Anais

Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida
Revista Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020) – Editora Rede Unida
ISSN 2446-4813 DOI 10.18310/2446-48132020
http://revista.redeunida.org.br/ojs/index.php/rede-unida/issue/view/65
 

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Anais do 14º Congresso Internacional da Rede Unida. Saúde em Redes, v. 6, supl. 3 (2020). ISSN 2446-4813.
Trabalho nº 9759
Título do Trabalho: ATENÇÃO AO PRÉ-NATAL E PARTO EM ÁREAS RURAIS E REMOTA DO SEMIÁRIDO NORDESTINO
Autores: Fabiely Gomes da Silva Nunes, Adriano Maia dos Santos, Jéssica de Oliveira Sousa, Jôse Ribas Galvão, Patty Fidelis de Almeida

Apresentação: A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) traz como um de seus objetivos específicos a promoção da atenção obstétrica e neonatal qualificada e humanizada. O êxito na promoção dessa atenção se dá através da oferta de uma assistência pré-natal adequada, a qual permite a detecção e a intervenção precoce das situações de risco, um sistema ágil de referência hospitalar, qualificação e humanização da assistência ao parto, além da interferência em diversos outros determinantes que impactam diretamente nos indicadores de saúde relacionados à mãe e ao bebê que têm o potencial real de diminuir as principais causas de mortalidade materna e neonatal. Desenvolvimento: trata-se de um estudo de caso referente à pesquisa “Atenção Primária a Saúde em zonas rurais remotas do Brasil” coordenada pela ENSP/FIOCRUZ, realizada em quatro regiões do país (norte, nordeste, centro-oeste e sudeste). A Região Nordeste foi representada por quatro municípios localizados no semiárido, um no Piauí e três na Bahia, todos classificados como municípios rurais remoto segundo tipologia do IBGE. Este relato é referente à coleta realizada em maio de 2019, em dois municípios baianos localizados na região centro-oeste do estado, tendo como objetivo apresentar as barreiras e dificuldades enfrentadas pelas gestantes desses municípios para acessarem o Pré-Natal de Alto Risco. Foram realizadas entrevistas com o Secretário Municipal de Saúde (SMS) e Coordenação de Atenção Básica; Enfermeiro, Médico e Agente Comunitário de Saúde de quatro unidades de saúde, localizadas na sede e na área rural dos municípios, respectivamente, e uma usuária que nós últimos 12 meses realizou Pré-natal na unidade ou outro ponto de atenção na rede, em cada uma das unidades de saúde visitada, em um total de 20 entrevistas.Resultado: No Sistema Único de Saúde (SUS), a assistência ao pré-natal de baixo risco é realizada nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégias de Saúde da Família (ESF) de todo o país, por enfermeiros (as) e médicos (as) que devem garantir o mínimo de seis consultas pré-natal durante a gestação, além do pré-natal odontológico que deve ser realizado no mínimo uma vez durante o período gestacional. Porém, quando as gestantes apresentam alguma condição clínica que foge a capacidade resolutiva da Atenção Primária a Saúde (APS) e requer um acompanhamento especializado, como cardiopatias, hipertensão, diabetes, nefropatias, infecção pelo vírus HIV dentre outros, elas são encaminhadas para o Pré-Natal de Alto Risco (PNAR), que é realizado por médico especialista geralmente em uma unidade hospitalar ou ambulatorial. O acompanhamento no PNAR não isenta a APS de continuar o acompanhamento dessas gestantes, que passam a realizar duas consultas mensais de pré-natal. O acesso ao pré-natal de baixo risco não foi um problema relatado pelas gestantes dos municípios estudados, referiram realizar o mínimo de consultas preconizadas pelo Ministério da Saúde, não terem dificuldade para realizarem o agendamento, não aguardarem longos períodos do momento do agendamento até o atendimento e realizarem sua primeira consulta no início do primeiro trimestre. Foi notável também a satisfação das gestantes com o atendimento prestado nas unidades de saúde, onde eram atendidas alternadamente pelo médico e enfermeira, que segundo as mulheres realizavam todos os procedimentos (avaliação antropométrica, aferição de pressão, medição de fundo de útero e ausculta de batimentos cardiofetais) em todas as consultas. Uma insatisfação amplamente referida foi o não acesso a exames, em especial a ultrassonografias pela rede SUS, o que acarretava em busca e realização do procedimento na rede privada. O acesso a unidade para realização do pré-natal não foi uma dificuldade encontrada na sede dos municípios, porém na zona rural constatou-se a existência de localidades distantes da unidade, havendo a necessidade de veículo próprio, de parentes/amigos ou alugado para deslocamento, visto que, não existe transporte público nessas localidades. Em relação ao acesso ao PNAR a situação apresentou-se mais complicada, primeiramente devido à dificuldade de agendamento, situação comum a todos os procedimentos especializados, segundo, o município de referência para o PNAR se localizava a uma distância aproximada 450 quilômetros, quando se considera as regiões mais remotas do município, e terceiro, os municípios não garantiam o transporte mensal para o deslocamento das gestantes.Quando a gestante era identificada como de alto risco e conseguia a marcação via secretaria de saúde para o serviço de referência da regional, localizado no município de Barreiras, o deslocamento muitas vezes era viabilizado pelo município através de carro do próprio ou por pagamento de passagem de ônibus, entretanto quando a gestante residia na zona rural do município ela teria que arcar com os custos de deslocamento da localidade onde estava até a sede do município, para então seguir com o transporte sanitário municipal até o serviço de referência para consulta de pré-natal. Muitas gestantes referiram a necessidade de mudar-se provisoriamente, ficando em casas de parentes ou amigos, pois o deslocamento mensal era de aproximadamente 900 quilômetros (ida e volta), sendo oneroso e desgastante para a gestante e seus familiares. Realidade que acarretava abandono do pré-natal na APS. Em relação a informação sobre o local do parto tanto as mulheres quanto os profissionais referenciaram que era indicado durante as últimas consultas de pré-natal o local em que a mulher realizaria o parto. Os dois municípios visitados não estavam credenciados para realização de parto, por não terem centro cirúrgico e/ou sala específica para o parto vaginal, sendo então as gestantes referenciadas para atendimento na regional, em geral nos municípios de Ibotirama, Barra, Boquira ou Barreiras. O parto das gestantes em PNAR era realizado no município em que ela estava sendo acompanhada. Considerações finais: A assistência ao pré-natal pode não prever as complicações do parto na maioria das mulheres, porém, a promoção da saúde e a identificação dos riscos poderão favorecer o prognóstico materno. Sendo assim, a detecção de qualquer sinal que implica risco requer atenção especializada, com exame, avaliação e seguimentos adicionais muitas vezes sendo necessária a referência da atenção básica para um serviço de maior complexidade. Neste sentido, aspectos relacionados a distância, periodicidade das consultas, dificuldades e tempo de deslocamento, condições financeiras não favoráveis para o acompanhamento do pré-natal podem acarretar situações de risco para mulher e o bebê, principalmente nos casos de acompanhamento ao PNAR. Evidenciando a necessidade de fortalecer a rede de atenção à saúde e garantir o acesso dessas mulheres as consultas na atenção básica, no serviço especializado e também transporte sanitário adequado em todo trajeto que a gestante precise percorrer.