114: A residência fazendo banzeiro no cotidiano dos serviços
Debatedor: A definir
Data: 01/06/2018    Local: FCA 02 Sala 11 - Piracuí    Horário: 08:30 - 10:30
ID Título do Trabalho/Autores
1936 O TRABALHO DO PRECEPTOR NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO: INTERDISCIPLINARIDADE E FORMAÇÃO PEDAGÓGICA OU “CADA UM NO SEU QUADRADO”?
MARIA DAS GRAÇAS GARCIA E SOUZA, JESSIKA AFONSO CASTRO, BENEDITO CARLOS CORDEIRO

O TRABALHO DO PRECEPTOR NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO: INTERDISCIPLINARIDADE E FORMAÇÃO PEDAGÓGICA OU “CADA UM NO SEU QUADRADO”?

Autores: MARIA DAS GRAÇAS GARCIA E SOUZA, JESSIKA AFONSO CASTRO, BENEDITO CARLOS CORDEIRO

APRESENTAÇÃO: Este trabalho é fruto da atuação da pesquisadora como Assistente Social e preceptora de residentes no Programa de Residência Multiprofissional em saúde (PRMS) no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) e da Pesquisa apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Ensino na Saúde (MPES): formação interdisciplinar para o Sistema Único (SUS), ambos da Universidade Federal Fluminense (UFF). O Programa de Residência Multiprofissional em saúde teve início no Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense (HUAP/UFF) em 2010, seguindo os moldes do MEC (Resolução nº 11.129/2005). A Residência Multiprofissional em Saúde constitui modalidade de ensino de pós-graduação, voltada para a educação em serviços e destinada às categorias profissionais que integram a área da saúde. Dentre os profissionais envolvidos no Programa pela condução dos residentes, temos o preceptor. De acordo com a Portaria nº 1.111/GM, de 05 de julho de 2005, Art. 7º, a Preceptoria é considerada uma função de supervisão docente-assistencial por área específica de atuação ou de especialidade profissional, dirigida aos profissionais de saúde. O estudo faz uma reflexão, analisando e problematizando sobre o papel e o trabalho do preceptor a partir da prática cotidiana dos mesmos e que envolve o trabalho da Residência na Área de Concentração de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (SAMUCA) no cenário deste estudo. Trazendo a problemática para a preceptoria, no que se refere às competências do preceptor pelo regimento interno da REMUS, bem como nas atribuições específicas da profissão, verifica-se a ausência de atividades e trabalho interdisciplinares, fato comprovado também na prática multiprofissional com a equipe cotidianamente. Isso causou um estranhamento no início da Residência, pois se implantou o Programa e os preceptores e residentes começaram a trabalhar sem capacitação para tal função e em setores onde historicamente não havia um trabalho interdisciplinar - como na fala de uma das residentes, “cada um no seu quadrado”. Visualiza-se a multiprofissionalidade no trabalho das enfermarias femininas, porém cada um no seu segmento, “dividindo” a saúde, o paciente, sem a concepção do todo. Daí a dificuldade mesmo da interdisciplinaridade, desafiando para um novo olhar, exigindo diálogo e desafios de mudar o que está posto. É no modo de preceptorar e atuar no contexto da Residência que poderão surgir coletivamente reuniões em formato de rodas de conversa visando, além do debate sobre a atuação “em si”, propostas de resolutividade da atenção e cuidado aos usuários com base na Educação Permanente. Objetivamos de forma geral compreender se a atuação dos preceptores da SAMUCA do HUAP/UFF contemplam a interdisciplinaridade e a formação pedagógica nos moldes da Educação Permanente. Especificamente, nossos objetivos são identificar comparativamente as visões que os profissionais possuem da sua atuação como preceptores; apontar como se configura o trabalho interdisciplinar na prática da Preceptoria; propor diretrizes para a construção interdisciplinar de rodas de conversas nos moldes da Educação Permanente. DESENVOLVIMENTO: A pesquisa, com início no segundo semestre de 2017, é qualitativa, de natureza descritiva, que terá como base a Triangulação de Métodos de Minayo e à luz do Materialismo Histórico Dialético de Marx. É planejada em três momentos que movimentam as atividades e procedimentos investigativos e sistematizadores da mesma, como algo dinâmico: análise bibliográfica, pesquisa de campo e sistematização dos dados. Os participantes serão os preceptores da SAMUCA na Residência Multiprofissional do HUAP/UFF, e os instrumentos de coleta de dados acontecerão por meio de entrevistas semiestruturadas. De acordo com Minayo (1998), este tipo de entrevista objetiva apreender a fala dos sujeitos, remetendo aos objetivos da pesquisa e configurando-se em uma “conversa” com suficiente abertura para aprofundar a comunicação. O tratamento e análise dos dados serão trabalhados através da Análise de Conteúdo e da Triângulação de Métodos da mesma autora. RESULTADOS: Como resultados alcançados nessa fase inicial da pesquisa, realizamos um levantamento bibliográfico e uma revisão de literatura sobre a temática “preceptor”, visando uma melhor fundamentação desse conceito, de suas competências, formação e trabalho.  Concluiu-se previamente que a formação e atuação dos preceptores não pode se desenvolver endogenamente e a partir exclusivamente de sua intencionalidade, mas também a partir do entendimento da categoria trabalho, reconhecido em sua particularidade sócio-histórica, conforme nosso referencial político pedagógico, o Materialismo Histórico-Dialético (Marx). Como consequência, iniciamos um debate no sentido de discutir as ações e reações dos preceptores e compreender o objeto de estudo a partir das perspectivas dos participantes, dos diferentes significados atribuído às experiências vividas no contexto da REMUS. No texto “O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social” (2004), os autores fazem um convite para que todos participem “de uma operação conjunta de protagonismo e da produção coletiva”, que eles denominam de dinâmica da roda. A roda [...] não representa apenas um mecanismo mais democrático e participativo de gestão, é um dispositivo de criação local de possibilidades (neste tempo e lugar). [...] A roda serve para alimentar circuitos de troca, mediar aprendizagens recíprocas e/ou associar competências. Em relação aos resultados esperados, continuaremos o debate acerca da contribuição coletiva para a efetividade e regularidade de reuniões interdisciplinares no formato de rodas de conversas, baseadas na concepção crítico-reflexiva de Paulo Freire e da Educação Permanente. Como produto, acredita-se que o trabalho em equipe interdisciplinar e de forma integrada, através de reuniões sistemáticas, seja determinante para a condução da preceptoria junto aos residentes e para um melhor cuidado aos usuários. Compreende-se que é necessário discutir as questões no coletivo, num princípio de roda, como aponta a EPS. (BRASIL, 2008). O momento fundamental na formação permanente “é o da reflexão crítica sobre a prática” (FREIRE, 2006, pág. 40). CONSIDERAÇÕES: As conclusões iniciais da pesquisa atestam para a relevância do papel do preceptor e como a Educação permanente pode ser uma ferramenta para a sua formação e trabalho. O estudo demonstra qualificação insuficiente para as mudanças das práticas nos espaços de trabalho e na própria REMUS. Os preceptores têm um papel de destaque na condução e construção da Educação permanente e, nesse processo, “fortalecem as instituições formadoras em seu compromisso social de construção de práticas de saúde comprometidas com a qualidade e o exercício da cidadania.” (Ribeiro, 2012, p.77). O papel de destaque dado aos preceptores, segundo a análise da literatura, é contrastado quando eles afirmam que esses profissionais possuem uma carga horária de trabalho elevada, sobrecarga de trabalho, “o que envolve muito estresse e pouco tempo disponível para se dedicar às atividades” (p.78). A possibilidade de ausência de formação e preparação/qualificação para o desempenho da função de preceptor, as adversidades do mundo do trabalho aliadas à inexistência de um plano de trabalho interdisciplinar/transdisciplinar de preceptoria, nos faz refletir sobre a importância de se ter reuniões, em formas de “rodas de conversa” para esses sujeitos. Formação em serviço e Educação Permanente! Vamos iniciar uma “forte potência”[1] coletiva e entrar, quem sabe, na dinâmica da roda. [1] Expressão utilizada por Ceccim e Feuerwerker (2004) ao falar que o SUS provoca importantes repercussões nas estratégias e modos de ensinar e aprender, sem que, entretanto, se tenha formulado uma forte potência aos modos de fazer formação.

