Anais

Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida
Revista Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020) – Editora Rede Unida
ISSN 2446-4813 DOI 10.18310/2446-48132020
http://revista.redeunida.org.br/ojs/index.php/rede-unida/issue/view/65
 

Para acessar o resumo de seu trabalho utilize a busca abaixo:




Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida. Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020). ISSN 2446-4813.
Trabalho nº 12073
Título do Trabalho: RECONHECER A VIOLÊNCIA INTRADOMICILIAR CONTRA O IDOSO: UM DESAFIO PARA OS LÍDERES DA PASTORAL DA PESSOA IDOSA
Autores: Maria de Nazaré de Souza Ribeiro, Fátima Helena do Espírito Santo, Cleisiane Xavier Diniz, Cássia Rozária da Silva Souza, Karla Brandão Araújo

Apresentação: A violência contra a pessoa idosa pode se manifestar de várias formas e ocorre em diferentes situações, no entanto é pouco reconhecida e denunciada. Quando esta se expressa de forma sutil, tende a permanecer na invisibilidade. A identificação sistemática de pessoas idosas em situação de violência, ou em contextos de vida que promovam um maior risco para sofrê-la, é uma ação inexistente nas atuais práticas de atenção ao idoso. O que se vê são ações no sentido de acolher e remediar a violência contra a pessoa idosa depois de declarada ou acontecida, mas, enquanto isso, um expoente bem maior de pessoas idosas vitimadas sofre em silêncio, constrange-se perante seus familiares e cuidadores, isola-se de sua comunidade e emudece durante as breves e direcionadas consultas clínicas e as esparsas visitas domiciliares que recebem dos profissionais de saúde. A identificação das situações que favorecem vulnerabilidades de violência contra idoso no ambiente intrafamiliar e como produzir intervenção educativa que contribua para redução dessas situações, são desafios que se apresentam para além das obrigações destinadas ao poder público. Diante dessa perspectiva, implementar ações complementares às do poder público identificando as áreas de vulnerabilidade social, mapeando a situação dessas áreas, conhecendo a estrutura familiar, em que o idoso está inserido, ouvindo suas queixas e buscando proporcionar atendimento socioassistencial, é tarefa primordial e emergencial do Terceiro Setor. Com apoio de serviços como a Pastoral da Pessoa Idosa (PPI), a violência intrafamiliar pode ser reconhecida e prevenida. Objetivo: Identificar as situações reconhecidas, pelos líderes da PPI, como manifestação de violência contra a pessoa idosa e classificar as respostas de acordo com a tipificação da violência. Método: Trata-se de um recorte do projeto intitulado “Cartografia da violência intrafamiliar contra a pessoa idosa”. Compõe-se de um estudo quantitativo, de natureza transversal e descritivo. Participaram do estudo 30 voluntários da PPI (24 mulheres e 06 homens), que realizam visitas domiciliares às pessoas idosas na cidade de Manaus (AM). O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas (CAE 04050818.5.0000.5016), sob o Parecer: 3.173.698, como preconiza a Resolução nº 466/12, do Ministério da Saúde, para pesquisa científica envolvendo seres humanos. Foi solicitado aos líderes da PPI que indicassem 03 situações caracterizadas como violência contra a pessoa idosa. Os dados foram agrupados e tipificados. Os resultados da análise foram apresentados por meio de frequências absolutas simples (f) e relativas (%).  Resultado: Tipificações decorrentes das respostas das mulheres: violência física (18%), psicológica (18%), emocional/social (16,4%), abandono (13,1%) e violência financeira/econômica/patrimonial (11,45%). Embora a violência física tenha aparecido em primeiro lugar nas respostas dos líderes da PPI, nas estatísticas nacionais e internacionais os tipos de violência mais prevalentes são a psicológica, emocional/social e financeira Esses tipos de violências contra pessoas idosas se expressam em tradicionais formas de discriminação numa sociedade que considera a velhice  um peso social e o velho como um ser descartável. Essa discriminação tem vários focos de expressão e de reprodução. A natureza das violências que o idoso sofre coincide com a violência social que a sociedade brasileira vivencia e produz nas suas relações e transfere-se culturalmente por gerações e, diferencialmente, por gênero. Outros tipos apareceram em menor escala na pesquisa, sendo que a violência sexual não apareceu em nenhuma das respostas.  A Organização Mundial da Saúde tipifica a violência contra os idosos em:  abuso físico, maus-tratos físicos ou violência física; abuso psicológico, violência psicológica ou maus tratos psicológicos; abuso sexual, violência sexual; abandono; negligência; abuso financeiro e econômico; autonegligência. A violência intrafamiliar pode ocorrer de forma iatrogênica, velada/negligenciada, justificada pelo fator protetor da família para com seu ente e esse é um dos grandes motivos para não se reconhecer a violência vista do lado de fora. Dos espaços deixados para o preenchimento dos três tipos de violência, 15,27% não foram preenchidos, denotando falta de entendimento das tipologias da violência contra a pessoa idosa. Com relação às respostas dos líderes homens, violência emocional/social (26,75%), psicológica (33,3%), física (20%), abandono (13%), violação de direitos (6,7%) foram as únicas tipificações. As mulheres reconheceram de forma mais ampla os tipos de violência, talvez porque as mulheres sejam as maiores vítimas da violência familiar desde a infância à velhice. Mulheres, crianças, portadores de deficiência e idosos representam os grupos mais propensos às situações de violência. As condições de fragilidades geradas pela idade avançada somado a certas condições causadoras de dependência (demência, fratura, acidente vascular cerebral, deficiências visuais e outras), reduzem a capacidade do indivíduo de manter sua independência, autonomia e qualidade de vida. Essas condições favorecem a vulnerabilidade à violência, na medida em que necessitam de maiores cuidados ou que apresentam dependência física ou mental. A PPI é um Organismo vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que atua junto às famílias por meio de pessoas voluntárias da própria comunidade, chamados de “Líderes comunitários”. Estes fazem visitas domiciliares mensais às pessoas idosas, independentemente de seu credo religioso ou tendência política e são treinados para identificar, a partir das relações familiares, as situações de vulnerabilidade para a violência das pessoas idosas dentro de sua família. Implementando-se uma prática de rastreamento, com apoio de serviços na comunidade como a PPI, a violência intrafamiliar contra a pessoa idosa pode ser prevenida, ou pelo menos manejada adequadamente. Considerações finais: Foi detectada dificuldade dos líderes da PPI para reconhecimento das diferentes manifestações de violência contra a pessoa idosa e a necessidade de capacitação, no intuito de ajudar a prevenir as causas no meio intrafamiliar. Há de se reconhecer que a violência não é inata, apresentando-se como fenômeno social complexo, porém possível de prevenção. É fundamental que todos que estão desenvolvendo um trabalho junto ao idoso vença a postura de negligência em relação as questões de violência, ampliando assim, o papel cidadão de toda uma sociedade. Estratégias devem ser construídas coletivamente. Reconhecendo que as especificidades regionais produzem influencias nas práticas sociais geradoras de serviços de proteção de forma diferenciada, esta pesquisa pretende contribuir para ampliar o conhecimento acerca da temática e subsidiar ações de políticas públicas regionais para pessoas idosas em situação de risco de necessidade de serviço de proteção.