta-voz do grupo, e é justamente a falta de espaços de fala, que podem gerar articulação dos usuários no campo micropolítico, que emperra mudanças no contexto local. O sujeito em sofrimento psíquico grave, especialmente em quadros de psicose, é o desafio posto à clínica, que tem a tarefa de o agenciar socialmente, e não se pautar em processos de cronificação que contribuiam para diminuir a vida, e é este mesmo sujeito que pode fazer sugestões para a melhoria dos serviços disponíveis. Considera-se a participação e o ativismo político dos usuários do serviço e seus familiares, bem como a visão dos trabalhadores de aliar política aos processos de trabalhos, essencial para que cesse ou diminua a reprodução de subjetividades assujeitadas à verticalidade da psiquiatria e às formas tradicionais de gestão que desumanizam e se dissociam da atenção, onde trabalhadores e usuários são reduzidos a condição de objetos que devem esperar por uma instância superior para produzir mudanças políticas. A “segurança” previamente definida e presente no discurso contribui para a manutenção das estruturas de poder que geram respostas despolitizadas, fato que dificulta a ruptura com o paradigma hospitalocêntrico presente na cidade de Manaus. Não é somente a existência de dispositivos de rede que garante o efeito de articulação, pois há o risco de se tornarem pontos isolados ou ligados pela burocracia a ponto de ficarem enrijecidos e cristalizados, sendo necessário também no campo organizativo cotidiano focar a importância e a potência da (co) construção pelos profissionais e equipes de referência como agentes de integração e conexões entre as redes assistenciais. Uma fragilidade percebida foi o fato dos profissionais não citarem a corresponsabilização, que possibilita a ligação com profissionais da atenção básica, responsáveis pelos usuários de uma área adscrita, que possibilitaria melhor mapeamento e distribuição geográfica do serviço por zonas da cidade, criando vínculos entre profissionais do CAPS - profissionais da atenção básica,  além de fazer com que apenas a instituição deixe de ser referência, podendo refletir em protagonismo e satisfação no trabalho para o profissional e equipe de referência, tendo como consequência um espiral de melhorias no serviço. Assim, o objeto da rede assistencial em saúde mental em Manaus pode deixar de ser a doença mental, e passar a ser o sujeito em sofrimento em relação ao corpo social, e este, ao buscar ajuda, poderá dispor de suporte social pautado na compaixão e solidariedade dos profissionais, potencializados pela capacidade de construção de novas práticas ligadas à horizontalização de saberes e ampliação de espaços de participação para co-gestão.  

3552 TRANSDISCIPLINARIDADE NA MEDIAÇÃO DE GRUPOS TERAPÊUTICOS DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E DROGAS
Victor Hugo Ribeiro de Sousa, Daiana da Silva Carvalho, Daniele Veloso de Menezes, Valeska Macêdo Cruz Cordeiro, Isnara Soares França, Constantino Duarte Passos Neto, Aline dos Santos Ramos, Mayra Eliza Cruz Gomes

TRANSDISCIPLINARIDADE NA MEDIAÇÃO DE GRUPOS TERAPÊUTICOS DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E DROGAS

Autores: Victor Hugo Ribeiro de Sousa, Daiana da Silva Carvalho, Daniele Veloso de Menezes, Valeska Macêdo Cruz Cordeiro, Isnara Soares França, Constantino Duarte Passos Neto, Aline dos Santos Ramos, Mayra Eliza Cruz Gomes