2144 O estado da arte da formação em saúde nas Residências em Serviço Social no Brasil
Sabrina Pereira Paiva, Mariana Magalhães Ribeiro, Mariana Nery Sol Paulo, Vivian de Almeida Costa Tristão, Polyana Carvalho da Silva, Lara Rodrigues Caputo, Marcilea Tomaz, Vanisse Bernardes Bedim

O estado da arte da formação em saúde nas Residências em Serviço Social no Brasil

Autores: Sabrina Pereira Paiva, Mariana Magalhães Ribeiro, Mariana Nery Sol Paulo, Vivian de Almeida Costa Tristão, Polyana Carvalho da Silva, Lara Rodrigues Caputo, Marcilea Tomaz, Vanisse Bernardes Bedim

Apresentação: O debate sobre a formação em saúde e as particularidades do processo formativo na Residência ganha destaque no Serviço Social ao final dos anos 2000, a partir da ampliação da inserção dos assistentes sociais nos Programas de Residência (CASTRO, 2013). Neste contexto, faz-se mister o alinhamento da formação continuada em saúde com a realidade social e profissional, visando conscientizar e instrumentalizar teórica e tecnicamente os profissionais para apreensão qualificada do seu objeto de trabalho-   a questão social e suas refrações. Preconiza-se o desenvolvimento de uma linha política e teórica afinada com os interesses dos trabalhadores, abrindo canais de escuta e comunicação que propiciem a democratização das informações, a efetivação da educação em saúde e dos princípios do SUS. Desenvolvimento:  As diretrizes curriculares do  Serviço Social definem que uma formação de qualidade deve capacitar o/a assistente social para: Apreensão crítica do processo histórico como totalidade; Investigação sobre a formação histórica e os processos sociais contemporâneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de apreender as particularidades da constituição e desenvolvimento do capitalismo e do Serviço Social no país; Apreensão do significado social da profissão desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; Apreensão das demandas - consolidadas e emergentes - postas ao Serviço Social via mercado de trabalho, visando formular respostas profissionais que potenciem o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre público e privado; Exercício profissional cumprindo as competências e atribuições previstas na Legislação Profissional em vigor (ABEPSS, 1996, p. 07-08). Neste contexto, valoriza-se a articulação ensino/serviço, na medida em que as Instituições de Ensino e de Saúde se responsabilizam mutuamente pela formação de recursos humanos, na perspectiva generalista, compreendendo o usuário como sujeito, e não como reprodutor de orientações e prescrições, tendo como objetivo maior a qualidade dos serviços de saúde (TEIXEIRA, 2002). Porém, a falta de condições de trabalho, o sucateamento das instituições e a limitação de recursos humanos se colocam como elementos que trazem desafios para se garantir uma formação de qualidade e a defesa dos princípios e diretrizes do SUS. A falta de espaço físico, por exemplo, impacta no desenvolvimento de atividades grupais de educação em saúde, reuniões de equipe e atendimentos individuais, não atendendo, muitas vezes, o que está definido na Resolução 493/2006 do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), que dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional do assistente social. Em relação aos recursos humanos, o reduzido quadro de profissionais, tanto no espaço hospitalar como na atenção secundária e básica, tem trazido claras dificuldades para que os profissionais se disponibilizem para assumir a preceptoria da residência. Outra questão é a própria fragmentação do trabalho profissional em alguns espaços, onde o assistente social atende a vários territórios e não desenvolve um trabalho contínuo nas unidades de saúde (CASTRO, 2013). Tem-se ainda o cenário particular dos Hospitais Universitários, com a proposta da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) que tem sido objeto de debates, atos e posicionamentos políticos contrários do Serviço Social nos HU. Entende-se que o quadro exposto influencia diretamente no processo formativo desencadeado pelas Residências, mas trazem implicações ainda maiores para o desenvolvimento de serviços qualificados que visem à assistência integral à saúde. Partimos da compreensão de que a formação para a área da saúde tem particularidades que se assentam, especialmente, na defesa do projeto de reforma sanitária e dos princípios e diretrizes do SUS.  Nesse sentido, torna-se elemento essencial tratar da qualificação em torno de temas importantes como: ampliação da clínica, trabalho em equipes multiprofissionais e interprofissionais, metodologias ativas de ensino-aprendizagem e metodologias de avaliação da educação permanente (CECCIM, FEUERWERKER, 2004, p.58). Closs (2013) aponta a necessidade de se inserir na pauta do debate sobre a formação o reconhecimento da saúde como direito social e o papel do Estado na sua garantia; a promoção de ações que fortaleçam e preservem a autonomia da população usuária do SUS; a identificação dos fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença, das condições necessárias à garantia da saúde; discutir o trabalho em saúde, pautado na perspectiva de sistema/rede; e a pesquisa e elaboração de dados socioepidemiológicos como fundamentais no processo formativo, uma vez que produz impactos na gestão/atenção em saúde, seja no que tange ao planejamento/formulação, como no que se refere à execução e avaliação. Ou seja, é necessário que a formação qualifique trabalhadores para atuação no SUS, visando a realização de mudanças no processo de trabalho e no modelo assistencial e o desenvolvimento de práticas qualificadas que contemplem o conceito ampliado de saúde e a integralidade da atenção. Sendo assim, esta investigação pretende apresentar o ‘estado da arte’ sobre a formação em saúde nas Residências em Serviço Social, a partir de 2009, já que a partir deste momento temos um avanço da inserção de assistentes sociais no contexto das residências multiprofissionais em saúde no país, chegando até o final do primeiro semestre de 2018. A pesquisa bibliográfica, em curso, é realizada em uma base de dados do Portal de Periódicos CAPES- SciELO Brasil, a partir dos descritores: formação em saúde; Serviço Social; e Residência. Além disso, investiga-se o Portal de Teses de Dissertações da CAPES, respeitando-se o mesmo período e descritores. Além disso, são realizadas buscas nas Revistas da Área do Serviço Social, apontadas no sistema Qualis como periódicos A1, A2, B1. E, como fontes documentais primárias, temos: - Documentos do Ministério da Saúde referentes às Residências em Saúde; - Anais dos dois principais eventos da categoria de assistentes sociais: Congresso Brasileiro de Serviço Social e Encontro Nacional de Pesquisadores de Serviço Social, a partir de 2009. Resultados e impactos esperados: Espera-se que este estudo possa contribuir para a apreensão das particularidades do Serviço Social na formação para o trabalho na área da saúde, com o intuito de construir um trabalho profissional que esteja atento às necessidades de saúde da população e aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, pautando-se no projeto de Reforma Sanitária. Considerações Finais: Ao mesmo tempo em que se avança na qualificação da formação continuada em saúde, tem-se o aprofundamento do projeto de mercado proposto para a área da saúde, que traz desafios para a consolidação de um projeto de educação e de saúde democrático e popular.  Assim, o presente estudo se propõe a apresentar o debate atualizado sobre a formação em saúde e as particularidades do processo formativo na Residência, apontando elementos para qualificação da inserção dos assistentes sociais neste espaço.

