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Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida. Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020). ISSN 2446-4813.
Trabalho nº 9853 Título do Trabalho: TECNOLOGIAS NA ATENÇÃO DOMICILIAR EM SAÚDE Autores: Ana Carolina de Oliveira Paiva, Bruna Dias França, Lucas Frederico Luiz Lopes, Kênia Lara Silva |
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Apresentação: A tecnologia em saúde é entendida como o conjunto de conhecimentos e de habilidades que podem ser aplicados com a finalidade de motivar intervenções sobre determinadas situações práticas, bem como promover a saúde e prevenir e tratar as doenças. Permite conciliar o conhecimento obtido na prática cotidiana e na pesquisa para produção de ações em saúde que intervenham no modo de viver das pessoas assistidas. Ao analisá-la, a partir das suas finalidades nos serviços de saúde, as tecnologias podem ser classificadas em três tipos: tecnologia educacional, tecnologia gerencial e tecnologia assistencial. A identificação de tais tecnologias nas instituições de saúde pode revelar novas estratégias e maneiras de cuidar potencial para a inovação em saúde. A Tecnologia Educacional está inserida num processo em que a interação entre os envolvidos, profissional da saúde e usuário, é muito intensa, sendo o profissional de saúde um facilitador para que o usuário participe ativamente do processo criativo para ambos otimizar o crescimento pessoal e profissional. A Tecnologia Gerencial possibilita o gerenciamento da assistência através de ações teóricas e práticas que supervisionam, avaliam e modificam a prática profissional, buscando a melhoria da qualidade assistencial. A Tecnologia Assistencial surge a partir da observação da assistência, da prática profissional e tenta oferecer uma assistência de qualidade ao paciente em todas as suas dimensões, seja física, intelectual, espiritual ou social. Esses grupos tecnológicos possibilitam a construção de um saber interativo entre profissionais e a sua clientela, favorecendo o desenvolvimento dos sujeitos e a melhoria da qualidade de vida. No contexto da atenção domiciliar, os profissionais apresentam dificuldades em organizar os seus processos de trabalho. Em parte, essas dificuldades se devem às poucas tecnologias adequadas para auxiliar na sistematização das ações no contexto do domicílio, associado ao desconhecimento das tecnologias em saúde, por parte das equipes. O desconhecimento sobre a produção de tecnologias na Atenção Domiciliar também promove a sua baixa incorporação pelos serviços, resultando em perda de resolutividade e efetividade do cuidado. Frente ao exposto, este trabalho teve como objetivo analisar tecnologias desenvolvidas na atenção domiciliar em saúde. Os achados podem se tornar importante instrumento analítico para provocar profissionais de saúde a buscar ferramentas tecnológicas na prática profissional que permitem a difusão do conhecimento entre profissionais da saúde e sua clientela. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa descritivo-exploratória de abordagem qualitativa desenvolvida no Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) dos municípios de Contagem e de Belo Horizonte. Foram realizadas 41 entrevistas, no período 21 de janeiro a 11 de julho de 2020, com os profissionais das Equipes Multiprofissionais de Atenção Domiciliar (EMAD). No município de Belo Horizonte, aconteceram 24 entrevistas envolvendo médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. Já em Contagem, foram realizadas 17 entrevistas abrangendo médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e odontologistas. Para desenvolver as entrevistas, utilizou-se o seguinte roteiro de entrevista: O que você entende por tecnologias? Descreva as tecnologias que você utiliza diariamente no seu trabalho na Atenção Domiciliar; Dentre as Tecnologias que você citou, qual (is) você destaca como sendo uma Tecnologia Inovadora e por quê? Os dados coletados foram transcritos e submetidos à Análise Crítica do Discurso (ACD) conforme proposto pelo Filósofo Norman Fairclough. Resultado: Os profissionais, quando foram questionados sobre o seu entendimento por tecnologias, indicaram uma indecisão sobre o discurso representativo do termo. As expressões mais recorrentes para enunciar o seu entendimento foram “Difícil essa!”, “Não entendi”, “Eu acho”, “Tecnologias?”