APRESENTAÇÃO: Diante da complexidade no tratamento de pessoas em sofrimento psíquico, principalmente, decorrente do uso abusivo de álcool e outras drogas, a abordagem no cuidado ao usuário necessita ultrapassar a atuação disciplinar, multidisciplinar e até interdisciplinar. Nessa perspectiva, grupos terapêuticos transdisciplinares apresentam-se como ferramentas eficazes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), no que se refere as novas formas de assistência em saúde mental. Transdisciplinaridade sendo compreendida como um novo conceito na classificação das alternativas de interação e integração de diversos campos dos saberes disciplinares, não havendo hierarquização em termos metodológicos e teóricos. Assim, o objetivo do presente estudo é apresentar como o trabalho transdisciplinar pode influenciar no processo de mediação de grupos terapêuticos no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo descritivo e qualitativo, do tipo relato de experiência, realizado por 7 profissionais de saúde residentes, do programa Residência Integrada em Saúde (RIS), da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), entre os meses de maio e novembro, no CAPS AD do município de Brejo Santo-CE. A pesquisa se deu durante a participação nos grupos terapêuticos, através da observação e mediação, junto aos profissionais do serviço. Os grupos acontecem diariamente, no turno da manhã, sendo eles: grupo de saúde mental e substâncias psicoativas; saúde e qualidade de vida; grupo pedagógico e grupo de garantia de direitos e participação social.   RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Os grupos acontecem no dispositivo CAPS AD, sendo facilitados a cada encontro por profissionais de diferentes categorias, mediante planejamento prévio, sendo executados na perspectiva do compartilhamento de vivências, sentimentos e conhecimentos, tanto por parte dos usuários, quanto dos profissionais. Compreendendo o cuidado integral à pessoa em sofrimento psíquico, e considerando os diversos fatores que influenciam na sua qualidade de vida, o trabalho transdisciplinar se mostrou uma ferramenta imprescindível no tratamento, uma vez que o saber não se concentra em uma categoria profissional, mas é compartilhado de forma que seja difundido entre toda a equipe responsável pela mediação do grupo e usuários. Além disso, torna a participação do usuário mais ativa, no que se refere ao fazer/ser saúde, sendo estimulada sua autonomia, visto que o compartilhamento do saber é horizontal, tornando assim o usuário protagonista no seu tratamento, corroborando com o preconizado pela Lei nº 10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, garantindo a esses indivíduos tratamento menos invasivos possíveis, quebrando o paradigma manicomial. Nos respectivos grupos são expostos vídeos sobre substâncias psicoativas e a reforma psiquiátrica, aplicadas dinâmicas de convivência, explanados conhecimentos acerca das legislações referentes aos direitos e deveres dos usuários, alfabetização, atividade física, bem como são realizadas oficinas artesanais nas quais os usuários desenvolvem suas habilidades motoras. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Percebe-se que o trabalho transdisciplinar proporciona a horizontalidade do conhecimento, facilitando a condução dos grupos, promovendo a colaboração interprofissional e fortalecendo o vínculo dos usuários com os profissionais do serviço, o que contribui com o processo de cuidado integral em saúde mental.

2704 Salud mental y "ficción de rehabilitación". Una investigación antropológica entre dos centros de rehabilitación psiquiátrica en Roma.
Eleonora Pittalis

Salud mental y "ficción de rehabilitación". Una investigación antropológica entre dos centros de rehabilitación psiquiátrica en Roma.

Autores: Eleonora Pittalis

En este trabajo se presentan los resultados de una investigación etnográfica realizada en dos centros de rehabilitación psiquiátrica en la ciudad de Roma: un Centro de Día (Servicio de salud pública) y un Centro no clínico (fundación privada) de rehabilitación social y laboral. La investigación ha sido realizada durante dos años utilizando las herramientas propias de la metodología etnográfica: observación participante y entrevistas semi-estructuradas. En particular, el trabajo se ha desarrollado a partir de los testimonios directos de los usuarios y de los profesionales de los Centros y a través de la observación y el análisis de las práticas y de las retóricas utilizadas en los contextos examinados. Mediante una investigacion cualitativa, se presenta una descripción de los servicios, laboratorios y proyectos encontrados asì como una reflexión crítica sobre las estrategias y directrices que subyacen de estas experiencias. Se investiga el valor y la eficacia emancipatoria de los servicios de rehabilitación y de la “ergoterapia” (terapia laboral/ocupacional) en la actualidad, se muestra como muchas veces estos no logran constituir puentes de acceso a los derechos de ciudadanía, social y cívica, ni son capaces de activar procesos reales de recuperación de la autonomía y empoderamento. Cuarenta años después de la ley Basaglia, frente a la debilidad del Welfare State, la fuerte precariedad laboral y la fragilidad de las relaciones interpersonales que caracterizan el contexto italiano actual, la rehabilitación parece estar lejos del proyecto de "reconstrucción social" defendido por el movimiento anti-institucional y se parece mas a una conjunto de técnicas de "ortopedia social", de gestión de lo improductivo y de precarización generalizada. En ambos contextos de examen, permanece la impresión de vivir en un "doble" artificial de la realidad, en una ficción institucionalizada donde se reproducen actividades y relaciones socio-laborales a pequeña escala y el tiempo parece seguir un ritmo circular de repetición infinita. De esta manera, los contextos de rehabilitación parecen incapaces de activar procesos educativos, formativos, de reintegración social y laboral  cuya dirección sea la de romper la barrera entre "el dentro y el afuera", entre el mundo clínico/de rehabilitación y la realidad externa, y por tanto, siguen siendo cómplices de un proceso de cristalización progresiva de "identidades no-hábiles y patológicas”.