3118 RESIDÊNCIAS EM SAÚDE NO CEARÁ: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO
Pedro Alves de Araújo Filho, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Joyce Mazza Nunes Aragão, Lúcia Conde de Oliveira, Maria Socorro de Araújo Dias

RESIDÊNCIAS EM SAÚDE NO CEARÁ: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Autores: Pedro Alves de Araújo Filho, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Joyce Mazza Nunes Aragão, Lúcia Conde de Oliveira, Maria Socorro de Araújo Dias

INTRODUÇÃO A Residência como dispositivo de ensino-aprendizagem pelo trabalho em saúde decorre de um movimento histórico de especialização do saber médico, o qual foi estruturado em ambiente hospitalar e em regime de internato. Posteriormente, os programas de residência passaram a configurar uma modalidade de pós-graduação lato sensu, caracterizada pela formação em serviço sob supervisão, sendo considerada o “padrão-ouro” da especialização médica. No que concerne às Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) como estratégia de formação em serviço, no Brasil, os autores relatam que esses programas têm acumulado relevantes conhecimentos sobre essa modalidade de formação, com potencial para contribuir na qualificação da força de trabalho da saúde, além de constituírem-se em espaços de formação crítica, reflexiva e transformadora, para o processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS), e como estratégia de Educação Permanente em Saúde (EPS) que possibilite a afirmação do trabalhador no cotidiano do seu universo de trabalho e na sociedade em que vive. O objetivo deste trabalho é discorrer sobre a historicidade das Residências em Saúde nas modalidades multiprofissional e uniprofissional, no Estado do Ceará, como espaço de formação e qualificação de profissionais da área, excetuando as residências médicas. METODOLOGIA Para realização desse trabalho, tomamos por base literatura física e/ou online disponíveis para acesso livre, documentos institucionais e entrevista com atores-chave dos programas identificados, essa última estratégia foi utilizada para os casos em que as informações disponíveis em referencias e/ou documentos não se apresentaram suficientes para a uma descrição da historicidade requerida. Realizamos uma análise de conteúdo dos documentos, textos e entrevistas referente aos programas, com o objetivo de descrever a modalidade do programa de Residência (Multiprofissional e/ou Uniprofissional), período de criação, instituição formadora/executora, área de concentração/ênfase, quantidade de vagas ofertadas e categorias profissionais incluídas. Essa contextualização é um recorte de uma pesquisa avaliativa participativa sobre os caminhos, estratégias e ferramentas da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade (RMSFC) para organização do processo de trabalho e produção do cuidado no contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF), em um dos cenários de aprendizagem da Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará (RIS-ESP/CE), aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (UECE), sob o parecer nº 1.506.166. RESULTADOS E DISCUSSÃO O primeiro programa de Residência “Multiprofissional” em Saúde do Ceará é atribuído ao Curso de Especialização em Saúde da Família, com caráter de Residência, do Município de Sobral, criado em 1999, numa parceria da Secretaria Municipal de Saúde de Sobral com a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Essa turma era constituída, exclusivamente, por médicos e enfermeiros que atuavam no então Programa Saúde da Família (PSF) do município, tendo sido matriculados 64 residentes, com financiamento exclusivo do município. A implantação desta residência é considerada uma política contra hegemônica e tinha por objetivo capacitar os profissionais de saúde que atuavam ou que pretendiam atuar no PSF para desenvolverem as diretrizes propostas de reorientação do modelo de atenção hegemônico. Em 2017, teve início a décima quarta turma da RMS da Família de Sobral, por meio da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia, em parceria com a Universidade Estadual Vale do Acaraú, sendo ofertadas 30 vagas para dez categorias profissionais diferentes. A Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE) também desenvolveu uma Especialização em Saúde da Família na modalidade de Residência em Saúde, voltada para médicos e enfermeiros que atuavam no PSF, denominada Residência de Enfermagem/Medicina em Saúde da Família. Consistiam em dois programas uniprofissionais, que tiveram quatro turmas ao todo. A primeira turma iniciou no ano 2000 e a última em 2003. O Programa foi encerrado em 2006, segundo informações da Secretaria Escolar da ESP/CE. Outro programa, também já extinto, é o Programa de RMSFC de Fortaleza, executado pelo Sistema Municipal de Saúde Escola, chancelado pela UECE. Na primeira turma (2009/2011), foram ofertadas 66 vagas, distribuídas entre nove categorias profissionais. Para a segunda (2011/2013) e terceira (2012/2014) turmas, houve uma redução do número de vagas, de 66 para 14, e nas ultimas turmas foram incluídas seis categorias profissionais: Enfermagem, Odontologia, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Serviço Social. Os programas de Residência em Saúde dos Hospitais Universitários da Universidade Federal do Ceará (HU/UFC) consistem em seis programas multiprofissionais, divididos por área de concentração, denominados Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar à Saúde (Saúde da Mulher e da Criança, Oncohematologia, Transplante, Terapia Intensiva, Saúde Mental e Diabetes); e dois programas uniprofissionais (Enfermagem Obstétrica e Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial). Foram precedidos de residências uniprofissionais, as quais foram substituídas quando da implementação das RMS, em 2010. Tendo as mesmas instituições executoras e formadoras que a RMSF, em 2013, começara as atividades da RMS Mental de Sobral. Para este programa, são ofertadas dez vagas para cinco categorias profissionais: Educação Física, Enfermagem, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional. Também, em 2013, foi implantada a RIS-ESP/CE, executada em parceria com municípios do Estado, as unidades hospitalares e Coordenadorias Regionais de Saúde da Secretaria Estadual da Saúde (SESA). Atualmente é constituída por 11 programas, divididos em componente comunitário e hospitalar, segundo os cenários de aprendizagem: Saúde da Família e Comunidade, Saúde Mental Coletiva, Saúde Coletiva, Enfermagem Obstétrica, Neonatologia, Pediatria, Infectologia, Neurologia e Neurocirurgia de Alta Complexidade, Cuidado Cardiopulmonar, Urgência e Emergência e Cancerologia. Ainda em ambiente hospitalar, em 2015, foram instituídos os dois Programas de RMS da Santa Casa de Misericórdia de Sobral, em parceria com o Instituto Superior de Tecnologia Aplicada, nas áreas de concentração: Urgência e Emergência e Neonatologia. Em 2017, foram abertos mais quatro programas multiprofissionais no Estado, a RMS em Cancerologia do Instituto do Câncer do Ceará, em Terapia Intensiva Adulto e Neonatal do Hospital Geral de Fortaleza, hospital da rede SESA, e a RMS Coletiva da Universidade Regional do Cariri, perfazendo um total de 27 programas de Residências em Saúde no Estado, distribuídos entre sete instituições formadoras e um número considerável de instituições executoras conveniadas. Verificou-se uma diversidade de programas de Residências em Saúde nas modalidades multiprofissionais e uniprofissionais, distribuídos nas diversas redes de atenção à saúde que compõem o SUS no Estado, da ESF e Rede de Atenção Psicossocial à atenção hospitalar e gestão em saúde pública. Há uma predominância de residências multiprofissionais e em ambiente hospitalar, apesar da maioria das vagas se destinarem aos programas realizados em outras redes. Esta diversidade de programas e cenários ensejam a necessidade de processos avaliativos e acompanhamento da condição de funcionamento e da qualidade da formação ofertada por estes programas. CONSIDERAÇÕES Realizar a reconstituição histórica e contextualização sobre as Residências em Saúde no Estado, além de uma importante contribuição sobre o tema e preenchimento de uma lacuna, nos ajuda a refletir sobre o passado para que se repense as tensões do presente e seus desdobramentos com vistas a superação dos problemas que orientem o planejamento do futuro da formação na modalidade Residência no contexto local e nacional. A implementação de uma Política Nacional de Residências em Saúde construída coletiva e democraticamente, e que institua estratégias de formação, valorização e absorção da força de trabalho prioritária para o sistema, são alguns dos desafios que precisavam ser superados para que o SUS se efetive como um sistema universal, integral e equânime.  