. Essas expressões remetem uma dificuldade de reconhecimento sobre o termo questionado. Por outro lado, quando os entrevistados discorreram sobre o uso das tecnologias, as associações discursivas sobre a palavra tecnologia apontaram presunções valorativas, remetendo tecnologia a aparelhos eletrônicos (celulares, tablet e computadores). Os celulares foram reconhecidos nos discursos como um meio de comunicação essencial entre a equipe do SAD e os cuidadores e/ou familiares, uma vez que podem contribuir para resolução imediata de situações enfrentadas com o paciente no domicílio. Contudo, quando esse meio de comunicação falha, as consequências para o paciente podem ser inúmeras, tal como pode ser evidenciado pela fala de TE 1 “[...] os celulares funcionam muito mal de modo geral, e a operadora é terrível, às vezes, tentam falar com a gente e não conseguem. Isso já trouxe problemas inúmeros para a gente com paciente”. Este relato indica uma potencialidade e uma fragilidade eminente para o cuidado em caso de falhas dessa tecnologia. A improvisação tecnológica foi citada como parte da realidade dos profissionais do SAD. A afirmativa foi justificada por meio de exemplos sobre adaptações da assistência com materiais disponíveis no domicílio, de modo a não ferir as recomendações científicas. Exemplos relatados pelos profissionais foram a adaptação do equipo de soro para a infusão da dieta enteral; o uso do suporte de ovo de páscoa para suporte de bolsa de dieta ou esquemas de soros; e confecção de desenhos nas caixas de medicamentos para os pacientes que não sabiam ler. Esses processos de criação e trabalho em equipe explicitam o uso das tecnologias educacionais, gerenciais e assistenciais presentes na rotina de trabalho dos profissionais de saúde do SAD. Ao questionar os entrevistados sobre as inovações, verificaram-se o uso da criatividade e do trabalho em equipe para solucionar situações e suprir as necessidades do paciente. Os discursos apontaram, também, como necessidade do serviço para facilitar o processo de trabalho, o uso das tecnologias para informatização do SAD, sendo a principal queixa a falta acesso aos dados dos pacientes acompanhados pelo serviço por toda rede SUS e o tempo gasto no preenchimento manual das documentações e formulários. Assim, pode-se evidenciar o uso das tecnologias assistenciais no processo de trabalho do SAD. As tecnologias foram identificadas como um recurso que pode tornar o trabalho mais funcional, ágil e seguro. Este resultado aponta que as tecnologias gerenciais, educacionais e assistenciais legitimam o trabalho do SAD e aponta suas inúmeras possibilidades para melhoria no processo de trabalho. Considerações finais: A assistência em saúde no domicílio associada ao uso de tecnologias em saúde se faz necessária no sentido de aspirar melhoria da prática do cuidado. As diferentes realidades vivenciadas nesse cenário de cuidado proporcionam ao profissional de saúde expandir o uso das tecnologias disponíveis. Esse processo pode potencializar a formalização de rotinas mais ágeis e seguras na assistência domiciliar, além de contribuir para uma análise sobre as necessidades da equipe para melhoria do processo de trabalho. |
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Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida. Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020). ISSN 2446-4813.
Trabalho nº 10981 Título do Trabalho: INTERRUPÇÕES NA ROTINA DE TRABALHO: PERCEPÇÕES DE ENFERMEIROS Autores: Ana Carolina de Oliveira Paiva, Marília Alves |
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Apresentação: A interrupção do trabalho do enfermeiro em unidades de saúde é uma situação frequente e não recente, o que pode ser pela natureza do trabalho ou pelo perfil do profissional que atende concomitantemente a diversas demandas. As interrupções geram problemas, como perda de concentração, necessidade de recomeço da atividade e redefinição de prioridades com elevado grau de estresse, mas também podem contribuir para interceptações de erros, reavaliação de mudanças do quadro clínico dos pacientes e atendimento a familiares e membros da equipe, sendo possível se apresentarem como situações negativas ou positivas. Na rotina de trabalho, as interrupções criam um desafio para o enfermeiro, que é conviver com o dilema de estar acessível para a equipe, paciente e família e permanecer focado em sua atividade, o que ocasiona um constante rearranjo das prioridades com implicações na continuidade das atividades assistenciais. Diante deste contexto, para se desenvolverem intervenções que previnam interrupções negativas para o trabalho desse profissional e para a segurança do paciente, pesquisadores precisam compreender o fenômeno interrupção. Nesse sentido, o conhecimento sobre as interrupções possibilitará o desenvolvimento de processos que previnam ocorrências de interferências desagregadoras, reduzindo seus impactos na assistência e no trabalho do enfermeiro, além de proporcionar melhoria na qualidade do cuidado e segurança do paciente. Estudo sobre as interrupções no trabalho do enfermeiro, durante a realização de suas atividades assistenciais, é relativamente novo no Brasil. Esforços têm sido feitos pelos pesquisadores para entender esse evento, bem como a sua implicação na segurança do paciente e no fluxo de trabalho desses profissionais. O objetivo do estudo é analisar as percepções dos enfermeiros sobre as interrupções durante o desenvolvimento de suas atividades em uma unidade de pronto atendimento de um hospital de ensino de Minas Gerais. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa qualitativa de corte transversal desenvolvida em uma unidade de pronto atendimento de um hospital universitário de Minas Gerais. A coleta de dados foi realizada entre os dias 8 de junho a 23 de julho de 2018, por meio de entrevistas. Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), foram realizadas 15 entrevistas com os enfermeiros que trabalham na referida unidade. Para desenvolver as entrevistas, utilizou-se o seguinte roteiro semiestruturado: Fale sobre as interrupções do enfermeiro no dia a dia de trabalho. Quais as consequências das interrupções no trabalho do enfermeiro e para a segurança do paciente? Quais medidas você sugere que sejam adotadas no ambiente de trabalho para evitar interrupções no trabalho do enfermeiro? Entende-se interrupção como ato de romper ou suspender uma atividade em execução derivadas de eventos externos, provenientes de fatores ambientais ou humanos, ou de auto interrupção. Os dados obtidos foram transcritos e submetidos à análise de conteúdo com base no referencial de Bardin e foram analisados utilizando-se o software MAXQDA©, versão 12.2.0. Resultado: Dos 15 enfermeiros entrevistados, 60% são do sexo feminino, estão entre a faixa etária de 29 aos 37 anos e com um tempo de trabalho na unidade de pronto atendimento entre 6 meses a 3 anos. A maior concentração de profissionais com um tempo de serviço de até três anos se deve ao início de uma nova forma de gestão na instituição, na qual novos profissionais foram admitidos. Inicialmente foi solicitado aos enfermeiros a falarem sobre as interrupções em seu dia a dia de trabalho. De acordo com os discursos, os profissionais se sentem muito interrompidos, tal fato é evidenciado pelas seguintes falas dos enfermeiros “a gente tem uma demanda muito grande de interrupção”; “os processos ficam muito fragmentados”, “Então, são muitas”. Pesquisas internacionais trazem que as interrupções ocorrem em vários ambientes de trabalho da enfermagem, variando de 0,4 a 41,7 interrupções por hora. O pronto atendimento favorece tais ocorrências por ser um ambiente de trabalho complexo, dinâmico, superlotado e com pacientes e cuidados imprevisíveis para a equipe de saúde. Sendo considerado, dessa forma, como um caos organizado que funciona através de interrupções frequentes no fluxo de trabalho. Quando os enfermeiros entrevistados foram questionados sobre as consequências das interrupções no trabalho e para a segurança do paciente, os relatos foram “erros na medicação”; “risco com seu paciente”; “perde muitas vezes uma linha de raciocínio clínico”; “deixar de evoluir algum procedimento, ou evoluir mal”. As falas vão ao encontro aos relatos da literatura que complementam que as interrupções atrasam a conclusão de uma tarefa, dificultam os processos de tomada de decisão e viabilizam a ocorrência de erros. A partir dessa verificação, é importante refletir sobre a premissa de que interrupções no trabalho do enfermeiro têm somente efeitos negativos e ignorar os benefícios que podem resultar dessa ação. As interrupções viabilizam a segurança, o conforto e a condição do paciente. Os enfermeiros interrompem intencionalmente outros enfermeiros para evitar erros. Ao final da entrevista, tais profissionais foram questionados em relação as medidas que eles sugerem que sejam adotadas no ambiente de trabalho para evitar interrupções em seu trabalho. Os relatos foram “o trabalho de conscientização”; “você ter cuidado na hora de interromper ou até. quando você foi interrompido, você ter mais tranquilidade pra falar assim ó, pera aí um pouquinho”; “ter o envolvimento maior dos outros profissionais na resolução dos problemas”. O enfermeiro considera essencial sua contribuição para o gerenciamento das necessidades emergentes apresentadas nas interrupções. Além disso, estudo italiano traz a ideia de que ignorar ou atrasar interrupções também pode ser considerado culturalmente grosseiro e inaceitável. Considerações finais: Pelas entrevistas realizadas, foi possível verificar que as interrupções ocorreram regularmente na rotina de trabalho dos enfermeiros do pronto atendimento do hospital universitário. Abordar as interrupções é relevante, tendo em vista que o enfermeiro é um dos profissionais mais interrompidos por ter informações importantes sobre os pacientes e participar da gerência de unidades de saúde, sendo referência para os diversos profissionais. As interrupções devem ser analisadas e estratégias devem ser implantadas, de forma que tragam melhorias ao ambiente de trabalho. Além disso, devem-se minimizar interrupções desnecessárias sofridas pelos enfermeiros e fornecer maior atenção àquelas que são inadiáveis e tragam melhorias ao ambiente de trabalho, assegurando a concentração e a qualidade da assistência à saúde. |
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