3156 EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO RESIDENTE EM ONCOLOGIA DIANTE DO PROCESSO DE VIDA E FINITUDE EM CUIDADOS PALIATIVOS NO SUS - CERTEZAS EM XEQUE
Dayse Maria de Vasconcelos Rodrigues, Caroline Pereira Ribeiro, Maria Fernanda Palermo da Silva, Mayara Castro Lustosa Moura Granja, Luisa Costa Alves Guidoux, Ana Lúcia Abrahão, Leticia Cataldi Alcantara

EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO RESIDENTE EM ONCOLOGIA DIANTE DO PROCESSO DE VIDA E FINITUDE EM CUIDADOS PALIATIVOS NO SUS - CERTEZAS EM XEQUE

Autores: Dayse Maria de Vasconcelos Rodrigues, Caroline Pereira Ribeiro, Maria Fernanda Palermo da Silva, Mayara Castro Lustosa Moura Granja, Luisa Costa Alves Guidoux, Ana Lúcia Abrahão, Leticia Cataldi Alcantara

APRESENTAÇÃO: Programa de Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase em Oncologia pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) proporciona ao residente enfermeiro  interação com outros profissionais de saúde, bem como com  possíveis tensões que surgem da produção do cuidado a partir do desenvolvimento de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar, com enfoque, neste caso,nos cuidados paliativos que emergem a partir do momento que usuários são diagnosticados com afecções patológicas ameaçadoras à vida ou quando da identificação de doenças fora de possibilidade terapêutica. Tais cuidados têm como essência a preocupação com a qualidade de vida durante todo  percurso terapêutico,caracterizado pela afirmação da vida em vida, além da preocupação em tratar a morte como processo natural, onde não se pode antecipá-la ou adiá-la. Com isso, o objetivo é lançar um olhar como profissional em formação, sobre o processo de cuidado realizado no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), tomando como embasamento a Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer, estabelecida na Portaria nº 874/2013, onde os cuidados paliativos devem estar inseridos em todos os níveis de atenção, respeitando os princípios doutrinários do SUS. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de estudo descritivo, observacional, a partir da experiência das autoras em alguns campos de assistência à saúde em um Hospital Federal de referência oncológica no município do Rio de Janeiro, nascida como proposta de vivência da Residência em Saúde, com o propósito de despertar um conhecimento crítico-reflexivo, comprometido com os usuários e a produção do cuidado, a partir da interação com os profissionais que atuam no SUS, especificamente na assistência oncológica em cuidados paliativos. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Por serem os cuidados paliativos, ações que dependem de uma compreensão mais elaborada do seu significado e de suas dimensões, evidenciou-se a importância que os mesmos sejam pensados e organizados, a partir de uma política própria de tal forma que priorize,produza e assegure um cuidado integral e contínuo tanto do ponto de vista ético-moral, quanto humano e operacional, proporcionando a certeza de segurança na assistência aos usuários acometidos por doenças oncológicas avançadas ou em face de sua terminalidade.A experiência possibilitou perceber várias problemáticas enfrentadas por ambos os lados. Destacamos o usuário, que ainda encontra dificuldade de acesso à rede de assistência à saúde, impossibilitando a elaboração de um diagnóstico precoce e tratamento curativo, em concomitância com a evidente deficiência de capacitação profissional da equipe de saúde em cuidados paliativos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Percebemos certa dificuldadedos profissionais em produzir  cuidados paliativos no usuário onde a possibilidade ou proximidade da morte se tornam latente, identificando  necessidade de olhar esse indivíduo sob  nova perspectiva.Para tanto, faz-se necessário longo e intenso caminhar na busca da melhoria do cuidado,tendo início com capacitação dos profissionais a partir de sua formação,para que possam ser capazes de produzir um cuidado potente,ancorado na essência filosófica dessas ações e assim proporcionar uma assistência integralizada capaz de atender às novas demandas impostas diante da finitude da vida.  

3516 PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE NA REALIDADE DO SERTÃO PARAIBANO
Daniela de Lima Guerra, José Bégue Moreira de Carvalho, Miguel Toledo, Watrusy Lima de Oliveira, Eulampio Dantas Segundo, Miriam Brandão, Charlene Pereira, Paula Maia

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE NA REALIDADE DO SERTÃO PARAIBANO

Autores: Daniela de Lima Guerra, José Bégue Moreira de Carvalho, Miguel Toledo, Watrusy Lima de Oliveira, Eulampio Dantas Segundo, Miriam Brandão, Charlene Pereira, Paula Maia

APRESENTAÇÃO: A Medicina de Família e Comunidade (MFC) é uma especialidade eminentemente clínica que também desen­volve, de forma integrada e integradora, práticas de promoção, proteção e recuperação da saúde dirigidas a pessoas, famílias e comunidades. A MFC tem potencial transformador tanto no âmbito da prática médica quanto na formação de recursos humanos e no desenvolvimento de pesquisas, contribuindo para uma maior efetividade dessas áreas, inspiradas em bases mais humanas e comunitárias. O programa de residência médica e/ou especialização em Medicina de Família e Comunidade da Secretaria Municipal da Prefeitura de Patos é vinculado as Faculdades Integradas de Patos (FIP), e faz parte da Comissão de Residência Médica (COREME-FIP). DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A metodologia de ensino proporciona ao médico residente uma imersão na Atenção Primária à Saúde (APS) sob supervisão presencial e a distância de preceptoria capacitada e amplia o olhar crítico do cuidado à saúde pautado nos princípios internacionais da APS e MFC. Nosso programa de residência médica funciona através da ótica do ensino centrado no educando com metodologias ativas. O residente ou especializando tem por obrigação utilizar - se diariamente de tecnologias leves para realizar uma abordagem centrada na pessoa e às famílias que é responsável. Atualmente, o programa de residencia conta com uma abrangência de 18 municípios que compõem a região do sertão paraibano e um contingente anual de 36 médicos residentes. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: O programa de residência assume um papel importante na organização do sistema de saúde regional, promovendo o acesso ao sistema de saúde, contribuindo com a integralidade, coordenação do cuidado e articulação intersetorial. Tendo ainda como proposito a aplicação de conhecimentos atualizados na prática do médico de família e comunidade, orientado por princípios os quais orientam suas ações diante das necessidades das pessoas e sua comunidade pertencente. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A MFC possui características únicas, onde a presença de equipes multiprofissionais e a responsabilidade por uma população e território exerce impacto positivo da estratégia em inúmeros aspectos e atributos da atenção primária a saúde, permitindo uma assistência integral e equânime para o maior e mais importante centro urbano do Sertão Paraibano.

4085 Cuidar do residente: a importância de individualizar o plano de ensino
Pedro Toteff Dulgheroff, Juliana Sampaio, Danyella da Silva Barreto

Cuidar do residente: a importância de individualizar o plano de ensino

Autores: Pedro Toteff Dulgheroff, Juliana Sampaio, Danyella da Silva Barreto

Apresentação: A Residência em Medicina de Família e Comunidade (RMFC) existe desde a década de 80. Contudo, o percentual de médicos de família e comunidade em 2015 era de 1,2% do total de médicos no país. Frente a isto, o governo federal tem investido em programas para a ampliação do número de vagas para a especialidade, numa tentativa de suprir a demanda crescente desse profissional na atenção primária à saúde. A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) abriu sua RMFC em 2010, com cinco vagas, ofertando atualmente 16 vagas anuais. Através da Rede Escola, estimula a integração ensino-serviço em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de João Pessoa – PB. Ao ingressarem na RMFC, os residentes são vinculados como médicos em uma das equipes de saúde da família no município. No campo, eles são acompanhados por preceptores formados em MFC, que trabalham na mesma unidade de saúde, e por docentes da UFPB, que atuam como professores-tutores de núcleo e de campo, sendo estes últimos com diferentes formações acadêmicas. A RMFC se apoia na integração ensino-serviço, buscando construir processos pedagógicos a partir das demandas e necessidades de cada território e do percurso de aprendizagem de cada residente. A partir desse arranjo organizativo, várias experiências de gestão do trabalho e produção do cuidado em saúde são vivenciadas por esses atores. O presente trabalho tem como objetivo colocar em análise uma experiência vivenciada por um preceptor de campo e duas professoras-tutoras na construção de um processo pedagógico singular e cuidador para uma residente, ora denominada Flor.   Desenvolvimento: A história de vida e o itinerário pedagógico de Flor foram fundamentais para a construção de um processo pedagógico singular e afetivo. Recém-chegada em João Pessoa, Flor não tinha rede de apoio. Um dos pontos marcantes de sua trajetória, a revalidação do diploma, aconteceu em 2014, após muitas tentativas. Esse processo, muitas vezes violento, deixou marcas profundas em sua confiança e autoestima. Verbalizava que o fato de contar com a supervisão de tantos profissionais e tão próxima foram os fatores que a levara a escolher a UFPB. Na prática, como forma de proteger-se de novas frustrações, tinha dificuldade de vincular-se com o novo, fosse com a equipe ou docentes. Vivia momentos de “terror” ao ouvir o termo avaliação, mesmo que esta tivesse caráter formativo e não punitivo. Foram muitas as vezes que considerou desligar-se do programa nos primeiros meses. Evitando o preceptor e as tutoras, buscava superar suas dificuldades estudando em casa. Considerava que a equipe ouvia apenas a enfermeira ou seu preceptor. O que a fortalecia e mantinha viva sua vontade de continuar eram os comentários de satisfação e o carinho dos usuários. Refugiava-se em seu consultório, local onde tinha “controle” da situação. No início, foram muitas tentativas de aproximação dos docentes, sempre vistas com desconfiança ou cobrança por Flor. O ponto de virada, que proporcionou sua abertura à mudança, foi uma avaliação feita no primeiro semestre. Acompanhada pelo preceptor em uma consulta a uma criança resfriada, Flor ficou imobilizada pelos sentimentos antigos e chorou compulsivamente. O preceptor então deu sequência à consulta. Após finalizar o atendimento, dedicou-se a acolher as angústias de Flor. Era a primeira vez que ela conseguia expressar o alto grau de sofrimento que vivenciava. Aos poucos, preceptor e tutoras procuraram facilitar que Flor fizesse uma ressignificação de si, do trabalho e de sua formação. Inicialmente, acolhendo-a nos momentos de crise, tão comuns na formação baseada no trabalho vivo, produzido em ato. Um novo modelo de avaliação foi pensado pelos docentes para o final do segundo semestre. Consistia em um questionário de múltipla escolha, com questões relacionadas ao dia a dia da unidade, sem uma nota atribuível, baseado em conceitos como “faz”, “faz quase sempre”, “não faz”, etc. Para diluir o peso do avaliador externo, optou-se por construir um coletivo de olhares. O mesmo deveria ser auto aplicado por Flor, mas também respondido pelo gerente da unidade, equipe de saúde, usuários e preceptor. Apesar da ansiedade de Flor, a avaliação com seu aspecto informal, transcorreu sem problemas. Em reunião com o preceptor, Flor ficou surpresa ao ver que a pior avaliação tinha sido a que ela se deu, discordando muito em alguns pontos de todos os outros avaliadores. Isso a permitiu colocar-se em análise. Percebeu-se muito rígida consigo e o preço que vinha pagando por seu isolamento. Este evento marcou o início de uma parceria entre ela e os docentes que se fortaleceu cada vez mais durante o restante de sua formação. Ela passou a acompanhar as atividades que o preceptor desenvolvia com alunos da graduação e com outro residente da unidade. As tutoras mantiveram-se próximas, mas sempre atentas ao tempo de Flor. No início do segundo ano, mais uma avaliação foi organizada, dessa vez mais formal, na UFPB, para dar feed-back das ações desenvolvidas até aquele momento. Fazia-se necessário construir caminhos para ela atingir as competências previstas para sua formação. Uma escolha delicada, que poderia levar a um retrocesso na relação estabelecida, caso Flor percebesse o encontro como medição ou juízo de valor. Flor iniciou relatando seu processo até então e a aproximação gradual que vinha conseguindo realizar com a academia. Quando chegou a hora de ouvir, como esperado, os sentimentos ruins voltaram à tona. Seu choro foi acolhido e suas angústias foram sendo gradativamente trabalhadas. Focou-se então em seus avanços e traçou-se um plano de exposição gradual às situações que a deixava desconfortável: grupos de educação em saúde, gestão do trabalho em equipe, consultas conjuntas e discussão técnica de casos. Ela precisava exercitar “pedir ajuda” para o preceptor e tutoras e supervisionar alunos da graduação, seu maior medo. Pouco antes do final da residência, seu preceptor mudou-se para outro município. Flor assumiu sem dificuldade a posição de referência para a unidade. Ela abriu as portas de seu espaço mais protegido, o consultório, passando a gostar das atividades que desenvolvia agora como docente.   Resultados: Compreender a singularidade de Flor, respeitar seu tempo e elaborar um plano pedagógico singular e afetuoso, com sua participação efetiva, permitiu a Flor ressignificar vários de seus processos. Ela recuperou sua autoconfiança, perdeu o medo de arriscar-se em novos campos, empoderou-se frente à equipe e perdeu o medo de falar sobre suas dificuldades, passando a buscar ajuda quando necessário. Cumpriu com todos os objetivos estabelecidos e, em muitos casos, surpreendeu seu preceptor e suas tutoras por ir além daquilo que era esperado. Posteriormente, Flor relatou que a postura acolhedora dos docentes e a forma carinhosa como o processo foi conduzido foram fundamentais para sua mudança de postura. Considerações finais: A inserção dos residentes no cotidiano das unidades são a argamassa do processo de formação dos futuros MFC da UFPB, permitindo uma formação comprometida e contextualizada com SUS, tornando-os mais preparados para o desempenho de suas atividades profissionais. Ressalta-se a importância de dar sentido e de produzir um processo de aprendizagem singular e significativo para todos os envolvidos, tornando a formação um processo também cuidador. A capacidade de Flor se reinventar certamente influenciará toda sua vida, pessoal ou profissional, que agora, após desabrochar, está pronta para espalhar seu perfume por onde quer que vá.

5084 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DAS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE
Letícia Stanczyk, Janainny Magalhães Fernandes

ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DAS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE

Autores: Letícia Stanczyk, Janainny Magalhães Fernandes

Apresentação: A Residência Multiprofissional em Saúde visa primordialmente formar profissionais para a atuação no Sistema Único de Saúde, e é caracterizada por ações que visam a mudança do processo de trabalho, das práticas de atenção à saúde e da construção do conhecimento. Com o crescimento mundial das afecções psicossociais, violência, abuso de substâncias psicoativas e da complexificação da sociedade, é necessário que os profissionais da saúde ampliem sua capacidade técnico-científica e afetiva para o cuidado em Saúde Mental, de modo a incluir os indivíduos nos contextos dos determinantes sociais em saúde e na visão de saúde ampliada, conforme a integralidade e equidade. Nesse sentido, estudamos o discurso de fisioterapeutas residentes sobre a atuação em saúde mental. Metodologia: Este foi um estudo qualitativo de delineamento transversal, realizado através de um questionário online com fisioterapeutas inseridos nos programas de residência multiprofissional em âmbito nacional que contou com questões acerca da atuação da fisioterapia nesta área. As respostas foram analisadas a partir da técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÊVRE; LEFÊVRE, 2005). Resultados: Participaram do estudo 55 fisioterapeutas de todas as regiões do país, totalizando 15 estados. A média etária dos participantes foi de 26,90 ±4,29 anos de idade, sendo a maioria do sexo feminino (74,5%). De todos os respondentes, 92,7% relataram ter contato com pacientes/situações que envolvem saúde mental no seu cotidiano. Ao analisar o discurso sobre a atuação na Saúde Mental pode-se identificar as seguintes possibilidades: 1) atua com a promoção da saúde e a corporeidade, utilizado ferramentas do campo da saúde coletiva e do trabalho em equipe; 2) atua visando a integralidade do cuidado, para além da normatização e da reabilitação física e 3) atua realizando apenas reabilitação física e desconhece o trabalho em saúde mental de modo geral. Considerações finais: A fisioterapia tem sua história centrada na reabilitação física, normativa e protocolar, em que, a integralidade e ampliação da clínica tem sido incorporada recentemente através das mudanças curriculares e das políticas públicas no âmbito da Saúde Coletiva. A Saúde Mental, na lógica da desinstitucionalização e do cuidado em liberdade, ainda se encontra distante da formação e capacitação acadêmica-profissional de fisioterapeutas, no qual, o trabalho em equipe tem facilitado processos do cuidado da fisioterapia na saúde mental, desse modo, as residências multiprofissionais podem auxiliar nesse processo. Neste contexto, percebemos que a aproximação com Saúde Coletiva tem sido potente no processo formativo da fisioterapia para o cuidado em saúde mental na lógica da reinvenção da clínica.LEFÉVRE, F.; LEFÉVRE, A. M. C. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque para pesquisa qualitativa. 2 ed. Caxias do Sul: EDUCS, 2005.

5394 A residência enquanto instrumento de educação permanente na atenção básica
Fablicia Martins de Sousa, Flávio Marques Damasceno, Benedito Mesquita de Araújo Neto, Ivna Arruda Sousa, Valdenia Cordeiro Lima, thalanikelson de oliveira Brito, Victor Hugo Lopes dos Santos, Jonas Mendes Oliveira

A residência enquanto instrumento de educação permanente na atenção básica

Autores: Fablicia Martins de Sousa, Flávio Marques Damasceno, Benedito Mesquita de Araújo Neto, Ivna Arruda Sousa, Valdenia Cordeiro Lima, thalanikelson de oliveira Brito, Victor Hugo Lopes dos Santos, Jonas Mendes Oliveira

Muito teóricos atuais já tem se questionado quanto o processo formativo dos profissionais de saúde e principalmente que leve em consideração a atuação profissional na saúde pública. Indicando a importância da vivencia pratica no processo pedagógico e na aprendizagem significativa. Nesta perspectiva, surge uma modalidade de formação em saúde direcionada para o SUS, a práxis, neste sentido, seria esta relação teórico-prática. Nos últimos anos o crescimento da atuação de uma variedade de profissionais de saúde no contexto da atenção básica, porém, ainda existe a necessidade de que a formação possibilite a vivência multiprofissional, possibilitando aos usuários um serviço mais direcionado aos interesses dos mesmos para que possa atender às necessidades da população. O presente trabalho tem como objetivo relatar descrever como se da o processo de educação permanente na residência multiprofissional na atenção básica. Quanto à metodologia trata-se de um estudo descritivo qualitativo. De acordo com a nova concepção de saúde, surgiu a necessidade de novos e maiores aparatos que se mostrassem suficientes e resolutivos para atender as demandas do território. O processo de educação em saúde é um método que está diretamente relacionado ao modo de atuação profissional, sendo determinada de acordo com a demanda do local e levando em consideração as reais necessidades dos indivíduos ali inseridos. Na estratégia saúde da família esse processo esta apoiado nos processos de aprendizado significativo sendo produzido através de oficinas, rodas de conversa. O processo de educação permanente em saúde esta intrínseco ao processo de trabalho profissional pois acontece nas trocas de saberes cotidianas em todos os processos de trabalho, neste sentido, se fortalece com a interdisciplinalidade, com a educação popular, e com o atendimento multiprofissional, levando em consideração não só o saber de núcleo, mais também o saber de campo. Contudo, surge o entendimento que o saber de núcleo não da conta das demandas locais de saúde sozinho, é necessário a atuação interdisciplinar e multiprofissional aliada a educação permanente, troca de saberes e educação popular. A residência multiprofissional enquanto estratégia de educação permanente nos territórios atua de forma interdisciplinar, na perspectiva da educação popular, o que se traduz num processo de trocas de saberes e praticas de cuidado em saúde. Podemos entender que educação permamente em saúde na sua definição pedagógica é um processo educativo que coloca o cotidiano do trabalho em analise dos processos das relações, por isso é um processo desafiador de realidades, ela acontece no trabalho, pelo trabalho e para o trabalho. Alem de permitir sensibilizar os mais variados profissionais tendo como principal intuito o de promover a qualificação dos mesmos para a prestação de cuidados aos seus usuários.

2870 JOGOS POPULARES NOS GRUPOS DE PRATICAS CORPORAIS COMO FERRAMENTA PARA TRABALHAR CULTURA LOCAL
Sanayla Maria Albuquerque Queiroz, Jose Carlos Araujo Fontenele, Hanna Pontes Linhares, Marilia Gabriela Santos Bezerra, lisandra teixeira rios, patricia thays Alves perreira, jessica rodrigues brito, Silvinha de sousa Costa Vasconcelos

JOGOS POPULARES NOS GRUPOS DE PRATICAS CORPORAIS COMO FERRAMENTA PARA TRABALHAR CULTURA LOCAL

Autores: Sanayla Maria Albuquerque Queiroz, Jose Carlos Araujo Fontenele, Hanna Pontes Linhares, Marilia Gabriela Santos Bezerra, lisandra teixeira rios, patricia thays Alves perreira, jessica rodrigues brito, Silvinha de sousa Costa Vasconcelos

  Atualmente o número de pessoas praticando atividade física vem crescendo consideravelmente. Na Atenção Primaria à Saúde os grupos de práticas corporais tem se destacado pela adesão dos usuários que compõem o território, tornando-se um importante instrumento para trabalhar promoção da saúde. Como forma de valorizar a cultura local e promover também a educação popular em saúde os jogos populares, que são jogos de rua em que seus elementos podem ser alterados, decididos pelos próprios jogadores, com flexibilidade nas regras, e sem exigir recursos mais sofisticados, pois sua origem está na cultura popular foram utilizados ferramentas de promoção e interação entre os participantes do grupo.  Os mesmos são uma das opções para se trabalhar nos grupos de práticas corporais. Objetivou-se promover cultura popular nos grupos de práticas corporais utilizando os jogos populares. Trata-se de um relato de experiência, que ocorreu em setembro de 2017, no município de Sobral – Ce, nos grupos de práticas desenvolvidos na Centro de Saúde da Família do bairro COHAB III. Esse grupo funciona com cerca de 40 usuárias, todas do sexo feminino. As atividades foram desenvolvidas pelos profissionais da equipe de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, formada por um fisioterapeuta, uma terapeuta ocupacional, uma assistente social, uma profissional de educação física, uma enfermeira, uma dentista e uma fonoaudióloga. Inicialmente, houve uma explanação acerca dos jogos populares como sendo uma alternativa no desenvolvimento de práticas, mostrando a importância para fortalecer a cultural local; as atividades foram desenvolvidas de forma gradual onde, começamos com o acolhimento das mulheres com um ambiente bem colorido e músicas regionais, em sequência dividimos as mulheres em duas equipes, para realizar as atividades, logo após os aquecimentos envolvendo exercícios no qual as usuárias tinham que ficar em fila passando objetos como bolas, balões e bambolês, em seguida exercícios com movimentos de correr e saltar, finalizando com musicas nordestinas e danças de roda como a conhecida por “Ciranda”. Essa experiência mostrou resultados positivos, ao notar-se que o espaço proporciona hábitos saudáveis de promoção à saúde fortalecendo a cultura local e educação popular através dos jogos populares, proporcionando um momento de relaxamento e vínculos afetivos entre as usuárias e os profissionais. Assim, a utilização dos jogos populares como ferramenta de ações em saúde transforma o espaço dos grupos em um ambiente onde possibilita o trabalho da cultura popular das mulheres.    

3368 ENFRENTAMENTO FAMILIAR DIANTE DO TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR-RELATO DE EXPERIÊNCIA
Isabele Pacheco Barros, Higor do Nascimento Pereira

ENFRENTAMENTO FAMILIAR DIANTE DO TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR-RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Isabele Pacheco Barros, Higor do Nascimento Pereira

Descrição da experiência: Os transtornos mentais caracterizam-se por ser qualquer anormalidade, ou comprometimento de ordem psicológica e/ou mental. O transtorno bipolar é uma condição psiquiátrica crônica caracterizada por alterações graves de humor, que envolve recorrentes episódios maníacos, depressivos e mistos. Trata-se de um relato  que visa descrever a experiência obtida através da visita domiciliar, realizada durante a disciplina de enfermagem no processo de cuidar da saúde mental na residência de uma portadora de transtorno de humor bipolar durante episódio maníaco, e as dificuldades apresentadas pelos familiares diante destes episódios. A visita domiciliar ocorreu no dia 23 de setembro de 2017, onde foi realizado o acompanhamento aos familiares e a pessoa com transtorno de humor bipolar em crise. Obtivemos informações tais como: o primeiro surto, o que ocasiona os episódios, histórico familiar, acompanhamento psiquiátrico e o consumo abusivo de álcool e drogas. Foram realizadas orientações aos familiares voltadas à necessidade do acompanhamento psiquiátrico durante surto, como lidar com o indivíduo durante “episódio de humor”, a importância do apoio familiar e a imprescindível manutenção de um bom estado mental através de práticas recreativas para prevenir os recorrentes episódios maníacos e depressivos. Resultados alcançados: A visita domiciliar é uma notável forma de aproximação ao indivíduo com transtorno de humor bipolar e aos seus familiares, pois permite o esclarecimento de dúvidas, orientações e o fornecimento de apoio emocional. Considerações finais: Contudo, a atividade desenvolvida demonstra que são necessárias discussões mais amplas a respeito do espectro trantorno de humor bipolar, favorecendo a identificação de marcadores que caracterizem a bipolaridade, auxiliando no aprimoramento  do diagnóstico precoce, e elaboração de estratégias de apoio ao indivíduo e aos familiares.

4066 RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA: MOVIMENTOS DE ESTRANHAMENTO, ENCANTOS, ENCONTROS E (RE)INVENÇÃO
Joélia Oliveira dos Santos, Mônica dos Santos Ribeiro, Normanda de Almeida Cavalcante Leal, David Gomes Araújo Júnior, Caroline Rillary Vasconcelos Farias, Fablicia Martins de Souza, Isabele Mendes Portella, Elaine Cristina Mendes de Araújo

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA: MOVIMENTOS DE ESTRANHAMENTO, ENCANTOS, ENCONTROS E (RE)INVENÇÃO

Autores: Joélia Oliveira dos Santos, Mônica dos Santos Ribeiro, Normanda de Almeida Cavalcante Leal, David Gomes Araújo Júnior, Caroline Rillary Vasconcelos Farias, Fablicia Martins de Souza, Isabele Mendes Portella, Elaine Cristina Mendes de Araújo

O presente trabalho pretende apresentar a experiência do processo de se inventar residentes e trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Estratégia Saúde da Família (ESF) a partir de uma Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) na cidade de Sobral-CE. A experiência versa sobre o primeiro ano como residentes e trabalhadores. E em função das multiplicidades de discussões que podem se desenvolver, escolhemos nesse trabalho compartilhar recortes dos movimentos de estranhamento, encantos, encontros e (re)invenção que a equipe multiprofissional da RMSF, composta por enfermeiro, assistente social, nutricionista, educadora física, terapeuta ocupacional, dentista, fisioterapeuta e psicóloga, vem vivenciando nesse processo nos territórios de abrangência da ESF. Para tanto, iniciamos acerca da entrega que o encontro de se inventar residente convida. Encontro que se deu a partir do processo de territorialização em saúde, estratégia em que as equipes de referência e multiprofissional entram em contato com o território em suas múltiplas dimensões, para além da dimensão geográfica. Processo atravessado pelo encanto das descobertas e do desejo de conhecer fincado nos olhos que nem as amendoeiras nas portas das calçadas das ruas no território. O encanto insistente, cerzindo os passos, se materializando no movimento dos corpos, na tentativa se cartografar pelo adentar das ruas. Encanto pela atenção sendo roubada a cada rosto sob o descanso da manhã nas calçadas. Na audição estimulada pelas músicas, conversas e risos. No toque dos olhares se buscando em cada encontro com os moradores do território. Na ânsia precisada em mudar o eixo do corpo para escutar, com o olhar curioso, os gritos silenciosos das histórias respirando em cada esquina, nos espaços não vazios sendo preenchidos pelas histórias a espera de serem compartilhadas. No cotidiano do trabalho na ESF, o ser residente se inventa a partir de um corpo sensível, em que o aprendizado e o trabalho se dão no contato com o território, as pessoas, os trabalhadores, os saberes e práticas de cuidado. Em que tudo pulsa ao se intensificar em cor e cintilância, principalmente quando o coração segue com fome de aprendizados e transformação. Pois, nessa experiência de se inventar residente aceitamos o convite a ser porosidade às vidas e aos encontros que chegam, pedindo honestidade e inteireza nos sentires. Aprendizado que se inicia pela construção de vínculos com a equipe de referência, com os usuários e com o território. Profissionais e usuários múltiplos em suas formas de olhar, cuidar e produzir saúde. Olhares de surpresa, entusiasmo, cansaço, descrença, fé, força e luta. Olhares de rostos marcados por processos de trabalho atravessados por uma realidade complexa e desafiadora, exigindo de cada um mais que técnicas mecanizadas e especializadas, posto que exigem acolhimento e estratégias de enfrentamento às necessidades vivenciadas pelas pessoas, famílias e coletivos no território. Rostos interrogativos quanto às possibilidades dos processos mudarem. Inventar-se residentes vem se constituindo enquanto trabalho engendrado por desejos de construção do SUS e da ESF que atendam e acolham as necessidades das pessoas. Desejos por construção de melhorias ou por processos de compartilhamento dos pesos das existências que chegam até a ESF. Pois são tantos fluxos, paradigmas e contradições desenhando as existências no território, em que a vida se mostra como luta diária, minuto após minuto em realidades agenciadas por vulnerabilidades, riscos, pobreza, violência e desigualdade que a princípio os sonhos parecem contrários a tal realidade dolorida, injusta e endurecida, mas que ao mesmo tempo se mostra terreno em que a fé, o desejo, a luta e a resistência crescem para além da dureza que coexiste junto com os sonhos. Resistências diante do que tenta enfraquecer e roubar a possibilidade de ser o que se tem o direito de ser. Direito e acesso à saúde, educação, trabalho, lazer e modos de existência mais equânimes e alegres. Em que a força do direito do sonho de ser na gente se espalha por todo lado, fazendo parte de nossas histórias, das linhas de cuidado e dos modos de se relacionar e construir o mundo. A força do direito a cidadania que tensiona até o corpo mais cansado e despercebido a sentir a disrupção escapando pelos poros e rostos das pessoas no território. O trabalho no SUS e na ESF se constitui a partir dos desafios e potencialidades de uma gestão e atenção do cuidado que reconhece e incorpora as dimensões simbólicas, subjetivas, sociais, culturais, econômicas e políticas em que os processos de adoecimento, saúde e cuidado se tecem. Permeados por contradições, desafios e potencialidades, onde do mesmo solo duro, áspero e doloroso repousa também a esperança por transformação. Sentimentos diversos rasgando o peito cotidianamente na vida escancarada, nem sempre suave e gentil, mas em movimento. Em que as pessoas vão sendo, mesmo doendo. Vão vencendo, mesmo quando perdem. Vão vivendo, mesmo que os tempos sejam duros demais. As pessoas vão seguindo porque a existência carrega a possibilidade de (re)invenção, produção e mudança a partir dos encontros. As pessoas continuam a caminhar, a acreditar e a teimar com as determinações naturalizadas. Assim, trabalhar no SUS e na ESF enquanto residentes está para além do trabalho individualizado e especializado, para além da compreensão de saúde como ausência de doença, para a aposta hegemônica do modelo biomédico. A nossa experiência como residentes se tecem nos fluxos, entres e devires da invenção do tempo de florescer, do compromisso ético político da construção e fortalecimento do SUS e da ESF enquanto espaços para as multiplicidades de modos de existência alegres, potentes, equânimes e dignas. Trabalho que acredita que se o tempo das invenções e das flores não fosse possível, por que os olhares das pessoas que chegam até a ESF atravessam com tanta intensidade, cada um de nós profissionais, a ponto que desacreditar nessa florescência é sentir o peito ferido e rasgado pelas iniquidades e injustiças que ainda fazem parte da vida cotidiana no território? Inventar-se residentes a partir do trabalho no SUS e na ESF é acreditar e lutar para que até o sonho mais cru e insosso, nos olhos opacos e ombros caídos pelo peso da luta cotidiana, ocupe seu lugar de insistência na vida.

2961 O USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA
Sanayla Maria Albuquqerque Queiroz, Viviane Oliveira Mendes Cavalcante, José Carlos Araújo Fontenele, Silvinha de Sousa Vasconcelos Costa, Maria Adelane Monteiro da Silva, Osmar Arruda Ponte Neto

O USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA

Autores: Sanayla Maria Albuquqerque Queiroz, Viviane Oliveira Mendes Cavalcante, José Carlos Araújo Fontenele, Silvinha de Sousa Vasconcelos Costa, Maria Adelane Monteiro da Silva, Osmar Arruda Ponte Neto

Diante da necessidade de formar profissionais que possam responder as demandas sociais, há o reconhecimento da necessidade de transformação no processo de produção do conhecimento, para possibilitar o desenvolvimento de atitudes e habilidades que proporcionem a transformação das realidades. As metodologias ativas estimulam o processo ensino-aprendizagem, onde o discente assume o papel ativo e protagonista na construção de seu conhecimento. Objetivamos relatar a experiência do processo ensino-aprendizagem de uma oficina de um ciclo de aprendizagem da Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF). Trata-se de um relato de experiência, com abordagem qualitativa. O estudo se deu em uma oficina do ciclo “Organização da Atenção à Saúde” da RMSF da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia (EFSFVS), Sobral-CE, no mês de Junho de 2016, com 29 residentes e 01 tutor. A oficina se deu em cinco momentos: inicialmente o grupo foi dividido em quarto grupos e entregue uma folha de papel madeira com dobraduras em forma de leque, para que passasse por cada componente do grupo e possibilitasse que individualmente eles trouxessem seus conhecimentos prévios acerca das Redes de Atenção à Saúde (RAS). Após a escrita individual, houve o compartilhamento da produção para o grupo e posteriormente o consenso para construção de um conceito coletivo acerca das RAS. Logo após a construção coletiva do conhecimento prévio grupos, estes compartilharam com o coletivo.  Uma vez construído refletido o conhecimento prévio e socializado, o tutor, facilitador da oficina compartilhou alguns artigos que pudessem subsidiar a construção do conhecimento acerca da temática, onde os residentes puderam realizar a leitura. Em um último momento os quatro grupos reuniram-se novamente e baseados nas discussões iniciais e nas leituras puderam construir um novo conceito acerca das RAS e um novo compartilhamento se deu. O tutor, facilitador, finalizou a oficina com uma breve exposição dialogada acerca das RAS. Podemos perceber que as metodologias ativas utilizadas na oficina estimularam o processo de ensino­-aprendizagem dos residentes, possibilitando que estes fossem sujeitos ativos na construção de seu conhecimento. A metodologia valorizou as experiências prévias dos discentes, estimulando a reflexão crítica, onde o tutor contribuiu como facilitador do processo, incentivando o residente na construção de novos conhecimentos.  Dessarte, afirmamos a relevância de metodologias ativas nas residências em saúde, para o processo de ensino aprendizagem, transformando-os assim em profissionais ativos, críticos e reflexivos.